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GÊNEROS TEXTUAIS EM LIBRAS AULA 5 Prof.ª Joana Bonato Melegari Andrade 2 CONVERSA INICIAL Gêneros textuais em videolibras: aspectos e análises Nesta etapa de nossos estudos, rumaremos para uma aplicação prática dos conhecimentos adquiridos ao longo de nossa jornada pelos Gêneros Textuais em Libras. É importante que você tenha assimilado os conceitos apresentados anteriormente, especialmente aqueles relacionados ao Texto e à Textualidade, bem como aos diferentes aspectos dos próprios Gêneros Textuais, estudados quando abordamos Estrutura, Temática, Estilo e Finalidade. Vamos nos dedicar ao aprofundamento desses aspectos, tendo em vista identificar as características fundamentais dos Gêneros que serão abordados, conforme representado a seguir: Quadro 1 – Verbovisualidade Fonte: Andrade, 2024. Ao fim desta etapa de nossos estudos, você será capaz de não apenas observar e analisar os Gêneros Textuais fornecidos, como também será capaz de produzir seus textos com base em nossas análises. É importante seguir um passo a passo para atender de forma eficaz às necessidades específicas da Libras e da Comunidade Surda, garantindo a criação de um corpus de alta qualidade que traga contribuições ao desenvolvimento da Língua (tema que será estudado na sequência de nossos estudos). 3 Por fim, iremos nos dedicar à análise de um modelo de roteiro que pode servir de guia em suas produções. Logo após, exploraremos os Gêneros Textuais1 selecionados (Cartilha Educacional, Documento Legal e Prova), com o objetivo de compreender plenamente a relevância dessas produções tanto para as pessoas Surdas quanto Ouvintes, destacando o papel primordial da Língua (e Linguagem, em todos os sentidos), nesse processo. TEMA 1 – PRODUÇÃO DE GÊNEROS TEXTUAIS EM VIDEOLIBRAS Quando abordamos os Gêneros Textuais, é fundamental, conforme apontado por Rojo (2005), que comecemos a observar os termos/as nomenclaturadas resultantes do conceito de Gênero. A Autora destaca que, independentemente das abordagens adotadas, ou seja, das trajetórias percorridas para determinar esses termos, todas elas se fundamentam nas ideias de Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975), renomado pensador e filósofo russo, conhecido por sua profunda análise da Linguagem Humana. A Análise Dialógica do Discurso (ADD) surge como resultado das obras produzidas por Bakhtin e seus colegas do Círculo de Bakhtin, um grupo de intelectuais multidisciplinares dedicados ao estudo de Linguagem, Literatura e Arte. Dentro desse contexto, destacam-se estudos voltados para a Sociolinguística (a Linguística Aplicada) e a Análise do Discurso, áreas nas quais a ADD busca compreender, interpretar e contextualizar essas obras. A Análise Bakhtiniana parte do conjunto de obras produzidas pelo Círculo, apontando uma forma alternativa de se abordar os discursos, por exemplo. Quanto aos Gêneros Textuais, sob uma perspectiva Bakhtiniana, podemos nos deparar com duas categorias distintas. 1 Optou-se, ao longo de nossos estudos, pelo uso maiúsculo da primeira letra de Gêneros Textuais/Gêneros Textuais em Videolibras, por exemplo, de forma arbitrária, no sentido de colocar este e demais conceitos como objetos de estudo. O mesmo ocorrerá com outras palavras, observadas ao longo do texto. 4 Figura 1 – Categorias de Gêneros Textuais Fonte: Andrade, 2024. Observa-se que as Análises do Discurso e Textual, ambas pertencentes ao campo das Ciências da Linguagem, apresentam distintas concepções que redundam em métodos distintos. Conforme Rojo (2005), os pesquisadores que optam pela Análise do Discurso se atentarão à interpretação da significação dos enunciados e temas, enquanto os que adotam a Análise Textual estudarão os temas, abstendo-se da significação dos enunciados. Mas por que essa diferença? Exploremos brevemente. Antes de tudo, é importante compreender que o Discurso é o sentido, significado que surge na interação entre dois interlocutores, ou, em nosso contexto, dois sinalizantes. A Análise do Discurso se dedica ao estudo desses discursos em si, explorando suas mensagens, intenções e ideologias intrínsecas ao contexto de comunicação. É essencial apontar que o Discurso se distingue do Texto, o que explica a diferença primordial entre a Análise do Discurso e a Análise Textual. Figura 2 – Discurso e texto Fonte: Andrade, 2024. 5 Entendamos que o termo Texto se refere à expressão tanto por meio da escrita, como no caso da Língua Portuguesa, quanto por meio da sinalização (por isso nosso estudo dos Gêneros Textuais em Libras se torna viável por definição). O Texto é composto por marcas linguísticas, enquanto o Discurso traz consigo as significações que o Texto está comunicando, originando-se do que está “por trás”. O Discurso, portanto, é uma das maneiras de se compreender o sentido de um Texto. Podemos afirmar que o Discurso se concentra no processo de atribuição de sentido, enquanto o Texto se preocupa com o produto final da expressão apresentada. Vamos praticar a aplicação dos elementos dos Gêneros Textuais, como a Estrutura, Temática, Estilo e Finalidade. Em seguida, faremos uma breve análise comparativa entre as Análises do Discurso e Textual, com exemplos reais. Assista ao vídeo do exemplo prático para visualizar a divulgação realizada para o retorno do Culto dos Surdos de 2024 (passadas as festividades de fim de ano). Figura 3 – Divulgação 1 Crédito: Adoniran Melo. Esse vídeo corresponde a um convite compartilhado em um grupo de WhatsApp®, enviado pelo Pr. Adoniran Melo, da Primeira Igreja Batista de Curitiba (PIB Curitiba), destinado aos membros e frequentadores do Culto dos Surdos, realizado aos sábados. O Pr. Adoniran, sendo Ouvinte e usuário da Libras, comunica-se com seu público por meio da Língua de Sinais. 6 Iniciemos nossas análises. • Estrutura: convite em formato de vídeo sinalizado, no qual são intercalados trechos escritos em Língua Portuguesa. Esses trechos fornecem informações sobre o conteúdo do convite, que se refere ao Culto dos Surdos, e detalhes sobre o local onde ocorrem os encontros, facilitando a orientação dos interessados, sejam eles visitantes ou não (levando em consideração que o vídeo pode ter sido compartilhado com outros grupos e pessoas). É fundamental destacar que, nesse contexto, não encontramos o endereço específico, mas apenas o nome da Igreja. Isso sugere que o convite se destina principalmente aos membros que conhecem o local, os quais poderiam, então, convidar outras pessoas. Vale ressaltar que uma pesquisa rápida na internet nos forneceria facilmente o endereço do espaço. • Temática: convite para o Culto dos Surdos, incluindo informações essenciais, como data, horário e localização no espaço (por se tratar de um local amplo), além de se propor comes e bebes ao fim do evento, proporcionado momentos de descontração e convivência. • Estilo: vídeo sinalizado que otimiza a visualização em dispositivos móveis, com menos da metade do corpo do sinalizante ocupando quase toda a tela, que está orientada na vertical, ideal para redes sociais. O cenário é mantido simples para direcionar a atenção para a sinalização, enquanto as informações essenciais são apresentadas em legendas brancas na parte inferior do vídeo desde o início, com a inserção de um título – Culto dos Surdos – para orientar o espectador sobre o conteúdo. É claro que identificar um estilo específico nesse vídeo é desafiador, pois requer comparações com outros. No entanto, com base em nossa experiência e contato com o sinalizante, é possível afirmar que os vídeos com esse teor de convite são realizados quase que da mesma forma. • Finalidade: o convite em formato de vídeo possui a finalidade de convidar pessoas, sejam elas Surdas ou Ouvintes, sinalizantes ounão (informação aqui acrescentada por nós, considerando que o Culto, ministrado em Libras, possui interpretação para a Língua Portuguesa falada), a participarem do Culto dos Surdos e, posteriormente, desfrutarem de um momento de socialização. 7 Observe que esses são aspectos que permeiam os Gêneros Textuais, especialmente os Sinalizados em Libras, os quais são o foco de nosso estudo. Começamos abordando as Análises do Discurso e Textual, e continuaremos a explorar essas abordagens nas divulgações apresentadas a seguir, seguindo a mesma linha apresentada na Divulgação 1, para garantir que nos concentremos em todos os detalhes pertinentes. Figura 3 – Divulgação 2; Divulgação 3 Crédito: Adoniran Melo. Observe que, além do vídeo sinalizado, agora temos mais dois materiais de divulgação no formato de imagem. Na Divulgação 2, encontramos as mesmas informações apresentadas no vídeo (inclusive com o retrato do mesmo sinalizante), porém, com adição do endereço – uma informação que se encontra ausente no vídeo. Isso permite que a imagem seja compartilhada mais amplamente, pois não requer que o receptor saiba Libras, ao contrário da Divulgação 1, embora ainda forneça uma ideia do conteúdo para aqueles que não estão familiarizados com a Língua. Na Divulgação 3, encontramos um conteúdo distinto, porém, ainda relacionado às duas primeiras divulgações anteriores, uma vez que envolve pessoas Surdas. Se você observou atentamente, o convite foi feito para o Culto de 20 de janeiro de 2024 (sábado), enquanto na Divulgação 3 podemos ver a 8 data de 24 de janeiro de 2024 (quarta-feira), que também inclui, semanalmente, uma programação direcionada às pessoas Surdas. Nesse momento, o convite se estendeu especificamente às famílias dos Surdos. Vamos agora analisar as questões de Discurso e Texto. Nas Divulgações 1, 2 e 3, encontramos, basicamente, a mesma proposta: o convite para o Culto dos Surdos e para a Família dos Surdos. Essa é a Análise Textual, ou seja, o que os textos (sinalizados e escritos) estão comunicando. O texto é o resultado final de todo um processo de elaboração e comunicação. Ao examinarmos as três divulgações sob a perspectiva da Análise do Discurso, percebemos intenções quanto aos convites. Primeiramente, por conta da natureza religiosa do contexto, o objeto inicial é reunir pessoas Surdas em um ambiente onde sua Língua está sendo utilizada. Além disso, há uma segunda intenção de conhecer essas pessoas Surdas e seus familiares, reconhecendo a importância das conexões familiares com membros Surdos, o que historicamente tem sido desafiador devido a questões linguísticas, de aceitação e outros aspectos. Por fim, o objetivo principal é apresentar o Evangelho de Cristo, principal propósito dos pregadores em suas comunidades religiosas. O Discurso, especialmente no vídeo da Divulgação 1, visa interagir diretamente com a pessoa Surda, uma vez que o conteúdo é predominantemente em Libras, convidando-os para uma reunião espiritual e social, quando lembramos da oferta de comes e bebes para um momento de confraternização, onde novos laços podem ser construídos. 9 Figura 4 – Recorte 1; Recorte 2; Recorte 3 Crédito: Adoniran Melo. Na Figura 4, apresentamos os trechos que ilustram como as divulgações foram realizadas por meio do WhatsApp®, incluindo enquetes de participação que estão diretamente relacionadas aos convites. Figura 5 – Análise dos Gêneros Textuais Fonte: Andrade, 2024. Concluímos nossa breve análise de uma espécie de produção que constitui os Gêneros Textuais, especificamente examinando Estrutura, Temática, Estilo e Finalidade de um convite, um exemplo do Gênero Textual tanto em sua forma sinalizada quanto escrita. Vamos agora explorar além desses aspectos! 10 Os Gêneros Textuais podem se apresentar como formais ou informais, cada um apresentando características distintas. Embora não nos aprofundemos detalhadamente nesse aspecto, é relevante entendermos como a formalidade e a informalidade se manifestam durante uma sinalização. Silva (2013), em sua dissertação de mestrado intitulada Indicadores de formalidade no gênero monológico em Libras, oferece uma análise abrangente e precisa sobre os aspectos de formalidade na Língua de Sinais. Para fins comparativos, consideraremos que a informalidade é caracterizada por elementos que estão ausentes, ou que se mostram de forma oposta, na formalidade. Silva (2013) nos traz aspectos da formalidade por meio de um estudo sobre edital sinalizado. Com base em suas conclusões, podemos extrair pontos para discernir se uma produção é formal ou informal. É importante ressaltar que a pesquisa de Silva se concentrou especificamente no Gênero Edital, enquanto nós expandiremos esses conceitos para abranger os Gêneros como um todo, visando facilitar a compreensão. Figura 6 – Siglas Fonte: Andrade, 2024. O Autor discute aspectos cruciais que contribuem para uma sinalização formal e eficaz. • O ES é cuidadosamente respeitado para garantir que a sinalização seja claramente visível, evitando distrações desnecessárias. A adequação do ES pode variar dependendo do ambiente de produção, sendo crucial 11 especialmente em espaços onde o espaço para sinalização é limitado. • Em conjunto com o ES, destaca-se a importância do MDFE. Quem nunca teve seus “dedos cortados pela câmera”? O aproveitamento correto do espaço permite que se melhor entenda o que está sendo sinalizado, sem prejuízos causados pelos cortes. • A VS também desempenha um papel importante influenciando em um entendimento claro e inteligível dos sinais. • A presença da SM varia de acordo com o contexto, podendo ser utilizada em maior ou menor quantidade, sendo mais comum em situações que envolvem terminologia técnica e/ou científica. • A VSM é essencial para garantir que o conteúdo seja visualmente acessível e compreensível para o(s) público(s)-alvo. • A aparição dos SOMND pode otimizar o uso do ES, sendo importante ressaltar que a depender do uso, o discurso se torna ambíguo e pode gerar confusão. Em situações formais, o uso de ambas as mãos proporciona estabilidade e firmeza. • As EF são recursos linguísticos intrínsecos que contribuem para uma comunicação equilibrada e adequada, especialmente em ambientes formais onde sua utilização é mais sutil. • A presença de CL pode ser menos frequente em discursos formais, mas ainda é perceptível, apesar de enriquecer os Gêneros Textuais, quando utilizados. • Por fim, a presença dos PTA é fundamental em sinalizações formais, sendo considerados essenciais para uma comunicação clara, precisa e linguisticamente adequada. Dessa forma, compreendemos, dentro do nosso contexto de estudo, que a apresentação contrária desses aspectos pode conduzir a uma sinalização com características mais informais. Na produção de conteúdo, independentemente do Gênero Textual, é fundamental, antes de iniciar a escrita, estabelecer a estrutura, a temática, o estilo e a Finalidade. Isso implica em analisar cuidadosamente o que se deseja apresentar, por meio da Análise Textual, e o que se pretende comunicar, por meio da Análise do Discurso. A escolha entre uma abordagem formal ou informal deve ser feita considerando o contexto específico em que o conteúdo será utilizado. 12 A partir deste ponto, vamos nos dedicar ao estudo de três Gêneros Textuais em Libras/Sinalizados: a tradução de uma Cartilha Educacional, de uma Lei (Documento Legal) e de uma Prova. É importante notar que, neste momento, não estaremos mais focados na produção de conteúdo, mas sim na atividade de tradução. Para nosso entendimento, esses arquivos-objetos de nosso estudo, são parte do trabalho desenvolvido pelo Centro de Apoio ao Surdo e aos Profissionais da Educação de Surdos do Paraná (CAS Paraná – Regional Leste: Curitiba),disponíveis na plataforma do YouTube®. • Análise prática 1 – Gênero textual: cartilha educacional o Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jl4j5yuPB4s&t=29s>. Acesso em: 6 maio 2024. O vídeo indicado refere-se a uma Cartilha Educacional destinada aos Profissionais da Educação de Surdos, fornecendo orientações acerca de suas funções e atividades e legislações para consulta quando necessário. • Análise prática 2 – gênero textual: documento legal (A - em Libras) O Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EeEz_p6ZSg0&t=33s>. Acesso em: 6 maio 2024. • Análise prática 2 – gênero textual: documento legal (B – em Libras com acessibilidade para surdocegos O Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GGXC8UtsrGE&t=14s>. Acesso em: 6 maio 2024. A Lei n. 14.605/23 trata da instituição do Dia Nacional da Pessoa com Surdocegueira, logo, com tradução em Libras e edição adequada para atendimento dos públicos a quem ela se destina. https://www.youtube.com/watch?v=jl4j5yuPB4s&t=29s 13 Figura 7 – Análise Prática 3 – gênero textual: prova Fonte: CAS Curitiba, 20232. Por fim, temos recortes relacionados à Prova Paraná em Libras, do ano de 2023, compreendendo os componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática. Iniciemos nossas análises. É sabido que, quando falamos em Libras, falamos de Língua, de Gramática. Mas você sabia que podemos dizer que a Libras está atrelada a uma Gramática Visual? Sim, isso pela sua modalidade, visual-espacial. Partindo do campo da produção e nos dirigindo para o campo da tradução, devemos ser lembrados de que trabalhamos com modalidades de registro que requerem, naturalmente, que certas especificidades sejam atendidas tendo em vista o público-alvo para o qual estão sendo dirigidas. Os Gêneros Textuais em Libras em muito se assemelham aos Gêneros Textuais escritos, por exemplo. A distinção entre ambas as modalidades (visual-auditiva <> oral-auditiva/escrita) nos conduz para a observação quanto à organização, à sistematização e ao produto final, ou seja, a materialização, conforme nos aponta Medeiros (2018). Isso ocorre por conta da Corporalidade, da Verbovisualidade na produção de materiais, e em nosso caso, na tradução de conteúdo. O processo de tradução nos instiga a refletir sobre os aspectos estéticos do conteúdo e da mídia a ser elaborada, desenvolvida e finalizada, visando 2 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ggxc8utsrge&t=14s>. Acesso em: 6 maio 2024. 14 aprimorar o material em questão. Dado o caráter visual do trabalho com nossa Língua, o suporte vídeo desempenha um papel crucial. Ao ser combinado com outros elementos visuais, como ilustrações e legendas, o vídeo amplia a compreensão do que está sendo transmitido. Além disso, o suporte vídeo está intrinsecamente ligado ao uso de recursos tecnológicos que facilitam a composição de diversos Gêneros Textuais, como é o caso da Libras, aproveitando ao máximo as possibilidades oferecidas pela mídia. Figura 8 – Tradução Fonte: Andrade, 2024. Ao abordarmos o par linguístico Libras <> Língua Portuguesa, não nos limitamos à Tradução Interlingual, mas também nos envolvemos na prática da Tradução Intermodal. Isso se deve ao fato de estarmos lidando com Línguas que são expressas e compreendidas de modos distintos (visual-espacial/oral- auditiva). Durante nossas análises, começaremos por examinar tanto o conteúdo quanto à forma, explorando a relação entre o contexto linguístico e visual. Realizaremos nossas análises, iniciando pelo fundo e pela imagem. TEMA 2 – ASPECTOS DA VERBOVISUALIDADE: FUNDO E IMAGEM Ao nos engajarmos na elaboração de uma tradução de um Gênero Textual, devemos nos atentar a elementos que contribuirão com a estética do 15 vídeo, em especial, com vistas a enriquecer a Língua que está sendo sinalizada. Um aspecto inicial a ser cuidadosamente considerado é o fundo, também conhecido como background ou cenário. Para simplificar nossa análise, faremos referência ao nosso material da seguinte maneira: • Material 1: cartilha educacional; • Material 2 - A/B: documento legal; • Material 3: prova. Todo Gênero Textual em Libras apresenta um cenário específico, dependendo de sua objetividade e público-alvo. Em nenhum dos nossos quatro materiais (sendo que o Material 2 consiste em duas partes), encontramos a presença de um cenário construído, isto é, um cenário em que materiais concretos estejam visíveis em cena. No entanto, é importante notar que, dependendo do Gênero, o cenário pode não apenas ser necessário, mas também apropriado para transmitir o mesmo propósito que é apresentado em sua forma escrita na Língua Portuguesa. Todos os materiais possuem certo nível de formalidade requerida, como é o caso do Documento Legal (formal por natureza) e a Prova, que segue a norma culta da Língua Portuguesa, e por estar em busca de atestar conhecimentos daqueles que estão passando pelo teste, é compreensível que a formalidade seja uma exigência. Quanto à Cartilha (Material 1), esta nem sempre assume um tom formal. Ela pode abordar diferentes temas e propósitos. Ao analisarmos seu conteúdo inicial, percebemos que possui um caráter didático, direcionado aos Profissionais da Educação de Surdos do Paraná. Por ter essa natureza educacional, a Cartilha não precisa necessariamente ser formal em todos os aspectos, especialmente devido à presença de cores e ilustrações, elementos geralmente ausentes em Documentos Legais, por exemplo. 16 Figura 9 – Recorte 4: cartilha educacional Fonte: CAS Curitiba, 20233. Repare que, à esquerda, temos uma das páginas da Cartilha, redigida em Língua Portuguesa, enquanto, à direita, apresentamos um recorte de sua tradução em Libras, em formato de vídeo. Note uma inclusão de elementos que 3 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jl4j5yuPB4s&t=29s>. Acesso em: 6 maio 2024. https://www.youtube.com/watch?v=jl4j5yuPB4s&t=29s 17 estão presentes na página agora transpostos para o formato de vídeo. Observe os detalhes destacados em amarelo: a parte que está sendo traduzida pela sinalizante, o título Equipe Pedagógica, visível na parte inferior do vídeo, servindo como referência à seção que está sendo sinalizada. Perceba que o cenário utilizado é o chamado ‘artificial’, conforme Rosado e Taveira (2022), criado por meio de chroma key (fundo de cores RGB que permite manipulação), e neste caso, recebeu um fundo cinzento degradê, considerado pela Equipe como mais confortável aos olhos; embora seja verdade que o cenário poderia ser branco (para imitar a cor da folha de papel), o tom cinzento mostrou-se mais agradável aos olhos. Não há presença de cenário natural, portanto. Os autores Rosado e Silveira (2022) elaboraram um material intitulado Gramática visual para os vídeos digitais em línguas de sinais, que também utilizaremos como base para enriquecer nossas análises. Esse material apresenta uma proposta de gramática visual voltado para vídeos didáticos, acadêmicos e culturais. Nele, há representações icônicas em formato de vídeo e a apresentação de um catálogo com soluções visuais de produções em Libras para orientação aos demais criadores de conteúdo, sendo fundamentado em sete elementos basilares para composição de material em Libras. Nossa organização segue o esquema que você viu no início desta etapa. Figura 10 – Recorte 05 – A e B: documento legal Fonte: Katherine Fischer; CAS Curitiba, 20234. No que diz respeito ao Material 2, há um ponto de destaque a ser considerado. O Documento Legal mencionado refere-se à Lei n. 14.605/23, que 4 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EeEz_p6ZSg0&t=33s>. Acesso em: 6 maio 2024. https://www.youtube.com/watch?v=EeEz_p6ZSg0&t=33s 18 institui o Dia Nacional da Pessoa com Surdocegueira. Ao examinarmos o canal doCAS Curitiba no YouTube®, podemos observar um crescente cuidado na elaboração de materiais acessíveis às pessoas Surdocegas. Nesse caso específico, a Lei aborda diretamente o público-alvo, o que sugere a necessidade de uma adaptação estética para fins de acessibilidade. Note que o cenário cinzento é mantido nos recortes superiores, enquanto há um sutil escurecimento nos recortes inferiores. Uma pessoa Surdocega é aquela que apresenta comprometimentos auditivos e visuais; se antes o foco estava na utilização da Libras, agora, também há uma atenção voltada à questão das cores, dada a limitação visual. Notamos um aumento significativo no contraste das cores, especialmente no uso do amarelo em contraposição ao preto. É importante observar que até mesmo o recorte da Lei foi adaptado pela própria Equipe, substituindo o papel branco pelo papel preto, a fim de realçar o contraste entre as cores. Figura 11 – Recorte 6: prova Credito: Katherine Fischer. O Estado do Paraná, onde a Prova Paraná (2023, 2ª Edição) foi aplicada, possui, em sua Rede de Ensino, estudantes Surdos e Surdocegos. Para isso, visando garantir uma abordagem inclusiva, o fundo da Prova foi ajustado para apresentar uma tonalidade mais escura, a mesma adotada no Documento Legal adaptado (Material 2 - B). É notável o uso do amarelo em contraste com o preto, tanto no recorte à esquerda, referente à folha, quanto nos indicadores das questões, alternativas e legendas, destacados em amarelo (no recorte central), assim como na legenda amarela com o logo da Prova Paraná (no recorte à direita). Além disso, é importante registrar as adaptações realizadas na prova impressa para os estudantes surdocegos, reconhecendo que a Libras não é o único meio de comunicação deste público. 19 Uma curiosidade é encontrada no seguinte recorte: Figura 12 – Recorte 7: prova Crédito: Luiz Gustavo. Você observou que o recorte se encontra em preto e branco? Além disso, percebeu que o sinalizante é um homem, não uma mulher, como indicado no Recorte 6, onde há uma questão? Este formato é utilizado porque o recorte refere-se a um trecho de texto anterior à atual questão. A cor foi escolhida para diferenciar este momento: não é mais apenas um texto, mas sim a aplicação de uma das questões. Observe que nos três materiais aqui apresentados, independentemente do seu Gênero Textual, encontramos recortes em formato de imagem. Esses recortes podem ser meros elementos visuais que fazem referência ao material em Língua Portuguesa, ou podem ser recortes reais do material em sua forma escrita. Todos os materiais, ao serem visualizados em vídeo, exibem transições entre seções, mas durante a sinalização, os recortes permanecem estáticos. Esses são os elementos icônicos presentes nas representações. Estamos gradualmente aprimorando nossa compreensão dos elementos presentes em produções e traduções sinalizadas. TEMA 3 – ASPECTOS DA VERBOVISUALIDADE: VESTUÁRIO O vestuário é frequentemente discutido quando abordamos aspectos da tradução em Libras. Por que mencionamos tradução? Porque normalmente, ao lidarmos com produção, entendemos que há certa “liberdade” na escolha do vestuário, já que sempre há uma organização predefinida. Lembra-se da Estrutura, Temática, Estilo e Finalidade? Esses aspectos nem sempre são 20 considerados de forma consciente, mas estão sempre presentes em produções e traduções, como você pode observar em qualquer material. No entanto, quando abordamos o tema da tradução, torna-se mais crucial analisar esses aspectos e determinar se é justificável, essencial e até mesmo apropriado conduzir uma espécie de “ajuste fino” no tom e estilo, em especial quanto à vestimenta. Figura 13 – Recorte 8: vídeo de orientações preventivas escolares Crédito: Jéssica Bonato Melegari Barbosa. Crédito imagem de fundo: SEED PR5. Na Figura 13, apresentamos uma breve ilustração de um vídeo produzido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR). O vídeo é conciso, instrutivo e direcionado a um público específico: todos os envolvidos na Comunidade Escolar do Paraná, incluindo estudantes, profissionais e membros da Comunidade. Observe que o vídeo é curto, didático e possui um público-alvo definido: todos os sujeitos envolvidos na Educação do Paraná, sejam estudantes, profissionais e comunidade escolar. Destaca-se a presença da tradicional “janela do intérprete”, embora em uma escala reduzida em relação ao plano principal (esse aspecto será abordado de formas mais abrangentes ainda nesta etapa). A profissional, Tradutora e Intérprete de Libras – Língua Portuguesa (TILS), veste uma camisa com as logomarcas do Estado do Paraná e do CAS Curitiba, evidenciando a natureza institucional do vídeo. • Recorte 9: playlists de canal do youtube® o Disponível em: <https://www.youtube.com/@sinalariopr1410/playlists>. Acesso em: 6 5 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=w-5YHwzz6mQ>. Acesso em: 6 maio 2024. https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=w-5YHwzz6mQ 21 maio 2024. No Recorte 9, apresentamos um caso mais específico. Trata-se do canal Sinalário PR, também desenvolvido pelo CAS, mas por outra equipe e inaugurado no final de 2015. Esse canal oferece playlists contendo sinais-termo dos Componentes Curriculares da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino do Paraná, destinados a auxiliar estudantes Surdos, profissionais da Educação de Surdos e a Comunidade em relação à consulta ao léxico específico. Ao observar brevemente, nota-se que cada Componente Curricular (Disciplina) é identificado por uma cor distinta. Embora não esteja explicitado, as cores são recorrentes, indicando que cada playlist corresponde a um conjunto único de sinais. Além disso, os sinalizantes usam camisas com a logomarca do CAS, que difere da versão atual, pois na época da criação havia apenas um CAS no Paraná, enquanto hoje, 2024, existem sete. Observe que nos nossos materiais-base (Cartilha, Documento e Prova), é feito o uso da camisa com a logo do Estado e a logo do CAS nos dois primeiros casos. Isso ocorre porque se trata, respectivamente, de um arquivo criado e divulgado pela Secretaria de Estado da Educação, e de um Documento Federal. No caso da Prova, houve discussão e decisão de adotar um padrão que transmitisse neutralidade (além de se considerar o uso comum da cor preta no vestuário), optando assim pelo uso da camiseta preta. Para seu conhecimento, a Comunidade Surda tem à disposição as Normas de Publicação da Revista Brasileira de Vídeo-Registros em Libras, desenvolvidas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Embora a Revista seja direcionada para produções acadêmicas em formato de artigo, suas normas podem ser aplicadas por nós, pois oferecem orientações sobre as cores a serem usadas na sinalização. 22 Figura 14 – Recorte 10: orientações quanto ao uso de cores no vestuário Fonte: Joana Andrade, 2024. Veja que a Revista oferece diretrizes sobre as cores a serem usadas na sinalização, levando em consideração o tom de pele do sinalizante; a flexibilidade no uso das cores é destacada, contanto que haja um contraste adequado entre o tom de pele e a cor da camiseta, o que aprimora a estética da visualização do vídeo. Além disso, a Revista apresenta outras cores designadas para diferentes seções de um artigo acadêmico, embora essa não seja a ênfase do nosso trabalho aqui. É relevante observar que o vestuário pode incluir estampas, texturas e acessórios, desde que estejam alinhados com a proposta do vídeo; caso contrário, é recomendado evitar o uso desses elementos, uma vez que podem desviar a atenção de quem está tendo acesso ao material. Caso deseje aprofundar seu conhecimento sobre as normas para a produção de vídeos acadêmicos, recomendamos visitar o site da UFSC, onde encontrará orientaçõesdetalhadas. TEMA 4 – ASPECTOS DA VERBOVISUALIDADE: TEXTO E LEGENDA Os elementos Texto e Legenda estão largamente presentes em vídeos em que traduções estão sendo realizadas, porque partem, muitas vezes, de produção escritas, exceto os casos em que a tradução em Libras está sendo resultado de uma produção em outra Língua Sinalizada. Rosado e Taveira (2022) chamam isso de Massa Textual. Essa Massa é a presença de Texto que pode assumir diferentes formatos. 23 Figura 15 – Massa Textual Fonte: elaborado por Andrade, 2024, com base em Rosado; Taveira, 2022. Daremos forma ao nosso entendimento, seguindo a Figura 15. Em nosso Material 1, temos a presença de Massa Textual dentro do elemento da imagem que se destaca à esquerda, e o mesmo ocorre com o Documento Legal. Na verdade, ambos os materiais foram trabalhados quase que da mesma forma, se distinguindo em seus conteúdos e na presença de demais elementos (como no Material 1 – elementos de cor). Ambas as traduções apresentam os recortes de suas produções escritas, diretamente em tela, sendo destacada com uma opacidade integral, a parte escrita que está sendo sinalizada; a(s) parte(s) que não está(ão) sendo sinalizada(s) perde(m) opacidade. Já no Material 3, temos a Legenda. Basicamente, temos a representação da Língua Oral, em seu formato escrito. É o caso da Prova? Não. Essa é apenas a definição de Legenda. No caso da Prova, consultou-se a modalidade escrita, para sua inserção em vídeo, de modo a possibilitar que o estudante Surdo possa acompanhar a sinalização, e o seu equivalente, na forma escrita. 24 Figura 16 – Recorte 11: massa textual do tipo “imagem com palavras” Crédito: Luiz Gustavo. Nesse exemplo, demonstramos a aplicação prática da composição de vídeos ao utilizar uma imagem acompanhada de texto, de palavras. A imagem consiste em um recorte da Prova, enquanto o texto correspondente é reproduzido na legenda, destacando o trecho que está sendo sinalizado, com um quadrado vermelho. Geralmente, a legenda é posicionada na parte inferior do vídeo. Como mencionado anteriormente, a cor amarela é escolhida para garantir a acessibilidade aos Surdocegos. Observa-se que a reprodução do texto no quadrado facilita a compreensão, uma vez que a visualização direta do texto é desafiadora devido ao tamanho, justificando assim a sua inclusão na legenda. É importante ressaltar que a legenda pode variar em posição, cor, formato e visibilidade, podendo ser apresentada com ou sem fundo, com contorno ou não entre as letras, em tamanhos diferentes, ou até mesmo oculta, exigindo ativação para visualização. No caso do Material 3, a ativação da legenda não é necessária, pois foi concebido considerando a inclusão dos estudantes Surdos e Surdocegos. É interessante notar que todos podem se beneficiar dessa promoção de acessibilidade. A presença da sinalização em conjunto com a legenda e outros elementos que enriquecem os aspectos visuais, não apendas atende ao fundamento do Bilinguismo6 – em que a Libras é apresentada como Primeira Língua (L1) e a Língua Portuguesa em sua modalidade escrita como Segunda 6 Caso queira se aprofundar, acesse: MELEGARI, J. B. Introdução aos Estudos Linguísticos da Libras: Rota de Aprendizagem 5 – Tema 5: Métodos de Ensino para Surdos: Bilinguismo. Editora Intersaberes: Curitiba, 2023, 27p. 25 Língua (L2) –, mas também permite que o estudante Ouvinte acompanhe uma prova sinalizada, se for o caso, graças à inclusão de legendas que facilitam sua compreensão. Isso contribui para a familiarização inicial com a Libras, se não já ocorre com a presença de um colega Surdo em sala de aula. TEMA 5 – ASPECTOS DA VERBOVISUALIDADE: SINALIZAÇÃO Estudemos agora a questão da Verbovisualidade. Por último, é fundamental considerar a sinalização em si, um aspecto essencial em nossos estudos e análises sobre produção e tradução em Libras, nossa Língua-Alvo, com base na Língua Portuguesa como Língua-Fonte. De acordo com Rosado e Taveira (2022), é importante definirmos o(a) sinalizante como o(a) ator/atriz na composição do vídeo (sinalizante, quando a Libras se apresenta como a Língua principal pela qual está havendo comunicação, e oralizante, quando a Língua Portuguesa está se apresentando como a principal). Esse(a) sinalizante pode ser Surdo(a), Ouvinte, e pode ou não ser TILS. Essa distinção é fundamental para nossa compreensão, pois duas assertivas se tornam necessárias: Figura 16 – Asserções Fonte: Andrade, 2024. Veja que, em relação à Asserção 1, é importante reconhecer que nem todos os Ouvintes são TILS, ou seja, proficientes em Libras, uma vez que há distinção entre ter conhecimento de uma Língua e fazer uso dela, e trabalhar com ela de forma instrumental, ou seja, para o âmbito profissional, onde há necessidade do domínio tanto da Língua(s)-Fonte quanto da Língua(s)-Alvo, com profundo estudo dos aspectos gramaticais e dos fundamentos da tradução/interpretação. Produzir conteúdo não é o mesmo que traduzir/interpretar. Já a Asserção 2 destaca que os Surdos também podem ser proficientes em Línguas de Sinais. A questão crucial aqui é que, enquanto tendemos a associar a competência de TILS apenas aos Ouvintes, erroneamente negligenciamos a possibilidade de um Surdo estar 26 traduzindo/interpretando7 de uma Língua de Sinais, para outra. Embora haja outras considerações a serem feitas, estas, inicialmente, são pertinentes e relevantes. Ao abordarmos a sinalização, é imprescindível destacar o enquadramento como um elemento basilar, talvez até o mais significativo após a própria Língua, para garantir a melhor visualização dos elementos no espaço. Figura 17 – Recorte 12: tipos de enquadramento Fonte: Joana Andrade, 2024. Vamos explorar brevemente os diferentes tipos de enquadramento: 7 Caso queira se aprofundar, aqui está um link de acesso para videoaulas acerca de Tradução e Interpretação da Libras <> Língua Portuguesa. Essas videoaulas foram desenvolvidas em 2023, no Centro de Apoio ao Surdo e aos Profissionais da Educação de Surdos do Estado do Paraná (CAS Paraná – Regional Leste: Curitiba), para o Curso de Formação para TILS, indicada para os profissionais TILS (Tradutores e Intérpretes de Libras <> Língua Portuguesa) atuantes e pertencentes ao quadro de profissionais do PSS (Processo Seletivo Simplificado) e QPM (Quadro Próprio do Magistério), do Estado do Paraná. As videoaulas estão à disposição de forma não listada no canal no YouTube® de Joana Bonato Melegari Andrade. Disponível em: <https://www.youtube.com/@joanabonato1141>. Acesso em: 6 maio 2024. 27 • Plano Geral: enquadramento do cenário, comum em ambientes externos e internos, estes, com maiores proporções. • Plano de Conjunto: enquadramento mais amplo, em que o sinalizante ocupa espaço maior na tela, podendo ser visível e reconhecível. • Plano Médio: o enquadramento captura o corpo do sinalizante, com espaço no chão e acima da cabeça. • Plano Americano: enquadramento da altura do joelho para cima. • Meio Primeiro Plano: enquadramento da altura da cintura para cima. • Primeiro Plano (ou Close-Up): enquadramento da altura do peito para cima. • Primeiríssimo Plano (ou Big Close-Up): enquadramento da altura dos ombros para cima. • Plano Detalhe: enquadramento de alguma parte do corpo do sinalizante. • Vídeo Menor sobre Vídeo Principal (ou Picture-in-Picture): inserção de um segundo vídeo (menor) ao primeiro vídeo (maior e principal). Para nossa prática, é importante ressaltar que as ilustrações E, F e I, do Recorte 12 (apresentados em roxo), representam os enquadramentos mais frequentemente empregados na produção e tradução, respectivamente. É preciso lembrar que os três Materiais que analisamos (Cartilha, Documento Legal, Prova) foram desenvolvidos especificamente para atender aos estudantes Surdos e Surdocegos,e, portanto, não adotam o formato Picture-in-Picture. Quanto à produção, é comum que o sinalizante seja capturado em tela, ocupando geralmente um Meio Primeiro Plano (se estiver em pé) ou um Primeiro Plano (se estiver sentado). Contudo, é importante ressaltar que o enquadramento do material pode variar de acordo com o tipo de produção, sua intencionalidade e o público-alvo almejado. E, por fim, de forma breve e para seu conhecimento e reflexão, é importante que se reflita sobre um tema discutido na tradução: a criação ou adaptação de sinais para referenciar vocabulários específicos. Acompanhe a seguir. 28 Figura 18 – Recorte 13: prova Crédito: Luiz Gustavo. Figura 19 – Pterossauro Crédito: inna72/Adobe Stock. Observe que o sinalizante está se referindo a um pterossauro. Essa foi a escolha lexical definida para a sinalização deste animal. Além disso, observe a semelhança entre o sinal e parte da cabeça do pterossauro, conforme ilustrado na imagem. Aqui, preconizou-se pelos aspectos icônicos do animal, baseados em uma pesquisa. É importante ressaltar que, para cada texto sinalizado dessa Prova, havia um vocabulário pré-estabelecido pata garantir a compreensão dos estudantes Surdos e Surdocegos que utilizam a Libras. a escolha do léxico também é uma parte crucial dos processos de tradução. NA PRÁTICA Ao realizar a produção ou tradução de um material em Libras, é essencial considerar diversos aspectos relacionados a cada etapa do processo. Na fase de edição do material, que geralmente envolve um tratamento pós-gravação, é fundamental estar atento a algumas características específicas. Elementos visuais são frequentemente inseridos para complementar o https://stock.adobe.com/br/contributor/204272264/inna72?load_type=author&prev_url=detail 29 vídeo. A escolha da fonte estética de escrita é de grande importância, e é recomendável que a mesma fonte seja utilizada em outros momentos do vídeo, como em títulos ou legendas. Também é importante prestar atenção às cores, que podem sinalizar transições, mudanças de conteúdo ou destacar aspectos relevantes. O mesmo princípio se aplica às roupas dos participantes, em que as cores podem desempenhar um papel semelhante. Assim como mencionado anteriormente, cada vídeo tem uma finalidade específica, mas é fundamental garantir a simetria e a distribuição equilibrada dos elementos no espaço, visando proporcional uma experiência visual harmoniosa para o espectador. Caso contrário, a composição pode parecer desiquilibrada e causar uma sensação de estranheza, resultando na possível perda de atenção por parte do espectador. A sobreposição excessiva de elementos também pode gerar desconforto e prejudicar a comunicação. É importante manter o sinalizante em uma escala consistente ao longo do vídeo, a menos que haja uma intenção específica em contrário. A questão da escala e da distribuição do espaço contribui para preencher a tela de forma adequada, sem criar uma poluição visual excessiva. Vale ressaltar que os espaços vazios também podem estar comunicando algo. Para nossa fixação quanto à produção e tradução de conteúdos, acompanhemos o Quadro 2. Quadro 2 – Produção e tradução Fonte: Andrade, 2024. 30 Note que os processos de produção e tradução compartilham semelhanças, mas cada um demanda ações específicas. Na produção, a etapa inicial envolve a elaboração dos tópicos e a preparação de outros elementos para compor o vídeo. Por outro lado, na tradução, a primeira ação é analisar o material a ser traduzido, seguida pela adaptação do conteúdo da Língua Portuguesa para a Libras, com equivalência quanto aos graus de formalidade, conteúdo e demais aspectos, considerando a inserção de elementos e a forma de sinalização. Destaca-se que todos esses aspectos são abordados ao preparar materiais em Libras. Independentemente da atividade realizada, é fundamental valorizar a Libras, uma Língua de modalidade visual-espacial que oferece uma variedade de recursos para a comunicação. FINALIZANDO Concluímos mais uma jornada de aprendizado. Exploramos os processos de produção e tradução de e para Libras, destacando os elementos envolvidos em cada etapa e aprofundando nossos conhecimentos para fortalecer nossa base teórica e prática nesse campo. Anteriormente, também examinamos as teorias que fundamentam nossa prática, enriquecendo ainda mais nossa compreensão dos temas propostos. Na sequência de nossos estudos, daremos início (ou continuidade, a depender de seus conhecimentos prévios) aos estudos sobre a Educação Bilíngue, a Pedagogia Bilíngue, a Pedagogia Surda, a Produção de Material Didático (com enfoque em Roteiro e Pesquisa) e Políticas da Tradução e Interpretação. 31 REFERÊNCIAS DIAS, E. et al. Gêneros Textuais e (ou) discursivos: uma questão de nomenclatura? Revista Interacções, n. 19, p. 14-155, 2011. Disponível em: <https://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/view/475>. Acesso em: 6 maio 2024. MEDEIROS, J. R. Tradução e letramento acadêmico: uma proposta metodológica do processo tradutório do par linguístico Língua Portuguesa/Libras. Revista Espaço, n. 50, 2018. Disponível em: <https://seer.ines.gov.br/index.php/revista-espaco/article/view/1172>. Acesso em: 6 maio 2024. ROSADO, L. A. da S.; TAVEIRA, C. C. Proposta de uma Gramática Visual para Descrição e Análise Composicional de Vídeos Digitais em Línguas de Sinais. Ver. Bras. Ed. 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