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Diversidade e Desigualdade no Trabalho

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Prévia do material em texto

HELOÍSA MARIA DOS SANTOS TOLEDO
PAULO NICCOLI RAMIREZ
RENAN REIS FONSECA
SUSANA MESQUITA BARBOSA
ÉTICA E CIDADANIA
102
O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
4
UNIDADE 4
O DIVERSO E O DESIGUAL – 
QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS E 
O ÂMBITO DO TRABALHO
INTRODUÇÃO
Diferentemente do que acontecia há décadas, quando a sociedade tinha estabelecido 
certos valores e ideais como inquestionáveis, a respeito dos lugares sociais a serem 
ocupados a partir de diferenças, como o gênero, no século XXI vivemos um ambiente 
social que, após questionamentos e lutas, parte de uma outra consideração, a saber, a 
de que todos temos os mesmos direitos em sociedade, ainda que sejamos diversos. A 
sociedade exige que o âmbito profissional assuma posicionamentos adequados a esta 
contemporaneidade. Significa que, não importa qual área de formação seja escolhida, é 
imperativo fazer valerem os direitos sociais.
Nesta unidade, o objetivo é problematizar os temas da igualdade e da diferença, pen-
sando a partir do ideal de uma formação profissional adequada ao tempo presente. 
Raça e gênero são categorias centrais, a partir das quais se torna possível pensar em 
situações de exclusão social. É importante lembrar que a diferença não pode justificar a 
desigualdade. As questões que se originam a partir de tais temáticas tocam, diretamen-
te, o âmbito profissional. Empresas, hospitais, escolas, hotéis... em todos os lugares da 
profissão surgem problemas de desigualdade; mesmo na rua, enquanto cidadãos, os 
profissionais devem agir de forma ética, para a construção de um mundo melhor, que 
seja menos excludente. E isto é possível! Necessária é a disposição.
1. SER DIFERENTE É SER DESIGUAL?
1.1. AS DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL
Sabemos que a formação do povo brasileiro é constituída pela diversidade de culturas 
e grupos étnico-raciais. Antes mesmo da colonização, habitavam por aqui, em média, 8 
milhões de indígenas divididos em quase mil nações distintas entre si (CUNHA, 2012, p. 
16-17). A chegada dos europeus e o processo de colonização portuguesa, fundado na 
escravidão e na inferiorização de povos negros originários de países africanos, instituiu 
novos elementos à formação brasileira, constituindo as bases da sociedade que, desde 
então, têm se construído.
O estabelecimento dessa sociedade e da identidade da população brasileira nascem, 
assim, de um amálgama de culturas, etnias, crenças e costumes diversos, os quais nos 
caracterizam como um dos povos mais miscigenados do mundo. Essa formação não se 
deu de forma pacífica, mas, sim, violenta, conflituosa e marcada pela discriminação sis-
temática de grupos sociais inteiros, levando, inclusive, ao extermínio de povos e etnias 
ao longo dos últimos séculos e até nos dias atuais.
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Se por um lado, então, a diversidade e a diferença estão nas raízes da nossa for-
mação, por outro, é certo que a história e a realidade brasileira são marcadas pela 
desigualdade e discriminação, em particular contra grupos étnico-raciais, isto é, de 
origens indígenas e negras.
Com isso, percebemos que as diferenças entre as pessoas e os grupos, a partir da 
perspectiva racial, constituíram-se em desigualdade de oportunidades e acesso à cida-
dania plena, revelando a profunda exclusão racial, o racismo e a falta de diversidade 
étnico-racial em diferentes espaços da sociedade, entre eles, no mercado de trabalho e 
no acesso desigual aos bens, serviços e direitos sociais e econômicos.
Uma das definições para “amálgama”, segundo o Dicionário Michaelis, refere-se à mistura 
ou ajuntamento de coisas ou pessoas diferentes que formam um todo, uma mescla. Nesse 
sentido, a cultura brasileira resultaria da fusão entre outras culturas de povos e grupos étni-
co-raciais distintos, constituindo-se como uma cultura miscigenada e única.
Essa tese produziu ao menos dois grandes debates nas ciências humanas: de um lado, a 
ideia de que na sociedade brasileira se estabeleceu efetivamente a integração racial, diferen-
temente de países como Estados Unidos e África do Sul, que são marcados pela segrega-
ção, ou seja, pela separação entre os grupos étnico-raciais.
Essa é a perspectiva central da obra de Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala, uma das 
referências nas Ciências Sociais e que teve grande impacto entre intelectuais e políticos na 
própria cultura brasileira, principalmente na primeira metade do século XX.
Por outro lado, a ideia de a cultura brasileira ser uma mistura de outras culturas acabou por 
camuflar o reconhecimento das profundas desigualdades e das práticas discriminatórias e ra-
cistas que marcaram a realidade, servindo para a criação do mito e, posteriormente, da ideolo-
gia de que a sociedade brasileira, por ser miscigenada, seria, de fato, uma democracia racial.
Essa última abordagem tem sido desenvolvida, ao longo da segunda metade do século XX 
até os dias atuais, graças à força e às demandas dos movimentos negros, mas também de 
intelectuais, como Florestan Fernandes. Na obra Significado do Protesto Negro, publicada 
pela primeira vez em 1989, Fernandes afirma que o racismo é um dos males da formação 
brasileira e está entranhado nas instituições sociais, de forma que não é possível pensarmos 
em uma efetiva democracia brasileira enquanto não houver plena igualdade racial.
IMPORTANTE
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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A) A DIFERENÇA COMO UM DADO DE CLASSIFICAÇÃO
Há distintas teorias sobre a ori-
gem etimológica da palavra raça, 
mas, de modo geral, um ponto 
de concordância é que o termo 
surge primeiro como forma de 
classificação das plantas e ani-
mais para, posteriormente, tam-
bém classificar e hierarquizar os 
seres humanos. Essa noção de 
raça como um elemento que dis-
tingue as diferentes categorias de 
seres, a partir das suas diferenças 
físicas, é relativamente nova na história da humanidade, remontando ao século XVI 
(ALMEIDA, 2019, [n. p.]).
Em um primeiro momento, esse recurso servia para categorizar e classificar a diversi-
dade humana, afinal, esta é incontestável. Há diferenças visíveis entre um oriental e 
um senegalês ou entre um indígena sul-americano e um norueguês ou, ainda, entre um 
aborígene australiano e um pigmeu africano. A diversidade humana é visível, entretan-
to, não compõe elementos suficientes para a distinção biológica em raças.
Figura 01. Diversidade humana 
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Enquanto a noção de raça funciona como a categorização das pessoas a partir das característi-
cas físicas/biológicas, a noção de etnia, por sua vez, fundamenta-se no compartilhamento de uma 
mesma cultura, língua, religião e ancestralidade por um povo que o diferencia dos demais grupos.
O uso de referenciais étnicos como forma de classificação de indivíduos e grupos assume 
maior importância após a Segunda Guerra Mundial, como oposição à noção de raça e aos hor-
rores dos ideais de limpeza racial produzidos pelo holocausto. Buscava-se definir as diferenças 
entre os povos não mais pela raça, mas pela cultura. O professor e filósofo Kabengele Munan-
ga (2004, [n. p.]) afirma que tal mudança, entretanto, não significou o fim do racismo, uma vez 
que também funciona como uma forma de hierarquização e classificação.
IMPORTANTE
Categorizar as pessoas e os grupos servia ao pensamento como forma para facili-
tar a compreensão da enorme diversidade humana. O reconhecimento das diferen-
ças entre os seres humanos, entretanto, desembocou na hierarquização dos diver-
sos grupos com base na raça à qual pertenciam, dando origem às teorias racistas, 
à discriminação e servindo como justificativa para a exploração de um grupo sobre 
outro. Tais teorias buscavam atribuir causas naturais às desigualdades que são 
social e historicamente produzidas.
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Com o desenvolvimento da genética e da antropologia, essa noção biológica da raçaperde sua validade. Geneticamente, tem-se as diferenças entre cor de pele, tamanho 
do nariz, dos lábios ou do crânio, tipo de cabelo, estatura etc. – elementos esses que 
serviam como base para a classificação das pessoas em brancas, negras e amarelas. 
Porém, essas características são muito pequenas para que possamos considerar a 
distinção dos grupos humanos em raças específicas. A ciência hoje comprova que pode 
haver uma maior variedade genética no interior de um mesmo grupo, ao passo que as 
diferenças entre um congolês e um alemão podem ser mínimas.
Prática e teoria são dois aspectos que convergem para a construção da realidade, inclusive 
quando falamos de discriminação ou racismo. Qual o impacto das teorias raciais na constru-
ção de práticas racistas?
A antropóloga Lilia Schwarcz explica, neste breve vídeo indicado a seguir, a origem e os impactos 
concretos da entrada das teorias raciais na sociedade brasileira.
SCHWARCZ, Lilia. A entrada das teorias raciais no Brasil. Vídeo (6min 11s). Postado no 
Canal Lili Schwarcz. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=93f7nkbD7tY. Acesso em: 13 jun. 2022.
Você sabia que entre um grupo de mil chimpanzés, em um parque da Nigéria, há mais variabilidade 
genética do que entre os 7 bilhões de humanos? O biólogo e pesquisador Átila Iamarino trata des-
sa questão e de outros temas importantes que demonstram como o desenvolvimento das teorias 
sobre a raça humana utilizaram-se da ciência para justificar formas de exploração e desigualdade 
que não eram naturais, mas, sim, sociais.
Verifique o vídeo do estudioso, explicando sobre essa temática, referenciado abaixo:
IAMARINO, Átila. Qual a raça do brasileiro? Vídeo (16min 36). Postado no canal Atila Iamarino, 2021. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DBC29cUHxYg&-t=272s. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
SAIBA MAIS
B) A CATEGORIA RAÇA EM QUESTÃO
Tão visível aos olhos de todos, a diversidade humana não corresponde às diferenças 
genéticas profundas que justifiquem a divisão das pessoas em grupos menores ou em 
raças. Há mais similaridades biológicas/genéticas entre os seres do que diferenças.
https://www.youtube.com/watch?v=93f7nkbD7tY
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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Podemos, portanto, concluir que o conceito de raça na atualidade perdeu sua validade? 
Sim e não. Do ponto de vista da ciência biológica, a partir dos conhecimentos que hoje 
possuímos, não faz sentido dividir a humanidade em outras subdivisões como raças, 
pois as diferenças internas na espécie humana são muito pequenas. Ou seja, usada 
durante séculos como um conceito para explicar a diversidade humana, a noção de 
raça não se sustenta como realidade biológica e, portanto, não possui validade biologi-
camente científica.
Por outro lado, se a categoria raça não existe enquanto realidade biológica, ela existe 
como construção social, como elemento de distinção, classificação e hierarquia nas 
diferentes sociedades. Além disso, a identificação do indivíduo a uma das raças, ou 
mesmo às etnias, é um importante elemento de constituição da sua identidade social e 
do sentimento de pertencimento.
Raça não é um termo fixo e estático. Seu sentido está inevitavelmente atre-
lado às circunstâncias históricas em que é utilizado. Por trás da raça sempre 
há contingência, conflito, poder e decisão, de tal sorte que se trata de um 
conceito relacional e histórico. Assim, a história da raça ou das raças é a his-
tória da constituição política e econômica das sociedades contemporâneas 
(ALMEIDA, 2019, [n. p.], grifos do autor).
Desse modo, apesar das diferenças entre os indivíduos não serem significativas do 
ponto de vista biológico, elas se configuram como traços distintivos no meio social e fun-
cionam como justificativas para determinados comportamentos e ações que promovem 
a exclusão, a exploração, a desigualdade, o racismo e o preconceito. Logo, fragilidade 
da noção biológica de raça não significa a inexistência de relações e estruturas sociais 
pautadas pela questão racial.
Posto de outro modo, no campo das ciências humanas e nos debates sobre o racismo, a 
concepção de raça não é pensada como um elemento biológico ou genético, mas, sim, como 
fator essencialmente político e que ainda nas sociedades contemporâneas é utilizado para 
naturalizar e legitimar desigualdades sociais e formas de exclusão de grupos específicos 
(ALMEIDA, 2019, [n. p.]).
1.2. AFINAL, O QUE É RACISMO?
Para compreendermos a noção de racismo, é importante, antes, diferenciá-lo dos ter-
mos discriminação e preconceito que costumam aparecer juntos para designar fenôme-
nos parecidos. Na verdade, são conceitos que possuem diferenças, ainda que possam 
se referir às mesmas realidades. Compreender cada um deles é basilar para que pos-
samos identificá-los no conjunto das relações sociais.
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A) PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL
Afirmamos que há preconceito quando estereótipos são usados para definir e caracteri-
zar os indivíduos pertencentes a um grupo específico. Tais estereótipos são fundamen-
tados em juízos de valor, em generalizações ou opiniões que atribuem determinadas 
características às pessoas a partir da sua identificação a um grupo. São ideias como 
“indígenas são selvagens”; “negros são violentos”; “judeus são avarentos” etc.
O jornal Nexo elaborou um glossário com os principais conceitos e termos relacionados à 
questão racial, oferecendo algumas perspectivas históricas para suas construções e senti-
dos, inclusive para termos mais recentes, como colorismo e branquitude.
A matéria completa pode ser acessada via:
RIOS, Flávia; MILANEZI, Jaciane; ARRUTI, José Maurício; MACHADO, Marta. Questão ra-
cial. Nexo Jornal, jun. 2020. 
Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/glossario/Quest%C3%A3o-racial. Acesso em: 11 
jun. 2022.
SAIBA MAIS
Estereótipos são ideias, rótulos ou opiniões generalizadas sobre uma pessoa, uma etnia, 
um povo ou uma cultura que nascem do senso comum, ao longo das vivências e da história, 
funcionando como forma de pré-julgamento. Por exemplo, quando se comenta que “baianos 
são preguiçosos”, “indígenas são selvagens”, “judeus são avarentos” etc., recorre-se aos es-
tereótipos. Eles podem ser vistos como “inocentes” (exemplo: “o Brasil é o país do futebol”), 
mas também podem configurar-se como fontes de preconceito, discriminação e violência.
GLOSSÁRIO
O preconceito racial, em particular, faz-se tomando o pertencimento a um grupo ra-
cial como referência e pode ou não resultar em atitudes discriminatórias, como nas 
abordagens policiais que costumam ser mais frequentes e agressivas contra negros 
do que contra brancos.
Já a discriminação se refere a um processo de marginalização e diferenciação social, 
econômica e cultural da pessoa pertencente a um determinado grupo. No caso da dis-
criminação étnica e/ou racial, o critério de diferenciação se fundamenta na identificação 
do pertencimento da pessoa aos grupos racial ou etnicamente identificados como tal.
https://pp.nexojornal.com.br/glossario/Quest%C3%A3o-racial
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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As discriminações, assim, podem se dar de diferentes formas. Mas, de modo geral, 
todas envolvem algum mecanismo de poder, pois atribuem vantagens e permissões, 
desvantagens e proibições distintas a pessoas e grupos.
Reconhecemos um fenômeno de discriminação racial, quando negros são proibidos ou 
constrangidos ao entrar em determinados lugares, como shoppings, lojas e bancos ou de 
usar o mesmo elevador que outros grupos (prática comum até poucas décadas atrás) – 
proibições que são feitas apenas com base na cor da pele. Essa é uma forma mais direta 
e intencional de discriminação.
A discriminação racial, no entanto, pode se revelar ainda de modo mais indireto, quando são 
construídas práticas e teorias que não reconhecem a existência de diferenças e desigualdades 
sociais significativaspautadas pela questão racial. Por exemplo, a existência de normas ou 
regras que se pretendem neutras, mas que, na prática, discriminam grupos mais vulneráveis, 
como os processos e testes para preenchimento de vagas que, apesar do discurso da igual-
dade, acabam selecionando sempre certos tipos de pessoas, enquanto estigmatizam outras.
Há outra perspectiva sobre a discriminação, analisada também sob o aspecto positivo. Nesse caso, 
são atribuídos tratamentos ou vantagens diferenciadas para grupos que foram histórica e social-
mente prejudicados por sua condição. A discriminação aqui funciona como um meio para compen-
sar tais desigualdades (MOREIRA, 2017, p. 37-41). Ações afirmativas, políticas públicas, como as 
cotas para ingresso no ensino superior, são exemplos da discriminação positiva. Nessa perspectiva, 
a finalidade é compensatória e não excludente.
EXEMPLO
IMPORTANTE
B) RACISMO
O racismo, via de regra, compreende formas e práticas sistemáticas de discriminação 
racial conscientes ou não, que acabam por conceder acessos, direitos e privilégios 
desiguais aos diferentes grupos que formam a sociedade. Nessa perspectiva, a raça 
aparece como uma construção para justificar as desigualdades sociais dando a elas um 
caráter de naturalidade.
Essa é uma definição do racismo como algo estrutural, isto é, que está nas bases e nas 
estruturas da sociedade, e que orienta todo o conjunto de relações sociais, econômi-
cas, políticas e jurídicas, expressando-se concretamente como desigualdade. Assim, o 
racismo não se explica apenas pelos comportamentos individuais ou institucionais e, 
tampouco, se restringe às formas de discriminação e preconceito, mas é estrutural. O 
conjunto de práticas e relações sociais são racistas porque a sociedade, quer dizer, sua 
estrutura, é racista.
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Ética e Cidadania
O racismo condiciona o conjunto de relações e das desigualdades sociais que se mani-
festam de diferentes formas nas sociedades, algumas mais consciente e outras, menos.
O filósofo e jurista Silvio de Almeida é um dos mais importantes pensadores sobre a noção de racis-
mo estrutural na atualidade. Em uma entrevista à antropóloga e professora Lilia Schwarcz, Almeida 
explica a concepção do racismo como estruturante das relações sociais e reflete sobre o impacto 
dessa concepção nas formações universitárias, na economia, nas subjetividades e nas relações 
sociais e políticas. Assista à entrevista: 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2PJLprM. Acesso em: 11 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Filme
O filme M8 – Quando a morte socorre a vida, do diretor Jeferson De, é uma alegoria do racis-
mo estrutural na sociedade brasileira. Na trama, um jovem negro, Maurício, ingressa no curso 
de Medicina em uma instituição federal por meio das políticas de cotas. A narrativa recons-
trói o cotidiano desse jovem e das diversas práticas de discriminação racial que ele sofre, 
como o estranhamento causado pela presença de um negro em um curso de Medicina, até 
a perseguição de um colega que acredita que ali não é lugar dele. Um dos momentos mais 
emblemáticos da trama está nas aulas de anatomia, quando todos os corpos são negros, 
identificados apenas por códigos.
1.3. RACISMO E DESIGUALDADE
Em sociedades racistas, ser diferente é ser desigual, uma vez que pertencimento ou não 
às determinadas categorias étnico-raciais produzem condições desiguais de existência. 
É sabido que, no Brasil, as características raciais das pessoas e grupos implicam níveis 
distintos, mas profundos, de desigualdades.
Há um consenso e um reconhecimento na atualidade – e já há algumas décadas – de 
que o racismo e a conjuntura racial existentes no Brasil condicionam e estruturam a 
sociedade. Desse modo, evidenciamos, no mapa mental a seguir, termos, discrimina-
ções raciais e o próprio racismo, tendo como origem os processos de colonização que 
inferiorizaram negros e indígenas.
https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2PJLprM
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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Na Figura acima, o eixo central, Raízes do Brasil, faz referência ao livro de mesmo título 
do historiador Sérgio Buarque de Holanda, escrito em 1936. Nele, o autor defende que 
o legado da colonização portuguesa deixou marcas na estrutura social brasileira que 
deveriam ser superadas para que o país pudesse estabelecer uma democracia plena 
(HOLANDA, 2016, p. 12-19). Por isso, a escolha do termo raiz, como algo que está 
enraizado nas bases e nas estruturas da sociedade.
Nas últimas décadas, essa perspectiva tem sido retomada por diferentes estudos que 
buscam compreender as relações étnico-raciais contemporâneas. Sob esse olhar, o 
racismo é compreendido como um dos principais elementos estruturantes da sociedade 
brasileira, isto é, que está em nossas raízes, e um dos caminhos pelos quais é possível 
compreender as desigualdades sociais, políticas e econômicas.
Raízes do Brasil
Formas de dominação
Escravidão Tráfico negreiro
Submissão e extermínio de povos indígenas
Se revela nas diferentes relações
Sistematização da discriminaçãoRacismo estrutural
ExploraçãoViolência física e sexual
Diversidade e diferença Miscigenação Colonização portuguesa
Lei Áurea
Desigualdade
Desigualdade e exclusão
Discriminação 
étnico-racial
Preconceito racial Fim da escravidão?
Econômicas
Políticas
Jurídicas
Sociais
Culturais
Falta de diversidade
Teorias raciais
Figura 02. Mapa conceitual – raízes do Brasil
Fonte: elaborada pela autora.
 A) O RACISMO E O MERCADO DE TRABALHO
Mesmo na atualidade, após mais de um século do fim da escravidão, as desigualdades sociais 
e o acesso à cidadania plena permanecem fortemente marcados pela questão racial e, também, 
étnica. Esse certamente não é um problema apenas brasileiro. A Declaração sobre os Princípios 
e Direitos Fundamentais, promulgada em 1998 pela Organização Internacional do Trabalho – OIT 
–, por exemplo, traz como um dos quatro princípios fundamentais a eliminação da discriminação 
em relação ao emprego e à cobrança de atores sociais e governos para a criação de políticas e 
práticas de combate às formas de discriminação no mercado de trabalho, sejam elas motivadas por 
preconceito de raça, étnicas, gênero ou outras.
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Ética e Cidadania
Busque as reportagens abaixo, em que a primeira é da Revista Exame, que apresenta os dados 
referentes à ocupação de negros e pardos em cargos de chefia nas empresas. Já a segunda trata 
dos impactos da pandemia no acesso ao mercado e ao emprego formal pelos indígenas.
 ` GRANATO, Luísa. Pesquisas mostram abismos no mercado de trabalho para profis-
sionais negros. Revista Exame, 17 set. 2020. 
Disponível em: https://exame.com/carreira/pesquisas-mostram-abismo-no-mercado-
-de-trabalho-para-profissionais-negros/. Acesso em: 23 jul. 2021.
 ` MARCHESAN, Ricardo. Indígenas tiveram maior queda no emprego e renda na pan-
demia, diz FGV. Economia. UOL, 14 out. 2020. 
Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/10/14/pandemia-
-indigenas-mercado-trabalho.htm. Acesso em: 13 jun. 2022.
Caso de aplicação
No Brasil, a questão da discriminação étnico-racial é percebida no mercado de trabalho tanto 
da iniciativa privada como do serviço público. Negros são minoria em cargos de chefias e 
também em determinadas profissões, sobretudo de maiores rendas ou posições de poder, 
apesar de comporem a maioria da população brasileira. Consequentemente, as funções, 
profissões e cargos informais, de menor renda e precarizados, tendem a ser ocupados pelas 
populações negras, em especial, mulheres.
Esses são fatos que mostram como opera o racismo estrutural sendo elemen-
to definidor de lugares sociais, principalmente como um processo que cria as condi-
ções sociais e políticas para que grupos identificados a partir de suas raças sejam, 
sistematicamente, discriminados.
Como um conceito tão ultrapassado tal como raça continua servindode marcador so-
cial? Essa é uma questão que nos leva necessariamente a pensar na construção so-
cial e histórica da raça e do racismo, nas teorias e dinâmicas que se construíram so-
bre as diferenças raciais para justificar e normalizar discriminações e desigualdades 
socialmente construídas.
A consciência dessa perspectiva é que nos possibilita compreender o racismo como algo 
estrutural e que opera no conjunto das relações que todos estabelecemos no cotidiano. Pro-
vavelmente, um dos grandes desafios na atualidade é desestabilizar e transformar essas 
estruturas, dando lugar às ações afirmativas da identidade negra e indígena e à construção 
de práticas antirracistas, nas quais as diferenças raciais não se constituam desigualdades.
 Texto Complementar
Busque e leia o texto Persistentes desigualdades raciais e resistências negras no Brasil 
contemporâneo, das pesquisadoras Zelma Madeira e Daiane de Oliveira Gomes, trata do 
racismo como um dos eixos centrais das estruturas sociais brasileiras e traça um panorama 
https://exame.com/carreira/pesquisas-mostram-abismo-no-mercado-de-trabalho-para-profissionais-negros/
https://exame.com/carreira/pesquisas-mostram-abismo-no-mercado-de-trabalho-para-profissionais-negros/
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/10/14/pandemia-indigenas-mercado-trabalho.htm
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/10/14/pandemia-indigenas-mercado-trabalho.htm
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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2. A PROFISSÃO NÃO TEM GÊNERO
2.1. O QUE SÃO QUESTÕES DE GÊNERO E POR QUE TRATAR DO TEMA
Em uma das passagens mais clás-
sicas da sua produção intelectu-
al, a escritora e filósofa francesa 
Simone de Beauvoir (2009, p. 9) 
afirma que “ninguém nasce mu-
lher: torna-se mulher”. Essa frase 
e as ideias contidas nela têm sido, 
já há algumas décadas, uma das 
principais referências das teorias 
feministas e dos estudos sobre o 
gênero e suas construções nas 
sociedades e nas relações sociais. 
Nessa perspectiva, o “tornar-se 
mulher” acontece por meio de uma 
série de processos e relações sociais que são mais fundamentais nessa construção do 
que a própria condição biológica do indivíduo.
Há várias dimensões e aspectos teóricos sobre a construção social do gênero que, 
inclusive, nem sempre convergem entre si. Mas, de modo geral, os estudos sobre o 
gênero abarcam ao menos três grandes dimensões:
da pós-abolição até a atualidade para demonstrar como as desigualdades resultantes do 
racismo estrutural impactam as diferentes formas de sociabilidade e inserção dos negros. As 
autoras apresentam, especialmente, a questão das mulheres negras, grupo que está entre 
os mais vulneráveis na realidade brasileira.
Madeira, Zelma e Gomes, Daiane Daine de OliveiraPersistentes desigualdades raciais e re-
sistências negras no Brasil contemporâneo. Serviço Social & Sociedade [online]. 2018, n. 133 
[Acessado 11 Junho 2022] , pp. 463-479. 
Disponível em: https://doi.org/10.1590/0101-6628.154. ISSN 2317-6318.
Figura 03. Gênero socialmente construído
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I. A perspectiva simbólica, isto é, dada pela cultura;
II. A estrutural, em especial relacionada à divisão sexual do trabalho;
III. As dimensões sobre as identidades de gênero que procuram compreender as formas 
de ação e comportamento dos indivíduos a partir de suas identificações com um ou mais 
determinados gêneros.
https://doi.org/10.1590/0101-6628.154
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Entre essas diversas possibilidades de análise há alguns pontos comuns, como o fato 
de que todas elas consideram as noções de gênero, de sexualidade e orientação sexual 
como conceitos sociais e historicamente construídos. Nesse sentido, os papéis sociais 
que homens e mulheres desempenham nas sociedades, os comportamentos admitidos 
ou reprovados, as expectativas em torno dos indivíduos e do que cada um deles pode 
se tornar são frutos de contextos sociais e culturais particulares.
Como toda construção social, esses contextos são também constituídos a partir de 
relações de poder. É dessa perspectiva que, a partir dos anos 1970, os estudos sobre 
o gênero voltaram-se, particularmente, para a compreensão de como tais contextos 
produziram desigualdades entre homens e mulheres que nasceram e culminaram de 
diferentes formas pelo conjunto do meio social, desde a violência física e simbólica, ao 
acesso desigual ao mercado de trabalho, às profissões e remunerações, a baixa repre-
sentatividade de mulheres nos espaços de poder e decisão, entre outros.
É fundamental compreendermos aqui que os modos e intensidades de discriminação, preconceito 
e violência, a partir do referencial de gênero são complexos. Posto de outro modo, tais práticas 
impactam tanto as mulheres cisgênero – isto é, pessoas que se identificam com o gênero que lhes 
foi atribuído no nascimento –, como as pessoas que se identificam com outras diferentes formas de 
sexualidade e identidade de gênero que constituem a diversidade da existência e espécie humana, 
como as pessoas transexuais e travestis. Para este grupo, grande parte das políticas públicas se 
voltaram muito mais para a prevenção de doenças e exploração sexual do que para sua inserção 
nos sistemas educacionais e, sobretudo, no mercado de trabalho (ANDRADE, 2012, p. 226).
Para ampliar seu repertório, o artigo indicado a seguir. Nele, os autores abordam algumas 
das formas de exclusão, discriminação e violência sofridas pelas pessoas trans, em particu-
lar, no acesso ao mercado e que se revelam a partir de dois vetores opostos: como exclusão 
ou como sublimação da diferença.
MARTINELLI, Fernanda et al. Entre os cisplay e a passabilidade: transfobia e regulação dos corpos 
trans no mercado de trabalho. Revista Latino Americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, 
v. 9, n. 2, p. 348-364, 2018. 
Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/rlagg/article/view/12855/pdf_19. Acesso em: 13 
jun. 2022.
SAIBA MAIS
A) GÊNERO: NATUREZA E CULTURA
Gênero, de modo geral, pode ser compreendido como os comportamentos e os papéis 
que os indivíduos assumem nos diferentes contextos sociais, com base em sua identifi-
cação como homem, mulher e, mais contemporaneamente, como neutro. São padrões 
que foram definidos ao longo do tempo e das diferentes relações sociais e culturais, 
estabelecendo as funções, os papéis e as identidades do indivíduo por meio de sua 
identificação com um dos gêneros.
https://revistas.uepg.br/index.php/rlagg/article/view/12855/pdf_19
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
4
Durante muito tempo, a explicação para as diferenças e desigualdades entre homens 
e mulheres se estruturavam em bases biologicamente deterministas. Ou seja, acre-
ditava-se que haveria uma natureza biológica prévia e definitiva que se impõe sobre 
o indivíduo e determina seu pertencimento ou não a um gênero específico. Assim, as 
pessoas que possuem órgãos sexuais e reprodutivos femininos são mulheres, ao passo 
que aquelas que nascem com órgãos sexuais e reprodutivos masculinos são homens.
As teorias sobre o gênero e sua construção, entretanto, romperam com essa associa-
ção entre o sexo e a identidade ao afirmarem que gênero é mais complexo que o sexo, 
pois corresponde às expectativas que o meio social tem sobre as ideias, os comporta-
mentos e os pensamentos dos indivíduos.
Há, em alguns espaços sociais, a confusão entre identidade de gênero e ideologia de gê-
nero, sendo que os conceitos são distintos. Identidade de gênero diz respeito às formas 
como os indivíduos se expressam, se reconhecem e atuam socialmente a partir da sua 
identificação com um determinado gênero que pode não corresponder necessariamente ao 
seu sexo biológico.
Por sua vez, a ideologia de gênero pode ser compreendida como a recusa em consi-
derar ou questionar as tensões e desigualdades que estruturam as relações sociais 
com base nos gêneros. Por exemplo, as definições de que os homenssão provedores 
(racionais, fortes, aptos às ciências exatas e pouco sentimentais), ao passo que as mulhe-
res estão mais aptas aos cuidados do lar e dos filhos (são frágeis, sentimentais e pouco 
racionais), são construções ideológicas, pois replicam tais ideias e comportamentos sem 
questioná-los, como se fossem naturais.
SAIBA MAIS
A filósofa americana Judith Butler (2017, p. 17-30), uma das principais pesquisadoras e teóricas 
contemporâneas sobre o feminismo e as teorias do gênero, argumenta que nas definições das 
identidades baseadas no sexo e no gênero uma série de práticas e discursos de poder se impõem. 
Essa forma de poder não é necessariamente repressiva, mas determina a identidade, as formas e 
relações com o corpo e todo o conjunto de relações sociais que o indivíduo exerce na vida coletiva. 
Por isso, a autora explica que, ao nascermos, já há uma série de significados culturais sobre o 
corpo, o sexo e o gênero que são impostos discursivamente. Assim, em um exame de ultrassom, 
quando se diz “é menino” ou “é menina”, um conjunto de expectativas é criado e imposto para 
aquele ser, tais como: cores de roupas, comportamento, brinquedos e brincadeiras, desejos, profis-
sões etc., e que irá moldar a forma como indivíduo compreende a si e ao outro. A construção dessa 
identidade, de acordo com Butler, não é natural, mas resulta de uma produção discursiva.
SAIBA MAIS
Fundamentada nessas teorias, nasce a diferenciação entre sexo e gênero, em que o 
primeiro é entendido enquanto fator biológico, ao passo que o segundo é uma constru-
ção social e histórica, portanto, não natural, apreendida pelos processos de socializa-
ção dos diferentes contextos. Dessa forma, o tornar-se homem ou mulher depende de 
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uma série de outros dispositivos sociais e culturais que não se resumem ou são desig-
nados pelos órgãos sexuais.
Como são construções históricas e sociais, as expectativas em torno dos gêneros se 
transformam, assumindo novos recortes em cada meio social. Na contemporaneidade, 
por exemplo, mesmo a distinção entre dois gêneros (homem e mulher) já não é mais 
universalmente válida, contemplando outras possibilidades ou mesmo tentando romper 
com o papel tão determinista do gênero no conjunto das relações sociais.
Observe o mapa mental proposto a seguir. Nele, apresentamos as principais definições 
e distinções dos conceitos relacionados ao gênero e às sociedades mais atuais.
Figura 04. Mapa mental: gênero e sociedade
Gênero A maneira como o 
indivíduo se enxerga ` Homens; Mulheres / Masculino; Feminino
 ` Transgênero; Cisgênero
 ` Binário; Não-binário
 ` Teoria Queer
 ` Independente do sexo biológico;
 ` Todas as pessoas performam, a partir de 
uma identidade de gênero
 ` Fluida
 ` Vai além do feminino e do masculino
 ` Expressão de gênero com a qual o 
indivíduo se identifica
 ` Poder
 ` Processo
 ` Ordenamento da realidade
 ` Heteronormatividade
 ` Atração afetiva e/ou sexual
 ` Múltipla e fluída
 ` Sexualidade
 ` Exemplos: heterossexual; homossexual; 
bissexual; assexual etc.
 ` Características biológicas
 ` Não define o gênero
 ` Exemplos: macho; fêmea; hemafrodita
Sexo 
Biológico
Relações 
de Gênero
Orientação 
Sexual
Identidade 
de Gênero
Gênero e 
Sociedade
Fonte: elaborado pela autora.
116
O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
4
B) DESIGUALDADE E IGUALDADE DE GÊNERO
Dentre as perspectivas fundamentais propostas pelas teorias feministas está a relação 
entre o gênero e o poder. A premissa básica dessa perspectiva é a de que a diferencia-
ção entre homens e mulheres, ao longo da história, constituiu formas de poderes e de 
acessos desiguais entre os indivíduos.
Nesse processo, as mulheres, em particular, foram subjugadas, consideradas inferiores 
em relação aos homens ou, ainda, pouco aptas para assumir funções e papéis que 
não estavam vinculados aos ambientes domésticos e/ou de cuidados. Este é um dos 
elementos que caracteriza o que as ciências humanas denominam como sociedades 
patriarcais – ou o patriarcado –, sistemas sociais que são estruturados nas relações 
desiguais entre homens e mulheres.
“O problema do gênero é que ele descreve como devemos ser em vez de reconhecer quem 
somos”. Essa é uma frase da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, uma das vozes 
contemporâneas mais importantes acerca do feminismo, dos direitos das mulheres e das 
possibilidades de criação de uma sociedade mais igualitária para os diferentes gêneros.
Busque assistir ao TED da autora: Todos devemos ser feministas, no qual ela debate o feminismo 
como possibilidade de justiça e igualdade. Observe os principais pontos sócio estruturais que a 
pensadora elege, ao longo de sua fala e busque associá-los ao seu contexto sociocultural.
Disponível em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_
feminists?language=pt-br. Acesso em 13 jun. 2022.
Patriarcado é um conceito das ciências humanas que se refere aos sistemas sociais fun-
dados na relação desigual entre gêneros. Nesses modelos, a desigualdade entre homens e 
mulheres está inserida nas instituições e estruturas sociais presentes em diferentes aspectos 
da vida social e coletiva. Trata-se de um modelo de organização social em que prevalecem 
relações de poder e domínio dos homens, especialmente brancos e heterossexuais, sobre os 
demais sujeitos. Na reportagem da OSC Politize, há um descritivo histórico e a apresentação 
das características das sociedades patriarcais. Para ler na íntegra o texto de Regiane Folter, 
confira a referência abaixo:
FOLTER, Regiane. O que é Patriarcado? Politize! 29 jun. 2021. 
Disponível em: https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gcli-
d=CjwKCAjw9uKIBhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkN-
NAHIkMQ6MklVRoCwXMQAvD_BwE. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
GLOSSÁRIO
https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_feminists?language=pt-br
https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_we_should_all_be_feminists?language=pt-br
https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjw9uKIBhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkNNAHIkMQ6MklVRoCwXMQAvD_BwE
https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjw9uKIBhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkNNAHIkMQ6MklVRoCwXMQAvD_BwE
https://www.politize.com.br/patriarcado/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjw9uKIBhA8EiwAYPUS3Ic_MKehqiYPk2AgFWMqBWrJbjbd0oBPmG4Mu2DkNNAHIkMQ6MklVRoCwXMQAvD_BwE
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Ética e Cidadania
Existem diferentes dimensões nas quais a desigualdade de gênero se manifesta e 
que podem se revelar tanto nos espaços públicos como privados da vida social. Al-
guns exemplos de como padrões e comportamentos que produzem e reproduzem a 
desigualdade entre os gêneros estão entranhados nas estruturas sociais são: ocu-
pação dos mesmos cargos e com formação educacional ou superior; fosso salarial 
entre homens e mulheres.
No espaço doméstico, a responsabilidade 
dos cuidados com o lar e com os filhos tende 
a ser maior para mulheres do que para ho-
mens. Em posições estratégicas e de poder 
político, homens ocupam maiores espaços 
do que as mulheres. A violência doméstica e 
sexual contra mulheres é um dado tanto nas 
esferas públicas como privadas.
É do reconhecimento de tais estruturas 
e acessos desiguais entre homens e mu-
lheres, ou seja, a desigualdade com base 
no gênero, que movimentos sociais e políticas públicas pautam seu oposto. Há um 
ponto fundamental nessa questão de que a desigualdade não significa a anulação das 
diferenças entre homens e mulheres, pelo contrário, pressupõe que as diferenças são 
a base da diversidade. O ponto central aqui é que essas diferenças não se configuram 
como desigualdades de acesso, oportunidade e reconhecimento.
2.2. AS MULHERES E O MERCADODE TRABALHO
O pertencimento ao gênero corresponde às formas específicas de desigualdade social. 
O campo do trabalho entendido de forma completa, ou seja, o acesso ao mercado de 
trabalho e à permanência nele, a remuneração, os trabalhos, funções e ocupações dis-
poníveis entre outros fatores, compõe uma esfera significativa dos debates teóricos e 
das reivindicações dos movimentos sociais pautados pela igualdade de gênero.
O trabalho é uma das dimensões mais essenciais da vida coletiva, em todas as épocas 
humanas, e que assume traços específicos em cada organização social, ao longo da 
história. Na atualidade, o trabalho, além de fonte de subsistência de cada indivíduo, é 
um importante indicativo do desenvolvimento social e econômico das sociedades e uma 
das esferas da construção e exercício da igualdade e da cidadania.
No Brasil, em particular, a entrada das mulheres no mercado de trabalho ocorreu com 
maior intensidade na segunda metade do século XX, a começar por 1970, mais especi-
ficamente. Visto que há múltiplos aspectos nesse cenário e que se relacionam com as 
relações de gênero, a seguir, destacamos alguns dos eixos principais que permitem a 
compreensão mais geral da relação entre trabalho e gênero.
A) DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO
Imagine a seguinte situação: em uma entrevista para uma vaga em uma determinada 
empresa, uma candidata é questionada sobre se tem filhos ou não e, em caso positivo, 
Figura 05. Desigualdade salarial entre 
homens e mulheres 
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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quem cuidaria dos filhos na ocasião de ela ser a contratada ou mesmo o que ela faria 
quando a criança ficasse doente e precisasse de cuidados médicos.
Essa é uma questão bastante recorrente em entrevistas de emprego e reflete uma 
das consequências da divisão sexual do trabalho. Esta repartição identifica as for-
mas como as sociedades estruturam as atividades produtivas e econômicas, 
de modo que associam os homens à produção e as mulheres à reprodução ou, 
posto de outra forma, os homens relacionados às atividades remuneradas e as mu-
lheres às atividades domésticas e de cuidados com filhos, exercendo um trabalho não 
remunerado (BIROLI, 2018, p. 24-25).
A divisão sexual do trabalho é entendida como um elemento estrutural das relações de 
gênero que impactam o acesso, a permanência das mulheres no mercado de trabalho e 
as funções e ocupações exercidas. No cotidiano, esses fatores se revelam em:
Dupla jornada:
A entrada expressiva das mulheres no mercado de trabalho, na segunda metade do 
século XX, não foi acompanhada pela redistribuição das tarefas e responsabilidades 
domésticas e de cuidado com os filhos. Apesar dos avanços vivenciados nas últimas 
décadas, essas atividades ainda permanecem como responsabilidade primordial das 
mulheres, podendo gerar consequências para a saúde física e emocional.
Na atualidade, algumas políticas públicas e iniciativas estão sendo criadas para diminuírem os 
impactos na percepção da produtividade das mulheres, tomando os cuidados com a casa e os 
filhos, como fatores que devem ser considerados. No Brasil, por exemplo, desde abril de 2021, 
as mulheres podem indicar no Currículo Lattes a licença maternidade como justificativa para a 
pausa nas pesquisas e como uma forma para que não sejam prejudicadas na disputa por bolsas.
Já na Argentina, uma lei aprovada também em 2021, contará a maternidade e os cuidados 
iniciais com os filhos como tempo de serviço quando as mulheres solicitarem a aposentadoria. 
Assim, o Estado reconhece a dedicação da mulher que se torna mãe e que, por vezes, precisa 
abdicar temporariamente da carreira, como tempo de trabalho hábil para fins previdenciários.
CURIOSIDADE
Falta de políticas públicas e institucionais voltadas para a possibilidade de 
maior conciliação entre as responsabilidades domésticas e do trabalho
Em virtude dessa ausência de respaldo político público e institucionais, movimentos 
lutam em prol direito à creche e escolas infantis, proteção à maternidade, entre outros 
elementos que auxiliam a permanência da mulher no mercado de trabalho.
Superação da ideia da mulher como uma “força de trabalho secundária”.
Esse é um ponto de destaque nos estudos sobre a divisão sexual do trabalho e parte 
da relação entre produção/reprodução, bem como esfera pública/privada. Nessa cons-
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trução, permanece no imaginário a visão do homem como chefe/provedor e da mu-
lher como responsável pela esfera privada, isto é, familiar e doméstica e, no máximo, 
“provedora secundária” (ABRAMO, 2020, p. 22-24).
A mulher, então, ocuparia posições no mercado de trabalho sempre que o homem es-
tivesse ausente (doença, incapacidade, desemprego ou mesmo pela separação ou 
morte). Entre as consequências, as trajetórias das mulheres são mais inconstantes e 
interrompidas, uma vez que regularizada a ocupação masculina, a mulher voltaria para 
as responsabilidades domésticas.
Mesmo com algum avanço, a ideia e a realidade das mulheres como responsáveis pela esfera 
doméstica permanecem como um importante elemento da desigualdade de gênero no mercado 
de trabalho. Veja na reportagem abaixo dados recentes que corroboram com esta perspectiva.
RODRIGUES, Léo. Estudo revela o tamanho da desigualdade de gênero no mercado de 
trabalho. Agência Brasil. Rio de Janeiro, 4 mar. 2021.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/estudo-revela-
-tamanho-da-desigualdade-de-genero-no-mercado-de-trabalho. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
2.3. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Atualmente, a ocupação de uma vaga ou de uma função está fundada na ideia da ca-
pacidade cognitiva e técnica, nos conhecimentos e habilidades de quem disputa tais 
lugares, independentemente do seu gênero. Salvo poucos espaços que ainda perma-
necem masculinos, a presença de mulheres é realidade nas mais diferentes profissões 
e espaços de produção e saber.
Permanecem, entretanto, alguns desafios para que as mulheres possam efetivamente 
desfrutar de condições igualitárias de acesso e permanência no mercado de trabalho. 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), como agência da Organização das Na-
ções Unidas (ONU), pontua o fim da desigualdade de gênero como uma das metas que 
devem ser adotadas, em especial pelos países mais ricos do mundo, a fim de que o 
acesso das mulheres ao mercado de trabalho seja mais efetivo e duradouro.
A pauta aparece como resposta às consequências da pandemia da COVID-19 que afetou 
de formas diferentes homens e mulheres, indicando a maior situação de vulnerabilidade 
das mulheres diante da crise sanitária e econômica. Para os representantes dessas organi-
zações, esse fato aparece em situações variadas, como: a precarização ou informalização 
do trabalho, desemprego, violência doméstica, baixo nível de proteção social, entre outros 
pontos, revelando a necessidade da reorganização estrutural e econômica da vida coletiva.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/estudo-revela-tamanho-da-desigualdade-de-genero-no-mercado-de-trabalho
https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-03/estudo-revela-tamanho-da-desigualdade-de-genero-no-mercado-de-trabalho
120
O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
4 Atualidade do tema
A ONU e OIT apresentam uma série de medidas que deveriam ser adotadas para que as estru-
turas sociais dos diferentes países se tornem mais inclusivas à participação das mulheres na 
produção econômica, bem como na garantia da sua autonomia, da identidade e da cidadania.
Leia o documento abaixo que traz as principais recomendações e iniciativas propostas: ORGANIZA-
ÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT - COVID-19: Países do G7 devem tornar a igualdade 
de gênero eficaz para que o futuro das mulheres no trabalho seja melhor. Notícias OIT, 14 maio 2020.
Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_745194/lang--pt/index.htm.Acesso 
em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
É certo que profissão não tem gênero. As mudanças ocorridas nas últimas décadas, 
capitaneadas pelos movimentos sociais e pelos estudos sobre as identidades e desi-
gualdades de gênero, promoveram mudanças significativas nas mais diferentes realida-
des. Isso se deu por meio de políticas públicas, institucionais e legislações que pautam 
a necessidade da reorganização das estruturas sociais voltadas para a maior inclusão 
e diversidade dos diferentes gêneros.
Mas é certo também que esse é um caminho longo, cotidiano que requer a transfor-
mação de práticas, comportamentos, concepções e estruturas concretas e simbólicas 
que promovam a reformulação das relações de gênero nas sociedades para o fim da 
discriminação e das formas de violência nos mais diferentes níveis nos espaços públi-
cos e privados, constituindo formas mais igualitárias de convivência e possibilidades de 
existências entre homens e mulheres.
 Filme
Uma alegoria interessante e complementar da temática trabalhada nesta unidade é o filme 
Estrelas Além do Tempo, de Theodore Melf (2017), o qual é baseado em fatos reais e retra-
ta a história de três jovens mulheres cientistas que colaboraram com a NASA na década de 
1960, para a chegada do homem à lua. Em um ambiente que as mulheres ainda não eram 
aceitas, especialmente em profissões como as engenharias ou outras das ciências exatas, a 
narrativa retrata as condições de desvantagens e desvalorização do trabalho que as perso-
nagens enfrentam pelo fato de serem mulheres negras. É uma oportunidade para a reflexão 
sobre quais mudanças ocorreram nessas últimas décadas e se elas permitem percebermos 
hoje a presença de mulheres em profissões que foram usualmente designadas como espa-
ços exclusivos dos homens.
https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_745194/lang--pt/index.htm
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Ética e Cidadania
3. ENFIM, UMA SOCIEDADE POSSÍVEL
3.1. SOCIEDADE BRASILEIRA
Há menos de 200 anos, o Brasil ainda vi-
via sob a escravidão de homens, mulhe-
res e crianças negras. Havia, além de leis 
que garantiam essa estrutura, discursos, 
teorias e um sistema moral que defen-
diam a legalidade da escravidão e justi-
ficavam os diversos modos de violência 
e exploração, ou seja, naturalizavam as 
formas de desigualdade e interiorização 
dos povos negros. Ainda nesse período, 
mesmo que sob outras condições, povos 
indígenas e culturas inteiras foram dizi-
madas ao longo do processo de colonização. É igualmente perceptível a existência de 
todo um sistema legal e moral que justificavam tais práticas.
O direito ao voto feminino é relativamente recente em nossa sociedade, (foi legitimado em 
1932) e, nesse início, era um direito garantido apenas às mulheres casadas, desde que 
tivessem autorização dos maridos, e às viúvas que tivessem renda própria. Por sua vez, o 
acesso de mulheres casadas ao mercado de trabalho também dependia da autorização do 
marido, assim como a abertura de contas em bancos, viagens ao exterior ou ter um comér-
cio, leis que foram alteradas apenas a partir de 1962.
Nossa sociedade atual é herdeira dos fatos acima e, certamente, de outras diversas for-
mas de desigualdade e exploração. Durante séculos, prevaleceu a ideia de que alguns 
grupos de pessoas, como negros, mulheres, indígenas e outros minoritários eram infe-
riores, portanto, para esses grupos o acesso aos direitos e aos bens sociais era restrito, 
desigual ou sequer existia.
Figura 06. Gravura de Henry Chamberlian, A rede (1821) 
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1.
Minorias ou grupos minoritários não são definidos quantitativamente, mas, sim, qualitativa-
mente. De modo geral, para as ciências humanas e sociais, o conceito de minoria se refere 
aos grupos que se encontram em situação de desvantagem ou vulnerabilidade em relação a 
outros em uma dada estrutura social.
Na sociedade brasileira, por exemplo, mulheres, negros e pardos representam a maioria 
numérica da população. Entretanto, são considerados grupos minoritários, pois possuem 
menos acessos aos bens e direitos sociais assim como aos espaços de poder e decisão. 
As minorias podem ser definidas a partir de diferentes critérios: gênero, raça, etnia, religião, 
cultura, sexualidade etc., e variam de uma ordem social para outra. Nas democracias, há o 
pressuposto de que as políticas públicas devem compensar e proteger as minorias, diminuin-
do ou eliminando as formas de desigualdade e desvantagens.
IMPORTANTE
122
O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
4
Esta é uma noção que ainda prevalece 
em nossa sociedade e pelo mundo de 
modo geral. O acesso desigual aos direi-
tos e aos bens sociais, mesmo aos mais 
básicos, ainda é uma realidade. Assim, 
em pleno século XXI nos deparamos dia-
riamente com diferentes formas e níveis 
de pobreza e exclusão, desigualdade e 
discriminação que vão desde o precon-
ceito e a marginalização até a eliminação 
física e genocídio de grupos inteiros por 
motivos étnicos, culturais, religiosos, sexuais, geopolíticos etc.
Mesmo diante da constatação dessa realidade, é possível, entretanto, vislumbrarmos 
avanços significativos. Entre eles, a consolidação, em nossa época, de valores, leis e 
mesmo de um sistema moral que reconhece como princípio fundamental a dignidade 
intrínseca de todo ser humano, isto é, a dignidade de toda pessoa como um valor su-
premo e inquestionável.
Esse é um dos pressupostos básicos para o exercício da cidadania e da constituição de 
direitos e deveres dos indivíduos, uma vez que o reconhecimento da dignidade humana 
implica garantia e acesso aos bens e direitos sociais.
A) A RESPONSABILIDADE DO SER SOCIAL
Poucas ideias são tão universais nas ciências humanas e sociais quanto a afirmação de 
que o ser humano é um ser social por natureza, que vive em coletividade e que constrói 
em grupo sua realidade social. Os elementos que constituem essa realidade – como as 
regras, as normas, as religiões, as leis, os direitos e deveres, entre outros –, não são 
produtos espontâneos da natureza, mas, sim, construções históricas e sociais empre-
endidas pelos homens vivendo social e coletivamente.
Essa afirmação pode parecer, à primeira vista, bastante óbvia, entretanto, ela abrange 
uma complexidade. O elemento social da vida humana não se reduz apenas ao viver 
em grupo. Se assim fosse, não nos diferenciaríamos de outras espécies que vivem 
grupalmente ou em bando, como os chimpanzés e gorilas, por exemplo. Além disso, a 
essência humana é social, o viver humano se realiza apenas em sociedade.
O filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) – pensador contemporâneo – reflete 
sobre essa característica da vida coletiva humana, entendendo a interdependência dos 
indivíduos entre si e com seu meio social, mas, também, com as responsabilidades que 
cada um possui com o outro, mesmo que não conscientes ou assumidas. Esse traço da 
responsabilidade é a base da sociabilidade humana e surge a partir da nossa relação 
com o outro e com nosso meio social, além de ser portadora de um sentido moral.
Um relacionamento humano é moral quando um sentimento de responsabi-
lidade brota em nós, voltado para o bem-estar e a felicidade do “outro”. [...] 
Somos responsáveis por outras pessoas simplesmente porque são pesso-
as, e assim ordena nossa responsabilidade. É igualmente moral quando a 
vemos como só nossa, não sendo, consequentemente, negociável, além de 
Figura 07. Campo de refugiados
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não poder ser transferida para quem quer que seja. A responsabilidade por 
outros seres humanos surge simplesmente porque eles são seres humanos, 
e o impulso moral para ajudar daí oriundo não exige nenhum argumento, 
legitimação ou prova além dessa noção (BAUMAN, 2010, p. 71).
Para o autor supracitado, a responsabilidade com o outro é um traço da essência hu-
mana que explicacomo sua existência apenas é possível em sociedade. As diferentes 
interações e responsabilidades que temos uns com os outros constituem a base do 
comportamento humano. Esse comportamento, por sua vez, não se realiza no vazio, 
pelo contrário, concretiza-se em um contexto social específico, em acordo com um meio 
social particular constituído por normas, regras, direitos, entre outros elementos que 
orientam e estruturam as relações sociais. Daí a importância da vida social.
Assista a um pequeno trecho de uma entrevista feita com o filósofo Zygmunt Bauman. 
Nela, ele explica como na atualidade vivemos interligados e estabelecemos vínculos e laços 
sociais em níveis mundiais e não mais localmente. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1miAVUQhdwM. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
B) A FUNÇÃO DA VIDA SOCIAL
A vida e as formas de existência humana se realizam, portanto, em sociedade, em uma 
dada organização social que possui sentido concreto e histórico. Ou seja, cada orga-
nização social, da mais primitiva e simples até a mais contemporânea e complexa que 
existe ou que já existiu, tem um conjunto de normas e códigos que orientam o existir 
coletivo num determinado tempo e espaço.
Os sentidos e significados desse complexo conjunto mudam de uma organização social 
para outra, de um tempo histórico para outro. Valores, condutas, regras e leis que já 
foram aceitas por uma organização social se transformam conforme as próprias condi-
ções histórico-sociais assim como as necessidades das pessoas e daquele meio social.
Para além disso, o fato é que para existir coletivamente é preciso um espaço comum 
de convivência entre todos, algo que congregue as pessoas e suas individualidades 
em torno de uma mesma organização social e coletiva. A vida comum e coletiva são os 
espaços, por excelência, do exercício da cidadania.
O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) afirma que essa é uma das funções 
da vida social, qual seja, a constituição de um conjunto de normas, regras e modos de 
agir que orientam e estruturam a vida dos indivíduos naquela coletividade e que fun-
cionam como mediadores das relações das pessoas entre si e com o seu meio social.
https://www.youtube.com/watch?v=1miAVUQhdwM
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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3.2. O DIREITO À PARTICIPAÇÃO NOS BENS SOCIAIS
É na vida social que também se constrói as bases para a organização, segurança e 
desenvolvimento de cada um e da coletividade, bem como para a constituição da ci-
dadania. Sabemos que todo esse conjunto não é estático e definitivo, pelo contrário, 
é dinâmico e está em constante construção, responde às necessidades e anseios da 
coletividade e também de indivíduos. As próprias noções de moral, direitos e deveres da 
cidadania se transformaram ao longo da história, contemplando em cada organização 
social acessos, direitos e deveres específicos.
Na modernidade, em particular, até os dias atuais, consolidou-se um pressuposto básico, 
resultado de uma longa evolução histórica: a de que cada ser humano, por ser social, é 
dotado de um conjunto de direitos e deveres. Entre esses, alguns são relativos aos bens 
sociais fundamentais, como saúde, segurança, educação, moradia, habitação e trabalho.
Todos nós, enquanto parte da sociedade brasileira, por exemplo, estamos sob um mesmo con-
junto de normas, direitos e deveres que orientam nosso modo de viver e que estabelecem um 
modo comum de vida, apesar da individualidade de cada um. São pontos fundamentais para 
que se constitua o que sociólogo chama de “coesão social” ou “laços sociais”, estruturas, ideias 
e práticas pelas quais se criam os vínculos de solidariedade e de cooperação entre aqueles que 
habitam uma mesma organização social. Quanto mais a vida social tiver sentido e significado 
para o indivíduo, mais coesa, solidária e cooperativa é uma organização social.
PARA REFLETIR
A Constituição Federal Brasileira define, no artigo 6º, como direitos sociais o acesso à educa-
ção, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, 
proteção maternidade e à infância e assistência aos desamparados.
Para conferir o texto na íntegra, visite:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 
13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Logo na introdução desta unidade, propusemos pensar sobre o reconhecimento moder-
no da dignidade intrínseca do ser humano. É desse pressuposto que nascem teorias e 
práticas que estruturam a vida coletiva, como o reconhecimento de que toda pessoa, 
independentemente da cor, gênero, classe social, idade, lugar, posição política, religio-
sidade etc., tem (ou deveria ter) direitos básicos assegurados, que visam justamente 
garantir a reconhecida dignidade humana citada.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
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O acesso e a participação aos bens sociais como um direito de cada pessoa respondem 
diretamente a esse pressuposto, uma vez que o atendimento às necessidades funda-
mentais e básicas é inseparável das possibilidades de existências e vivências dignas. 
Além disso, é pelo acesso pleno aos bens sociais que outros direitos basilares para a 
dignidade humana são efetivamente contemplados, como a liberdade e a igualdade. 
Posto de outra forma, as liberdades e direitos individuais são inseparáveis da garantia 
dos direitos sociais. Como conceber, por exemplo, a liberdade e o direito individual que 
todos têm ao voto, se persiste na sociedade a pobreza extrema, falta de saneamento 
básico e condições de trabalho precárias?
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos parâmetros nas sociedades atuais que 
mede o desenvolvimento social de um país, levando em consideração o acesso das pessoas 
aos bens sociais básicos, como educação, saúde e renda. Ele é coordenado pela Organização 
das Nações Unidas (ONU) e é um importante parâmetro na definição de políticas públicas.
Há outros institutos e pesquisas que também possibilitam compreender as demais esferas e 
conjunto de direitos, por exemplo, o The Economist Intelligence Unit (The EIU), que faz parte 
do Economist Group e mede diferentes âmbitos da vida social, como a paridade de gênero e o 
nível de democracia dos países.
Para saber mais, você pode conhecer de forma interativa os indicadores usados pelo instituto 
e seus níveis em cada um dos países pesquisados. 
Disponível em: https://www.v-dem.net/data_analysis/VariableGraph/. Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
3.3. O RECONHECIMENTO DA DIFERENÇA: BASE PARA A IGUALDADE
Diretamente relacionada aos direitos e bens sociais nas sociedades, a igualdade é um 
dos valores fundamentais na constituição das democracias e como um dos princípios 
que estruturam, de modo geral, o conjunto de direitos e deveres e o exercício da cida-
dania nas sociedades. Todos são iguais perante a lei, sem distinção, é um dos pilares 
de constituições democráticas modernas, assim como da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos.
Como tornar efetivo o princípio da igualdade nas sociedades atuais, globais e diversas, 
formadas pelas diferentes culturas, individualidades e identidades? Todos são iguais, 
afinal? Esse é um ponto central, pois igualdade, como um direito, não significa homo-
geneidade. Contudo, o respeito à dignidade da condição humana pressupõe o direito e 
o reconhecimento da diferença.
Os contrapontos não são entre igualdade e diferença, mas entre igualdade e desigual-
dade. A desigualdade pressupõe hierarquias que estabelecem condições distintas às 
pessoas, acessos diferentes aos direitos e deveres, bem como aos postos de poder 
e de decisão. Assim, a desigualdade estratifica, divide os indivíduos e os grupos em 
https://www.v-dem.net/data_analysis/VariableGraph/
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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superiorese inferiores, com mais ou menos direitos e deveres, com maior ou menor dig-
nidade e serve como justificativa às formas de discriminação, exploração e até mesmo 
de morte ou extermínio.
A diferença, por sua vez, fundamenta-se no reconhecimento das particularidades de 
cada um, de cada grupo social e da diversidade que compõe a natureza humana – é 
uma relação horizontal. Desse modo, é possível reconhecermos as diferenças entre 
homens e mulheres, brancos e negros, portadores e não portadores de deficiências, 
cristãos, muçulmanos ou ateus, indígenas e não indígenas, norte-americanos, indianos 
e brasileiros, jovens e idosos etc. Em todos esses grupos há diferenças. Entretanto, 
quando se instalam valores ou relações de superioridade ou inferioridade, as diferenças 
se convertem em desigualdades.
O direito à diferença, portanto, é um corolário da igualdade na dignidade. O 
direito à diferença nos protege quando as características de nossa identida-
de são ignoradas ou contestadas; o direito à igualdade nos protege quando 
essas características são destacadas para justificar práticas e atitudes de 
exclusão, discriminação e perseguição (BENEVIDES, 2007, p. 340).
O direito à diferença é também a luta pelo direito ao reconhecimento e da diferenciação como consti-
tutiva da diversidade e da dignidade humana. Partindo dessa perspectiva, recomendamos que você 
assista ao documentário Crip Camp: revolução pela inclusão (2020), dirigido por Jim LeBrechet.
O documentário conta a história sobre o acampamento de verão Jened, nos EUA, voltado para 
pessoas portadoras de deficiências físicas, motoras e até intelectuais, com variados graus e 
níveis de lesão. O acampamento foi fundado em 1951 e fechado em 1977, e transformou não 
apenas a vida dos jovens e adolescentes que frequentavam aquele espaço, mas pautou diver-
sos movimentos por direitos sociais e civis na sociedade americana.
O documentário está disponível nos streamings e é uma oportunidade para percebermos como 
o direito à igualdade passa pelo direito à diferença.
SAIBA MAIS
A) A LUTA POR DIREITOS NO SÉCULO XXI
A luta por direitos é sempre uma luta histórica, pois reflete as formas de organização so-
cial, as experiências e anseios de indivíduos e grupos em suas realidades. São reflexos 
das necessidades e demandas que as pessoas vivenciam em cada contexto histórico-
-social e, ainda, dos recursos que estão disponíveis para isso. Em uma realidade global 
como a que vivenciamos, as lutas por direitos, nas suas mais diferentes esferas, tendem 
a refletir tanto as pautas e necessidades locais como outras mundializadas ou globais.
É certo, desse modo, que diante das persistentes desigualdades sociais, parte das lutas 
por direitos contemporâneos está voltada para essas esferas, tais como: moradia, aces-
so à saúde e educação de qualidade, condições e garantias trabalhistas, participação 
nas esferas públicas e políticas, segurança etc.
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Ética e Cidadania
Ao mesmo tempo, a defesa e o reconhecimento das diferenças entre as pessoas 
como um dos parâmetros para a constituição da justiça social e da igualdade, como 
vimos há pouco, revelaram novas disputas e lutas por direitos em diferentes âmbitos 
da sociedade. Da mesma forma, outros modos de opressão que não passam pela 
luta de classes têm pautado, ao longo das últimas décadas, diferentes movimentos 
sociais e lutas por direitos.
Há, assim, um espaço de lutas por direitos nas sociedades atuais voltado para questões 
éticas e de valores humanos que não diz respeito necessariamente a uma classe social 
específica, mas, sim, ao conjunto da sociedade de um modo geral, inclusive, em termos 
globais (SANTOS, 2003, p. 258).
Atualidade do tema
Em momento anterior, já falamos sobre o movimento Black Liver Matter. Na reportagem a seguir, 
“Como três mulheres criaram o movimento global Black Lives Matter a partir de uma hashtag”, 
temos um relato de como essa luta antirracista começa bem pequena, com os esforços de três 
mulheres, mas rapidamente se torna uma causa global. Entre as características, está presente o 
uso das redes de comunicação e mídias digitais, como o Facebook, Twitter e Instagram.
Para ler, na íntegra, visite: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/12/20/como-tres-mu-
lheres-criaram-o-movimento-global-black-lives-matter-a-partir-de-uma-hashtag.ghtml. 
Acesso em: 13 jun. 2022.
SAIBA MAIS
Lutas como as do movimento negro e o combate ao racismo às formas de discrimi-
nação e constituição de relações antirracistas; movimento feminista e as pautas pela 
igualdade de gênero e fim do patriarcado; lutas dos movimentos LGBTQIA+ e a busca 
pela igualdade social e de direitos; pautas que se voltam às questões ecológicas e de 
sustentabilidade; intensas migrações humanas, genocídio de culturas e etnias e diversi-
dade cultural, expandem as noções que se têm dos direitos e deveres de cada um nas 
sociedades contemporâneas globalizadas.
Em uma importante passagem de sua obra, a filósofa Hannah Arendt (1989, p. 332) 
afirma que “[...] a cidadania é a consciência que o indivíduo tem do direito a ter direitos”. 
A era moderna e contemporânea consolidou os direitos fundamentais às pessoas, atri-
buídos a todas elas por sua condição de ser.
Constituiu-se, assim, um pressuposto fundado na igualdade em dignidade dos seres 
humanos. É um valor indispensável para a nossa época, pois nele se abrigam outros, 
como o reconhecimento à diferença e à pluralidade da vida humana. Essa é uma das 
perspectivas que orientam práticas e ideais para os dias atuais, e que servem de mote 
para a criação de relações e realidades mais igualitárias, plurais e justas.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/12/20/como-tres-mulheres-criaram-o-movimento-global-black-lives-matter-a-partir-de-uma-hashtag.ghtml
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/12/20/como-tres-mulheres-criaram-o-movimento-global-black-lives-matter-a-partir-de-uma-hashtag.ghtml
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
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Figura 08. A luta pelos direitos no século XXI
Diversidade de agendas
Novas estratégias
Movimentos globais e 
antiglobalização
Pautas globais e locais
Pautas culturais, 
identitárias e ecológicas
LUTAS PELOS DIREITOS
SÉCULO XXI
As agendas dos movimentosso-
ciais tornaram-se mais diversas e 
plurais e já não se restringem ao 
mundo do trabalho e da economia;
Uso dos meios de comnicação e 
das redes digitais como plataforma 
para as pautas ultrapassarem fron-
teiras geográficas e promoverem 
novas formas de articulação 
e estruturação
A luta por direitos atua tanto local, 
para atender as demandas da 
comunidade, como globalmente, 
questionando práticas e formas de 
vida mundiais.
Lutas que não se vinculam, ex-
clusivamente, às classes sociais, 
mas se transferem para a cultura e 
para as mudanças culturais. 
Diferença e diversidade.
Crítica aos danos e efeitos da 
exploração capitalista global e 
às formas contemporâneas de 
exclusão e marginalidade. 
Fonte: elaborada pela autora.
 Filme
Como pensamos a dignidade de todo ser humano diante das profundas desigualdades sociais que, 
ainda hoje, estão fortemente presentes em diferentes sociedades? O filme sul-coreano Parasita, de 
Bong Joon-ho, ganhador do Oscar em 2020, tem como eixo central o olhar sobre a desigualdade a 
partir das diferenças entre classes sociais. Na história, acompanhamos o cotidiano da família Kim, fa-
mília pobre que mora em um porão apertado e enfrenta as dificuldades típicas de uma família de baixa 
renda. Em um movimento do acaso, um dos filhos dos Kim passa a trabalhar como professor/tutor na 
casa de uma família rica. Logo em seguida, utilizando uma série de artimanhas e mentiras, o jovem 
faz com que o chefe empregue o restante da sua família. O filme transcorre mostrando as diferentes 
interações entre esses dois universos e de como são afetados de forma distinta pelo mundo externo.
 Texto complementar
Reconhecer que a diferença ea diversidade humana são constitutivas das nossas socieda-
des é um caminho importante para que se reconheça, enfim, a dignidade humana. À vista 
disso, recomendamos a leitura do artigo “Reconhecimento e direito à diferença: teoria crítica, 
diversidade e a cultura dos Direitos Humanos”, de Eduardo Bittar, para ampliar a discussão 
do tema trabalhado nesta unidade.
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Ética e Cidadania
4. REMEMORANDO AS TEMÁTICAS ESTUDADAS AO LONGO 
DAS UNIDADES
Chegamos ao final de nosso curso após passarmos por distintas reflexões e análises que ti-
veram como temáticas norteadoras a ética e a cidadania em suas mais distintas perspectivas. 
Com projeções de estabelecer uma reflexão final, retomaremos alguns dos tópicos aborda-
dos e, após construir uma breve linha do tempo e do pensamento sobre o assunto, abordare-
mos questões práticas sobre a ética e práticas de cidadania na contemporaneidade. 
Ao longo de nossa trajetória, foram apresentadas algumas perspectivas relacionadas 
a processos interdisciplinares com outras abordagens (Estudo do Ser Humano Con-
temporâneo, Iniciação à Pesquisa Científica, Direitos Humanos e Empreendedorismo) 
e o desenvolvimento de competências e habilidades fundamentais para os processos 
de construção cidadã e profissional. Portanto, conectar experiências pessoas com tais 
abordagens e, partindo dessas conexões, projetar o desenvolvimento de novas compe-
tências educacionais que serão colocadas em práticas se apresentaram como propos-
tas norteadoras tanto para o processo de ensino aprendizado quanto de vivências éti-
cas de cidadania. Neste sentido, essas perspectivas se relacionam diretamente com os 
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, apresentados pela Agenda 2030 
em conexão com as diretrizes da Organização das Nações Unidas (ONU).
Importantes colocações acerca da ética e da moral foram colocadas ao longo de nos-
so aprendizado. Partindo das proposições apontadas, pudemos perceber que, grosso 
modo, enquanto a ética compreende uma proposição de condutas de amplo alcance e 
uma reflexão aprofundada que envolve a coletividade e suas ações, a moral, por sua 
vez, se norteia por regras e tradições transmitidas, por valores que orientam determina-
das pessoas e grupos sociais sem necessariamente passarem por reflexões e análises.
Uma das temáticas que transpareceu foi a tentativa de se problematizar a relação en-
tre escolhas e ética. Partindo de uma ampla construção teórica, o diálogo recaiu nas 
proposições de pensamento acerca das escolhas éticas ao longo de nossa existência. 
Distintas formas de se apreender e perceber o mundo, desde a antiguidade até a 
contemporaneidade foram discutidas e, dessa forma, proposições práticas foram sus-
citadas. Diante de tais construções, a temática ganhou desdobramentos apontando 
uma articulação importante entre ética e liberdade, mas também sobre os processos 
decisórios e as escolhas responsáveis. Relações como ética, indivíduo e coletividade 
ganharam corpo, principalmente nas colocações de Jean Paul Sartre e, para além de 
tais apontamentos, a relação entre a ética e o capitalismo, sistema econômico vigente 
na atualidade, foi colocada em questão. Por fim, um importante conceito foi destaca-
do, o de banalidade do mal, elaborado pela filósofa alemã Hanna Arendt e, partindo 
dele, a relação estabelecida entre seguir a lei e o bem coletivo e dos indivíduos, em 
muitas situações, suscita leituras e posicionamentos éticos, ainda que discordantes 
dos pressupostos legais impostos.
Com a compreensão bem delineada dos conceitos éticos para a filosofia ao longo da 
história, a temática que engloba ética e cidadania foi articulada à uma importante esfera 
de nossas vidas sociais: o mundo do trabalho. Ser um profissional ético é um importante 
elemento em nossas trajetórias profissionais e, tal proposição, demanda uma forma-
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O diverso e o desigual – questões contemporâneas e o âmbito do trabalho
4
ção ética aprofundada, que se apresenta como uma das proposições de nosso curso. 
Cabe destacar que todo o sistema educacional brasileiro tem como proposições formar 
nossos jovens para a cidadania e o mundo do trabalho e um dos parâmetros para se 
atingir tal objetivo perpassa as discussões sobre ética, moral e a sociedade com suas 
diretrizes individuais e coletivas. Diante desses pontos, um prosseguimento interessan-
te é dado ao se abordar a questão da necessidade de regras morais. Articulando regras 
individuais, sociais e profissionais, a unidade visa estabelecer uma leitura crítica e de 
constante reflexão e análise sobre tais relações, sempre colocando em destaque a for-
ma como todos nós nos apresentamos e nos portamos em sociedade.
No entanto, na atualidade, não basta abordarmos apenas a sociedade em suas con-
cepções físicas, é preciso trazer para a discussão os espaços virtuais que as novas 
tecnologias têm nos permitido vivenciar. Neste sentido, buscamos refletir sobre os 
avanços da sociedade tecnológica digital pontuando questões éticas, morais e pro-
fissionais ao questionar se há limites naquele universo virtual. Tais questionamentos 
demandaram uma melhor compreensão de direitos e deveres assegurados, ou seja, 
de uma leitura mais cuidadosa sobre nossa condição cidadã na atualidade. Ao esta-
belecer um breve histórico das distintas formas de se conceber a cidadania ao longo 
dos tempos, nossos estudos procuraram avançar até os dias atuais e, dessa forma, 
levantar importantes reflexões sobre o acesso aos direitos dos cidadãos, ou seja, da 
possibilidade de se exercer uma cidadania plena, que como destacamos acima, com-
preende uma das diretrizes do sistema educacional brasileiro, formar nossos jovens 
para se tornarem cidadãos plenos de direito.
Nossas temáticas nos conduziram com problematizações e análises profundas e um 
outro ponto foi posto em reflexão: o espaço da cidadania, tendo como parâmetro nor-
teador, mais uma vez, as relações entre ética, cidadania e mundo do trabalho. Correla-
cionando o espaço da cidadania a uma perspectiva individual e coletiva, a abordagem 
trouxe importantes reflexões sobre práticas cidadãs e exercício de direitos por parte dos 
indivíduos que compõem uma sociedade. Esta concepção é expandida para preocupa-
ções com uma prática cidadã e ética que abarque, também, a questão ambiental, foram 
apresentadas. O tema, desde a apresentação inicial vinha perpassando as discussões 
anteriores, desde a apresentação dos objetivos para o desenvolvimento sustentável 
na unidade um. Ao longo do curso tais temáticas foram aprofundadas, trazendo à tona 
problemáticas atuais, como as questões ambiental e animal. Ao se pensar direitos e 
deveres, ética, moral, etc., nós estamos falando apenas da espécie humana? Qual seria 
o parâmetro adotado para se excluir os demais seres vivos de tais questões? Apenas 
o aspecto cognitivo? Abrir-se para tais reflexões, como destacado, é estabelecer uma 
leitura ética diante do mundo que nos cerca e com o qual interagimos e dependemos.
Outro ponto fundamental quando se põe em pauta ética e cidadania é a questão das 
desigualdades raciais no Brasil. Neste sentido, foi necessário trazer para a discussão o 
conceito de raça e aprofundar a problemática do racismo em nossa sociedade. Partindo 
de tais pressupostos, nosso curso visou refletir sobre a cidadania em um país com uma 
profunda desigualdade racial, aspecto que impacta as relações sociais, incluindo as re-
lações do mundo do trabalho. Ainda, procurou-se problematizar o racismo estrutural no 
Brasil, em suas mais diversas frentes. No mesmo seguimento, as discussões apontadas 
levaram à necessidade primordial de se abordar e estabelecer alguns apontamentos so-
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Ética e Cidadania
bre questões de gênero, principalmente em sua relação com o mundo do trabalho. Ao 
introduzir o conceito e apresentar suas definições e diferenciações, projetando as dife-
renças biológicas e socioculturais, nosso

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