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Libras MARIA ESTHER DE ARAÚJO 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Maria Esther de ARAÚJO Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumario Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 Sobre a Surdez .............................................................................................................................................................. 7 Capítulo 2 A Cultura Surda ............................................................................................................................................................17 Capítulo 3 Aspectos políticos da inclusão ...............................................................................................................................25 Capítulo 4 Acessibilidade, Inclusão Social e Educação .......................................................................................................30 Capítulo 5 Língua e Linguagem e a LIBRAS ...........................................................................................................................39 Capítulo 6 Estrutura Gramatical da LIBRAS ............................................................................................................................49 Referências ..........................................................................................................................................................................56 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução XX Objetivos » XXXX 7 Apresentação Diversos fatores interferem na audição diminuindo a capacidade auditiva. Conhecer a anatomia auditiva favorece a compreensão do tipo de perda, a interferência na comunicação e no processo ensino-aprendizagem. Os fatores causais estão diretamente relacionados ao tipo de perda e à capacidade de socialização, interação e comunicação; portanto, compreender quais são os fatores que levam a uma baixa auditiva é fundamental para uma boa interação com o sujeito surdo. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Reconhecer a anatomia auditiva e suas funções. » Compreender o tipo de perda e sua relação com a comunicação oral. » Entender a interferência da surdez no processo ensino aprendizagem. 1CAPÍTULOSOBRE A SURDEz 8 CAPÍTULO 1 • SOBRE A SURDEz Sobre a surdez e o surdo A Linguagem e Surdez A linguagem é o sistema pelo qual o indivíduo expressa suas ideias, pensamento, opiniões e sentimentos. É a linguagem que permite ao homem organizar seu pensamento, traduzir o que sente, registrar o que conhece e comunicar-se com outros indivíduos. É a linguagem que marca o ingresso do indivíduo na cultura, construindo-se como sujeito, definido sua identidade colocando-se como parte de uma comunidade. A linguagem tem sido objeto de pesquisa e discussões referentes à aptidão linguística, tendo em vista a discussão sobre falhas decorrentes de distúrbios sensoriais, como a surdez. Chomsky (1994), em seus estudos, afirma que as crianças não seriam capazes de aprender a língua materna caso não fizessem determinadas suposições iniciais sobre como o código deve ou não operar. Nesse sentido, a palavra possibilita que o indivíduo desenvolva atividades mentais fundamentais para a formação da consciência, assegurando o processo de abstração e generalização, além de ser veículo de transmissão do saber. Os indivíduos ouvintes utilizam os dois processos da linguagem: o verbal e o não verbal. Nos indivíduos que apresentam surdez congênita e pré-verbal, o desenvolvimento da linguagem verbal, de forma natural é bloqueada, mas isso não impede o desenvolvimento dos processos não verbais. A fase de zero a cinco anos de idade é decisiva para a formação psíquica do ser humano, já que é nesse período que ocorre a ativação das estruturas inatas genético-constitucionais da personalidade do sujeito. Os processos de desenvolvimento do pensamento e da linguagem incluem o conjunto de interações entre a criança e o ambiente. Os estímulos presentes em um ambiente linguístico são essenciais para que essas estruturas sejam ativadas, ou seja, a criança ouve e aprende a língua oral (LURIA, 1986). Nos casos de crianças surdas, os estímulos auditivos não são percebidos, gerando transtornos na aquisição da linguagem oral. Isso não significa que esta criança não possui a capacidade de se comunicar, já que o ser humano possui dois sistemas para a produção e reconhecimento da linguagem: O sistema sensorial, que utiliza da anatomia visual/auditiva e vocal (línguas orais) e o sistema motor, que utiliza a anatomia visual e da anatomia da mão e do braço (línguas de sinais). SISTEMA ANATOMIA LÍNGUA Sistema Sensorial Utiliza a anatomia visual/auditiva e vocal. Línguas orais. Sistema motor Utiliza a anatomia visual e da anatomia da mão e do braço. Línguas de sinais. 9 SOBRE A SURDEz • CAPÍTULO 1 Um dos grandes desafios dos profissionais que estudam e atuam com os surdos é o de superar a barreira da aprendizagem e uso da língua oral. Essa dificuldade está proporcionalmente relacionada ao tempo de privação da audição, ou seja, quanto maior o tempo de privação sonora, maior a dificuldade em da aprendizagem e uso da lingual oral. Considerando os surdos congênitos (nascidos surdos) maiores serão suas dificuldades educacionais, caso não receba atendimento adequado. A capacidade de comunicação linguística no processo de desenvolvimento da criança surda é um dos principais condutores no desenvolvimentoda potencialidade do surdo. Sua capacidade de se comunicar permitirá que desempenhe seu papel social, integrando-se verdadeiramente na sociedade. Para que isso aconteça é necessário desenvolver alternativas que possibilitem aos surdos o desenvolvimento desse potencial linguístico. Alternativas que não tenham como ênfase a aprendizagem da língua portuguesa oral sobre a cognição do surdo. Essas alternativas devem considerar a substituição do canal auditivo por outros, em destaque o visual, o motor e o tátil. Deve-se atentar, também, para aproveitar os resíduos auditivos do surdo, ou seja, os estímulos auditivos que podem ser percebidos, com ou sem o uso de aparelhos de amplificação auditiva – as próteses auditivas. De fato, a audição é um sentido de valor inestimável. Por meio da captação das informações sonoras, a audição nos coloca dentro do mundo e da comunicação humana, sendo imprescindível para o preestabelecimento da linguagem. Para que haja a aquisição e o desenvolvimento normal da linguagem, é necessária a integridade anátomo-fisiológica do sistema auditivo e adequada estimulação, viabilizando a experiência acústica necessária ao aprendizado linguístico. Esse é o processo natural e, quando há alguma interferência na captação, condução ou transformação dessa energia, ocorre o que chamamos de surdez (FROTA, 2006). Ainda assim, observa-se que a pessoa com surdez tem as mesmas possibilidades de desenvolvimento que a pessoa ouvinte, precisando somente que tenha suas necessidades especiais supridas, visto que o natural do homem é a linguagem. Surdez O termo “surdez” é o mais utilizado para indicar a dificuldade ou impossibilidade de ouvir. É considerado surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum e parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. Deficiência auditiva é “a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, comprovada por audiograma nas frequências de 500 hertz, e 2.000 hertz”. Lei no 5.296/2004 10 CAPÍTULO 1 • SOBRE A SURDEz A surdez apresenta classificações e graus diferenciados, de acordo com a sua origem ou causa. Para melhor compreender esse processo, vamos conhecer um pouco na anatomia da orelha e das perdas auditivas (DOUGLAS, 2006). “Surdo-mudo” é uma denominação arcaica e incorreta para se referir ao surdo. Este termo não é utilizado pelo grupo que pertence à comunidade surda, pois MUDEZ é a impossibilidade de falar ou problema relacionado à emissão da voz. Entre os profissionais da educação e saúde, o termo comumente utilizado é “Deficiência auditiva”. É o termo técnico utilizado para indicar perda de audição ou diminuição na capacidade de escutar os sons. Qualquer problema que ocorra em algumas das partes do sistema auditivo pode levar a uma deficiência na audição. Geralmente, este termo não é utilizado pelo grupo que pertence à comunidade surda. De forma simplificada, a surdez pode ser dividida em dois grupos: parcialmente surdos e surdos. » Parcialmente surdos – São aqueles que possuem surdez leve, moderada e acentuada. » Surdos – São aqueles que possuem surdez severa, profunda e anacusia. Anatomia da orelha A orelha é o órgão responsável pela audição e pelo equilíbrio. Sua maior parte fica localizada no osso temporal, sendo dividida em três partes: Orelha Externa: responsável pela captação da energia sonora. É composta pelo pavilhão auditivo, o canal auditivo externo ou meato auditivo e a membrana timpânica. É a região visível do sistema auditivo e tem como função captar e canalizar sons que serão conduzidos à orelha média. Orelha Média: responsável pela condução da energia sonora. Dentro da cavidade do osso temporal, é composta pela tuba auditiva, que faz a ligação entre a orelha média e a nasofaringe, equilibrando a pressão e drenando secreções, e por três ossículos, chamados martelo, bigorna e estribo, afixados por ligamentos à parede da orelha. As vibrações da membrana timpânica são transmitidas a estes ossinhos, que conduzem a energia sonora para a orelha interna. 11 SOBRE A SURDEz • CAPÍTULO 1 Orelha Interna: responsável pela transformação da energia sonora em energia elétrica, bem como pelo equilíbrio. Consiste em escavações no osso temporal, que se comunica com a orelha média. A orelha interna possui duas regiões, uma com função de equilíbrio, denominada labirinto ou canais semicirculares e outra com função auditiva, denominada cóclea. Ao receber o estímulo conduzido pela orelha média, a cóclea se encarrega em desencadear o processo de transformar o estímulo mecânico em estímulo elétrico, percebido e decodificado pelo sistema nervoso central, completando o ciclo da audição. Figura 1 – Sistema Auditivo Periférico Fonte: Anatomia (2011) Categorias ou classificações das perdas auditivas As perdas auditivas podem ser classificadas em relação ao local da lesão, ou seja, em que parte anatômica do sistema auditivo ela acontece (tipo de perda) ou em relação à quantidade de estímulo/energia sonora que se perde (grau da perda) (FROTA, 2006). Classificação da perda auditiva de acordo com o local da lesão – tipo TIPO OCORRÊNCIA / DEFINIÇÃO Deficiência Auditiva Condutiva » Causada por um problema localizado na orelha externa e/ou média. » Esta deficiência, em muitos casos, é reversível e geralmente não precisa de tratamento com aparelho auditivo, apenas cuidados médicos. 12 CAPÍTULO 1 • SOBRE A SURDEz Deficiência Auditiva Neurossensorial » Decorrente de lesão na orelha interna. » nesse caso há uma diminuição na capacidade de receber os sons, provocada por um problema no mecanismo de percepção do som desde o ouvido interno até o cérebro. Deficiência Auditiva Mista » Ocorre quando há uma alteração de origem condutiva somada a sensório-neural, a associação dos dois tipos de perda. Ou seja, quando o problema está localizado em ambos os mecanismos numa mesma pessoa. Deficiência Auditiva Central » Ocorre quando há alterações nos mecanismos de processamento da informação sonoro, no sistema nervoso central. » não é, necessariamente, acompanhada de diminuição da sensitividade, ou seja, da percepção da presença do som. Classificação da perda auditiva de acordo com o a energia sonora perdida – grau, de acordo com northern e Dows (1984) Esta é outra classificação que pode ser dada às perdas auditivas, para crianças até 7 anos. Quanto maior o grau da perda, maior o comprometimento auditivo. Na tabela a seguir é possível compreender o que o indivíduo com deficiência auditiva consegue ouvir sem o recurso do amplificador sonoro – a prótese auditiva: Denominação Nível O que consegue ouvir sem amplificação Audição normal Até 15 dB Consegue ouvir, sem amplificação, todos os sons da fala. Perda auditiva discreta ou mínima 16 a 25 dB As vogais são ouvidas claramente, mas pode apresentar discreta dificuldade com consoantes surdas. Perda auditiva leve 26 a 40 dB Ouves somente alguns dos sons da fala; os fonemas sonoros mais fortes. Perda auditiva moderada 41 a 65 dB Perda a maior parte dos sons da fala em um nível de conversação normal. Perda auditiva severa. 66 a 95 dB não ouve os sons da fala de uma conversação normal. Perda auditiva de grau profundo Acima de 95 dB não ouve fala ou outros sons. A Organização Mundial da Saúde (OMS) utiliza outra classificação para deficiência auditiva, apresentada na tabela a seguir: Grau Perda Auditiva em dB Audição normal Até 25 Deficiência auditiva leve 26 a 40 Deficiência auditiva moderada 41 a 60 Deficiência auditiva grave 61 a 80 Deficiência auditiva muito grave incluindo surdez 81 ou mais 13 SOBRE A SURDEz • CAPÍTULO 1 Comportamento auditivo » Parcialmente Surdos: › Surdez leve: No caso de surdez de grau leve, o indivíduo pode ser considerado desatento, já que normalmente solicita que o interlocutor repita o que lhe falou. Nesses casos, a deficiência não impede a aquisição normal da linguagem, mas poderá causaralgum problema de articulação, produzindo troca de fonemas na fala ou dificuldade na leitura e escrita. › Surdez moderada: Observa-se uma dificuldade em perceber, com clareza, o que se fala pelo telefone e mesmo em uma conversação direta, o que leva a muitas trocas nas palavras ouvidas por outra foneticamente semelhante (pato/rato). Nesse caso é frequente o atraso da linguagem. Normalmente, é necessário um apoio visual para facilitar a compreensão do que foi dito. O indivíduo, com uma surdez de grau acentuado, apresenta atraso de linguagem e alterações articulatórias, ocasionando maiores problemas linguísticos. » Surdo › Surdez severa: A compreensão verbal vai depender da habilidade em se fazer a leitura labial. Crianças com surdez severa costumam atingir os 4 ou 5 anos de idade sem ter aprendido a falar, e necessitam de um atendimento especializado para adquirir a linguagem oral. › Surdez profunda: A perda auditiva é acima de 91 dB, e o indivíduo não percebe nem identifica a voz humana, o que acaba por impedir a aquisição da linguagem oral. Os sons percebidos são os graves que transmitem vibração (trovão, helicóptero). Esta perda é considerada muito grave, o que leva à necessidade de um atendimento especializado desde a mais tenra idade para que se adquira a linguagem oral. O termo “anacusia” é utilizado para a falta total de audição e, nesses casos, o surdo deve ser trabalhado e estimulado o mais precocemente possível, tendo como conduta pedagógica o mesmo da surdez profunda. 14 CAPÍTULO 1 • SOBRE A SURDEz Causas das perdas auditivas São vários os fatores que podem causar uma deficiência auditiva. Tanto a identificação do fator causal quanto o momento em que a lesão ocorre são fundamentais para traçar um bom trabalho com o indivíduo surdo ou ensurdecido. Podemos classificar a deficiência auditiva quanto ao momento em que ocorre a lesão (FROTA, 2006): Pré-natal (durante a gestação) São perdas auditivas que podem ser causadas por desordens genéticas, consanguinidade, doenças infectocontagiosas (como a toxoplasmose, a sífilis e a rubéola), uso de drogas e álcool pela mãe, desnutrição ou carência alimentar materna, hipertensão ou diabetes durante a gestação e exposição à radiação. São as perdas congênitas (nascidas com a perda) e não apresentam boa resposta medicamentosa ou cirúrgica. Perinatal (durante o nascimento) São as perdas adquiridas no momento do nascimento. Podem ter como causa a anoxia (falta de oxigenação), prematuridade, traumas do parto, estrangulamento de cordão umbilical, icterícia grave no recém-nascido e infecção hospitalar. Não apresentam boa resposta medicamentosa ou cirúrgica. Pós-natal (depois do nascimento) São as perdas adquiridas após o nascimento. Podem ser causadas por infecções (como meningite, sarampo, caxumba), o uso de remédios ototóxicos em excesso e sem orientação médica, a exposição excessiva a ruídos e a sons muito altos e o traumatismo craniano. Esses casos, normalmente, não apresentam boa resposta medicamentosa ou cirúrgica. Também podem ser causadas por processos alérgicos ou viroses que originam gripes e resfriados. Nesse caso, a resposta medicamentosa ou cirúrgica é satisfatória, podendo chegar a uma recuperação total. Sinais indicadores de surdez: » não se assustar com portas que batem ou outros ruídos fortes; » não acordar com música alta ou barulho repentino; » não atenderem quando são chamadas; » serem distraídas, desatentas, desligadas, apáticas, não se concentrarem; 15 SOBRE A SURDEz • CAPÍTULO 1 » não falar, após os dois anos de idade; » parecer ter atraso no desenvolvimento neurológico ou motor. Diagnóstico É primordial que a perda auditiva seja percebida nos primeiros meses de vida. Para isso, é necessário o empenho de profissionais qualificados na identificação da perda, no seu diagnóstico e na intervenção educacional, possibilitando um desenvolvimento mais qualitativo e melhor interação social. Um dos desafios da saúde pública é a obtenção desse diagnóstico o mais precocemente possível. Infelizmente, na maioria dos casos, a surdez só é percebida tardiamente. Por esse motivo, deu-se a criação da Lei no 12303, de 2 de agosto de 2010, que define como obrigatório o “Teste da Orelhinha”. Trata-se de um procedimento realizado através de Emissões Otoacústicas Evocadas (OEA). De acordo com o Joint Committee on Infant Hearing e o Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância, é fundamental que a triagem auditiva neonatal chegue a todas as crianças com até 90 dias de nascidas; se for detectada alguma alteração, que se façam os procedimentos cabíveis até 180 dias após o nascimento da criança, isso com o exame de emissões otoacústicas. O Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (CBPAI) e Triagem Auditiva Universal (TANU) também apoiam esse parâmetro. O exame não tem qualquer contraindicação, não acorda nem incomoda o bebê, não exige uso de agulhas ou qualquer outro objeto perfurante e é absolutamente inócuo, dura de 5 a 10 minutos, o recém-nascido não sente nada e é de simples compreensão. O diagnóstico precoce das perdas auditivas é essencial para o bom desenvolvimento da criança. É preciso que as alterações nas vias auditivas sejam diagnosticadas logo no início e que os fatores causadores da perda auditiva sejam identificados e, se possível, sanados, minimizando ou evitando prejuízos futuros. Embora o diagnóstico seja essencial, não basta saber que a perda auditiva existe. É necessário que haja estrutura para readaptação dessas crianças (FERNANDES, 2003). Cerca de 50% das perdas auditivas teriam os danos minimizados se tivessem sido diagnosticados precocemente ou eliminados os fatores de risco. (PEREIRA, 2004). Sugestão de estudo Uma boa dica de leitura são as revistas disponíveis no site http://www.crfa1.org.br/ Saiba mais Quer saber mais sobre a surdez e como prevenir? Consulte os manuais disponíveis no site http://www.fonoaudiologia.org.br/ 16 CAPÍTULO 1 • SOBRE A SURDEz Resumo Vimos até agora: » O conceito de surdez, a relação da surdez com a linguagem e comunicação, bem como alguns mitos e verdade sobre o surdo. » A anatomia das orelhas externa, média e interna e a relação com o tipo e classificações da perda auditiva. » Os fatores causais, tipo e grau da perda e a relação com a linguagem e comunicação. » A importância do diagnóstico precoce e do diagnóstico diferencial para o processo de socialização do surdo. 17 Apresentação A origem da língua de sinais deixa a necessidade de uma maior compreensão da riqueza que existe nessa forma de se comunicar, entendendo a língua de sinais como legítima e eficaz. Historicamente, os conflitos sociais, quanto à sua eficácia e legitimidade, demonstram o quanto à sociedade precisa quebrar a barreira do preconceito e entender o que o surdo e a Língua de Sinais é capaz de fazer. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Entender a origem da língua de sinais. » Refletir sobra às diferenças culturais surdas na história. » Refletir sobre os aspectos históricos e sociais na educação e socialização do sujeito surdo. » Compreender como se forma a cultura e identidade surda. » Refletir sobre as relações sociais que envolvem a comunidade surda. A Cultura Surda A comunicação por Língua de Sinais não é exclusividade brasileira. Na maioria do mundo há, pelo menos, uma Língua de Sinais (LS) usada pela comunidade surda de cada país e as comunidades surdas estão espalhadas pelo mundo, sendo grande e diversifica. Para refletirmos sobre os fundamentos políticos da inclusão social do surdo, é necessário um conhecimento básico da história de surdos. Conhecer a história de surdos nos possibilita mais do que a aquisição de conhecimentos, mas também bases para reflexão e questionamentos diversos relacionados à educação e inclusão social do surdo na atualidade. 2CAPÍTULOA CULtURA SURDA 18 CAPÍTULO 2 • ACULtURA SURDA Aspectos históricos e educacionais. Os contextos históricos em que os povos surdos estão inseridos possibilita uma visão dos diferentes “olhares” sobre sua aceitabilidade e as diversas tentativas de inclusão social. Os registros não são ricos, mas é possível notar os esforços de tornar os sujeitos surdos o mais próximo do modelo ouvinte, adotando estratégias, em sua maioria, excludentes, buscando adaptar o surdo a sociedade ouvinte, entendendo ser a surdez uma deficiência, em muito caos incapacitante. (SILVA, 2009). O povo surdo é grupo de sujeitos surdos que tem costumes, história, tradições em comuns e pertencentes às mesmas peculiaridades, ou seja, constrói sua concepção de mundo através da visão. É na Lei Hebraica que encontramos as primeiras referências aos surdos. Em diversos versículos bíblicos encontramos referências associando o divino a deficiências físicas como surdez e cegueira, entre outras. Êxodo - 4:11 E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR? Levítico - 19:14 Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR. Os egípcios acreditavam que os surdos eram seres divinos, capazes de se comunicarem com os deuses. Sendo assim, serviam de intermediários entre os faraós e as divindades, eram temidos e respeitados. Na Grécia, os surdos eram tratados como seres incompetentes, acreditando-se que por não possuírem uma linguagem, não eram capazes de raciocinar. Por serem considerados incapazes, não tinham direitos, eram marginalizados e muitas vezes condenados à morte. A história dos surdos começa mudar graças às discussões em torno das condições semi-humana delegada aos surdos. Alguns filósofos da época pensavam que os símbolos tinham que ser falados, já Sócrates possuía o seguinte pensamento. “Se não tivéssemos voz nem língua e ainda assim quiséssemos expressar coisas uns aos outros, não deveríamos, como aqueles que ora são mudos, esforçar-nos para transmitir o que desejássemos dizer com as mãos, a cabeça e outras partes do corpo?”. Relatos históricos de Sócrates Para refletir Por que nos dias atuais, mesmo com uma política de inclusão, o sujeito surdo continua excluído? 19 A CULtURA SURDA • CAPÍTULO 2 Influenciados pelos Gregos, os Romanos acreditavam que os surdos eram seres imperfeitos, excluindo-os da sociedade. Posteriormente defendeu-se a ideia de que os filhos surdos eram consequência de algum pecado cometido por seus pais, ou seja, filhos surdos pagavam pelo pecado de seus pais. Nesse período histórico, os surdos não tinham direitos a heranças, não frequentavam o meio social e eram proibidos de se casarem. Foi nesse período que os surdos começaram a despertar a atenção da igreja, preocupada com a impossibilidade do surdo se confessar e com o aumento do número de surdos nascidos em famílias nobres. Era comum o casamento consanguíneo na nobreza. Para que a herança fosse mantida na família era aceito casamento entre primos, sobrinhas e até irmãos, produzindo um aumento significativo de indivíduos com anomalias genéticas, incluído a surdez. Foi Santo Agostinho que defendeu a ideia que os surdos podiam comunicar por meio de gestos, que, em substituição à fala, eram aceitos para a salvação da alma. Dessa forma, é no século XII que encontramos os primeiros relatos sobre a educação dos surdos. O primeiro registro da utilização de uma técnica ou estratégia de ensino com surdo relata de 700 d.C. John Beverley foi o primeiro a ensinar uma pessoa surda a falar, sendo considerado por muitos como o primeiro educador de surdos. Ainda assim, os créditos de primeiro professor de surdo foi para o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de León que desenvolveu um alfabeto manual que ajudava os surdos a soletrar as palavras. Dando continuidade ao seu trabalho, Juan Pablo Bonet, padre espanhol, ensinou os surdos a lerem e a falarem, utilizando outra metodologia, o método oral. Foi John Bulwer, médico britânico, que defendendo o uso de gestos entre os surdos. Seguindo seus passos, John Wallis (1616 a 1703) desiste de ensinar os surdos à oralidade, dedicando-se a ensiná-los a escrever usando gestos (WIDELL, 1992). Sobre os Métodos... Língua de Sinais e Escola para Surdos. As discussões sobre os surdos geraram inquietações que acabaram por conduzir ao surgimento da língua de sinais bem como sua utilização no processo educacional. O abade Charles Michel de L´Epée foi um dos grandes responsáveis por esse avanço. No século XVII, L’Epée, movido por questões religiosas reuniu os surdos dos arredores de Paris, criando a primeira escola pública para surdos. (MOURA. 1997) 20 CAPÍTULO 2 • A CULtURA SURDA Os surdos não tinham acesso aos ensinamentos do catolicismo e não tinham direito a confissão de pecados. L´Epée aprendeu os sinais e iniciou a educação de surdos na França e, além dos ensinamentos religiosos, ensinou conhecimentos a nível escolar. “[...] E então, associando sinais a figuras e palavras escritas, o abade ensinou-os a ler; e com isso, de um golpe, deu-lhes o acesso aos conhecimentos e à cultura do mundo”. Sacks (2002, p.30) Outro aspecto relevante em sua metodologia foi à presença de um intérprete da língua de sinais, que auxiliava no processo de ensino aprendizagem. Esse pode ter sido o fator mais importante que justifica seu sucesso com a educação de surdos foi. O sistema metódico de L´Epée – uma combinação da língua de sinais nativa com gramática francesa traduzida em sinais – permitia aos alunos surdos escrever o que era dito por meio de um intérprete que se comunicava por sinais, um método tão bem sucedido que, pela primeira vez, permitiu que alunos surdos comuns lessem e escrevessem em francês e, assim, adquirissem educação. Sacks (2002, p.30) Embora a metodologia tenha apresentado resultados positivos, seu desenvolvimento foi abafado pela crença de que o surdo não possuía a mesma capacidade de aprendizagem que o ouvinte. Isso levou os surdos uniram-se cada vez mais em prol de uma comunidade, de uma cultura e de uma língua. O Oralismo Em 1880, tendo como base as discussões geradas no Congresso de Milão, defini-se uma nova corrente na educação dos surdos: a oralista. Trata-se de um método que considera a voz como o único meio de comunicação e de educação para os surdos, que passou a ser adotado como metodologia única, sendo excluídas todas as possibilidades de uso das línguas de sinais na educação dos surdos. O sistema metódico de L´Epée – uma combinação da língua de sinais nativa com gramática francesa traduzida em sinais – permitia aos alunos surdos escrever o que era dito por meio de um intérprete que se comunicava por sinais, um método tão bem sucedido que, pela primeira vez, permitiu que alunos surdos comuns lessem e escrevessem em francês e, assim, adquirissem educação. Sacks (2002, p.30) A linguagem de sinais foi proibida, o domínio da língua oral passou a ser uma condição para aceitação da pessoa com surdez dentro de uma comunidade majoritária. Nesse momento histórico, a proposta oralista ganha força com defensores como Ferreri, líder dos educadores de 21 A CULtURA SURDA • CAPÍTULO 2 surdos na Itália, que via a língua de sinais algo rudimentar, constrangedor e primitivo. Para ele a língua de sinais era uma mímica violenta e espasmódica. (MOURA, 2000). O oralismo foi uma proposta que não trouxe benefícios para os surdos já que, em sua maioria, os surdos não eram bem-sucedidos com a leitura labial e em uma emissão sonora que fosse compreensível aos ouvintes. Isso levava ao sentimento de incapacidade. Além disso, o oralismo simplesmente desconsiderava as questões relacionadas à cultura e sociedade surda. Foi após o Congresso Mundial de Surdos, realizado em 1971, em Paris, que o chamado “Império Oralista” declina e a língua de sinais retoma força. Nesse mesmo Congresso foram também discutidos resultados de pesquisasrealizadas nos EUA sobre a chamada “Filosofia da Comunicação Total”. A Comunicação total Por volta de 1960, Dorothy Shifflet, professora e mãe de uma menina surda, descontente com os métodos oralistas, utilizou um método que combinava sinais, fala, leitura labial e treino auditivo, denominando seu trabalho de Total Approach – (Abordagem ou Comunicação Total) Comunicação Total respeita as características da pessoa com surdez utilizando todo e qualquer recurso possível para a comunicação, a fim de potencializar as interações sociais, considerando as áreas cognitivas, linguísticas e afetivas dos alunos. A ideia é usar o que for possível para se processar uma comunicação eficiente. Esta filosofia recomenda o tanto de códigos manuais como da língua oral. Diferente do que é defendido pelo oralismo, a Comunicação Total acredita que somente o aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento do surdo. A proposta filosófica da Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação, e não apenas a língua. Outro aspecto relevante é o respeito e valorização da família e seu papel na hora de compartilhar valores e significados. Esta filosofia defende a ideia que o deficiente auditivo deve ser aceito de forma que não haja discriminação pelo fato da criança surda não dominar a oralidade. Ainda assim há ainda resistência quanto a essa proposta, já que a oralidade continua a ser o objetivo principal de trabalho em muitas sessões de terapia, tanto por imposição de algumas famílias como pela visão de muitos profissionais. Apesar das políticas públicas investirem no estabelecimento de modelos que valorizem o surdo na sua totalidade, os ganhos ainda são pequenos. O certo é que a Comunicação Total possibilitou o contato com sinais anteriormente proibidos pelo oralismo. Esse contato propiciou aos surdos à aprendizagem das línguas de sinais que, no uso da Comunicação Total, era frequentemente utilizado entre os alunos, enquanto na relação com o professor era usada uma mistura de língua de sinais com a língua oral. 22 CAPÍTULO 2 • A CULtURA SURDA O Bilinguismo O Bilinguismo é o uso de mais de uma língua, dentro de uma mesma comunidade linguística ou pela mesma pessoa. Essa posposta filosófica e metodológica visa capacitar a pessoa com surdez para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na vida social: a Língua de Sinais (que no Brasil é a LIBRAS), e a língua da comunidade ouvinte (Português). O bilinguismo surge como uma proposta de intervenção educacional com a finalidade de atender as especificidades linguísticas dos alunos surdos. Considera-se que a língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea pela pessoa surda em contato com as pessoas que usam essa língua. A língua escrita, por sua vez, é adquirida de uma forma sistematizada. A filosofia do bilinguismo defende que as línguas (falada e de sinais) podem conviver, mas não simultaneamente. Para o Surdo a 1ª Língua (Língua Materna) deve ser a LIBRAS e a 2ª a Língua Portuguesa. Os resultados têm indicado que esta proposta, quando bem executada, apresenta resultados satisfatórios no ensino de crianças surdas, tendo como foco à língua de sinais como parte de um pressuposto para o ensino da língua escrita. “No Bilinguísmo o surdo precisa compreender e sinalizar fluentemente sua língua de sinais e ler e escrever fluentemente no idioma do país.” CAPOVILLA (2000). Um aspecto que deve ser considerado é que a Língua de Sinais são sistemas de sinais independentes das línguas faladas. Não existe uma língua de sinais utilizada e compreendida universalmente, pois uma se diferencia da outra. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) tem sua origem na Língua de Sinais Francesa – origem, e não reprodução. A LIBRAS é diferente da Língua de Sinais Americana (ASL), que é diferente da Língua de Sinais Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua de Sinais Francesa (LSF). Mesmo no Brasil, a LIBRAS possui variações linguísticas regionais, ou seja, diferenças de sinais por região. Isso comprova a rica expressividade presente na comunicação com a Língua de Sinais (SKLIAR, 1999). Língua de Sinais e Escola para Surdos. A Lei no 10.436/2002 considera a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua oficial da comunidade surda e defende a educação bilíngue para os surdos, reconhecendo a existência da cultura surda. “Por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)”. Definição de sujeito surdo - Decreto Federal no 5.626/2005 23 A CULtURA SURDA • CAPÍTULO 2 A partir do Decreto no 5.626/2005, que regulamentou a Lei de Libras, as propostas educacionais do Bilinguismo começaram a se estruturar. O Decreto prevê a organização de turmas bilíngues, constituídas por alunos surdos e ouvintes onde as duas línguas (LIBRAS e Língua Portuguesa) são utilizadas no mesmo espaço educacional, definindo para os alunos surdos LIBRAS como primeira língua é a Língua Portuguesa na modalidade escrita, como segunda. O decreto orienta ainda quanto à formação inicial e continuada de professores e formação de intérpretes para a tradução e interpretação da LIBRAS e da Língua Portuguesa. Na perspectiva bilíngue, a Língua de Sinais é caracterizada como língua natural para o surdo e, portanto, sua primeira língua (L1). A Língua Portuguesa, língua oficial do país, na modalidade escrita, deve ser aprendida como segunda língua (L2). Nesse sentido, o processo de alfabetização de uma criança surda deve ser entender que a Língua Portuguesa (L2), possibilita uma “leitura do mundo”, mas é por meio da Língua de Sinais (L1) que a criança conseguirá fazer uma “leitura de mundo”, ou seja, é por meio da língua de sinais que as crianças pensam e discutem sobre o mundo estabelecendo noções e organizando pensamentos, com base na descoberta da própria língua. (QUADROS, 2004). Identidade, Cultura e Comunidade Surda Em oposição ao discurso do “corpo danificado” os surdos lutam pelo reconhecimento da surdez como “uma, entre outras tantas, formas de estar no mundo”. Em diversas comunidades surdas, a luta é pelo reconhecimento da surdez como diferença. Nesse sentido a surdez vai além da deficiência e questões biomédicas, ocupando seu espaço nos estudos sociais, linguísticos, educacionais e antropológicos. Essas novas compreensões solidificam o “Ser Surdo” como uma forma de existir, desdobrando-se em uma série de expressões identitárias. Se anteriormente eram identificados como “portador” de uma enfermidade ou doença; como “deficiente” no sentido no sentido pejorativo, hoje os surdos envolvem-se nas lutas políticas e movimentação popular, reivindicando e reafirmando seus direitos. Esses movimentos caminham em prol da afirmação das identidades surdas. “Identidade é o processo de construção do significado com base num atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras formas de significado” (CASTELLS, 2001, p. 3) A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1987). É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente (HALL, 2006, p. 13). 24 CAPÍTULO 2 • A CULtURA SURDA Perlin (2005) cita algumas das várias identidades comuns entre o povo surdo, que podem ser definidas como: » Identidade Flutuante: o surdo vive e se manifesta de acordo com o mundo ouvinte, se espelhando na representação hegemonia do ouvinte. » Identidade Inconformada: o surdo se sente numa identidade subalterna, não conseguindo captar a representação da identidade ouvinte. » Identidade de Transição: o surdo passa por um conflito cultural, nos casosem que seu contato com a comunidade surda acontece tardiamente, fazendo a passagem da comunicação visual-oral (na maioria das vezes truncada) para a comunicação visual sinalizada. » Identidade Híbrida: o surdo nasce ouvinte e ensurdece depois de ter acesso à língua oral, tendo presente às duas línguas numa dependência dos sinais e do pensamento na língua oral. » Identidade Surda: o surdo vive no mundo visual e desenvolver sua experiência na Língua de Sinais. Os surdos que assumem a identidade surda são representados por discursos que os veem capazes como sujeitos culturais, uma formação de identidade que só ocorre entre espaços culturais surdos. O certo é que em nenhum outro momento histórico se falou tanto, e com tanta frequência, sobre identidade, comunidade e culturas surdas. Inúmeras produções culturais são partilhadas entre as comunidades surdas, novas organizações e movimento se consolidam, novos símbolos e significados são difundidos (LOPES, 2004). Resumo Vimos até agora: » As bases históricas da educação e socialização do surdo. » Os aspectos sociais e legais que levam à inclusão do surdo. » As propostas filosóficas, políticas e educacionais utilizadas na comunicação e inclusão do surdo. » A importância da comunicação e do desenvolvimento da linguagem de sinais para o surdo. » Os conceitos e as definições sobre a cultura, identidade e comunidade surdo. 25 Apresentação Entende-se por políticas sociais as ações governamentais desenvolvidas em conjunto por meio de programas que proporcionam a garantia de direitos e condições dignas de vida ao cidadão de forma equânime e justa. Entender quais são esses fatores e os aspectos políticos que envolvem a inclusão do surdo na educação e mercado de trabalho é essencial para que sejamos coparticipantes na inclusão social do surdo. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Entender os mecanismos que envolvem o processo de comunicação. » Ter ciência das políticas e respaldo legal que fundamentam a inclusão social do surdo. » Compreender a relação do processor como mediador no processo de inclusão do surdo e sua aprendizagem. » Entender a importância de uma adaptação curricular e recursos que devem ser utilizados na aprendizagem do surdo. » Perceber o potencial do surdo e o que é necessário para sua inserção no mercado de trabalho. Aspectos políticos da inclusão Atualmente o mundo vive um momento em que propostas de inclusão são apresentadas e discutidas. Pessoas consideradas diferentes, quer sejam por necessidades especiais ou por pertencerem a culturas diferentes tendem a serem excluídas, justificando o surgimento de legislações que contemplem as condições necessárias e essa minoria. A finalidade é dar condições de igualdade, atendendo as necessidades e demanda provenientes destes grupos. 3CAPÍTULOASPECtOS POLÍtICOS DA InCLUSãO 26 CAPÍTULO 3 • ASPECtOS POLÍtICOS DA InCLUSãO A exclusão é uma prática constante em nossa sociedade e incluir é um tema desafiador. Incluir é “permitir” ao diferente que compartilhe os espaços comuns, mas, também significa mudar, flexibilizar, preparar para receber, tornar possível. No Brasil e no mundo a inclusão dos indivíduos com algum tipo de deficiência ou necessidades especiais tem sido um desafio. Neste grupo encontram-se os sujeitos surdos que se comunicam pela Língua de Sinais. Discutir sobre a socialização dos surdos aponta para a realidade das suas necessidades que por muito tempo foi negligenciada. Incluir os surdos requer o reconhecimento de sua diferença e não deficiência. Essa diferença é fruto de uma cultura e língua diferente, que se não for compreendida e aceita conduz à segregação; à exclusão. No Brasil, a política de segregação da pessoa deficiente evidenciou-se com a criação de escolas especiais, em que indivíduos que apresentavam certo tipo de incapacidade ou limitação, eram segregados a escolas separadas dos indivíduos ditos “normais”. Postos à margem das questões sociais, culturais e educacionais os surdos são vistos pela sociedade por suas limitações e não por suas potencialidades. São definidos como deficientes e, equivocadamente considerados incapaz ou inferior aos ouvintes. Embora esse panorama venha se modificando, com as políticas e conscientização geral sobre os direitos do exercício da cidadania, os avanços ainda são lentos. É preciso que se auxiliem as famílias das pessoas surdas a se perceberem como partícipes na implementação de procedimentos que conduzam a uma real inclusão do surdo na sociedade ouvinte, quer seja no ensino regular ou no mercado de trabalho. É preciso que sejam efetivas as políticas sociais de inclusão do sujeito surdo em uma sociedade produtiva e igualitária. O Paradigma da Educação Inclusiva Ações pautadas nos direitos humanos são propostas que respeitam as diferenças e promovem equidade a todas as pessoas independentemente de condições e diferenças. Como já foi dito, a inserção da educação inclusiva tem como propósito resgatar a humanização dos que anteriormente eram segregados. Nessa perspectiva, a legislação educacional vigente - Lei de Diretrizes e Bases (LDB) no 9394/1996, cuja máxima é educação para todos em seu capitulo V sugere a inclusão de alunos com necessidades especiais preferencialmente no ensino regular, considerando políticas internacionais que comungam o desejo de minimizar ações excludentes. Esses tem sido elementos norteadores para as novas práticas na educação bem como em outros segmentos sociais. 27 ASPECtOS POLÍtICOS DA InCLUSãO • CAPÍTULO 3 O Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar com a Declaração Mundial de Educação para Todos e ao mostrar consonância com os postulados produzidos em Salamanca (Espanha). A Declaração de Salamanca afirma que: » A tendência da política social é de fomentar a integração e a participação e de lutar contra a exclusão. » As necessidades educativas especiais incorporam os princípios já comprovados de uma pedagogia equilibrada que beneficia todas as crianças. » As políticas educativas deverão levar em conta as diferenças individuais e as diversas situações. Nesse sentido, deve ser levada em consideração, por exemplo, a importância da língua dos sinais como meio de comunicação para os surdos, e ser assegurado a todos os surdos acesso ao ensino da língua de sinais de seu país. Com base nesses dispositivos políticos-filosóficos e nos dispositivos da legislação brasileira, o CNE aprovou a Resolução no 2/2001 que institui as Diretrizes nacionais para educação especial na educação básica. Essas Diretrizes incluem os alunos surdos no grupo daqueles com dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, e que demanda a utilização de linguagens e códigos aplicáveis. Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam dificuldades de sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema braile e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa, facultando-lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em cada caso Parágrafo 2o do art. 12 O inciso IV do art. 8o dessa mesma Resolução aponta os diferentes serviços de apoio pedagógico especializado que deverão ser previstos e providos pelas escolas: a. Atuação colaborativa de professor especializado em educação especial. b. Atuação de professores-intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis. c. Atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra e interinstitucionalmente. d. Disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e à comunicação. 28 CAPÍTULO 3 • ASPECtOS POLÍtICOS DA InCLUSãO Prevê ainda a utilização de salas de recursos e, extraordinariamente, classes e escolas especiaiscomo forma de cooperar para a inclusão de alunos no sistema educacional brasileiro. Na escola, inclusão significa responsabilidade governamental (secretários de educação, diretores de escola, professores), bem como significa reestruturação da escola que hoje existe, de forma que ela se torne apta a dar respostas às necessidades educacionais especiais de todos seus alunos, inclusive dos surdos. Nenhuma escola pode excluir um aluno alegando não saber com ele atuar ou não ter professores capacitados. Toda escola (regular ou especial) deve organizar-se para oferecer educação de qualidade para todos. A construção de uma educação inclusiva requer uma mudança de paradigma na perceção do que é educação. Fundamentos legais da língua O Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005, regulamentou a Lei no 10.436/2002, também denominada Lei de LIBRAS, tratando dos aspectos relativos à inclusão de LIBRAS nos cursos superiores, à formação de professores para o ensino de LIBRAS, à formação de tradutores e intérpretes de LIBRAS, à atuação do Serviço Único de Saúde (SUS), à capacitação de servidores públicos para o uso da Libras ou sua interpretação e à dotação orçamentária para garantir as ações previstas no Decreto no 5.626/2005. A LIBRAS, como 1ª língua, e a Língua Portuguesa, como 2ª língua, constituem complementação curricular específica a ser desenvolvida nas mesmas escolas em que o aluno com surdez está matriculado. A partir de 2006, os sistemas de ensino devem organizar classes ou escolas bilíngues, abertas a surdos e ouvintes. Isso também inclui viabilizar cursos de qualificação profissional dos professores; organizar serviços de tradutor e intérprete de LIBRAS para atuação nas classes que têm surdos nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio, educação profissional e educação superior. De acordo com a Lei no 10.098 de 19 de dezembro de 2000, no capítulo VII, art. 18. O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. 29 ASPECtOS POLÍtICOS DA InCLUSãO • CAPÍTULO 3 Simbolo internacional da surdez A Lei no 8.160 de 8 de janeiro de 1991 tornou obrigatória a colocação do “Símbolo Internacional da Surdez”, de forma vizível, em todos os locais que possibilitam acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que possibilitem o seu uso. Resumo Vimos até agora: » Os fundamentos indispensáveis para compreender os aspectos políticos da inclusão do surdo. » A Declaração de Salamanca de sua influência na inclusão do surdo no Brasil. » O paradigma da educação inclusiva e o que diz o CNE. » As leis que fundamentam a inclusão do surdo no ensino regular e na sociedade. 30 Apresentação A inclusão é um direito de todos e, como profissionais e cidadãos, é o nosso dever estarmos conscientes das possibilidades e recursos que podem ser utilizados para que isso aconteça, reconhecendo a aplicando técnicas e estratégias facilitadoras para a real inclusão do surdo. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Refletir sobre questões relevantes sobre acessibilidade e inclusão social. » Compreender a importância da comunicação e seus mecanismos. » Compreender a importância do professor como mediador na aprendizagem do surdo. » Entender como o suro lê o mundo, sua forma de aprendizagem e escrita. » Refletir sobre questões pertinentes para inclusão do surdo no mercado de trabalho. Comunicação É certo que, independentemente de quem seja ou do que se tenha, todos necessitam comunicar-se. Uma vez identificada à perda auditiva em uma pessoa, a ela não pode ser negado o direito de uma língua e uma forma de comunicação. Chaveiro e Barbosa, 2005, sustentam a ideia que “a linguagem é um instrumento de poder.” Diante de uma sociedade ouvinte, na qual a comunicação oral pode ser um símbolo de autonomia, o surdo também não pode deixar de vivenciar novas experiências; experiências essas que são vividas pela sociedade ouvinte, como o direito de uma língua, o direito à educação, ao lazer e ao trabalho. Infelizmente, há um longo caminho a ser percorrido em relação à aceitação e convivência com o sujeito surdo. 4 CAPÍTULO ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO 31 ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO • CAPÍTULO 4 A comunicação do indivíduo pode apresentar dificuldade quando ele nasce em um ambiente diferente de sua língua materna. O surdo, ao ser incluindo no ensino regular ou mercado de trabalho, tende a encontrar obstáculos para se comunicar que devem ser vencidos, ou ao menos minimizados, com o uso de alguns recursos e estratégias. Para entendermos sobre os recursos facilitadores na comunicação com o sujeito surdo, é importante falarmos sobre mensagem, código e canal de comunicação. A figura a seguir apresenta uma relação simplificada entre emissor e receptor, que nos auxiliará na compreensão de como a mensagem é percebida: Elementos da comunicação Comunicar é um ato importante para o convívio social, possibilitando o acesso à informação, o convívio e a socialização. É nessas tentativas de adquirir aprendizado e troca de informações que o homem começa a constituir o que é a chamada comunicação (INSTITUTO DE TECNOLOGIA ORT, on-line). A comunicação, por sua vez, é uma das formas mais importantes que o indivíduo usa como recurso de socialização. É através dela que há troca de informações, possibilitando aprendizado e convívio social entre as pessoas de uma sociedade (PIMENTA, 2006). Diante disto, pressupõe-se que a comunicação tem um importante papel na constituição da pessoa como sujeito, partindo da tese que o indivíduo que não se comunica ou não tem uma comunicação eficaz e/ou satisfatória para o convívio social tende a se isolar tanto da sociedade quanto dos meios de comunicação de massa que também são fontes de conhecimento e comunicação. O indivíduo pode apresentar falhas no processo de comunicação quando nasce em um ambiente diferente de sua língua materna. Isso acontece com o surdo que, ao ser incluindo no ensino regular ou mercado de trabalho, tende a encontrar obstáculos no processo de comunicação, normalmente relacionadas ao canal de comunicação, ou seja, pela maneira que a mensagem é transmitida. Para entendermos sobre os recursos facilitadores na comunicação com o sujeito surdo, é importante falarmos sobre mensagem, código e canal de comunicação. A figura a seguir apresenta uma relação simplificada entre emissor e receptor, que nos auxiliará na compreensão de como a mensagem é percebida: 32 CAPÍTULO 4 • ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO Elementos do Processo de Comunicação Interpessoal Lacerda (2006, p. 177) afirma que a forma de expressão de uma pessoa surda é diferente da sociedade ouvinte, uma vez que faz uso de uma língua própria. “Ele é um estrangeiro que tem acesso aos conhecimentos de um modo diverso dos demais e se mantém isolado do grupo.” A Língua de Sinais é a língua natural para a pessoa surda e funciona como suporte do pensamento. Ela é o seu meio de comunicação e por meio dela ele pode pensar planejar, sentir e aprender outras línguas. Na comunicação entre o ouvinte e o surdo, o entrave ocorre no canal de comunicação, ou seja, na maneira como a mensagem é passada, já o ouvinte se comunica de forma oral e o surdo por sinais. Isso dificulta a compreensão da mensagem. A Inclusão Social A inclusão social deve ser baseada no respeito e na justiça em relação às diferenças apresentadas pelo ser humano, em que o foco de cada um é saber conviver com a diferença e sustentando o fato de que todos são diferentes, isso os torna iguais. As dificuldades desta inclusão são imensas em relação ao sujeito surdo,até mesmo em relação ao seu processo de socialização, no qual a sociedade ouvinte sempre teve uma visão de que a pessoa com alguma deficiência não é digna de usufruir dos benefícios de uma vida social, limitando-a e impedindo-a de adquirir um olhar mais seguro e menos inferior da vida. Macêdo (2002) faz-se valer de que o direito à inclusão social é de todos, e também dos deficientes auditivos que, em decorrência de suas limitações, na maioria das vezes são ignorados por uma cultura que segue a comunicação verbal como norma. A inclusão acaba sendo, então, um direito de quem apresenta limitações que fogem do padrão de normalidade da maioria e um dever da sociedade, que exclui pelo simples fato de ver essas pessoas como deficientes, contribuindo para uma “autoexclusão” do surdo, já que o olhar da sociedade o faz pensar que ele é incapaz de progredir. 33 ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO • CAPÍTULO 4 É preciso integrar o indivíduo surdo à sociedade. A integração baseia-se no princípio de “normalização”, que significa “oferecer aos portadores de necessidades especiais modos e condições de vida diária o mais semelhante possível às formas e condições de vida do resto da sociedade” (Política Nacional de Educação Especial, MEC, 1994). As pessoas surdas têm direito a participar da vida familiar, de uma escola comum, da comunidade e de ser inserido em um mercado de trabalho, mesmo que em cada um desses momentos mereçam uma atenção diferenciada às suas necessidades especiais. Claro que isso depende, entre outros fatores, de uma comunidade que esteja preparada para conviver e aceitar aqueles que são diferentes. Esse processo ocorre nos seguintes contextos relacionais: » Na família: os pais e demais membros da família incluem sua criança, surda ou não, nas atividades cotidianas do lar desde o seu nascimento. » Na escola: os colegas devem ser orientados quanto à importância da Língua de Sinais com o objetivo de uma interação mais efetiva com a criança surda. » Na sociedade: a integração social do surdo é o resultado de todo o processo que teve início com a estimulação precoce. O processo de integração social é contínuo e torna-se mensurável à medida que o surdo conscientiza-se de seu papel de cidadão com pleno direito à escolha de vida pública e privada. na Família A surdez é uma deficiência invisível aos olhos. Ao receber a comprovação da gravidez, pais e família se preparam para o nascimento de um bebê saudável, recebem e se relacionam com essa criança como um ouvinte, sem perceber, em muitos casos, suas restrições. Interagem com seu filho, falando e brincando até receberem o diagnóstico de surdez. A partir desse momento, deixam de lado essa interação, sem perceber que é nesse exato momento que ela deveria ser intensificada, já que a criança pequena, surda ou ouvinte, se orienta pelo “sentir”, sendo capaz de perceber sua aceitação ou não e a criança que sofre uma mudança brusca no relacionamento com os pais pode ficar afetada emocionalmente, trazendo repercussões no futuro. Quando há uma divergência entre o que a criança é e a expectativa da família, é provável que haja também dificuldades no desenvolvimento emocional, social e intelectual. Isso acaba por acarretar uma dificuldade nas relações, dificultando sua socialização futura, já que o desenvolvimento sócio emocional depende diretamente do relacionamento dos pais entre si, e destes com a criança, destacando-se o primeiro ano de vida. Neste período, torna-se o rosto humano o foco da atenção da criança. A impossibilidade de ouvir a voz materna é a primeira perda sofrida pela criança que nasce surda ou perde a audição nos primeiros meses de vida. Para o bebê surdo, o 34 CAPÍTULO 4 • ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO conjunto de sinais visuais, como a expressão dos olhos, da testa, da face e o sorriso é equivalente à voz humana. Quando nos referimos à educação, consideramos que a família é o principal elo entre o sujeito e a sociedade. Quando se trata do surdo, a família ganha um destaque maior por ser por ser nela que se encontra argumentos em formas de subsídio para introduzir o surdo no meio social. Os modelos educativos são assimilados culturalmente por gerações e é nesse modelo que os pais de uma criança surda têm sua base, ainda que inadequados à educação da criança surda, desencadeando frustrações e tensões em todos os envolvidos no processo. (STELLING, 1996). A Declaração de Salamanca, em seu art. 60, relata que “Os pais são os principais associados no tocante às necessidades educativas especiais de seus filhos, e a eles deveria competir, na medida do possível, a escolha do tipo de educação que desejam seja dada a seus filhos”. Sendo assim, a família torna-se participante ativa na educação do surdo, como ressalta a mesma declaração. Deverão ser estreitadas as relações de cooperação e apoio entre administradores das escolas, professores e pais, fazendo que estes últimos participem na tomada de decisões, em atividades educativas no lar e na escola (onde poderiam assistir a demonstrações técnicas eficazes e receber instruções sobre como organizar atividades extra-escolares) e na supervisão e no apoio da aprendizagem de seus filhos. (Declaração de Salamanca, art. 61). Sendo a dificuldade de comunicação o principal entrave no relacionamento de pais ouvintes e filhos surdos, o aprendizado da Libras pela família é de extrema importância para o desenvolvimento pleno da criança surda, permitindo, que todas as manifestações entre os envolvidos sejam compreendidas (QUADROS, 2002). na Escola Muito se especula sobre propostas de políticas públicas educacionais no Brasil e, com o atraso escolar que o surdo apresenta em relação ao ouvinte, faz-se necessário que estas propostas sejam ainda mais eficazes, pois é preciso uma estruturação mais específica para auxiliar de forma satisfatória o ensino dos surdos (LEBEDEFF, 2006). A educação dos surdos já foi vista como uma educação inferior em relação à educação dos ouvintes, já que acreditava-se que o surdo era de menor inteligência, o que contribuiria para uma aprendizagem menos eficaz (MOURA 2000). O atraso no desenvolvimento escolar do surdo em relação ao ouvinte é significativo, uma vez que a língua utilizada para o aprendizado é a língua oral e o surdo possui, como estrutura linguística, uma estrutura visual-motora. Esta dificuldade em aprender através de outra língua contribui para que um número elevado de alunos surdos mantenha-se fora do meio escolar, pois 35 ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO • CAPÍTULO 4 a dificuldade de acesso ao conhecimento através da língua torna-se um fator determinante para esse afastamento (LEBEDEFF, 2006). Em relação a esta educação para o público surdo, há boas propostas para uma eficaz educação destes indivíduos, no que se refere a formas qualitativas de ensino e de inclusão escolar. O Brasil optou por uma política com um sistema de educação inclusiva em conformidade ao proposto pela Declaração Mundial de Educação para Todos, bem como com a Declaração de Salamanca (PORTAL DO MEC, on-line). Um perfil de escola inclusiva é aquele que se caracteriza por adequar-se, não somente com uma estrutura física apropriada para todo e qualquer deficiente, seja esta deficiência física, sensorial ou mental, mas também com propostas de ensino que visam sanar as necessidades daqueles que a procuram, respeitando as limitações de cada um em sua diferença e incorporando formas de aprendizado específico a esses alunos (GOÉS; LAPLANE, 2004). MEC, Resolução no 2/2001 De acordo com a Resolução no 2/2001 - MEC, todas as pessoas que apresentam algum tipo de perda auditiva têm direito a uma educação com um ensino regular, igual a uma pessoa que não apresenta perda auditiva, buscando a inclusão e a implantação de novas propostas a fim de melhorar a qualidade de vida dos surdos. Art. 1o A presente Resolução institui as Diretrizes Nacionais para a educação de alunos queapresentem necessidades educacionais especiais, na Educação Básica, em todas as suas etapas e modalidades. Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família e a comunidade, a necessidade de atendimento educacional especializado. Segundo Gesueli (2006), “A utilização da Língua de Sinais vem sendo reconhecida como um caminho necessário para a efetiva mudança nas condições oferecidas pela escola no atendimento educacional de alunos surdos.” Desta forma, é correto afirmar que a LIBRAS vem contribuindo para uma eficácia no ensino dos indivíduos surdos, uma vez que proporciona embasamento teórico em relação à estrutura linguística da língua de sinais. Existem alguns modelos educacionais cujo objetivo é facilitar o desenvolvimento escolar dos alunos surdos. A opção de um ensino bilíngue é um destes modelos e fundamental para os surdos que se disponibilizam a estudar e sentem a necessidade de se comunicar com o ouvinte. Nesse sentido, a LIBRAS é a primeira língua, utilizada pelo surdo na aquisição de conhecimento e comunicação, e o português ou a língua oral é a língua secundária, um recurso maior para a interação com os colegas e ganho maior na aprendizagem (GESUELI, 2006). 36 CAPÍTULO 4 • ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO As dificuldades de comunicação entre o professor ouvinte e o aluno surdo são evidenciadas diariamente. Isso ocorre pelo fato do despreparo do professor em receber e interagir com este aluno, até mesmo desconhecendo a existência de sua língua materna, a LIBRAS. Nestes casos, se o aluno surdo não domina a língua oral, não consegue ter êxito em seu ensino. Esta desarmonia desfavorece uma comunicação suficiente para a aprendizagem eficaz do aluno surdo, bem como de socialização com os demais colegas de classe (GESUELI, 2006). A utilização da LIBRAS possibilita o desenvolvimento do surdo em todos os seus aspectos – cognitivos, socioafetivo-emocional e linguístico. A utilização de tecnologias, tais como o uso da internet e celulares, também têm sido importantes recursos de ensino para os surdos, aumentando a capacidade “cognitiva, afetiva e social” dos mesmos, o que permite avanços não só na área educacional, como também na comunicação com o outro e nas relações emotivas (SOUZA, 2003, p. 1). Outro aspecto facilitador essencial para que o processo ensino aprendizagem aconteça de forma satisfatória é a adequação curricular para o aluno deficiência auditivo, também identificado como D.A. Para esses alunos, o currículo deve ser adaptado de forma que se torne o mais concreto possível, utilizando-se dos canais sensoriais íntegros como facilitar na aprendizagem. No processo ensino aprendizagem, o professor deve ser o mediador e educador, ou seja. O professor deve ser ver como o interlocutor entre o texto/conteúdo e a aprendizagem. Para isso ele precisa ser qualificado de forma a entender como ocorre o processo de aprendizagem no sujeito surdo, sua forma de se comunicar e sua escrita, levando-o a uma alfabetização satisfatória na escrita da Língua Portuguesa. O aprendizado da leitura e escrita para os surdos será diferente das pessoas ouvintes. Sua leitura de mundo é feita por meio de experiências visuais e concretizadas em sua língua natural. Por isso é importante que haja adaptação do currículo a ser trabalhado como o surdo. No aprendizado da leitura e escrita é necessário ir do mundo para o texto, dos conhecimentos concretizados na língua de sinais e que deverão ser traduzidos para o português. Para o surdo, a aquisição da modalidade escrita representa a alfabetização em outra língua com diferenças sintáticas, morfológicas e fonéticas. Por isso, as irregularidades morfossintáticas identificadas na escrita dos indivíduos surdos coincidem com construções próprias da Língua de Sinais. no Mercado de trabalho Deve-se considerar que a comunicação é o principal canal de socialização do ser humano, pois é através dela que o indivíduo consegue aprender e ensinar, em virtude da troca de informações, possibilitando o convívio social. Porém, as formas de comunicação do ouvinte e do surdo são 37 ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO • CAPÍTULO 4 distintas, uma vez que existem choques culturais em relação à língua de ambos, em que uma é oral e a outra gestual. Isto acaba implicando, entre outros, a inserção dos indivíduos surdos no mercado de trabalho, em uma sociedade essencialmente ouvinte, onde há uma necessidade de pessoas comunicativas e com uma boa oratória. As dificuldades em manter um diálogo com o outro levam o indivíduo a se excluir e/ou ser excluído do convívio social, principalmente quando “barreiras de linguagem e cultura” estão associadas a dificuldades de comunicação. A aceitação do surdo no convívio do ouvinte, bem como no mercado de trabalho, ainda passa por um processo de transformação que exige bom senso e humanização, de um para com o outro, pois os surdos são o foco de muitos preconceitos em decorrência de sua condição e das consequências que esta pode trazer nos aspectos da vida emocional e profissional destes indivíduos (DAMÁZIO, 2005). O ato de trabalhar permite ao ser humano se sentir útil, capaz e realizado, contribuindo favoravelmente nos aspectos de “comportamento, rotina e relações afetivas”. Em relação aos indivíduos surdos, a admissão no mercado de trabalho faz com que o mesmo deixe de se sentir excluído da sociedade e de se autoexcluir por “medo” do que esta pode pensar dele Inserir-se no mercado de trabalho exige uma grande habilidade comunicativa; pois, neste campo de tamanha competição, as pessoas precisam ter uma boa expressividade oral para satisfazer as necessidades do contratante e dos respectivos clientes. Este fator comunicativo, por sua vez, torna-se determinante na vida dos surdos no aspecto de empregabilidade, uma vez que é usuário de uma língua diferente da língua que o mercado exige. Isso acaba por levar o surdo a renunciar a uma inserção nesse mercado, restringindo-o ao convívio com sua comunidade, onde são bem aceitos por pessoas que se apresentam “iguais”. “A linguagem deve ser vista como resultado da interação entre sujeitos, lugar de encontro de vários discursos e do embate de experiências.” Citelli (2011) O desconhecimento das possibilidades profissionais das pessoas que apresentam alguma deficiência tem dificultado seu acesso ao mercado de trabalho. O conhecimento se produz por meio do que é gerado pelo sujeito nas interações sociais. Sendo assim, é preciso haver interação para que as dúvidas e tabus sejam esclarecidos. A primeira barreira que o indivíduo surdo encontra é a comunicação, que configura uma situação de restrição que pode desencadear conflitos no contato social. 38 CAPÍTULO 4 • ACESSIBILIDADE, InCLUSãO SOCIAL E EDUCAçãO “O processo de identificação e aceitação da própria limitação, propiciado pela afinidade com a pessoa portadora de deficiência, pode possibilitar relações mais afetivas no ambiente do trabalho e contaminar positivamente outras relações”. (BATISTA, 2004) A inclusão no mercado de trabalho proporciona ao surdo sua valorização como cidadão, leva à efetivação dos seus direitos garantidos em lei, e possibilita a convivência no ambiente de trabalho com trabalhadores ouvintes e, consequentemente, maior sociabilidade. A inclusão da pessoa surda no mercado de trabalho não deve se restringir à aplicação de leis e de projetos de responsabilidade social por parte das empresas. É preciso que a pessoa com deficiência seja, antes de tudo, capacitada para atuar de forma eficaz no mercado de trabalho e que este processo deve se iniciar no ambiente escolar e estender-se ao desenvolvimento de projetos de profissionalização. Não basta que se criem leis para a inclusão e integração das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, mas sim, quese desenvolvam políticas públicas eficazes para que se traga ao conhecimento de todos a capacidade do surdo e que esse reconhecimento promova a aceitação e efetiva contratação desse público, de forma plena e natural. É preciso adaptar-se a novas culturas, a novas regras, a pessoas diferentes de variadas origens, crenças e valores, para que a diversidade humana venha enriquecer nossos conhecimentos e ofereça uma visão ampla e sem preconceitos da sociedade em que vivemos. Resumo Vimos até agora: » Questões pertinentes sobre acessibilidade e inclusão social. » A comunicação e seus mecanismos. » O papel do professor como mediador na interação do surdo no ensino regular. » A aprendizagem do surdo e sua forma de leitura de mundo. » A inclusão do surdo no mercado de trabalho. 39 Apresentação A origem da Língua de Sinais deixa a necessidade de uma maior compreensão da riqueza que existe nessa forma de se comunicar, entendendo a Língua de Sinais como legítima e eficaz. Considerando que somente no ano de 2002 a Língua Brasileira de Sinais foi oficialmente reconhecida e aceita como segunda língua oficial brasileira, por meio da Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, é possível perceber o quanto a sociedade precisa quebrar a barreira do preconceito e entender o que o surdo e a Linguagem de Sinais é capaz de fazer. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Compreender o conceito de linguagem e língua. » Reconhecer os diversos tipos de linguagem e sua relação com a comunicação. » Identificar as características da língua e Libras como língua. LIBRAS As Línguas de Sinais não são simples mímicas e gestos soltos, são línguas com estruturas gramaticais próprias, compostas pelos níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas oral-auditivas é denominado sinais nas línguas de sinais. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é utilizada por deficientes auditivos para a comunicação entre eles e entre surdos e ouvintes e é a sua modalidade que a diferencia das demais línguas. Uma língua de sinais utiliza-se de gestos, sinais e expressões faciais e corporais, em vez de sons ou escrita na sua comunicação, ou seja, as línguas de sinais são de aquisição visual e produção espacial 5CAPÍTULOLÍnGUA E LInGUAGEM E A LIBRAS 40 CAPÍTULO 5 • LÍnGUA E LInGUAGEM E A LIBRAS e motora. Podemos definir que LIBRAS é uma língua de modalidade (modo de comunicação) visual-espacial e motora. Sendo assim, uma pessoa que entra em contato com uma Língua de Sinais irá aprender outra língua, e seus usuários terão capacidade instrumental para discutir questões complexas como filosofia e política ou produzir poemas e peças teatrais. Para melhor nos inteirarmos dessa realidade é interessante que essa linguagem se faça conhecer, e que haja uma procura por ela com o interesse de aprendê-la. Linguagem Podemos definir Linguagem como o sistema pelo qual o homem comunica suas ideias e sentimentos, seja por meio da fala, da escrita ou de outros signos convencionais e Linguística é o nome da ciência que se dedica ao estudo da linguagem. Linguagem é qualquer meio de comunicação, como a linguagem corporal, as expressões faciais, a maneira de nos vestirmos, as reações de nosso organismo (tanto aos estímulos do meio, como de nosso pensamento ou , mesmo, dos aspectos fisiológicos) ou a linguagem de outros animais, os sinais de trânsito, a música, a pintura, enfim, todos os meios de comunicação, sejam cognitivos (internos), socioculturais (relativos ao meio) ou de natureza, como um todo. Fernandes (2003, p.16). Linguagem - substantivo feminino 1. Ling qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc. “l. humana” 2. p. ext. qualquer sistema de símbolos ou sinais ou objetos instituídos como signos; código. “l. da dança” Desenvolver uma linguagem é desenvolver a capacidade de expressar pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos e está diretamente relacionada a fenômenos comunicativos, sendo inúmeras as formas de se comunicar e inúmeros os tipos de linguagens. No cotidiano, nos deparamos fazemos uso da linguagem verbal e não verbal para nos comunicarmos. A linguagem verbal integra a fala e a escrita (diálogo, informações no rádio, televisão ou imprensa, e outras). Todos os outros recursos de comunicação como imagens, desenhos, símbolos, músicas, gestos, até mesmo o tom de voz, fazem parte da linguagem não verbal. 41 LÍnGUA E LInGUAGEM E A LIBRAS • CAPÍTULO 5 Linguagem Verbal: é aquela que faz uso das palavras para comunicar algo, seja oral ou escrita. Linguagem Não Verbal: é aquela que utiliza outros métodos de comunicação, que não são as palavras De uma forma mais geral, a Linguagem pode ser definida como qualquer sistema de sinais que possibilite aos indivíduos uma comunicação eficaz e plena. Alguns exemplos de linguagem... A linguagem corporal: é um tipo de linguagem não verbal, em que os movimentos corporais transmitem mensagens e intenções. A linguagem gestual está nessa categoria, utilizando-se de um sistema de gestos e movimentos cujo significado se fixa por convenção, e é usada na comunicação de pessoas com deficiências na fala e/ou audição. 42 CAPÍTULO 5 • LÍnGUA E LInGUAGEM E A LIBRAS A linguagem mista: é o uso simultâneo da linguagem verbal e não-verbal. Um exemplo perfeito é uma história em quadrinhos, que integra ao mesmo tempo, imagens, símbolos e diálogos. As linguagens artificiais: normalmente criadas para servirem a um fim específico, como lógica matemática ou a informática. Também são denominadas por linguagens formais. A linguagem de programação de computadores é uma linguagem formal que consiste na criação de códigos e regras específicas que processam instruções para computadores. Língua Embora associados, linguagem e língua diferenciam-se em seu conceito, sendo a linguagem abstrata, relacionada à capacidade inerente ao homem de se comunicar e língua a concretização dessa capacidade. Língua é um tipo de linguagem e define-se como sistema abstrato de regras gramaticais. Isto quer dizer que o conceito de língua está ligado a um conjunto 43 LÍnGUA E LInGUAGEM E A LIBRAS • CAPÍTULO 5 de regras gramaticais que identificam sua estrutura nos seus diversos planos dos sons, da estrutura, da formação e das classes de palavras, das estruturas frasais, da semântica, da contextualização do uso. Fernandes (2003) A língua é o conjunto de sinais ou palavras e expressões usadas por um povo e nação. A língua é normativa, segue regras e possui uma estrutura e gramática. Pode ser considerado um instrumento na comunicação, que segue regras gramaticais, permitindo a comunicação e compreensão de grupos ou pessoas. As línguas podem ser orais-auditivas ou espaço-visuais. As línguas são denominadas orais-auditiva quando a forma de recepção não grafada (não escrita) é a audição e a forma de reprodução (não escrita) é a oralização; as línguas espaço-visual são naturalmente reproduzidas por sinais manuais e sua recepção é visual. A língua consiste em um conjunto específico de códigos e palavras, com regras e leis de combinação que permite que a mensagem seja passada de maneira compreensível. Sem essas regras, é provável que o a mensagem não seja compreendida, seria como escrever uma frase onde as palavras estão fora de ordem e esperar que a outra pessoa entenda a mensagem. As línguas são uma forma de organizar o mundo, desempenhando as funções imediatas da comunicação. É por elas que exercemos a habilidade exprimem pensamentos e emoções. Trata-se de um sistema de signos estabelecido socialmente. Por se tratar de uma expressão particular, utilizadas por povos variados, as línguas são depositárias de culturas que são armazenadas e passadas de geração em geração. A língua possui um caráter social, ou seja, pertence a um conjunto