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70 - Filosofia Moderna_ Descartes, Kant, Hume e o Racionalismo vs Empirismo

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A filosofia moderna, que se desenvolveu entre os séculos XVII e XVIII, é marcada por profundas transformações no pensamento ocidental, muitas vezes centradas no debate entre o racionalismo e o empirismo. Três filósofos de destaque nesse período são René Descartes, Immanuel Kant e David Hume, cujas obras e ideias exemplificam as correntes de pensamento que moldaram a filosofia moderna.
René Descartes, frequentemente considerado o pai da filosofia moderna, é um dos principais representantes do racionalismo. Em suas obras, como "Meditações Metafísicas" e "Discurso do Método", Descartes propõe que a razão é a principal fonte de conhecimento e que somente através dela podemos alcançar certezas inabaláveis. Seu famoso cogito, "Penso, logo existo", estabelece a existência do eu pensante como a primeira certeza indubitável, servindo de base para a construção do conhecimento. Descartes argumenta que, para alcançar verdades seguras, é necessário duvidar de todas as crenças que possam ser postas em dúvida, adotando um método de dúvida sistemática. Ele acredita que as ideias claras e distintas, que podem ser concebidas pela razão, são a fundação do verdadeiro conhecimento. Para Descartes, o mundo material e suas leis podem ser compreendidos através da matemática e da razão, independentemente da experiência sensorial.
David Hume, por outro lado, é um dos principais expoentes do empirismo, uma corrente que afirma que todo conhecimento deriva da experiência sensorial. Em suas obras, como "Tratado da Natureza Humana" e "Investigações sobre o Entendimento Humano", Hume argumenta que a mente humana é originalmente uma tábula rasa e que todas as ideias complexas são formadas a partir de impressões sensoriais simples. Ele desafia a noção de causalidade, sugerindo que nossa crença em causa e efeito é baseada apenas no hábito e na repetição de experiências, e não em uma conexão racionalmente necessária. Hume também critica a ideia de que podemos ter conhecimento seguro sobre a existência de um mundo exterior ou de substâncias imateriais, como a alma ou Deus, argumentando que tais conceitos vão além da experiência sensível e, portanto, são meras conjecturas.
Immanuel Kant, um dos filósofos mais influentes da era moderna, busca uma síntese entre o racionalismo e o empirismo. Em sua obra fundamental "Crítica da Razão Pura", Kant argumenta que, embora todo o conhecimento comece com a experiência, nem todo ele se origina dela. Ele propõe que a mente humana possui estruturas inatas que moldam nossa percepção da realidade, como as categorias de entendimento e as formas de intuição sensível (espaço e tempo). Kant sugere que a razão tem um papel ativo na organização da experiência sensorial e que o conhecimento verdadeiro é uma combinação de intuições sensíveis e conceitos racionais. Ele distingue entre fenômenos (como as coisas aparecem para nós) e númenos (a realidade em si mesma, que está além de nossa capacidade de conhecer diretamente). Assim, Kant procura superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo, reconhecendo a importância tanto da experiência sensorial quanto da estrutura racional da mente.
O debate entre racionalismo e empirismo na filosofia moderna foi crucial para o desenvolvimento do pensamento crítico e científico. Enquanto racionalistas como Descartes confiaram na razão como o caminho para o conhecimento certo, empiristas como Hume enfatizaram a importância da experiência sensorial e a limitação da razão humana. Kant, ao buscar uma síntese entre essas correntes, estabeleceu uma nova abordagem que reconhecia a contribuição de ambos os lados, influenciando profundamente a filosofia subsequente.
Esses filósofos contribuíram para a fundação da epistemologia moderna, explorando os limites do conhecimento humano e as fontes da verdade. Descartes inaugurou um novo método de investigação baseado na dúvida e na certeza racional, Hume desafiou as suposições sobre a causalidade e a natureza do conhecimento empírico, e Kant criou uma síntese revolucionária que transformou a compreensão da mente humana e seu papel na construção do conhecimento. Suas ideias continuam a ser estudadas e debatidas, refletindo a importância duradoura do debate entre racionalismo e empirismo na filosofia.

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