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Autoria: Phelippe Moura da Silva – Revisão técnica: Karoline Arguelho Engenharia da qualidade UNIDADE 4 – E OS AVANÇOS NO GERENCIAMENTO DA QUALIDADE? Nesta unidade, estudaremos as novas perspectivas da qualidade, com base na evolução de suas teorias. Sabemos que a engenharia da qualidade tem como objetivo a melhoria contínua, para que seus resultados satisfaçam as necessidades dos clientes e a aderência aos padrões estabelecidos. Uma das estratégias é a utilização do método PDCA, e nesta unidade veremos o que muitos teóricos explanam, sua evolução, o método DMAIC (define, measure, analyze, improve e control), que está diretamente ligado ao 6 Sigma. O PDCA também se encontra no uso da Metodologia de Análise e Solução de Problemas (MASP), com o objetivo de identificação das causas raízes. E, por meio dos estudos sobre falhas de produção e processos, veremos uma ferramenta amplamente utilizada na engenharia de produção, o Failure Mode and Effect Analysis (FMEA) ou Análise de Modos de Falhas e Efeitos. Dessa maneira, como será possível consolidar a aplicação dessas ferramentas? Como o DMAIC possibilita ganhos financeiros e redução de custos? É possível antever os problemas antes que eles ocorram? Compreendemos que a finalidade de todas as ferramentas da qualidade é conduzir a solução de problemas, com a perspectiva de eliminá-los e dessa forma gerar maior lucratividade, qualidade e oportunidades de melhoria. Bons estudos! Introdução 4.1 Método DMAIC O método DMAIC – define, measure, analyze, improve, control –, que em português é traduzido como definir, medir, analisar, melhorar e controlar, é base fundamental no processo de implementação do 6 Sigma. O 6 Sigma é uma metodologia criada pela Motorola, que tem como objetivo trazer melhoria ao sistema de produção visando eliminar seus defeitos, de modo que cheguem a zero. Um dos novos pilares dessa nova engenharia da qualidade é a utilização do DMAIC, juntamente com ferramentas já utilizadas. Seu diferencial se dá no desdobramento do planejamento das ações, pois é perceptível que o planejamento é importante para o método, quando, das cinco etapas, três são voltadas para esse fim. 4.1.1 Como funciona o DMAIC O DMAIC é uma metodologia com uma sequência definida, em que há um padrão a ser seguido, sendo comparado por muitos teóricos da área de engenharia como uma evolução do PDCA. Tendo em vista esse conceito, podemos avançar na compreensão dessa metodologia. #PraCegoVer: a figura mostra uma tela virtual com transparência, em que um homem apresenta, indicando com os dedos, ferramentas de melhoria contínua DMAIC para a qualidade do processo. Para Werkema (2012, p. 20), os pontos fortes do DMAIC são: Os ganhos da utilização da metodologia de Gestão Lean Seis Sigma são contundentes, quando observados os resultados atingidos [...] com a aplicação do conceito DMAIC, e moldando a forma de trabalho, para que os processos que causavam anomalias pudessem ser dirimidos ou extintos, tanto quanto a formalização de uma cultura de qualidade implantada na empresa, tendo em vista que este não é um programa, com início, meio e fim, mas uma filosofia que rege a organização. (SILVA, 2020a, p. 1). Figura 1 - Ciclo DMAIC. Fonte: Shutterstock (2020). ênfase no planejamento antes das ações; roteiro detalhado para realizar as atividades, gerando análise adequada, conclusões sólidas e manutenção dos resultados; ênfase explícita dada aos seguintes elementos: (1) voz do cliente, por meio das Características Críticas para Qualidade (CQT); (2) validação dos sistemas de medição; (3) validação do retorno econômico de projeto pela controladoria da empresa; Seleme e Stadler (2010) destacam que a base do 6 Sigma é o DMAIC: Veremos cada uma delas em mais detalhes na sequência. Define O “D” de define ou definir é descrito por Carvalho e Paladini (2012, p. 139) como momento em que se define “quais são os requisitos do cliente (voz do cliente) e traduzir essas necessidades em Características Críticas para Qualidade (CTQ)”. Para os autores, esse momento é importante para entender o que o cliente pensa a respeito da empresa, e essa resposta é visualizada pela empresa, de modo a criar possibilidades de mudanças e melhorias. Nesse momento, é preciso responder algumas perguntas, como: quais problemas precisam ser resolvidos? Quais clientes e processos serão afetados com o problema? É preciso ainda definir quais as métricas a serem trabalhadas, bem como qual será a meta a ser alcançada. As ferramentas de apoio para essa etapa são: Matriz Escolha do Projeto, Plano de Melhoria, PDSA (plan, do, study, act), cronograma de trabalho e voz do cliente (VOC). Measure A etapa “M”, de measure ou medir, é caracterizada por Carvalho e Paladini (2012, p. 139) como momento de “desenhar o processo e os subprocessos que se relacionam com as Características Críticas da Qualidade (CTQ), definindo as entradas e saídas. É muito importante nesta fase que as relações Y= f(X) (lê-se Y igual a f de X) sejam estabelecidas”. Nesse estágio, é preciso estruturar os dados, por meio de arranjo destes. Dessa forma, alguns questionamentos podem ser feitos: qual é o fluxo do processo atualmente? Os dados utilizados são confiáveis? As ferramentas mais utilizadas são Mapa de Processos, Fluxograma, VSM, Tabela 6 Sigma, Gráficos de Pareto e de Tendências, e o Diagrama de Causa e Efeito. Analyse A fase “A”, de analyse ou analisar, é retratada por Carvalho e Paladini (2012, p. 139) como “fase muito importante da metodologia, a análise dos dados coletados. Para isso, utiliza, além das ferramentas tradicionais da qualidade, as ferramentas estatísticas”, de modo a identificar as causas óbvias e não óbvias, (que são as atividades que exigem participação direta dos gestores; project reviews realizadas ao final das etapas do DMAIC, para avaliação do desempenho do projeto. O consultor e guru brasileiro da qualidade, Vicente Falconi, discute sobre as novas estratégias da qualidade no vídeo “Prof. Vicente Falconi - II Seminário ABQ Qualidade Século XXI”. Acesse (https://www.youtube.com/watch? v=5cjf53TNfPQ&t=33s) Você quer ver? Define (defina a oportunidade) Measure (meça o desempenho) Analyse (analise a oportunidade) Improve (melhore o desempenho) Control (controle o desempenho). https://www.youtube.com/watch?v=5cjf53TNfPQ&t=33s https://www.youtube.com/watch?v=5cjf53TNfPQ&t=33s causas vitais geradoras de problemas). Por considerar que a estatística é muito importante nessa fase, devem ser analisadas as variabilidades dos processos. A análise das causas visa selecionar as ações que possibilitam que os problemas sejam solucionados mais rapidamente. Com a utilização de ferramentas da qualidade como, 5 Porquês, 5W2H, CEP, DoE (Design of Experiments ou Planejamento de Experimentos), FMEA. É preciso saber quais as causas raízes que podem ser identificadas por meios de tais ferramentas e gráficos. Improve A equipe dos Belts, que deve participar de todo o programa do DMAIC, nessa etapa, irá analisar os dados e propor as melhorias. Para Carvalho e Paladini (2012, p. 139), “os dados estatísticos devem ser transformados em dados de processo, e a equipe deve estudar tecnicamente quais transformações deve executar”. Nesse momento, “as melhorias se materializam no processo, quando a equipe interage com as pessoas que executam as atividades, sendo portanto uma fase crítica”. Por meio de ferramentas e métodos da qualidade, é possível promover as melhorias que foram planejadas, com Plano de Ação, o 5S, fluxograma, CEP e DoE. É preciso ter em mente que as melhorias sugeridas devem ser passíveis de implementação, ou não terão efeitos colaterais. Control O monitoramento de todas as ações colocadas em execução deve acontecer para que não haja uma desordem do processo. Dessa forma, Carvalho e Paladini (2012, p. 140) pontuam que, “nesta fase, deve ser estabelecido e validado um sistema de medição e controle para medir continuamente o processo de modo a garantir que a capacidade do processo seja mantida”. No livro Métodos PDCA eDMAIC e Suas Ferramentas Analíticas, Cristina Werkema detalha como aplicar as metodologias PDCA e DMAIC nos mais variados segmentos de negócio. Você quer ler? #PraCegoVer: o quadro apresenta as etapas do DMAIC, informando quais as ações necessárias de cada etapa, os objetivos e as ferramentas que podem ser usadas. Define (Definir). Descrever o problema e avaliar seu impacto sobre clientes, estratégia e resultados financeiros da empresa. Selecionar projetos que serão utilizados na busca de solução dos problemas. Definir as metas que devem ser alcançadas. Definir o escopo do projeto: importância, equipe, cronograma… Termo de abertura (project charter); gráficos de controle; análise de séries temporais; VOC (voz do cliente); análises econômicas. Measure (Medir). Definir quais as características do projeto que deverão ser monitoradas, de que forma os dados serão obtidos e registrados e quais as especificações do projeto. Determinar o foco do problema, verificar a confiabilidade dos dados e coletar dados. Coleta de dados; estratificação; amostragem; folha de verificação; Diagrama de Pareto; histograma; índice de capacidade. Analyze (Analisar). Analisar os dados e os processos envolvidos; determinar as causas que contribuem para o baixo desempenho do processo. Analisar o processo para determinar as causas potenciais do problema. Fluxograma; mapa do processo/produto; FMEA (Failure Mode and Effects Analysis); brainstorming; Diagrama de Causa e Efeito; planejamento de experimentos. Improve (Aperfeiçoar). Gerar ideias a respeito das soluções potenciais para a eliminação das causas dos problemas detectados na etapa anterior. Testar essas soluções a fim de verificar se a solução escolhida pode ser implementada em larga escala. Identificar e avaliar as soluções prioritárias e aperfeiçoá-las. Brainstorming; Diagrama de Causa e Efeito; FMEA; teste de mercado; stakeholder analysis; simulação; 5W2H; PERT (Program Evaluation and Review) / CPM (Critical Path Method). Control (Controlar). Aplicar a solução da Quadro 1 - Etapas do DMAIC: ação, objetivos e ferramentas. Fonte: Holanda, Souza e Francisco (2013, p. 34). quarta etapa em larga escala e controlar o desempenho do processo ao longo do tempo. Padronizar as alterações realizadas no processo com a adoção das soluções. Definir um plano de ações corretivas caso surjam problemas no processo. Garantir que o alcance da meta seja mantido a longo prazo e padronizar as alterações. Cartas de controle; histograma; índice de capacidade; manuais; procedimento padrão; relatório de anomalias; reuniões. Para que esse monitoramento seja garantido, podem ser usadas Cartas de Controle ou Procedimento Operacional Padrão (POP). Devem ser observados se as metas originais foram alcançadas, se os resultados financeiros foram perceptíveis e o que será feito para garantir a continuidade do processo. Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) 4.2 Método FMEA Dentre várias abordagens da qualidade, uma é voltada especificamente ao cliente. Seu objetivo principal é assegurar que o produto ou o serviço esteja adequado às necessidades do cliente. Com isso, o produto tem um propósito para existir, que é sua adequação ao que este cliente almeja. Trata-se de os usuários não perceberem defeitos ou não receberem produtos com falhas. Em todos os processos de produção, a detecção de imperfeições deve estar no planejamento do projeto, antes mesmo de sua concepção física. É preciso entender que processos que gerem produtos com defeitos provocam prejuízos financeiros, além de uma imagem negativa tanto do produto, quanto da empresa para os consumidores. Com isso, a busca pela eliminação dessas falhas é necessária para a manutenção de todos os stakeholders. 4.2.1 Mecanismo de detecção de falhas As imperfeições em processo podem ser vistas como algo normal na fabricação de produtos, ou em serviços. Contudo, a depender de onde ocorre, pode ser algo fatal. Como exemplos, podemos citar uma pane num avião em voo, a falta de freio num carro, ou mesmo o fornecimento de energia elétrica ou de remédios em hospitais. Slack, Chambers e Johnston (2008) declaram que as organizações podem até aceitar a ocorrência de falhas, contudo não podem ignorá-las. Para isso, é preciso discriminar as diferentes falhas, prestando atenção às mais críticas por elas mesmas, ou aquelas que vão interferir de forma a prejudicar a produção. Ao discorrer sobre a ferramenta, Palady (1997) enumera alguns benefícios do desenvolvimento e manutenção de FMEAs eficazes. Entre os benefícios apontados pelo autor, destacam-se aqueles com relação direta para o incremento dos níveis de qualidade e produtividade, senão vejamos: economia nos custos e tempo de desenvolvimento, serve como guia para planejamento de testes mais eficientes, fornece uma referência rápida para resolução de problemas, As falhas, segundo Slack, Chambers e Johnston (2008), são provindas de algumas fontes: Para todas as possíveis falhas indicadas, existe o modus operandi (procedimento ou método) para detectar essas ocorrências (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2008): 4.2.2 FMEA O Failure Mode and Effects Analysis (FMEA), em português Análise de Modo de Falha e seus Efeitos, é uma ferramenta da qualidade que lida com a prevenção dos tipos falhas, também chamado de modos de falha, bem como seus efeitos gerados no processo e seus produtos. reduz mudanças de engenharia, aumenta a satisfação do cliente, captura e mantém o conhecimento do produto e do processo na organização, reduz eventos não previstos durante o planejamento de um processo, identifica as preocupações de segurança a serem abordadas, entre outros. (BASTOS, 2006, p. 2) Verificação no processo. Diagnóstico de máquinas. Entrevista na saída. Pesquisa telefônica (ou por e-mail). Grupos de foco. Fichas de reclamação. Questionários. Quando algo planejado no papel não deu certo em circunstâncias reais. Quando máquinas, equipamentos e acessórios têm probabilidade de quebrar. São erros por engano, ou violação, quando os atos das pessoas diferem do procedimento definido. Quando o fornecedor erra o local de entrega, ou mesmo causa efeito no prazo. Quando os clientes não seguem as instruções do manual ou procedem com má utilização, causando defeito ao produto. Falhas de projeto Falhas de instalações Falhas de pessoal Falhas de fornecedores Falhas de clientes #PraCegoVer: a figura expõe o processo de análise de efeitos e modo de falha (FMEA), com setas que conectam pontos de baixo para cima: assembleia da equipe; listar os modos de falhas e efeitos; ranquear a severidade; listar as causas potenciais; classificar as possibilidades; listar os controles de processo; classificar a detecção; calcular o NPR; tomar ações nas prioridades do NPR. O FMEA foi aprimorado pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), nos anos de 1960, durante o programa espacial Apollo, que levaria o homem à Lua. Os projetistas começaram a desenvolver hipóteses de criticidades, que seria o levantamento do que estaria mais propenso a acontecer nas viagens espaciais, e, então, começaram a considerar os riscos envolvidos, mas ao mesmo tempo buscando soluções. #PraCegoVer: a figura mostra um astronauta pulando na lua e saudando a bandeira dos EUA. Figura 2 - Processo do FMEA. Fonte: Shutterstock (2020). Figura 3 - Apollo 11 e a utilização do FMEA. Fonte: Shutterstock (2020). Slack, Chambers e Johnston (2008) defendem que o objetivo da análise do efeito e modo de falhas é identificar as características do produto ou serviço que são críticas para vários tipos de falhas. É um meio de identificar as falhas antes que aconteçam. 4.2.3 Análise de falhas O FMEA é idealizado quando ocorre um novo projeto de produto, novos processos, ou uma nova função e aplicabilidade de um produto. A ferramenta é usada para analisar possíveis falhas, ou potenciais falhas, buscando cumprir as especificações dos clientes ou o padrão pré-estabelecido pela empresa. Embora o número de pessoas que viajem de avião tenha crescidomuito, a probabilidade de sofrer um acidente aéreo fatal caiu significativamente. Acidentes aéreos ainda ocorrem, entretanto. A razão predominante para isso não é a falha mecânica, mas a falha humana, como fadiga do piloto. A Boeing, que domina os negócios de linhas aéreas comerciais, calculou que mais de 60% de todos os acidentes que ocorreram nos últimos dez anos tiveram o comportamento da tripulação como sua “causa dominante”. A probabilidade de um acidente ainda é muito pequena. Um tipo de acidente conhecido como “voo controlado para o chão”, no qual parece que o avião está sob controle e, no entanto, está voando para o solo, tem probabilidade de acontecer somente uma vez em 2 milhões de voos. Para que esse tipo de falha aconteça, uma cadeia inteira de falhas menores deve acontecer. Primeiro, o piloto deveria estar voando na altitude errada – há uma única chance em mil. Embora sejam pequenas as probabilidades de falhas, os fabricantes de aviões e companhias aéreas trabalham em procedimentos que podem tornar difícil que a tripulação cometa erros que levem a acidentes fatais. Por exemplo, se a probabilidade de o copiloto falhar na verificação da altitude for reduzida para 1 em 200 e a probabilidade de o piloto ignorar o alarme de proximidade do solo for reduzida para 1 em 5, então a probabilidade de ocorrer esse tipo de acidente cairia drasticamente para 1 em 10 milhões (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002, p. 630). Vamos a um exemplo, para que você entenda melhor: num projeto de uma moto, um dos componentes dela são os faróis, que precisam estar com as lâmpadas acendendo, se a luz alta está atingindo a especificação das normas técnicas, ou a regulagem está correta. Essas e outras especificidades desse componente devem estar de acordo com o padrão estabelecido pelo projeto. Caso #PraCegoVer: a figura mostra um homem observando alguma falha na parte inferior de um avião. Havendo falhas encontradas, é preciso definir o grau ou a prioridade de solução. Para isso, foi constituído do o Risk Priority Number (RPN), em português o Número de Prioridade de Risco (NPR). Foram instituídos os fatores: severidade de falhas (S): quando existe gravidade; ocorrência de falhas (O): há uma probabilidade de ocorrer; detecção de falhas (D): possível detecção antes do cliente (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2008). NPR = S x O x D #PraCegoVer: a figura mostra uma mão segurando caneta no papel que contém uma lista de verificação e o formato para preenchimento de informações em conceito de negócios. Figura 4 - Inspeção e análise de risco. Fonte: Shutterstock (2020). Figura 5 - Checklist. Fonte: Shutterstock (2020). No quadro a seguir, vemos a descrição ou ramificação de potencial de possibilidades de falhas. A avaliação, que tem uma escala de 1 a 10, é uma definição numérica que serve para definir as características críticas e leves. Já as possíveis ocorrências de falhas estão ligadas à possibilidade de vezes em que as causas são encontradas. É preciso deixar claro que esses dados são exemplificativos, cada autor ou organização podem determinar suas escalas de acordo com sua realidade e base de estudos. Quadro 2 - Escalas de avaliação para FMEA. #PraCegoVer: o quadro expõe em três camadas as escalas de avaliação para a FMEA. Primeiro, quanto à ocorrência de falhas. Probabilidade remota de ocorrência. Não seria razoável esperar que ocorressem falhas. Baixa probabilidade de ocorrência. Geralmente associada com atividades similares a outras anteriores que tiveram falhas ocasionais. Probabilidade moderada de ocorrência. Geralmente associada com atividades similares a outras anteriores que tiveram falhas ocasionais. Alta probabilidade de ocorrência. Geralmente associada com atividades similares a outras anteriores que tradicionalmente causaram problemas. Probabilidade muito alta de ocorrência de falhas. Quase certo que falhas importantes ocorrerão. A avaliação vai de 1 a 10, cada um dos números atrelados a estatísticas de possível ocorrência de falhas: 0; 1:20.000; 1:10.000; 1:2.000; 1:1.000; 1:200; 1:100; 1:20; 1:10; 1:2. Em segundo lugar, aborda-se a severidade das falhas. Severidade pequena. Uma falha muito pequena que não teria efeito notável no desempenho do sistema. Severidade baixa. Uma falha pequena que causa leve aborrecimento aos clientes. Severidade moderada. Uma falha que causaria algum descontentamento, desconforto ou aborrecimento ou causaria deterioração notável no desempenho. Alta severidade. Uma falha que ocasionaria alto grau de descontentamento dos clientes. Severidade muito alta. Uma falha que afetaria a segurança. Catastrófica. Uma falha que pode causar danos à propriedade, ferimentos sérios ou morte. As avaliações desses graus vão de 1 a 10. Por último, são listados os graus de detecção de falhas. Probabilidade remota que o defeito atinja o cliente. Não seria razoável esperar que uma falha dessas não fosse detectada durante inspeção, teste ou montagem. Baixa probabilidade de que a falha atinja o cliente. Probabilidade moderada de que a falha atinja o cliente. Alta probabilidade de que a falha atinja o cliente. Probabilidade muito alta de que a falha atinja o cliente. As avaliações vão de 1 a 10 e estão associadas às seguintes probabilidades percentuais: 0 a 15%; 6 a 15%; 16 a 25%; 26 a 35%; 36 a 45%; 46 a 55%; 56 a 65%; 66 a 75%; 76 a 85%; 86 a 100%. Vamos a um exemplo de como é possível utilizar esse quadro. Em uma determinada empresa, num exercício de FMEA, foram detectados quatro modos de falhas, sendo denominados Falha 1, Falha 2, Falha 3 e Falha 4. A equipe do projeto, com base na tabela de Escalas de FMEA, fez a seguinte classificação: #PraCegoVer: a tabela descreve os valores do NRP de cada falha, e com seus resultados ao final. Os dados são apresentados nesta sequência: modo de falha: severidade; ocorrência; detecção; prioridade. Falha 1: 6; 4; 2; 48. Falha 2: 5; 4; 3; 60. Falha 3: 7; 8; 8; 448. Falha 4: 4; 6; 10; 240. Conforme o cálculo (NPR = S x O x D), foi possível detectar que a Falha 3 (7 x 8 x 8=448), deve ser analisada com maior rapidez, para ser eliminada do processo. Fonte: Slack, Chambers e Johnston (2008, p. 639). Tabela 1 - Níveis de severidade. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). 4.3 Ferramentas da qualidade aplicadas em processos As metodologias de análise de controle estão em constante evolução, porém nem todas as empresas conseguem identificar quais práticas são as melhores para suas necessidades, ou mesmo entender a finalidade das ferramentas, aplicando-as de forma correta. Outro fator que dificulta as práticas da qualidade é a não continuidade das ações, o processo de melhoria é contínuo e ininterrupto. Isso faz com que os problemas não tenham um fim, ou os processos continuem sendo executados de forma não padronizada. Problema é algo que deve ser antecipado e solucionado, e um dos processos utilizados que facilitam as organizações na eliminação de anomalias é a Metodologia de Análise e Solução de Problemas (MASP), que tem como objetivo antever problemas futuros. 4.3.1 MASP A utilização de dados advindos da inspeção de processo com o objetivo de encontrar problemas já existe desde o século passado, com a criação de Shewhart. Com a carta controle, produtos defeituosos são bloqueados no processo. Contudo, para algumas organizações antevirem um problema antes que aconteça, é algo mais difícil, mesmo sendo o mais adequado, exige mais conhecimento do fluxo de produção, desde as entradas até as saídas, acompanhando os dados in time. Falconi (1999) expõe que problema é o resultado indesejável de um processo. Com isso, a existência de um problema faz o responsável pelo processo estar ou não satisfeito com os resultados mostrados pelos seus itens de controle. Segundo o autor, em décadas passadas, gerentes que não tinham problemas eram considerados bons. Nos dias atuais, todavia, o gerente que não tem problema é porque não está acompanhando os processos e resultados das empresas. Glasser (1990) diz que existem variações de problemas, que podem ser: (1) anomalias,conhecidos também como falhas, são pequenos e muitas vezes podem passar despercebidos, e (2) problemas crônicos, mais difíceis de serem solucionados, pois estão enraizados na cultura da empresa, são vistos como algo normal. O autor também classifica os problemas de duas maneiras: (1) controláveis, em que as pessoas envolvidas têm autoridade para resolvê-los, além de responsabilidade, e (2) não controláveis, advindos de outros processos ou departamentos, e os envolvidos não possuem responsabilidade, mas acabam sendo afetados por eles. Cada processo pode ter um ou mais resultados (efeitos, fins). Para que se possa gerenciar de fato cada processo é necessário medir (avaliar) os seus efeitos. Portanto, um processo é gerenciado através de seus itens de controle que medem qualidade, custo, entrega, moral e segurança. Os itens de controle de um processo são índices numéricos estabelecidos sobre os efeitos de cada processo para medir a sua qualidade total. (FALCONI, 1999, p. 19) A ausência de uma gestão eficaz munida do desequilíbrio social, compromete a manutenção e o sustento dessas entidades, tornando necessário um sistema de gestão mais abrangente, tal como proporcionado pela correta implantação do MASP como procedimento de auxílio na rotina de gerenciamento. (MEDEIROS; GHIRALDELLO apud LIMA, 2017) Com o intuito de eliminar esses problemas pequenos ou crônicos, existe o QC Story ou MASP. Segundo Bazerman (2004), é um método que, de forma ordenada, compõe passos que definem tanto a apuração de um problema, quanto a análise das causas, o planejamento e o conjunto de ações, determinando as soluções e sua verificação. Dessa forma, o MASP assegura como o problema deve ser solucionado, e não como ele é de fato solucionado. Falconi (1999) argumenta que a solução de problemas deve ser feita de forma metódica e com a participação de todos. Dessa forma, as pessoas devem conhecer as ferramentas da qualidade, para que possam aplicá-las na resolução de problemas. 4.3.2 O MASP e o PDCA O PDCA (plan, do, check e act, que em português se traduz como planejar, fazer, executar e agir) é um método utilizado em conjunto com o MASP, criando uma maior influência na melhoria dos processos, como vemos na figura a seguir. #PraCegoVer: a figura apresenta o Ciclo PDCA, e em cada letra as ações necessárias para solução dos problemas segundo o MASP. Em P, (1) identificação do problema, (2) analisar o problema, (3) analisar as causas e (4) preparar o Plano de Ação. Em D, (5) executar o Plano de Ação. Em C, (6) verificar os resultados. Em A, (7) padronizar as melhorias alcançadas e (8) atuar nos problemas remanescentes. Mesmo sendo difundido pela NASA, o FMEA surgiu nos anos de 1940 com o exército americano. O objetivo era avaliar a eficácia dos soldados sobre cada missão a que eram enviados. Atualmente é imprescindível no ramo automobilístico. Você sabia? Figura 6 - Gerenciamento para melhoria de resultados. Fonte: Adaptado de Falconi (1999). Apesar de as duas metodologias aparecerem juntas, não quer dizer que são iguais, pois cada uma tem objetivos e propostas distintas. O PDCA é uma concepção de gestão, sendo uma forma de gerir os processos, que ao final do ciclo visa padronizar as soluções que foram eficazes para concretizar o planejado. O MASP, como já dissemos, é um método que pretende detectar desvios no processo e problemas não rotineiros, e as soluções são pontuais. As duas metodologias podem e devem ser usadas juntas, como indica Falconi (1999). 4.4 Sistemas de gestão da qualidade A concepção de sistema sempre é algo recorrente no nosso cotidiano, todos já ouviram falar sobre o sistema solar, sistema circulatório, entre outros. Carvalho e Paladini (2012) citam que o objetivo de um sistema está ligado à sua finalidade. É possível, portanto, encontrar sistemas com mais de uma finalidade. Os Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ) estão diretamente ligados às políticas de qualidade e aos objetivos da empresa. Essas políticas descrevem o propósito da empresa para com a qualidade, e a melhoria contínua. Para melhor entendimento, vamos verificar qual a política atual da qualidade da empresa Fiat. A administração de um sistema é a parte do sistema que faz o planejamento e a gestão do sistema, considerando os objetivos globais, o ambiente, os recursos e os componentes. A administração determina as missões e atividades de cada componente do sistema e procede à alocação dos recursos e mede o desempenho do sistema. (CARVALHO; PALADINI, 2012, p. 158) #PraCegoVer: a figura contém um texto, em que consta o seguinte: “A Fiat Chrysler Automobiles acredita que a satisfação do cliente é uma condição indispensável para o seu sucesso, oferecendo produtos e serviços superiores em termos de: Qualidade, confiabilidade e segurança. E considera fundamental: • Contribuir com o crescimento dos recursos humanos, através da motivação, envolvimento, ética, valorização, respeito, informação, treinamento e desenvolvimento cultural de Qualidade, agindo com competência, criatividade e participação das pessoas. • O comprometimento, a responsabilidade e a conscientização em todos os níveis da empresa, inclusive dos fornecedores e concessionários, na realização do produto/serviço. • Fortalecer a parceria com fornecedores e concessionários. • Planejar e controlar as atividades necessárias para alcançar os objetivos da empresa. • Garantir que as especificações técnicas e legislativas sejam seguidas corretamente. • Desenvolver processos eficazes e eficientes, segundo os princípios de Gestão para a Qualidade. • Melhorar continuamente os processos, produtos e serviços. O SGQ é uma forma de administrar a organização com propósito voltado à qualidade, na satisfação e no atendimento das necessidades dos clientes. Para isso, há normas que auxiliam as empresas na estruturação desse novo conceito, que são as normas ISO. A seguir, veremos qual a estrutura do SGQ baseado na ISO. Figura 7 - Política da qualidade Fiat. Fonte: Fiat (2020). #PraCegoVer: a figura apresenta a descrição da estrutura do SGQ, lembrando o desenho de um processo, onde as entradas são os requisitos do cliente, o produto são as responsabilidades da empresa (divididas em: responsabilidade da administração; gestão de recursos; realização do produto; medição, análise e melhoria; esse ciclo integra o sistema de gestão da qualidade, com melhorias contínuas), e a saída é a satisfação do cliente. Para Carvalho e Paladini (2012), o SGQ baseado na ISO 9001 tem como finalidade identificar os processos, os recursos necessários para criação de um produto, e quais variáveis externas que podem influenciar no processo, bem como qual a sua importância. Todas essas definições e esses requisitos devem ser documentados, com o objetivo de controlar e melhorar conforme o mercado se move. Os requisitos básicos de um SGQ são: Figura 8 - Estrutura do SGQ baseado na ISO. Fonte: Carvalho e Paladini (2012, p. 164). O escritor e engenheiro Philip Bayard Crosby desenvolveu o método de gestão da qualidade, baseado na definição de “defeito zero” ou “fazer certo da primeira vez”. Você o conhece? Declaração da política da qualidade. Manual da qualidade. Alguns procedimentos específicos documentados. Alguns documentos de planejamento, operação e controle do sistema global. A forma de assegurar que o SGQ está sendo cumprido é por meio de auditorias internas e auditorias externas com propósito de certificação. As auditorias internas servem para direcionar as empresas ao cumprimento do SGQ. Por sua vez, as auditorias externas, que são feitas por empresas terceirizadas, têm como objetivo validar o SGQ, analisando se foi implementado ou está em funcionamento, e direcionar para certificação. A certificação ISO é aceita mundialmente como uma declaração que a empresa projeta em seus objetivos e propósitos o atendimento à qualidade e suas especificações. Quem certifica é uma organização acreditadora, ligada à ISO. No Brasil temos a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Dentre as muitas ferramentasda qualidade que são utilizadas para o processo de melhoria contínua, a auditoria apesar de não fazer parte deste contexto, visa o oferecimento e alternativas de soluções para área e também para toda a empresa. A auditoria não é nem uma inspeção nem uma fiscalização. Não deve incluir ações disciplinares nem castigos, mas ações corretivas para melhoria dos processos. (SILVA, 2020b, p. 121). Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) As filosofias e os métodos da qualidade são capazes de difundir uma cultura de melhoria nas organizações, de produção ou serviços. Seu sucesso se dará por meio da colaboração de todos e consolidação do conhecimento aplicado das ferramentas da qualidade. Com esses ensinamentos, você pôde perceber que a engenharia da qualidade deve estar inserida desde o planejamento do produto. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: Conclusão conhecer as possíveis falhas de processos, com o uso do FMEA para identificação da causa raiz; utilizar o DMAIC, juntamente com o 6 Sigma, proporcionando redução de defeitos e ganhos financeiros; identificar o MASP como um método que, juntamente com o PDCA, proporciona a identificação de problemas, tendo a capacidade de resolvê-los. dominar o conceito do SGQ inserido à norma ISO, com uma abordagem voltada ao atendimento das necessidades do consumidor. BASTOS, A. L. A. FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) como ferramenta de prevenção da qualidade em produtos e processos: uma avaliação da aplicação em um processo produtivo de usinagem de engrenagem. In: ENEGEP, 26., 2006, Fortaleza. Anais […]. Fortaleza, 2006. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2006_tr470324_8144.pdf (http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2006_tr470324_8144.pdf). Acesso em: 23 dez. 2020. BAZERMAN, M. H. Processo decisório: para cursos de administração e economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. CARVALHO, M. M.; PALADINI, E. P. Gestão da qualidade: teoria e casos. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 430 p. CHIROLI, D. M. G. Avaliação de sistemas de qualidade. Curitiba: InterSaberes, 2016. FIAT. Política da qualidade FCA. 2020. Disponível em: https://www.fiat.com.br/politica-da- qualidade.html (https://www.fiat.com.br/politica-da-qualidade.html). Acesso em: 7 jan. 2021. HOLANDA, L. M. C.; SOUZA, I. D.; FRANCISCO, A. C. 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