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Prof. Raphael Barbosa Ramos FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO Localização e extensão do território O território brasileiro possui como característica principal a sua grande extensão, o que o faz ser considerado como um país de dimensões continentais, ou seja, apresenta uma área equivalente à de um continente, detendo 8.514.876 km² de extensão. Por definição, todo país ou região que apresente uma área maior que a da Austrália (7.692.024 km²) é considerado continental, pois esse país equivale à extensão, quase totalmente, do menor continente existente na Terra, a Oceania. Assim sendo, o Brasil é o quinto maior país existente, ficando atrás de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Sua área é tão grande que, a título de comparação, é pouco menor que a Europa, que possui cerca de 10,5 milhões de km². Dessa forma, podemos ter uma ideia do quanto o espaço geográfico e também o meio natural do nosso país são amplos e diversos, apresentando as mais distintas características. A extensão do território brasileiro é marcada pela grande distanciação de seus pontos extremos de localização. No sentido norte-sul, o Brasil possui uma distância de 4.394 km entre o Monte Caburaí – ponto localizado no estado de Roraima e posicionado no extremo norte do país – e o Arroio Chuí, esse último posicionado no extremo sul, no Rio Grande do Sul. Já no sentido leste-oeste, a distância é bastante parecida, com 4.319 km separando a Nascente do Rio Moa (Acre), no extremo oeste, da Ponta do Seixas (Paraíba), no extremo leste. Em termos de posição, a localização do território brasileiro é considerada a partir de vários fatores. O nosso país encontra-se em três hemisférios diferentes ao mesmo tempo: a maior parte no hemisfério sul, uma pequena parte no hemisfério norte e todo o seu território no hemisfério oeste. É cortado ao norte pela Linha do Equador e ao Sul pelo Trópico de Capricórnio, apresentando 92% de sua área em uma zona tropical. Outro aspecto da posição geográfica do Brasil são as suas latitudes e longitudes, ou seja, as suas coordenadas geográficas, que costumam ser medidas a partir da Linha do Equador (latitudes) e a partir do Meridiano de Greenwich (longitudes). Sendo assim, em termos latitudinais, o território brasileiro estende-se desde algo próximo aos 5º Norte até cerca de 33º Sul. Em termos longitudinais, a extensão vai desde os 35º oeste até um pouco menos que os 75º oeste. Mas isso se desconsiderarmos algumas ilhas oceânicas situadas no Atlântico, essas posicionadas em longitudes um pouco menores. Em razão de sua larga extensão no sentido leste-oeste, o Brasil apresenta uma variação grande de fusos horários, totalizando quatro regiões distintas. O primeiro fuso está duas horas atrasado em relação ao Meridiano de Greenwich (-2GMT, portanto) e abrange apenas as ilhas do Atlântico. O segundo e mais importante fuso (-3GMT) abrange a maioria dos estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal e a capital Brasília, sendo, portanto, o horário oficial do país. O terceiro fuso (-4GMT) abrange alguns estados a oeste, a saber: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e a maior parte do Amazonas. Já o quarto fuso (-5GMT) abrange uma pequena parte oeste do Amazonas e o estado do Acre. Ao todo, o Brasil apresenta 23.102 km de fronteiras, sendo que 15.735 km são compostos por fronteiras terrestres e 7.367 km são fronteiras marítimas. Na América do Sul, o Brasil faz fronteira com quase todos os países do continente, com exceção apenas do Chile e do Equador, o que representa toda a faixa de limitações terrestres do nosso país. Já nas áreas oceânicas, as fronteiras brasileiras estendem-se durante todo o Oceano Atlântico e são formadas quase que totalmente por praias e regiões completamente habitáveis, elevando o potencial turístico brasileiro. Vale lembrar que, além do espaço terrestre, o Brasil detém soberania sobre 12 milhas além do litoral (Mar Territorial), sem falar nas zonas contíguas e zonas econômicas exclusivas, que foram estabelecidas em tratados internacionais. Em geral, quando falamos em território brasileiro, falamos em um espaço muito amplo e privilegiado, pois, além de ser um dos maiores países do mundo, o Brasil também é um dos que possuem as maiores áreas habitáveis e produtivas. Isso acontece porque os países maiores do que o nosso apresentam, em geral, muitas áreas inóspitas, como regiões polares, montanhosas ou desérticas, o que praticamente inexiste no Brasil. Portanto, em termos naturais, podemos dizer que o Brasil é um espaço dotado de inúmeras riquezas e importâncias." Formação do território brasileiro A formação do território brasileiro começou antes da chegada dos portugueses. Para evitar conflitos entre Espanha e Portugal, os dois países assinaram o Tratado de Tordesilhas (1494). Este estabelecia os limites das terras a serem ocupadas e exploradas na América. A primeira região a ser povoada pelos portugueses foi o litoral, especialmente o nordestino. Ali se estabeleceram as plantações de cana de açúcar, os engenhos, e os portos. Paralelo a isso, os colonos organizavam expedições em busca de mão de obra, metais e pedras preciosas. O território brasileiro no período colonial O Tratado de Tordesilhas obrigava os portugueses a permanecerem no litoral. Com isso, a primeira atividade econômica foi a exploração do pau-brasil e em seguida, o plantio da cana de açúcar. Com a União Ibérica (1580-1640), o Tratado de Tordesilhas deixa de ter validade. Desta maneira, os colonos portugueses podem ir para o interior. Com isso, encontram ouro e pedras preciosas nas regiões hoje conhecidas como Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Com o fim da União Ibérica e o restabelecimento da monarquia em Portugal, os portugueses se expandem para o sul e fundam a Colônia do Sacramento, em 1680. A fim de resguardar aquelas terras, os espanhóis respondem criando Os Sete Povos das Missões onde jesuítas e índios guaranis viveriam. Posteriormente, começa na Europa a Guerra de Sucessão (1700-1713), uma disputa entre as potências europeias para escolher o próximo soberano espanhol. Esta briga se refletiria também nas colônias americanas e mudaria o os limites do Brasil. Com o fim do conflito é assinado o Tratado de Utretch, o qual estabelecia: - as fronteiras entre o Brasil e a Guiana Francesa - o Amapá, disputado entre França e Portugal, foi reconhecido como português - a Colônia do Sacramento foi entregue à Espanha - a área ocupada pelos Sete Povos das Missões foi cedido a Portugal. Formação territorial do Brasil no século XIX Com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, o território do Brasil sofreu novas alterações. A atividade mineradora perdeu força e o café passou ser o principal produto de exportação do Brasil. Com isso, os estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo ganharam importância. A Banda Oriental do Uruguai foi incorporada ao Brasil como Província da Cisplatina e a Guiana Francesa foi ocupada militarmente. Em 1817, o Brasil deixa a Guiana Francesa, mas obtém o reconhecimento da posse da foz do Amazonas. Após a independência, porém, as Províncias Unidas do Rio da Prata, alegam que a área da Cisplatina lhes pertencia e tem início a Guerra da Cisplatina (1825-1828). A solução é a criação de um Estado independente, a República Oriental do Uruguai. Nesta época, se registram a criação das províncias de Alagoas (1817), Sergipe (1820), Amazonas (1850) e Paraná (1853). Organização do território brasileiro no século XX Com a proclamação da República, em 1889, as províncias passam a se denominar "estados". O Brasil aumentou de tamanho durante o século XX. A França alegava que parte do Amapá lhe pertencia, pois não reconhecia o rio Oiapoque como fronteira. Em maio de 1900, após disputas diplomáticas lideradas pelo barão do Rio Branco, a questão foi resolvida a favor do Brasil e uma faixa deterra de 250.000 km² foi incorporado ao estado do Pará. No entanto, o principal conflito territorial foi registrado com a Bolívia. Ambos os países se enfrentavam pela região onde atualmente é o estado do Acre. O confronto deu origem a Revolução Acreana e terminou com a incorporação destas terras pelo Brasil. Através do Tratado de Petrópolis, a Bolívia foi indenizada e a ferrovia Madeira-Mamoré foi construída. No século XX, observamos a reorganização territorial do Brasil com a criação de novos estados como o Território Federal do Guaporé (1943), Mato Grosso do Sul (1977) e Tocantins (1988). Isso respondia ao crescimento da população e também tinha o objetivo de melhorar a administração local. O Território Federal do Guaporé passou a ser o estado de Rondônia, em 1982. Por sua vez, Amapá e Roraima foram elevados à categoria de estados em 1988. Regionalização do Brasil Regionalizar significa dividir o espaço a partir de critérios específicos, agrupando áreas com características comuns, que podem ser naturais, históricas, culturais ou socioeconômicas. Nesse sentido, um território pode ter tantas regionalizações quanto for possível a partir da visão do pesquisador. Assim, o Brasil apresenta diferentes regionalizações de acordo com suas respectivas propostas, geralmente para melhor administrar o território. Três regionalizações merecem destaque. São elas: Macrorregiões do IBGE A divisão em cinco macrorregiões, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a regionalização oficial. Foi elaborada na década de 1930 e, com o passar dos anos, sofreu diversas alterações até a sua nomenclatura atual, estabelecida na década de 1970. Mesmo assim, nos anos posteriores, ainda sofreu algumas alterações, como a incorporação do estado de Tocantins à Região Norte. É uma regionalização político-administrativa, isto é, respeita os limites dos estados, adotando critérios naturais, econômicos e sociais, dividindo o país em: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Complexos regionais ou regiões geoeconômicas Divisão regional proposta pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger em 1967. A principal diferença é que essa regionalização não considera os limites políticos dos estados e segue um critério de formação histórico-econômica do país. A modernização econômica do território, em curso desde a década de 1960, tem um papel fundamental na caracterização das regiões. O Centro-Sul é a região mais desenvolvida, em que se observa intensa modernização econômica do território, enquanto a Amazônia é uma região em que esse processo ainda não é intenso. Por fim, o Nordeste é uma região que foi pujante no passado, mas que foi perdendo importância ao longo do tempo. Os quatro Brasis ou regionalização de Milton Santos Essa regionalização utiliza um critério com base no processo histórico de ocupação e transformação do território a partir do conceito de meio técnico-científico-informacional. O MTCI está inserido no contexto da Terceira Revolução Industrial e, assim, a Região Concentrada (Sul + Sudeste) é a que apresenta o estágio mais avançado de inserção na globalização, com denso sistema de fluxos (comunicação e transportes) e elevado índice de atividades modernas. No Centro-Oeste, também se observa um intenso processo de modernização, porém, em razão do emprego de alta tecnologia na produção agropecuária. O Nordeste apresenta apenas alguns pontos de inserção de recursos tecnológicos avançados, enquanto a Amazônia se trata de uma região de baixa densidade demográfica e recursos tecnológicos. A possibilidade de novos estados no Brasil Em um regime federativo, a criação de estados possibilita uma melhor governabilidade sobre o território a partir da melhor compreensão das particularidades existentes naquele espaço. Assim, essa segmentação possibilitaria também novas organizações regionais. Todavia, tal recurso significa um aumento da burocracia, sendo mais complexa a tomada de decisões, além do maior custo devido à existência de toda uma máquina estatal. Um dos estados em que se observa um movimento em busca de maior autonomia é o estado do Pará. Entre as propostas de divisão, existia a de criação de três estados: Tapajós, Pará e Carajás. A ideia parte do princípio de que as riquezas seriam mais bem aproveitadas por determinado estado do que a divisão por uma área gigantesca. Todavia, todo o custo atrelado à criação e administração de um estado acabou barrando o projeto.