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CONSTRUÇÃO CIVIL Alessandra Martins Cunha André Luís Abitante Caroline Schneider Lucio Lélis Espartel Ronei Tiago Stein Vinicius Simionato Pavimentação: materiais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as propriedades importantes dos agregados e dos ligantes asfálticos. � Conhecer os principais ensaios que caracterizam agregados, solos e ligantes asfálticos. � Avaliar as combinações dos tipos de material que podem compor base, sub-base e reforço do subleito. Introdução Neste texto, você conhecerá o mundo dos materiais que compõem um pavimento. Um pavimento típico possui diversas camadas (revestimento, base, sub-base, reforço do subleito) assentadas sobre uma fundação que é chamada de subleito. Cada camada do pavimento pode ser constituída por uma infinidade de materiais. Como você deve imaginar, a escolha desses materiais vai refletir no desempenho do pavimento. Ele pode ser mais rígido ou mais flexível, ter maior ou menor resistência à tração, ser mais ou menos permeável. No momento de fazer o projeto de um pavimento, é essencial conhecer a resposta que cada material pode oferecer à estrutura de pavimentação. Agregado Todos os revestimentos de pavimentos são constituídos por uma associação de agregados com um ligante, que pode ser asfáltico ou o cimento. É importante conhecer e selecionar as propriedades de um agregado para que a mistura com o ligante resulte em um revestimento satisfatório. O agregado escolhido para uma determinada utilização deve apresentar propriedades que suportem tensões impostas na superfície do pavimento e também em seu interior. A escolha é feita em laboratório, e uma série de ensaios é utilizada para a predição de seu comportamento. Você deve saber que as principais rochas utilizadas como fonte de agregado são: basalto, gabro, gnaisse, granito, quartzito e riolito. Granulometria A distribuição granulométrica dos agregados é uma das suas principais carac- terísticas. Ela efetivamente influi no comportamento dos revestimentos. Em misturas asfálticas, a granulometria influencia quase todas as propriedades importantes, incluindo rigidez, estabilidade, durabilidade, permeabilidade, trabalhabilidade, resistência à fadiga e à deformação permanente. A distribuição granulométrica é determinada por meio do peneiramento dos agregados. A massa retida em cada peneira é comparada à massa total da amostra e apresentada como porcentagem. Como resultado do ensaio, se obtêm as curvas granulométricas, que você pode ver na Figura 1. Figura 1. Exemplo de curva granulométrica. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003). Construção civil244 Você necessita dos seguintes parâmetros para obter informações e poder interpretar a curva granulométrica: Diâmetro efetivo ou D10: é o ponto característico da curva granulométrica para medir a finura do solo, que corresponde ao ponto de 10%. Ou seja: 10% das partículas do solo possuem diâmetros inferiores a ele. Coeficiente de uniformidade ou Cu: dá uma ideia da distribuição do tamanho das partículas do solo. Valores próximos de 1 indicam curva granu- lométrica quase vertical, com os diâmetros variando em um intervalo pequeno. Já para valores maiores, a curva granulométrica irá se abatendo e o intervalo de variação dos diâmetros, aumentando. Da mesma que foi definido D10, se define D30 e D60. Cu = D60 / D10 A representação da curva granulométrica em papel semilogaritmo apre- senta vantagens. Isso ocorre porque os solos com Cu aproximadamente iguais serão representados por curvas paralelas. Os solos que apresentam Cu < 5 são denominados uniformes; e os que têm Cu > 15, desuniformes. Aqueles com valores de Cu entre 5 e 15 são denominados de medianamente uniformes. Coeficiente de curvatura: dá uma medida da forma e da simetria da curva granulométrica e é igual a: Cc = (D30) 2 / (D60 · D10) Para um solo bem graduado, o valor do coeficiente de curvatura deverá estar entre 1 e 3. Portanto, a distribuição do tamanho de partículas é proporcional, de forma que os espaços deixados pelas partículas maiores sejam ocupados pelas me- nores. Para solos granulares, há maior interesse no conhecimento do tamanho das partículas. Isso acontece porque algumas de suas propriedades estão relacionadas com esses solos, o que não ocorre com os solos finos. 245Pavimentação: materiais Principais ensaios de laboratório dos agregados A seguir, você pode observar os ensaios englobados pelos testes feitos em laboratório para prever o comportamento do agregado: � Resistência à abrasão: mede a habilidade para resistir a quebras, de- gradação e desintegração. � Índice de forma: influencia a trabalhabilidade e a resistência ao cisalha- mento. Partículas irregulares ou de forma angular tendem a apresentar melhor intertravamento. � Absorção: indica a quantidade de água que o agregado absorve quando submerso. Um agregado também deve absorver o ligante, dando coesão à mistura. � Adesividade: analisa o efeito da água ao separar ou descolar a película de ligante da superfície do agregado. � Sanidade: caracteriza a resistência à desintegração química do agregado por meio de ensaio que consiste em atacá-lo com solução saturada. Ligantes asfálticos Na maioria dos pavimentos brasileiros, se usa como revestimento uma mistura de agregados minerais de vários tamanhos com ligantes asfálticos. Ela garante impermeabilidade, flexibilidade, estabilidade, durabilidade, resistência à derrapagem, resistência à fadiga e resistência à fratura na tração térmica, de acordo com o clima e o tráfego previsto para o local. Para responder adequa- damente a todos esses requisitos, é necessário conhecer o material que faz a ligação entre os agregados que compõem o revestimento. A seguir, você vai compreender melhor a diferença entre betume e asfalto: Betume: mistura de hidrocarbonetos de elevado peso molecular, solúvel no bissulfeto de carbono, que compõe o asfalto. Asfalto: material cimentante, preto, sólido ou semissólido, que se liquefaz quando aquecido, composto de betume e alguns outros metais. Pode ser encon- trado na natureza (CAN), mas em geral provém do refino do petróleo (CAP). Tipos de ligantes asfálticos � Cimentos asfálticos de petróleo (CAP): mistura química complexa cuja composição varia com o petróleo e o processo de produção. Do Construção civil246 seu peso molecular, 95% são hidrocarbonetos. Para ser usado, deve ser aquecido. � Asfaltos diluídos de petróleo (ADP): diluição de CAP em derivados de petróleo para permitir a utilização à temperatura ambiente. Deno- minação dada segundo a velocidade de evaporação do solvente: ■ Cura rápida (CR) –solvente é a gasolina ou a nafta. ■ Cura média (CM) –solvente é o querosene. � Asfalto espuma: técnica de espumação especial do asfalto que consiste em promover o aumento de volume do CAP por choque térmico, pela injeção de um pequeno volume de água à temperatura ambiente, em um asfalto aquecido. Tem como objetivo diminuir a viscosidade do asfalto e melhorar a sua dispersão quando ocorre a mistura com agregados. � Emulsões asfálticas (EAP): dispersão do CAP em água com o uso de emulsificante. Existem vários tipos, identificados pelo tempo de ruptura, pela carga da partícula e pela finalidade. Propriedades físicas do asfalto O asfalto é utilizado na pavimentação porque ele tem propriedades muito importantes e úteis que são aplicadas no revestimento de uma camada de pavimento. Você pode observar essas propriedades a seguir: � Adesivo termoplástico. ■ Passa do estado líquido ao sólido de maneira reversível. ■ A colocação no pavimento se dá a altas temperaturas; por meio do resfriamento, o CAP adquire as propriedades de serviço, o que reflete em seu comportamento viscoelástico. � Impermeável à água. � Quimicamente pouco reativo (garante boa durabilidade). 247Pavimentação: materiais Todas as propriedades físicas do asfalto estão associadasà sua temperatura. Em tem- peraturas muito baixas, as moléculas não têm condições de se mover e a viscosidade fica muito elevada, se comportando praticamente como um sólido. Com o aumento da temperatura, essa situação é revertida e a movimentação das moléculas aumenta. Essa transição é reversível. Os principais ensaios para avaliar cimentos asfálticos são: � Penetração: profundidade a que uma agulha de massa padrão penetra numa amostra de volume padrão. A consistência do CAP é maior quanto menor for a penetração da agulha. � Viscosidade: medida da consistência do cimento asfáltico, por resistência ao escoamento. � Ponto de amolecimento: medida empírica que correlaciona a tempera- tura na qual o asfalto amolece quando aquecido sob certas condições particulares e atinge uma determinada condição de escoamento. � Dutilidade: mede a capacidade do material de se alongar na forma de um filamento, avalia indiretamente a coesão do asfalto. � Solubilidade: mede a quantidade de betume presente na amostra de asfalto. Uma amostra é dissolvida por um solvente, e a porção insolúvel é constituída de impurezas. Material para base, sub-base e reforço do subleito Os materiais para as camadas inferiores ao revestimento, quando compactados, devem apresentar boa resistência, baixa deformabilidade e uma permeabilidade que seja compatível com a função da camada na estrutura. Os materiais são basicamente constituídos por agregados, solos e, eventualmente, aditivos como cimento, cal e emulsão asfáltica, entre outros. A seguir você pode conhecer os principais materiais para base, sub-base e reforço do subleito: Construção civil248 � Granulares: não possuem coesão nem resistem à tração (brita graduada simples, brita corrida, macadame hidráulico, misturas estabilizadas granulometricamente). � Solos coesivos: resistem à compressão e também à tração de pequena magnitude graças à coesão dada pela fração fina (solo-agregado, solo natural, solo melhorado com cal). � Materiais estabilizados quimicamente ou cimentados: têm um acrés- cimo significativo na rigidez, aumentando a resistência à tração e a compressão. � Materiais asfálticos: podem ser classificados como coesivos. A ligação entre os agregados é dada pelo ligante asfáltico. Possui resistência à tração maior que solos argilosos. Brita graduada simples Material largamente utilizado como base de pavimentos asfálticos. Possui distribuição granulométrica bem graduada, com diâmetro máximo de 38 mm e finos entre 3% e 9%. Essas características resultam em intertravamento do esqueleto sólido e boa resistência. Os agregados são comumente derivados de rochas britadas. Macadame hidráulico Material largamente utilizado na execução das primeiras rodovias do Brasil. Trata-se de uma camada granular, composta por agregados graúdos, naturais ou britados, cujos vazios são preenchidos em pista por agregados miúdos e aglutinados pela água. A estabilidade é obtida por meio da compactação. Dependendo do tipo de subleito, se deve utilizar uma camada de bloqueio, de modo a evitar o cravamento do agregado graúdo no solo. O macadame possui uma permeabilidade maior que a brita graduada simples. Se os materiais forem bem selecionados e houver uma execução adequada, o macadame apresenta alta resistência e baixa deformabilidade. 249Pavimentação: materiais Solo-agregado estabilizado granulometricamente O solo-agregado é uma mistura que contém britas, pedregulhos ou areia, predominantemente. Inclui ainda silte, argila e material fino, ou seja, passante na peneira 200. É possível dividir o solo-agregado em três tipos distintos, como você pode observar a seguir: a) Contato grão-grão: baixa densidade, permeável, não suscetível a mu- danças devido à umidade, difícil compactação. b) Finos preenchem os vazios: alta densidade, permeabilidade menor que o tipo A, resistente, baixa deformabilidade, dificuldade moderada de compactação. c) Matriz de finos: baixa densidade, baixa permeabilidade, mistura é afetada por variação de umidade, fácil compactação. Para pavimentos, os mais utilizados são os tipos A e B, em que o contato grão-grão é garantido. O solo tipo C é utilizado misturado com o B, sendo chamado de solo-brita ou solo-areia. Brita graduada tratada com cimento Indicada para vias com alto volume de tráfego. Quando empregada em pavi- mentos asfálticos, compõe o pavimento chamado de semirrígido, no qual a base ou sub-base é cimentada e o revestimento é flexível. Solo-cimento Utilizado na década de 1960, quando as obras de pavimentação se estende- ram para regiões com escassez de pedreiras. Estabiliza quimicamente o solo com cimento Portland, empregando um percentual em massa de cimento da ordem de 3% a 9%. Quanto maior essa porcentagem, maior o enrijecimento do solo. Para utilização em camadas de base ou sub-base, o subleito deve ter boa capacidade de suporte para que o solo-cimento seja compactado de forma Construção civil250 eficiente. O solo melhorado por cimento é empregado principalmente para alterar a plasticidade e melhorar a trabalhabilidade de certos solos em pista. Solo-cal Possui os mesmos objetivos do solo-cimento: enrijecimento ou aumento da trabalhabilidade e redução da expansão. Aplicado preferencialmente em solos argilosos e siltosos caulínicos. Funciona bem como sub-base ou reforço do subleito. Índice de suporte califórnia O Índice de Suporte Califórnia (ISC) é a característica mais aceita para avaliar o com- portamento de um solo (ou agregado) para emprego nas camadas granulares e no subleito. É a relação percentual entre a pressão necessária para fazer penetrar um pistão em uma amostra de solo e a pressão necessária para o mesmo pistão penetrar, à mesma profundidade, em uma amostra padrão de pedra britada. Aqui, se avalia indiretamente a resistência e a expansibilidade do solo. A descrição desse ensaio é encontrada na norma do DNER: DNER-ME 049/94. Existem duas normas do DNIT que abordam a execução da camada de reforço do subleito e a camada de regularização do subleito. 251Pavimentação: materiais Construção civil252 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR NM 248:2003. Agregados – Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. BRASIL. Ministério dos Transportes. Departamento Nacional de Estradas e Rodagem. DNER-ME 049/94. Brasília: MT, 1994. BRASIL. Ministério dos Transportes. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. DNIT 137/2010-ES. Pavimentação – Regularização do subleito – Especi- ficação de serviço. Brasília: MT, 2010. BRASIL. Ministério dos Transportes. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. DNIT 138/2010-ES. Pavimentação – Reforço do subleito – Especificação de serviço. Brasília: MT, 2010. Leitura recomendada PEURIFOY, R. L. et al. Planejamento, equipamentos e métodos para a construção civil. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Conteúdo: