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SUMÁRIO 
 
 
 
2.1 O Saneamento Básico no contexto rural brasileiro 3 
 
 
2.2 Tecnologia: Fossa Séptica Biodigestora 17 
 
 
2.3 Tecnologia: Jardim Filtrante 32 
 
 
2.4 Tecnologia: Clorador Embrapa 49 
 
 
2.5 Reúso agrícola seguro de Efluente de Esgoto Tratado (EET) 57 
 
 
2.6 Critérios para a escolha da tecnologia 67 
 
 
2.7 Aspectos econômicos 74 
 
 
2.8 Aspectos sociais 83
 
 
2.1 O Saneamento Básico no contexto rural 
brasileiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Identificar as características gerais do rural brasileiro (população, 
adensamento, características regionais, características culturais e os 
diferentes “rurais” do Brasil). 
 
Reconhecer alguns dados do saneamento básico rural e de áreas isoladas no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
2 
3
 
Introdução 
Olá! Nessa aula, vamos observar que as áreas rurais e isoladas do Brasil possuem muitos 
atributos distintos, que variam em função do clima, história, potencial econômico, tamanho 
das propriedades, culturas locais (principalmente de povos tradicionais), linguagem etc. 
Além disso, você descobrirá que a acessibilidade aos serviços de abastecimento de água, 
esgotamento sanitário e drenagem de águas pluviais varia muito entre os diferentes grupos 
populacionais. Por isso, conhecer essas características é essencial para fazer um bom 
trabalho em saneamento básico. Bons estudos! 
 
O saneamento básico no contexto rural brasileiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4
 
Características gerais do rural brasileiro 
 
 
 
Fonte: Embrap a Uva e Vinho, 2014. 
 
 
Na história do saneamento no Brasil, as demandas das áreas mais urbanizadas e 
economicamente eficientes sempre receberam mais atenção do poder público. 
 
No meio rural, as necessidades ultrapassaram o contexto local e estão ganhando visibilidade 
em programas de outros níveis de governo. O Plansab - Plano Nacional de Saneamento 
Básico apontou a atual exclusão sanitária das populações rurais do País e a importância 
de programas sanitários para essas regiões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5
https://www.embrapa.br/busca-de-imagens/-/midia/1401002/indicacao-geografica-monte-belo
 
 
 
O Programa Nacional de Saneamento Rural – PNSR, atualmente denominado Programa 
Saneamento Brasil Rural (PSBR), é um documento orientador para a elaboração das políticas 
em saneamento rural no Brasil. Segundo ele, o rural e demais áreas isoladas são habitadas 
pelas populações do campo, da floresta e das águas, representando não somente a 
população rural, mas os povos tradicionais nas suas diferentes características sociais e 
produtivas. De acordo com esse programa, há particularidades no fornecimento de serviços 
adequados às populações rurais, em razão de condições específicas. Confira alguns 
exemplos: 
 
Afastamento geográfico. 
 
 
Isolamento político e geográfico das localidades e seu distanciamento das sedes 
municipais. 
 
Localização em área de difícil acesso, seja por via terrestre ou fluvial. 
 
 
Limitação financeira ou de pessoal, por parte dos municípios, o que 
dificulta a execução dos serviços voltados para o saneamento. 
 
Ausência de estratégias que incentivem a participação social e o empoderamento 
dessas populações. 
 
Inexistência ou insuficiência de políticas públicas de saneamento rural, nas esferas 
municipais, estaduais ou federal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6
http://www.funasa.gov.br/documents/20182/38564/MNL_PNSR_2019.pdf/08d94216-fb09-468e-ac98-afb4ed0483eb
 
 
Os diferentes “rurais” brasileiros 
 
 
Quilombos no Amapá. 
 
Fonte: Flickr, 2017. Foto: MENEZES, Anderson. 
 
Precisamos destacar também que os arranjos espaciais variam muito nas áreas rurais e 
isoladas, partindo de casas completamente isoladas até pequenos aglomerados, com 
centenas ou até milhares de pessoas. 
7
https://www.flickr.com/photos/135932571%40N06/27253578049
 
 
Casa de ribeirinhos no Mato 
Grosso do Sul. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Embrap a Pantanal, 2022. Foto: D'ÁVILA, Raquel Brunelli. 
 
O acesso à água também é diferente. 
 
 
Casa de ribeirinhos no norte do 
Brasil. 
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental, 2013. Foto: ROSA, Ronaldo. 
 
Existem locais, como nas áreas ribeirinhas da bacia amazônica, em que existe a convivência 
com excesso de água e longos períodos de chuva e inundações. 
8
https://www.embrapa.br/busca-de-imagens/-/midia/6062001/ribeirinhos-na-grande-cheia
 
 
Sertão do Cariri, região do Semiárido 
brasileiro. 
Fonte: Flickr, 2011. Foto: SANTOS, João Paulo Monteiro. 
 
Em contraste, residências do semiárido nordestino coexistem com longos períodos de seca. 
Comunidade indígena do Amazonas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Shutterstock. 
 
Populações indígenas e quilombolas possuem arranjos sociais distintos em relação às populações 
rurais, "ocidentais". 
9
https://www.flickr.com/photos/87726666%40N05/8030718145
 
Casa em São Paulo, Sudeste do país. 
 
 
Fonte: Shutterstock. 
 
Pequeno aglomerado rural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Shutterstock. 
 
Em condições tão diferentes, é esperado que sejam utilizadas diferentes soluções 
tecnológicas para resolver o problema da falta do saneamento básico no Brasil. 
10
 
 
 
 
 
Imagem: Diferentes soluções tecnológicas para o saneamento básico rural no Brasil. 
 
 
 
Até 2015 o IBGE também realizava a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 
pela qual eram obtidas informações a respeito do saneamento básico na área rural. 
Segundo esse documento, o Brasil, em 2015, tinha uma população rural de 31,2 milhões de 
habitantes (IBGE, 2016). Já o PNSR, na sua concepção, tratou alguns aglomerados 
considerados urbanos pelo IBGE como eminentemente rurais - pelas suas características. 
Neste contexto, a população rural e de áreas isoladas, segundo o PNSR e tendo como base o 
censo demográfico de 2011, seria de 39,91 milhões de habitantes (Brasil, 2019). 
 
De qualquer maneira que se veja, é uma população considerável e que tem os mesmos 
deveres e direitos de qualquer cidadão brasileiro, inclusive o acesso aos sistemas de 
tratamento de água e esgoto e seus benefícios. 
 
 
 
 
 
 11
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9127-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios.html?&t=o-que-e
 
Dados do saneamento básico rural e de áreas isoladas 
no Brasil 
 
São poucos os dados oficiais relativos ao saneamento básico nas áreas rurais e isoladas. O 
PNAD 2015 faz um panorama do saneamento rural, em comparação, com base no número 
de domicílios particulares permanentes. Os dados são apresentados na tabela abaixo. 
 
 
 
 
Tabela 1 - Domicílios particulares urbanos e rurais, para o esgotamento sanitário. 
Número de domicílios x 1000 
 
Esgotamento Sanitário na 
residência 
 
Urbano 
(absoluto) 
 
Urbano 
(%) 
 
Rural 
(Absoluto) 
 
Rural 
(%) 
 
1 - Rede coletora 
 
39.671 
 
68,0 
 
530 
 
5,4 
 
2 - Fossa Séptica ligada à 
rede coletora 
 
3.815 
 
6,5 
 
439 
 
4,5 
 
3 - Fossa Séptica não ligada 
à rede coletora 
 
7.604 
 
13,0 
 
2.802 
 
28,8 
 
4 - Fossa Rudimentar 
 
5.713 
 
9,8 
 
4.260 
 
43,7 
 
5 - Outro 
 
1.175 
 
2,0 
 
712 
 
7,3 
 
6 - Não tem 
 
319 
 
0,5 
 
996 
 
10,2 
 
Total 
 
58.298 
 
100,0 
 
9.739 
 
100,0 
12
 
 
 
Na tabela acima, os itens 1 a 3 são considerados pelo IBGE como adequados, já os itens 4 a 
6 inadequados. Nesse sentido, é possível observar que, do ponto de vista do esgotamento 
sanitário rural, somente 38,7 % da população tem atendimento adequado (rede coletora ou 
Fossa Séptica). Consequentemente, 61,3 % possuem atendimento inadequado ou sequer 
possuem qualquer sistema de esgotamento sanitário. 
 
É importante ressaltar que, pela metodologia da PNAD, a informação é autodeclarada,ou 
seja, o morador informa se possui ou não os sistemas e quais estariam instalados, o pode 
gerar distorções. Por exemplo, o morador pode ter uma fossa rudimentar na sua casa com 
uma tampa de concreto. Na falta de conhecimento técnico, o morador pode declarar que 
este sistema é uma Fossa Séptica, aumentando erroneamente os números de instalações 
adequadas. Adicionalmente, não é questionado se os sistemas instalados estão sendo 
mantidos e acompanhados cotidianamente por uma pessoa especializada, o que pode dar a 
falsa impressão de existir um tratamento, que pode não ocorrer adequadamente por 
diversos fatores. Assim, os números oficiais podem estar mascarados por diferentes 
realidades locais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13
Do ponto de vista de números, o PNSR (2019) apresenta dados melhor classificados, 
mostrando, além do esgotamento sanitário, também o abastecimento de água potável, 
conforme a tabela abaixo. 
 
 
Já o PNSR fez uma avaliação mais abrangente, a começar pela distribuição da população, 
segundo práticas sanitárias. Observe o esquema abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: PNSR, 2019. 
 
 
 
14
Tabela 2 - Atendimento e déficit por componente do saneamento para a 
população residente nas diferentes áreas rurais do Brasil 
 
15
 
 
 
 
O atendimento adequado corresponde à população atendida pelas soluções adequadas expostas no 
Quadro 4.1, subtraída daquela que reside em domicílios com pelo menos uma intermitência no mês ou 
recebendo água não potável. 
 
 
As bases de dados disponíveis não permitem avaliar, com precisão, a parcela da população não 
atendida por abastecimento de água. Assim, a estimativa assumiu que 50% da população atendida por 
poço ou nascente sem canalização interna e 50% da população que recebe água de outra 
procedência sem canalização interna, enquadrar-se-iam na categoria "sem atendimento". 
 
Embora, para efeito de conceituação do atendimento, as fossas sépticas representem solução 
adequada, para a estimativa de investimentos o número de fossas sépticas existentes não pode ser 
considerado integralmente aproveitável, sendo apenas parte da população futura atendida. Por um 
lado, há problemas de classificação indevida, devido a dificuldades inerentes aos levantamentos de 
campo. Por outro, locais onde há fossas sépticas adequadas podem receber rede coletora no futuro, 
conduzindo a que essas fossas sejam desativadas ou tenham seu efluente lançado nessa rede. 
 
 
 Identificamos por estes dados que: 
 
• 40,5 % da população rural brasileira tem acesso ao fornecimento adequado de água. 
 
• Somente 20,6 % tem atendimento adequado de coleta e tratamento de esgoto residencial. 
 
• Quanto mais isolada estiver a residência rural, mais difícil o acesso aos serviços de água e esgoto. 
 
Por esses números, fica claro que o rural brasileiro carece de mais atenção dos órgãos públicos e seus gestores, no sentido 
de melhorar o saneamento básico nessas regiões. 
Agora que você está ciente dos dados do saneamento básico no contexto rural brasileiro, vamos conhecer na próxima aula a 
tecnologia Fossa Séptica Biodigestora. Até lá! 
 
 
16
 
 
 
2.2 Tecnologia: Fossa Séptica Biodigestora 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Identificar os benefícios do tratamento de esgoto para a não contaminação das 
águas subterrâneas e da própria população. 
 
Reconhecer o porquê da separação dos esgotos residenciais. 
 
 
Reconhecer as características construtivas e operacionais da Fossa Séptica 
Biodigestora. 
 
Reconhecer as características química, física e biológica do funcionamento da 
Fossa Séptica Biodigestora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
2 
3 
4 
17
 
Introdução 
Olá! Nesta aula vamos conhecer a tecnologia Fossa Séptica Biodigestora, que faz o 
tratamento de esgoto em áreas rurais e isoladas com um custo/benefício acessível, de fácil 
construção e manutenção, a fim de evitar os problemas de contaminação gerados pela fossa 
rudimentar, que ainda é utilizada por muitas famílias que desconhecem seus malefícios. Bons 
estudos! 
 
 
Fossa Séptica Biodigestora: premissas, conceitos, 
funcionamento e aspectos construtivos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18
 
 
 
Problemas da fossa rudimentar 
 
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e o Abastecimento (FAO), a 
agricultura de base familiar reúne 14 milhões de pessoas, mais de 60% do total de 
agricultores, e detém 75% dos estabelecimentos agrícolas no Brasil. No entanto, verifica-se 
que nessas comunidades é comum a utilização de fossas rudimentares, que apresentam 
potencial risco de contaminação das águas subterrâneas e da própria população. 
Observe na imagem abaixo.
 
 
Como você observou na imagem acima, o principal risco associado à disposição inadequada 
dos efluentes domésticos é a possibilidade de transmissão de doenças pelos organismos 
patogênicos presentes no esgoto, que incluem bactérias, vírus, protozoários e helmintos. 
Tais doenças são chamadas de “doenças de veiculação hídrica” ou “doenças de 
transmissão feco- oral”, estão relacionadas com a ingestão do organismo patogênico 
presente na água contaminada. Alguns exemplos são a cólera, giardíase, febre tifoide, 
leptospirose, amebíase, ascaridíase, dentre outras, como já citado no módulo anterior. 
 
 
 
 
 
 
19
 
Separação dos esgotos residenciais 
 
Podemos entender que o esgoto sanitário pode ser definido pelos resíduos aquosos gerados na 
defecação, higiene, limpeza de ambientes e preparação dos alimentos. Eles são enviados para 
tubulações para este fim, visando tratamento e descarte posterior. Na definição de esgoto, não é 
considerada a água da chuva, que deve ser deslocada para os sistemas de drenagem. 
 
 
 
 O esgoto pode ser dividido tecnicamente em: 
 
Águas pretas (ou águas negras): as águas pretas são oriundas, única e 
exclusivamente dos vasos sanitários, estando contaminadas por fezes e urina, 
que geram alta DBO na água, bem como altos valores de coliformes totais e 
termotolerantes, além de vermes e protozoários. Em um esgoto residencial, as 
águas pretas representam, aproximadamente, 15 % do volume total gerado. 
 
Águas cinza: as águas cinzas correspondem ao restante do esgoto da 
residência, são então oriundas das pias (banheiro e cozinha), chuveiro, 
tanques, máquinas de lavar roupas ou pratos etc. Como diz o próprio nome, 
são acinzentadas pela presença de sabões e detergentes, além também 
materiais em suspensão como óleos e graxas, restos de alimentos, cabelos 
etc. Elas representam 85% do volume total gerado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Fossa Séptica Biodigestora é uma tecnologia que trata o esgoto do vaso sanitário (a água com urina e fezes humanas), de fácil 
instalação e custo acessível, produz um efluente que pode ser utilizado no solo como fertilizante (recomendado para plantas 
perenes). 
 
 
 
 
 
 
 
 20
 
 
 
A Fossa Séptica Biodigestora é uma tecnologia que trata o esgoto do vaso sanitário (a água 
com urina e fezes humanas), de fácil instalação e custo acessível, produz um efluente que 
pode ser utilizado no solo como fertilizante (recomendado para plantas perenes). 
O que precisamos entender, é que ela segue os princípios biológicos dos biodigestores 
asiáticos e das câmaras de fermentação de ruminantes, como os bovinos. Assim como nas 
câmaras estomacais do animal (observe a imagem abaixo), a tecnologia também é composta 
de várias câmaras fermentativas, onde o esgoto doméstico, contendo fezes e urina, passa 
pelo tratamento anaeróbio (ausência de oxigênio). Vamos ver mais detalhes desse processo 
mais à frente neste tópico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Clique aqui para saber mais sobre a Disposição do solo como alternativa de 
tratamento e pós- tratamento de esgoto doméstico para pequenas 
comunidades: relatório final".21
http://www.funasa.gov.br/documents/20182/275000/%5B04%5D-2419257_Documento_DISPOSICAO_NO_SOLO_COMO_ALTERNATIVA_DE_TRATAMENTO.pdf/fd08926a-fc4e-4f5b-b761-4f342b1f7c65?version=1.0
 
 É importante destacar que para a instalação da Fossa Séptica Biodigestora, é fundamental 
que o esgoto oriundo do vaso sanitário esteja separado do restante do esgoto da 
residência. 
 
Materiais para a construção de uma Fossa Séptica Biodigestora 
O conjunto básico de materiais para construção da tecnologia para uma residência com até 5 
pessoas, inclui: 
 
3 caixas d'água de fibra de vidro de 1000L. 
 
 
Tubos, conexões e válvulas de PVC. 
 
 
Registros e demais acessórios (componentes encontrados facilmente em lojas de 
material de construção). 
 
 
 
 
Você sabe por que a Fossa Séptica Biodigestora trata 
única e exclusivamente as águas pretas? 
 
Porque a tecnologia funciona a partir de micro-organismos (bactérias e 
leveduras) especializadas na quebra dos resíduos orgânicos presentes no 
esgoto. Estes micro- organismos são muito sensíveis à presença de sabões e 
detergentes, muito comuns nas águas cinza, reduzindo a eficiência do 
tratamento. 
 
Porque as águas cinza são muito diluídas e, portanto, têm menos nutrientes 
disponíveis para os micro-organismos, limitando o seu crescimento e, 
novamente, reduzindo a eficiência do tratamento. 
 
O líquido deve ficar em tratamento por, pelo menos, 20 dias no sistema e como 
as águas pretas representam somente 15% do total do esgoto gerado por uma 
residência, o sistema deveria ser muito maior, aumentando os custos de 
instalação, e conforme descrito acima, com uma menor eficiência. 
 
 
 
 
 
22
 
 
 
 
Imagem: Esquema da Fossa Séptica Biodigestora com detalhamento dos materiais. Fonte: 
Embrapa Instrumentação. Adaptado de: Valentim Monzane. 
 
 
 
Como você pôde ver acima, o sistema é conectado à tubulação da saída do vaso sanitário, que 
recebe apenas o efluente proveniente das descargas (fezes e urina). Todo o processo é realizado 
naturalmente, sem o uso de energia elétrica, sendo necessária apenas a aplicação de uma 
pequena quantidade mensal de fezes frescas de bovinos, para melhoria da eficiência, devido aos 
micro-organismos presentes no material. 
 
Como o sistema é modular, o número de tanques de fermentação pode ser aumentado de 
maneira proporcional ao número de moradores da residência, mantendo-se o volume mínimo 
de mil litros para cada caixa, conforme descrito no memorial descritivo da tecnologia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo de armazenamento 
 
23
 
 
 
Clique aqui para saber mais sobre todo o material necessário e os 
detalhes construtivos, que estão descritos no Memorial Descritivo: 
Montagem e Operação da Fossa Séptica Biodigestora. 
 
A Embrapa, além do memorial descritivo, publicou também o documento “Perguntas e 
respostas” sobre a tecnologia, onde muitas dúvidas podem ser resolvidas com a leitura. 
Clique aqui para acessá-lo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vamos imaginar que você precisa instalar uma Fossa Séptica Biodigestora em uma 
residência, porém existem 7 pessoas morando lá, como você calcula quantas caixas 
d'água utilizar? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24
https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1081476/memorial-descritivo-montagem-e-operacao-da-fossa-septica-biodigestora
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/209338/1/Fossa-biodigestora-perguntas-e-respostas-...-doc-70.pdf
 
Observe a tabela abaixo para dimensionar o volume da Fossa Séptica Biodigestora em função 
do número de moradores da residência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 1: Como dimensionar o volume de uma Fossa Séptica Biodigestora em 
função do número de moradores. O volume da última caixa (módulo de 
armazenamento, não apresentado) pode variar em função da necessidade e rotina 
da propriedade, devendo ser de, no mínimo, 1000L 
 
Número de 
moradores 
 
Volume de fermentação 
necessário (Litros) 
 
Característica construtiva 
recomendada (somente os 
módulos de fermentação) 
 
Tabela 1: Como dimensionar o volume de uma Fossa Séptica Biodigestora em 
função do número de moradores. O volume da última caixa (módulo de 
armazenamento, não apresentado) pode variar em função da necessidade e rotina 
da propriedade, devendo ser de, no mínimo, 1000L 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
até 5 
 
2000 
 
Duas caixas de 1000L 
 
6 ou 7 
 
3000 
 
Três caixas de 1000L 
 
8 a 10 
 
4000 
 
Quatro caixas de 1000L ou duas 
caixas de 2000L 
25
 
 
 A Fossa Séptica Biodigestora, por se basear em um processo anaeróbio, gera pouco sólido e 
este, devido às características construtivas do sistema, não é armazenado nos módulos. 
Assim, cria-se outra vantagem: não há a necessidade da retirada de sólidos (contratações 
de caminhão limpa-fossa, por exemplo), o que reduz os custos de manutenção. 
 
Nenhum dos sistemas de saneamento desenvolvidos pela Embrapa gera odores 
desagradáveis, nem tão pouco procria vetores de doenças, como baratas, ratos, moscas 
etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Fossa Séptica Biodigestora instalada. 
 Foto: Wilson Tadeu Lopes da Silva. 
 
 
Para evitar que pessoas ou animais pisem nas tampas e as quebrem, é recomendado que você 
cerque ao redor do sistema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Fossa Séptica instalada com a cerca de proteção. 
Foto: Wilson Tadeu Lopes da Silva. Fonte: Embrapa. 
 
 26
 
 
 
 
Características de funcionamento da Fossa 
Séptica Biodigestora 
 
Conforme descrito anteriormente, a Fossa Séptica Biodigestora se baseia no princípio da 
fermentação (ou biodigestão) anaeróbia, a qual ocorre naturalmente por um conjunto de micro-
organismos presentes no próprio esgoto. 
 
Basicamente, os micro-organismos promovem um processo de “desmontagem” das 
moléculas, partindo do material bruto, rico em proteínas, oligossacarídeos e celuloses, que 
serão degradados por micro-organismos especializados em diferentes processos, até o final 
do processo, gerando gases, como metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), além de água, 
matéria orgânica estabilizada e minerais solúveis. Em condições adequadas de temperatura, 
tempo de permanência no sistema e nutrientes, os micro-organismos consomem a matéria 
orgânica, transformando o esgoto bruto em um efluente adequadamente tratado. 
 
 
Observe as principais etapas da degradação da matéria orgânica 
em um processo anaeróbio. 
 
 
Etapas de degradação da matéria orgânica em um processo anaeróbio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27
 
 É fundamental a inclusão periódica de fezes frescas de bovinos no sistema, que ocorre por 
uma válvula de retenção, instalada na tubulação de esgoto imediatamente antes do 
primeiro módulo de fermentação. A importância do uso das fezes frescas de bovinos é para 
inocular micro-organismos especializados na quebra de materiais fibrosos, entre outros, 
aumentando a eficiência do tratamento. Como é para inocular, o uso ocorre somente uma 
vez ao mês, na quantidade de 5L de fezes frescas misturados com 5L de água. 
 
 
Do ponto de vista geral, por ser um processo anaeróbio, é fundamental evitar que entre ar no 
sistema. Por este motivo, as caixas d´água são vedadas com guarnições esponjosas nos seus 
encaixes com as tampas. É importante haver as chaminés de escape, para liberar os gases 
gerados. Em condições de fermentação mais comuns, o pH do meio fica próximo de 7 (neutro). 
No caso da Fossa Séptica Biodigestora, a concentração de nitrogênio amoniacal residual (NH4
+) 
eleva o pH para valores entre 7,5 a 8, caracterizando o líquido como ligeiramente alcalino. As 
características do líquido tratado permitem o uso controlado no solo como um fertilizante, 
seguindo recomendações e normas internacionais sobre o assunto, queserão tratadas 
posteriormente nesta capacitação. 
 
Clique aqui para saber mais sobre as etapas de degradação da matéria 
orgânica em um processo anaeróbio. Descrito em “Sistemas biológicos 
simplificados aplicados ao Saneamento Básico Rural”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Principais micro-organismos 
Tabela 2 - Bactérias presentes no rúmen bovino 
 
 
 
 
 
F
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https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1031073/sistemas-biologicos-simplificados-aplicados-ao-saneamento-basico-rural
 
 
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre esse assunto. 
Fossa Séptica Biodigestora: a Embrapa Instrumentação explica 
 
 
29
 
 
Eficiência do sistema de tratamento e qualidade do 
efluente tratado 
Primeiramente, para este assunto, precisamos entender que a Fossa Séptica Biodigestora é 
dimensionada de maneira que o esgoto fique fermentando por, pelo menos, 20 dias nos 
módulos de fermentação. Isto garante um bom tratamento e estabilização da matéria 
orgânica presente e redução acentuada da quantidade de micro-organismos, como 
coliformes, por exemplo. 
Conforme foi apresentado no tópico 1.3, diversas são as análises recomendadas para 
avaliação da eficiência de um sistema de tratamento de esgoto, sendo somente 
apresentadas algumas nesta aula. 
O efluente tratado pela Fossa Séptica Bodigestora possui pH ligeiramente alcalino 
(aproximadamente 8), salinidade aproximada de 1,4 g/kg e sólidos sedimentáveis <0,1 
mL/L. A eficiência média remoção é de 79,6 % para turbidez; 68,6% de DBO; 65,1% de DQO; 
99,1 % de coliformes totais e de 97,7 % de coliformes termotolerantes. São valores muito 
bons e atestam a eficiência da tecnologia como sistema de tratamento de esgoto. Do ponto 
de vista de macronutrientes agrícolas, nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), as 
concentrações no efluente tratado estão na ordem de 390, 24 e 52mg/L, respectivamente. 
 
 Clicando nos botões abaixo você terá acesso detalhado e informações pertinentes dos 
 parâmetro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agora que você conheceu a tecnologia Fossa Séptica Biodigestora, confira na próxima aula a 
tecnologia Jardim Filtrante. Até lá! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30
https://asdtreinamentos.com.br/embrapa/22pH/
https://asdtreinamentos.com.br/embrapa/22remocao/
https://asdtreinamentos.com.br/embrapa/22turbidez/
https://asdtreinamentos.com.br/embrapa/22condutividade/
https://asdtreinamentos.com.br/embrapa/22demanda/
 
Dica de leitura 
RUIZ, R.L. Microbiologia Zootécnica. Livraria Roca, São Paulo. 314 p. 1992. 
 
 
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3º Ed. Belo 
Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental; Universidade Federal de 
Minas Gerais, 2005. 452 p. 
31
 
 
2.3 Tecnologia: Jardim Filtrante 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Identificar as diferenças entre áreas alagadas naturais e artificiais e os seus 
papéis em relação ao solo. 
 
Reconhecer o que é o tratamento por zona de raiz. 
 
 
Reconhecer o Jardim Filtrante, sua função e como funciona biologicamente. 
 
 
Reconhecer os aspectos construtivos e o dimensionamento de um “Jardim 
Filtrante”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
2 
3 
4 
32
 
Introdução 
Olá! Nesta aula vamos conhecer uma tecnologia cuja finalidade é o tratamento de esgotos 
domésticos caracterizados como "águas cinzas", ou seja, provenientes de pias, tanques, 
chuveiros, máquinas de lavar roupas, cozinhas e outros líquidos ricos com sabões, 
detergentes e gorduras. Estamos falando do Jardim Filtrante. Essa tecnologia promove a 
remoção de matéria orgânica pela interface dos microrganismos com as raízes das plantas 
aquáticas (macrófitas), estas totalmente adaptadas ao meio aquático saturado, além do meio 
filtrante (brita e areia). Os micro-organismos degradam os compostos orgânicos presentes 
nas águas cinzas, sendo os grandes responsáveis pela eficiência no tratamento. 
 
 
 
Jardim Filtrante: premissas, conceitos, funcionamento e aspectos 
construtivos 
 
 
 
 
 
 
 
33
 
 
Tratamento de efluentes em áreas alagadas naturais e 
construídas 
Antes de entrar no assunto sobre a tecnologia Jardim Filtrante, é preciso contextualizar o 
significado de áreas alagadas naturais e áreas alagadas construídas. Confira as definições a 
seguir. 
 
Áreas alagadas naturais 
 
É a denominação dada aos brejos, pântanos, mangues, várzeas, charcos etc. Embora 
tais locais possam parecer sombrios e sem vida, eles têm um papel muito importante 
para a natureza: abrigam diversas espécies de plantas, animais e micro-organismos, 
responsáveis pela manutenção biológica do ecossistema. Os locais colaboram com a 
regulação da temperatura atmosférica, absorção de gás carbônico e manutenção do 
solo, motivo pelo qual são ambientes protegidos por lei e proibidos de intervenções 
humanas. Observe alguns exemplos nas imagens abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Área alagada natural, brejo. Fonte: Shutterstock. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Área alagada natural: pântano. Fonte: Shutterstock. 
Esses locais podem ser constantemente inundados ou submersos em água, conforme 
marés ou cheias de corpos d´água ou até mesmo por influência de águas subterrâneas. Em 
função da situação, podem ter diferentes tipos de solo, concentrações de oxigênio, 
espécies aquáticas e animais, vegetação, salinidade, temperatura da água, dentre outras 
diferenças. 
 
 
Áreas alagadas construídas 
 
São ecossistemas artificiais construídos, estruturados com diferentes tecnologias que 
utilizam os mesmos princípios básicos dos sistemas naturais, com regime hidráulico 
controlado. Trata-se, portanto, de uma tecnologia que procura reproduzir, em condições 
controladas, artificiais e em menor escala, os mecanismos físicos, químicos e Biológicos 
dos sistemas naturais (brejos, pântanos etc.). Utiliza-se essa tecnologia para tratamento 
de efluentes, onde neste curso será abordado o uso para esgoto doméstico, 
especificamente, da área rural. Observe um exemplo na imagem abaixo. 
 
35
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: SIMI. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na literatura, as áreas alagadas construídas podem ter os seguintes nomes: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36
http://www.simi.org.br/noticia/tecnologia-para-tratamento-de-esgoto-pode-solucionar-d%C3%A9ficit-de-saneamento.html
 
 
Agora que você entende a definição da área construída, vamos aprender os seus dois tipos de 
fluxo. 
 
A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), por meio de zona de raízes, é um sistema que utiliza 
um processo de filtragem física em brita e areia, constituindo um biofiltro que está associado às 
plantas. Nessas zonas, a função principal das plantas consiste em fornecer oxigênio ao 
solo/substrato - através de rizomas - que possibilitam o desenvolvimento de uma população 
densa de micro-organismos, que são os maiores responsáveis pela remoção dos poluentes da 
água. 
As áreas alagadas podem ser construídas para que o fluxo do líquido em seu interior seja vertical 
(da superfície para o fundo do sistema) ou horizontal. No caso do fluxo horizontal, são dois os 
principais tipos: 
 
 
 
Clique aqui para ter acesso ao documento técnico/científico 
“Experiências brasileiras com wetlands construídos aplicados ao 
tratamento de águas residuárias: parâmetros de projeto para sistemas 
horizontais” 
 
 
37
https://www.scielo.br/j/esa/a/8zwy5WwwLZVxRk5btDHDMkG/?format=pdf&lang=pt
 
38Fonte: Embrapa Instrumentação, 2022. Foto: Hernandes, Pedro. 
 
 
 
Agora que aprendemos o conceito de área alagada artificial, vamos conhecer a tecnologia 
que a Embrapa desenvolveu sob essa concepção, denominada de Jardim Filtrante, e 
adaptada para o tratamento de águas cinza de uma residência rural. Trata-se do Jardim 
Filtrante, adaptado ao tratamento de águas cinzas de uma residência rural. Configura-se 
como um pequeno lago impermeabilizado, que contém pedras, areia, plantas aquáticas e 
dispositivos hidráulicos para o direcionamento do fluxo do esgoto, que vai ser tratado pelo 
sistema. Tecnicamente seu fluxo é do tipo horizontal subsuperficial. 
 
 
 
A função do Jardim Filtrante 
Imagem: Jardim filtrante no Sítio São João, em São Carlos-SP. 
Fonte: Embrapa Instrumentação, 2016. Foto: SILVA, Joana. 
 
39
 
 Vale destacar que esse tipo de sistema não é novo e já vem sendo utilizado há mais de um 
século, principalmente, em países europeus. No Brasil, os estudos foram iniciados na 
década de 1970, com algumas pesquisas voltadas para lagoas, mas apenas na década de 
1990 o desenvolvimento científico para este tema começou a aparecer com mais 
frequência. 
 
 
A sua função é realizar o tratamento físico, químico e biológico de águas cinzas, permitindo 
a reutilização da água para irrigação de lavouras, lavagem de pisos e janelas, entre outras, 
ou mesmo o descarte de maneira adequada. O sistema possibilita ainda uma harmonia 
paisagística pelo uso de plantas ornamentais, inclusive com potencial para uso comercial e 
geração de renda. 
 
 
 
 
 
O funcionamento biológico do Jardim Filtrante 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como vimos na aula anterior, as bactérias são fundamentais para o tratamento do esgoto, 
uma vez que são responsáveis pela degradação da matéria orgânica presente no efluente por 
meio de processos anaeróbios, anóxicos e aeróbios. As condições aeróbias e anóxicas só 
acontecem devido ao fornecimento de oxigênio pelas raízes das macrófitas aquáticas. 
40
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fontes: O maravilhoso mundo das macrófitas aquáticas | LimnoNews (wordpress.com) 
e Importância das macrófitas aquáticas na engenharia sanitária e ambiental | PET 
Engenharia Sanitária e Ambiental (ufba.br). 
 
 
O oxigênio captado pelas folhas das macrófitas é levado através do caule até as raízes, 
não apenas para suprir a demanda respiratória dos tecidos das raízes, mas também para 
oxigenar sua rizosfera. 
A saída do oxigênio das raízes para o sistema cria condições de oxidação no meio, 
possibilitando a decomposição da matéria orgânica presente no líquido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41
 
A alta taxa de remoção da matéria orgânica é causada pela sedimentação de sólidos 
suspensos e por processos de decomposição na água e nas camadas superiores dos 
sedimentos. As bactérias aderidas aos caules das plantas e aos depósitos de humus são os 
principais responsáveis pela decomposição da matéria orgânica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Clique aqui para saber mais sobre o documento “Sistemas biológicos 
simplificados aplicados ao saneamento básico rural”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Nitrogênio presente no esgoto é removido por processos de amonificação, 
nitrificação e desnitrificação microbiana (captura pelas macrófitas e volatização da 
amônia). 
 
Já o Fósforo é removido pela sorção ao solo (adsorção-precipitação com Al, Fe, Ca e 
argiolominerais) e pela captura pelas macrófitas. O nitrogênio e o fósforo são 
poluentes de sistemas aquáticos, proporcionando eutrofização dos corpos d´água. 
 
Os patógenos são removidos pela sedimentação, filtração, morte natural, radiação 
UV e excreção de antibióticos a partir das raízes de certas macrófitas. 
42
https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1031073/sistemas-biologicos-simplificados-aplicados-ao-saneamento-basico-rural
 
Aspectos construtivos do Jardim Filtrante 
 
 
Fonte: Embrap a, 2018. 
 
 
 
Em resumo, o Jardim Filtrante trata-se de: 
 
 
Um pequeno lago escavado no solo. 
 
 
Impermeabilizado com uma membrana de EPDM, PVC ou equivalente. 
 
 
Protegido na parte inferior e superior por uma membrana geotêxtil do tipo "Bidin". 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 43
https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/32845167/oficina-instala-jardins-filtrantes-em-campinas
 
 
 Medidas 
Para uma residência de até 5 moradores, suas dimensões mínimas são 2 m de largura, 5 m de 
comprimento por 0,5 m de profundidade. As laterais são escavadas no solo a 45°, na forma de 
um talude. Tem-se 25 cm de uma camada de brita nº 2 ou 3 por baixo e 20 cm de areia média na 
camada superior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Planta e corte longitudinal de um Jardim Filtrante com a configuração básica 
(5 pessoas, 10 m²). Fonte: Valentim Monzane, Embrapa. 
 
 
Caso necessite ser redimensionado para um número maior de pessoas, será necessário 
aumentar a área superficial em pelo menos 2 m2 por habitante, sem alterar a profundidade 
e mantendo-se a relação comprimento/largura na faixa de, pelo menos, 2:1. 
 
 
. 
44
 
 
 
Estrutura 
Antes da entrada são colocados dois dispositivos hidráulicos: uma caixa de retenção de sólidos e 
outra de gordura, para garantir maior tempo de funcionamento do sistema e melhorar os aspectos 
de manutenção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Embrapa, 2015. Arte: Valentim Monzane. 
 
 
As conexões de entrada (parte superior) e saída (parte inferior) são feitas com tubos de PVC de 100 
mm. Para controlar o nível da água dentro do sistema, é feito um arranjo na saída na forma de sifão 
(monje). O nível da água deve ficar 2 a 4 cm abaixo do nível da areia, para não proporcionar lâmina 
d´água e condições para proliferação de insetos. 
 
Para finalizar, são incorporadas plantas adaptadas ao ambiente aquático que fazem 
parte do processo biológico de tratamento do esgoto, confira algumas espécies nas 
imagens a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Imagem: Papiro. Fonte: Shutterstock 
 
. 
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Imagem: Lírio do Brejo. Fonte: Wikipedia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Copo de leite. Fonte: Shutterstock. 
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Imagem: Taboa. Fonte: Shutterstock. 
 
 
 
 
 
Clique aqui para saber sobre a história do produtor rural Flávio Marchesin, 
de São Carlos-SP, que comercializa espécies ornamentais desenvolvidas 
no Jardim Filtrante. Segundo ele, cada muda tem um potencial para ser 
comercializada por 30 a 40 reais; possibilitando cobrir os custos de 
implantação do sistema a médio prazo.. 
 
47
https://revistagloborural.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/03/sitio-usa-sistema-de-saneamento-para-produzir-mudas-de-alto-valor-em-sp.html?fbclid=IwAR1edS3XQDd8ITvfHYTx2dI8KUqezQUivVv6KG9uy-RA11BG0JOB-6OzUwc
 
 
O Jardim Filtrante apresenta como vantagens a facilidade de operação, o baixo custo de 
implantação e manutenção, além da ausência de gastos com energia elétrica. A biomassa 
gerada pelas plantas pode ser destinada para compostagem, construção civil (paisagismo) e 
para outros fins. 
 
Assista ao vídeo a seguir sobre como construir um Jardim Filtrante na área rural. 
Jardim Filtrante: a Embrapa Instrumentação ensina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agora que você conheceu a tecnologia do Jardim Filtrante, vamos conhecer outra tecnologia 
na próxima aula, o Clorador Embrapa. 
48
 
 
2.4 Tecnologia: Clorador Embrapa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Identificar as características gerais para a potabilidade da água. 
 
 
Reconhecer os aspectos construtivos e operacionais do Clorador Embrapa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
2 
49
 
Introdução 
 
Olá! Nesta aula vamos aprender sobre a tecnologia Clorador Embrapa, como ela funciona e o 
porquêda sua utilização ser tão importante para a saúde das pessoas nas áreas rurais e isoladas. 
 
Clorador Embrapa: premissas, conceitos, 
funcionamento e aspectos construtivos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50
 
 
 
 
 
Consumindo água de qualidade 
Sabemos que a água é indispensável para a vida. Quando a quantidade de água no nosso 
organismo é reduzida, apresentamos um quadro de desidratação, cujos sintomas são 
fraqueza, aceleração do coração e ressecamento da pele, o que pode causar problemas de 
saúde. 
É importante saber que nem toda água é boa para o consumo humano. A água potável é a ideal, 
preferencialmente, fresca ou com temperatura agradável, ela deve possuir estas características: 
 
Não ter cheiro (inodora); 
 
Não ter cor (incolor); 
 
Não ter gosto (insípida); 
 
Estar livre de substâncias contaminantes; 
 
Estar totalmente isenta de micro-organismos patogênicos. 
 
 
Ou seja, estar de acordo com todos os parâmetros e critérios de potabilidade de água descritos na 
Portaria GM/MS nº888/2021. 
 
 
Os aspectos organolépticos, como cor, sabor, odor, turbidez e temperatura, são considerados 
para fins de aceitabilidade da água pelo consumidor. 
 
 
 
 
 
 
 
Já as análises bacteriológicas (de coliformes totais e E-coli) devem mostrar ausência dos 
micro- organismos para assegurar que a água não transmitirá doenças. Além disso, 
dezenas de substâncias químicas - potencialmente presentes na água - devem ser avaliadas 
periodicamente e, para cada uma, existe um valor máximo permitido, que depende do 
grau de toxidez da substância e dos métodos de análise disponíveis 
51
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2021/prt0888_07_05_2021.html
 
 No Brasil, nem todas as casas são abastecidas por água tratada e, na área rural, a pessoa deve ficar alerta, 
pois a água da mina ou do poço nem sempre está na condição ideal para ser utilizada. Ela pode estar 
contaminada por fezes humanas ou de animais, e seu consumo pode provocar uma série de 
doenças, como hepatite, diarreia, tifo, giardíase e outras, que causam sérios danos à saúde 
podendo, inclusive, levar à morte. Para evitar todos esses males, é preciso, antes do uso, matar todos os 
germes transmissores de doenças presentes na água, e foi com esse propósito que a Embrapa criou a 
tecnologia que você irá conhecer a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os responsáveis pelas análises são as instituições que distribuem a água no município, 
podem ser a prefeitura, autarquia, empresa pública ou privada. Por meio dessa portaria, é 
exigido também que o prestador adicione cloro ativo e fluoreto à água nas quantidades 
corretas. No caso do cloro livre, é exigido que a concentração na saída da estação de 
tratamento esteja entre 0,5 e 2,0 mg/L e, na ponta da rede de distribuição, a concentração 
residual não pode ser menor que 0,2 mg/L. Já o fluoreto (flúor), a concentração máxima 
permitida é de 1,5 mg/L. Como o fluoreto é um material tóxico em altas concentrações, para 
melhor controle, o seu uso é restrito às estações de tratamento de água urbanas. 
 
52
 
Aspectos construtivos e operacionais do Clorador Embrapa 
Todo o material para montagem de um Clorador Embrapa pode ser adquirido no comércio local. 
A instalação é simples, podendo ser feita pelo próprio beneficiário. (Embrapa, 2015). Na Figura 
abaixo é apresentada uma representação esquematizada de um Clorador, bem como uma foto de 
um sistema instalado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Embrapa Instrumentação, 2014. Foto: LAURITO, Mônica. 
 
 
O Clorador Embrapa é uma tecnologia simples que possibilita a aplicação de cloro na água 
utilizada na residência rural. Basicamente, é um funil instalado na rede que leva a água da 
captação (poço, nascente protegida) até a caixa d´água da residência. Por meio deste funil, 
é colocado cloro granulado (hipoclorito de cálcio) na rede e o fluxo da água levará o cloro 
até a caixa d´água. Além do pequeno funil, também são instalados registros de esfera e uma 
torneira de jardim. 
 
 
 
 
53
A adição de cloro deve ser feita todos os dias, porque o produto perde efeito após 24 horas. Para 
garantir que o cloro faça efeito a tempo na água a ser consumida, indicamos que esse processo de 
adição do cloro seja feito pela manhã e que você aguarde, pelo menos, 30 minutos antes de 
consumi-la. Por isso, recomendamos que você faça a cloração logo ao acordar para utilizar a água 
clorada durante o dia. 
 
 
 
A. Registro de esfera, instalado do lado da captação da água. 
 
B. Torneira ligada a um “Tê” instalado no lado do reservatório (caixa d´água). 
 
C. Registro de esfera para possibilitar a entrada do cloro. 
 
D. Funil montado com tubo e redução (recomenda-se colocar um “cap” para servir de tampa 
quando o sistema não estiver em uso). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Foto de um sistema instalado com o técnico Luiz Godoy 
mostrando a quantidade aproximada de hipoclorito de cálcio a ser usada 
para cada 1000 L de água. Fonte: Embrapa. 
 
O cloro, quando usado na proporção correta, combate a contaminação da água por germes e microrganismos e não é prejudicial à 
saúde. O cloro granulado, do tipo hipoclorito de cálcio 65%, é o mais indicado para uso no clorador Embrapa. Ele é facilmente 
encontrado em lojas de materiais para piscinas, tem eficiência comprovada na eliminação de contaminantes e, na quantidade 
correta, não dá sabor forte à água. A quantidade a ser utilizada, para quem possui uma caixa d’água de 1.000 litros, equivale a uma 
colher rasa de café por dia (aproximadamente 1 a 1,5 g). Se a caixa d’água tiver volumes diferentes, a quantidade de cloro será maior 
ou menor, proporcionalmente ao volume da caixa. Nestas condições de aplicação, a concentração de cloro ativa atende a portaria 
GM/MS nº888/2021. 
 
54
 
 
 
Clique aqui para saber mais detalhes sobre o Clorador Embrapa. 
 
 
 
 
 
Ao instalar um clorador, seja da Embrapa ou outra tecnologia, não esqueça de 
limpar a caixa d´água antes, para retirar resíduos incrustados e evitar que reajam 
com o cloro ativo, produzindo sabores e odores desagradáveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A água a ser clorada deve ser totalmente transparente, límpida, sem cor ou odor. Por isso, 
recomendamos que a fonte de água a ser utilizada seja de boa qualidade e obtida 
preferencialmente de poços ou nascentes (minas d´água) devidamente protegidos. Caso a água 
não tenha essas características, deverá passar por algum sistema de purificação prévia, como o 
uso de filtros lentos, por exemplo. A Funasa tem trabalhado com um filtro à base de zeólitas, 
seguido de cloração, denominado de sistema Salta-z. 
 
Assista ao vídeo sobre o Clorador Embrapa. 
Clorador Embrapa – simplicidade e eficiência para a qualidade 
da água 
 
 
55
https://www.youtube.com/watch?v=8TdM3h11T9w
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/128259/1/ABC-Saneamento-basico-rural-ed01-2014.pdf
 
 
 
Clique aqui para saber mais sobre Filtros lentos em escala domiciliar como 
alternativa de tratamento de águas com risco microbiológico em 
comunidades isoladas. 
Clique aqui para saber mais sobre solução alternativa coletiva simplificada de 
tratamento de água destinada ao consumo humano em pequenas comunidades. 
 
Agora que conhecemos a tecnologia Clorador Embrapa e seus benefícios, vamos conhecer a 
seguir como podemos reutilizar, de forma segura, os efluentes de esgoto tratado na próxima 
aula. Até lá! 
56
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde-18102017-165857/publico/DissertFreitasBarbaraLuizaSCorrig.pdf
http://www.funasa.gov.br/documents/20182/99386/Nota_Informativa_SALTA-z.pdf/
 
2.5 Reúso agrícola seguro de Efluente de 
Esgoto Tratado (EET) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Identificar os cuidados no reúso agrícola de efluentes tratados. 
 
 
Distinguir os conceitos de irrigaçãocontrolada e fertirrigação. 
 
 
Identificar as características do Efluente de Esgoto Tratado (EET) pela Fossa Séptica 
Biodigestora para fins de reúso agrícola. 
 
Reconhecer formas de aplicação do EET, com vista à segurança e à produtividade. 
 
 
Reconhecer alguns resultados do uso de EET na produtividade agrícola. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
2 
3 
4 
5 
57
 
Introdução 
Olá! Nesta aula vamos encontrar algumas alternativas de uso do Efluente de Esgoto 
Tratado (EET). Isto é algo muito importante tanto para questões ambientais, como para 
assegurar uma produtividade mínima de pequenas culturas. Vamos entender que o EET 
gerado pela Fossa Séptica Biodigestora, além de água, possui uma série de nutrientes e 
matéria orgânica que, se aplicados no solo, podem melhorar a fertilidade, aumentando a 
produtividade agrícola por um lado, e reduzindo custos com fertilizantes minerais pelo 
outro. As características gerais, vantagens e limitações do uso agrícola, de uma forma 
segura, do EET, também serão discutidas nesta aula. Bons estudos! 
 
Reúso agrícola seguro de Efluente de Esgoto Tratado (EET): 
conceito, vantagens e recomendações 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58
 
 O reúso de água, refere-se ao tratamento de esgotos gerados de casas, indústrias e comércio. A 
água devidamente tratada pode ser utilizada de diferentes formas no meio urbano, por exemplo: 
esfriamento de caldeiras, aquicultura, recreação, recarga de aquíferos, agricultura etc. 
 
Reúso agrícola de efluentes tratados e seus cuidados 
 
Conceitos de irrigação controlada e fertirrigação 
Como vimos no módulo anterior, os recursos hídricos não são distribuídos de forma 
proporcional à demanda populacional de algumas regiões pelo País e, com as mudanças 
climáticas que estão causando a redução da água disponível em muitos territórios do globo, 
existe uma alternativa que pode amenizar esse problema, o reúso da água. Essa medida 
diminui o despejo de esgoto em corpos hídricos, além de diminuir o uso de uma água de 
boa qualidade, que seria destinada a atividades que exigem menos desse tipo de água. 
 
 
Após o tratamento, o esgoto passa a ser chamado de Efluente de Esgoto Tratado (EET). A 
utilização de EET deve ser feita seguindo parâmetros de segurança para não oferecer riscos 
à população e nem ao meio ambiente. Deve ser realizado um tratamento correto da água de 
reúso para estar dentro dos padrões de qualidade microbiológica, conforme a finalidade 
para a qual será utilizada. 
Até o momento, não existe norma brasileira que trate do uso agrícola de Efluente de Esgoto 
Tratado (EET) em irrigação ou fertilização de solo. Apesar disso, é possível a recomendação 
de uso segundo algumas premissas, baseadas em resultados de projetos realizados no 
Brasil. Alguns técnicos, de forma errônea, utilizam a Resolução nº 430/2011 do CONAMA, 
como referência para uso agrícola do efluente tratado. Entretanto, os parâmetros da 
resolução são válidos para o controle da qualidade do efluente para o lançamento direto em 
cursos d´água, fato que não ocorre quando aplicado no solo. 
Do ponto de vista internacional, a Organização Mundial da Saúde (WHO, em inglês), 
publicou o livro “Guidelines for the safe use of wastewater, excreta and greywater – volume 2: 
wastewater use in agriculture”, que tem sido usado como uma das principais referências 
para reúso agrícola de esgotos tratados. 
 
O mais importante documento brasileiro que trata da reciclagem agrícola do EET, foi elaborado pelo 
Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB), financiado pela FINEP, cujos objetivos 
principais visavam não só melhorias nos sistemas de coleta, tratamento e disposição de resíduos 
sólidos e esgoto, mas também propostas sobre como reciclar estes resíduos. Um dos documentos 
apresentados discute justamente a reciclagem do EET para fins agrícolas, sendo utilizado como referência 
no trabalho de reciclagem agrícola do efluente tratado pela Fossa Séptica Biodigestora. 
 
59
https://www.who.int/publications/i/item/9241546832
https://www.who.int/publications/i/item/9241546832
https://www.who.int/publications/i/item/9241546832
 
Clique aqui para saber mais sobre reuso das águas de esgoto sanitário, 
inclusive desenvolvimento de tecnologias de tratamento para esse fim. 
ABES, 2006. 
 
Clique aqui para saber mais sobre as Diretrizes para o uso seguro de águas 
resíduas, excretas e águas cinzentas. World Health Organization - WHO, 
2006. (em inglês). 
 
Clique aqui para saber mais sobre Águas Interiores, produzido pela CETESB. 
 
 
 
Características do Efluente de Esgoto Tratado (EET) pela Fossa 
Séptica Biodigestora para fins de reúso agrícola 
A composição do efluente de esgoto tratado varia de acordo com a fonte utilizada. Geralmente, 
além de água, é composto por: 
 
• Matéria orgânica; 
 
• Nutrientes minerais (cálcio, magnésio, enxofre, sódio, potássio, fósforo e em maior 
quantidade nitrogênio, principalmente nas suas formas amoniacal e orgânica); 
 
• Matéria inorgânica (principalmente sais); 
 
• Micro-organismos. 
 
Do ponto de vista de coliformes termotolerantes, a quantidade presente no EET gerado pela Fossa 
Séptica Biodigestora varia entre 102 e 104 UFC/100 mL, fato que limita aplicação direta em 
alimentos que sejam consumidos crus. A quantidade destes micro-organismos irá variar em 
função do local, da época do ano, número de usuários, entre outros. 
 
Assim, do ponto de vista nutritivo para as plantas, é importante algumas análises do EET, para 
obtenção de um teor médio para servir de referência (principalmente de N, P e K e coliformes). O 
líquido tratado também é ligeiramente alcalino (pH ~ 8). Sua aplicação no solo, de maneira 
controlada, também auxilia na correção parcial da acidez, melhorando a fertilidade. 
60
http://www.finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/historico-de-programas/prosab/Esgoto-Prosab_-_final.pdf
https://www.who.int/publications/i/item/9241546832
https://cetesb.sp.gov.br/aguas-interiores/informacoes-basicas/tpos-de-agua/reuso-de-agua/
 
 Por isso, é importante consultar um engenheiro agrônomo para auxiliar o uso de maneira 
adequada. 
 
 
 
 
Formas de aplicação do EET, com vista à segurança e à produtividade 
A dosagem recomendada de uso do EET pela Fossa Séptica Biodigestora dependerá de alguns 
aspectos: 
• Teor de nitrogênio no efluente (elemento nutritivo encontrado em maior 
quantidade); 
• A necessidade nutricional da cultura; 
 
• A fertilidade do solo; 
 
• O período vegetativo da cultura; 
 
• Entre outros. 
 
Agricultores têm utilizado o EET em pequenos pomares de quintal, sempre com adubação 
localizada no pé das plantas e acompanhando os resultados por meio da resposta das plantas. 
A imagem a seguir exemplifica este fato. 
 
Imagem: Comparação do aspecto visual de uma bananeira fertilizada com o EET 
da Fossa Séptica Biodigestora (planta da esquerda) com uma não fertilizada 
(planta da direita). As plantas possuem a mesma idade. A bananeira fertilizada 
recebeu uma dose de 50 L de efluente tratado a cada mês e a não fertilizada foi 
irrigada com o mesmo volume. Foto: Wilson T. L. da Silva. 
 
 
 
 
 61
 
 O EET não deve ser utilizado como água de irrigação, mas sim em processo fertirrigação, 
ou seja, para prover nutrientes à cultura e somente quando as culturas demandarem. O 
volume de água a ser aplicado na fertirrigação dependerá da quantidade demandada do 
nutriente e da sua concentração no EET. Assim, análises prévias para conhecer a qualidade 
do efluente em termos de nutrientes e coliformes, são recomendados para o melhor uso. A 
irrigação com outras fontes de água pode ocorrer normalmente, em adição à fertirrigação, 
sempre que necessário. 
 
O EET não pode ser visto somente como fonte de água e ser utilizado de forma 
indiscriminada durante o ciclo de uma cultura. O excesso de utilização de efluentes ricos 
em nitrogênio e sódio podem levar a prejuízos ao solo.O excesso de nitrogênio pode 
aumentar muito a atividade microbiana do solo, fazendo com que parte da matéria 
orgânica nativa do solo seja mineralizada (transformada em CO2) pelos micro-organismos, 
com redução da fertilidade original do solo com o passar do tempo. É bom realçar que 
este tipo de efeito pode ocorrer com a aplicação excessiva de qualquer fertilizante 
nitrogenado, não sendo, portanto, um efeito somente de EET. O EET tem uma quantidade 
significativa de sais dissolvidos, principalmente sódio, o que caracteriza o efluente como 
ligeiramente salobro. O uso excessivo a longo prazo pode provocar efeitos de salinização 
do solo, principalmente em solos mais argilosos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Fertirrigação. É uma técnica de adubação que utiliza a água de 
irrigação para levar nutrientes ao solo cultivado. Esta aplicação é feita através do 
sistema de irrigação mais conveniente à cultura, podendo-se utilizar técnicas 
como microirrigação, aspersão, entre outras menos utilizadas. 
62
 
 
 
O uso do EET não é recomendado em sistemas onde o EET possa entrar em contato 
direto com alimentos que sejam consumidos crus, como hortaliças, raízes e 
tubérculos, por exemplo. 
 
 
 
 
O EET é manejado nas culturas por meio da técnica de fertirrigação. Porém, não são 
todos sistemas de irrigação que podem ser utilizados: somente a irrigação localizada e por 
sulcos que são recomendadas para fertirrigar as plantas com o EET. Isso acontece pelo 
fato das demais irrigações (aspersão convencional, pivô central e autopropelido) 
utilizarem dos sistemas de aspersão para condução da água. Como o EET possui em sua 
composição patógenos em quantidade reduzida, esse tipo de irrigação faz a EET entrar 
em contato com a parte aérea das plantas, além de dispersar aerossóis. 
 
 
Clique aqui para saber mais sobre Irrigação por sulcos com efluente de 
Fossa Séptica Biodigestora como fonte de nitrogênio na cultura do 
milho. 
 
Clique aqui para ler o documento "Estudos sobre impactos 
ambientais – uma abordagem contemporânea". 
 
 
 
 
 
Clique aqui para acessar o documento "Sistemas biológicos 
simplificados aplicados ao saneamento básico rural". 
 
Clique aqui para saber mais sobre fertirrigação e o reuso de água na 
agricultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/183584/abreu_pas_me_botfcaa.pdf?sequence=5&isAllowed=y
https://www.researchgate.net/publication/336868436_Restauro_de_Areas_Degradadas_Impactos_Geradores_e_Processos_de_Restauracao_Ecologica_In_Zabotto_A_R_Estudos_Sobre_Impactos_Ambientais_Uma_Abordagem_Contemporanea_FEPAF_Botucatu_Brasil_pp_153-162
https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1031073/sistemas-biologicos-simplificados-aplicados-ao-saneamento-basico-rural
http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2020/06/artigo-3.pdf
 
 
 
 
Resultados do uso de EET na produtividade agrícola 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem: Sulcos feitos após a emergências das plantas, para condução da 
irrigação na área experimental. Foto: Pedro Alcântara, 2019. 
 
 
O uso do EET na agricultura funciona basicamente como um biofertilizante que é aplicado 
parceladamente ao solo depositando água e nutrientes, evitando a perda de nutrientes no 
solo quando aplicados de uma única vez. É possível substituir a adubação nitrogenada 
mineral pelo nitrogênio do efluente e alcançar altas produtividades, mas sendo necessário 
fazer a suplementação de fósforo e potássio com a adubação mineral. Estudos realizados 
pela Embrapa, em parceria com a Unesp de Botucatu, mostram que, com o uso de EET 
complementado com P e K, é possível obter produtividade equivalente àquela somente com 
o uso de adubação mineral NPK (Imagens a seguir). No entanto, a utilização do EET na 
agricultura deve ser feita de forma consciente, levando em consideração a qualidade do 
efluente e a cultura a ser aplicada. 
 
 
 
 
 
 
 
64
 
Clique nas imagens e confira o gráfico relacionado abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico: Resultados de produtividade de grãos de milho com 
(NPK), (Ef + PK), (Ef) e (PK). Fonte: Pedro Alcantara 
(2019). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tratamentos 
 
 
A. NPK | 12127.61 
 
B. Ef + PK | 9774.63 
 
C. Ef | 7623.75 
 
D. PK | 4379.83 
P
ro
d
u
ti
v
id
a
d
e
 d
e
 g
rã
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s(
K
g
h
a
-1
) 
65
 
 
 
Condições: 
 
NPK: adubação mineral completa (nitrogênio, fósforo e potássio). 
 
Ef + PK: 100% do Nitrogênio oriundo do EET + adubação mineral 
(fósforo e potássio). 
 
Ef: 100% do Nitrogênio oriundo do EET, sem complementação 
de fósforo e potássio. 
 
PK: adubação mineral (fósforo e potássio). 
 
 
As condições que não receberam EET, foram irrigadas com volume equivalente de água no 
mesmo período. Após os momentos de fertirrigação, houve irrigação em todas as parcelas, sempre que 
necessário. Adicionalmente, foi analisada a quantidade de coliformes tanto nas plantas 
quanto nos grãos. Os resultados foram negativos (não foram encontrados coliformes 
totais e termotolerantes) nas plantas e no alimento. 
 
Ao observar os resultados apresentados acima, é possível concluir que o reúso agrícola 
seguro do EET é perfeitamente possível. Essa ação permite substituir NPK mineral de 
fertilizantes comerciais, pelos elementos contidos no EET, aumentando o ciclo de vida dos 
nutrientes e contribuindo para a segurança alimentar e nutricional, principalmente, de 
famílias mais vulneráveis. Além do aspecto agronômico envolvido, o reúso agrícola pode ter 
um forte aspecto social. Também o aspecto ambiental não pode ser negligenciado, já que o 
reúso pode ser uma forma de promover o saneamento básico rural e, consequentemente, 
evitar o descarte inadequado de esgoto no meio ambiente. 
 
Tem-se, desta maneira, um bom exemplo de sistema sustentável, no seu tripé social, 
econômico e ambiental. 
 
Agora que você já sabe dos benefícios e das formas de aplicação de Efluentes de Esgoto 
Tratados (EET) para o reúso agrícola, vamos entender na próxima aula quais são os critérios 
para a escolha de uma tecnologia.
66
 
 
2.6 Critérios para a escolha da tecnologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
identificar as necessidades e condições antes de fazer a escolha de uma 
tecnologia para o tratamento de esgoto rural. 
 
Reconhecer os critérios para a escolha de uma tecnologia que trate o esgoto em uma 
propriedade rural. 
 
Reconhecer as tecnologias disponíveis no mercado para o tratamento de esgoto 
em propriedades rurais. 
 
 
 
Introdução 
Olá! Nesta aula vamos entender quais são as informações importantes a serem coletadas e 
analisadas, antes de escolhermos uma tecnologia de saneamento básico para o público rural 
e de áreas isoladas. Bons estudos! 
 
1 
2 
3 
67
 
 
Critérios para escolha de sistemas descentralizados de 
tratamento de água e esgoto 
 
 
 
Avaliação do contexto atual para a escolha de uma 
tecnologia de saneamento básico para área rural e 
isolada 
Para quem mora na área urbana de uma cidade, não existe o questionamento quanto ao 
destino do esgoto gerado na residência, bastando conectar todos os tubos que saem das 
pias e vasos sanitários à rede pública coletora. 
Porém, como vimos anteriormente, as residências situadas em áreas rurais e isoladas não 
possuem esta rede coletora de esgoto. O principal motivo é que a sua construção seria 
inviável economicamente. Isso ocorre, porque na maioria dos casos, as casas estão muito 
afastadas umas das outras. Logo, o gasto com tubos e estações elevatórias seria imenso! 
Como consequência, empresas públicas ou privadas da área de saneamento não têm 
interesse em construir na zona rural um sistema coletor semelhante ao que existe na área 
urbana. 
No entanto, mesmo sem um sistema centralizado de coleta e tratamento de esgoto, é possível 
atender bem aos moradoresdas zonas rurais. 
68
 
 
 
 
 
Sabendo disso, reflita: 
 
Como devemos proceder para destinar adequadamente o esgoto que é 
gerado em uma residência localizada na área rural de forma segura à 
saúde de nossos familiares e ao ambiente? Haveria uma única forma 
para resolver este problema? 
A resposta para esta questão é NÃO. 
 
Vamos entender a seguir quais são os critérios que devem ser analisados antes de 
escolher uma tecnologia para a propriedade rural. 
 
69
 
 
1. Avaliar as necessidades 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não existe uma solução mágica e única para o tratamento de esgoto, pois existem muitas 
realidades diferentes no rural brasileiro. Então, é necessário avaliar antes de escolher entre 
diversas alternativas de tratamento de esgoto, pois cada uma possui a sua operação, 
disposição e manutenção. Mas, um fato é certo, não se pode deixar o esgoto escoando na 
superfície do terreno ou lançá-lo em rios ou lagos. 
 
Para começar a buscar respostas, devemos ter em mente que, ao contrário do que muitos 
imaginam, a Fossa Séptica pode ser uma alternativa adequada, mas desde que tenhamos 
atenção em relação à distância do poço de água e à profundidade do lençol freático. 
Observe a imagem abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adaptado de: CAESB 
 
70
https://www.caesb.df.gov.br/
 
 A distância entre a Fossa deve ser no mínimo de: 
 
4 metros: até o vaso sanitário. 
 
30 metros: até o poço de água. 
 
 
Obs.: Tais distâncias podem variar em função de muitos fatores, sendo necessária uma 
avaliação técnica adequada. 
 
 
 
 
 
 
Outro ponto importante é que as pessoas não são obrigadas a juntar toda a água gerada em 
uma residência rural. Ou seja, podemos separar a água que sai do vaso sanitário, daquela 
que passa por nossas pias de cozinha, pia de banheiro, chuveiro e tanque. Até mesmo a 
urina pode ser separada! Tudo depende do seu objetivo. 
 
2. Conhecer as tecnologias 
Então, qual ou quais seriam as formas de tratarmos nossos esgotos? Como fazer esta 
prática de forma segura, no que se refere à saúde dos nossos familiares, e ao mesmo 
tempo, não prejudique o ambiente? 
 
As tecnologias que serão apresentadas possuem: 
 
 
• Baixo custo; 
 
 
• Buscam respeitar a cultura e os conhecimentos locais; 
 
 
• São ambientalmente sustentáveis; 
 
 
• Possuem implantação, funcionamento e operação simplificadas. 
71
 
 
A definição da tecnologia a ser aplicada não deve considerar somente os aspectos 
construtivos ou os gastos envolvidos, mas também deve ser avaliada a sua manutenção e 
operação. 
 
 
 
Tecnologias 
 
T01 
 
Fossa seca 
 
T02 
 
Banheiro seco compostável 
 
DT03 
 
Estocagem e uso de urina 
 
T04 
 
Sistemas alagados construídos 
 
T05 
 
Círculo de bananeiras 
 
T06 
 
RAFA compacto (Reator Anaeróbio de Fluxo 
Ascendente)/UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) 
 
DT07 
 
Fossa verde/Canteiro Bio-séptico 
 
T08 
 
Fossa Séptica Biodigestora 
 
T09 
 
Tanque séptico 
 
T10 
 
Filtro anaeróbio 
 
T11 
 
Filtro de areia 
 
T12 
 
Vermifiltro 
 
T13 
 
Biodigestor 
 
T14 
 
Reator anaeróbio compartimentado 
 
T15 
 
Biossistema integrado 
72
3. Escolher a tecnologia 
 
Teste - Qual é a tecnologia de tratamento de esgoto para você? 
Para que você possa escolher a tecnologia mais adequada às suas condições existentes, a Unicamp 
criou um teste para facilitar a sua tomada de decisão. Ele considera o tipo de esgoto a ser tratado 
(águas cinzas, águas de vaso sanitário, esgoto doméstico e esgoto misto) sugerindo diversas 
opções de tecnologias de tratamento. A cada pergunta feita você deverá responder SIM ou NÃO. Ao 
final de todas as perguntas, o teste mostrará a sugestão de uma tecnologia com base nas suas 
respostas. 
Responda ao teste a seguir, clicando em SIM ou NÃO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Clique aqui para conhecer mais detalhes das tecnologias citadas, 
acessando o livro “Tratamento de esgotos domésticos em comunidades 
isoladas". 
Agora que você já sabe qual é a tecnologia que melhor se adequa a sua necessidade, é importante 
lembrar de que não há uma forma mágica de se tratar o esgoto. Pois em todos os casos haverá a 
necessidade de se ter atenção e de fazer a checagem do sistema para garantirmos a saúde de 
nossos familiares e a preservação do ambiente em que vivemos. 
 
Na próxima aula você irá conhecer os aspectos econômicos da adoção das tecnologias de 
saneamento rural. 
73
https://www.fecfau.unicamp.br/~saneamentorural/index.php/publicacoes/livro/
 
 
2.7 Aspectos econômicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Reconhecer uma estimativa econômica do impacto de incremento de 
produtividade e da redução de custos à sociedade com o uso da Fossa Séptica 
Biodigestora. 
 
Reconhecer os impactos estimados pela Embrapa. 
 
 
 
 
Introdução 
Olá! Nesta aula vamos observar uma estimativa econômica do impacto de incremento de 
produtividade e da redução de custos à sociedade com o uso da Fossa Séptica Biodigestora 
e conhecer também os impactos estimados pela Embrapa sobre o tema. Bons estudos! 
 
 
 
 
1 
2 
74
Estimativa econômica do impacto de incremento de 
produtividade 
Vamos compreender os impactos econômicos do uso da Fossa Séptica Biodigestora, que foram 
mensurados em dois tipos: incremento de produtividade e redução de custo. 
 
Observe essa divisão na Figura 1 a seguir. 
 
 
 
 
Aspectos Econômicos – Retorno econômico pela adoção das 
tecnologias de saneamento rural 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Impactos econômicos estimados pelo uso da Fossa Séptica 
Biodigestora no saneamento rural. 
 
 
 
 
 75
1
2
2
1
 
Renda t = (DALYt / população sem saneamentot) (1) 
 
 
Analisando a figura acima, podemos entender que: 
 
1 O incremento de produtividade foi estimado a partir do ganho de 
saúde e, consequentemente, dos dias "a mais" utilizados no trabalho. 
 
2 Já a redução de custos foi de dois tipos: redução com custos de saúde, 
também proporcionada pela redução de doença e economia no uso de 
fertilizante químico, pelo uso do efluente da Fossa Séptica Biodigestora como 
adubo. 
 
 
O primeiro foi medido pelo ganho de produtividade ao reduzir as doenças causadas pela 
falta de tratamento sanitário. Para estimar as perdas de saúde, bem-estar e até mesmo de 
vidas associadas a tais doenças, foi adotada a abordagem do custo aplicado à morbidade. 
Este custo pode ser dividido em duas categorias: 
 
1 Despesas médicas para tratamento da doença. 
 
 
2 Perdas de salários durante os dias de hospitalização, falta no trabalho e outros 
dias, quando as atividades econômicas são reduzidas devido à doença. 
 
 
Essa segunda categoria é tratada neste item e tem como base o método desenvolvido pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS) chamado Disability Adjusted Life Years (DALY) – Anos 
de Vida Ajustados por Incapacidade. 
 
O valor de uma DALY representa a perda equivalente de um ano com saúde1 e é estimado para 
diferentes enfermidades e países. Na área da saúde, a consequência da falta de tratamento 
de esgoto – seja rural ou urbano – ocasiona diversas doenças, denominadas doenças feco-
orais, que tem como seu marco principal as doenças diarreicas. O valor da DALY por doenças 
diarreicas por habitante sem saneamento foi então obtido conforme descrito na equação (1), 
por ano (t). 
76
 
A perda de trabalho de um ano (DALY) multiplicada pelo valor do PIB per capita do país naquele 
ano oferece uma estimativa econômica de quanto a produtividade do país foi impactada pela falta 
de saneamento. 
 
O ganho de produtividade estimado foi então comparado ao valor da instalação da Fossa Séptica 
Biodigestora. Esse último foi calculado multiplicando seu custo unitário divido por cinco 
(número médio estimado de pessoas em uma família), por ano (t), pela suavida útil (vu). Assim, 
tem-se uma estimativa anual dos gastos necessários para atender à população rural do País sem 
tratamento adequado do esgoto. O cálculo deste valor é descrito na equação (2). 
 
 
Foram utilizados os valores indicados por Silva (2018), sendo (vu) de 15 anos e custo unitário 
de R$ 2.500,00 nos últimos 3 anos. O resultado desta equação foi inserido na coluna D da 
Tabela 1. 
A Tabela 1 apresenta os valores estimados para o último ano (2021). Observe os valores abaixo 
que iremos utilizar para resolver a equação I=([(B-A)*C]-D)*H. Assim, teremos o benefício 
econômico gerado pela tecnologia, ou seja, teremos uma estimativa, em reais, do quanto a 
população não deixou de trabalhar devido a doenças causadas pela falta de esgoto tratado, 
resultando no aumento da produtividade do país. 
 
 
 
 
Custo anual da fossa = custo unitáriot / (5 * vu) (2) 
 
 
 
1 “O valor de uma DALY representa a perda equivalente de 
um ano com saúde2 (WHO, 2020)”. 
2 Para isso, foi utilizada a abordagem do custo da doença e considerou-se apenas a 
morbidade, ou seja, não foram valoradas as mortes causadas. Cerca de 60% das DALYs são 
ocasionadas por morte prematura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: dado de pesquisa. 
77
 
Gasto1 t = Ptratt * δ t (3) 
 
δ t = população doença diarréica * β / população sem saneamentot (4) 
 
Estimativa econômica do impacto de redução de 
custos à sociedade 
Conforme vimos anteriormente, a redução de custos foi de dois tipos: redução com custos 
de saúde, proporcionada pela redução de doença, e economia no uso de fertilizante 
químico, pelo uso do efluente da fossa como adubo. 
Em relação aos custos da saúde pública associados ao tratamento da diarreia, podem incluir 
hospitalização, tratamento caseiro, uso de medicamentos e antibióticos. Estudos indicam 
que a efetividade da melhoria na oferta do abastecimento de água e de esgoto tratado para a 
redução da taxa de diarreia para crianças em países em desenvolvimento, contribuiu para a 
redução da taxa de morbidade, respectivamente, 25% e 22%. 
A redução nos gastos públicos com tratamento das doenças (Gasto1) foi estimada 
considerando um Preço médio unitário deste tratamento (Ptratt), obtido para cada ano 
analisado (t), multiplicado pelo percentual de doentes da população sem tratamento 
adequado de esgoto (δ), por ano. A equação (3) descreve esse cálculo. 
 
Onde (δ) é estimado pela relação entre este número de doentes e o número de pessoas sem 
tratamento de esgoto adequado (equação 4). 
 
Onde (β) é a participação destes doentes devido à falta de tratamento de esgoto 
adequado (equação 4). 
Para estimar a redução nos gastos que o usuário da Fossa Séptica Biodigestora tem no 
consumo de fertilizantes químicos (Gasto2), foram necessárias as seguintes informações: 
 
• Volume de água, em litros, na descarga por pessoa/ano (volagua). 
 
 
• Concentração de nutrientes contidos por litro do efluente gerado pela Fossa Séptica 
Biodigestora (N+K+P), em mg.L-1, onde N indica o volume de nitrogênio, K o volume de 
potássio e P o volume de fósforo. 
 
• Preço (P) destes mesmos nutrientes obtidos a partir de formulações químicas 
encontradas no mercado, por ano (t). 
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Gasto2 t = (N*PN,t + K*PK.t + P*PP,t) * volagua (5) 
 
Com isto, o preço relativo à concentração de nutrientes que foram reaproveitados foi estimado 
como descrito na equação (5). 
 
 
 
 
Onde (PN,t) é o preço do nitrogênio, (PK.t) é o preço anual do potássio e (PP,t) é o preço anual 
do fósforo. 
 
Segundo informação de Da Silva (2018), tem-se um volume de água na descarga por pessoa 
(volagua) equivalente a 20 litros por dia. Isto equivale a um volume de cerca de 7.300 
litros/ano. Em relação à concentração de nutrientes no efluente, Da Silva (2014) identificou 
a concentração média de 500; 50 e 100 mg.L-1, respectivamente, para N, P e K. 
 
A Tabela 2 apresenta os valores estimados para o último ano (2021). Nesta tabela, ao 
multiplicar a soma de Gasto1 e Gasto2 (descrito na coluna A da Tabela 2) pela população 
beneficiada (coluna B) tem-se o benefício econômico gerado pela tecnologia devido à 
redução de custo (apresentado na coluna C). Ou seja, tem-se o tamanho da população que 
deixou de ser vítima da falta de esgoto tratado e uma estimativa do quanto a redução de 
custos no país pode se beneficiar deste efeito. 2 - Benefício Econômico por de 
Redução de Custos, em R$, para o ano de 2021 
 
79
 
 
Clique aqui para saber mais sobre intervenções para o controle de 
doenças diarreicas entre crianças pequenas: melhoria do abastecimento 
de água e instalações de descarte de efluente, da Organização Mundial da 
Saúde. (em inglês). 
 
Análise dos impactos econômicos 
Como vimos até aqui, podemos dizer que a Fossa Séptica Biodigestora é uma tecnologia 
que apresenta um grande impacto socioambiental, beneficiando, principalmente, a 
população mais necessitada e que vive no ambiente rural. Os benefícios foram separados 
em ganho de produtividade e redução de custos, entretanto, eles devem ser somados 
para comparar com o custo necessário para a adoção da tecnologia, que foi descrito apenas 
na Tabela 1. 
A Figura 2 mostra, em valores reais (deflacionados), a soma do ganho de produtividade e de 
redução de custo descrito anteriormente, mas sem a redução de custo da instalação da 
fossa computado no ganho de produtividade da Tabela A. Foi eliminado o custo de 
instalação das fossas nos dados deste gráfico uma vez que estes custos muitas vezes são 
financiados pelo setor público ou fundações. A Figura 2 apresenta também uma série 
histórica deste impacto, onde os valores crescem principalmente devido ao crescimento do 
número de adotantes ao longo do tempo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Estimativa econômica, valores deflacionados à preços de 2021, do valor do 
benefício indireto do uso da Fossa Séptica Biodigestora sobre a sociedade brasileira, sem o 
custo da instalação das fossas e estimativa destes Custos. 
Dados anuais para o período de 2000 a 2020. 
Fonte: dado de pesquisa. 
 
 
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https://apps.who.int/iris/handle/10665/265105?show=full
 
Impactos estimados pela Embrapa 
Caso haja necessidade de mais detalhes sobre as estimativas descritas nesta aula, podem ser 
obtidos nos relatórios de avaliação de impacto feitos pela Embrapa (Embrapa, 2022a). Dos 
relatórios, apenas uma parte dos benefícios foram descritos aqui como sendo de participação da 
Embrapa (60%). Além disso, os ganhos foram comparados aos custos de pesquisa da empresa. 
 
Adicionalmente à estimativa econômica, nos relatórios são aplicados questionários aos usuários 
da Fossa Séptica Biodigestora para que eles avaliem (através de uma nota) os benefícios sociais e 
ambientais da mesma. Os indicadores adotados para estas notas são apresentados no método 
chamado Ambitec (Embrapa, 2022b). 
 
A diferença entre o montante do valor do benefício e o custo da construção das fossas 
representa o benefício líquido estimado para a sociedade. 
 
 
Ressalta-se que houve também, embora não mensurado, um impacto econômico indireto 
referente à compra de todos os materiais necessários para a construção da Fossa Séptica 
Biodigestora, gerando renda e emprego naqueles setores. 
 
 
 Limitações e cuidados em relação a estas estimativas: 
 
Impactos de produtividade e custo de saúde estão relacionados a estudos genéricos de quanto se 
têm de redução de doenças diarreicas por habitante que possui esgoto tratado. Mas isso pode variar 
muito em diferentes condições onde a fossa é instalada, além de ser uma informação pouco precisa; 
 
Impacto de redução no custo de fertilizante tem duas limitações importantes. 
 
A primeira supõe que a população utilizou o efluente como adubo, o que não ocorre 
necessariamente; 
 
A segunda considera o preço do nutriente na formulação química comercial como o

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