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O SERVIÇO SOCIAL NA PREVIDÊNCIA SOCIAL: Limites e possibilidades no trabalho profissional dos/as assistentes sociais no INSS-GEX/Belém. Sara Daltro Tavares Paiva1 Jefferson Franco Rodrigues2 Diego de Almeida Amoras3 Vanessa Khrisllen Pinheiro Ferreira4 Stephanne Margalho dos Santos5 RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar o serviço social na Previdência Social, identificando as determinações históricas do trabalho profissional dos/das assistentes sociais no INSS, demarcando os limites e possibilidades para a atuação dos mencionados profissionais no referido espaço socio-ocupacional. Parte dos resultados parciais de uma pesquisa que ocorre em âmbito nacional acerca do trabalho e saúde dos/das assistentes sociais que atuam na seguridade social no Brasil. Orienta-se à luz da teoria social marxiana e do método materialismo histórico dialético. Nesta perspectiva, nota-se que os desafios e contradições presentes no trabalho desses profissionais tencionam lutas e resistências. Palavras-chave: Serviço Social. Previdência Social. Trabalho Profissional. ABSTRACT: This study aims to analyze the social service in Social Security, identifying the historical determinations of the professional work of social workers in the INSS, demarcating the limits and possibilities for the work of the mentioned professionals in the aforementioned socio-occupational space. Part of the partial results of a research that occurs on a national level about the work and health of the social workers who work in social security in Brazil. It is guided by the light of Marxian social theory and the method of dialectical historical materialism. In this perspective, it is noticed that the challenges and contradictions present in the work of these professionals intend fights and resistances. Keywords: Social service. Social Security. Professional work. 1 Mestranda em Serviço Social-PPGSS/UFPA. Bacharela em Serviço Social – UFPA. Email: Sara.daltro223@gmail.com 2 Assistente Social. Mestrando em Serviço Social-PPGSS/UFPA. Email: jefferson.franco@hotmail.com 3 Graduando em Serviço Social – UFPA. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. Email: diegoamoras@yahoo.com.br 4 Graduanda em Serviço Social – UFPA. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. Email: vanessakhrisllen59@gmail.com 5 Bacharela em Serviço Social – UFPA. Email: stephanne.margaalho@gmail.com 1. INTRODUÇÃO A seguridade social, no mundo, instituiu-se na perspectiva de prestar serviços sociais, os quais variaram de acordo com cada país e metas de governo (VIANA, 1998). Na particularidade do Brasil, a seguridade social enquanto política pública de caráter público e universal foi instituída a partir da promulgação da Constituição Federal do Brasil (CFB), em 1988, composta pelas políticas de: saúde, assistência social e previdência social. Esta, diferencia-se das demais por exigir que os/as usuários/as contribuam, previamente, com determinada quantia, em troca de dos serviços previdenciários, gestados a partir da lógica dos seguros sociais (SOUZA, 2017). Embora a seguridade social tenha se instituído enquanto uma política pública universal, contraditoriamente, constata-se que a partir dos anos 1990, no País, as políticas públicas passaram a ser focalizadas e fragmentadas, sobretudo, pela redução dos cortes no orçamento público, tendo por consequência a redução ao acesso dos sujeitos aos serviços das mencionadas políticas. Sendo assim, o/a assistente social como um trabalhador assalariado inscrito na divisão sócio técnica do trabalho, que tem como principal espaço sócio ocupacional, a seguridade social, atuando, diretamente, na formulação, execução e avaliação das políticas públicas e sociais, vem sofrendo os impactos dos mencionados cortes em seu cotidiano de trabalho. Desta forma, constatou-se que a Previdência Social, no Brasil, desde os anos de 1990, sob a orientação neoliberal, vem passando por contrarreformas, porém, atualmente, enfrenta ameaças de novas mudanças baseadas na tendência da instituição de seguros privados, reverberando nas condições de trabalho dos/as assistentes sociais, sob a forma de diversas tentativas de extinção do Serviço Social no INSS. Em consequência, uma das principais mudanças ocorridas no trabalho profissional desses/dessas profissionais tem sido a priorização de suas ações voltadas para a operacionalização do Benefício de Prestação Continuada (BPC), em detrimento dos atendimentos aos direitos previdenciários, a proposta de Emenda Constitucional 287 (Reforma da previdência), dificultando, ainda mais, o acesso dos usuários do INSS aos seus direitos previdenciários. A propósito, importa ressaltar a recente alteração da forma dos atendimentos aos segurados que passou a ser via digital, o que, sem dúvidas dificulta a orientação dos direitos e benefícios de forma correta. Essas mudanças estão na direção oposta das atribuições dos/das assistentes sociais que atuam na área da previdência social, sobretudo, após o período de reconceituação do Serviço Social que demarcou o seu posicionamento enquanto uma profissão comprometida com a luta geral dos/as trabalhadores/as, e em específico, com aqueles que procuram acessar seus direitos previdenciários, porém, as mudanças advindas das contrarreformas vêm atingindo, diretamente, o cotidiano desse profissional, sob as formas de precarização das condições de trabalho, desvalorização da profissão e até mesmo as tentativas de extinção e desqualificação do Serviço Social do INSS. Neste contexto, o trabalho desses profissionais torna-se permeado por disputas de classe envolvendo interesses antagônicos, haja vista que o Instituto é voltado à lógica do seguro social, enquanto que o assistente social atua na perspectiva inversa: A Seguridade Social. Sendo assim, as formas de gestão vigentes no INSS, particularmente, da Gex-Bel, são baseadas em metas de produtividade em detrimento da valorização do trabalho e as condições de trabalho expressam novas formas de exploração da força de trabalho, implicando em possibilidades e limites no trabalho dos/as assistentes sociais nessa área, Assim, pergunta-se: quais são as possibilidade e os limites desse trabalho na GEX-Bel/Pará. As respostas a esse questão tem por base a análise dos dados obtidos por meio de uma pesquisa realizada junto a 19 (dezenove) assistentes sociais que trabalham nas agências do INSS-Belém/Pará. Sendo assim, este artigo encontra-se estruturado em quatro partes, incluindo a introdução e as considerações finais. A segunda parte intitulada “O Serviço Social Na Previdência Social: elementos para compreensão” apresenta um percurso histórico do Serviço Social nessa área, destacando os avanços e retrocessos no trabalho profissional doa/das assistentes sociais; na terceira parte trata do Trabalho do/a Assistente Social no INSS enfatizando os seus limites e suas possibilidades. Nas considerações finais foram sintetizados os principais limites e as possibilidades encontradas por esses profissionais para o exercício do trabalho que desenvolvem nos referidos espaços sócio ocupacionais, a saber: as formas de gestão e controle do trabalho no Instituto, ampliação da exploração do trabalho e intensificação do mesmo, bem como, a precariedade das condições objetivas de trabalho. Na conjuntura atual prenhe de profundas mudanças na política de seguridade social, foi possível constatar que os rebatimentos para o trabalho profissional do assistente social têm se dado tanto no que se refere à forma quanto ao conteúdo. No que diz respeito à forma, observa-se a introdução de novas tecnologias, acelerando a demanda por respostas imediatas e quanto ao conteúdo, constata-se que houve um redirecionamento da atuação profissional, sobretudo a partir de 2009, para as demandas advindas do BPC (Benefíciode Prestação Continuada), referente à política de Assistência Social (SOUZA, 2017). Embora este cenário configure-se adverso para a realização do trabalho do/da assistente social de acordo com as prerrogativas da MTMSS, historicamente, há lutas e resistências coletivas que engendraram significativos avanços para a categoria, no INSS. Dessa forma, em mais de 20 anos, os profissionais de Serviço Social no INSS têm vivenciado tensionamentos de ordens diversas, bem como, ações de lutas e resistências que revelam o nível de comprometimento desses profissionais com a luta mais geral dos/as trabalhadores/as. 2. O SERVIÇO SOCIAL NA PREVIDÊNCIA SOCIAL: elementos para compreensão. Entender o percurso histórico do Serviço Social na Previdência Social brasileira, parece ser fundamental para analisar os limites e as possibilidades do trabalho profissional do/da assistente social nessa área, o qual se expressa em um movimento dialético de avanços e recuos. A instituição da profissão na Previdência Social data da década de 1940, especificamente, em 1944, baseada na concepção de ajuste social dos indivíduos, em um contexto de expansão dos seguros sociais, seguindo a tendência conservadora da profissão no mencionado período histórico (ENNES, 2012). Segundo Neves (2007), desde a inserção do Serviço Social na Previdência Social até 1994, três documentos se apresentam como relevantes para entender as diretrizes do trabalho do/da assistente social na Previdência Social, no Brasil, quais sejam: Os dois Planos Básicos de Ação do Serviço Social (PBA) e a Matriz Teórico Metodológica do Serviço Social na Previdência Social (MTMSS). Tais documentos são fundamentais para compreender o processo histórico que a profissão percorreu na busca da consolidação e expansão do serviço social na mencionada política, bem como, as linhas de ação que direcionaram o trabalho do/da assistente social na referida área e as formas pelas quais as demandas sociais postas no cotidiano institucional e profissional eram respondidas. Sendo assim, importa registrar que os dois primeiros documentos – PBA de 1972 e 1978 foram criados no período da ditadura militar no País, caracterizado pelo autoritarismo que impedia os canais de participação da classe trabalhadora, visto que tratava-se de “um governo que rearticulou a burguesia, apoiado nas classes médias urbanas, em torno do padrão burguês de dominação” (NEVES, 2007, p. 38). Na década seguinte, anos 1980, as discussões empreendidas no âmbito da categoria profissional de assistentes sociais, fortemente, influenciada pela teoria social marxiana, bem como, a promulgação da Constituição Federal de 1988, inauguram mudanças significativas no Serviço Social do INSS, com a construção da Matriz Teórico Metodológica do Serviço Social (MTMSS). O quadro abaixo apresenta uma síntese das linhas de ação dos três principais documentos que nortearam a atuação profissional dos/das referidos/as profissionais nas décadas de 1970 a 1990, com destaque para a concepção da categoria trabalho e para o cenário sócio-político e econômico determinante em cada momento histórico. Quadro I: Apresentação das Linhas de ação do Serviço Social na Previdência Social nos anos 1972, 1978 e 1994 ANO 1972 I PBA ANO 1978 II PBA MTMSS 1994 - Trabalho profissional com base nas ideias desenvolvimentistas, no período dos governos militares, voltados para a adequação dos/as usuárias ao sistema institucional. - Fortemente influenciado pela perspectiva modernizadora da profissão, pautava-se na neutralidade científica e no assistencialismo. - Trabalho profissional orientava-se sob uma perspectiva corretiva e terapêutica. - Visão individualista dos problemas sociais, amparado em um viés teórico-metodológico fenomenológico. - Atuação notadamente focada em manter-se na estrutura do Instituto. - Trabalho profissional influenciado pela teoria social crítica, buscando orientar os/as usuários/as sobre seus direitos previdenciários. - Linhas de ações articulada com os segmentos da classe trabalhadora. Fonte: Elaboração própria com base em Silva (2007) Com base no exposto, nota-se que os dois PBA’s (1972 e 1978) têm ações semelhantes, no que se refere ao conteúdo, embora existisse diferenciação no que refere ao lugar do Serviço Social na estrutura hierárquica do Instituto. No primeiro, os programas desenvolvidos pelo Serviço Social estavam, diretamente, relacionados à assistência social voltados para a população de baixa renda. Segundo Yasbek (2007) esses programas possuíam um cunho compensatório e estavam “direcionada a criação de condições para a implantação do programa desenvolvimentista do governo brasileiro” (grifos da autora). No segundo, os/as assistentes sociais encontravam-se na luta pelo reconhecimento institucional do Serviço Social e pelo seu retorno para o quadro do INSS, uma vez que devido a reformulação do referido Instituto, foi direcionado para a assistência social. Na contramão desta perspectiva foi instituída a MTMSS, em 1994, resultado da discussão e de debates empreendidos por assistentes sociais, no Brasil, em encontros locais, regionais e nacionais, culminando com a definição das diretrizes que iriam nortear a atuação profissional a partir de então, fortemente, influenciadas pelos estudos e pesquisas progressistas empreendidos pela categoria, no contexto de intenção de ruptura com o conservadorismo6. Dessa forma, procurou-se criar um direcionamento interventivo orientado pelo conhecimento da realidade social com base no método crítico dialético, pautado em um forte posicionamento ético-político em defesa dos/as direitos previdenciários e na “capacitação técnica operativa que permita a formulação de estratégias viabilizadoras da proposta contida na Matriz” (YASBEK, 2007, p 126). Observa-se, então, que as estratégias de ação construídas coletivamente pelos assistentes sociais do INSS demarcam, suntuosamente, o posicionamento da categoria na instituição, adotando uma nítida concepção do usuário enquanto um sujeito de direitos, cidadão com poder de decisão e enfrentamento das desigualdades sociais apresentadas. Em consonância com a teoria crítica, o trabalho do/a assistente social na Previdência Social tem por base a apreensão das diversas determinações sócio históricas, legitimando, assim, o exercício profissional neste espaço sócio ocupacional, em tempos de crise do capitalismo e avanço do neoliberalismo. Contudo, a materialização das ações apresentadas na referida Matriz, configura-se como um desafio ao trabalho do/da assistente social, sobretudo, mediante aos avanços das diretrizes neoliberais para as políticas públicas sociais. Sendo assim, torna-se necessário apreender as nuances do trabalho profissional do/da assistente no INSS, identificando os atuais desafios, avanços e retrocessos no cotidiano desses profissionais que atuam na previdência social. 3. O TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSS: Limites e possibilidades. A compreensão dos limites e possibilidades do trabalho assalariado do/da assistente social no INSS – GEX-Bel7 remete importante, inicialmente, destacar, o Serviço Social enquanto um trabalho inscrito na divisão sócio técnica do mundo do trabalho, instituído no contexto da consolidação do capitalismo e ampliação do Estado, para atuar no trato das expressões da questão social (IAMAMOTO, 2005). Neste sentido, o assistente social é um trabalhador assalariado que faz parte da classe trabalhadora na sociedade capitalista, portanto, é vendedor da sua força de trabalho enquanto uma mercadoria que possui um valor de uso e de troca. Assim, o trabalho 6 Termo usado com base em Netto (1996), que trata sobre a intenção de ruptura com o conservadorismo, enquanto um processo,e, portanto, inacabado, visto que o conservadorismo constitui-se parte estruturante da sociedade capitalisa. 7 GEX/Bel: Gerencia Executiva de Belém – Comporta mais de15 APS entre Belém, região Metropolitana e outros municípios do estado do Pará. exercido por esse profissional incide na distribuição e redistribuição da mais-valia, contribuindo, desta forma, para a produção e reprodução social (IAMAMOTO, 2005). Isto é, o trabalho profissional do/da assistente social, incide na esfera da produção/reprodução social, na medida em que lida diretamente com a vida material dos sujeitos, os quais buscam, pela via do trabalho, satisfazer as suas necessidades básicas e, se reproduzir, socialmente. Nesta ótica, o mencionado profissional se contrapõe a ideologia neoliberal, segundo a qual o mercado determina as regras para a circulação da riqueza socialmente produzida. Importa registrar que os parâmetros legais do trabalho profissional do/da assistente social na Previdência pauta-se na Matriz Teórico Metodológica do Serviço Social (MTMSS)8 de 1994, Código de Ética do Assistente Social instituído, em 1993, na Lei nº 8.662 de 7 de junho de 1993 que regulamenta a profissão, o Manual Técnico do Serviço Social na Previdência, estatutos que regulamentam o exercício profissional dos Assistentes Sociais e no artigo 88 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que estabelece as diretrizes para ação do Serviço Social na Previdência” (BRASIL, 1994, p. 12). Embora esses marcos garantam, na lei, o exercício do trabalho profissional do/a assistente social na Previdência Social, esse/a profissional encontra diversos entraves para a realização das suas atribuições com qualidade. Esta realidade, segundo Araújo (2007) ocorre em decorrência de posicionamentos políticos ideológicos divergentes entre a profissão e a instituição, onde a primeira trabalha na lógica da garantia de direitos, universalização e oportunidades de acesso a previdência pública, enquanto que o segundo funciona na perspectiva do seguro, com critérios de focalização e que almejam a passagem da previdência pública para os planos de seguro privado. A tentativa do Estado em desmontar a previdência social de caráter público, vem ocorrendo, sobretudo, no governo do presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, caracterizado pelos desmontes e ataques advindos das contrarreformas, acentuando-se, assim, a incidência dos planos de seguro privado, de forma que o sucateamento do serviço público reverbera na privatização como resposta às demandas dos/as trabalhadores/as. Em seu cerne encontram-se interesses de classe, notadamente, contrários a perspectiva da universalização da seguridade social: A previdência privada não é uma expressão de luta da classe trabalhadora por melhorias na sua condição de vida, mas justamente se revela como um mecanismo pelo qual o capital aprofunda a exploração da força de trabalho, 8 A MTMSS orienta o trabalho profissional influenciado pela teoria social crítica, entendendo os usuários da previdência social enquanto sujeitos de direitos. As Linhas de ações deste documento são articuladas com os segmentos da classe trabalhadora. contribuindo para a alienação da classe trabalhadora, que passa a entender a previdência privada como uma saída possível para a garantia da proteção social (ROZENDO, 2016, p. 392). Este cenário se apresenta na contramão da proposta da MTMSS, pois de acordo com Paula (2007), o Serviço Social deve se fortalecer, ainda mais, na luta coletiva, visto que os profissionais estão imbricados em uma contradição entre o Estado, o seu maior empregador e as demandas que lhes são postas com cada vez menos condições de serem respondidas com qualidade. Na particularidade do INSS-GEX/Bel, de acordo com os dados obtidos na pesquisa que subsidiou este artigo, esses/as profissionais encontram limites institucionais para a execução do referido trabalho de acordo com as linhas de ação contidas na MTMSS, sobretudo, devido a forma de contratação para o cargo genérico de “Analista do seguro social”. Desta forma, pressupõe-se o não cumprimento, pelo INSS, do direito garantido pela Lei 12.317/2010 que institui as 30 horas enquanto jornada máxima dos/as assistentes sociais. Essas medidas parecem acompanhar as transformações que vem ocorrendo no mundo do trabalho, em que uma das principais mudanças no perfil profissional é a polivalência por meio da instituição de cargos genéricos: leia-se: intensificação da força de trabalho e desmobilização política dos/das trabalhadores/as. Ademais, observa-se, a partir dos dados que a forma de gestão verticalizada do INSS interfere na relativa autonomia profissional (IAMAMOTO, 2005), pois não raro são as portarias, memorandos, resoluções destinadas ao serviço social com deliberações diversas, as quais, em muitos casos configuram-se como tentativa de restringir a autonomia profissional e alterar a forma e o conteúdo do trabalho profissional, com novas formas de controle e gestão do trabalho. A exemplo, destaca-se a deliberação, via memorando, que institui a diminuição do tempo de atendimento aos usuários requerentes do BPC, o qual passou de 60 (sessenta) para 40 (quarenta) minutos, indicando para o aumento da quantidade de atendimentos desses usuários que, antes, se restringia a 5 (cinco) por dia. Essas decisões são comunicadas via memorandos expedidos pela gestão nacional para a gestão imediata de acordo com a hierarquia do Instituto e esta para as/os profissionais. Em consequência, a diminuição do tempo necessário para a realização da avaliação social do BPC, tenciona os profissionais a realizarem o seu trabalho em menos tempo, visando o aumento da produtividade, tendo em vista o cumprimento das metas estabelecidas pela gestão do instituto. Tem-se, então, a intensificação do trabalho desses profissionais, pois, de um lado é estabelecido um tempo regulado e metas a serem atingidas, o que pode, inclusive, reverberar no aumento da jornada de trabalho e de outro, a tensão para realização de um trabalho profissional qualificado, na perspectiva da garantia dos direitos dos usuários. Entende-se que a exigência do INSS para os/as assistentes sociais se submeterem a essas condições de trabalho, expressa tendência das novas formas de gestão do trabalho adotadas tanto pelas instituições públicas quanto privadas; trata-se do perfil generalista/gerencialista, como estratégia de redução com os custos do trabalho, adotadas, sobremaneira, com a consolidação do neoliberalismo, no Brasil, tornando a lógica de mercado predominante na gestão da esfera pública (SILVA e RAICHELIS, 2016). Desse modo, esses autores alertam para o fato de que esta forma de gestão é danosa, pois: quantificam tarefas, organizam e encadeiam atividades de modo que desapareçam os tempos mortos, intensificam controles e fiscalização do trabalho, ampliam a cobrança e a pressão sobre trabalhadores e trabalhadoras (SILVA, RAICHELIS, 2016, p. 122) Nesta conjuntura prenhe de profundas mudanças na política de seguridade social, percebe-se que os rebatimentos para o trabalho profissional do assistente social têm se dado tanto no que se refere à forma quanto ao conteúdo. No que diz respeito à forma, observa-se a introdução de novas tecnologias, acelerando a demanda por respostas imediatas e quanto ao conteúdo, constata-se que houve um redirecionamento da atuação profissional, sobretudo a partir de 2009, para as demandas advindas do BPC (Benefício de Prestação Continuada), referente à política de Assistência Social (SOUZA, 2017). Esta nova configuração vem dificultando a realização do trabalho de acordo com as diretrizes previstas na matriz teórico-metodológica e na Lei n° 8.213/91 que dispõe acerca das competências do trabalhodo Serviço Social na Previdência Social, o qual se coloca para além das demandas imediatas, defendendo os direitos sociais e a proteção ao trabalho como direcionamento político-ideológico (SOUZA, 2017). Embora este cenário configure-se adverso para a realização do trabalho do/da assistente social de acordo com as prerrogativas da MTMSS, historicamente, há lutas e resistências coletivas que engendraram significativos avanços para a categoria, no INSS. Assim, importa mencionar que essas estratégias têm relação com as forças políticas e econômicas presentes em cada momento histórico da sociedade brasileira, as quais são carregadas de contradições inerentes ao modo de produção capitalista. Dessa forma, em mais de 20 anos, os profissionais de Serviço Social no INSS têm vivenciado tensionamentos de ordens diversas, bem como, ações de lutas e resistências que revelam o nível de comprometimento desses profissionais com a luta mais geral dos/as trabalhadores/as. Parte-se do processo de resistência da categoria profissional dos/as assistentes sociais, em defesa da MTMSS, a qual sofreu uma tentativa de desmonte em suas diretrizes, na década de 1990, período das contrarreformas previdenciárias, a partir da instauração da MP n° 1.729, de 02/12/98, que pretendia excluir o serviço social da Lei 8.213/91. Neste contexto, dentre as estratégias adotadas para o enfrentamento do quadro acima referido, pode-se destacar a articulação dos assistentes sociais que trabalham no INSS com o CFESS, outras categorias de trabalhadores e movimentos sociais. Diante de constantes ameaças de extinção do Serviço Social como parte da estrutura de serviços do INSS, a relação entre esses profissionais e outras categorias de trabalhadores/as, sindicatos e movimentos sociais, historicamente, resultou em uma intensa agenda de mobilizações em defesa do serviço social na previdência, enquanto direito da classe trabalhadora. Assim, o abandono da endogenia dos/das referidos/as profissionais encontra-se no centro da resistência, no qual se vislumbram perspectivas, para além do cotidiano profissional, tornando-se imperioso, sobretudo, num contexto de ataques e tentativas de desmonte do que foi, historicamente, construído pela profissão. Dessa forma, a luta coletiva apresenta-se como a estratégia mais viável para a continuidade da defesa por um projeto de sociedade emancipatório, em particular, na previdência social, por um viés de garantia dos direitos sociais dos/das usuários/as que buscam acessar a mencionada política. Em termos subjetivos, de acordo com os dados da pesquisa, há um sentimento importante reconhecimento profissional e societário, caracterizado por um orgulho com a profissão, uma vez que o Serviço Social qualificou o trabalho nas Agencias e conquistou avanços relevantes, embora diante de uma conjuntura neoliberal adversa para a previdência social pública, quais sejam: 1) Inserção na avaliação social; 2) Aprovação do Manual Técnico; 3) Resistência para a não realização de trabalhos administrativos; 4) Reconhecimento e articulação com o conjunto dos/das trabalhadores/as e sociedade; 5) Mobilização nacional contra a PEC 187 que propõe a Reforma da Previdência. Assim, a história do Serviço Social na Previdência Social brasileira é permeada de avanços e retrocessos, revelando limites e possibilidades do trabalho profissional do/da assistente social, o qual constrói o legado de legitimação da profissão em um contexto, no qual se apresentam inúmeras tentativas de descaracterização da mesma, violando as atribuições profissionais instituídas ao longo de mais de 70 anos de Serviço Social na previdência social brasileira. 4. CONCLUSÃO A elaboração deste artigo permitiu a constatação de que a conjuntura política, econômica e social do País tem dificultando a realização do trabalho de acordo com as diretrizes previstas na matriz teórico-metodológica e na Lei n° 8.213/91 que dispõe acerca das competências do trabalho do Serviço Social na Previdência Social, o qual se coloca para além das demandas imediatas, defendendo os direitos sociais e a proteção ao trabalho como direcionamento político-ideológico (SOUZA, 2017). Contudo, o cenário configura-se adverso para a realização do trabalho do/da assistente social de acordo com as prerrogativas da MTMSS, o que exige desses/as profissionais um movimento de lutas e resistências coletivas que engendraram significativos avanços para a categoria, no INSS. Assim, importa mencionar que essas estratégias têm relação com as forças políticas e econômicas presentes em cada momento histórico da sociedade brasileira, as quais são carregadas de contradições inerentes ao modo de produção capitalista. Um dos limites ao trabalho profissional dos/as assistentes sociais na GEX-Bel do INSS tem sido assegurar a sua relativa autonomia, visto que, nos últimos dois anos, vêm ameaçando de forma expressiva, assegurar a especificidade do Serviço Social no INSS, conforme previstas nos já citados documentos da profissão, uma vez que não raro são as portarias, memorandos, resoluções destinadas ao serviço social com deliberações diversas, as quais, em muitos casos configuram-se como tentativa de restringir a autonomia profissional e alterar a forma e o conteúdo do trabalho profissional, com novas formas de controle A exemplo destaca-se a recente deliberação, via memorando, que institui a diminuição do tempo de atendimento aos usuários requerentes do BPC, o qual passou de 60 (sessenta) para 40 (quarenta) minutos, indicando para o aumento da quantidade de atendimentos desses usuários que, antes, se restringia a 5 (cinco) por dia. Contudo, constata-se que o trabalho do/a assistente social tem interferência da gestão do INSS que tem se caracterizado pelo cumprimento de metas de atendimento diário, pelo aumento das demandas, pela tendência ao redirecionamento do exercício profissional para a assistência social, o que implica na intensificação do trabalho, possivelmente interferindo na sua saúde, haja vista que segundo Lourenço (2016), os trabalhadores dedicam cada vez mais tempo de sua vida para o trabalho, especialmente, influenciados pela forma de gestão (Produtividade, metas, tempo regulado), adquirindo assim disfunções referentes às atividades realizadas). Dessa forma, em mais de 20 anos, os profissionais de Serviço Social no INSS têm vivenciado tensionamentos de ordens diversas, bem como, ações de lutas e resistências que revelam o nível de comprometimento desses profissionais com a luta mais geral dos/as trabalhadores/as. (IAMAMOTTO, 2005). Sendo assim, percebendo que as novas estratégias do capital para a exploração da classe trabalhadora aumentam, significativamente, e que, os/as assistentes sociais estão envolvidos nessa relação, aponta-se para a necessidade de ampliação e consolidação de maiores discussões da categoria, com vistas a fortalecer e consolidar as estratégias coletivas de enfrentamento aos desmontes e ataques empreendidos pelo capital. REFERÊNCIAS ARAÚJO, V. G. [2008] São Paulo: In Serviço social na Previdência: trajetória, projetos profissionais e saberes. Entrevista concedida a Léo Braga e Socorro Cabral. BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social/ Instituto Nacional de Seguro Social. Matriz teórico metodológica do Serviço Social na Previdência Social, Brasília, MPAS/INSS/ Divisão do Serviço Social, 1994. IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. Cortez, 2005. PAULA, E. C. 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