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76 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas Questões 1. Como se poderia se comportar no lugar do presidente para atender às três solicitações da diretoria? 2. Estando no lugar do vice-presidente de RH, como se poderia orientar a equipe de assessoria? 3. Como se poderia agir nos contatos com a diretoria? Em seu conjunto, as competências organizacionais proporcionam vantagens competitivas para a organi- zação. Elas são imprescindíveis para o sucesso organi- zacional, pois constituem a base da competitividade da organização (Figura 18). vendo todos os executivos como gestores de pessoas –, como atuar especificamente em cada departamento ou unidade organizacional para garantir o alcance de metas e objetivos táticos. Quase sempre são modelos em que a GP atua no nível gerencial quando se pretende que os executivos sejam os gestores de pessoas. Nesse caso, envolve mudanças na cultura organizacional para que haja aceitação dessa delegação e descentralização. Os executivos precisam aceitar suas novas incumbências de aprender a lidar com pessoas e com práticas de GP. Além do aprendizado dessas práticas – como selecio- nar pessoas, entrevistar, treinar, tomar decisões sobre pessoas –, torna-se também necessário mudar o estilo de gestão dos executivos. Estes precisam deixar de ser comandantes e mandantes para se tornarem líderes de sua equipe de colaboradores. Aspectos como liderança, comunicação, trabalho em equipe, motivação e aspectos comportamentais são fundamentais no planejamento tático de GP. Outrossim, também os funcionários preci- sam mudar em termos de atitudes e comportamentos. Precisam aprender a aprender, assumir riscos, inovar, criar novas habilidades e competências, trabalhar em equipe e se envolver em um papel cada vez mais criativo e proativo na organização. Assim, os modelos táticos de planejamento de GP são menos quantitativos e mais qua- litativos, como se poderá perceber ao longo deste livro. modelos de Planejamento oPeRacIonal de gestão de Pessoas Ocorre que, apesar de sua importância, o planeja- mento referente a pessoas nem sempre é da responsa- bilidade do órgão de RH da organização. dICa: quem faz o planejamento da força de trabalho? Na maioria das empresas industriais, o planejamento da chamada “mão de obra direta” (pessoal horista diretamente ligado à produção industrial e localizado no nível opera- cional) no curto prazo é feito pelo órgão responsável pelo planejamento e controle da produção (PCP). Ao programar a produção, o PCP a desdobra logicamente em programação de máquinas e equipamentos, de materiais e programação da chamada MOD (mão de obra diretamente envolvida na produção), para cumprir os programas de produção. fIgura 18 O poder da vantagem competitiva de uma orga- nização. A criação de uma vantagem competitiva ocorre quando as competências possuídas exclusivamente pela empresa são reunidas para proporcionar geração de competências essenciais únicas A vantagem resultante é sustentável quando os concorrentes não conseguem imitá-la ou copiá-la Os benefícios decorrentes dessa vantagem competitiva são retidos dentro da empresa. Não são apropriados pelas outras O tempo e o custo de aquisição das competências são sempre menores do que os benefícios resultantes Se todas essas condições são reunidas, a vantagem competitiva criada gerará um incrível valor econômico para a empresa modelos de planejamento tático de gestão de pessoas Modelos de planejamento tático podem tanto focar o nível intermediário (gerencial) da organização – envol- CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 77 Quase sempre as organizações utilizam modelos operacionais para o planejamento de GP. São modelos quantitativos e simples baseados na experiência an- terior, ou seja, com base em dados estatísticos ou na história passada. São geralmente restritos ao nível ope- racional da organização (Figura 20). fIgura 19 Bases do planejamento operacional de GP.19 Demanda da produção Demanda de trabalho e de competências condições e respostas adequadas 1. A demanda de trabalho excede a oferta de trabalho: »•Treinamento ou retreinamento intensivos »•Planejamento de sucessões internas »•Promoções de dentro da companhia »•Recrutamento externo para atrair talentos »•Subcontratação de autônomos »•Utilização de pessoal temporário ou em tempo parcial »•Utilização de horas extras 2. A oferta de trabalho excede a demanda de trabalho: »•Cortes de pessoas e de salários »•Horários reduzidos de trabalho »•Compartilhamento de trabalho »•Programas de demissões voluntárias »•Desligamentos 3. A demanda de trabalho é igual à oferta de trabalho: »•Recolocação de desligados de dentro ou fora da companhia »•Transferências internas ou redeployment Oferta de trabalho e de competências Nível de produtivi- dade Mercado interno de trabalho Mercado externo de trabalho Por sua vez, o planejamento da chamada MOI (mão de obra indireta, como pessoal de supervisão, escritório, ven- das, etc.) fica a critério das diversas unidades da organização ou é atribuído ao órgão de organização e métodos (O&M), quando se trata de pessoal de escritório ou organizações não industriais (prestadoras de serviços), como em bancos, empresas comerciais, etc. Todavia, seja o órgão de PCP ou O&M – ou seja lá o que for –, o planejamento de pessoal é elaborado por critérios de racionalidade estritamente técnica e de abordagem meramente quantitativa. E o órgão de RH nem sempre participa de sua elaboração e apenas recebe seu resultado como uma ordem de serviço pronta e acabada. Pode? Além de ser mero planejamento operacional, isso é repetitivo e simplesmente acomodador do status quo. Assim, as principais bases do planejamento opera- cional de GP são: a demanda de trabalho e o fornecimen- to de trabalho. O que é preciso e o que é possível são os dois lados da moeda. A Figura 19 fornece uma ideia das bases do planejamento operacional de RH. fIgura 20 As alternativas tradicionais do planejamento es- tratégico de GP. Missão da organização O objetivo organizacional Requisitos dos Recursos Humanos Planejamento de Recursos Humanos Expansão: novas admissões Ajustamento: adequação ao mercado Mudança: inovação e criatividade Enxugamento: redução de pessoal Existem vários modelos operacionais de planeja- mento de GP. Alguns são genéricos e abrangem toda a organização, enquanto outros são específicos para determinados níveis ou unidades organizacionais. modelo baseado na procura estimada do produto ou serviço Baseia-se no conceito de que as necessidades de pessoal são uma variável dependente da procura es- timada do produto (quando indústria) ou do serviço (quando organização não industrial). A relação entre as duas variáveis – número de funcionários e procura do produto/serviço – é influenciada por variações na produtividade, tecnologia, disponibilidade interna e externa de recursos financeiros e disponibilidade de pessoas na organização. Qualquer acréscimo de produ- tividade decorrente de mudança na tecnologia poderá trazer redução das necessidades de pessoal por unidade adicional de produto/serviço ou redução do preço do produto/serviço, de tal maneira que resulte em au- mento de vendas e, consequentemente, aumento das 78 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas necessidades de pessoal. Este modelo utiliza previsões ou extrapolações de dados históricos e está voltado predominantemente para o nível operacional da or- ganização. Não considera possíveis fatos imprevistos, como estratégias dos concorrentes, situação do mer- cado de clientes, greves, falta de matéria-prima, etc. É extremamente limitado porque se reduz a aspectos quantitativos: quantas pessoas serão necessárias nos vários postos de trabalho para produzir determina- da quantidade de produto ou serviço oferecido pela organização. modelo baseado em segmentos de cargos Também está restrito ao nível operacionalda orga- nização. É o modelo de planejamento de pessoal ope- racional utilizado por empresas de grande porte, como a Standard Oil. O modelo consiste em: •» Escolher um fator estratégico: como nível de ven- das ou produção, plano de expansão, cujas variações afetem as necessidades de pessoal. •» Estabelecer os níveis históricos (passado) e futu- ros: para cada fator estratégico. •» Determinar os níveis históricos da força de tra- balho: para cada unidade. •» Projetar os níveis futuros de força de trabalho: para cada unidade, pela correlação com a projeção dos níveis (históricos e futuros) do fator estratégico correspondente. Algumas empresas, como a IBM, preferem calcular suas necessidades totais de pessoal operacional com base em projeções relacionadas apenas com certos seg- mentos (ou famílias) de cargos de sua força de trabalho que apresentam variações maiores. Suas limitações são similares ao modelo baseado na procura estimada do produto/serviço. modelo de substituição de postoschave É um modelo que recebe os nomes de mapas de subs- tituição ou organogramas de carreira para o planeja- mento de funcionários. Trata-se de uma representação visual de quem substitui quem na eventualidade de al- guma possível vaga futura na organização. O modelo requer um organograma com informações fornecidas pelo sistema de informação gerencial (SIG), que será vis- to na Parte VII, “Monitorando pessoas”. Cada retângulo do organograma apresenta o nome do funcionário com algumas informações básicas para a tomada de decisão. Cada funcionário é classificado em três alternativas de promovabilidade: 1. Funcionário pronto para promoção imediata. 2. Funcionário que requer maior experiência no cargo atual. 3. Funcionário com substituto já preparado. Além disso, o desempenho de cada funcionário é avaliado da seguinte maneira: •» Desempenho excepcional. •» Desempenho satisfatório. •» Desempenho regular. •» Desempenho fraco. Cada retângulo do organograma de substituição apresenta o nome e a idade do funcionário no segmento superior e, no segmento inferior, o nome dos possíveis substitutos, com seus nomes, idades, características e antecedidos pela classificação de promovabilidade e avaliação do desempenho. Pode ser utilizado em planos de carreira e incluir também programas de preparação e desenvolvimento dos funcionários para melhorar e acelerar sua carreira. A Figura 21 considera a informação mínima para uma tomada de decisão a respeito das futuras substitui- ções na organização em função do status dos vários can- didatos internos. Esse status depende de duas variáveis: o desempenho atual e a promovabilidade. O desempenho atual é obtido por meio de avaliações de desempenho, opiniões dos gerentes, pares e subordinados. A promo- vabilidade é baseada no desempenho e nas estimativas de sucesso futuro nas novas oportunidades. Existem sistemas sofisticados de tecnologia da informação (TI) com inventários e registros que oferecem amplas infor- mações, como formação escolar, experiência profissio- nal anterior, cargos ocupados, desempenho, aspirações e objetivos pessoais. Na verdade, este modelo funciona como um plano de carreiras (Figura 21). modelo baseado no fluxo de pessoal É um modelo que mapeia o fluxo das pessoas para dentro, através e para fora da organização. A análise his- tórica do movimento de entradas, saídas, promoções e transferências internas de funcionários permite a predi- CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 79 ção de curto prazo das necessidades de pessoal na organi- zação, se não houver mudanças no contexto. Trata-se de um modelo vegetativo e conservador, de natureza con- tábil e quantitativa, adequado a organizações estáveis e sem planos de expansão, nas quais a preocupação é apenas preencher as vagas existentes e dar continuidade ao cotidiano, conforme se constata na Figura 22. fIgura 21 Modelo de substituição de postos-chave. Diretora de RH Renata Fonseca (36) A/1 Osvaldo Silveira (29) B/2 Ângela Freitas (27) Gerente de treinamento Osvaldo Silveira (29) A/1 Bernardo Moll (28) B/2 Ângela Freitas (27) Analista de treinamento Basílio Dias (23) A/1 Pedro Dão (21) Programador Reinaldo Beja (26) B/2 Gil Eanes (20) Analista de treinamento João Siqueira (22) A/2 João Pinto (19) Instrutora Diana Reis (25) B/3 José Bean (18) Gerente de programas Bernardo Moll (28) A/1 Basílio Dias (23) B/2 Reinaldo Beja (26) Gerente operacional Ângela Freitas (27) A/1 Diana Reis (25) A/2 João Siqueira (22) fIgura 22 Planejamento de GP baseado no fluxo do pessoal. número inicial desligamentos (–) Transferências (–) Promoções (+) Admissões (+) Número final (=) diretores 4 0 0 0 0 4 gerentes 11 0 0 1 0 12 supervisores 34 4 4 8 0 34 Funcionários 360 12 0 1 11 360 409 16 4 10 11 410 Esse modelo permite antecipar as consequências de contingências como a política de promoções da organiza- ção, aumento da rotatividade ou dificuldades de recruta- mento, etc. É muito útil na análise das consequências do plano de carreiras, quando a organização adota uma po- lítica consistente nesse sentido. Todavia, suas limitações são evidentes por ser apenas um modelo quantitativo. modelo de planejamento operacional integrado É um modelo mais amplo e abrangente que os an- teriores. Do ponto de vista de provisão de insumos humanos, o planejamento operacional integrado leva em conta quatro fatores ou variáveis intervenientes: 80 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas fIgura 24 Modelo de planejamento operacional integrado.21 Força de trabalho de uma unidade organizacional Admissões entradas Transferências e promoções de outras unidades Retornos de afastamentos saídas Desligamentos Aposentadorias Transferências e promoções para outras unidades Afastamentos Ausências 1. Volume de produção planejado pela organização. 2. Mudanças tecnológicas que alterem a produtividade do pessoal. 3. Oferta e procura no mercado e no comportamento da clientela. 4. Planejamento de carreiras na organização. fIgura 23 Modelo de planejamento operacional integrado.20 Previsão de suprimento externo »• Quantidade »• Capacidade »• Diversidade »• Custos Interno Previsão de demanda »• Quantidade »• Capacidade »• Diversidade »• Custos Análise da demanda Condições organizacionais »• Planos financeiros »• Planos de marketing »• Planos de produção Análise do suprimento Comparar com + Reconciliação através de decisões Análise da força de trabalho atual Atração de candidatos Seleção e admissão Mudanças nas atividades dos funcionários »• Remuneração »• Treinamento »• Desenho de cargos »• Comunicação Mudanças na quantidade de funcionários »• Promoções »• Desligamentos »• Demissões »• Transferências »• Aposentadorias Previsão de disponibilidade interna »• Quantidade »• Capacidade »• Diversidade »• Custos Externo Do ponto de vista do fluxo interno, o planejamen- to operacional integrado leva em conta a composição mutável da força de trabalho da organização, acompa- nhando as entradas e saídas, bem como a movimentação interna (Figura 24). CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 81 Na prática, o modelo integrado é um modelo sistê- mico e um pouco mais abrangente de planejamento operacional, que permite um diagnóstico razoável para a tomada de decisões sobre a força de trabalho. Contudo, a maioria dos modelos operacionais apre- sentados constitui esquemas quantitativos e numéricos tratando as pessoas como ativos tangíveis, deixando de lado aspectos intangíveis importantes, como habi- lidades, conhecimentos, competências, etc. Tratam as pessoas como quantidades que devem ser preservadas na organização sem se importar como elas deveriam ser caracterizadas em termos de talentos, capital humano ou capital intelectual. fatoRes Que InteRVêm no Planejamento oPeRacIonal de gP Além dos elementos levados em conta nos vários modelos de planejamento de RH, existem inúmerosoutros fatores intervenientes, como o absenteísmo, a rotatividade e a mudança nos requisitos da força de trabalho. Estes fatores intervenientes provocam fortes alterações no planejamento operacional de GP. avalIaçãO CrítICa: o planejamento quantitativo de gp Tradicionalmente, os especialistas em RH fazem cál- culos matemáticos simples a respeito da força de traba- lho da organização. Se a jornada semanal de trabalho é constituída de 40 horas e se o número de empregados de uma organização é de 1.000 funcionários, pressupõe-se que seja 40 mil o número de homens/horas trabalhadas na semana. O cálculo é elementar e simplório. E o erro decorrente também. Na verdade, as pessoas nem sempre trabalham exatamente como se imagina. Elas se atrasam ou faltam ao trabalho, perdem dias de trabalho por doen- ça ou por compromissos pessoais que só podem ser aten- didos no horário de serviço. Sofrem doenças ou acidentes. E devem gozar férias a cada 12 meses. Assim, deve-se levar em conta os índices de absenteísmo e rotatividade do pessoal para o planejamento operacional de RH. absenteísmo Ter funcionários nem sempre significa tê-los traba- lhando durante todos os momentos do horário de traba- lho. As ausências dos empregados ao trabalho provocam certas distorções quando se referem ao volume e à dis- ponibilidade da força de trabalho. Ausências são faltas ou atrasos ao trabalho. O absenteísmo, na sua concepção mais ampla, é sua principal consequência. O oposto do absenteísmo é a presença. Esta se refere a quanto tempo o funcionário está disponível para o trabalho. Absenteísmo ou ausentismo é a frequência e/ou du- ração do tempo de trabalho perdido, quando os colabo- radores não comparecem ao trabalho. O absenteísmo constitui a soma dos períodos em que os colaboradores se encontram ausentes do trabalho, seja por falta, atraso ou algum motivo interveniente. A fórmula do índice de absenteísmo do Bureau of National Affairs (BNA) é a seguinte: Índice de absenteísmo = Nº de pessoas/dias de trabalho perdidos por ausência no mês Nº médio de empregados × Nº de dias de trabalho no mês A fórmula BNA reflete o número de dias de ausên- cias dos funcionários, mas não inclui as ausências por atrasos de minutos ou horas. Algumas empresas prefe- rem transformar os dias em horas para incluir faltas e também os atrasos: Índice de absenteísmo = Total de pessoas/horas perdidas Total de pessoas/horas de trabalho Para capturar o custo total das ausências é preciso incluir todos os dias de trabalho perdidos por qualquer motivo (como dias de afastamento por férias, doença, maternidade, acidentes de trabalho e licenças de toda espécie). Ou então calcular as chamadas presenças pobres, que incluem apenas aquelas ausências que os empregados podem controlar pessoalmente (como fal- tas ou atrasos por motivos particulares, perfeitamente evitáveis). O índice de absenteísmo pode ser mensal ou anual. Se o índice mensal for de 2%, por exemplo, a organização conta na realidade com 98% de sua for- ça de trabalho no período. É a indisponibilidade dos funcionários para o trabalho. As causas e as consequências das ausências foram intensamente estudadas por pesquisas que mostram que o absenteísmo é afetado pela capacidade profis- sional das pessoas e pela sua motivação para o tra- balho, além de fatores internos e externos ao traba- lho. A capacidade de assiduidade ao trabalho pode ser reduzida por barreiras à presença, como doenças,