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1 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 Modelos de negócio para empresas de energia solar fotovoltaica no Estado do Tocantins após a Lei nº 14.300/2022 Business models for photovoltaic solar energy companies in the state of Tocantins after Law 14.300/2022 Modelos de negocio para las empresas de energía solar fotovoltaica en el estado de Tocantins después de la Ley 14.300/2022 DOI: 10.55905/revconv.17n.6-151 Originals received: 05/17/2024 Acceptance for publication: 06/07/2024 Edisselma dos Santos Alecrim Mestra em Desenvolvimento Regional Instituição: Universidade Federal do Tocantins Endereço: Palmas – Tocantins, Brasil E-mail: selmalecrim@uft.edu.br Orcid: https://orcid.org/0009-0002-1520-0745 Janaína Borges de Almeida Doutora em Contabilidade Instituição: Universidade do Minho Endereço: Palmas – Tocantins, Brasil E-mail: janainaborges@uft.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7555-8469 Alcy Monteiro Júnior Mestre em Engenharia Elétrica Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais Endereço: Palmas – Tocantins, Brasil E-mail: alcy.monteiro@uft.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2096-8612 RESUMO Este artigo explorou os modelos de negócio direcionados a empresas de energia solar fotovoltaica no Tocantins, destacando os principais efeitos da Lei 14.300/2022 no setor. A metodologia adotada combinou abordagem qualitativa com procedimento exploratório, com aplicação de questionários direcionados a empreendedores desse segmento no Estado. O estudo indicou que modelos como a geração local, a geração remota e a locação de telhado apresentam maior potencial de crescimento em razão de serem mais factíveis nesse território. No entanto, além da insegurança do setor a partir da implementação da Lei 14.300/2022, as empresas enfrentam desafios que indicam a necessidade de melhor gestão estratégica e domínio de conhecimentos especializados para se adaptarem ao novo contexto regulatório. A pesquisa propôs um modelo de negócio utilizando a ferramenta Business Model Canvas e sugere que estudos futuros utilizem 2 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 novas ferramentas de modelos de negócio e a análise das consequências dos efeitos regulatórios da Lei 14.300/2022 especialmente a partir de 2028. Palavras-chave: modelos, negócio, energia, solar, fotovoltaica, Lei 14.300/2022. ABSTRACT This article explored the business models aimed at photovoltaic solar energy companies in Tocantins, highlighting the main effects of Law 14.300/2022 on the sector. The methodology adopted combined a qualitative approach with an exploratory procedure, using questionnaires aimed at entrepreneurs in this segment in the state. The study indicated that models such as on- site generation, remote generation and rooftop leasing have greater growth potential because they are more feasible in this territory. However, in addition to the sector's insecurity following the implementation of Law 14.300/2022, companies face challenges that indicate the need for better strategic management and mastery of specialized knowledge in order to adapt to the new regulatory context. The research proposed a business model using the Business Model Canvas tool and suggests that future studies use new business model tools and analyze the consequences of the regulatory effects of Law 14.300/2022, especially from 2028 onwards. Keywords: models, business, energy, solar, photovoltaic, Law 14.300/2022. RESUMEN Este artículo exploró los modelos de negocio dirigidos a las empresas de energía solar fotovoltaica en Tocantins, destacando los principales efectos de la Ley 14.300/2022 en el sector. La metodología adoptada combinó un abordaje cualitativo con un procedimiento exploratorio, utilizando cuestionarios dirigidos a empresarios de este segmento en el estado. El estudio indicó que modelos como la generación local, la generación remota y el arrendamiento de tejados tienen mayor potencial de crecimiento por ser más viables en este territorio. Sin embargo, además de la inseguridad del sector tras la implementación de la Ley 14.300/2022, las empresas enfrentan desafíos que indican la necesidad de una mejor gestión estratégica y el dominio de conocimientos especializados para adaptarse al nuevo contexto regulatorio. La investigación propuso un modelo de negocio utilizando la herramienta Business Model Canvas y sugiere que futuros estudios utilicen nuevas herramientas de modelos de negocio y analicen las consecuencias de los efectos regulatorios de la Ley 14.300/2022, especialmente a partir de 2028. Palabras clave: modelos, negocio, energía, solar, fotovoltaica, Ley 14.300/2022. 1 INTRODUÇÃO Em um cenário que demanda habilidades dinâmicas e empreendedoras, como é característico da realidade brasileira, a elaboração de um modelo de negócio representa uma jornada que transcende a mera aplicação de conhecimentos práticos. Os modelos de negócios são ferramentas e recursos desenvolvidos e gerenciados para criar valor (Freudenreich; Lüdeke- 3 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 Freund; Schaltegger, 2019). Nesse contexto, um modelo de negócio serve como elemento central de uma organização, integrando componentes essenciais que direcionam o crescimento e a sustentabilidade da empresa. O modelo de negócio não é uma ferramenta estática, mas sim um instrumento dinâmico e visual que orienta empreendedores na avaliação da viabilidade e sustentabilidade de suas ideias de negócios (Teodoro; Neve; Marcusso, 2021). O modelo de negócio abrange a estrutura de gestão adotada por uma organização para eficazmente empregar seus recursos, visando fornecer produtos e serviços aos clientes com o propósito de gerar valor. Esse valor se manifesta na entrega de benefícios aos consumidores e confere destaque à organização (Pedroso, 2016). Um modelo de negócio visa fortalecer as relações entre as diferentes partes e setores que compõem uma empresa, buscando criar vantagem competitiva por meio dessa integração. Além disso, ele oferece uma perspectiva estratégica que permite avaliar se uma proposta comercial é sustentável e eficaz a longo prazo, contribuindo para a tomada de decisões estratégicas fundamentadas (Teodoro; Neve; Marcusso, 2021; Queiroz; Ferrreira; Calvosa, 2022). Os criadores da metodologia Business Model Canvas (BMC), Alexander Osterwalder e Yves Pigneur, propõem uma abordagem gráfica e visual para descrever, observar, avaliar e ajustar os modelos de negócio. Eles avaliam que essa representação gráfica contribui para uma compreensão mais clara e familiarizada com as operações comerciais. Destacam também a importância dos modelos de negócio como uma prática essencial na gestão organizacional, proporcionando às empresas informações valiosas sobre sua posição no mercado. Essa análise funciona como um ponto de referência para possíveis melhorias e, em certos casos, pode desencadear intervenções significativas, como a inovação desses modelos (Osterwalder; Pigneur, 2011). O Business Model Canvas tem conquistado ampla aceitação nos ambientes empresariais, principalmente devido à sua estrutura fundamentada nas informações fornecidas pelos gestores. Essa metodologia se revela flexível, capaz de se adaptar e ajustar conforme necessário. Seus criadores ressaltam que o Canvas é um mapa conceitual, funcionando como um guia claro para a inserção das informações necessárias e indicando sua localização específica no quadro (Osterwalder; Pigneur, 2011). Essa abordagem oferece direcionamento por meio de imagens e textos abrangentes, destacando-se como uma ferramenta estratégica para a compreensão e elaboração de um modelo de negócio.4 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 No contexto que envolvem modelos de negócio, a energia solar fotovoltaica emerge no cenário brasileiro, destacando-se pelo potencial de geração de energia por meio de fontes renováveis presentes no país, especialmente em regiões com elevada incidência solar, como é o caso do Estado do Tocantins, caracterizado por estações bem definidas, arquitetura e disposição espacial que favorecem a instalação de painéis fotovoltaicos. Com uma população de cerca de 1.511.460 habitantes1 e uma crescente demanda por energia elétrica, esse território apresenta um cenário promissor para possíveis investimentos em energia solar fotovoltaica, a qual apresenta- se como um potencial modelo de negócio. No território brasileiro, a regulamentação da Micro e a Minigeração Distribuída (MMGD), que se refere à geração elétrica realizada junto ou próxima do (s) consumidor (es) com potência instalada até a 3 MW para fontes hídricas ou menor ou igual a 5 MW para cogeração qualificada e outras fontes renováveis de energia elétrica conectada à rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras2, é regida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Com a expansão da MMGD no Brasil, a necessidade de atualização de suas normativas tornou-se cada vez mais evidente. Ao longo dos anos, essas alterações foram sendo implementadas até culminarem na promulgação da Lei 14.300 de 6 de janeiro de 2022, que se tornou o marco regulatório da MMGD e implementada por meio da Resolução Normativa ANEEL Nº 1.059, de 7 de fevereiro de 2023. Essa Lei aborda situações até então não contempladas nas regulamentações anteriores, como o sistema de compensação de créditos, que estabelece a dedução de um percentual nos créditos de energia compensados junto à distribuidora. Isso significa que o consumidor não pode descontar integralmente os créditos gerados em sua conta de energia elétrica, uma vez que uma fração deles será destinada a remunerar o serviço de distribuição. Nesse contexto, a escolha do tema deste estudo foi motivada pela identificação de uma lacuna na pesquisa relacionada à energia solar fotovoltaica enquanto modelo de negócio no território tocantinense. Embora existam trabalhos sobre o tema, a maioria teve enfoque distinto, sem explorar a experiência dos gestores do setor. Dentre eles, Sousa (2018), Lima (2020), Souza (2020), Lima Neta (2021) Miranda (2021), Abreu Neto; Donadel (2023). Além disso, muitos 1 Dados do IBGE 2022. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/to/panorama Acesso em: 28/mai/2024. 2 Definição dada Resolução Normativa Nº 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica. Para mais informações, acesse: https://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf Acesso em 30/mar/2024. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/to/panorama 5 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 estudos focam em regiões com características climáticas e espaciais diferentes, o que destaca a importância deste trabalho para a compreensão do comportamento desse modelo de negócio no âmbito regional, sob a perspectiva dos empreendedores do setor. No âmbito da atualização das normativas relacionadas à MMGD, a problemática desta pesquisa propõe investigar quais modelos de negócio são ou se tornaram mais praticados pelas empresas de energia solar fotovoltaica no Tocantins após a implementação da Lei Nº 14.300/2022. Nessa perspectiva, este artigo tem por objetivo realizar o estudo das modalidades de negócios mais factíveis às empresas de energia solar fotovoltaica após a Lei 14.300/2022. Para o alcance desse objetivo, pretende-se i) identificar os principais efeitos da Lei 14.300/2022 no setor de energia solar fotovoltaica; ii) identificar os principais desafios e oportunidades associados aos modelos de negócio do setor de energia solar fotovoltaica no Tocantins; e iii) propor um modelo de negócio às empresas de energia solar fotovoltaica do Tocantins por meio da ferramenta gerencial Canvas. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 MODELOS DE NEGÓCIOS Um modelo de negócio eficaz deve refletir a interação entre a empresa e seus stakeholders, proporcionando benefícios tanto para clientes quanto para a sociedade, de modo que a eficácia do modelo de negócio depende da comunicação clara e objetiva em todos os níveis organizacionais (Kneipp; et al., 2018). Na perspectiva de Pedroso (2016), o modelo de negócio é a estrutura de gestão que uma organização utiliza para alocar recursos de maneira eficaz, visando proporcionar produtos e serviços de valor agregado. Assim, a combinação de comunicação eficaz e gestão eficiente é fundamental para criar um modelo de negócio bem- sucedido. O modelo de negócio reflete um processo de descoberta de qual valor deve ser criado e como oferecê-lo aos clientes de maneira lucrativa. Nesse sentido, o arcabouço proposto representa um primeiro passo para a compreensão da gestão estratégica do modelo de negócio. Nele, empreendedores e stakeholders participam conjuntamente de atividades que configuram o ciclo de criação de valor, assegurando que todas as etapas, desde a concepção até a entrega, 6 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 estejam alinhadas com os objetivos empresariais e as necessidades dos clientes (Meirelles, 2019). Por meio de um modelo previamente estabelecido, o empreendedor poderá planejar as estratégias que pretende usar para criar um valor significativo para os seus segmentos de clientes e, como isso, atrair um público maior (Sebrae, 2023). No intuito de contribuir para superar desafios e melhor orientar o planejamento e a compreensão do mercado, a proposta gráfica de Osterwalder e Pigneur, estruturada por meio do Business Model Canvas, representado na figura 1, oferece relevante contribuição aos gestores de empresas. Esse modelo de negócio fornece uma estrutura para compreender a posição da empresa no mercado e identificar oportunidades de melhoria e inovação no empreendimento. A visualização das interdependências entre os componentes dos modelos de negócio torna-se essencial para uma compreensão abrangente e eficaz do contexto empresarial (Osterwalder; Pigneur, 2011). Figura 1. Quadro Modelo de Negócio Business Model Canvas Fonte: elaboração própria, em reprodução ao Business Model Canvas – Osterwalder; Pigneur (2011). A aplicação do BMC permite que as empresas delineiem claramente suas estratégias operacionais e identifiquem áreas críticas para otimização. Ao desmembrar os modelos de negócio em componentes essenciais, como proposta de valor, segmentos de clientes, canais de distribuição e atividades-chave, as empresas podem visualizar e alinhar seus recursos e capacidades para atender às demandas do mercado. Esse nível de detalhamento promove um maior engajamento entre as equipes, facilitando o planejamento colaborativo e a definição de metas claras. Além disso, ao ser adaptável às mudanças do ambiente, o BMC contribui para as organizações manterem a flexibilidade e para que reajam rapidamente a novos desafios e oportunidades. 7 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 Em um estudo sobre a utilização do BMC por empreendedores, Lopes et al. (2023) investigou como os empreendedores utilizaram o BMC em seus negócios. Os resultados indicaram que, embora tecnicamente capacitados, os empreendedores preferiram limitar o uso do BMC a aspectos específicos da gestão, como por exemplo, a tomada de decisão, ajustando seu nível de uso conforme a fase do negócio. Na fase inicial, o BMC foi utilizado intensivamente para entender e detalhar o modelo de negócio,enquanto na fase posterior, seu uso foi reduzido em favor de ferramentas complementares, como planilhas e softwares gerenciais. À medida em que os anos avançaram, os empreendedores passaram a priorizar experiência prática. Outro estudo que utilizou o BMC como ferramenta visual para compreender o modelo de negócio das Dark Kitchens em Salvador – BA foi realizado por Quaresma e Vera (2023). A análise foi dividida em quatro estudos de caso sobre cozinhas por aplicativo. Como resultado, os autores concluíram que as cozinhas por aplicativo revelaram similaridades que permitem a estruturação de um modelo de negócio padrão, baseado nas nove diretrizes do BMC: parcerias- chave, atividades-chave, recursos-chave, canais, segmentos de clientes, relacionamentos com o cliente, estrutura de custo, fontes de receitas e proposta de valor. Os estudos aqui evidenciados foram realizados por meio de entrevistas e revelam a familiaridade que os empreendedores têm com o BMC. Embora os resultados apontem que essa ferramenta é utilizada com frequência na fase inicial da delineação de um modelo de negócio, podendo ser substituída por outras ferramentas à medida que o empreendimento vai se estruturando, isso não significa que a proposta do BMC não tenha validade, visto que, entre suas diretrizes, as estruturas de gerenciamento devem monitorar, avaliar e adaptar ou transformar seu modelo de negócios continuamente (Osterwalder; Pigneur, 2011). A pesquisa sobre o papel dos modelos de negócios na internacionalização de empresas no setor de eletricidade voltado para a transição energética, realizada por Bohnsack; Ciulli; Kolk (2020), destaca que o modelo de negócio precisa ser adaptado considerando as especificidades locais. Por meio desses ajustes, é possível identificar a configuração geral do modelo, bem como os componentes necessários a serem recriados ou adaptados para atingir os objetivos estabelecidos pelo corpo gerencial. Além disso, o reconhecimento de que as partes interessadas da sociedade contribuem para a criação de valor de um modelo de negócio leva ao entendimento de que as empresas devem, como uma tarefa fundamental de gerenciamento, envolver-se explicitamente na manutenção da 8 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 legitimidade das empresas. Por meio dessa abordagem integrada, além de as empresas se adaptarem às demandas locais, se alinham às expectativas dos stakeholders, refletindo uma operação mais sustentável e legitimamente aceita (Bohnsack; Ciulli; Kolk, 2020). No âmbito da transição energética, os avanços tecnológicos e a automatização de processos têm demandado maior consumo energético, o que tem impulsionado novos modelos de negócios, especialmente para empresas menores. Nesse contexto, o estágio atual da transição energética é caracterizado pela coexistência de modelos de negócios tradicionais e novos (Bohnsack; Ciulli; Kolk, 2020). Considerando a expansão da energia solar fotovoltaica e sua contribuição para o suprimento energético no território brasileiro, especialmente na região Norte, onde a dependência de fontes alternativas é maior, as energias renováveis têm papel fundamental no equilíbrio do setor. Essas fontes, ao diversificar a matriz energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis, oferecem um caminho viável para mitigar os desafios ambientais e promover a estabilidade no abastecimento de energia (Moreira, 2017) e o aumento de unidades geradora de energia proveniente do sol motivou a atualização dos normativos que regem os sistemas de MMGD, os quais serão tratados no tópico a seguir. 2.2 OS EFEITOS DA LEI 14.300/2022 NO SETOR DE ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA COMO MODELO DE NEGÓCIO No dia 7 de janeiro de 2022, entrou em vigor a Lei Nº 14.300/2022, que estabeleceu as bases legais para a Micro e Minigeração de Geração Distribuída, o Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE) e o Programa de Energia Renovável Social (PERS), acompanhado de outras medidas relacionadas (ANEEL, 2023a), representando o marco legal da MMGD no Brasil. Esse normativo é resultado da consolidação de diretrizes anteriores relacionadas à MMGD, dentre elas a REN Nº 482/2012 da ANEEL e suas alterações – REN Nº 687/2015 e REN Nº 786/2017 – e especialmente da REN Nº 1000/2021 da ANEEL, que representam uma mudança significativa no paradigma da política energética. A instrumentalização desse arcabouço legal foi implementada pela REN Nº 1.059/2023 da ANEEL. A integração da geração distribuída à matriz energética, a partir da REN Nº 482/2012, possibilitou a inclusão de consumidores individuais, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, como 9 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 agentes ativos na produção de eletricidade. O SCEE permitiu a esses consumidores injetar a energia elétrica gerada por uma unidade consumidora com MMGD, na rede da distribuidora local, cedida a título de empréstimo gratuito e, posteriormente, utilizá-la para compensar o consumo de energia elétrica ativa ou contabilizada como crédito de energia de unidades consumidoras participantes do sistema (Brasil, 2022; ANEEL, 2023a). A Lei 14.300/2022 trouxe uma série de dispositivos fundamentais pertinentes à regulamentação da MMGD, instrumentalizados por meio da REN Nº 1.059/2023. Ela prevê ainda novas implementações em 2028 e 2045 devido à regra do período de transição no que tange aos percentuais de incidência das tarifas e encargos referentes à remuneração dos ativos do serviço de distribuição, a reintegração regulatória desses ativos e os seus custos operacionais e de manutenção (Brasil, 2022; ANEEL, 2023a). Neste estudo, não se vislumbra discutir todos os itens introduzidos ou alterados pela Lei Nº 14.300/2022, pois o foco desta pesquisa é direcionado aos efeitos dela nos modelos de negócio relacionados à energia solar fotovoltaica. Entretanto, a sistematização dessas alterações presentes no seu arcabouço regulatório está disponível para consulta na Plataforma de Investimento e Gestão de Energia Renovável (Grenner)3. Portanto, esta pesquisa se concentra em itens específicos da Lei para proporcionar uma melhor compreensão dos modelos de negócio a ela relacionados. Entre os dispositivos da Lei Nº 14.300/2022, ficou estabelecido que a ANEEL regulasse no intuito de oferecer subsídios e informações adicionais para o aprimoramento dos regulamentos aplicáveis à MMGD, o que foi feito por meio da Resolução Normativa ANEEL Nº 1.059/2023 e demais normativos específicos direcionados às distribuidoras de energia. No Tocantins por exemplo, a Resolução Homologatória (REH) Nº 3.214/20234 orienta o Reajuste Tarifário Anual (2023), referente às Tarifas de Energia (TE) e às Tarifas de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD), a ser adotado pela Energisa Tocantins Distribuidora de Energia S.A. - Energisa TO. Nesse contexto, o sistema de fornecimento de energia elétrica compreende três etapas distintas: geração, transmissão e distribuição, que são gerenciadas de forma independente. Cada etapa incorre em custos específicos aplicados aos consumidores, que possuem variação nos 3 Plataforma de investimento e gestão de energia renovável que oferece serviços de consultoria em energia renovável. Saiba mais em: https://www.greener.com.br/greener_artigos/regulamentacao-da-lei-no-14-300-2022- pela-aneel-quais-as-principais-alteracoes/ Acesso em 6/abr/2024. 4 Para mais informações, acesse: https://www2.aneel.gov.br/cedoc/reh20233214ti.pdf Acesso em 21/abr/2024. https://www.greener.com.br/greener_artigos/regulamentacao-da-lei-no-14-300-2022-pela-aneel-quais-as-principais-alteracoes/ https://www.greener.com.br/greener_artigos/regulamentacao-da-lei-no-14-300-2022-pela-aneel-quais-as-principais-alteracoes/https://www2.aneel.gov.br/cedoc/reh20233214ti.pdf 10 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 valores das tarifas de acordo com cada concessionária. A TE representa o valor da energia consumida pelo usuário final em R$/MWh (produto). A Tarifa de Transmissão (Fio A) equivale ao transporte da energia elétrica da central geradora até as subestações distribuidoras. E a TUSD corresponde à cobrança pelo uso do sistema de distribuição de energia elétrica (serviço). Essa tarifa abrange os custos associados às instalações, equipamentos e componentes da rede de distribuição (ANEEL, 2023b). Todos os consumidores de energia elétrica devem pagar pela TUSD, com distinção entre os grupos consumidores e geradores. Enquanto os consumidores cativos pagam a TUSD C, os consumidores geradores assumem a responsabilidade pela TUSD G quando a energia que injetam na rede supera o que consomem. Essa tarifa é reduzida para os geradores como forma de reconhecimento pela contribuição à rede (ANEEL, 20215; LEI 14.300/2022). Anteriormente, quem produzia sua própria energia também estava sujeito ao pagamento da TUSD C, acumulando as duas tarifas, mas em muitos Estados essa tarifa não era praticada. Com a atualização das normas para a MMGD, a tarifação foi padronizada, estabelecendo critérios claros e diferenciando consumidores e geradores. Embora o governo federal conceda ao segmento da MMGD isenção de impostos relacionados ao Programa de Integração Social (PIS) e à Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e os Estados isentem o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) referente à circulação de energia elétrica, a isenção do ICMS abrange apenas a Tarifa de Energia, não incluindo os custos referentes à TUSD (Brasil, 2015a; Brasil, 2015b; ANEEL, 2023b). A figura 2 representa a estrutura tarifária aplicada à Energisa Tocantins válida até julho de 2024. Observa-se que a composição tarifária é atualizada anualmente. A base de cálculo para a cobrança do ICMS originou-se da Tabela6 de Tarifas de Aplicação e Base Econômica correspondente ao grupo B da REH 3.214/2023, relativa à concessionária Energisa TO. Especificamente, a análise recaiu sobre o subgrupo B1, caracterizado pela modalidade “Convencional” e designado para uso “Residencial” em classe e subclasse. O montante considerado totalizou R$ 755,51/MWh, desdobrando-se em R$ 502,59/MWh referentes à TUSD e R$ 252,92/MWh referentes à TE. Considerando a incidência 5 REN. 1.000/2021 e suas as atualizações: D.O. de 21.01.2022, seção 1, p. 74, v. 160, n. 15 e retificado no D.O. de 21.02.2022, 25.03.2022, 04.05.2022, 11.07.2022, 27.10.2022, 04.07.2023: Disponível em: https://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren20211000.pdf Acesso em 31/mar/2024. 6 Consultar tabela 2: https://www2.aneel.gov.br/cedoc/reh20233214ti.pdf Acesso em 31/mar/2024. https://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren20211000.pdf https://www2.aneel.gov.br/cedoc/reh20233214ti.pdf 11 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 do ICMS sobre a TUSD e a alíquota vigente no Estado do Tocantins (20%), resulta em um valor de R$ 125,647 correspondente ao ICMS a ser aplicado. Figura 2. Representação da Composição Tarifária Conforme REH 3.214/2023 Fonte: elaboração própria, com base nas informações da REH 3.214/2023. Levando em conta que a TUSD abarca os custos relativos aos equipamentos e componentes da rede de distribuição, utilizados tanto para entregar energia ao consumidor quanto para receber energia quando esta é injetada na rede, torna-se evidente que, para os consumidores que geram energia, é mais vantajoso quando essa energia é consumida instantaneamente, sem a necessidade de ser injetada na rede. Contudo, no contexto da energia solar fotovoltaica, essa condição não é viável, podendo ocorrer a injeção de energia excedente na rede ou a aquisição direta da concessionária quando o consumo ultrapassa a capacidade de geração, principalmente nos dias nublados, chuvosos ou no período noturno. Um dos aspectos de maior discussão introduzidos pela Lei 14.300/2022 diz respeito à autorização para a cobrança do Fio B - distribuição aos sistemas de MMGD protocolados a partir de 7 de janeiro de 2023, convencionada como GD II. Essa cobrança remunera a concessionária pelo transporte de toda a energia elétrica ativa compensada por esses sistemas, utilizando 7 ICMS = Tarifa / (1 - 0,2). 12 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 percentuais das tarifas relacionadas à remuneração dos ativos de distribuição, à depreciação desses ativos e aos custos de operação e manutenção do serviço de distribuição. Para as unidades de GD protocoladas até o dia 7 de janeiro de 2023, é assegurado o direito adquirido até o ano de 2045 e possuem prazos específicos para iniciar a injeção de energia pela central geradora. Após esse período, passarão a se sujeitar às regras vigentes à época. Paralelamente, as unidades de MMGD que não se enquadram nessa categoria integrarão o sistema de transição da regra, que se estende até 2028. Nessa perspectiva, a proposta de alteração no sistema de compensação se vale da justificativa de que há uma necessidade de equilibrar o custo da energia entre consumidores que optam pela MMGD e os demais usuários da rede elétrica, uma vez que os prosumidores8 a utilizam para injetar energia elétrica e também para consumir posteriormente. Assim, a discussão sobre o sistema de compensação envolve um equilíbrio entre incentivar a geração distribuída e garantir a equidade entre todos os usuários da rede elétrica (Bomfim; Iwamoto; Blanche, 2021). Por sua vez, Silva (2019) argumenta que a proposta do sistema de compensação de energia representa uma tendência global que reflete a crescente preocupação da sociedade com a preservação ambiental, permitindo ao consumidor ter maior controle sobre os gastos com eletricidade. Ademais, nos casos em que as determinações legais poderiam implicar negativamente a adoção da fonte solar fotovoltaica e das outras fontes renováveis, como é o caso de incidência de tarifas, foram estabelecidas regras de transição de longos períodos e gradativas, buscando a compatibilização com as estipulações normativas anteriores e a segurança jurídica (Mitsuhashi; Blanchet, 2023). O período de transição para a mini e micro GD II considera a aplicação gradual de diferentes percentuais das componentes tarifárias sobre a energia elétrica ativa compensada. Isso envolve a remuneração dos ativos do serviço de distribuição, a reintegração regulatória desses ativos e os custos operacionais e de manutenção do serviço. Para unidades de MMGD acima de 500 Kw (GD III) em fontes não despacháveis, como o autoconsumo remoto ou a geração compartilhada, o faturamento segue critérios específicos até 2028, com diferentes percentuais de incidência das tarifas e encargos (Brasil, 2022; ANEEL, 2023a). 8 Consumidor que produz. Para mais informações, acesse: https://www.semente.co/post/afinal-o-que-s%C3%A3o- prosumidores Acesso em 20/abr/2024. https://www.semente.co/post/afinal-o-que-são-prosumidores https://www.semente.co/post/afinal-o-que-são-prosumidores 13 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 3 METODOLOGIA Este estudo emprega uma abordagem qualitativa quanto ao problema, combinada com procedimento exploratório para alcançar seus objetivos. A abordagem qualitativa oferece uma compreensão mais profunda e contextualizada dos fenômenos, como discutido por Bauer e Gaskell (2002), Pereira et al. (2018)e Mazucato (2018). O procedimento exploratório, por sua vez, fornece uma visão preliminar do campo de estudo, permitindo uma descrição mais abrangente do tema (Bauer; Gaskell, 2002; Mazucato, 2018). A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário direcionado a empreendedores do setor de energia solar fotovoltaica no Estado do Tocantins, entre os dias 2 e 30 de abril de 2024, que são representados pelo alfabeto grego neste estudo. O questionário foi previamente testado por dois representantes do setor para garantir sua adequação e eficácia. Foram distribuídos 120 questionários utilizando as ferramentas de comunicação E-mail e WhatsApp. Os contatos telefônicos foram obtidos a partir de grupos do aplicativo WhatsApp, pesquisas no Google e contas de empresas na rede social Instagram. Três contatos retornaram informando que não eram empreendedores do setor, resultando em 117 questionários considerados válidos, com uma taxa de resposta de 39,3%. Para fundamentar a discussão, a pesquisa utilizou as plataformas CAFe - Periódicos CAPES, Anais da USP International Conference On Accounting e do Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade, a biblioteca eletrônica SPELL e o Google Acadêmico, buscando fontes publicadas entre 2019 e 2023. Entretanto, considerou algumas bibliografias anteriores pela relevância do estudo. Baseou-se em Osterwalder; Pigneur (2011), Pedroso (2016), Kneipp et al. (2018), Teodoro; Neve; Marcusso (2021), Queiroz; Ferreira; Calvosa (2022) para fundamentar a abordagem sobre modelos de negócio. No campo das discussões sobre a MMGD, o estudo considerou fontes como Moreira (2017), Silva (2019), Bomfim; Iwamoto; Blanchet (2021), Mitsuhashi; Blanchet (2023), o arcabouço legal respaldado pela ANEEL (2012, 2015, 2017, 2021, 2023) e Brasil (2015a, 2015b, 2021, 2022). Em termos de ferramentas para a concepção de modelos de negócio, embora existam diversas opções como por exemplo o Mapa de Empatia, Análise SWOT e Matriz BCG (Boston Consulting Group), este artigo optou por focar no Business Model Canvas para obter uma visão mais detalhada da estrutura e funcionamento dos modelos de negócio analisados. 14 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES No Estado do Tocantins, foram identificadas 413 empresas que atuam no setor de energia solar fotovoltaica. Dessas, 198 estão localizadas em Palmas, 70 em Araguaína, 35 em Gurupi, 21 em Porto Nacional e as 89 restantes estão distribuídas nos demais municípios do território tocantinense. Além disso, onze dessas empresas são filiais. Quanto ao enquadramento, 352 são Microempresas (ME), 25 são Empresas de Pequeno Porte (EPP) e 36 são classificadas como “Demais”. A coleta de dados por meio de questionários permitiu uma visão holística das empresas de energia solar fotovoltaica no Tocantins. A Figura 3 resume esse perfil, destacando aspectos e características das empresas. Figura 3. Perfil das Empresas de Energia Solar Fotovoltaica no Tocantins Fonte: elaboração própria, com base nos dados do questionário aplicado. O perfil das empresas de energia solar fotovoltaica no Tocantins, conforme apresentado pela análise do questionário, permitiu compreender a distribuição e a composição do segmento no contexto regional, representando uma grande diversidade em termos de tamanho, regime tributário e tempo de atividade, que vão desde pequenos negócios até operações mais consolidadas. A predominância do Simples Nacional como regime tributário reflete uma forte presença de micro e pequenas empresas, demonstrando que o segmento está acessível a empreendedores de diferentes portes. 15 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 O fato de a maioria das empresas ter até sete colaboradores (as) reforça a ideia de um setor que, embora em crescimento, ainda é predominantemente composto por negócios menores, possivelmente com estruturas mais flexíveis. O mesmo pode ser inferido ao observar que a maior parte das empresas tem, no máximo, até 10 anos de atividade, sugerindo que o segmento ainda esteja em uma fase de expansão, com possibilidade de novas entradas no mercado, desde que consiga se adaptar conforme aspectos do mercado. O variado nível de faturamento, com empresas distribuídas em diferentes faixas, chama a atenção pelo fato de indicar que o segmento de energia solar fotovoltaica no Tocantins tem potencial para atender a diversos perfis de negócio. A existência de empresas com faturamentos mais altos mostra que há espaço para crescimento e sucesso financeiro, ao mesmo tempo que empresas de menor faturamento representam oportunidades de crescimento. Entretanto, é importante destacar que após a entrada em vigor da Lei 14.300/2022 os empreendedores desse setor devem estar mais conscientes desse mercado, pois, a pesquisa revelou ainda que 4,3% dos respondentes do questionário já ouviram falar sobre a legislação, mas não têm uma compreensão clara do seu conteúdo. Embora seja um percentual baixo, sinaliza uma necessidade de maior conscientização e preparação para as mudanças regulatórias que afetam o setor que estão empreendendo. A figura 4 traça o perfil desses empreendedores. 16 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 Figura 4. Perfil dos (as) Empreendedores (as) do Setor de Energia Solar Fotovoltaica no Tocantins Fonte: elaboração própria, com base nos dados do questionário aplicado. Os resultados indicam uma diversidade de características que refletem a composição desse grupo. A presença minoritária de empreendedoras sinaliza uma oportunidade para aumentar a diversidade de gênero no setor. Os dados demonstram que a distribuição etária, com uma forte presença de empreendedores entre 26 e 33 anos, aponta para um segmento relativamente jovem, o que pode representar uma tendência de crescimento e inovação. A diversidade racial é um indicativo da representatividade de grupos étnicos, com um certo equilíbrio entre pardos, brancos e pretos, sugerindo que o setor é inclusivo em termos de cor e raça. Além disso, a alta porcentagem de empreenderes casados e a significativa presença de animais de estimação sugerem um perfil de empresários com laços familiares e uma abordagem cuidadosa com o ambiente e o próximo, elementos importantes para a estabilidade do segmento. Além disso, a escolaridade revela um alto nível de qualificação, com a maioria dos respondentes possuindo graduação completa ou especialização, inferindo a valorização do conhecimento técnico e profissional. A variedade na renda familiar, com uma significativa proporção de empreenderes dependente de outras fontes além da energia, sugere que o segmento é acessível a diversos perfis econômicos, mas ainda está em processo de consolidação, especialmente a partir das mudanças introduzidas pela Lei 14.300/2022 em razão dos questionamentos referentes à viabilidade 17 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 contínua desse modelo de negócio. O Gráfico 1 representa os dados sobre os modelos mais utilizados pelo segmento de energia solar fotovoltaica no território tocantinense. Gráfico 1. Modalidades de Negócio mais Praticados pelas Empresas de Energia Fotovoltaica no Tocantins Fonte: elaboração própria, com base nos dados do questionário aplicado. Nesse item, foi solicitado aos respondentes para informar três modelos de negócio considerados mais factíveis ao setor de energia solar fotovoltaica após a promulgação da Lei 14.300/2022. As respostas sinalizaram que no contexto do Estado do Tocantins a geração local, a geração remota por meio de locação de usina, e a locação de telhado apresentam maior potencial de crescimentoe aceitação ao segmento, sendo a locação de telhado impulsionada a partir da Lei 14.300/2022. A flexibilidade e adaptabilidade desses modelos permitem uma melhor adequação às demandas do mercado, bem como uma resposta mais eficaz aos desafios impostos pelo novo marco regulatório. Embora os modelos de negócio voltados para a geração compartilhada não tenham sido considerados entre os mais praticados pelo setor, isso não implica necessariamente em falta de viabilidade. No entanto, a complexidade inerente a esses modelos, que envolve múltiplas unidades consumidoras e uma gestão mais abrangente dos beneficiários, pode justificar por que eles foram menos preferidos pelos respondentes. Essa complexidade requer uma dinâmica de gestão mais elaborada, com maior necessidade de conhecimento especializado e investimento de tempo, o que pode explicar a opção por modelos menos onerosos. Os respondentes sinalizaram ainda preocupação com a instabilidade do setor, especialmente para micro e pequenas empresas. Entre os principais desafios estão a 93,50% 69,60% 39,10% 28,60% 23,90% 15,20% 13% 10,90% 6,50% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00% Geração local Geração Remota Locação de Telhado Consórcio Geração Comp. - Associação Geração Comp. - Cond. Edilício Geração Comp. - Cooperativas 18 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 regulamentação, com riscos regulatórios, falta de clareza legislativa, ICMS sobre energia injetada no sistema e a tributação elevada. Foram relatados também problemas na aprovação de projetos devido à falta de padronização e ao custo do fio B no Tocantins. Sobre esse item, os respondentes deveriam considerar três modalidades de negócios mais factíveis ao setor de energia solar fotovoltaica e especificar até três desafios para trabalhar com elas. Os empreendedores sinalizaram que entre os desafios estão: Encontrar o usuário interessado; investimento; riscos regulatórios (Alfa, 2024); Legislação subjetiva; carga de impostos; falta de mão de obra qualificada (Beta, 2024); Fio B [em referência aos custos da distribuição da energia (Energisa)]; encontrar locatário (Gama, 2024); Insegurança regulatória e jurídica em relação a concessionária e os agentes reguladores; concorrência desleal (Delta, 2024); Tarifação da GD, após a 14300; segurança contratual na locação de telhado; [na] geração local, o desafio é a concorrência (Épsilon, 2024). Embora os empreendedores concebam regulamentação e tributação como desafios, normas recentes, como a REN ANEEL Nº 1000/2021, a Lei 14.300/2022 e a REN ANEEL Nº 1.059/2023, têm dado mais clareza à questão. Entretanto a Lei 14.300/2022 prevê alteração da regra de MMGD a partir de 2028 para os consumidores que solicitaram orçamento de conexão a partir de 7 de janeiro de 2023, os quais se sujeitarão às regras vigentes à época. Além disso, a falta de compreensão sobre a aplicação da tarifação sugere que ainda há incerteza entre os empreendedores do setor, o que pode limitar as oportunidades de negócio. Outro desafio comum é a competitividade acirrada e a dificuldade de encontrar clientes interessados. Os respondentes relatam alta concorrência, principalmente na geração local, onde os preços abaixo do mercado podem levar à concorrência desleal, agravada pela mão de obra pouco qualificada e produtos de qualidade inferior, prejudicando a reputação do setor de MMGD. Além disso, a dificuldade para captar clientes, a falta de financiamentos atrativos para eles e a pouca habilidade na gestão dos contratos representam obstáculos significativos à expansão do segmento. O registro desses desafios indica uma falta de clareza no gerenciamento empresarial, sugerindo deficiências no planejamento estratégico e a necessidade de estabelecer fluxos e processos mais bem definidos. Por outro lado, quando perguntados sobre até três oportunidades/vantagens oferecidas pelo segmento de energia solar fotovoltaica, os respondentes indicaram que os modelos de 19 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 negócio oferecem oportunidades e vantagens para o crescimento do setor. Um dos pontos centrais é a natureza renovável da energia solar, que tem se tornando cada vez mais popular devido ao interesse crescente por energia sustentável. Outra vantagem é o retorno rápido do investimento, combinado com manutenção fácil e de baixo custo, além de uma lucratividade que pode ser alcançada com a queda nos preços dos equipamentos, conforme relatos. Retorno do investimento de forma rápida (Alfa,2024); Rentabilidade alta; durabilidade dos equipamentos; possibilidade muito grande de clientes (Beta, 2024); Mão de obra terceirizada com baixo custo; tempo de execução rápido; margem de lucro (Zeta, 2024); Retorno rápido; facilidade na manutenção; lucrativo (Eta, 2024); Preço em alta da energia; preço em queda dos equipamentos; alta demanda de consumo de energia (Teta, 2024); Novo negócio; mercado promissor; geração de energia renovável (Iota, 2024). A variedade de modelos de geração oferece aos empreendedores uma ampla gama de opções, permitindo mais flexibilidade para escolher a abordagem que melhor se adapta aos seus objetivos de negócio e capacidade de investimento. O questionário também apontou a possibilidade de oferecer serviços de consultoria como uma oportunidade adicional, no sentido de orientar investidores e empreendedores sobre as regulamentações e a dinâmica do mercado de energia solar fotovoltaica. Essa diversidade de vantagens sugere que o setor tem potencial para atrair novos investidores e crescer de forma sustentável no Tocantins. Quando perguntados sobre as estratégias para otimizar, adaptar e potencializar a viabilidade econômica e a sustentabilidade de seus empreendimentos, os respondentes revelaram abordagens diversas. Uma estratégia comum foi a busca por redução de custos operacionais, com empresas diminuindo a margem de lucro, terceirizando serviços ou reduzindo o número de funcionários. Outra estratégia notada foi o investimento em parcerias estratégicas, seja com fornecedores para garantir melhores custos de equipamentos ou com outras empresas para diversificar serviços e aumentar a eficiência. Esse enfoque sugere uma busca por maior competitividade e controle de custos no setor, como destacado pelos empreendedores: Cortar custo operacional; baixar a margem de lucro; participar de outros processos como licitações (Zeta, 2024); Diminuição da margem de lucro; mão de obra mais barata; parcerias mais lucrativas (Kappa, 2024); Diminuir custo fixo (Lambda, 2024). 20 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 Além disso, muitos respondentes destacaram a importância de investir em capacitação para melhorar o atendimento ao cliente e a qualidade do serviço. Isso inclui treinamentos, cursos e o fortalecimento da equipe comercial para compreender melhor as novas regras e explicar as mudanças aos clientes. Outra estratégia enfatizada foi o marketing e a divulgação mais intensiva. Esses procedimentos indicam que a Lei 14.300/2022 trouxe desafios, mas também oportunidades para as empresas se adaptarem e inovarem, reforçando a importância de uma gestão flexível e orientada para o mercado, conforme sugerido pela ferramenta Canvas e representado nas respostas ao questionário. Busca de conhecimento; novos fornecedores; treinamentos (Iota, 2024); Marketing estratégico; especialização em geração local residencial (Mi, 2024); Tive que estudar muito para saber explicar ao cliente a melhor solução (Ni, 2024). Os empreendedores destacaram também que, embora o setor de energia solar fotovoltaica seja complexo, exigindo conhecimento técnico eexperiência adequada, esse segmento apresenta um grande potencial de crescimento e adaptação, mesmo diante de desafios regulatórios e operacionais. As estratégias de adequação das empresas às mudanças introduzidas pela Lei Nº 14.300/2022 confirmam a tese do BMC, de que os modelos de negócios não devem ser estáticos, mas sim dinâmico, adaptável, conforme as necessidades de cada empresa. Considerando os dados obtidos por meio do questionário e o arcabouço teórico utilizado neste estudo, a Figura 5 propõe um modelo de negócio ao segmento de energia solar fotovoltaica no Tocantins utilizando o Business Model Canvas. 21 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 Figura 5. Proposta de Modelo de Negócio ao segmento de Energia Solar Fotovoltaica Utilizando o Business Model Canvas Fonte: elaboração própria, com base no Business Model Canvas, de Osterwalder; Pigneur (2011). O modelo de negócio no segmento de energia solar fotovoltaica é uma estrutura complexa, exigindo uma combinação equilibrada de recursos e parcerias para oferecer valor aos clientes e gerar receita. Dentro do contexto do BMC, a proposta de valor é o motivo pelo qual os clientes escolhem uma empresa ou outra, e para o segmento de energia solar fotovoltaica, ela está fortemente associada a questões de responsabilidade ambiental, autonomia energética e redução de custos com energia. Além disso, a valorização imobiliária e a responsabilidade corporativa também são elementos importantes dessa proposta, destacando a contribuição para uma sociedade mais sustentável. No nicho da energia solar fotovoltaica, a alocação de recursos pode ser direcionada por meio de atividades e parcerias-chave bem estruturadas. O BMC destaca que as empresas formam parcerias por diversas razões, e as parcerias vêm se tornando uma peça fundamental em muitos Modelos de Negócios. Empresas criam alianças para otimizar seus modelos, reduzir riscos ou adquirir recursos. A proposta apresentada na Figura 5 inclui diversas atividades e parcerias 22 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 essenciais para o funcionamento eficiente do modelo de negócio, destacando que a comunicação eficaz entre os stakeholders é fundamental para estabelecer uma relação de confiança, reforçando as estratégias de fidelização dos clientes. A Figura 5 demonstra ainda que a estrutura de custos e fontes de receita revelam como uma empresa do setor de energia solar fotovoltaica pode se sustentar economicamente. As despesas de pessoal, custos de equipamentos e instalações, bem como despesas com marketing e publicidade, formam a base da estrutura de custos. Enquanto isso, as receitas derivam da venda de sistemas fotovoltaicos, serviços de instalação, contratos de manutenção, consultoria e programas de incentivo e subsídios, fortalecendo as relações entre empresa e clientes, resultando em vantagem competitiva ao setor. Os canais de distribuição e vendas, como websites, redes sociais, lojas físicas e eventos, desempenham um papel importante para o alcance e a manutenção de um relacionamento sólido com os clientes, garantindo que a proposta de valor seja comunicada e percebida de maneira eficaz. A flexibilidade do BMC permite que as empresas personalizem suas estratégias de canal conforme suas demandas operacionais e objetivos de mercado. Por exemplo, uma empresa focada em consumidores residenciais pode priorizar redes sociais e eventos locais para se conectar com seus clientes, enquanto outra que atende a um público corporativo pode preferir uma abordagem mais direta, como vendas internas e consultoria personalizada. Essa adaptabilidade reforça a importância de uma abordagem holística para a criação do modelo de negócio, que integra atividades, parcerias e canais de distribuição de maneira coerente. Além disso, o BMC é uma ferramenta eficaz para planejar e implementar estratégias de negócios, pois permite a visualização clara de todos os elementos que compõem o negócio. A partir dessa visão integrada, as empresas de energia solar fotovoltaica podem ajustar seus canais de comunicação e distribuição para refletir mudanças advindas do mercado ou de legislações, bem como para responder às preferências dos clientes e às tendências emergentes. 5 CONCLUSÃO Este estudo abordou os principais efeitos da Lei 14.300/2022 no setor de energia solar fotovoltaica enquanto modelo de negócio. O arcabouço legal inerente a essa Lei suscitou desafios importantes a serem superados pelas empresas, abarcando a regulamentação, tributação e custos 23 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 operacionais. Embora as mudanças provocadas por esse normativo não tenham sido bem recebidas pelo setor, ele introduz a uniformização das regras aos orçamentos de conexão da MMGD. No que diz respeito aos modelos de negócio mais praticados no segmento de energia solar fotovoltaica no Tocantins, o estudo sinalizou que a geração local, a geração remota e a locação de telhado apresentam maior capacidade de crescimento e aceitação no setor em razão de serem mais factíveis. Além disso, a complexidade inerente a esse modelo de negócio demonstrou a necessidade de conhecimento especializado e treinamento, especialmente após a nova legislação. A pesquisa mostrou que estratégias como formação continuada, venda consultiva e fortalecimento da equipe comercial foram adotadas por diversas empresas para melhorar a qualidade do atendimento e a compreensão das novas regras por parte dos clientes. Entretanto, muitas outras ainda não demonstraram domínio dos normativos referentes à MMGD. Além disso, a dificuldade de gestão revelou que algumas empresas requerem a implementação de um gerenciamento mais estratégico para alavancar oportunidades de crescimento e atender às necessidades dos consumidores. Acredita-se que esta pesquisa contribui teoricamente ao propor um modelo de negócio específico para o setor de energia solar fotovoltaica no Estado do Tocantins, levando em conta a realidade local. Em termos de contribuições empíricas, o estudo possui relevância significativa por levantar o perfil das empresas e dos empreendedores desse segmento, proporcionando uma visão abrangente sobre como e por quem esse modelo de negócio é implementado na esfera local. Essas informações, além de colaborar para a gestão desses negócios, também são fundamentais para a formulação de políticas específicas para o setor. Por fim, o estudo propôs um modelo de negócio ao segmento de energia solar fotovoltaica no Tocantins utilizando a ferramenta BMC e sugere como pesquisas futuras a utilização de outras ferramentas que estruturem esses modelos de negócio, no sentido de diversificar as opções ao setor e sanar a dificuldade de estruturação gerencial. Outro ponto que requer aprofundamento está relacionado ao estudo dos efeitos das mudanças regulatórias, especialmente a partir do ano de 2028, no intuito de evidenciar a percepção dos stakeholders em relação à energia solar fotovoltaica e quais fatores podem contribuir para o sucesso das empresas no mercado local. 24 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-27, 2024 jan. 2021 REFERÊNCIAS ABREU NETO, S. L.; DONADEL, C. B. Análise de Viabilidade Técnico-Econômica de Implantação de Usina Solar Fotovoltaica a partir de Modelo de Negócios Baseado em Locação de Equipamentos. 2023. 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