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1 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY HISTÓRIA DA ASTRONOMIA ANTIGA: UM BREVE RELATO DOS ESTUDIOSOS MAIS INFLUENTES ATÉ COPÉRNICO Welton Maylon Garcez Oliveira1 Rudinei Celso de Souza Jantsch2 Resumo: Este artigo é um breve relato histórico dos estudiosos que, sob nossa ótica, tiveram maior influência no desenvolvimento da astronomia antiga pré-copernicana. O conteúdo deste trabalho pode servir como fonte de pesquisa sobre o assunto, contribuindo para trabalhos futuros. Palavras-chave: Astronomia; Antiguidade; Cosmos; Astros; Geocentrismo; História HISTORY OF ANCIENT ASTRONOMY: A BRIEF ACCOUNT OF THE MOST INFLUENTIAL SCHOLARS UP TO COPERNICUS Abstract: This article is a brief historical account of the scholars who, under our lens, were the most influential on the development of the pre-Copernican ancient astronomy. The content of this work may serve as a research source on the subject, contributing to future works. Keywords: Astronomy; Antiquity; Cosmos; Stars; Geocentrism; History 1 INTRODUÇÃO A astronomia pode ser considerada a ciência mais antiga da humanidade, pois tem suas raízes no homem pré-histórico, quando se observava o céu na ânsia por compreender o mundo, porém ainda não se conhecia um método para isso. A maioria das atribuições de força eram dadas aos deuses, em um universo singular, pequeno e organizado, onde o ser humano ocupava uma posição de extrema importância. O que hoje enxergamos, amparados pelo método científico, e nos parece tão evidente, era uma imensa tábula rasa na mente dos nossos antepassados. Porém, ao longo de sucessivas eras, essa tábula foi se preenchendo de novas ideias, hipóteses e leis, e por meio de um método chamado ciência, o conhecimento do homem se desdobrou e avançamos rumo ao desconhecido. Contudo, estão reservadas muitas novas descobertas para épocas futuras, obedecendo o curso da natureza e seus mistérios. No livro Cosmos, Carl Sagan (1980), relata que a ciência nos revelou um universo tanto antigo quanto vasto, a ponto de parecer tornar as questões humanas como algo, à primeira vista, de pouca importância. A Astronomia enquanto Ciência surge pela necessidade de sobrevivência do homem, e seu estudo tem fascinado diversas pessoas desde a antiguidade. Segundo Filho e Saraiva (2004) “a razão para isso se torna evidente para qualquer um que contemple o céu em uma noite limpa e escura. Depois que o Sol – nossa fonte de vida – se põe, as belezas do céu noturno surgem em todo o seu esplendor. 1 Instituto Federal do Paraná – Campus Telêmaco Borba weltongarcez@gmail.com 2 Instituto Federal do Paraná – Campus Telêmaco Borba rudinei.jantsch@ifpr.edu.br mailto:weltongarcez@gmail.com mailto:rudinei.jantsch@ifpr.edu.br Welton Maylon Garcez de Oliveira e Rudinei Celso de Souza Jantsch 2 No decorrer deste artigo vamos buscar na história, quais as principais descobertas que contribuíram significativamente na construção do conhecimento da astronomia, destacando, sob nossa lente, alguns estudiosos que deixaram seus nomes como grandes contribuintes na árdua jornada rumo ao desconhecido. 2. SEQUÊNCIA HISTÓRICA DA ASTRONOMIA Antes de tratarmos dos principais nomes de cientistas que contribuíram para a construção do conhecimento sobre a astronomia, anteriores a Galileu, trataremos do período histórico, onde começaram os registros escritos, embora haja registros históricos da construção dessa ciência há mais de 3000 a.C. O texto sobre astronomia mais antigo provém de estudos a partir do segundo milênio a.C., época em que os babilônios ocuparam a Mesopotâmia. Esse texto é chamado de tablete 63 de Enûma Arm Enlil, e nele está registrado o primeiro e último nascer do planeta Vênus em um intervalo de 21 anos, mostrando que os babilônios conheciam os períodos dos movimentos planetários. 2.1 TALES DE MILETO Figura 1: Tales de Mileto (624 a.C. - 546 a.C.)3 Começamos nossa lista com Tales de Mileto (624 a.C. - 546 a.C.), filósofo, matemático e astrônomo, o qual foi o primeiro a se pronunciar quanto à natureza do universo sem recorrer a ideias sobrenaturais. Sendo assim, Tales é considerado o avô do método científico, pois buscou dar explicações racionais para eventos e fenômenos da natureza que se tornaram as bases que possibilitaram realizar a ciência no ocidente. Ele acreditava que a Terra flutuava na água, e que tudo saía da água, reforçando a sua 3 https://educacao.uol.com.br/biografias/tales-de-mileto.htm acesso em 20.11.2018 https://educacao.uol.com.br/biografias/tales-de-mileto.htm História da Astronomia Antiga: Um Breve Relato Dos Estudiosos Mais Influentes até Copérnico. 3 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY rejeição ás teorias sobrenaturais e místicas que eram usadas para explicar inúmeros fenômenos por seus antecessores, aumentando assim o seu posto de primeiro e principal filósofo ocidental. Vale ressaltar que, embora tenha sido considerado como o primeiro filósofo, ele se tornou famoso por prever o primeiro eclipse do Sol, em 584 a.C. Porém, ele não deixou nada escrito, ou seja, não há uma precisão de que tenha escrito algum livro, mas, por ter seu nome mencionado inúmeras vezes por outros pensadores de extrema importância posteriormente, sua existência é reconhecida autenticamente. 2.2 ARISTÓTELES Figura 2 - Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.)4 Seguimos nossa lista com um nome que hoje é considerado por muitos como o maior pensador de todos os tempos: Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.). Foi dele o primeiro modelo completo que buscou explicar o funcionamento do mundo que nos rodeia, do grego Physikos, a hoje conhecida física. Suas ideias formaram o universo do conhecimento por muitos séculos, sendo o primeiro, juntamente com outros pensadores do seu tempo, que sugerir que a Terra não era plana, como se acreditava. Aristóteles usou dois argumentos para fortalecer sua ideia. O fato de algumas estrelas serem vistas de Atenas, mas não vistas de Alexandria era um dos argumentos. O outro se dava pelo fato de a sombra da Terra ser projetada quando haviam eclipses lunares. 4 https://www.todamateria.com.br/aristoteles/ acesso em 20.11.2018. https://www.todamateria.com.br/aristoteles/ Welton Maylon Garcez de Oliveira e Rudinei Celso de Souza Jantsch 4 2.3 HIPÁTIA DE ALEXANDRIA Figura 4 – Hipátia de Alexandria (355 d.C. – 415 d.C.) 5 Como a história nos mostra, Hipátia de Alexandria (355 d.C. – 415 d.C.) é a primeira mulher a estudar na Academia de Alexandria, tendo seus estudos voltados e aprofundados na matemática, astronomia, filosofia, religião, poesia, artes, oratória, retórica e estudos de direitos. Sua época foi marcada pelos conflitos religiosos, onde ela se declarava pagã, o que acabou sendo o maior motivo da sua morte. Hipátia se destacou na área de exatas, e há relatos de que ela sempre ajudava cientistas em cálculos, deixando muito poucos sem respostas. Considerando o seu amplo desenvolvimento na matemática, ela fez sua contribuição especialmente criando Soluções relativas as propriedades geométricas. Nesse período a teoria de que a Terra girava em torno do Sol tinha sido lançada, então para os cientistas o grande desafio era provar se esta teoria era verdadeira ou não, explicando também se a Terra girava em círculo, distanciando-se e aproximando-se do Sol, para ocorrer as quatro estações do ano. Por falta de instrumentos astronômicos para melhor precisão, os cientistas e pesquisadores contavam somente com cálculos, raciocínios e intelectualidade. Hipátia, através de suas pesquisas, criou instrumentos científicos fazendo com quea geometria fosse transmissível aos seus alunos, e assim todos conseguiriam entendê-la. Há relatos de que vários alunos se mudaram para Alexandria apenas para participar de suas aulas, principalmente homens. Com seu conhecimento vasto no campo da astronomia, ela foi a primeira astrônoma a levantar a hipótese de que a Terra girava em torno do Sol de forma elíptica e não em círculos. Relatos históricos afirmam que o renomado filósofo Sinésio de Cirene foi um de seus alunos, os quais trocavam correspondências como forma de debate para redefinir teorias, como por exemplo, a teoria sobre a Trindade. A partir dessas comunicações, Hipatia desenvolveu alguns instrumentos que hoje são utilizados na Astronomia e na Física. Dentre eles destacamos seu planisfério próprio, o hidrômetro e o astrolábio plano, que é utilizado para determinar como as estrelas se comportam no 5 https://www.altoastral.com.br/hipatia-historia-legado-filosofa/ acesso em 20.11.2018. https://www.altoastral.com.br/hipatia-historia-legado-filosofa/ História da Astronomia Antiga: Um Breve Relato Dos Estudiosos Mais Influentes até Copérnico. 5 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY céu. Este serviu também como guia de triangulação, facilitando o trabalho de engenheiros, marinheiros e profissionais da navegação. Assim, Hipatia de Alexandria teve extrema importância para a astronomia, contribuindo para o mapeamento dos corpos celestes. Todas as suas obras não resistiram à destruição da Biblioteca de Alexandria, chegando até os dias de hoje somente um texto intitulado “O Cânone Astronômico” e também em obras de outros autores, onde são encontrados relatos e comentários sobre Hipatia. 2.4 ARISTARCO DE SAMOS Figura 3 - Aristarco de Samos (310 a.C. – 276 a.C.)6 Aristarco de Samos (figura 3), também da Grécia, que viveu por volta de 270 a.C., passou a maior parte de sua vida em Alexandria, onde era professor do museu, publicando ali a maioria de seus trabalhos e dando uma contribuição notável para a astronomia. O primeiro modelo heliocêntrico para o sistema Solar foi proposto por ele, porém, foi rejeitado, sendo ressuscitado muitos séculos depois com Copérnico, como veremos em breve. Como descreve Arquimedes em O contador de areias: "Aristarco de Samos publicou um livro que consistia em algumas hipóteses cujas premissas conduzem ao resultado de que o Universo é muitas vezes maior do que aquilo a que agora se dá esse nome. As suas hipóteses são que as estrelas fixas e o Sol se mantêm imóveis, que a Terra gira em torno do Sol na circunferência de um círculo, com o Sol situado no meio da órbita, e que a esfera das estrelas fixas, situada aproximadamente com o mesmo centro que o Sol, é tão grande que o círculo em que ele supõe que a Terra gira está para a distância das estrelas fixas na mesma proporção que o centro da esfera está para a superfície." Cit. in Sagan (1980: 193) Uma das maiores contribuições surgiu com a ajuda de uma geometria muito simples, quando Aristarco mediu as distâncias relativas do Sol e da Lua em relação à Terra, além de calcular os tamanhos relativos da Terra, do Sol e da Lua. Hoje sabemos que esses resultados estavam inexatos, porém, qualitativamente corretos. Aristarco considerou o triângulo retângulo formado pelos três astros no início do quarto minguante ou crescente da Lua. Isto é, quando, para um observador na Terra, metade da 6 http://www.sonria.com/glossary/aristarco-de-samos/ acesso em 20.11.2018. http://www.sonria.com/glossary/aristarco-de-samos/ Welton Maylon Garcez de Oliveira e Rudinei Celso de Souza Jantsch 6 Lua recebe luz do Sol e a outra metade permanece escura. Com isso, o triângulo Terra- Lua-Sol é retângulo (figura 4), com ângulo reto no vértice, onde está a Lua. Nessa configuração é fácil observar que o ângulo α é muito próximo de 90°, indicando que o Sol está muito mais distante da Terra do que a Lua. Aristarco teria encontrado para α uma medida de 87°, logo o ângulo localizado no vértice ocupado pelo Sol seria de 3°. Portanto, bastou construir um triângulo retângulo com esses ângulos e determinar a razão TS/TL que, como sabemos, é a mesma para todos os triângulos semelhantes. Assim, Aristarco pôde verificar que essa razão estava entre 18 e 20, onde a distância da Terra ao Sol seria 20 vezes a distância da Terra à Lua. Figura 4 - Esquema utilizado por Aristarco para obter as distâncias relativas História da Astronomia Antiga: Um Breve Relato Dos Estudiosos Mais Influentes até Copérnico. 7 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY 2.5 ERATÓSTENES DE CIRENE Figura 5 Eratóstenes de Cirene (276 a.C. - 194 a.C.)7 Eratóstenes não poderia faltar na nossa seleta lista de pensadores que contribuíram para a astronomia. Era bibliotecário e diretor da Biblioteca de Alexandria e foi o primeiro a medir o diâmetro da Terra. Eratóstenes observou na cidade de Cirene, no Sul do Egito, hoje chamada de Assuã, que ao meio dia do primeiro dia do verão, a luz do Sol atingia o fundo de um profundo poço. Com isso era sabido que, em Siena, o Sol incidia sua luz perpendicularmente à Terra. Porém, em Alexandria, localizada ao norte de Siena, isso não acontecia. Ao medir o tamanho da sombra de um bastão colocado verticalmente, Eratóstenes observou que na cidade de Alexandria, no mesmo dia e hora, o Sol estava aproximadamente sete graus mais ao sul, sendo que Alexandria distava de Siena, cerca de 5000 estádios (unidade de distância usada na Grécia antiga). Um camelo percorre 100 estádios em um dia, viajando aproximadamente a 16 km/dia. Sabendo que 7 graus correspondem a 1/50 de um círculo, Alexandria deveria estar localizada a 1/50 da circunferência da Terra ao norte de Siena, sendo que a circunferência da Terra deveria ser 50×5000 estádios. Porém, lamentavelmente, não é possível saber o valor exato do estádio usado por Eratóstenes, uma vez que os gregos usavam diferentes tipos de estádios. Supondo que ele utilizou um estádio equivalente a 1/6 km, o valor está a 1% do valor correto de 40000 km. Com isso, o diâmetro da Terra é obtido dividindo-se a circunferência por π (figura 6). O cálculo de Eratóstenes foi notavelmente preciso, tanto na descoberta do diâmetro da Terra, quanto para calcular a inclinação do eixo terrestre. 7 https://www.biografiasyvidas.com/biografia/e/eratostenes.htm acesso em 20.11.2018. https://www.biografiasyvidas.com/biografia/e/eratostenes.htm Welton Maylon Garcez de Oliveira e Rudinei Celso de Souza Jantsch 8 Figura 6 - Medição do raio terrestre por Eratóstenes. O ponto A designa Alexandria, o ponto S é a cidade de Siena onde um poço é esquematizado. O ponto C é o centro da Terra e o raio da Terra é designado por R. Fonte : www.researchgate.net História da Astronomia Antiga: Um Breve Relato Dos Estudiosos Mais Influentes até Copérnico. 9 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY 2.6 HIPARCO DE NICEIA Figura 7 - Hiparco de Niceia (190 a.C. – 120 a.C.)8 Hiparco de Niceia é considerado um dos maiores astrônomos da antiguidade. Foi o construtor de um observatório em Rodes, onde catalogou a posição e a magnitude de 850 estrelas, sendo esses conceitos elaborados por ele mesmo. De acordo com Hiparco, a magnitude é o brilho aparente das estrelas, segundo o que é registrado pelo olho humano e variava, naquele tempo, de 1, para a estrela com maior brilho, a 6 para a mais fraca. Calculou corretamente a precessão do eixo de rotação da Terra e a direção dos polos celestes. De maneira engenhosa, calculoua distância Terra-Lua em função do raio da Terra (figura 8). Figura 8: O objetivo é determinar Dm 8 https://astronomy-universo.blogspot.com/2010/09/hiparco-de-niceia-ou-de-rodes.html acesso em 20.11.2018. https://astronomy-universo.blogspot.com/2010/09/hiparco-de-niceia-ou-de-rodes.html Welton Maylon Garcez de Oliveira e Rudinei Celso de Souza Jantsch 10 Portanto, o ângulo c é calculado sabendo-se que a duração de uma lunação T e o tempo de um eclipse umbral da Lua t: 2c = 360º 𝑡 𝑇 Assim, ângulo d, ou semi-diâmetro Solar, é d = 16′. Porém, o ângulo a é muito pequeno e não pôde ser calculado por Hiparco. Mas, usando a geometria, obtemos: 𝑎 + 𝑏 = 𝑐 + 𝑑 => 𝑏 ≈ 𝑐 + 𝑑 => 𝑥 = 𝑅 sin (𝑏) Por fim, Hiparco encontrou 62R < X < 74R. O valor moderno é X = 60,27R. História da Astronomia Antiga: Um Breve Relato Dos Estudiosos Mais Influentes até Copérnico. 11 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY 2.7 PTOLOMEU Figura 9: Claudio Ptolomeu (85 d.C. - 165 d.C.)9 Considerado o último dos grandes cientistas da Grécia, Ptolomeu foi responsável por recapitular as obras de seus precursores, e viveu praticamente toda sua vida em Alexandria. O primeiro mapa do mundo foi criado por ele, onde são as coordenadas que localizam os pontos, e a superfície da Terra é tratada como uma esfera. É importante ressaltar que Ptolomeu reuniu em sua grande obra as grandes conquistas que se haviam acumulado, em especial as de Hiparco que rejeitou a hipótese heliocêntrica de Aristarco. Assim como Aristóteles, Ptolomeu considerava as estrelas fixas, como sendo imutáveis. Apesar de a maioria de suas obras terem sido destruídas nos incêndios da Biblioteca de Alexandria, uma tradução em árabe foi salva, conhecida como Almagesto. Nessa obra estão resumidos, de maneira nunca vista antes, concepções fundamentais de mundo, Terra, Lua, Sol, planetas, estrelas e seu funcionamento, tendo como ponto central a Terra, ou seja, um mundo geocêntrico. O geocentrismo era o primeiro modelo universal de funcionamento do mundo em que se tinha convicção daquilo, dominando por muitos séculos, até o Renascimento. A Terra como o centro do universo foi a primeira e mais importante ótica do modelo de mundo criado por Ptolomeu, onde as estrelas estavam fixas na esfera que limitava o mundo. Como já lemos neste trabalho, na antiguidade os planetas eram tidos como divindades, pois faziam manobras e tinham movimentos que só poderiam ser explicados como sendo de características divinas. No entanto, Ptolomeu contrariou essa crença e criou um modelo que buscava explicar esses movimentos de outra maneira. Para isso, ele criou a teoria dos epiciclos (figura 10), onde mesmo o movimento da Lua, embora 9 https://www.mlady-vedec.eu/blog/entry/klaudios-ptolemaios acesso em 23.11.2018 https://www.mlady-vedec.eu/blog/entry/klaudios-ptolemaios Welton Maylon Garcez de Oliveira e Rudinei Celso de Souza Jantsch 12 sendo em volta da Terra, se faz ao redor de um centro de pequeno raio, ou seja, o epiciclo que, por sua vez, gira em movimento circular uniforme ao redor da Terra. A órbita de cada astro em torno de um centro hipotético recebeu o nome de epiciclo e a órbita desse centro em torno da Terra foi chamada de deferente. Figura 10: Epiciclo de Ptolomeu10 Com isso, foi possível explicar os diferentes movimentos e manobras dos planetas, que eram chamados de estrelas errantes, por brilharem assim como as estrelas. Pela primeira vez os movimentos e conhecimentos sobre o céu eram explicados de maneira simultânea, ou seja, em uma única teoria. Tal modelo podia até mesmo prever variações das posições de astros, sem precisar colocar nessa conta as antes costumeiras características divinas. Por fim, é importante destacar que o modelo ptolomaico continha toda a física deixada por Aristóteles. Por mais que Ptolomeu viveu muitos séculos depois de Aristóteles, as explicações de como a natureza funcionava, os movimentos, a mecânica e demais conceitos estavam intrínsecos no modelo de Ptolomeu, entre eles a invariabilidade das estrelas e a possibilidade de a Terra não ser plana. 10 http://cienciahoje.org.br/coluna/o-essencial-e-invisivel-aos-olhos/ acesso em 23.11.2018. http://cienciahoje.org.br/coluna/o-essencial-e-invisivel-aos-olhos/ História da Astronomia Antiga: Um Breve Relato Dos Estudiosos Mais Influentes até Copérnico. 13 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY 2.8 NICOLAU COPÉRNICO Figura 11: Nicolau Copérnico (1473 - 1543)11 Possivelmente, nenhum trabalho semelhante a esse, que busca nomes de cientistas que tiveram grande contribuição para o desenvolvimento da astronomia, poderia deixar de fora o nome de Nicolau Copérnico, pois por meio de seus estudos foi possível chegarmos à concepção de mundo que temos hoje. “Em repouso, porém, no centro de tudo, encontra-se o Sol. Pois neste templo, de todos o mais belo, quem colocaria esta candeia noutro lugar ou numa posição melhor do que aquela a partir da qual pode iluminar tudo ao mesmo tempo? Não é ao acaso que o Sol é por algumas pessoas chamado lamparina do universo…” Com essa afirmação, Nicolau Copérnico, em sua obra “As Revoluções dos Orbes Celestes” (1543), mudou os rumos da astronomia, questionando a teoria de que a Terra ocupava o centro do universo, e revolucionando crenças astronômicas, para então ser reconhecido como o pai da astronomia moderna. Vale lembrar que, aproximadamente dois mil anos antes, Aristarco de Samos havia proposto esse mesmo modelo, onde o Sol ocupava o centro e a Terra girava ao seu redor com movimentos circulares, porém, foi rejeitado. Desde os gregos, Copérnico foi o primeiro a questionar as ideias geocentristas. Ele conseguiu enxergar algumas incoerências no sistema ptolomaico, principalmente na questão dos epiciclos, onde se acreditava que os planetas se moviam em um círculo cujo centro também girava sobre outro círculo ao redor da Terra. Copérnico tinha esse sistema como algo muito complicado, portanto, iniciou uma exploração de novas 11 https://www.infoescola.com/biografias/nicolau-copernico/ acesso em 20.11.2018. https://www.infoescola.com/biografias/nicolau-copernico/ Welton Maylon Garcez de Oliveira e Rudinei Celso de Souza Jantsch 14 possibilidades que se adequassem nas provas disponibilizadas. Assim, chegou à conclusão de que todos os planetas se moviam ao redor do Sol que, por sua vez, era fixo e não se movia, e a Lua girava ao redor da Terra, também girando em torno de si mesma uma vez por dia. Nessa configuração, havia ainda uma esfera de estrelas fixas (figura 10). Figura 12: Sistema idealizado por Copérnico12 Copérnico organizou os planetas que eram conhecidos na época a partir do Sol, sendo eles: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno. Com o heliocentrismo, Copérnico conseguiu demonstrar muitas coisas, entre elas que alguns planetas se movimentavam de maneira retrógrada no céu, além de explicar de forma correta a origem dos equinócios e dar uma explicação mais plausível sobre as estações. Contudo, havia uma certa cautela sobre o que se dizia e com quem dizia determinadas coisas nessa época, seja por receio da zombaria, pelo fato de não ter prova de que a Terra se movia, ou por questões religiosas. Assim, ele discutiu essas ideias, por um bom tempo, somente com seus amigos mais próximos. Porém, em 1540, Copérnico autoriza a publicação de suas ideias, no livro “De revolutionibus orbium coelestium”, que significa: Das revoluções dos corpos celestes. Quando seu livro terminou deser editado, em 1543, ele faleceu, com 67 anos. 12 https://www.astromia.com/fotohistoria/heliocentrico.htm acesso em 23.11.2018 https://www.astromia.com/fotohistoria/heliocentrico.htm História da Astronomia Antiga: Um Breve Relato Dos Estudiosos Mais Influentes até Copérnico. 15 Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia - RELEA, n. X, p. X-Y, 20XY 3. CONCLUSÕES Este artigo apresentou uma sequência histórica de alguns cientistas que, ao nosso ver, foram de extrema importância para o desenvolvimento do conhecimento de astronomia ao longo dos tempos. Com este trabalho, foi possível compreender um pouco mais sobre os caminhos percorridos e as dificuldades encontradas pelos cientistas quando a falta de aparelhos que os auxiliassem exigia deles uma capacidade extrema de observação e criatividade. Como vimos no decorrer do texto, observava-se o céu a olho nu e, a partir disso, com o uso de artifícios matemáticos e de enorme capacidade cognitiva e esforço extremo, criavam-se as teorias. Muitas perduraram por anos como uma verdade infalível, até mesmo fazendo descobertas, como no caso de Aristarco de Samos e sua ideia heliocentrista não serem aceitas, pois iam contra essas verdades. Porém, com o tempo, o conhecimento foi se construindo, descortinando horizontes e derrubando crenças. 4. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que, de alguma maneira, tornaram possível a realização deste trabalho, em especial ao Instituto Federal do Paraná, pela oportunidade de tornar possível a construção do conhecimento. 5. REFERÊNCIAS FILHO, K. S. O.; SARAIVA, M. de F. O. Astronomia antiga, 2006. Disponível em: http://astro.if.ufrgs.br/antiga/antiga.htm; Acesso em: 13 nov. 2018. HORVATH, J. E. O ABCD da Astronomia e Astrofísica. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2008. OLIVEIRA, T. B.; LIMA, V. T.; BERTUOLA, A. C. Aristarco revisitado. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 38, n. 2, e2304, 2016. RONAN, COLIN A. A História Ilustrada da Ciência, vol. III - Universidade de Cambridge – Rio de janeiro: Editora Jorge Zahar, 2001. ROONEY, ANNE. A história da Astronomia: Dos planetas e estrelas aos pulsares e buracos negros. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda., 2018. SAGAN, CARL. Cosmos. São Paulo: Companhia das letras, 2017. 487p. http://astro.if.ufrgs.br/antiga/antiga.htm