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e-Book 3 Mauricio Fernando Pocopetz NORMAS CONTÁBEIS: IFRS, CPC E NBC Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS – IMPAIRMENT (CPC 01(R1) E IAS 36) ������������������������������������������������������������ 9 PROVISÕES, PASSIVOS CONTINGENTES E ATIVOS CONTINGENTES (CPC 25 E IAS 37) ���������������������������������������������������������� 18 Provisões ����������������������������������������������������������������������������� 19 Passivos Contingentes ������������������������������������������������������� 21 Contas a Pagar e Accrual ��������������������������������������������������� 23 Ativos Contingentes ������������������������������������������������������������ 25 AJUSTE A VALOR PRESENTE (CPC 12) ������� 26 TRIBUTOS SOBRE O LUCRO (CPC 32 E IAS 12) ���������������������������������������������������������� 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������������� 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS �������������������������������������������� 41 3 INTRODUÇÃO Neste tópico de estudo iremos tratar de assuntos de muita importância para as empresas e profis- sionais da área� São procedimentos contábeis que se não forem aplicados, ou se aplicados de forma incorreta, podem afetar substancialmente as demonstrações contábeis das companhias� Estes foram adotados no Brasil a partir da introdução das novas normas brasileiras de contabilidade e atualmente sua aplicação não só faz muito sentido, como melhora em muito as demonstrações con- tábeis, trazendo mais transparência aos balanços e mostrando de forma mais fidedigna a realidade patrimonial das empresas� Embora a maior parte dos assuntos que serão discutidos neste tópico tratam somente de efeitos econômicos nas de- monstrações contábeis, elas ajudam os tomadores de decisões a entender melhor a composição do patrimônio e as incertezas futuras na geração de caixa� Vale lembrar que não faz parte desta unidade de estudo a discussão dos aspectos tributários� Observe cada tópico a ser discutido: I – Procedimentos referente ao processo de impair- ment – Redução do Valor Recuperável de Ativos As empresas devem mensurar e reconhecer seus ativos de forma que estes representem a realidade econômica da entidade, em outras palavras, os 4 benefícios que se esperam desses bens e direitos ao longo do tempo� Porém, sabemos que há vários fatores que fazem com que esses recursos, ao longo do tempo, não gerem mais os benefícios esperados nas estimativas iniciais� Quando isso ocorre os ativos acabam sendo superavaliados, não mostrando a realidade dos retornos de fluxo de caixa no futuro� Por exemplo, se você adquire uma máquina por um determinado valor, este gasto é o que você espera obter de retorno com esse bem, porém ao longo do caminho essa máquina pode se deteriorar mais do que o previsto, pode quebrar, a tecnologia pode mudar, o mercado se alterar; enfim, fatores que fazem com que o retorno dessa máquina não seja o mesmo esperado no início de sua vida útil� Nesses casos é necessário fazer o teste de impairment, que significa teste da paridade, e a partir dos resultados verificados reconhecer ou não uma perda por redução ao valor recuperável� Neste estudo vamos detalhar todos os fatores que devem ser considerados para que essa norma possa ser aplicada de maneira correta, deixando as demonstrações contábeis com sua representação fidedigna de seus ativos. II – Provisões, Passivos e Ativos Contingentes O CPC 25 trata dos conceitos de provisões, passi- vos e ativos contingentes� Os procedimentos de reconhecimento e mensuração desses itens foram 5 alterados e ficaram mais claros de maneira que as empresas possam aplicar de forma correta� O conceito de provisão ainda é discutido e des- conhecido de muitos profissionais, fazendo com que sua aplicação não seja adequada e gere uma distorção nas demonstrações contábeis das em- presas� A aplicação desses procedimentos altera inclusive a forma de registro nos balanços, sepa- rando os passivos reconhecidos por competência e aqueles que efetivamente são considerados uma provisão� Essa separação é necessária, já que os riscos e incertezas atreladas a esses passivos são muito diferentes entre provisão e contas a pagar� No caso dos ativos e passivos contingentes, que iremos discutir o conceito mais adiante, também há uma melhora no entendimento principalmente quanto ao momento do reconhecimento contábil� Antes dessa norma, muitas empresas reconheciam em seus balanços valores que não deveriam ser contabilizados, já que registrar valores que não possuem potencial de realização ou exigibilidade distorcem as demonstrações contábeis, levando os usuários a tomarem decisões inadequadas� Estudaremos ao longo deste estudo os conceitos corretos e o momento de reconhecimento, além da forma correta de mensuração, e você será capaz de fechar o balanço de uma empresa apresentando os valores dentro dos preceitos do CPC 25� 6 III – Procedimentos de Ajuste a Valor Presente Os ajustes a valor presente estão disciplinados no CPC 12 – Ajuste a Valor Presente� Este é um procedimento adotado no Brasil e que não tem norma correspondente no IFRS, isto porque para o cálculo dos juros no Brasil é utilizado o método dos juros compostos, o que não é adotado na maioria dos países do mundo� Sabemos que este método eleva substancialmente os juros ao longo do tempo, fazendo com que valores totais a pagar ou a receber sejam bem maiores do que os valores à vista dos ativos e passivos� Então surge o CPC 12, com um procedimento para demonstrar esses valores a pagar e a receber de longo prazo trazidos a valor presente, tirando o efeito dos juros, mas a norma não reduz os juros� Também para atender ao conceito de ativos e passivos, que trata de reconhecimento de valores presentes na data da operação e não valores futuros� Em outras palavras, eu posso ter um passivo com vencimento daqui a três anos no valor de R$ 150�000,00 com juros, mas estou fechando o balanço da empresa no ano 01, logo o valor do passivo não será de R$ 150�000,00 no primeiro ano� Por esse motivo, precisamos tirar o efeito dos juros, já que ainda não são devi- dos� Este procedimento passou a ser adotado no Brasil a partir da publicação do CPC 12 e, assim como as outras normas, traz mais transparência 7 às demonstrações contábeis por apresentar os ativos e passivos de longo prazo sem o efeito de juros que ainda não são devidos� Reconhecer itens patrimoniais com juros, quando esses ainda não são devidos, inflam de forma inadequada os ativos e passivos, dificultando a previsão de entradas e saídas de caixa e altera também os indicadores de liquidez e endividamento da empresa� Anali- saremos adiante todos os detalhes de quando e como devemos proceder para adequar os ativos e passivos, trazendo-os ao seu valor presente e assim apresentarmos uma demonstração contábil mais confiável para a tomada de decisões. IV – Tratamento contábil para pequenas e médias empresas No Brasil a legislação sempre teve muita influência sobre os balanços das empresas� O mesmo acon- tece em outros países, mas isso não quer dizer que as empresas não pagam impostos, e sim a forma de apuração dos impostos é mais simples, e embora haja interferência na contabilidade, é menor do que a verificada aqui em nosso país. Para minimizar essa interferência fiscal, surgiu o CPC 32 – Tributos sobre o Lucro –, que requer um pouco de entendimento de procedimentos de apuração do chamado Lucro Real, já que para ou- tros regimes de apuração tributária essa não tem aplicação prática� Vale lembrar que esta norma está 8 restrita à apuração dos tributos sobre o lucro, que no Brasil são a Contribuição Social sobre o Lucro, o Imposto de Renda Pessoa Jurídica e o adicional de Imposto de Renda. A finalidade maior desta norma está atrelada ao atendimento do Regime de Competência, que determina que qualquer receitadeve ter sua despesa correspondente reconhecida no mesmo período contábil, logo, o confronto entre receitas e despesas� Iremos estudar o conceito de diferenças temporárias e permanentes, de base contábil e base fiscal, qual o tratamento deve ser dado aos prejuízos fiscais e a forma de contabilizar os efeitos da aplicação do CPC 32, os chamados tributos diferidos� Embora esses procedimentos sejam de efeito meramente econômico, fazem uma grande diferença para as análises e efeitos da tributação livre de interferências fiscais. Mas fique tranquilo, você irá entender todo o processo para uma aplicação fácil na contabilidade� Feita uma introdução inicial de todas as normas, vamos ao detalhamento de todas elas� 9 REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS – IMPAIRMENT (CPC 01(R1) E IAS 36) Este CPC nos fornece meios para que as empre- sas não mantenham ativos registrados por valor superior ao seu valor recuperável. O CPC 01 defi- ne “valor recuperável de um ativo ou de unidade geradora de caixa é o maior montante entre o seu valor justo líquido de despesa de venda e o seu valor em uso”� Este procedimento é necessário para que não haja ativos superavaliados, e que possam gerar uma expectativa de retorno superior àquela que realmente irá impactar o caixa da em- presa no futuro. Caso a empresa identifique que o valor recuperável é inferior ao valor contábil, ela deverá reconhecer uma perda para ajustar o valor contábil� É bom lembrar que a maioria dos ativos geram benefícios de duas formas: pela venda ou pelo uso� Evidentemente nem todos os ativos possuem essa característica, um estoque, por exemplo, gera benefícios somente pela venda, já que não os usamos nas atividades da empresa, daí podemos entender que os ativos que estão sujeitos ao impairment são aqueles que são utilizados ou vendidos pela empresa� Os ativos que não estão sujeitos ao impairment são ativos resultantes 10 de alguns contratos do CPC 47 – Receitas de Clientes: estoques, ativos fiscais diferidos, ativos biológicos, ativos não circulantes mantidos para a venda, entre outros� Um ponto importante e que muitas pessoas confundem é o próprio conceito de impairment� Este é um teste que é aplicado aos ativos para identificar perdas possíveis ou prová- veis, mas tem aqueles que definem o impairment como sendo a perda� Lembre-se, uma empresa pode aplicar o teste de impairment e não identificar perda alguma e ainda assim atender ao CPC 01, ou seja, realizou o teste� E como saber se um ativo se encontra desvalorizado? Verificaremos vários fatores que podem nos dar essa indicação, mas basicamente quando seu valor contábil é menor que o seu valor recuperável, então teremos um ativo que deve reconhecer uma perda� Esse teste deve ser aplicado pelo menos uma vez ao ano, em qualquer época, não precisando ser no fecha- mento do balanço necessariamente, desde que todos os anos a empresa faça o teste no mesmo período� Por exemplo, se a empresa fez o teste no mês de fevereiro, então deverá todos os anos seguintes fazer no mês de fevereiro também� Se a empresa identificar uma indicação de que houve desvalorização, então deve estimar o valor recupe- rável. Para essa identificação a companhia conta com fontes de informações internas e externas� Externas são aquelas que a empresa consegue 11 identificar fora de suas instalações, tais como: indicação de que o ativo não possui mais seu valor inicial, mudanças no mercado no qual a empresa atua, mudança de tecnologia, comportamento do consumidor, leis, aspectos políticos, econômicos e legais� Podemos citar como exemplo a própria pandemia da Covid-19, que fez muitas empresas registrarem perdas e tantas outras fecharem� As taxas de juros de mercado também podem indi- car perdas para a empresa� O valor em uso, como estudaremos mais adiante, é medido por meio de fluxo de caixa, e se as taxas de juros sobem mui- to, o valor presente dos benefícios desses ativos será menor, então provavelmente teríamos que reconhecer uma perda� Isso ocorre também com o valor contábil da companhia de capital aberto quando o valor de seu patrimônio líquido possui um valor superior às ações negociadas na bolsa de valores� Por outro lado, temos as informações internas, que são obtidas pela própria companhia, tais como, observação de obsolescência ou dano físico no ativo, o que gera perda de produtividade e diminui os benefícios futuros, ou mudança na forma que o ativo é ou será utilizado� Por exemplo, a fábrica da Ford saiu do Brasil no ano de 2021 e várias de suas máquinas deixaram de ser utiliza- das, isso indica que por certo período a empresa deverá reconhecer algum tipo de perda, já que a companhia mudou de forma radical a maneira de 12 utilizar esses ativos. Pode-se também verificar perdas prováveis por meio de relatórios internos que indiquem que determinados ativos não irão gerar os benefícios esperados pela administração� Todos esses são exemplos de fatores internos e externos que podem indicar que determinados ativos estão desvalorizados e a companhia deveria reconhecer perdas� A empresa pode se utilizar das informações internas e externas, mas sempre deve dar preferência a esta última, as externas� Mas como devemos mensurar o valor recuperável? O conceito de valor recuperável foi definido no início deste tópico, e lá fala sobre valor contábil, valor justo líquido das despesas de vendas e valor em uso� Inicialmente devemos apurar o valor recuperável que será o maior entre o valor justo e o valor em uso. O CPC 01 e o CPC 46 definem valor justo como sendo “o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação entre participantes do mercado na data de mensuração”� Ou seja, é o valor que você estaria disposto a vender um ativo ou transferir um passivo e um terceiro estaria dis- posto a pagar por esse ativo� Importante dizer que valor justo não é o mesmo que valor de mercado, embora haja situações que eles possam se igualar, mas conceitualmente são coisas diferentes� Por exemplo, você vai comprar um apartamento e um 13 corretor informa que o valor do metro quadrado naquela região desejada é de R$ 10�000,00� Como o apartamento possui 100 metros quadrados, seu valor de mercado é de R$ 1�000�000,00 e esse é o valor que o vendedor deseja receber� Você possui em mãos uma quantia de R$ 920�000,00 e pode pagar à vista e faz a oferta ao vendedor, que acei- ta� Então o valor justo será os R$ 920�000,00, já que este foi o valor aceito pelo vendedor e pelo comprador, em relação não forçada, portanto, por vontade das duas partes, sem qualquer tipo de exigência legal e são participantes do merca- do, ou seja, conhecem o que estão negociando e têm uma data definida para a operação. Neste exemplo temos todos os fatores para caracterizar o valor justo� A empresa deve fazer as mesmas considerações para apurar o valor justo, embora na prática a empresa não irá vender o ativo, devendo estimar como se estivesse vendendo o bem com a idade e as características atuais desse bem� Há situações em que não é tão fácil mensurar o valor justo, mas esses casos atualmente são exceções� Ao apurar o valor justo a empresa deverá ainda estimar as despesas decorrentes dessa venda, tais como, transporte, taxas, impostos, comissões etc� Todos esses valores deverão ser diminuídos do valor justo, e assim você terá o valor justo líqui- do das despesas de vendas que vai ser utilizado para apurar o valor realizável� O outro valor a ser 14 apurado é o valor em uso, que é o valor presente dos fluxos de caixa que a empresa espera ganhar com a utilização do ativo� Enquanto valor justo está relacionado à venda, valor em uso está relacionado à utilização do bem em sua produção� Para apurar o valor em uso, a empresa deverá estimar um fluxo de caixa de no máximo cinco anos, por determinação do CPC 01� Inicialmente deve verificar a receita que o bem vai gerarno período, depois, deduzir todas as despe- sas, tais como depreciação, manutenção, perdas efetivas etc� O valor líquido será o caixa gerado pelo bem, trazendo a valor presente você terá o valor em uso� O CPC 01 determina que alguns elementos devem ser considerados na estimativa de fluxo de caixa, tais como: expectativas de variações que podem ocorrer nesse fluxo no período estimado, o valor do dinheiro no tempo, taxa de juros, os riscos inerentes aos bens e quaisquer outros que possam de certa forma influenciar os retornos estimados, inclusive o valor a ser recuperado no momento de sua venda, o chamado valor residual� As estimativas de fluxo de caixa devem ser base- adas em premissas razoáveis, ou seja, não pode ser feita uma estimativa fora da realidade para que não haja uma apuração indevida, o que poderia gerar uma perda maior ou menor� Se a empresa também prepara o budget, o orçamento anual, este 15 também é uma base ou fonte de dados que pode ser utilizada para a elaboração do fluxo de caixa. Um fator muito sensível a ser considerado é a taxa de juros a ser utilizada, pois deve refletir além do valor do dinheiro no tempo os riscos relacionados aos ativos base dos fluxos de caixa. Para saber se a taxa definida está adequada é só pensar em taxas de retorno que investidores esperam em aplicações e investimentos nos mercados� Se ainda assim não se chegar a uma taxa específica ou mensurada com segurança, o mínimo a ser utilizado, isso para fins práticos, seria a taxa livre de risco, que no Brasil é a taxa Selic. Uma vez definido o valor justo e valor em uso, basta comparar os dois e escolher o maior deles, gerando o valor realizável líquido� A partir disso devemos comparar este valor com o valor contábil, lembrando que este você encontra no seu balanço, ou seja, é o custo de aquisição do ativo, menos a depreciação, amortização ou exaus- tão e as perdas que tenham sido reconhecidas em períodos passados� No balanço deve constar o valor contábil ou o valor recuperável do menor entre os dois� Observe um exemplo: uma empresa apurou o valor justo e subtraiu as despesas de venda de um determinado ativo o valor de R$ 120�000,00 e constatou que o valor em uso era de R$ 130�000,00� Então o valor recuperável será o maior deles, no caso, R$ 130�000,00� Na sequência a empresa 16 verifica seu valor contábil e identifica um custo de aquisição de R$ 200�000,00 e uma depreciação acumulada de R$ 80�000,00� Logo o valor contábil líquido é de R$ 120�000,00� Perceba que o valor contábil é menor que o valor recuperável, então a empresa não precisa reconhecer nenhuma perda� O importante neste caso é que mesmo não havendo perda a empresa fez o teste de impairment� Vamos a um segundo exemplo, considerando os mesmos valores justos e de uso, mas valor contábil líquido agora é de R$ 140�000,00� Neste caso o valor a ser considerado no balanço é menor entre o valor realizável e o contábil, que é de R$ 130�000,00, então a empresa deve reconhecer uma perda de R$ 10�000,00� O lançamento contábil é simples: débito de des- pesas administrativas – Perdas com Impairment – e crédito em conta redutora no ativo em Perdas Estimadas por Impairment� A partir desse reconhe- cimento a empresa deve rever a depreciação, vida útil, valor residual etc� e no ano seguinte, caso a empresa verifique que a perda não existe mais, ela deve reverter o lançamento até o limite do valor reconhecido como perda. E para finalizar, devemos esclarecer que a companhia deve sempre buscar fazer o teste de impairment para ativos individuais, mas há casos em que isso não é possível, pois determinado ativo somente gera receita junta- 17 mente com outros ativos, o que gera a chamada unidade mínima geradora de caixa� Por exemplo, uma farmácia gera receitas e possui ativos, porém a geração de receitas não está diretamente ligada aos ativos ali existentes e sim ao conjunto deles� Em outras palavras, as gôndolas, ou os balcões por si só não geram receitas, mas o conjunto deles sim� Nesses casos o teste de impairment deve ser feito no conjunto de ativos, que é chamado de uni- dade mínima geradora de caixa. E por fim temos os itens mínimos a serem divulgados, que são o montante das perdas reconhecidas, as reversões que foram feitas no exercício, e qualquer outro item que a empresa entenda que seja relevante para a análise de terceiros, tornando a informação mais útil para a tomada de decisões� Todo o descrito acima contempla os principais pontos necessários para o entendimento e aplicação do CPC 01� 18 PROVISÕES, PASSIVOS CONTINGENTES E ATIVOS CONTINGENTES (CPC 25 E IAS 37) Depois da publicação do CPC 25, ficou mais claro para as empresas os conceitos que definem a provisão, um passivo e um ativo contingente, bem como os critérios de reconhecimento e mensuração desses itens� Antes da publicação dessa norma, muitas empresas reconheciam provisões, ativos e passivo contingentes sem muito critério� Porém isso pode gerar demonstrações inadequadas, ou que não são úteis para a tomada de decisões pelos usuários, isso porque as provisões devem ficar em grupo de contas específicos, separadas das chamadas contas a pagar� Ao registrar esses itens de forma única, fica difícil separar e analisar passivos que possuem riscos maiores� Ao longo desse tópico de estudo, estudaremos todos esses conceitos e a forma de mensuração e reconheci- mento desses ativos e passivos, de forma que ao término desse estudo você estará apto a entender as diferenças e quando reconhecer esses ativos e passivos, gerando demonstrações contábeis de maior qualidade e transparência� O CPC 25 é quem estabelece os critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação� Essa é a norma genérica 19 para provisões, passivos e ativos contingentes, porém se uma empresa for aplicar alguma norma que contenha procedimentos específicos sobre os assuntos aqui tratados, então a norma espe- cífica deve ser aplicada e não o CPC 25. Vamos separar os itens para melhor entendimento, mas antes vamos definir o conceito de passivo: O CPC 00 – Estrutura Conceitual Básica – define passivo como uma obrigação presente da entidade de transferir um recurso econômico como resultado de eventos passados� O entendimento do conceito é importante para podermos separar o que é contas a pagar, accrual e provisões� Todos são passivos, mas cada um com sua característica� PROVISÕES Toda provisão é um passivo, mas nem todos os passivos são provisões� O conceito de provisão ainda é utilizado em larga escala no Brasil, mas em muitos casos de maneira inadequada� Comu- mente chamamos qualquer reconhecimento no passivo de provisão, o que não é necessariamente uma verdade� Provisão é um passivo cujo valor e data de desembolso não é certo, trata-se de uma estimativa confiável, mas não com valor e datas exatas� O que mais chama a atenção é o reconhe- cimento de férias e décimo terceiro salário, que muitos chamam indevidamente de provisão� Esses 20 itens não são estimativas e possuem valores e datas conhecidas. Você pode dizer “Mas eu não sei quando o funcionário vai sair de férias”� Bem, não se trata de reconhecer um passivo futuro, até porque não existe passivos futuros, como diz o conceito, passivos são obrigações presentes, ou seja, elas existem até o momento do fechamento do balanço, o que ocorrerá no futuro serão os desembolsos, mas a dívida você já tem agora, no momento presente� O reconhecimento de férias e décimo terceiro não se trata de valores futuros, mas de direitos incorridos dos funcionários� A data já é conhecida, que é a do final do mês, pois até o último dia do mês é que o funcionário tem seu direito adquirido e a empresa a obrigação� O mesmo ocorre com o valor, que é de um doze avos ao mês, não se tratando de estimativa, mas de direitos efe- tivamente incorridos� Nesses casos não há que se falar em provisões, mas em accrual, que falaremos mais adiante� Os dois são estimativas,no entanto a diferença está nos prazos e valores estimados� Podemos citar como exemplo provisões para contingências, provisões para processos judiciais, provisões de riscos ambientais, entre outras� As provisões só devem ser reconhecidas no balanço quando puder ser feita uma estimativa confiável e que seja provável uma saída de recursos, caso contrário não será uma provisão e sim um passivo contingente. Sempre que a empresa identificar uma 21 provisão, ela deve imediatamente reconhecer em seu balanço, desde que atenda aos critérios de re- conhecimento, estimativa de valor e data confiável. O lançamento contábil é simples: debita-se despesa com a provisão devida e credita-se o passivo em grupo específico de provisões. As provisões são estimativas, e de acordo com o CPC 23, que trata de estimativas contábeis, devem ser revisadas a cada fechamento de balanço e proceder ajustes caso necessário� As provisões devem ser baixadas quando pagas, ou quando não existirem mais as obrigações reconhecidas� As provisões podem mudar completamente a estru- tura patrimonial da empresa� Um fato que ocorreu no Brasil foi o rompimento da barragem da empresa Samarco no município de Mariana. Ocorre que após o rompimento da barragem a empresa acabou por reconhecer provisões que geraram prejuízos que fizeram o Patrimônio Líquido da companhia ficar com saldo devedor, isto mostra o impacto que uma provisão pode gerar em uma empresa� PASSIVOS CONTINGENTES Temos dentro do CPC 25 o conceito de passivos contingentes� Esses são passivos que possuem apenas uma possibilidade de a empresa pagar ter- ceiros, mas que depende de alguma decisão futura que não está sob o controle dela� Observe que a 22 saída de recursos não é provável, e sim possível, e qual a diferença? Quando a saída de recursos é possível, significa que a empresa pode ou não ter que pagar um terceiro, enquanto algo provável é praticamente certo que você irá dispender recursos� Um passivo contingente não deve ser reconhecido nem contabilizado, apenas divulgado em nota expli- cativa, caso seja relevante� Os passivos contingentes devem ser revisados periodicamente para verificar se sua situação mudou de uma saída possível de recursos para uma saída provável� Caso isso ocorra, a companhia deve reconhecer esse passivo, pois já não mais será um passivo contingente, mas uma provisão ou contas a pagar� Um exemplo de passivo contingente é quando a empresa possui um processo trabalhista� O especialista, e sempre ele, neste caso o advogado, avalia o processo e determina a probabilidade de saída de recursos� Imagine que logo no início do processo a empresa foi intimada, mas ainda não fez o recurso e o advo- gado diz que tem provas suficientes para rebater todos os pedidos do autor da ação� Neste momento essa ação ainda é algo remoto, não havendo a ne- cessidade de divulgação nem de reconhecimento deste processo� Imagine que o processo avança, acontece a primeira audiência e o juiz não aceita todas as provas apresentadas pela empresa, e a partir daí o advogado muda de opinião e diz que a empresa pode ter de pagar alguns recursos, mas 23 ainda não é provável� Neste momento temos um passivo contingente, logo, a empresa ainda não reconhece o passivo, mas já há a necessidade de divulgação em nota explicativa� O processo vai para uma segunda instância e a empresa perde parte da ação, mais ainda não tem o valor definido e nem a data certa para o pagamento, pois ainda depende de perícia judicial e da decisão final do juiz� Neste momento temos uma parte do processo como um passivo contingente, e outra parte como uma provisão, tendo que reconhecer no passivo e divulgar em nota explicativa� Quando sair o valor definitivo e datas de pagamento, teremos um caso de contas a pagar� CONTAS A PAGAR E ACCRUAL Este tópico visa deixar clara a diferença entre contas a pagar, accrual e provisões� Aqui contas a pagar não se trata de uma conta contábil, mas de um conceito a ser aplicado� As contas a pagar são as obrigações geradas pela aquisição de bens ou direitos de terceiros que foram recebidos, e que já foram faturados ou que já exista um acordo for- mal com o fornecedor� Quando a empresa adquire mercadorias para revenda, a mercadoria chega na empresa, esta reconhece o estoque e registra a dívida na conta fornecedores, logo, temos um caso de contas a pagar� Por outro lado, temos aquelas 24 obrigações que a empresa assume e que não tem um documento formal, como o reconhecimento de férias e décimo terceiro� A essas obrigações chamamos de accrual, que em tradução livre sig- nifica “competência”. Nestes casos podemos não ter ainda o documento formal, mas o serviço ou a mercadoria já foi recebida e devemos reconhecer a obrigação� Imagine que você contratou um ser- viço que levará quatro meses para ser concluído, e que ficou acertado com o fornecedor que ele emitirá nota fiscal somente ao final do serviço. O documento formal será recebido no final da obra, porém a obrigação de pagar o fornecedor acorre a cada mês com a prestação de serviços, então esta deve ser reconhecida no passivo� Há mais um caso de accrual� E o que difere um accrual de uma provisão? Uma provisão são valores que serão pagos em períodos futuros com prazos mais longos, o que pode gerar mais distorções, enquanto um accrual é algo a ser pago em prazo bem mais curto e com valores definidos e conhecidos. Esses reconhecimentos por competência são classificados juntamente com as contas a pagar, diferentemente das provisões, que devem possuir um grupo próprio dentro do balanço patrimonial� 25 ATIVOS CONTINGENTES Ativos contingentes são bens ou direitos que a companhia espera obter em período futuro, mas que depende da decisão de terceiros e que não está sob controle da empresa� Um ativo contingente não deve ser reconhecido no balanço da empresa, pois não se tem a garantia de que aquele ativo realmen- te irá gerar benefícios futuros� O reconhecimento somente deverá ocorrer quando a realização do ganho é praticamente certa e quando chega neste estágio o direito deixa de ser contingente, por isso o reconhecimento é permitido pela norma� Perceba que há uma diferença entre o reconhecimento do ativo e o passivo contingente� O passivo, quando for provável, a empresa já deve reconhecer no balanço, já o ativo, quando for provável, deve ser divulgado� Seu reconhecimento deve ser feito somente quando for praticamente uma certeza da realização do ativo� Assim como as provisões e os passivos contingentes, esses ativos devem ser revisados constantemente para verificar se mudaram de status ao longo do tempo, requerendo uma nova classificação. E para finalizar, a empresa deve divulgar pelo menos os seguintes itens em notas explicativas: o valor contábil no início e final do período, aumentos e diminuições nas provisões, valores realizados, descrição da natureza das obrigações e indicação das incertezas sobre os passivos� 26 AJUSTE A VALOR PRESENTE (CPC 12) Esta norma, que trata do ajuste a valor presente, não possui norma internacional correspondente� Isso decorre de diferença de taxas de juros, inflação e o próprio método de apuração dos pagamentos futuros� No Brasil é utilizado o método dos juros compostos, o que eleva muito valores futuros a pagar� Esses juros futuros, sejam de ativos ou pas- sivos, devem ter um tratamento específico para que superavalie os registros na contabilidade� Devemos lembrar que os ativos e passivos devem representar valores existentes e que seria recebido ou pago no momento do fechamento das demonstrações contábeis e não no futuro, e os juros representam pagamentos ou recebimentos devidos no futuro� Então temos o CPC 12, que tem por finalidade re- gulamentar e dirimir dúvidas quanto a aplicação do procedimento de ajuste a valor presente� Dúvidas do tipo qual tipo de fluxo de caixa devemos aplicar o ajuste a valor presente, ou qual o momento da aplicação doajuste a valor presente, se obrigações não formalizadas de longo prazo também devem ter valores ajustados, quais as taxas a serem aplicadas, métodos e a questão dos efeitos fiscais. Outros dois fatores muito importantes a serem levados em consideração na aplicação dessa norma é a 27 relevância e a confiabilidade. Lembrando que rele- vância é um fator que podem influenciar a tomada de decisões de terceiros� A relevância está ligada à importância de determinado item� Os valores apurados, método aplicado, entre outros devem ser confiáveis para o processo decisório, caso contrário a informação contábil perde a utilidade� Esta norma dá ênfase na mensuração do ajuste a valor presente e não em seu reconhecimento� E aqui a norma já responde uma dúvida comum: “Quando reconhecer os efeitos do ajuste a valor presente?” Esses efeitos devem ser registrados no reconhecimento inicial dos ativos e passivos� Importante deixar claro que o valor presente de um ativo ou passivo não corresponde ao valor justo desses ativos ou passivos� Partindo disso, quais ativos ou passivos estão sujeitos à aplicação do ajuste a valor presente? De forma geral, um ativo ou passivo que gera um pagamento ou recebimento em data diferente daquela do seu reconhecimento na demonstração contábil está sujeita à aplicação do disposto no CPC 12� Aqui também devem ser considerados fatores de risco associados aos ativos e passivos, bem como o efeito do valor do dinheiro no tempo� Um cuidado adicional é a deter- minação dos juros que podem ser explícitos, pois neste caso fica mais fácil a identificação para trazer ao valor presente� Há também os casos em que esses juros são implícitos, isso porque devemos 28 registar ativos e passivos pelo seu valor ou custo inicial� Para facilitar o entendimento, vamos explicar de forma simples o que realmente pretende esta norma� Vamos admitir que uma empresa fez uma venda e irá receber em uma única parcela daqui a dois anos� Neste caso você tem o valor à vista e juros que serão cobrados na operação� Imagine que um determinado bem tenha seu valor de venda à vista de R$ 100�000,00 e para o recebimento daqui a dois anos o vendedor irá cobrar R$ 135�000,00, sendo os juros a diferença da operação� Ao vender o produto, a empresa deve emitir a nota fiscal da operação, que neste exemplo deverá ser pelo valor de R$ 135.000,00. Como fica o reconhecimento da receita e a apuração dos impostos devidos? Com a aplicação da norma, a empresa deverá reconhecer uma receita de R$ 135�000,00 e uma conta redutora de ajuste a valor presente de R$ 35�000,00, então a receita será igual ao valor à vista� Agora você pode perguntar: e os juros não serão reconhecidos nem tributados? A resposta é sim, porém somente quando da realização dessa receita financeira, que ocorrerá no final do segundo ano. Se reconhecer- mos uma receita de R$ 135�000,00 neste momento, estaríamos superavaliando a receita e contas a receber� Antes de avançarmos nos aspectos de cálculo, vamos fazer a contabilização dessa ope- ração utilizada como exemplo: Débito de clientes no valor de R$ 135�000,00 e crédito de receita de 29 vendas no mesmo valor� Na sequência devemos reconhecer o ajuste, debitando uma conta redutora da receita – Ajuste a valor presente – AVP no valor de R$ 35�000,00 e creditar uma conta redutora no grupo de clientes Ajuste a valor presente – AVP no mesmo valor� Daqui dois anos, no recebimento, teremos o seguinte lançamento: Débito de bancos no valor de R$ 135�000,00, crédito de clientes no mesmo valor� Débito na conta Ajuste a valor pre- sente menos a redutora do ativo no valor de R$ 35.000,00 e crédito de receita financeira. Perceba que com esses lançamentos estamos atendendo ao princípio da competência, e a tributação será feita no momento correto, isso porque a receita federal aceita essa norma como válida� O CPC 12 determina que os ativos e passivos de longo prazo estão sujeitos a aplicação dessa norma e aqueles que estão classificados no circulante somente deverão ser trazidos a valor presente caso sejam relevantes� A relevância neste caso é uma questão de julgamento que deve ser feita pela empresa� O cuidado maior ao aplicar esta norma está nas esti- mativas e apuração do valor presente quando não temos as taxas de descontos ou valores futuros de forma fácil como no exemplo acima� Nesses casos a apuração da taxa de desconto deve obrigatoria- mente levar em consideração as incertezas, da mesma forma o chamado prêmio a ser pago pela operação� O prêmio é o valor que alguém está dis- 30 posto a assumir pelo risco que corre na operação� Sem levar esses fatores em consideração há uma grande probabilidade de se preparar demonstrações que não representam a realidade, perdendo assim a utilidade para a tomada de decisões� Um ponto muito importante a ser considerado é a relação custo e benefício na aplicação da norma� Sabemos que os benefícios devem sempre superar os custos para obter esses benefícios, mas quando isso não acontece devemos pensar e analisar qual o modelo e formato mais adequado para apurar este valor justo, encontrando alternativas menos custosas para a companhia� Os cálculos do ajuste a valor presente devem ser elaborados considerando juros compostos, juros sobre juros, a partir da data da realização da operação� As provisões, sejam elas obrigações legais ou não formalizadas, devem ser trazidas a valor presente. E por fim temos as divulgações mínimas requeridas para facilitar o entendimento por parte de usuários externos, que é uma descrição detalhada dos itens em que foram aplicados os conceitos de valor justo, o valor de mercado desses ativos e passivos, as premissas e taxas de juros utilizadas, prêmios e fatores de riscos considerados nos cálculos de valor presente e outras informações que a companhia entende como relevantes para o melhor entendimento por parte dos analistas e tomadores de decisões� 31 TRIBUTOS SOBRE O LUCRO (CPC 32 E IAS 12) Sabemos que no Brasil existe uma forte influência dos procedimentos fiscais na contabilidade. Esse inclusive foi um dos fatores que levou às entidades e ao governo a utilizar um novo padrão contábil, seguindo as normas do IASB� Até o ano de 2008 todas as demonstrações contábeis praticamente só levavam em consideração as determinações da receita federal sem atentar muito para a es- sência da contabilidade, que é o de gerar dados e informações para a tomada de decisões� O pensamento estava praticamente associado ao atendimento do fisco, o que prejudicou por muitos anos a correta interpretação dos balanços das empresas� Evidentemente que grandes empresas, com auditorias independentes, consultorias e com muitos recursos, conseguiam gerar demonstrações contábeis mais confiáveis do ponto de vista ana- lítico, mas e as de pequeno e médio porte? Essas sempre tiveram dificuldade. Com a aplicação das novas normas, há uma diminuição da influência fiscal na contabilidade das empresas, mas não totalmente, ainda mais com a aplicação do CPC 32 – Tributos sobre o Lucro – que iremos detalhar ao longo desse tópico de estudo� Um dos fatores mais importantes que devemos destacar logo no 32 início é o princípio da competência� Este prevê que devemos registrar os eventos quando eles ocorrem independentemente de seu pagamento ou recebi- mento e que devemos considerar o confronto entre receitas e despesas� Quando a empresa apura um lucro, todas as despesas consumidas para gerar esse lucro devem ser reconhecidas no mesmo período, atendendo ao princípio da competência� Se a empresa for tributada pelo lucro presumido ou simples nacional, esta norma praticamente não se aplica, pois não há as chamadas diferenças permanentes ou temporárias, que estudaremos adiante, logo a aplicação prática dessa norma será para as empresas de lucro real que estão sujeitas a ajustes de despesas e receitas para apuração do lucro real, consequentemente, dos impostos sobreo lucro� Para a apuração da contribuição social sobre o lucro e imposto de renda da pessoa jurídica e adicional é comum a empresa não poder utilizar certas despesas e receitas na base de cál- culo desses tributos� Essas receitas e despesas que não podem fazer parte da base de cálculo do imposto neste momento poderão ser utilizados no futuro, e é exatamente neste momento que o CPC 32 atua, fornecendo o tratamento contábil para essas diferenças que geram os chamados tributos diferidos� Esta norma esclarece que tributos sobre o lucro são somente aqueles incidentes sobre os resultados da companhia, que no Brasil é a Con- 33 tribuição sobre o Lucro e o Imposto de Renda e seu adicional� Então vamos entender a aplicação dessa norma na prática� Imagine que uma determinada empresa reconheça uma certa despesa, que ela entende como devida, mas que o fisco não aceite como dedutível para fins de tributação, ou podemos ter uma receita reconhecida pela empresa e que o fisco permita que a tributação ocorra somente no futuro� Quando há esses casos geralmente surgem as diferenças entre a base fiscal e a base contábil. O CPC 32 define base fiscal da seguinte forma: A base fiscal de um ativo é o valor que será dedu- tível para fins fiscais contra quaisquer benefícios econômicos tributáveis que fluirão para a entidade quando ela recuperar o valor contábil desse ativo� Se aqueles benefícios econômicos não serão tributáveis, a base fiscal do ativo é igual ao seu valor contábil. Enquanto a base fiscal do passivo é assim definida: A base fiscal de um passivo é o seu valor contábil, menos qualquer valor que será dedutível para fins fiscais relacionado àquele passivo em períodos futuros� No caso da receita que é recebida anteci- padamente, a base fiscal do passivo resultante é o seu valor contábil, menos qualquer valor da receita que não será tributável em períodos futuros� 34 Essas diferenças influem na apuração dos tribu- tos, gerando impostos correntes e diferidos� Os tributos correntes são aqueles apurados segundo as normas da receita federal, e as diferenças, que geram os tributos diferidos, são apurados confor- me determina o CPC 32� Caso a empresa possua prejuízos fiscais, esses devem ser reconhecidos no ativo como benefícios futuros, caso a empresa tenha a expectativa de utilização desses prejuízos, e essa utilização somente se dá por meio de lucros, então a companhia deve demonstrar a viabilidade de geração de resultados futuros para o reconhe- cimento dos prejuízos fiscais, caso contrário, não os poderá reconhecer� Quando houver diferenças temporárias tributáveis, um passivo fiscal diferi- do deve ser reconhecido� Por outro lado, quando surgir uma diferença temporária dedutível, um ativo diferido deve ser reconhecido à medida que a empresa possua impostos para compensar. Mas o que é uma diferença temporária? Diferenças temporárias são as diferenças que surgem entre as bases fiscal e contábil de ativos e passivos. Como exemplo temos uma provisão� A empresa detectou que tem uma obrigação a pagar, que é provável a saída de recursos e debita a conta de despesas e credita uma conta de passivo. Mas o fisco não reconhece essa operação, então teremos uma diferença entre a base fiscal e a base contábil. O valor da base fiscal será zero, já que a receita 35 federal não aceita esse passivo, e o valor da base contábil será o próprio valor da provisão que a empresa pagará no futuro� Perceba que neste caso a empresa lançou a despesa com provisão e teve que fazer o ajuste no Lalur – Livro de apuração do Lucro Real – fazendo uma adição� Quando essa provisão incorrer, ou seja, for efetivamente paga em exercícios futuros, o fisco permitirá que essa despesa seja dedutível, então a empresa deverá fazer uma exclusão no Lalur, diminuindo a base de cálculo do imposto� Podemos perceber duas coisas nesse exemplo: primeiramente que o prin- cípio da competência não foi atendido, pois o fisco permite a dedução da despesa em período dife- rente daquele no qual ela foi originada� A segunda coisa que percebemos é justamente a diferença temporária, ou seja, houve uma diferença temporal entre o reconhecimento da despesa sob o aspecto contábil e seu reconhecimento sob o aspecto fis- cal� De forma simples, diferenças temporárias são aquelas receitas e despesas que ocorrem em um período e somente serão aceitas pelo fisco em outro período� E como devemos contabilizar os tributos diferidos, sejam eles ativos ou passivos? Quando temos um passivo fiscal diferido, devemos debitar despesas com tributos diferidos no resultado do período e creditar passivo com tributos diferidos no exigível a longo prazo� Quando for um ativo diferido, o lançamento é feito da seguinte forma: 36 debita-se ativo fiscal diferido no realizável a longo prazo e credita-se resultado com imposto diferido� Vamos dar um exemplo completo para que fique bem claro� Imagine uma empresa que teve uma receita de R$ 100�000,00 e despesas no valor de R$ 60�000,00, portanto, um lucro de R$ 40�000,00� No primeiro exemplo vamos assumir que todas a receitas são tributáveis e todas as despesas são dedutíveis aplicando as alíquotas dos tributos de 34% (15% de IRPJ + 10% de adicional do IRPJ e mais 9% de contribuição social), desta forma te- remos um tributo sobre o lucro de R$ 13�600,00 e um lucro líquido de R$ 26�400,00� Os R$ 13�600,00 representam os tributos correntes e não temos, neste caso, tributos diferidos� Em um segundo exemplo, assumindo os mesmos números, vamos considerar que dentro das despesas totais de R$ 60�000,00 há uma despesa indedutível no valor de R$ 10�000,00� Logo, temos um lucro contábil de R$ 40�000,00 e uma adição no Lalur de R$ 10�000,00, gerando um lucro tributável no valor de R$ 50�000,00� Note que aqui temos uma diferença temporária de R$ 10�000,00, que é indedutível neste exercício, mas será dedutível em exercícios futuros� Analisemos como ficaria o cálculo dos impostos: temos uma base de cálculo de R$ 50�000,00 e aplicando os 34%, teremos R$ 17�000,00 de IR + adicional e CSLL� Se não aplicarmos o CPC 32, o lucro líquido seria (R$ 40�000,00 - R$ 17�000,00) 37 igual a R$ 23.000,00. Mas não aplicamos o que diz a norma, pois se temos uma diferença temporária, devemos calcular o imposto diferido, nesse caso uma despesa que será dedutível no futuro, então temos um ativo diferido calculado da seguinte forma: a diferença temporária é de R$ 10�000,00, então aplicamos 34% sobre esse valor e teremos R$ 3�400,00 de tributos diferidos� Devemos debitar tributos diferidos no ativo realizável a longo prazo e creditar tributos diferidos no resultado� Então teríamos os seguintes valores: Lucro contábil de R$ 40�000,00 menos tributos correntes no valor de R$ 17�000,00 mais os tributos diferidos no valor de R$ 3�400,00, logo um lucro líquido contábil no valor de R$ 26�400,00� Perceba que o lucro apurado aplicando o CPC 32 é o mesmo do primeiro exem- plo sem nenhuma diferença temporária. Mas por que isso acontece? Justamente essa é a finalidade da norma, que foi descrita logo no começo deste tópico de estudo, ajustar e atender o princípio da competência, já que o tributo referente à diferença temporária está apresentado no período em que a receita foi gerada� E o outro ponto é que foi retirada a influência fiscal. A empresa irá pagar neste exer- cício o valor de (considerando o segundo exemplo) R$ 17�000,00, e o imposto referente à diferença no valor de R$ 3.400,00 fica reconhecido do ativo para aproveitamento quando a empresa tiver lucro e essas despesas forem aceitas pelo fisco como 38 dedutível� Esta norma não é tão simples em sua aplicação quando a empresa apresenta muitas diferenças temporárias e permanentes� Demanda também muitos conhecimentos dos aspectos fiscais, das despesas dedutíveis e indedutíveis, e as receitas tributáveis e não tributáveis� Requer também conhecimentos de Lalur e apuração do imposto de renda�Embora sejam necessários esses conhecimentos para aplicação correta da norma, dedicando um pouco de tempo para estudar os aspectos fiscais que não foram abordados nesta unidade de ensino ficará fácil sua aplicação. Lem- bramos ainda que os procedimentos descritos aqui cabem somente às empresas de Lucro Real� Então se você atua em empresas do simples nacional ou lucro presumido talvez não tenha a oportunidade de aplicar essa norma, mas é importante o conhe- cimento dela, já que uma empresa pode mudar de regime tributário a qualquer ano e então poderá ser exigido de você esses conhecimentos� Com a aplicação do CPC 32, os analistas e tomadores de decisões terão uma visão mais clara do resultado do período sem considerar interferências fiscais, o que melhora em muito o processo decisório� 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos nessa unidade de estudos algumas normas muito importantes para o dia a dia das empresas� Normas bem conceituais e que de- mandam um bom entendimento de contabilidade e das normas em si. Muito importante a correta aplicação de todos os procedimentos discutidos nessa unidade, pois em geral os valores envolvidos nestes procedimentos são relevantes e materiais, e podem fazer uma diferença enorme em caso de não aplicação ou aplicação inadequada� Imagine empresas do porte da Petrobrás como seriam as demonstrações contábeis sem as aplicações do impairment� Foi comentado o caso da empresa Samarco com relação às provisões, mas você pode imaginar também os efeitos no balanço da Vale� A auditora externa da Petrobras, em 2015, exigiu que a empresa reconhecesse perdas de aproxima- damente 16 bilhões, além de diversas provisões por conta da Lava Jato, essas são informações públicas e podem ser verificadas. O importante é entender o impacto desses reconhecimentos nos balanços dessas companhias� Imagine empresas endividadas, com os juros altos no Brasil, como os resultados dessas companhias ficam impactados se elas não aplicassem o CPC 12 – Ajuste a Valor Presente. Nessas linhas finais, é importante mos- trar o quanto essas normas impactam a vida das 40 empresas, pois não se trata apenas de teoria, de coisas que as empresas não aplicam� Pelo contrário, as empresas, contabilistas, auditores, professores e a academia estão bem atentos a essas normas e suas aplicações, bem como o efeito em suas demonstrações� Vale a pena aprofundar seus estudos nesses processos� Referências Bibliográficas & Consultadas ALMEIDA, M. C. Iniciação à Contabilidade IFRS e CPC – Facilitada e Sistematizada� São Paulo, Atlas, 2017� [Biblioteca Virtual] COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC� Disponível em: http://www�cpc�org�br/CPC/ Documentos-Emitidos/Pronunciamentos� COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – CPC� Lei n° 6�404, de 15 de dezembro de 1976� Dispõe sobre as Sociedades por Ações� Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 155º da Independência e 88º da República� COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Lei n° 11�638, de 28 de dezembro de 2007� Altera e revoga dispositivos da Lei nº 6�404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei nº 6�385, de 07 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 186º da Independência e 119º da República� COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Lei n° 11�941, de 27 de maio de 2009� Altera a legislação tributária federal relativa ao http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que especifica; institui regime tributário de transição� Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 188º da Independência e 121º da República� LIMA, L. M. S� IFRS – Entendendo e Aplicando as Normas Internacionais de Contabilidade� São Paulo: Editora Atlas [Biblioteca Virtual]� MARION, J. C. Contabilidade avançada� São Paulo: Editora Saraiva, 2010� MARION, J. C. Medida Provisória nº 449, de 03 de dezembro de 2008� Altera a legislação tributária federal relativa ao parcelamento ordinário de débitos tributários, concede remissão nos casos em que especifica, institui regime tributário de transição, e dá outras providências� Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, 03 de dezembro de 2008; 187º da Independência e 120º da República� MÜLLER, A. N. Contabilidade avançada e internacional� 2� ed� São Paulo: Editora Saraiva, 2011� [Biblioteca virtual] NIYAMA, J. K. Contabilidade internacional� 2� ed� São Paulo: Editora Atlas, 2010� [Biblioteca virtual] NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.121, de 28 de março de 2008� Aprova a NBC TG ESTRUTURA https://www.traca.com.br/autores/Lima,%20Luiz%20Murilo%20Strube/ CONCEITUAL (NBC T 1) – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis� Publicada no Diário Oficial da União de 01 de abril de 2008� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.138, de 21 de novembro de 2008� Aprova a NBC TG 09 – Demonstração do Valor Adicionado� Publicada no Diário Oficial da União de 28 de novembro de 2008� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.157, de 13 de fevereiro de 2009� Aprova o Comunicado Técnico CTG 02 (CT 03) – Esclarecimentos sobre as Demonstrações Contábeis de 2008� Publicada no Diário Oficial da União de 17 de fevereiro de 2009� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.159, de 28 de agosto de 2009� Aprova a NBC TG 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis� Publicada no Diário Oficial da União de 15 de setembro de 2009� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.185, de 13 de fevereiro de 2009� Aprova o Comunicado Técnico CTG 2000 (CT 01) que aborda como os ajustes das novas práticas contábeis adotadas no Brasil trazidas pela Lei nº. 11.638/07 e MP nº� 449/08 devem ser tratados� Publicada no Diário Oficial da União de 04 de março de 2009� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.282, de 28 de maio de 2010� Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade� Publicada no Diário Oficial da União de 02 de junho de 2010� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.296, de 17 de setembro de 2010� Aprova a NBC TG 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa� Publicada no Diário Oficial da União de 07 de outubro de 2010� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.328, de 18 de março de 2011� Dispõe sobre a Estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade� Publicada no Diário Oficial da União de 22 de março de 2011� NIYAMA, J. K. Resolução CFC nº 1.329, de 18 de março de 2011� Altera a sigla e a numeração de normas, interpretações e comunicados técnicos� Publicada no Diário Oficial da União de 22 de março de 2011� OLIVEIRA, A� B� S�; SANTOS, D� S� IFRS e CPC – Guia De Aplicação Contábil Para Contexto Brasileiro� 1� ed� São Paulo: Editora Atlas� 2013� [Biblioteca Virtual] RIBEIRO, O. M. Contabilidade avançada� 3� ed� São Paulo: Editora Saraiva, 2011� [Biblioteca Virtual] SCHMIDT, P.; SANTOS, J. L. dos; FERNANDES, L. A� Contabilidade avançada: aspectos societários e tributários� 3� ed� São Paulo: Editora Atlas, 2012� [Biblioteca Virtual] Introdução Redução ao Valor Recuperável de Ativos – Impairment (CPC 01(R1) e IAS 36) Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes (CPC 25 e IAS 37) Provisões Passivos Contingentes Contas a Pagar e Accrual Ativos Contingentes Ajuste a Valor Presente (CPC 12) Tributos sobre o Lucro (CPC 32 e IAS 12) Considerações finais Referências Bibliográficas & Consultadas