Buscar

Prévia do material em texto

História do Brasil Império: 
Aspectos Formativos
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dra. Milena Fernandes Maranho 
Revisão Textual:
Prof.ª M.ª Sandra Regina Fonseca Moreira
Política, Sociedade e Cultura no Segundo Reinado (1840 – 1889)
Política, Sociedade e Cultura no 
Segundo Reinado (1840 – 1889)
 
 
• Entender o Segundo Reinado, além das constituições criadas neste período;
• Abordar a Revolução Praieira e a Guerra do Paraguai;
• Estudar algumas questões da sociedade dos salões e a produção das artes desses períodos.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• O Apogeu da Monarquia e os Conflitos do Período;
• O Predomínio Conservador (1848-1853);
• O “Parlamentarismo às Avessas” e o Ministério da Conciliação;
• Sociedade e Cultura no Segundo Reinado.
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
O Apogeu da Monarquia 
e os Conflitos do Período
A ascensão de D. Pedro II inicia-se a partir do momento que o monarca completa a 
maior idade de fato (2 de dezembro de 1843). Durante os anos 1841 e 1842, formaram-se 
vários ministérios regressistas, porém, com o fechamento da Câmara em 1842 e a revolta 
dos liberais, que chegaram a pegar em armas contra essa decisão, os regressistas perdem 
apoio do imperador, o que leva a formação de ministérios liberais, que governaram entre 
1844-1848, período conhecido como quinquênio liberal.
O quinquênio liberal foi bastante conturbado, contando com seis gabinetes. Como 
demonstra Francisco Iglésias (1967, p. 10):
[...] chamados ao poder pela necessidade de afirmação pessoal de D. 
Pedro II, não se sentiam ainda senhores da situação. [...] Tinham que se 
acautelar ante a importância do grupo que cercava o jovem imperador, cuja 
influência sabiam ser decisiva: essa força é que de fato afastara o gabinete 
anterior e compusera o atual. Os ministros, portanto, não podiam sentir-se 
firmes. E assim pouco seguros se mantiveram ao longo do período.
A ascensão dos liberais ao governo foi confirmada com as eleições parlamentares em 
1844; contando com apoio do imperador, eles fizeram maioria na Câmara e no Senado.
Os liberais, assim como os conservadores, não eram homogêneos, havia diferenças, 
como entre os liberais paulistas e pernambucanos. Estes não apoiaram aqueles, quando 
da revolta liberal de 1842, assim como os paulistas não apoiaram os pernambucanos, 
quando da Revolução Praieira de 1848. Como demonstra Iglésias (1967, p. 10):
Não se afirmara ainda o espírito partidário, de modo que era possível a 
existência de um grupo, como o praieiro de Pernambuco, que se associava 
aos conservadores para defender a tese da presença dos magistrados na 
política, insurgindo-se contra a ideia das incompatibilidades defendida pelos 
liberais do sul.
Os desencontros entre os liberais e a constante intervenção do imperador levaram à 
inconstância dos liberais no governo, como afirmado anteriormente, período marcado 
por seis ministérios diferentes. “Interesses regionais predominavam sobre as teses, difi-
cultando a consciência partidária, sem falar nos interesses domésticos, vivos em ambas 
as correntes” (IGLÉSIAS, 1967, p. 10).
A fragilidade e a divisão entre os liberais, leva à tentativa de conciliação formando um 
gabinete dividido entre liberais e conservadores, que durou apenas setenta e cinco dias 
(8 de março a 31 de maio de 1848). Esse ministério foi reprovado pela Câmara, sendo 
destituído. A partir daí, foi constituído o último ministério liberal, liderado por Francisco 
de Paula Souza e Melo, que também teve duração efêmera, cento e vinte e dois dias (31 
de maio a 29 de setembro de 1848). “Os liberais não se entendiam na Câmara, como se 
verifica já no gabinete anterior, presidido por Alves Branco, quando, além das dificuldades 
entre a Câmara e o ministério, havia o fato de que presidentes de Província não obede-
ciam ao ministério” (IGLÉSIAS, 1967, p. 11).
8
9
O imperador, percebendo o desgaste dos liberais, busca apoio nos conservadores. 
A Revolução Praieira em Pernambuco, liderada por liberais, decretou a sentença de 
morte do último ministério liberal.
As questões de Pernambuco, incendiado pelos praieiros, chegam à Corte 
também, pela candidatura de José Clemente Pereira, a cargo do Mu-
nicípio da Corte, combatido por ser português. Daí vem a questão do 
comércio dominado pelos lusos, com choques de rua a situação lembrava 
os dias da Regência –, pelos quais é responsabilizado o ministério [...]. 
Temia-se pela ordem e mesmo pelas instituições monárquicas [...]. O Im-
perador aceita o pedido de demissão de Paula Souza: convoca José da 
Costa Carvalho, então Visconde de Mont’Alegre, que não desejava a pre-
sidência do Conselho, sugerindo Pedro de Araújo Lima, então Visconde 
de Olinda. (IGLÉSIAS, 1967, p. 12)
Os conservadores voltam ao governo com o último ministro do período anterior ao 
quinquênio liberal. Tem início um longo período, em que D. Pedro II estará cada vez 
mais presente na vida política do império brasileiro.
A Revolução Praieira
A Revolução Praieira tomou corpo entre os anos de 1840-1848, quando uma dissi-
dência do Partido Liberal passou a disputar o governo da província de Pernambuco com 
os conservadores. Ela inicia-se :
[...] quando uma tropa foi tentar desarmar o coronel praieiro Manoel Pereira 
de Moraes, senhor do engenho Inhamam, em novembro de 1848. A raiz 
da Praieira foi esta disputa pelo poder local, principalmente pelos cargos na 
Polícia Civil, e secundariamente na Assembleia Provincial, nas Câmaras, na 
Justiça de Paz e Guarda Nacional. (CARVALHO, 2003, p. 212)
É possível afirmar que as disputas entre as classes dominantes locais foi o centro da 
insurreição praieira. Como afirmado anteriormente, disputas pelo controle do governo 
local e dos cargos aos quais este dava acesso.
A dissidência do Partido Liberal em Pernambuco foi denominada de Partido da Praia, 
alusão ao nome da rua em que ficava estabelecido o jornal vinculado a eles, ganharam 
as eleições para o governo da província de Pernambuco em 1845. “Suas bases eleitorais 
estavam espalhadas tanto pelo interior como na própria cidade do Recife. Não faltavam 
homens ricos entre eles” (CARVALHO, 2008, p. 7).
Mas a posição das principais lideranças não deve esconder que a Praieira contou 
com a participação direta de setores populares. “Ela catalisou inúmeras insatisfações 
da população pobre livre, imprensada entre a escravidão e o desemprego”. A principal 
reivindicação dos setores populares era “a nacionalização do comércio a retalho”, o 
que dava “um traço distintivo do programa do Partido Liberal em relação ao Partido 
Conservador”. Os praieiros levaram a sério essa reivindicação, apresentando à Câmara 
dos Deputados em 1848. Para os setores populares, “Era como se a nacionalização 
do comércio a retalho corrigisse as falhas da Independência, que pouco trouxera para 
9
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
o homem livre pobre, marginalizado em seu próprio país” (CARVALHO, 2008, p. 7). 
Os praieiros que disputavam com os irmãos Cavalcanti a presidência da província de 
Pernambuco, conseguem eleger Chichorro da Gama em 1845, período em que o minis-
tério era dominado pelos liberais (quinquênio liberal).
Figura 1 – Antônio Pinto Chichorro da Gama, 1800-1887
Fonte: multirio.rio.rj.gov
Ao assumir o governo da província de Pernambuco, Chichorro da Gama substituiu 
“os delegados e subdelegados de polícia na província, o que aumentaria imensamente o 
poder das suas bases locais. Em torno de 600 autoridades foram demitidas e, obviamente, 
substituídas por aliados dos praieiros” (CARVALHO, 2003, p. 212).
As demissões foram a forma encontrada pelos praieiros para desarticular o poder 
dos conservadores, já que os cargos na polícia civil, na guarda-nacional, de juiz de paz, 
conferiam poderes concretos aos seus detentores e aos governantes que os indicavam. 
“A ação da polícia civil praieira detonou a configuração de forças construída nos sete 
anos do governo” dos conservadores(CARVALHO, 2008, p. 19).
Essa atitude do novo presidente da província gerou resistência armada de alguns 
fazendeiros, “principalmente durante as eleições, atestando a insatisfação de muitos pro-
prietários com a chamada gangorra da política imperial” (CARVALHO, 2003, p. 212).
Vários combates antecederam a Revolução Praieira. Os grandes proprietários articu-
lados em torno do Partido Conservador, apelidados pelos praieiros de gabirus, coman-
daram esses conflitos, que “culminaram, em abril de 1848, com um movimento armado 
que a imprensa e as autoridades policiais praieiras chamaram de ‘revolta’ ou ‘revolução 
10
11
gabiru’”. Esses combates, que aconteceram no interior, tiveram como pano de fundo o 
“atrevimento dos delegados praieiros que começaram a invadir os engenhos dos seus 
adversários sob vários pretextos legais, principalmente para apreender armas do Estado, 
aprisionar criminosos e recuperar escravos furtados” (CARVALHO, 2008, p. 19).
A intenção do governo praieiro era desarmar seus adversários, pois era comum nesse 
período os governantes distribuírem armas para seus aliados, coisa que os conserva-
dores fizeram fartamente nos sete anos que governaram a província de Pernambuco. 
Segundo Carvalho, Joaquim Nabuco, ao analisar a luta de seu pai, Nabuco de Araújo, 
contra os praieiros, mesmo defendendo suas atitudes :
[...] admitiu que a invasão dos engenhos foi uma necessidade, pois, pela 
primeira vez, a lei entrava nos quase-feudos dos grandes proprietários 
rurais. Mesmo admitindo que a maioria dessas diligências tinham um 
substrato legal, o argumento do pai de Nabuco, também estava certo: 
os praieiros só invadiam as propriedades dos adversários. (CARVALHO. 
2008, p. 19)
Ao mesmo tempo em que exigiam a devolução das armas, os praieiros armavam 
seus aliados. “Mais de 4.000 armas e algumas centenas de milhares de cartuchos foram 
distribuídos pelo governo praieiro entre seus seguidores” (CARVALHO, 2008, p. 20).
Esse armamento permitiu aos delegados e subdelegados praieiros invadirem os engenhos 
em busca das armas não devolvidas. Essas invasões eram vistas como puro atrevimento 
pelos proprietários de engenhos ligados ao Partido Conservador, pois muitos desses, 
além do poder que tinham por possuírem extensas porções de terra e grande quantidade 
de escravos, haviam conseguido títulos na polícia civil, na guarda-nacional, ou como juiz 
de paz, títulos esses que haviam sido confiscados pelos praieiros, mas que eles conti-
nuavam a ostentar.
Alguns desses engenhos pertenciam à fina flor dos Cavalcanti, como 
era o caso do engenho Monjope, invadido pelo menos duas vezes pelos 
proprie tários rurais praieiros empossados dos cargos na polícia. O senhor 
do Monjope não só reagiu, como ainda atreveu-se a invadir a vila de 
Igarassu para soltar os presos, entre os quais, um de seus capangas, preso 
por portar armas cujo uso era vedado a civis que não possuíssem cargos 
no aparato repressivo. Quando o ataque aconteceu, João Albuquerque 
de Holanda Cavalcanti foi rechaçado e também pronunciado pelo uso 
de armas proibidas e tentativas de tomada de presos à força de armas. 
(CARVALHO, 2008, p. 20)
Outras invasões contra grandes proprietários de engenho foram realizadas pelos 
proprietários praieiros investidos de cargos no aparato estatal. A situação era muito di-
fícil para os praieiros, pois seus adversários resistiam a entregar as armas. O presidente 
da província, Chichorro da Gama, escrevia aos proprietários de engenho solicitando a 
devolução das armas, mas, na maioria das vezes, não obtinha sucesso.
Esses inúmeros varejamentos (invasões) geraram terror entre os adversários 
dos praieiros. Pouco a pouco eles foram se articulando de tal forma que 
a resistência à ação da polícia paulatinamente deixou de ser individuali-
11
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
zada. Além de agir em conjunto, em alguns casos, tomaram a iniciativa, 
atacando eles mesmos a polícia praieira, antes que suas propriedades 
fossem invadidas. (CARVALHO, 2008, p. 24)
Essa atitude dos proprietários de engenho foi acompanhada do aumento de seu arma-
mento, eles “estavam armados até os dentes. Entre eles, havia alguns dos maiores proprie-
tários rurais da província e homens diretamente vinculados por laços de família ao Barão 
da Boa Visa, ao Morgado do Cabo, a Araújo Lima e aos irmãos Cavalcanti, também 
envolvidos nas articulações” (CARVALHO, 2008, p. 24).
Enquanto isso, os praieiros solicitavam, cada vez mais, apoio do Rio de Janeiro para 
se armar. O problema, para os praieiros, é que com o aumento da instabilidade política 
na província de Pernambuco, eles perdiam apoio no governo central e, ao mesmo tempo, 
desgastavam o gabinete liberal no Rio de janeiro.
A derrota dos praieiros começa em abril de 1848, quando eles resolvem atacar o 
engenho Lages, propriedade do coronel José Pedro Vellozo da Silveira. Os praieiros 
organizaram uma tropa composta por:
[...] centenas de homens. Vários delegados praieiros, que depois iriam parti-
cipar da insurreição de 48, articularam o ataque. Todos também eram pro-
prietários rurais. O grosso da tropa, 350 homens, estava com o Coronel 
Antonio Feijó de Mello, mas havia outras centenas de homens com outros 
senhores de engenho. O plano era surpreender, cercar e esmagar as tropas 
do Coronel José Pedro. Todavia, qual não foi a surpresa do Coronel Feijó 
de Mello, quando foi atacado repentinamente pelo Coronel José Pedro, 
antes que pudesse se articular com seus aliados. A derrota dos praieiros foi 
completa. (CARVALHO, 2008, p. 25)
A Praieira começa exatamente quando se dá a queda do último ministério liberal em 
1848. Com o fim do quinquênio liberal na província de Pernambuco, os conservadores 
retomam o governo e procedem como seus adversários, substituindo os indicados pelos 
praieiros por aliados do Partido Conservador. É a partir daí que tem início a revolução, pois 
“Um grupo de mais de 40 proprietários rurais ligados aos praieiros [...] recusou-se a entregar 
os cargos na polícia e a devolver as armas em seu poder” (CARVALHO, 2003, p. 212).
No interior, a insurreição foi comandada pelos grandes proprietários ligados ao Par-
tido da Praia, principalmente por terem seus privilégios cerceados pela retirada dos 
cargos no aparato estatal.
Longe desses conflitos, orquestrados por senhores de engenho e outras 
lideranças no interior da província, o Recife também fervia naqueles anos 
que antecederam a Praieira. A insurreição foi também marcada pela 
participação ativa de vários trabalhadores urbanos, os “proletariados da 
praia”, na expressão cunhada por jornais vinculados aos conservadores 
quando se referiam aos homens livres pobres mobilizados pelos praieiros. 
(CARVALHO, 2008, p. 25-26)
O principal fator que levou ao envolvimento de setores populares na Revolução 
Praieira foi a proposta de nacionalização do comércio a retalho, porém, a carestia e 
12
13
o desemprego também foram determinantes para a participação dos trabalhadores na 
insurreição armada.
A partir dessas dificuldades e de muitas outras, vividas cotidianamente 
pela população de baixa renda da cidade, os praieiros construíram a sua 
proposta de campanha mais popular: a nacionalização do comércio a 
retalho. A onipresença de imigrantes portugueses no comércio a retalho 
não ocorria apenas em Pernambuco. Em várias cidades do império, o co-
mércio a varejo, responsável pela venda de farinha e de outros gêneros de 
primeira necessidade, tinha frequentemente como proprietário um imi-
grante lusitano, que empregava parentes e conterrâneos como caixeiros. 
(CARVALHO, 2008, p. 30)
Com a proposta de nacionalização do comércio a retalho e culpando o governo 
conservador anterior pela carestia e desemprego, os praieiros conseguiram mobilizar os 
setores populares a seu favor. Com isso, conseguiram apoio político dos trabalhadores, 
principalmente na capital, Recife, que era o maior colégio eleitoral da província. “Ali 
votavam artesãos, caixeiros, militares,funcionários públicos e toda a sorte de gente que 
dispusesse de alguma renda comprovada, sendo assim qualificada como votante e/ou 
eleitor” (CARVALHO, 2008, p. 30).
Aparentemente, a incorporação de temas populares era conflitante com os interesses 
dos grandes proprietários, que eram as principais lideranças do Partido da Praia. Porém, 
as lideranças sediadas no Recife perceberam a necessidade dessa incorporação, pois 
precisavam do apoio dos setores populares para vencer as eleições.
A propaganda praieira e de outros jornais nativistas contra os portugueses se inten-
sificaram entre os anos 1844-1848, gerando vários conflitos entre brasileiros e portu-
gueses. Estes eram, na maioria, pequenos comerciantes que exerciam algumas profis-
sões artesanais.
No meio desse jogo político e da crescente insatisfação popular, quem 
sofria as consequências imediatas era a comunidade portuguesa, formada 
na sua maioria por pequenos comerciantes e seus respectivos caixeiros 
de parcos recursos. Os “artistas mecânicos” lusitanos (pedreiros, mestres 
de obras, carpinteiros, etc.) também começaram a sofrer pressões dos 
artesãos brasileiros vinculados aos praieiros. A massa desses imigrantes 
não era constituída de grandes capitalistas. Muitos dos imigrantes em-
pregados no comercio urbano sequer possuíam escravos. (CARVALHO, 
2008, p. 30-31)
A luta pela nacionalização do comércio a retalho foi levada à Câmara pelo deputado 
praieiro, Nunes Machado. Após longa tramitação, morreu no Senado. A insatisfação 
popular aumentou com o abandono da proposta pelo Senado Federal.
Quando a Insurreição Praieira estourou, muitos trabalhadores livres 
aderiram ao movimento, pegando em armas, participando ativamente 
dos combates no interior. Eles possuíam uma demanda própria dentro 
do movimento: a nacionalização do comércio a retalho. Em fevereiro 
de 1849, durante o combate do Recife, alguns artífices vinculados aos 
13
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
praieiros e aos liberais radicais chegaram a atirar nas tropas imperiais do 
interior de suas casas e lojas. Outros tantos ingressaram nos batalhões 
rebeldes, alcançando inclusive o oficialato. (CARVALHO, 2008, p. 36)
Os inquéritos posteriores à Revolução Praieira demonstraram a participação de vários 
trabalhadores na insurreição. “Pelo menos 22 artesãos foram explicitamente denunciados 
nos autos do inquérito da Praieira. Dezenove foram efetivamente presos, oito dos quais 
no Recife” (CARVALHO, 2008, p. 36). Entre eles, destacam-se o “crioulo” e oficial de 
sapateiro, Cecílio, que chegou ao posto de capitão, o funileiro Geraldo Amante dos 
Santos, o alfaiate Manoel Joaquim da Costa, entre outros.
Como afirmado anteriormente, a Revolução Praieira foi um movimento liderado por 
grandes proprietários, principalmente pela disputa do controle do governo da província 
de Pernambuco e dos cargos a que este dava acesso. 
Na raiz da disputa partidária, estava o controle das instâncias de poder 
do Estado nacional. O aparato estatal crescera, consolidando uma malha 
clientelar que terminaria ligando o paço imperial ao mais simples funcio-
nário de uma câmara interiorana. Ocupar as posições no aparato estatal 
não conferia apenas prestígio. Em Pernambuco, desde 1824, todos sabiam 
que o governo imperial no Rio de Janeiro não economizaria recursos para 
proteger os aliados e esmagar os inimigos. Ocupar o governo provincial, 
significava dispor de todos os recursos provinciais para a autoproteção nas 
localidades. Sem falar, é claro, na imensa réstia de outros tantos benefícios 
econômicos e políticos para os aliados do governo provincial. A chave do 
poder nas localidades eram, principalmente, os cargos na polícia civil. 
(CARVALHO, 2008, p. 37)
Apesar dessa liderança, a praieira arregimentou setores populares oprimidos pela ca-
restia e pelo desemprego. Estes enxergavam na nacionalização do comércio a retalho a sa-
ída para esses problemas. “Foi em torno dessa reivindicação que a multidão marchou com 
petições em 1844 e 1848 e correu pelas ruas do Recife, entre quebra-quebras, pancada-
rias e saques nos sete mata-marinheiros entre 1844 e 1848” (CARVALHO, 2008, p. 37).
Como bem lembra Carvalho, a participação dos setores populares não pode ser vista 
como uma obediência cega às lideranças. Os trabalhadores tinham reivindicações próprias 
e por elas se moveram.
Não há como saber ao certo como pensavam os artistas mecânicos en-
volvidos naqueles episódios. Porém, a mobilização deles na Praieira e a 
presença de sua associação à frente de manifestações de rua demonstram 
que havia uma representação popular, mestiça, abrasileirada, das tradições 
associativas europeias. (CARVALHO, 2003, p. 234)
A insurreição eclodiu em novembro de 1848 e durou até 1850. Porém, a derrota es-
tava confirmada em fevereiro de 1849, com a fracassada tentativa de tomada da capital, 
Recife. Como dito anteriormente, a insurreição teve início quando o governo conservador 
tentou desarmar o proprietário de engenhos, Manoel Pereira de Moraes, por isso a Re-
volução Praieira ficou conhecida, também, como Guerra do Moraes.
14
15
A Guerra do Moraes iniciou-se antes mesmo da revolta-rebelião do de-
putado e do chefe de polícia. Quando o principal líder do Partido Praieiro 
na Corte – o deputado Nunes Machado – chegou ao Recife, já haviam 
iniciado os combates entre as autoridades provinciais e o coronel Moraes 
e outros senhores-de-engenho vinculados ao Partido Praieiro, que se re-
cusaram a devolver as armas do Estado e entregar os postos na Polícia 
Civil, dos quais haviam sido destituídos após a queda dos praieiros em 
abril de 1848. (CARVALHO, 2003, p. 214)
O governo conservador logo procedeu a anistia aos proprietários de engenhos ligados 
à praieira. Estes abandonaram a luta e foram cuidar de seus negócios.
Apenas Moraes, ao norte do Recife, e alguns outros plantadores na Zona 
da Mata úmida, ao sul do Recife, continuaram lutando até a derrota final 
da revolta. A população rural, contudo, foi quem mais sofreu com a Guerra 
do Moraes. As principais vítimas dos combates foram os moradores dos 
engenhos e não os seus patrões. Recrutamento e castigos corporais 
foram a punição dos participantes anônimos que sobreviveram à Praieira. 
(CARVALHO, 2003, p. 214-215)
O fim da Revolução Praieira marca o declínio nacional do Partido Liberal. A partir daí, 
D. Pedro II rompeu com os antigos aliados que ele havia levado ao governo em 1844.
Para o imperador não seria mais possível dissociar o perigo republicano 
da antiga geração de liberais, doutrinários ou não, que participara 
da Independência e contribuíra para derrubar seu pai em 1831. Em 
Pernambuco, o partido praieiro seria praticamente dissolvido depois 
da revolta. A repressão aos praieiros marcou assim o processo de 
consolidação do Império. (CARVALHO, 2008, p. 38)
A derrota dos praieiros significou a derrota do liberalismo radial que agitou os meios 
políticos da classe dominante e fez emergir as revoltas populares do período da Indepen-
dência do Brasil até o fim do período imperial. Após a Praieira, iniciou-se um período de 
tranquilidade política, que caracterizou o Segundo Reinado. Foi a última grande revolta 
interna dessa época e a que contou com maior participação popular, entre todas as 
rebeliões ocorridas durante o período do Império no Brasil (BOTELHO; REIS, 2008).
O Predomínio Conservador (1848-1853)
Após a queda do gabinete liberal, um novo é formado em 29 de setembro de 1848. Em 
princípio, o imperador convidou o Marques de Mont’Alegre para presidir o ministério. Este 
não aceita, e repassa o convite para o Marques de Olinda, que assume com a incumbência 
de formar o ministério, de acordo com o decreto de 20 de julho de 1847, que criou cargo 
de presidente do Conselho de Ministros. A partir daí, é ele quem nomeia os ministros, ao 
invés do imperador.
O ministério é formado essencialmente por conservadores. A composição foi a 
seguinte: Marques de Mont’Alegre, pasta do Império; Eusébiode Queirós, pasta da 
Justiça; Manuel Felizardo de Souza e Melo, pasta da Guerra; Manuel Vieira Tosta, 
15
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
pasta da Marinha; Marques de Olinda, presidente do Conselho, e na pasta de Estran-
geiros, este é substituído por Paulino José Soares de Souza, em outubro de 1849; e 
Joaquim José Rodrigues Tôrres, pasta da Fazenda. O Marques de Olinda foi substituído 
pelo Marques de Mont’Alegre em 06 de outubro de 1849.
Esse gabinete governou até 11 de maio de 1852, quando foi substituído por outro, que 
deu continuidade ao anterior. Segundo Iglésias (1967, p. 12), “A nova ordem é feita com o 
predomínio do conservador sobre o liberal [...] e tem duração de 6 anos, 3 meses e 5 dias [...] 
usando-se a cronologia oficial e rígida, que pode ser contestada – mantendo-se até 1862”.
Apesar do domínio conservador no ministério, a Câmara dos Deputados ainda man-
tinha maioria liberal. Os ministros, apesar das convocações feitas pelos deputados, re-
cusam-se a comparecer perante esta para prestar contas de seu programa de governo, 
situação que leva o ministério a decretar a dissolução da Câmara em 19 de fevereiro 
de 1849, convocando novas eleições, ainda em 1849, e que deveria reunir-se em 1º de 
janeiro de 1850.
A partir de 06 de outubro de 1849, sob a presidência do Marques de Mont’Alegre, 
o ministério se faz totalmente conservador, e sob o domínio de Paulino José Soares de 
Souza, Joaquim José Rodrigues Tôrres e Eusébio de Queirós, conhecidos como trin-
dade saquarema.
Nas eleições para Câmara dos Deputados, como era costume da época, foram eleitos 
a maioria de conservadores, com exceção de um único deputado liberal eleito pelo Pará, 
Bernardo de Souza Franco. De costume, pois as eleições no império eram sempre ven-
cidas pelo partido que tinha o controle do governo central e, claro, eram utilizados todos 
os meios necessários para que a situação fizesse maioria: corrupção, violência, roubo 
de urnas etc.
Figura 2 – Câmara dos Deputados Gerais, no Brasil Império, c. 1888
Fonte: Wikimedia Commons
A composição da Câmara demonstra bem como era praticada a política no período 
imperial. O domínio era, preponderantemente, dos fazendeiros, mas estes não se fa-
ziam, na maioria das vezes, representar-se diretamente; preferiam formar seus filhos, 
16
17
geralmente como advogados, para que estes os representassem na Câmara dos De-
putados. Levantamento feito à época demonstra que, aproximadamente 80 dos 111 
deputados, eram advogados.
Confirma-se, pelo quadro profissional, a expressão bacharelesca do 
patriar calismo. O senhor de terras quer ser advogado, ou faz o filho advo-
gado, para que ele venha brilhar na Corte. Compõem-se de maneira exata 
os interesses: o jovem bacharel é melhor que não fique no meio rural, que 
ele pode perturbar a ordem e a rotina que ali imperam: demais, não é de-
sejo seu, que não se adapta mais à vida acanhada do interior, pelas expe-
riências e companhias que teve quando estudante; quanto ao fazendeiro, 
que nunca viveu em cidade grande, prefere continuar no campo. O jovem 
bacharel, portanto, é para a cidade e para a tribuna; o fazendeiro, para 
o interior e para a lavoura; um dá a base eleitoral ampla e sólida, o outro 
deve fazer a política em consonância com o interesse do grande eleitor. 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 17)
A sessão de 1851 da Câmara dos Deputados demonstrou que a unanimidade con-
servadora havia sido desfeita. Vários problemas contribuíram para o aumento de par-
lamentares liberais (de oposição). A febre amarela, que assustava e chegou a matar 
alguns deputados; a indicação de deputados para o cargo de presidente de província; 
e a nomeação para o Senado. Assim eram convocados suplentes, que em sua maioria 
eram liberais.
Essa mudança na composição da Câmara leva à aproximação de conservadores e 
liberais, somente :
[...] ficando de fora os que persistiam na afirmação de seus juízos e ati-
tudes extremadas. Se o governo foi enérgico durante o movimento de 
Pernambuco, obtida a paz anistiou os rebeldes. O esgotamento liberal 
e as questões platinas, superados os rancores, levaram à conciliação. 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 19)
Era o início do que viria ser o governo de conciliação.
Vários liberais passaram a compor o governo conservador. Como José Maria da Silva 
Paranhos; Joaquim Antão Fernandes Leão e João Duarte Lisboa Serra. O primeiro passa 
a ser diplomata, enquanto os outros prestam serviços ao ministério da Fazenda. Um histó-
rico liberal, “Francisco José Acaiaba Montezuma, é escolhido Senador pela Bahia; o antigo 
panfletário Sales Tôrres Homem também está com o ministério; o chefe histórico Limpo 
de Abreu coopera no Senado e na política externa” (IGLÉISAS, 1967, p. 19).
Em maio de 1852, o ministério se desfaz em parte e um novo é nomeado. Três 
dos antigos ministros são mantidos em seus cargos: Joaquim José Rodrigues Tôrres 
mantém a pasta da Fazenda e passa a presidir o ministério, substituindo o Marquês 
de Mont’Alegre; Paulino José Soares de Souza continua na pasta dos Estrangeiros; e 
Manuel Felizardo de Souza e Melo na pasta da Guerra. São três novos ministros: José 
Ildefonso de Souza Ramos, na pasta da Justiça; Francisco Gonçalves Martins, pasta do 
Império; e Zacarias de Góis e Vasconcelos, na Marinha.
17
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
A mudança no ministério se deve em parte ao cansaço de alguns dos ministros, mas 
também “havia um problema político, que era o desejo de fazer [um] ministério mais fle-
xível, com vistas a uma futura conciliação, afastando assim uma figura bem-marcada de 
conservador como Eusébio, que dividia muito as opiniões” (IGLÉSIAS, 1967, p. 21-22).
Novas eleições parlamentares foram realizadas em 1852 para a legislatura de 1853-1856. 
Se os liberais avançaram com a convocação de suplentes, nessas eleições a composição 
da Câmara dos Deputados foi unanimemente de conservadores, nenhum liberal eleito, 
ou se eleito, não foi empossado, como é o caso de Bernardo de Souza Franco, único 
liberal eleito na legislatura anterior e reeleito, mas impedido de assumir o cargo pela 
maioria conservadora que concedeu o diploma para um dos seus.
Segundo Iglésias, o deputado conservador por Pernambuco, Nabuco de Araújo, argu-
mentou em favor de Bernardo de Souza Franco, dizendo que faria bem à Câmara ter 
oposicionistas eleitos, e previu que se isso não se confirmasse, surgiria oposição dentro 
do próprio partido conservador. “A previsão de Nabuco de Araújo cumpriu-se mais 
rapidamente do que se poderia pensar. Ainda que todos os deputados sejam do parti-
do conservador, fração expressiva insurge-se contra o ministério, criando interessante 
crise” (IGLÉSIAS, 1967, p. 25).
As críticas ao ministério eram, principalmente, contra a influência que este tinha sobre 
as eleições, seja para o Senado, seja para a presidência das províncias. O deputado pelo 
Ceará, Raimundo Ferreira de Araújo Lima, discursa no dia 10 de junho de 1852, “contra o 
gabinete, que ‘não tem, na própria maioria que o sustenta, o apoio que lhe é necessário’. Já 
se fala em maioria e oposição. Critica com violência o que se vem fazendo com o Senado, 
com a escolha de pessoas sem base na Província, apenas por serem queridas do governo” 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 26). 
A oposição ao governo, dentro do próprio Partido Conservador, é confirmada pelo 
voto contrário à Fala do Trono por 22 deputados. O governo obteve maioria, pois 69 vo-
taram a favor, porém o número de deputados que votaram contra foi uma demonstração 
de que a oposição crescia dentro do partido. A oposição dentro do Partido Conservador 
levou alguns parlamentares a propor a conciliação. Aos poucos, a ideia foi se firmando, 
mesmo entre os liberais. É nesse clima que chega ao fim o gabinete presidido por Joaquim 
José Rodrigues Tôrres, em 6 de setembro de 1853. “Vai ter início nova situação, marca 
pelo ideal conciliador, há muito acalentado como fórmula para os vários problemas nacio-
nais.Inaugura-se a fase da chamada Conciliação” (IGLÉSIAS, 1967, p. 30).
O período que vai de 1848 a 1853, apesar das disputas partidárias foi, segundo 
Iglésias, marcado por profunda reorganização do país. O autor destaca entre outras 
realizações dos governos conservadores: a lei do tráfico; a política do Prata; – que serão 
analisadas mais adiante – o Código Comercial; a lei de terras, a criação das Províncias 
do Amazonas e Paraná; a liberdade de trânsito no rio Paraguai; o impulso da política 
imigratória, com o estabelecimento de colônias etc. (IGLÉSIAS, 1967).
18
19
Figura 3 – Formulário de passaporte para as embarcações portuguesas 
que se destinam ao tráfi co lícito de escravos
Fonte: Wikimedia Commons
A lei que proíbe o tráfico de escravos para o Brasil é de 4 de setembro de 1850. Antes 
desta data, eram utilizados passaportes para os navios destinados ao tráfico, já que a 
Inglaterra havia proibido o comércio de escravos, ainda em 1807. A pressão inglesa pelo 
fim do comércio de africanos acentua-se quando da Proclamação da Independência bra-
sileira. O primeiro tratado assinado entre Brasil e Inglaterra, datado de 1827, previa o fim 
do tráfico de escravos para 1831. Porém, com o crescimento das plantações de café e a 
continuidade das plantações de cana-de-açúcar e outros gêneros exportáveis, a exigência 
por mão de obra escrava era cada vez maior.
O s britânicos endurecem a fiscalização sobre os navios negreiros a partir da aprovação, 
pelo Parlamento inglês, da lei Aberdeen, em 1845. Esta permitia à marinha inglesa apri-
sionar navios de qualquer nacionalidade que praticassem o tráfico de negros da África. A s 
pressões inglesas tiveram o efeito de aumentar a entrada de escravos no Brasil, pois os 
fazendeiros e traficantes de escravos sentiam que, mais cedo ou mais tarde, esse comércio 
se extinguiria.
Como demonstra Iglésias, o aumento já pode ser sentido a partir do início da década 
dos quarenta, justamente quando o café se torna o principal produto de exportação 
brasileiro. “A média, de 1842 a 1845, foi de 20.825 por ano; de 1846 a 49, de 55.124, 
com o máximo em 1848, quando foi de 60.000. A providência britânica provocou res-
sentimentos e as relações diplomáticas entre os dois países ficam cada vez mais tensas” 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 31).
19
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
Promulgada a lei de proibição do tráfico, foi necessário muito tempo para pôr fim a 
ele. Segundo Iglésias, talvez o último desembarque de negros africanos no Brasil tenha 
se dado em Serinhaém, Pernambuco, em 13 de outubro de 1855, em barco português. 
Isso só foi possível porque:
Em 1853, o gabinete da Conciliação, em seu início, apresenta projeto 
sobre julgamento de vendedores de escravos, de modo que a autoridade 
repressora fosse mais fortalecida que o era pela lei de 1850. O projeto 
vira lei em 5 de julho de 1854. [...] O governo procedeu com energia, 
interferindo em fazendas mesmo de potentados políticos, para esclare-
cimento da situação. A representação diplomática britânica, no entanto, 
teve muitos momentos de pronunciar-se, exigindo impertinentemente ex-
plicações do governo brasileiro. (IGLÉSIAS, 1967, p. 32)
O fim do tráfico só foi possível pela pressão britânica que, apesar de ser uma das 
grandes nações que promoveram o comércio de escravos, havia alcançado um desenvol-
vimento industrial/manufatureiro que impulsionava uma nova ordem mundial, passava-se 
do capitalismo mercantil para o industrial. Entretanto, a escravidão perdurou durante 
mais 38 anos, pois as classes dominantes brasileiras não aceitavam a libertação do negro.
Se o tráfico internacional acabou, teve início o tráfico interno. Fazendeiros de café, 
do sudeste (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) foram buscar escravos na região 
nordeste, dado o declínio das plantações de cana-de-açúcar e nas zonas mineradoras, 
também decadentes. Buscaram também nas cidades, negros e negras que prestavam os 
mais variados serviços e que foram reconduzidos para as senzalas.
Outra questão importante tratada no período de domínio dos conservadores no mi-
nistério foi a platina. Preocupados em garantir as fronteiras e com a livre navegação 
dos rios do Prata, o governo brasileiro apoiou a independência do Uruguai contra as 
pretensões dos argentinos. Tropas brasileiras chegaram a penetrar no país vizinho re-
pelindo tropas argentinas. Em 1851, é assinado um tratado para pôr fim à luta. Assim 
é garantida a independência do Uruguai.
[...] bem como a liberdade de navegação no estuário do Rio da Prata. Só 
houve a lamentar que o Tratado de outubro de 1851, conduzido sobretudo 
por Honório Hermeto Carneiro Leão, fosse insuficiente, não prevendo 
complicações futuras, que de novo levariam à luta os dois países. E o polí-
tico mineiro seria muito acusado por sua atuação. (IGLÉSIAS, 1967, p. 34)
A Argentina, que ainda estava dividida, tendo como centro político Buenos Aires, mas 
contestada por duas outras regiões, Corrientes e Entre-Rios, voltou às disputas. Liderada 
por Rosas, Buenos Aires declarou guerra ao Brasil. O governo brasileiro reagiu imediata-
mente, coordenando “a ação militar, por terra e água, de modo que em 3 de fevereiro de 
1852, na batalha de Monte Caseros, Rosas foi abatido” (IGLÉSIAS, 1967, p. 34). A inde-
pendência do Uruguai estava garantida, pelo menos até novas escaramuças entre os países 
do sul da América explodirem e levarem à Guerra do Paraguai.
O Brasil, a Argentina e o Uruguai assinaram o Tratado da Tríplice Aliança, unindo 
forças militares contra o Paraguai em 1864, já que este transformara-se em potência con-
tinental, capaz de levar ao desequilíbrio a região disputada por brasileiros e argentinos. 
20
21
O exército paraguaio era composto de aproximadamente 64 mil homens, e o aliado foi 
calculado em 60 mil soldados, sendo 45 mil brasileiros, eram os “voluntários da pátria”, 
alguns deles acompanhados de suas mulheres que se alistaram voluntariamente para 
prestar serviços ou cozinhar. Eram inúmeras as baixas, mortos em batalhas, afogados 
nos pantanais mato-grossenses e de cólera (BOTELHO; REIS, 2008). 
Entre 1868 e 1870, as últimas batalhas terminaram com a guerra, o Brasil foi vencedor, 
mas estava exaurido economicamente, e teve de fazer empréstimos com a Inglaterra. 
O resul tado foi o fortalecimento do exército, que passou a exigir mais participação na 
vida política do Império.
O “Parlamentarismo às Avessas” 
e o Ministério da Conciliação
O novo gabinete – conciliador – é formado em 6 de setembro de 1853 e vai até 4 
de maio de 1857. Tem como principal liderança, Honório Hermeto Carneiro Leão, 
Marquês de Paraná, presidente do Conselho de Ministros. Político dos mais experimen-
tados, foi substituído por Luís Alves de Lima, Marquês de Caxias, após sua morte.
O ministério foi composto por: Luís Pedreira do Couto Ferraz, Império; José Tomás 
Nabuco de Araújo, Justiça; Limpo de Abreu e depois José Maria da Silva Paranhos, 
Estrangeiros; Marquês de Paraná Limpo de Abreu, Fazenda e por fim, João Maurício 
Wanderley; Pedro de Alcântara Bellegarde, Guerra e depois Marinha, por fim, José 
Maria da Silva Paranhos; Marquês de Caxias, Guerra. Segundo Iglésias, o Marquês de 
Paraná, à frente do ministério, conseguiu apaziguar, em parte, o Partido Conservador e 
cumpriu a tarefa de conciliação, nomeando conservadores e liberais moderados.
Seu ministério era constituído de gente nova, menos ele e Limpo de 
Abreu. Este, Luís Pedreira e Paranhos haviam sido liberais, e agora, con-
vertidos aos conservadores, não tinham rigidez partidária. Bellegarde era 
um soldado que aceitava a missão. Nabuco de Araújo era tolerante, aberto 
ao diálogo com todos. Apenas Wanderley era conservador de tradição e 
na mesma linha ficará para sempre. (IGLÉSIAS, 1967, p. 41-42)
Nesse período, D. Pedro II já é um homem maduro e participa ativamente dos negócios 
do Estado. O imperador instrui o ministro num documento que redige, traçando um pro-
grama político e administrativo,[...] fixa as relações entre a Coroa e o gabinete; quer conhecer os negócios 
de todas as pastas; valoriza o Conselho de Estado, com certa limitação do 
poder dos ministros. [...] D. Pedro II afirma-se, nesse documento que re-
digiu para o exercício do gabinete, reinando, governando, administrando, 
ciente de todos os negócios do Estado. (IGLÉSIAS, 1967, p. 42)
Apesar de pequenas críticas, o novo ministério foi bem aceito pela Câmara e pelo 
Senado. Os partidos continuaram existindo, mas em trégua. O ministro, Marquês de 
21
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
Paraná “Não teve unanimidade, nem a tentou: o apoio obtido era suficiente para cum-
primento do programa” (IGLÉSIAS, 1967, p. 55).
Segundo Iglésias (1967, p. 56), o período denominado de Conciliação foi “um arranjo 
ou acordo da classe dominante, senhora da política, sem consulta ou apoio do povo, um 
pouco até contra ele.
Já em 5 de julho de 1853, os parlamentares aprovam a criação do terceiro Banco do 
Brasil, com a fusão do Banco do Brasil Mauá e do Banco Comercial do Rio de Janeiro. 
Essa medida era exigida por muitos, pois a emissão de papel moeda era muito confusa. 
A partir daí, o Banco do Brasil passa a ter o monopólio dessa emissão.
A criação do Banco do Brasil e a reorganização das emissões deram “a impressão de 
prosperidade, com exibicionistas e especuladores. Companhias de negócios, casas de ar-
tigos de consumo ostentosos, festas, modas, preparo das ruas, uso de gás para iluminação, 
um mundo de coisas (IGLÉSIAS, 1967, p. 44). O problema para o futuro do país é que a 
produção e comércio não se desenvolvem em correspondência aos negócios especulativos.
Apesar das especulações, o governo conseguiu equilibrar o orçamento, apresentando 
saldo no exercício de 1856-57. Os problemas apareceram nos anos posteriores. Com a 
morte do Marquês de Paraná, todo o ministério pede demissão. O imperador não aceita 
e solicita ao Marquês de Caxias que assuma a presidência deste. Caxias não tinha a 
mesma experiência e nem mesmo o brilho de Paraná. Seu ministério apenas cumpriu a 
tarefa de comandar as eleições em 1856 para a Câmara dos Deputados, que passou a 
se reunir a partir de 1857.
A maioria dos eleitos foi de conservadores, mas muitos liberais, afastados anterior-
mente da Câmara, conseguiram eleger-se. Os partidos não tiveram preponderância 
nessas eleições, falou mais alto os interesses particulares. “Não se pensava muito” nos 
partidos, mas nos potentados locais” (IGLÉSIAS, 1967, p. 59). A Câmara foi renovada, 
muitas lideranças do período anterior não se reelegeram. Esse fato imprimia nova reali-
dade nas relações do ministério com os parlamentares, pois a renovação tornava a nova 
legislatura uma incógnita.
O novo gabinete ainda dá continuidade à conciliação, porém já prenuncia o seu fim. 
D. Pedro II convida Paulino José Soares de Souza, Visconde de Uruguai, para presidir 
o ministério. Este seria um conciliador, que poderia dar continuidade à obra de Paraná. 
Entretanto, esse não aceita e o imperador recorre ao Marquês de Olinda. Este assumiu 
a presidência do ministério em 4 de maio de 1857 e constituiu o chamado:
[...] gabinete do equilíbrio. Encontra-se nele, ainda, conservadores e libe-
rais juntos, fala-se em espírito moderado e conciliador, mas não se pode 
reconhecer nessa combinação, feita por simples interesse, o sentido da 
política de Paraná. O antigo presidente do Conselho, governara com os 
homens do partido que antes combatia, não lhes dando, entretanto, cargos 
de relevo, como os de ministro; já o novo gabinete apresenta a principal 
figura de combate liberal como responsável pela Fazenda. Apesar de tudo, 
a conciliação condiz mais com o regime de 1853 que com o de 1857. 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 61)
22
23
Além de Olinda na presidência e na pasta do Império, o ministério foi constituído 
por: Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, Justiça; Visconde de Maranguape, Estran-
geiros; Bernardo de Souza Franco, Fazenda; José Antônio Saraiva, Marinha; Jerônimo 
Francisco Coelho, Guerra. “Nesse gabinete misto, Olinda simbolizava o partido con-
servador, como Souza Franco o liberal – o mesmo Souza Franco que Olinda ajudara a 
derrubar do posto de ministro, quando cai o gabinete Paula Souza e Olinda comanda a 
ascensão conservadora, em 1848” (IGLÉSIAS, 1967, p. 61).
As votações na Câmara e no Senado, em relação à Fala do Trono, demonstram que 
a chamada conciliação estava enfraquecida. Os deputados rejeitaram uma emenda pro-
posta por opositores, mas a votação demonstrou o fracionamento dos parlamentares, 
os ministros obtiveram vitória com 53 votos a seu favor e 45 contra. No Senado, os 
favoráveis ao ministério foram 24 e os contrários 14.
O gabinete dirigido pelo Marquês de Olinda cai, “porque “não fora organizado com 
unidade de vistas, e no “seu exercício só fez aprofundar as separações” (IGLÉSIAS, 
1967, p. 69). As críticas foram principalmente contra a política monetária. Os conser-
vadores não aceitavam a liberação da emissão de moeda permitida pelo gabinete, já 
que haviam aprovado o monopólio do Banco do Brasil. O ministro da Fazenda, Souza 
Franco, antigo liberal convertido ao conservadorismo, era criticado por ser o articulador 
dessa política. Ele “não encontrava pleno apoio do ministério nem do Imperador, todos 
tímidos e apegados à ortodoxia em matéria financeira” (IGLÉSIAS, 1967, p. 68).
Como afirmado anteriormente, a crise de especulação apareceu em 1858, é quando 
as críticas ao ministério aumentam. Mas não é só o ministro da Fazenda que é criticado. 
O presidente do Conselho de Ministros, Marquês de Olinda, também é criticado, pois 
era o responsável pelo gabinete. Com o aumento da divisão na Câmara e no Senado, 
D. Pedro II desfaz o ministério e em 12 de dezembro de 1858 é formado um novo minis-
tério, presidido por Antônio Paulino Limpo de Abreu, Visconde de Abaeté, antigo liberal, 
convertido ao conservadorismo. Está praticamente findada a chamada Conciliação. 
“No Gabinete de 12 de dezembro de 1858, sob a direção de Abaeté, o espírito que 
domina é o conservador, quase com exclusivismo. Para efeito puramente formal, portanto, 
consigne-se aí o fim da conciliação” (IGLÉSIAS, 1967, p. 70). É importante ressaltar, 
contudo, que nos três ministérios chamados de conservador, não houve extremismos, 
o espírito conciliador, no sentido de acomodação das classes dominantes, continuava a 
imperar, o que era desejo de D. Pedro II, que atuava de forma a garantir esse espírito.
Esse ministério teve que se haver com a questão das emissões de moeda. O ministro 
da Fazenda, Sales Tôrres Homem, ferrenho crítico do seu antecessor, apresenta projeto 
na Câmara para restringir as emissões de moeda, em 15 de junho de 1859. Este é apro-
vado “por pequena margem de votos, era a palavra de condenação do ministério, sem 
condições de permanecer’. Pensou-se em dissolver a Câmara e convocar novas eleições, 
mas sem apoio do imperador, o gabinete se desfez. “Estivera no poder pouco menos de 
oito meses” (IGLÉSIAS, 1967, p. 75).
O novo gabinete foi organizado por Angelo Muniz da Silva Ferraz, seu presidente. 
Esse foi um ministério totalmente renovado, pois os conservadores mais destacados já 
estavam desgastados. Foi um gabinete de afirmação do Partido Conservador.
23
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
Pareceu a muitos que o novo ministério colocaria fim à política implementada por 
Sales Tôrres Homem, em relação à emissão de moedas. Na verdade, o novo gabinete 
deu continuidade a essa política monetária, com apoio da maior parte dos conservadores.
Se a lei proposta por Sales Tôrres Homem foi aprovada apertadamente na Câmara, no 
Senado ela foi discutida e aprovada em 1860, com certa folga. Esta “complementando o 
que já se fizera antes, quebra o ímpeto das iniciativas. Como diversas tinham mais caráter 
de especulação que de operosidade, é possível que muitas das desistências nada signifi-
cassem de negativo. As falências que entãose verificaram foram de empresas sem base 
real, ou desculpas de empresários inescrupulosos” (IGLÉSIAS, 1967, p. 79).
Uma novidade no período governado por Ferraz foi a criação do ministério da Agri-
cultura, Comércio e Obras Públicas, criado em 28 de julho de 1860. Esse ministério 
não teve papel relevante pela falta de técnicos que pudessem realizar os trabalhos, pois:
O país não tinha o gosto pelas novidades, não desenvolvia o ensino ou 
o estudo de matérias mais técnicas, por seus graves preconceitos contra 
o trabalho manual, típicos de sociedade fundada na escravidão; para o 
brasileiro convencional, informado de valores retóricos, estudo era só o 
de humanidades ou leis, para formar o letrado ou o bacharel, origem de 
quase toda a vida política. (IGLÉSIAS, 1967, p. 78)
Em 1860, foram realizadas eleições para a Câmara dos Deputados. A política restri-
tiva de Ferraz acabou ressuscitando politicamente antigos liberais como Teófilo Otôni, 
que se elegeu por Minas Gerais. Em conjunto com forças dissidentes dos conservadores, 
formaram uma base de oposição ao ministério. Ferraz, percebendo a mudança na Câ-
mara, pede demissão e é substituído por Caxias, que assume em 2 de março de 1861.
O ministério presidido por Caxias não teve atuação muito destacada. Com uma 
Câmara dividida, tinha dificuldades de aprovar seus projetos. As dissidências entre os 
conservadores e o surgimento dos chamados moderados, dará nova configuração aos 
partidos, no que ficou conhecido como a Liga. Dissidentes conservadores, moderados e 
liberais passam a atuar conjuntamente e põe fim ao gabinete de Caxias.
Com impasses na Câmara e no Senado, o ministério propõe à D. Pedro II a dis-
solução da Câmara. “O Imperador não aceita a medida drástica e convoca o chefe da 
oposição entre os deputados, Zacarias, para formar novo gabinete – o de 24 de maio de 
1862. O de Caxias vivera quase quinze meses” (IGLÉSIAS, 1967, p. 85). Se o anterior 
não chegou a completar um ano e meio no governo, o ministério presidido por Zacarias 
de Góis e Vasconcelos durou apenas uma semana. Sem base de apoio, saiu sem que 
tivesse tempo para qualquer realização. D. Pedro II, então, apela para a experiência e 
convoca o Marquês de Olinda para presidir um novo ministério, que se inicia em 30 de 
maio de 1862, já era o 18º gabinete do Segundo Reinado.
Esse ministério ficou conhecido “como o ‘gabinete dos velhos’. De homens sem fortes 
vinculações partidárias, é a vitória da Liga, de uma força nova. Vencido por votação na 
Câmara o gabinete Zacarias, D. Pedro II não convoca os conservadores puritanos, ape-
lando ainda para o elemento da Liga, que lhe merece confiança (IGLÉSIAS, 1967, p. 88).
24
25
Logo no início, o ministério presidido por Olinda enfrenta a Questão Christie, um inci-
dente sem maior importância, explorado pelo diplomata inglês, William Dougal Christie. 
Um navio britânico naufragou em 1861 na costa do Rio Grande Sul, foi pilhado e os 
assaltantes fugiram. No Rio de Janeiro, oficiais de uma fragata desacataram autoridades 
brasileiras, foram presos e logo libertados. Incidente insignificante, mas que foi muito 
bem utilizado pelo diplomata inglês. Este, dizendo que o governo brasileiro não tomou as 
devidas providências em relação aos casos .
[...] ordenou que navios britânicos se apossassem de navios brasileiros. Con-
venientemente publicado, provocou a grita do povo: D. Pedro II assumiu a 
defesa da honra nacional, vivendo aí o seu maior instante de popularidade, 
com manifestações de apoio de todos os cantos e setores. Pagou o que foi 
exigido e pediu satisfações pelo que se praticara contra o país. Não con-
siderando razoável a resposta, Brasil e Grã-Bretanha romperam relações. 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 89)
O 18º ministério permaneceu até 15 de janeiro de 1864. Além da questão Christie, o ga-
binete presidido por Olinda não foi pródigo de realizações. Como demonstra Iglésias (1967, 
p. 90), “Trabalhara razoavelmente em coisas administrativas que não aparecem muito: entre 
outras, a adoção do sistema métrico francês e o registro dos casamentos acatólicos”.
Em 12 de maio de 1863, mais uma vez a Câmara era dissolvida. Novas eleições 
foram realizadas e a nova legislatura tem início em janeiro de 1864. Nesta, reinam os 
“ligueiros” (Partido Progressista) e Olinda entende que é hora da formação de um novo 
ministério que represente os novos deputados eleitos.
Aqui se faz importante uma observação. O título deste item, O Parlamentarismo 
às avessas, pode levar a um entendimento errôneo do período. É preciso lembrar 
que D. Pedro II já era um homem maduro, que não precisava e não se deixava mais 
tutelar. Ele governou utilizando as prerrogativas constitucionais, como é o caso do 
Poder Moderador. Dissolveu os ministérios e a Câmara quando achou necessário, 
principalmente para equilibrar as forças. Segundo Iglésias (1967, p. 91) .
D. Pedro sabia que o processo das eleições era falho, as maiorias sem re-
presentatividade; quando sentia os tropeços de composição do gabinete 
com o parlamento, com suas dissidências, que tornavam inviável qualquer 
solução, mudava os partidos dirigentes, na conhecida rotatividade que 
impediu que um dos grupos se perpetuasse no poder. [...] O tão referido 
parlamentarismo imperial é apenas força de expressão.
Após as eleições parlamentares, mais um ministério é formado em 15 de janeiro de 
1864. Volta Zacarias de Góis e Vasconcelos. Era a vitória do partido progressista, que 
congregava conservadores moderados e liberais. Entretanto, a unidade não era sólida, 
havia muita divergência entre os membros do partido, sem conseguir aprovar seus pro-
jetos na Câmara, o gabinete presidido por Zacarias termina em agosto do mesmo ano.
Novo ministério é formado em 31 de agosto de 1864, agora presidido por Francisco 
José Furtado. “Foi surpresa a designação de Furtado, político sem maior tradição, que 
nem era senador ou chefe de partido. O que explica o seu aparecimento é que o Im-
perador deseja uma composição mais liberal que a anterior” (IGLÉSIAS, 1967, p. 95).
25
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
O gabinete Furtado enfrentou uma das piores crises financeiras da época, refletida, 
principalmente, na falência da casa bancária J. Alves Souto & Cia, em 1864. A crise 
afetou todas as casas bancárias, inclusive o Banco do Brasil. O governo adotou medidas 
parciais que não resolveram o problema. Na Câmara, continuam as disputas. O minis-
tério, quase que puramente liberal, não resiste às críticas e, sem apoio, é desfeito, e um 
novo é convocado pelo imperador. O 21º gabinete do Segundo Reinado foi presidido 
pelo Marquês de Olinda. D. Pedro II tenta trazer de volta os políticos mais experientes. 
O gabinete é formado por senadores e chefes de partidos renomados, por isso ficou 
conhecido como gabinete das águias. Segundo Iglesias (1967, p. 98), “A associação de tão 
grandes figuras, chefes naturais, dificultava a ação. Falava-se em duplicidade e mesmo plura-
lidade de direção: o governo não era uno, pois cada ministro se julgava com autonomia”.
A grande questão enfrentada por esse ministério foi a Guerra do Paraguai, que será 
analisada mais adiante. A guerra foi custosa e, somadas as dificuldades financeiras, acirrou 
ainda mais as divergências no ministério e, entre este e a Câmara. Em agosto de 1866, cai 
o ministério presidido por Olinda. Em 3 de agosto de 1866, tem início o 22º ministério, 
sob a liderança, mas uma vez, de Zacarias de Góis e Vasconcelos. “A longa série de ga-
binetes instáveis é consequência das divisões políticas e da insegurança dos partidos. [...] 
Essa indefinição é que leva a maiorias precárias, em torno de interesses episódicos. A in-
definição será encerrada com o último gabinete que tem tais características” (IGLÉSIAS, 
1967, p. 103).
Esse ministério é formado por maioria progressista e é atacado por conservadores e 
liberais. Pela primeira, os ataques à pessoa de D. Pedro II ganham força. O presidente 
do ministério afirma não serpossível realizar as reformas políticas exigidas “por três 
razões [...] pela guerra, pela crise financeira, pelo término próximo das sessões da Câ-
mara” (IGLÉSIAS, 1967, p. 103). A situação da instabilidade política se confirma com a 
apresentação de uma moção de desconfiança em relação ao ministério pelo deputado 
Tito Franco de Almeida, que é rejeitada por 51 votos contra 48. A votação demonstra 
que o gabinete não tem apoio na Câmara. “É a guerra entre progressistas e históricos, 
árdua até as eleições de 1867, que fazem maioria progressista e que continua até a dis-
solução em 1868, quando retornam os conservadores” (IGLÉSIAS, 1967, p. 104).
Apesar das dificuldades políticas, o gabinete Zacarias tomou providências em relação à 
questão financeira. Conseguiu aprovar lei em 12 de setembro de 1866, que retira do Banco 
do Brasil a faculdade da emissão de moeda. Os impostos relativos ao comércio exterior são 
aumentados, medida protecionista, que buscava equilibrar as finanças do Estado.
Outra questão resolvida pelo gabinete foi o estabelecimento da livre navegação nos 
rios Amazonas, Tocantins, Tapajós, Madeira, Negro e São Francisco, de forma soberana.
Terminava assim longa questão que vinha do início da década anterior, 
quando a ideia fantástica e as ambições de um norte-americano levantaram 
a ideia da abertura do rio Amazonas ao comércio e à colonização: a altivez e 
a habilidade da diplomacia imperial, enfrentaram o problema, conduzindo-o 
do melhor modo, através de acordos com as nações vizinhas e interessadas 
no rio, adiando sua abertura até outra época, livre de pressões e possíveis 
perigos. (IGLÉSIAS, 1967, p. 105)
26
27
A Fala do Trono de 1867 coloca pela primeira vez em discussão a questão da escra-
vidão. Liberais e conservadores se colocam contra qualquer discussão e, assim nada será 
feito, mas a questão estava colocada.
O ministério Zacarias, desgastado pela Guerra do Paraguai e por ter levantado a 
discussão sobre o estatuto da escravidão, teve que enfrentar o pedido de afastamento de 
Caxias do comando das tropas, que este havia assumido a pedido do ministério.
Caxias, sentindo-se sem confiança do gabinete, solicita afastamento, mas D. Pedro II 
resiste a sua demissão. Então, Zacarias apresenta ao Conselho de Estado “a renuncia do 
gabinete”. Este “não aceita as demissões e D. Pedro II propõe a alternativa: se o mal menor 
é a demissão do ministro ou do general” (IGLÉSIAS, 1967, p. 107).
As disputas entre Zacarias e Caxias, na verdade refletem as lutas entre liberais e con-
servadores. O imperador, desejoso da permanência de Caxias e dos conservadores ao 
governo, agiu de forma a desgastar o gabinete, até que este se demitisse. D. Pedro II “de-
sejava a volta dos conservadores, para mais tranquilidade, uma vez que os progressistas 
já haviam demonstrado a fraqueza de sua união, de todo rompida no último ministério” 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 109).
D. Pedro II convoca o Marquês de Itaboraí para presidir e formar o novo ministério. 
Conservador histórico, formará um ministério eminentemente com elementos de seu 
partido. Entretanto, a Câmara tem maioria liberal, que apresenta moção contra o mi-
nistério. Esta é aprovada por 85 votos a favor e 10 contra. Foi uma vitória de Pirro. “[...] 
os deputados sabiam que o governo não podia recuar, eles é que estavam perdidos. [...] 
Ofício e decreto do dia 18 de julho, comunicados dia 20, dissolviam a Câmara dos De-
putados e convocavam outra para 3 de maio” de 1869 (IGLÉSIAS, 1967, p. 111).
Como afirmado anteriormente, o Parlamentarismo às avessas mostrava sua verda-
deira face. O Poder Moderador atribuía direitos constitucionais ao imperador, que podia 
dissolver a Câmara, assim como o ministério. Ele tinha “o direito de fazer o que fez, 
quando os chamados progressistas, que surgiram das dissidências entre os partidos tra-
dicionais, não chegavam a compor-se, provocando o surgimento de novas dissidências, 
que tornavam impossível qualquer governo” (IGLÉSIAS, 1967, p. 111).
A queda do gabinete Zacarias teve importância maior que os anteriores. A intromissão 
direta do imperador teve o efeito de unir os liberais e progressistas, que fundam o Centro 
Liberal, no qual aparecem figuras históricas, como: Teófilo Otôni, Nabuco de Araújo, 
Francisco Otaviano, Frutado, Zacarias, Souza Franco, entre outros. Estes formaram a cor-
rente antimonárquica. Nesse período, cresce o prestígio dos militares, “agora interferindo 
em tudo, com suas reivindicações e o peso de uma autoridade que é até armada”. Outra 
questão posta é “a necessidade de extinção do trabalho escravo, uma vez que esse estatuto 
diminuía o prestígio nacional entre os demais países, já livres” (IGLÉSIAS, 1967, p. 111). 
A pregação republicana é inevitável. A recomposição política e de programas foram 
profundas a partir de 1868. Esse ano é o marco da derrubada da monarquia, que acon-
teceria em 1889. A monarquia
[...] viveria ainda alguns anos, às vezes até com o antigo brilho. Os homens 
mais lúcidos, no entanto, sabiam que o Império estava condenado. Em 
1868 começa o seu declínio, até chegar à queda em 1889. Ele já revelara 
27
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
o seu potencial, o que tinha de positivo e negativo. Agora ia viver quase 
que vegetativamente, pois eram sabidos os seus limites. A data de 1868 
encerra o período de esplendor e abre o de crises que levarão à sua ruína. 
(IGLÉSIAS, 1967, p. 112)
O cerco vai se fechando quando, em 03 de novembro de 1870, o movimento republi-
cano começa oficialmente no Brasil, a partir de um Clube Republicano no Rio de Janei-
ro e do lançamento do célebre Manifesto Republicano. Redigido por Quintino Bocaiúva 
e contendo 58 assinaturas, o Manifesto foi publicado no jornal A República e destacava 
as contradições do regime entre a teoria e a prática e desafiava os monarquistas a mos-
trarem os abusos da corte. Pedia o estabelecimento de uma república federativa e aludia 
ao caráter exótico de uma monarquia no Novo Mundo (MUGIATTI, 2008).
Curiosamente, o próprio D. Pedro nunca escondera suas simpatias pela ideia repu-
blicana. Mas o republicanismo era um movimento de ideias, não visava a pessoa física 
do monarca, e prosseguiu sua “marcha avassaladora”. No mês seguinte, em dezembro 
de 1870, foi fundado o Clube Republicano de São Paulo que, como o Fluminense, 
acabaria em 1873 par dar lugar ao Clube Republicano Federal. No mesmo ano, em 
abril, realizava-se a Convenção Republicana de Itu e formava-se o Partido Republicano 
Paulista, apoiado na cafeicultura e visando à “defesa da federação” como único meio de 
assegurar às províncias o controle da política econômica (MUGIATTI, 2008, p. 153). 
É preciso ter em mente que somente às vésperas da Abolição os republicanos de São 
Paulo se manifestaram contra a escravidão, inicialmente composto pelos bacharéis de 
Direito, a ideia inicial da organização federativa foi superada pela atuação preponderante 
de uma nova geração de militares. Próximo de 1889, os civis não podiam prescindir 
dos militares para a implantação da República. Foi assim que a propaganda republicana 
e a insatisfação provocada entre os grandes latifundiários pela Abolição, proporcionou 
o clima que permitiria ao Exército, com o auxílio de líderes republicanos, proclamar a 
República no Rio de Janeiro (MUGIATTI, 2008).
Sociedade e Cultura no Segundo Reinado
Os salões eram espaços de sociabilidade fundamentais durante o Império, sugerindo 
a assimilação, pelas elites, das noções de civilidade e de refinamento herdadas do Ilumi-
nismo, revelando um dos mecanismos através dos quais a “boa sociedade” constituía a 
teia de suas relações. As reuniões se realizavam com periodicidade certa, a cada semana 
ou quinze dias, e obedeciam a um padrão. Começavam com um jantar oferecido pelos 
anfitriões a um seleto grupo de amigos íntimos. Em seguida, abriam-se as portas para 
um círculo mais amplo de convivas e tinha início uma variedade de passatempos. Po-
diam se limitar a conversase jogos de cartas, ou incluir danças, peças teatrais, músicas 
de solistas ou pequenos conjuntos.
Modelados segundo as etiquetas da Corte, os salões faziam do anfitrião um pequeno 
soberano, cujas despesas, com as quais abrilhantava as festas, e cujas relações, definindo 
quem participava ou não do convívio, estabeleciam sutil hierarquia social, ao mesmo 
tempo em que proporcionavam oportunidades para exercer e ostentar o seu prestígio 
(NEVES, 2008).
28
29
Figura 4 – Cópia da tela | O Último Baile da Ilha Fiscal de Aurélio de Figueiredo
Fonte: rioantigo.org
Entre 1840 e 1870, os salões encontraram sua expressão máxima na corte. De maio 
a setembro, quando o calor amenizava, a atividade dos salões complementava-se com 
bailes, espetáculos de ópera e concertos de pianistas e outros artistas internacionais. Os 
salões mais destacados da Corte eram mantidos por políticos, nos quais os jovens de 
famílias poderosas das províncias, que vinham para a capital em busca de cargos e man-
datos, assimilavam as modas, valores e artimanhas do poder (NEVES, 2008). O último 
baile do Império aconteceu na Ilha Fiscal, Rio de Janeiro, no início de novembro de 1889, 
em homenagem aos oficiais do navio chileno Cochrane, e foi realizado com um requinte 
incomum, seis dias antes do início da República.
Apesar do poder de atração do Rio de Janeiro, as províncias também tiveram seus 
salões. A partir de 1850, São Paulo recebias as festas oferecidas pela Marquesa de Santos, 
Domitila de Castro Canto e Melo que, repudiada na Corte do Rio de Janeiro, casara-se 
com Rafael Tobias de Aguiar, tornando-se grande dama da sociedade paulista. Durante 
sete anos entre 1822 e 1831, a Marquesa de Santos foi amante de D. Pedro I, tendo 
cinco filhos com ele, dos quais três filhas foram reconhecidas pelo Imperador. A marquesa 
influen ciou bastante as decisões políticas de D. Pedro I, mas a ruptura da relação ocorreu 
em uma clausula do segundo casamento do Imperador, com D. Amélia de Leuchtenberg, 
que viveu com ele em seus últimos anos (MUGIATTI, 2008).
No Recife, h omens de negócios e banqueiros cultivavam o gosto, a opulência e o 
luxo com bailes e saraus, já na Bahia, entre 1850 e 1860, além dos bailes, cujo ápice se 
deu com a visita do Imperador em 1859, havia também clubes de dança e música. Na 
Corte, após o final da Guerra do Paraguai em 1870, os salões continuavam como polo 
de atração para a “boa sociedade”, nos quais ocorriam articulações importantes entre 
os liberais, os poderosos do café e os comerciantes.
O barão de Cotegipe, João Maurício Wanderley, abria sua residência para festas 
dedicadas ora à dança, à música, à poesia ou à conversação. Em alguns eventos festivos, a 
política tinha um espaço secundário, frequentados por intelectuais como José de Alencar, 
Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis, Tavares Bastos, Joaquim Nabuco, 
Bernardo Guimarães e Alfredo d´Escragnole Taunay, escutavam música e participavam 
de conversas literárias transformando os salões em uma espécie de academia .
29
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
Desde a chegada da Corte portuguesa (1808), foi aberto um caminho para a difusão 
da literatura e do jornalismo no Brasil. O Rio de Janeiro transformou-se no centro irra-
diador das novidades nessa área. Mas foi a partir do segundo reinado que a literatura e 
o jornalismo alcançaram maior produção e difusão.
O romance foi a principal tendência no início do segundo reinado. As obras, O Filho 
do Pescador (1843), de Teixeira e Souza e A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de 
Macedo, são a representação do romance romântico brasileiro do período. Segundo 
Antônio Cândido de Mello e Souza.
[...] a tonalidade folhetinesca, de influência francesa, com aventuras inve-
rossímeis, intervenção inesperadas, coincidências miraculosas; e um certo 
realismo descritivo, bastante trivial na sua amenidade, que foi sempre muito 
brasileiro e que, por ser menos ambicioso, mais chegado ao cotidiano, 
preservou melhor as obras do desgaste do tempo. (SOUZA, 1967, p. 349)
Outro romance de grande importância foi Memórias de um Sargento de Milícias 
(1852-1853), de Manuel Antônio de Almeida, médico que escreveu essa única obra, mas 
que com muito brilhantismo descreveu muito bem os costumes da época.
O principal destaque do período é, sem dúvida, José de Alencar, mais conhecido 
por suas obras indigenistas, três romances desse período são referência: Lucíola (1862), 
Diva (1864) e Senhora, 1875). Nessas obras, o autor “analisa casos curiosos de psi-
cologia feminina, sendo que no último manifesta senso agudo dos problemas sociais, 
aprofundados graças a um realismo temperado pelas concessões ao convencionalismo 
romântico” (SOUZA, 1976, p. 350).
O regionalismo é parte do romantismo e aparece em autores como: Franklin Tavares, 
Bernardo Guimarães e Alfredo d’Escragnolle Taunay. A poesia também floresceu nesse 
período. Destaque para: Luís Nicolau Fagundes Varela, José Bonifácio e Pedro Luís 
Pereira de Souza. Temas sociais são a principal inspiração dos poetas, “correspondentes 
à agitação política e patriótica do momento (Questão Christie, Guerra da Tríplice Aliança, 
primeiros sinais do abolicionismo e do sentimento republicano” (SOUZA, 1967, p. 351). 
Outro movimento importante que aparece já no final do império foi o naturalismo. A prin-
cipal obra é O Mulato (1881), de Aloísio Azevedo. 
Depois dessa obra, as principais produções desse movimento serão publicadas já no 
período republicano. A música também floresceu no Brasil a partir da chegada da família 
real portuguesa, mas foi com D. Pedro II que esta teve grande impulso. Segundo Lange.
[...] cuidadosamente educado, apenas proclamado Imperador do Brasil, 
protegeu o desenvolvimento musical do país com incansável persistência. 
Deu a esta proteção aspectos práticos, prestigiando com sua presença, os 
espetáculos líricos e os concertos que achava dignos de seres auspiciados. 
(LANGE, 1967, p. 394)
A ópera nacional teve grande impulso nesse período, tendo como expressão máxima, 
Antônio Carlos Gomes, compositor de O Guarani. Essa obra, que data da segunda me-
tade do século XIX, foi considerada, na época, “uma espécie de segundo hino nacional, 
30
31
tal a divulgação e a popularidade que a ópera adquirira até nos menores povoados, em 
transcrições para banda” (LANGE, 1967, p. 402). As artes plásticas no século XIX ti-
veram grande influência do neoclassicismo francês, inclusive na arquitetura. Devido ao 
crescimento das cidades no segundo reinado, várias reformas urbanas foram realizadas 
nas províncias e na capital do império.
No Recife, as reformas foram realizadas “na administração do Conde da Boa Vista, 
sob a orientação do engenheiro francês Louis L. Vauthier” (BARATA, 1967, p. 425). 
Em Belém, entre 1848 e 1878, várias obras foram concretizadas. Jerônimo Francisco 
Coelho, que assumiu a presidência da província em 1848 .
[...] planejou um canal, alinhou o largo da Pólvora e traçou largas ruas 
de árvores no seu interior, abriu bairro (Umarizal), criou o Cemitério da 
Soledade. Seus sucessores, em 1860 iniciaram o Palácio da Assembleia, 
inaugurado em 1883 e depois o Teatro da Paz, terminado em 1878. 
(BARATA, 1967, p. 415)
O Conselheiro João Alfredo, que governou a província de Pernambuco entre 1869 e 
1870, assumiu a pasta do Império, “à qual competia a administração da Corte, ficando 
até 1875”. Ele conhecia as reformas realizadas no Recife e, aproveitando o fim guerra do 
Paraguai, “projetou modernizar o Rio, aprovando remodelação do Campo de Santana 
por Glaziou, a criação do bairro de Vila Isabel por iniciativa particular e outros melhora-
mentos” (BARATA, 1967, p. 415).
As artes plásticas também foram influenciadas pelo neoclassicismo francês. Os temas 
principais são bíblicos e históricos. “Os quadros de batalhas satisfizeram uma necessidade 
circunstancial na época da guerra do Paraguai”. A maioria dos artistas ficou presa a 
“alegorias sensacionais e as cenas de gênero tão atacadospelo jovem crítico Gonzaga 
Duque, em 1888, ao considerá-los a tônica permanente da arte brasileira, retardando-a 
e prejudicando-a” (BARATA, 1967, p. 424). A escultura no segundo reinado também foi 
influenciada pelo neoclassicismo francês e ao academicismo oitocentista. A arte religiosa 
prossegue a obra setecentista, segundo Barata (1967, p. 424) “O Brasil monárquico ter-
minava, aqui, a obra do começo do Século XIX, em singular exemplo de continuidade e 
permanência nacional”.
As situações emblemáticas que envolveram o fim do Império têm sido sempre uma 
referência nos momentos de crises políticas posteriores. Para Emília Viotti da Costa 
(2008, p. 162):
Diante de perturbações da ordem pública, golpes militares, fraude eleitoral 
ou outras formas de corrupção, aparecem sempre saudosistas a louvar 
o passado e denegrir o presente. A idealização da monarquia não é fato 
novo. Teve início logo após a Proclamação da República (1889), quando 
monarquistas e alguns republicanos, desiludidos com o rumo que os acon-
tecimentos tomavam, se associaram na construção de uma imagem idea-
lizada de Império. Argumentavam que o regime monárquico dera ao país 
setenta anos de paz interna e externa, garantira a unidade nacional, o 
progresso, a segurança individual, a liberdade e o prestígio internacional, 
sob a direção sábia de um imperador digno, ilustrado e generoso.
31
UNIDADE Política, Sociedade e Cultura no 
 Segundo Reinado (1840 – 1889)
Com o passar do tempo, a versão monarquista acerca do que a República significava 
foi se tornando mais complexa, a partir da ideia de que 1889 foi um levante de militares 
indisciplinados, incitados pelos republicanos que contaram com o apoio de fazendeiros 
descontentes com a Abolição.
Para esta versão monarquista, a República restringira as liberdades individuais e foi 
incapaz de garantir a segurança e a ordem, ou de promover o equilíbrio financeiro e 
econômico. Ao ignorar os problemas que o Império teve de enfrentar, as insurreições 
também foram apagadas: Confederação do Equador e Praieira no Nordeste, Farrapos 
no Sul, vários levantes em São Paulo e Minas. Protestos, revoltas e agitações do Se-
gundo Reinado, além das desastrosas Guerras da Cisplatina e do Paraguai. Esquecidos 
foram: a permanência da escravidão até praticamente o fim do Império, uma política de 
terras que permitiu sua concentração nas mãos de uma minoria, o elitismo e a exclusão 
política da grande maioria do povo brasileiro (COSTA, 2008).
Por outro lado, a visão republicana, que criticava o Poder Moderador e as deficiên-
cias do Imperador como Estadista, a excessiva centralização, o Senado e o Conselho de 
Estado vitalício, denunciando a fraude eleitoral. No entanto, na avaliação da monarquia, 
os republicanos deixavam de lado o patrocínio das artes e das letras, a multiplicação das 
escolas primárias, os subsídios à política imigratória, a construção de ferrovias, o incen-
tivo à indústria e a manutenção do território (COSTA, 2008).
Baseadas nos testemunhos dos contemporâneos, ambas as versões, dos vencedores 
e dos vencidos, a republicana e a monarquista, são parciais, forjadas no calor das lutas 
políticas ao final do Império, estabeleceram o padrão da historiografia que vigoraria 
muito tempo depois da implantação da República. Contribuíram para obscurecer as-
pectos importantes para a compreensão da história do Império que vieram a marcar 
profundamente a cultura política do brasileiro. A persistência das estruturas econômicas 
e sociais e a organização política e institucional do país independente criaram condições 
ideais para a formação de um regime oligárquico.
De fato, qualquer que seja a opinião que se tenha do imperador é preciso reconhecer 
que quem de fato assumiu o poder foram as oligarquias. Embora a composição social 
das oligarquias tenha se alterado ao longo do tempo, especialmente à medida que grupos 
novos surgiram na sociedade nas últimas décadas do Império, as oligarquias se recons-
tituíram em bases novas e sobreviveram à Proclamação da República (COSTA, 2008).
No Império, os grupos que assumiram o poder representavam o interesse da grande 
lavoura e do comércio ao qual estavam ligados por laços de família ou amizade. Liberais e 
Conservadores, embora divergissem quanto a sua plataforma, na realidade se revezavam 
no poder sem exibir diferenças fundamentais. O nepotismo imperava sem qualquer cons-
trangimento numa sociedade em que muitas vezes o público e o privado constantemente 
se confundiam. Os viajantes que passavam pelo Brasil desde os primeiros anos do Brasil 
independente chocaram-se com a falta de correspondência entre legislação e a realidade, 
já que a Carta Constitucional acabou fazendo com que os direitos do homem convertessem 
os direitos em privilégios de uma minoria, e a luta por sua implementação foi deixada a 
cargo do povo (COSTA, 2008).
32
33
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Caminhos da Reportagem | Guerra do Paraguai: 150 anos
Brasil, Argentina e Uruguai travaram uma guerra sem limites contra o Paraguai, também 
conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, ou Guerra Grande. Em cinco anos de combate, 
estima-se que 50 mil brasileiros perderam a vida, dos 139 mil que foram para a guerra. Já a 
população masculina do Paraguai foi praticamente dizimada. O Caminhos da Reportagem 
conta como foi essa campanha, hoje lembrada em praças, ruas e monumentos pelos quais 
muita gente passa sem se dar conta. Estudiosos dos quatro países analisam a guerra e suas 
consequências, drásticas tanto para vencedores quanto para vencidos. 
https://youtu.be/eXhP01zEZVQ
História: Joaquim Nabuco e a Revolução Praieira – Izabel Andrade Marson
Entrevista com a Historiadora Izabel Andrade Marson, livre-docente e professora colabo-
radora do Departamento de História da UNICAMP onde atua em atividades de docência 
e orientação. É autora de Movimento Praieiro: imprensa, ideologia e poder político (Mo-
derna-1980); A Rebelião Praieira (Brasiliense, 1981); O Império do Progresso: a Revolução 
Praieira em Pernambuco – l842-l855. (Brasiliense-l987); e Política História e Método em 
Joaquim Nabuco: tessituras da revolução e da escravidão. (EDUFU-2009), A Revolução 
Praieira: resistência liberal à hegemonia conservadora em Pernambuco e no Império (1842-
 1850), (Ed. Perseu Abramo – 2009).
https://youtu.be/hKpCqTOS9kI
 Leitura
D. Pedro II: vínculos com o judaísmo
Muitos estudos têm sido publicados sobre D. Pedro II. Entretanto, alguns aspectos de sua 
vida não têm sido explorados mais profundamente: sua dedicação à literatura e aos estudos 
judaicos, sua preferência pelo idioma hebraico, entre outros que estudou durante sua vida, 
e seu desejo de conhecer as origens do Cristianismo através da análise dois textos bíblicos 
originais. D. Pedro encontrou um lenitivo alívio para a amargura do exílio nas traduções 
hebraicas e na convivência com judeus. D. Pedro II representando o Brasil de um modo 
positivo entre as nações do mundo.
https://bityl.co/7oSN
Mauá e a Economia do Brasil Império: um olhar a partir dos artigos 
no Jornal do Comércio e Correio Mercantil (1855-1884)
A Monografia busca compreender e identificar quais eram as ideias econômicas do Vis-
conde de Mauá e aprofundar tal questão a partir da leitura de artigos pouco conhecidos de 
autoria dele. Busca-se identificar quais suas influências teóricas, analisar a importância de 
suas ideias e empreendimentos para a economia da época e avaliar a contribuição de suas 
ideias para o Pensamento Econômico nacional. Tem-se ainda uma nova perspectiva acerca 
da oferta de crédito, em que Mauá acrescenta à discussão questões como a credibilidade 
e confiança do mercado financeiro, além das taxas de juros. Por fim, tem-se uma análise 
de Mauá do progresso econômico, em que este seria grande dependente da situação da 
agricultura, base da economia, e da situação dos transportes, que é essencial para o 
desenvolvimento dos demais

Mais conteúdos dessa disciplina