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375 ObjetIvOs de aprendIzagem Após estudar este capítulo, você estará ca- pacitado para: »» Definir os estilos de administração que moldam a gestão de pessoas. »» Descrever as relações da organização com os empregados. »» Compreender os mecanismos adotados para manter a disciplina. »» Definir os programas de assistência ao empregado. »» Explicar a administração de conflitos nas organizações. O Que será vIstO adIante »» Estilos de administração. »» Relações com empregados. »» Programas de assistência aos empregados. »» Disciplina. »» Gestão de conflitos. »» Arbitragem. Relações coM eMpReGados CaPítulo 14 CasO IntrOdutórIO: novas regras na magnopower Quando assumiu a diretoria de relações humanas (DRH) da Magnopower, ivone Chaves não imaginava o tamanho do problema que enfrentaria. Com a intenção de desenvolver uma gestão participativa e aberta, o di- retor de RH anterior não havia pensado em estabelecer regras e critérios de comportamento para os funcioná- rios. Ao abrir demais o sistema, o antigo diretor permi- tiu a proliferação de comportamentos indesejáveis de alguns. Com a eliminação das regras burocráticas, as re- lações com empregados tornaram-se tumultuadas pelo excesso de liberdade e pela leniência na sua avaliação. A empresa tinha virado uma verdadeira bagunça. Ivone queria colocar ordem na casa. Era necessária a definição de regras de conduta. Como agir no lugar dela? Os desafios estratégicos das organizações requerem ênfase importante e fundamental na gestão de pessoas (GP). O alinhamento das pessoas, do desempenho e das competências às estratégias do negócio e aos objetivos da organização figura hoje como condição básica para que os executivos de linha sejam bem-sucedidos nas atividades. Nesse contexto, o relacionamento entre a organização e as pessoas que nela trabalham torna-se um aspecto de pri- mordial importância. As relações com o público interno são fundamentais para o sucesso da organização. Quanto melhor o clima interno e o moral das pessoas envolvidas, maior a probabilidade de sucesso organizacional. Trabalhar em uma organização requer muita com- petência das pessoas: executar o trabalho, atender ao cliente, focar metas e resultados a alcançar e, sobretudo, aculturar-se e seguir as regras da organização. Isso sig- nifica uma considerável dose de adaptação e integração das pessoas ao contexto da organização, à arquitetura organizacional, cultural, ao estilo de gestão e ao tipo de trabalho. O que não costuma ser fácil. Se cada pessoa é única e singular, também cada organização o é. Cada or- ganização tem um estilo próprio de gestão e pressupo- sições a respeito da natureza humana, o que pode ser fa- vorável ou não à permanência e à satisfação das pessoas. estIlos de admInIstRação A administração é profundamente influenciada pe- las pressuposições implícitas ou explícitas a respeito 376 parte vI – Mantendo pessoas da natureza das pessoas. A disciplina e a motivação de- correm dessas pressuposições. Mais de quatro décadas atrás, McGregor identificou dois conjuntos de pressu- posições, que denominou teorias X e Y 1 (Figura 1). A teoria X – a abordagem tradicional – envolve con- vicções negativas a respeito das pessoas e influencia o estilo de administração dos gerentes, moldando-o em características autocráticas e impositivas. A teoria Y – a abordagem moderna –, ao contrário, envolve con- vicções positivas que levam os gerentes a assumir uma postura democrática e consultiva. Na teoria X, predomina a manipulação das pessoas, a coação e o temor. As pessoas são consideradas indo- lentes e preguiçosas e, portanto, precisam ser dirigidas, coagidas e ameaçadas para trabalhar. Elas representam recursos inertes que precisam ser geridos pela admi- nistração. Trata-se de uma visão míope, negativista e estereotipada. Nessa teoria, o trabalho é imposto e pre- cisa ser motivado extrinsecamente por meio de paga- mento e medidas de controle. As recompensas cobrem apenas as necessidades humanas de baixo nível (Mas- low e Herzberg). O monitoramento e o controle devem ser rigorosos e as pessoas não podem ser deixadas sem supervisão nem devem ficar entregues às próprias deli- berações. A cautela deve prevalecer sobre a confiança. Em geral, as pessoas são consideradas incompetentes, interesseiras e procurarão tirar vantagens, se puderem. Assim, o trabalho deve ser fragmentado e programado para proporcionar a simplificação das tarefas, rotiniza- ção, linhas claras de autoridade e comando hierárqui- co. O relógio e o cartão de ponto são essenciais para o controle. A hierarquia é a ordem natural. As regras são severas. O temor à punição é o estímulo primordial que baliza o comportamento das pessoas. Na outra ponta, na teoria Y, predomina o respeito às pessoas e às diferenças individuais. As pessoas gos- tam de trabalhar quando o trabalho é agradável e prin- cipalmente se puderem ter voz ativa na definição e em formular os objetivos da organização. Elas podem ser criativas e gostar de assumir responsabilidades. Cada pessoa representa uma riqueza de recursos que pode ser explorada por uma adequada gestão. Nessa teoria predomina a visão mais aberta e humana das pessoas e da atividade laboral. As recompensas cobrem todas as necessidades humanas, principalmente as de alto nível. A vida organizacional é estruturada de modo a proporcionar condições para a autorrealização e a sa- tisfação das pessoas. A ordem natural é a democracia. O reconhecimento é o estímulo primordial. A auten- ticidade e os valores sociais são básicos. A liberdade e a autonomia são sagradas. A contribuição efetiva de todos é o resultado final esperado. exerCíCIO: qual é o sistema administrativo que predomina em sua organização? Ao estudar a gestão das pessoas nas organizações, Rensis Likert propõe quatro estilos administrativos, pro- gressivamente abertos:2 Teoria X Teoria Y • As pessoas médias têm desprazer inerente de trabalhar e procuram evitar o trabalho a todo custo. • Como as pessoas não gostam de trabalhar, muitas precisam ser coagidas, controladas, dirigidas e ameaçadas com punições para se esforçarem para alcançar os objetivos organizacionais. • As pessoas médias preferem ser dirigidas, desejam evitar responsabilidades, têm pouca ambição e desejam segurança, acima de tudo. • A aplicação de esforço físico ou mental no trabalho é tão natural como jogar ou descansar. • As pessoas gostam de exercitar a autodireção e o autocontrole no alcance de objetivos com os quais estejam comprometidas. • Comprometimento com objetivos é a função das recompensas associadas com o seu alcance. • As pessoas médias aprendem, sob condições adequadas, não somente a aceitar, mas a buscar responsabilidades. • A capacidade de exercer algum grau de imaginação, inovação, não somente na solução dos problemas organizacionais é amplamente, e não estreitamente, distribuída na população. fIgura 1 Pressuposições das teorias X e Y a respeito da natureza humana. CapÍtULo 14 – reLaÇÕes CoM eMpregados 377 1. sistema autoritáriocoercitivo: baseado na absolu- ta falta de confiança nas pessoas. Estas não são livres para discutir os trabalhos com os chefes e são motiva- das negativamente pelo medo, ameaças, punições e raras recompensas. O fluxo de informação é vertical, de cima para baixo com ordens, enquanto a informação de baixo para cima é vista com muita desconfiança. As decisões são rigidamente centralizadas na cúpula da organização. É o modelo mais fechado de gestão. 2. sistema autoritáriobenevolente: envolve a con- fiança condescendente nas pessoas que não são livres para discutir os trabalhos com os superiores e são motivadas por algumas recompensas e algumas punições reais ou potenciais. O fluxo de informação é ainda vertical, descendente e ascendente e o relacio- namento entre as pessoas é visto com desconfiança. As políticas são definidas na cúpula e as decisões são atribuídas aos níveis mais baixos da hierarquia,desde que previamente definidas e prescritas. 3. sistema consultivo: o estilo administrativo permite razoável confiança nas pessoas. Estas são relativamente livres para discutir os trabalhos com os superiores e são motivadas por recompensas, punições ocasionais e al- gum envolvimento. O fluxo de informação flui no senti- do descendente e ascendente. A comunicação de baixo para cima é aceita algumas vezes com desconfiança. As políticas genéricas e as decisões gerais são tomadas na cúpula, enquanto as decisões específicas são delega- das aos níveis mais baixos. As pessoas são ouvidas. 4. sistema participativo: permite total confiança nos subordinados. Estes se sentem à vontade para discutir os trabalhos com os superiores e são motivados por fatores econômicos, como recompensas baseadas em resultados pela participação e pelo envolvimento na fi- xação de objetivos. O fluxo de informação é descenden- te, ascendente e horizontal. A comunicação ascendente é aceita plenamente. A tomada de decisões é espalhada por toda a organização e devidamente coordenada. É o modelo mais aberto e democrático de administração. Para Likert, na medida em que o sistema adminis- trativo se movimenta do 1 para o 4, as necessidades humanas tendem a ser mais eficazmente satisfeitas a longo prazo. Na medida em que a organização tende ao sistema 4, ela se torna mais produtiva no longo prazo. O sistema 4 repousa sobre o princípio das relações de apoio: as interações humanas com a organização são construídas e mantidas na base da excelência e da im- portância das pessoas (Figura 2). Utilizando o quadro da Figura 2, anotar como se po- deria avaliar o departamento em que se trabalha (em cor vermelha) e a empresa (em cor preta). Que sugestões dar para mudar esse quadro em direção ao sistema 4? fIgura 2 As variáveis organizacionais de Likert. variáveis sistemas 1 2 3 4 Processo decisório Sistema de comunicações Relações interpessoais Recompensas e punições vOltandO aO CasO IntrOdutórIO: novas regras na magnopower Ivone Chaves é defensora da gestão participativa. Mas também defende regras e procedimentos para que as pessoas possam participar livremente, sem que isso prejudique as demais. Ao avaliar o que tinha ocorrido na empresa, Ivone concluiu que houve uma passagem brusca e súbita de um sistema 1 para um sistema 4, sem a preparação prévia das pessoas. Ao discutir o assunto com os diretores, concluiu que deveria trabalhar com os executivos de linha para definir um plano de ação. Como poderia fazê-lo? Relações com emPRegados Os executivos de linha supervisionam a equipe como base necessária e integrante do trabalho. Os subordinados requerem atenção e supervisão, pois enfrentam várias contingências internas e externas e estão sujeitos a problemas pessoais, familiares, finan- ceiros e de saúde, preocupações diversas, dificuldade de transporte ou atendimento a compromissos, proble- mas pessoais com drogas, fumo ou álcool. São proble- mas variados que afetam o desempenho das pessoas. Algumas conseguem administrar tais problemas por conta própria, outras não e se transformam em funcio- 378 parte vI – Mantendo pessoas nários problemáticos. E lidar com funcionários proble- máticos com justiça e equanimidade exige considerá- vel tempo dos executivos. Uma vez que os problemas pessoais podem afetar o comportamento de trabalho dos funcionários, interessa à empresa ajudar e propor- cionar assistência aos funcionários nessas situações. dICa: o bom humor na organização 3 O trabalho pode ser duro, mas deve ser divertido. O bom humor é a marca registrada dos funcionários da Selbetti, empresa de gestão de documentos e impres- sões com sede em Joinville, SC, com 214 funcionários. Todos os anos, as datas comemorativas são lembradas com agitação e surpresas. O Dia Internacional da Mulher foi especial. Um “príncipe” vestido com capa e chapéu invadiu as instalações em busca de uma candidata para o sapato que trazia consigo. No Dia dos Pais, foram da- dos kits com utensílios para churrasco para os homens, com direito a um avental que estampava fotos dos fi- lhos. Para o time, esse clima leve também se reflete na relação entre líderes e subordinados, porque existe uma preocupação em manter a troca constante de informa- ções. A lista interna de e-mails, o mural eletrônico e as reuniões mensais para discussão de resultados mantêm a equipe alinhada em torno do mesmo objetivo. Todos os empregados participam do desenvolvimento de metas e estratégias, enquanto os diretores e gerentes batem o mar- telo sobre as decisões em uma reunião anual. Muitas empresas oferecem assistência a funcioná- rios problemáticos ou tentam modificar o seu even- tual comportamento negativo. As atividades focadas nas relações com funcionários têm por objetivo a cria- ção de uma atmosfera de confiança, respeito e consi- deração e buscam maior eficácia organizacional pela remoção de barreiras que inibem a plena participação e o cumprimento das políticas organizacionais.4 Es- sas barreiras decorrem de fatores organizacionais ou pessoais. As atividades de relações com funcionários buscam estabelecer comunicação direta de duas vias para proporcionar assistência mútua e envolvimento. Na realidade, as relações com empregados devem fazer parte integrante da filosofia da organização, que deve tratar os funcionários com respeito e solidariedade e deve oferecer meios de atender às necessidades pes- soais e familiares. dICa: canais de comunicação 5 Uma comunidade criativa e dinâmica de profissio- nais – 85% são donos da empresa e têm ações com direito a voto –, a Promon, cresceu geograficamente quando abriu mais três filiais: em Porto Alegre, RS, Curitiba, PR, e Recife, PE. A expansão fez com que a área de RH reforçasse ainda mais os canais de comunica- ção com o público interno por meio de blogs, portais, vídeos, intranet, mural digital, cafés com o presidente e com a intensificação de programas inovadores, como o Mastigando Ideias. O programa acontece no horário do almoço e reúne 50 pessoas de todo o país para fa- lar com o presidente por meio de videoconferência interativa. É uma das oportunidades que o time tem para falar sobre melhoras nas condições de trabalho e os rumos do negócio. Mas toda essa voz ativa do cole- tivo não significa dizer que não existe hierarquia bem estruturada por lá. Ao contrário. Além de serem avalia- dos a cada três meses no modelo 360º, os gestores da Promon precisam adquirir (antes de virarem líderes) competências específicas, que são alinhadas por meio de dois programas – Desenvolvimento de Gestores e o Desenvolvimento de Novos Líderes. Eles ainda passam por treinamentos identificados por chefes, mentores, coordenadores de disciplinas ou pelo próprio funcioná- rio. O líder que não está preparado não é aceito pelo grupo, que exige ser guiado por bons gestores. É o que dizem os funcionários. desenho de um programa de relações com empregados As principais decisões dos executivos de linha para desenhar um programa de relações com empregados devem incluir: 4 •» Comunicação: a organização deve comunicar e explicitar a sua filosofia aos funcionários e solici- tar deles sugestões e opiniões sobre assuntos do trabalho. A comunicação deve ser de mão dupla: ida e volta. •» Cooperação: a organização deve compartilhar o processo decisório com os funcionários para obter cooperação e comprometimento. •» Proteção: o local de trabalho deve oferecer bem- -estar às pessoas do ponto de vista físico e propor- CapÍtULo 14 – reLaÇÕes CoM eMpregados 379 cionar um ambiente agradável do ponto de vista psicológico. As pessoas devem sentir que seu local de trabalho é agradável e seguro. •» Assistência: a organização deve responder às ne- cessidades especiais de cada funcionário dando-lhes suporte e apoio para atender às suas expectativas. •» Disciplina e conflito: a organização deve ter re- gras claras para lidar com a disciplina e a resolução de possíveisconflitos. Programas de sugestões O programa de sugestões é geralmente desenhado para solicitar, estimular, avaliar e implementar as su- gestões oferecidas pelos funcionários e recompensar aqueles que forneçam ideias que tenham aplicações práticas e capazes de gerar resultados para a organiza- ção. Quase sempre as recompensas são monetárias e o reconhecimento é público, podendo incluir férias ex- tras ou algum benefício especial. Os sistemas de suges- tões têm sido implementados com sucesso em muitas organizações. A Toyota é um exemplo clássico disso. gp de HOje: o exemplo da toyota Em apenas um ano, uma fábrica da Toyota, no Ja- pão, recebeu cerca de inúmeras sugestões de melhoria. Todas são avaliadas por um grupo e as que são aceitas – algo como mais de 96% – são rapidamente implemen- tadas. Tudo isso é levado a sério e a alta cúpula faz ques- tão de entregar pessoalmente o prêmio a cada pessoa em uma reunião que envolve todos os funcionários. O prêmio não é somente financeiro, mas sobretudo social e simbólico. Afinal, a inovação é o eixo de todo o suces- so da Toyota, a maior fabricante de automóveis do mun- do. Ela consegue criar um modelo novo em um quinto do tempo das concorrentes. isso graças à mentalidade que reina entre os funcionários: os principais ativadores da inovação da empresa. As linhas básicas de um programa de sugestões são as seguintes: •» Deve haver uma comissão de avaliação das su- gestões para analisar objetivamente cada uma e proporcionar uma razoável explicação aos colabo- radores porque suas ideias foram rejeitadas. Essa comissão deve ter pessoas de várias áreas e níveis da organização. •» A implementação de sugestões aceitas e a recom- pensa ao colaborador que ofereceu ideias devem ser feitas imediatamente e em público. O jornal interno deve publicar o reconhecimento ao colaborador e o resultado da melhoria sugerida. Exemplo e reforço são indispensáveis no programa de sugestões. •» Deve ser avaliado o valor do benefício ou da eco- nomia proporcionado à organização pela sugestão oferecida. Algumas organizações chegam a dar até 10% da vantagem ou da economia decorrente da sugestão ao colaborador. Programas de reconhecimento Os prêmios de reconhecimento são pagamentos ou créditos concedidos aos colaboradores ou equipes que proporcionaram contribuições extraordinárias à orga- nização. A ideia é comunicar o que fizeram e torná-los modelos para os demais colaboradores. dICa: reconhecer e recompensar O famoso “funcionário do mês” do McDonald’s consiste de uma notícia com a fotografia colocada em todos os restaurantes para todos os funcionários e clientes tomarem conhecimento. Os funcionários da iBM que contribuem com sugestões à empresa são re- conhecidos de várias formas, indo desde uma carta de agradecimento do executivo ou diretor até um prêmio que pode chegar a US$ 150 mil. Os programas de qua- lidade total utilizam intensivamente os programas de reconhecimento como reforço. O prêmio de reconhecimento pode ser indicado pelo executivo ou cliente interno do funcionário ou da equipe e que deve comunicar à direção o reconhe- cimento pela contribuição. O prêmio de reconheci- mento pode envolver uma cerimônia de celebração do sucesso do colaborador ou equipe para encorajar todos os demais a trabalhar em direção aos objetivos da orga- nização e fornecer uma retroação altamente positiva de cunho social e financeiro aos colaboradores. Parte VI - Mantendo Pessoas Capítulo 14 – Relações com Empregados