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Fisiologia do Sistema Digestório

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FISIOLOGIA HUMANA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Patrícia Carla de Oliveira 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Os alimentos passam por transformações físicas e químicas dentro do 
tubo digestório, para que os nutrientes sejam digeridos, absorvidos e distribuídos 
aos tecidos. Nesta abordagem, vamos aprender sobre a fisiologia do sistema 
digestório, tendo em vista os seguintes objetivos: 
• Retomar as principais características anatômicas e as funções dos 
componentes do sistema digestório: boca, faringe, esôfago, estômago e 
intestinos; 
• Compreender a digestão mecânica dos alimentos através dos processos 
de mastigação, deglutição e peristaltismo, que permitem a diminuição do 
tamanho das partículas alimentares e o seu trânsito pelo tubo digestório. 
• Descrever a digestão química de carboidratos, lipídeos e proteínas pelas 
enzimas digestivas, considerando ainda a absorção dos produtos da 
digestão pelo intestino delgado; 
• Identificar as principais funções dos órgãos anexos ao sistema digestório: 
glândulas salivares, fígado, vesícula biliar e pâncreas; 
• Elucidar os mecanismos de controle neuroendócrino da digestão, de 
forma a entender a atuação do sistema nervoso entérico (SNE) no 
controle local e independente do sistema nervoso central. 
TEMA 1 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO 
O sistema digestório é constituído por um tubo, chamado de tubo 
gastrintestinal (TGI), ou canal alimentar. Dele, fazem parte boca, faringe, 
esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso, além de órgãos 
acessórios, como glândulas salivares, fígado, vesícula biliar e pâncreas 
exócrino, que secretam substâncias digestivas no TGI por meio de ductos 
conectores, mesmo não fazendo parte do caminho pelo qual os alimentos 
passam no sistema. Por meio de um controle neuroendócrino local do sistema 
nervoso entérico, e também do sistema nervoso central, o sistema digestório é 
capaz de processar os alimentos ingeridos, diminuindo o tamanho dos nutrientes 
até as suas formas moleculares, para que eles possam ser transferidos 
juntamente com água e íons para a corrente sanguínea e para o fígado, sendo 
distribuídos até as células teciduais. Dessa forma, macromoléculas como 
 
 
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proteínas e polissacarídeos, incapazes de atravessar o epitélio intestinal, são 
primeiramente convertidas em seus monômeros, para que possam ser 
absorvidas pelo epitélio do intestino delgado. Assim, o sistema digestório 
participa da manutenção do equilíbrio energético e da homeostase 
hidroeletrolítica do organismo. 
O TGI de um adulto de estatura média tem aproximadamente 9 m de 
comprimento. Ele se estende da boca até o ânus, com lúmen contínuo com o 
meio externo. Abarca os órgãos capazes de realizar motilidade, secreção, 
digestão, absorção e excreção, como veremos adiante. A cavidade oral é o local 
de entrada dos alimentos. Nela, estão presentes dentes, bochechas, língua, 
palato duro e palato mole, que juntos atuam na formação do bolo alimentar, 
quando o alimento é mastigado e misturado com a saliva. A faringe é um órgão 
presente nos sistemas digestório e respiratório, sendo composta por três regiões 
anatômicas (nasofaringe, orofaringe e hipofaringe). No sistema digestório, 
apresenta a função de encaminhar o alimento ao esôfago. O esôfago, por sua 
vez, é um tubo muscular capaz de realizar movimentos peristálticos que 
encaminham o alimento para o estômago (Figura 1). 
Figura 1 – Cavidade oral, faringe e esôfago 
 
Créditos: Teguh Mujiono/Shutterstock. 
 
 
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Anatomicamente, o estômago é dividido em quatro porções: fundo 
gástrico, corpo gástrico, antro pilórico e canal pilórico. Nele, o bolo alimentar é 
transformado em quimo, ao ser misturado à secreção gástrica pelos movimentos 
peristálticos. Ao receber o quimo do estômago, o intestino delgado realiza 
movimentos peristálticos a fim de aumentar o contato do alimento com a mucosa 
interna, o que torna o processo de digestão mais eficiente, pois esse órgão é 
responsável pela maior parte da digestão e também pela absorção dos 
nutrientes. Três regiões anatômicas compõem o intestino delgado: duodeno, 
jejuno e íleo. O duodeno é uma das partes mais importantes, apresentando a 
forma da letra “C”. Nele, o quimo ácido oriundo do estômago é convertido em 
quilo, pela ação das enzimas pancreáticas e pela bile armazenada na vesícula 
biliar, finalizando o processo digestivo. Todos os nutrientes absorvidos no 
intestino delgado são carreados para o fígado, para que sejam metabolizados. 
O que não foi absorvido é direcionado ao intestino grosso. 
O intestino grosso é subdividido em ceco, cólon ascendente, cólon 
transverso, cólon descendente, cólon sigmoide, reto e ânus. A porção proximal 
do intestino grosso é responsável pela produção das fezes e pela absorção de 
água e alguns eletrólitos, enquanto a porção distal faz o armazenamento das 
fezes e a defecação (Figura 2). 
Figura 2 – Sistema digestório 
 
Crédito: Olga Bolbot/Shutterstock. 
 
 
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O sistema digestório apresenta também importante função imunológica. 
Tecidos linfoides, como as placas de Peyer, estão dispostos nas porções distais 
do íleo. As células linfoides presentes englobam linfócitos, mastócitos, 
macrófagos, eosinófilos e leucócitos polimorfonucleados. Elas protegem o 
sistema digestório contra agentes infecciosos externos, como bactérias, vírus e 
patógenos em geral. A microbiota, localizada principalmente no ceco do intestino 
grosso, também é uma importante defesa natural do sistema digestório, além de 
atuar em processos digestivos de carboidratos e proteínas e na síntese de 
algumas vitaminas. 
TEMA 2 – MOTILIDADE E DIGESTÃO MECÂNICA 
Parte importante do processo digestivo, a digestão mecânica é 
responsável pela diminuição do tamanho das partículas alimentares, mas sem 
modificação de sua composição química. A contração e o relaxamento 
voluntários ou involuntários da musculatura do TGI permitem a digestão 
mecânica e também a motilidade necessária para que o alimento percorra os 
órgãos do sistema digestório e seja digerido quimicamente pelas enzimas 
digestivas. Mastigação, deglutição e peristaltismo são processos da digestão 
mecânica dos alimentos. 
Durante a mastigação, lábios e bochechas mantêm o alimento entre os 
dentes, enquanto os movimentos da língua moldam o bolo alimentar no palato, 
para que seja deglutido. A deglutição envolve boca, faringe e esôfago. O 
alimento será levado até o estômago. Em seu primeiro estágio, a língua empurra 
o bolo alimentar para a porção oral da faringe. A partir desse momento, têm início 
os estágios faríngeo e esofágico da deglutição, nos quais a respiração é 
temporariamente interrompida, pois a epiglote fecha a abertura da laringe para 
que o alimento siga em direção ao esôfago e, posteriormente, ao estômago. 
A parede do tubo digestivo, da parte inferior do esôfago até o canal anal, 
apresenta as seguintes camadas, de dentro para fora (Figura 3): 
• Túnica mucosa: membrana composta pelo epitélio, em contato direto com 
o conteúdo do TGI, tecido conectivo e músculo liso, tendo função 
secretora ou absortiva; 
 
 
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• Tela submucosa: tecido de conexão da túnica mucosa com a camada 
muscular, rica em vasos sanguíneos e linfáticos, para receber os 
nutrientes absorvidos; 
• Túnica muscular: camada muscular, geralmente composta internamente 
por fibras circulares e fibras longitudinais externas, que realizam os 
movimentos peristálticos; 
• Túnica serosa (peritônio visceral): membrana formada de tecido epitelial 
e tecido conectivo, que secreta muco para facilitar o deslizamento dos 
órgãos do TGI. 
Figura 3 – Camadas do tubo digestório 
 
Crédito: logika600/Shutterstock. 
A musculatura do TGI é estriada esquelética. Portanto, é voluntária na 
faringe, primeira porção do esôfago e porção terminal do ânus. O restante do 
tubo digestivo apresenta musculatura lisa. O movimento muscular padrão é a 
peristalse,processo coordenado de contração muscular que resulta no 
movimento da massa alimentar no sentido boca-ânus (Figura 4). 
 
 
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Figura 4 – Peristalse 
 
Crédito: VectorMine/Shutterstock. 
A motilidade do estômago e dos intestinos está envolvida na mistura e na 
compactação dos conteúdos presentes em seu interior. No estômago, as ondas 
peristálticas permitem os movimentos de propulsão e retropropulsão, que 
misturam o bolo alimentar com os sucos gástricos, dando origem a uma massa 
semilíquida conhecida como quimo. O esvaziamento gástrico é lento. A 
peristalse no intestino delgado dá origem ao quilo, por meio da mistura do quimo 
com as secreções vindas do pâncreas, da vesícula biliar e do próprio intestino. 
Quando o intestino grosso recebe os resíduos que não foram digeridos e 
absorvidos, os seus movimentos peristálticos em massa compactam as fezes 
para a posterior defecação. 
Cada porção do TGI é separada por esfíncteres, pregas musculares que 
funcionam como válvulas que separam os segmentos do tubo digestivo, 
mantendo um estado tônico de contração. A faringe é delimitada do esôfago pelo 
esfíncter esofágico superior, ao passo que o esfíncter esofágico inferior separa 
o esôfago do estômago. O estômago é delimitado do intestino delgado pelo 
esfíncter pilórico e o intestino delgado do intestino grosso por meio do esfíncter 
 
 
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ileocecal. A porção distal do intestino grosso diferencia-se no reto e no ânus com 
seus dois esfíncteres, o interno e o externo. 
TEMA 3 – DIGESTÃO QUÍMICA E ABSORÇÃO DOS NUTRIENTES 
As secreções lançadas no lúmen do TGI pelo estômago, intestinos e 
órgãos anexos, como glândulas salivares, fígado e pâncreas, processam 
quimicamente o alimento ingerido na cavidade oral, até que os nutrientes 
estejam disponíveis para absorção e aproveitamento pelas células teciduais, 
como forma de obtenção de recursos energéticos e construtores. Por meio da 
digestão química, carboidratos, proteínas e lipídeos são quebrados em 
componentes menores, como glicose, aminoácidos e ácidos graxos, para que 
possam ser aproveitados. De modo geral, a quebra dos macronutrientes 
acontece pelo processo de hidrólise, sempre controlado e acelerado por uma 
proteína catalizadora, também conhecida como enzima. 
A maior parte dos carboidratos ingeridos estão na forma de amido, uma 
molécula complexa de origem vegetal que começa a ser digerida na boca pela 
ação da amilase salivar. Os produtos dessa digestão, bem como outros 
carboidratos, serão processados no intestino delgado por meio de enzimas que 
compõem o suco entérico, produzido pelo próprio intestino. Destaque ainda para 
o suco pancreático, recebido do pâncreas e composto de amilases, maltases, 
sacarases e lactases. 
As proteínas são digeridas principalmente no estômago, mas também no 
intestino delgado, pela ação do suco entérico e do suco pancreático. Na digestão 
química, o estômago apresenta glândulas gástricas em sua mucosa, que são 
responsáveis pela secreção de muco e do suco gástrico. São elas: 
• Glândulas oxínticas: compostas pelas células mucosas que secretam 
muco protetor para a parede estomacal; células pépticas (principais), que 
secretam lipases e pepsinogênio; e células parietais, que produzem ácido 
clorídrico para a conversão do pepsinogênio em pepsina, capaz de digerir 
proteínas, considerando ainda o fator intrínseco envolvido na absorção de 
vitamina B; 
• Glândulas pilóricas: compostas de células G, que produzem o hormônio 
gastrina e, em menor quantidade, muco e pepsinogênio. 
 
 
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A maior parte da digestão dos lipídeos acontece no intestino delgado, 
onde os sais biliares emulsificam as gorduras, facilitando a ação das lipases 
pancreáticas, que convertem os triglicerídeos em ácidos graxos e 
monoglicerídeos. O quadro a seguir apresenta as principais enzimas envolvidas 
na digestão dos alimentos. 
Quadro 1 – Ação das enzimas digestivas 
ENZIMA ORIGEM SUBSTRATO PRODUTO 
Digestão de 
carboidratos 
 
 
 
Amilase salivar Glândulas 
salivares 
Amidos Maltose, maltotriose e 
dextrinas 
Amilase pancreática Pâncreas Amidos Maltose, maltotriose e 
dextrinas 
Maltase Intestino 
delgado 
Maltose Glicose 
Sacarase Intestino 
delgado 
Sacarose Glicose e frutose 
Lactase Intestino 
delgado 
Lactose Glicose e galactose 
Digestão de proteínas 
 
 
Pepsina Estômago Proteínas Peptídeos 
Tripsina Pâncreas Proteínas Peptídeos 
Quimiotripsina Pâncreas Proteínas Peptídeos 
Carboxipeptidase Pâncreas Aminoácidos Peptídeos e 
aminoácidos 
Peptidases Intestino 
delgado 
Aminoácidos Peptídeos e 
aminoácidos 
Digestão de lipídios 
 
 
Lipase lingual Língua Triglicerídeos Ácidos graxos e 
monoglicerídeos 
Lipase pancreática Pâncreas Triglicerídeos já 
emulsificados 
Ácidos graxos e 
monoglicerídeos 
 
 
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Nucleases 
 
 
Ribonuclease Pâncreas Nucleotídeos do RNA Pentoses e bases 
nitrogenadas 
Desoxirribonuclease Pâncreas Nucleotídeos do DNA Pentoses e bases 
nitrogenadas 
Fonte: Elaborado com base em Tortora; Derrickson, 2017. 
A absorção dos nutrientes no tubo digestório acontece por transporte ativo 
ou passivo, através da membrana dos enterócitos, células do intestino delgado, 
em direção à circulação linfática e sistêmica. Para tanto, a parede interna do 
intestino delgado apresenta dobras, conhecidas como vilosidades intestinais. Os 
enterócitos presentes nas vilosidades possuem microvilosidades que aumentam 
a superfície de absorção dos alimentos. O duodeno e a porção inicial do íleo são 
os locais preferenciais de absorção; contudo, água e eletrólitos podem ser 
absorvidos pelo intestino grosso. O mesmo vale para alguns produtos de 
fermentação bacteriana e para carboidratos que não foram digeridos e 
absorvidos no intestino delgado. A figura a seguir apresenta os principais 
mecanismos de absorção de nutrientes no intestino delgado. 
Figura 5 – Absorção dos nutrientes 
 
Crédito: Elias Dahlke. 
 
 
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TEMA 4 – ÓRGÃOS ANEXOS 
Os três pares de glândulas salivares (parótidas, submandibulares e 
sublinguais) são responsáveis pela produção da saliva, fluido transparente e 
viscoso, composto principalmente por água e sais minerais, além de enzimas 
digestivas como a amilase ou a ptialina. A saliva umedece e amolece o alimento, 
facilitando a deglutição. Como vimos, a amilase salivar marca o início da digestão 
química do amido. 
Fígado e pâncreas (Figura 6) também são órgãos anexos ao sistema 
digestório. A sua importância está na produção e secreção de substâncias 
digestivas. O fígado é dividido anatomicamente em quatro lobos: lobo direito, 
lobo esquerdo, lobo quadrado e lobo caudado, sendo responsável pela produção 
da bile, armazenada na vesícula biliar e composta por sais biliares que 
emulsificam as gorduras no duodeno. O pâncreas está localizado posteriormente 
no estômago, sendo divido em cabeça, corpo e cauda. A porção exócrina do 
pâncreas produz suco pancreático, rico em enzimas digestivas que atuam na 
digestão de carboidratos, proteínas e lipídeos no intestino delgado, como as 
destacadas anteriormente no Quadro 1. 
Figura 6 – Fígado e pâncreas 
 
Crédito: Alila Medical Media/Shutterstock. 
 
 
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O fígado apresenta uma relação circulatória com a superfície absortiva do 
TGI. Ele recebe, por meio da veia porta, nutrientes digeridos e outras 
substâncias, como fármacos e metabólicos para o seu processamento. Na 
verdade, a veia porta é uma confluência das veias que drenam o baço, o 
estômago, o pâncreas e os intestinos. Sendo assim, o fígado é considerado a 
maior glândula do corpo humano, desempenhando funções metabólicas e 
excretoras vitais, dentre elas: 
• O metabolismo dos carboidratos para a manutenção dos níveis normais 
de glicose na corrente sanguínea, convertendo o excesso de glicose em 
glicogênio ou quebrando o glicogênio em glicose quando necessário; 
• O metabolismo das proteínas, pela produção das principaisproteínas 
plasmáticas; conversão de amônia em ureia para a sua excreção; 
disponibilização de proteínas para conversão em carboidratos e gorduras 
para a produção de ATP; 
• O metabolismo dos lipídeos, através do armazenamento de triglicerídeos 
ou de sua decomposição em ácidos graxos para a geração de ATP; 
• Desintoxicação do organismo, por meio da metabolização de 
medicamentos e álcool, além da inativação de hormônios, quando 
necessário; 
• Armazenamento de vitaminas A, D, E e K, bem como de minerais como o 
ferro e o cobre; 
• Excreção de bilirrubina, um produto da reciclagem de hemácias 
envelhecidas, na bile; 
• Participação na ativação da vitamina D, juntamente com a pele e os rins. 
TEMA 5 – CONTROLE DA DIGESTÃO 
O sistema nervoso entérico (SNE) é uma subdivisão do sistema nervoso 
autônomo. Ele permite o controle neural local do sistema digestório, 
independentemente do sistema nervoso central. Esse sistema é constituído por 
duas redes de neurônios, conhecidas como plexo mioentérico e plexo 
submucoso, que influenciam a atividade da musculatura lisa e a função 
secretora, respectivamente. Dessa maneira, o SNE coordena movimentos 
peristálticos, secreções glandulares, transferência de água e íons, fluxo 
sanguíneo local para o TGI, assim como algumas funções do pâncreas e da 
 
 
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vesícula biliar. Os plexos mioentérico e submucoso estão representados na 
Figura 3. 
Para monitorar as condições do tubo digestório, o SNE conta com 
inúmeros receptores sensoriais ao longo do TGI, como receptores mecânicos, 
químicos e osmossensíveis, que reconhecem a distensão da parede muscular, 
a acidez e a concentração de nutrientes e solutos dentro do tubo digestório, 
deflagrando os reflexos digestivos. Além disso, fibras nervosas simpáticas e 
parassimpáticas do sistema nervoso autônomo entram no TGI e fazem sinapse 
com neurônios de ambos os plexos, permitindo que o sistema nervoso central 
influencie a atividade digestiva. De forma geral, o sistema parassimpático 
estimula o processo digestivo e a divisão simpática o inibe, como vimos 
anteriormente, quando estudamos o sistema nervoso autônomo. 
Células enteroendócrinas, espalhadas pelo epitélio do estômago e do 
intestino delgado, produzem os hormônios gastrina, secretina e colecistocinina 
(CCK), que alcançam as células-alvo pela circulação. Esses são os principais 
hormônios que controlam o sistema gastrintestinal. O quadro a seguir apresenta 
os principais hormônios envolvidos no controle da digestão, considerando os 
estímulos para a sua liberação e os seus principais efeitos. 
Quadro 2 – Hormônios que controlam a digestão 
HORMÔNIO LOCAL DE 
PRODUÇÃO 
ESTÍMULO AÇÃO 
Gastrina Estômago Distensão do 
estômago, proteínas 
parcialmente digeridas, 
cafeína, alto pH do 
quimo ao chegar no 
estômago 
Estimula a secreção do suco 
gástrico, aumenta a 
motilidade do trato 
gastrointestinal e relaxa o 
músculo esfíncter do piloro. 
Secretina Intestino 
delgado 
Quimo ácido que entra 
no intestino delgado 
Estimula a secreção do suco 
pancreático e biliar rico em 
íons bicarbonato. 
Colecistocinina 
(CCK) 
Intestino 
delgado 
Aminoácidos e ácidos 
graxos no quimo no 
intestino delgado 
Inibe o esvaziamento gástrico, 
estimula a secreção do suco 
pancreático, provoca a ejeção 
de bile da vesícula biliar e 
induz a sensação de 
saciedade. 
Fonte: Elaborado com base em Tortora; Derrickson, 2017. 
 
 
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O controle neuroendócrino do sistema digestório pode ser dividido em três 
fases principais: cefálica, gástrica e intestinal. Na fase cefálica, estímulos 
recebidos por visão, olfato, paladar e mastigação (e até mesmo pelo ato de 
pensar em alimentos) ativam centros neurais no encéfalo, que por sua vez 
enviam informações para a produção de saliva nas glândulas salivares e no suco 
gástrico do estômago. A fase gástrica acontece no estômago quando o alimento 
chega até ali, sendo marcada por estímulos para a secreção da gastrina. Por fim, 
na fase intestinal, temos efeitos inibidores que evitam a sobrecarga do duodeno, 
considerando que o esvaziamento do estômago é lento, com efeitos mediados 
pela CKK e pela secretina, listados no Quadro 2. 
A defecação é um reflexo espinal que remove o material não digerido ou 
não absorvido pelo intestino. O movimento do material fecal para o reto dispara 
o reflexo, que desencadeia a distensão da parede desse órgão. Nesse momento, 
o relaxamento do músculo liso do esfíncter interno do ânus e as contrações 
peristálticas no reto empurram as fezes em direção ao ânus, enquanto o esfíncter 
externo do ânus é conscientemente relaxado para a saída das fezes. Contrações 
abdominais conscientes e movimentos expiratórios forçados podem reforçar a 
defecação. É preciso considerar ainda a influência emocional, que pode 
aumentar a motilidade intestinal e causar diarreia, ou pode diminuir a motilidade 
e causar constipação, dependendo da situação. 
NA PRÁTICA 
A doença celíaca, também conhecida como enteropatia sensível ao 
glúten, é uma doença de origem autoimune causada por intolerância ao glúten, 
uma proteína presente em cereais como trigo, aveia, cevada, centeio e 
derivados, presentes em alimentos fabricados a partir desses cereais, como 
pães, massas, pizzas, bolos, doces, biscoitos, salgadinhos, barra de cerais, 
empanados, waffles, sopas, croutons, batata frita industrializada, cerveja, uísque 
e vodca destilada de grãos. 
O diagnóstico é feito por exame clínico com médico especialista, mas 
pode ser necessária uma biópsia do intestino, por meio de endoscopia, ou ainda 
exames de sangue para a dosagem de anticorpos ou dieta restritiva sem glúten 
para confirmar o diagnóstico. 
A inflamação nas vilosidades intestinais, causada pelo glúten, diminui a 
absorção dos nutrientes dos alimentos. Por conta disso, é obrigatório, por lei 
 
 
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federal (Lei n. 10.674, de 16 de maio de 2003), que todos os alimentos 
industrializados informem, em seus rótulos, sobre a presença ou não de glúten, 
para resguardar o direito à saúde dos portadores de doença celíaca. 
A partir dessas informações, pesquise os principais sintomas dessa 
doença, bem como as formas de tratamento mais eficazes para a melhoria da 
qualidade de vida e para a saúde dos pacientes. Construa um texto com as 
informações que encontrar. 
FINALIZANDO 
Nesta abordagem, estudamos os mecanismos fisiológicos envolvidos no 
processo da digestão dos alimentos. Retomamos as principais características 
anatômicas dos órgãos que compõem o sistema digestório, bem como as 
funções desempenhadas por cada um deles. 
Dividimos os processos digestivos em digestão mecânica e química. Na 
digestão mecânica, a trituração do alimento pelos dentes, a deglutição e os 
movimentos peristálticos da musculatura do trato digestivo quebram o alimento 
em partículas menores, sem modificação em sua composição química. Por outro 
lado, na digestão química, as enzimas digestivas quebram carboidratos, 
proteínas e lipídeos em seus monômeros, para que eles possam ser absorvidos 
no intestino delgado, chegando até os tecidos por meio do sangue. 
As glândulas salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas apresentam 
funções importantes no sistema digestório, mesmo que o alimento não transite 
por esses órgãos. As secreções produzidas por eles são responsáveis por 
grande parte da digestão química dos alimentos. 
Finalizamos esta abordagem com uma descrição do sistema nervoso 
entérico (SNE), formado pelos plexos mioentérico e submucoso, responsáveis 
pelo controle nervoso local do sistema digestório, considerando ainda os 
principais hormônios envolvidos na digestão, a gastrina, a secretina e a 
colecistocinina (CKK). 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia 
e fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 
 
	Conversa inicial
	Na prática
	FINALIZANDO
	Nesta abordagem,estudamos os mecanismos fisiológicos envolvidos no processo da digestão dos alimentos. Retomamos as principais características anatômicas dos órgãos que compõem o sistema digestório, bem como as funções desempenhadas por cada um deles.

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