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70 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas fIgura 12 Comparação de estratégias de GP.15 Área estratégica de GP Estratégia conservadora e defensiva Estratégia prospectiva e ofensiva Fluxos de trabalho •» Produção eficiente •» Ênfase no controle •» Descrições de cargos explícitas •» Planejamento detalhado do cargo •» Inovação •» Flexibilidade •» Classes amplas de cargos •» Planejamento superficial do cargo Admissão •» Recrutamento interno •» DRH decide sobre a seleção •» Ênfase nas qualificações técnicas •» Processo formal de admissão e socialização •» Recrutamento externo •» Gerente decide sobre a seleção •» Adequação da pessoa à cultura •» Processo formal e informal de admissão e socialização Treinamento •» Treinamento individual •» Treinamento no cargo •» Treinamento específico •» Comprar habilidades •» Treinamento em equipe •» Treinamento externo e interno •» Treinamento genérico para flexibilidade •» Construir habilidades Recompensas •» Salário fixo •» Salário baseado no cargo •» Salário baseado na antiguidade •» Decisões centralizadas sobre salário •» Salário variável •» Salário baseado no indivíduo •» Salário baseado no desempenho •» Decisões descentralizadas tégia organizacional conservadora e defensiva. Definiu seu nicho no conservador setor de produtos elétricos (geradores, equipamentos de solda e suprimentos) e nos quase 80 anos de atividade desenvolveu esforços para melhorar processos de produção e a qualidade dos produtos, cortando custos para obter preços mais baixos e proporcionar excelente serviço aos clientes. A estratégia organizacional defensiva é suplementada pela adequada estratégia de RH. Seu sistema de incen- tivos recompensa a produção elevada e a qualidade dos serviços com salários e bônus. Seus funcionários ganham quase o dobro da média de salários de em- presas norte-americanas similares. Sua estratégia de RH ajuda a empresa a manter uma fatia estável de mercado com crescimento moderado, mas firme. Baseia-se no desenvolvimento interno de seus recursos humanos. Os funcionários são cuidadosamente selecionados, ad- mitidos e treinados e deles se espera que permaneçam na companhia por muito tempo ou por toda a sua vida profissional. Daí, a garantia de emprego no longo prazo e a ênfase nas promoções internas. O papel do órgão de RH está voltado para descrição, seleção, colocação, avaliação e treinamento no longo prazo como serviços fundamentais. Assim, o órgão de RH mantém a adequa- ção entre o desenho permanente de cargos e o sistema de incentivos. A empresa requer insumos de recursos humanos previsíveis, planejamento equilibrado de RH e sua manutenção regular por meio de uma política conservadora e estável. Pelo contrário, a Hewlett-Packard (HP), sediada na Califórnia, é uma fabricante de produtos eletrônicos high-tech no Vale do Silício. A HP adota uma estratégia organizacional ofensiva e prospectiva e a noção de que altos lucros somente são possíveis quando os produtos inovadores são rapidamente transferidos do projeto para o mercado. A HP teve rápida expansão graças a uma estratégia ofensiva e prospectiva, com a adoção de pequenas e mutáveis divisões de produtos em seus blocos organizacionais. A companhia tem mais de 60 mil funcionários em suas 60 divisões ou unidades or- ganizacionais. Cada divisão é totalmente autônoma e autossuficiente para criar produtos com uma vantagem tecnológica sobre os concorrentes. Quando os produtos dos concorrentes se tornam bem-sucedidos e alcançam o estágio da HP, esta sai da arena e passa a focalizar sua atenção em outros projetos para produtos inteira- mente novos. As unidades de RH no nível corporativo ou de cada divisão têm a tarefa constante de desenvol- CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 71 fIgura 13 Comparação de perfis estratégicos.17 Características organizacionais Lincoln Eletric Conservador/defensivo Hewlett-Packard Prospectivo/ofensivo texas Instruments Otimizante/analítico Estratégia de produto/mercado Limitada, linha de produtos estável; mercado previsível Ampla, linha mutável de produtos; mercado mutável Linha de produtos estável e mutável; mercado híbrido Pesquisa e desenvolvimento Limitados ao desenvolvimento de produtos Extensivos; ênfase em ser o primeiro do mercado Focalizados; ênfase em ser o segundo do mercado Produção Alto volume, baixo custo; ênfase na eficiência e na engenharia de processos Customizada e prototípica; ênfase na eficácia e no desenho do produto Alto volume, baixo custo; ênfase na engenharia de processos Marketing Limitado às vendas Focalizado pesadamente na pesquisa de mercado Campanhas extensivas de marketing atividades de gp Papel básico manutenção empreendedor Coordenação Planejamento de RH Formal e extensivo Informal e limitado Formal e extensivo Recrutamento e seleção Internos Externos Internos e externos Treinamento e desenvolvimento Construção de habilidades identificação e aplicação de habilidades Construção e aplicação de habilidades Remuneração Relações internas de salários; equilíbrio interno Relações externas; competitividade externa Consistência interna e externa para garantir competitividade Avaliação do desempenho Orientada para o processo; foco nas necessidades de treinamento; avaliação individual e grupal Orientada para resultados; foco nas necessidades de pessoal; avaliação corporativa e divisional Orientada para o processo; necessidades de treinamento e de pessoal; avaliação grupal e divisional ver novas equipes, buscar e desdobrar novos recursos administrativos e técnicos. Nesse contexto, as unida- des de RH desempenham um papel essencialmente empreendedor, ajudando a identificar e desenvolver habilidades e talentos humanos cruciais para os novos negócios. Na HP, os recursos humanos são obtidos de fora, investidos em uma miríade de unidades e divisões e desenvolvidos internamente. A estratégia global de RH da HP pode ser caracterizada pela busca incessante de talentos humanos. Enquanto a Lincoln adota uma estratégia defensiva e conservadora, a HP é ofensiva e inovadora. Por trás de cada uma delas, há um diferente perfil do órgão de RH como carro-chefe da orientação estratégica. Questões 1. Qual é o papel da ARH na estratégia empresarial de- fensiva e conservadora? 2. Qual é o papel da ARH na estratégia empresarial ofen- siva e inovadora? 3. Qual é o papel da ARH na estratégia empresarial oti- mizante e analítica? 4. Como as estratégias de ARH estão vinculadas com as estratégias organizacionais na Lincoln e na HP? gp de HOje: perfis estratégicos da ARH Na Figura 13, empresas como Lincoln Electric, HP e Texas instruments representam três exemplos de perfis estratégicos que mostram como as empresas se com- portam mediante o ambiente que as envolve. Por trás desses comportamentos estratégicos, estão diferentes características de ARH. Essas empresas são casos clássicos de adequação e compatibilização dos objetivos de RH com os objetivos globais da organização. 72 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas O planejamento estratégico de GP é um processo de várias decisões convergentes a respeito dos talentos e das competências necessários para atingir os objetivos organizacionais, em determinado período. Trata-se de definir com antecipação quais são as características da força de trabalho necessárias para a realização da ação organizacional futura. Planejamento estRatÉgIco de gestão de Pessoas com base em comPetêncIas Trata-se de um modelo mais global de atuação em que a GP está plugada nas necessidades organizacionais mais amplas envolvendo competências essenciais e apoio ativo e proativo aos negócios da empresa. Tudo isso para construir constantemente vantagens com- petitivas. O planejamento da GP com base em competências é feito a partir das seguintes etapas: 1. Definição da visão de futuro e dos objetivos organi- zacionais a serem alcançados em função de deter- minado período.2. Definição das competências organizacionais neces- sárias para o alcance desses objetivos. 3. Avaliação das competências que a organização já possui. 4. Estimativa da lacuna (gap) entre as competências requeridas e as competências possuídas pela orga- nização. 5. Desdobramento da lacuna em termos de competên- cias organizacionais a serem criadas ou adquiridas. 6. Desdobramento da lacuna em termos de competên- cias funcionais de cada área da organização (como fi- nanças, marketing, produção/operações/logística, GP). 7. Desdobramento da lacuna em termos de compe- tências gerenciais ou administrativas que cada exe- cutivo ou gerente deve possuir para lidar com sua equipe. 8. Desdobramento da lacuna em termos de compe- tências individuais que cada pessoa da organização deve possuir. 9. Programas de treinamento e desenvolvimento (T&D) e desenvolvimento organizacional (DO) para a construção interna das competências requeridas. 10. Programas de recrutamento e seleção para agregar talentos na obtenção externa das competências re- queridas. 11. Avaliação constante dos resultados alcançados e retroação ao sistema. Nas etapas 5 a 8, os desdobramentos são classificados entre as competências que devem ser construídas ou desenvolvidas internamente (por meio de processos de T&D e DO) e as que devem ser adquiridas por aporte de novos talentos na organização (por processos de agre- gação de talentos). Sem dúvida, o planejamento de GP, quando feito por competências, permite uma visão mais integrada das necessidades próximas e futuras da orga- nização em relação ao negócio e ao futuro (Figura 14). Assim, o planejamento estratégico de GP deve come- çar com o esclarecimento de quatro questões básicas: 1. Quais são os objetivos organizacionais a alcançar? 2. Quais são as competências essenciais necessárias para alcançá-los? 3. Quais são as competências essenciais que a organi- zação já possui? 4. Quais são as competências essenciais requeridas que a organização precisa construir? Em função do gap existente entre as competências possuídas e as competências necessárias, há dois tipos de decisão a tomar: 1. Pode-se construir e desenvolver as competências requeridas que a organização ainda não dispõe? En- tão se trata de uma questão de criar e desenvolver competências internamente, ou seja, buscar dentro da organização os talentos para neles criar e desen- volver tais competências. 2. Pode-se adquirir externamente as competências re- queridas que a organização ainda não dispõe? Então se trata de uma questão de agregar competências, isto é, buscar fora da empresa e agregar os talentos que disponham de tais competências. CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 73 fIgura 14 identificação das competências de uma organização. Direcionamento estratégico da organização Competências essenciais da organização Competências funcionais Competências dos líderes Competências das equipes Competências individuais Missão organizacional Lista de competências Análise dos processos críticos de cada área Espírito empreendedor Objetivos organizacionais Empowerment visão de futuro Estilo de gestão fIgura 15 A construção da cascata das competências orga- nizacionais. Competências organizacionais Competências gerenciais Competências funcionais Competências individuais Lucratividade vantagens competitivas Competitividade Sustentabilidade Inovação Imagem e reputação Em marketing Em finanças Em produção/operações Em gestão de talentos Em tecnologia Lideranças Comunicação Motivação Criação de equipes Gestão de conflitos Foco em resultados Aprender a aprender Fazer o que aprendeu Apresentar soluções Trabalhar em equipe Relacionamento interpessoal No primeiro caso, os processos de desenvolver pes- soas são fundamentais para o sucesso organizacional e se tornam estratégicos para a organização. No segundo caso, os processos de agregar pessoas ocupam o pódio e passam a ser estratégicos para a organização. Isso mostra o caráter contingencial da GP. As competências depen- dem sempre da criação e desenvolvimento de talentos. Contudo, as competências organizacionais são múl- tiplas e complexas, constituindo muito mais um siste- ma integrado do que um simples conjunto de blocos de construção. Elas se organizam em uma hierarquia cujo desdobramento começa pelas competências or- ganizacionais da organização como um todo, vindo a seguir as competências funcionais de cada uma de suas áreas (como marketing, finanças, produção/operações, RH, tecnologia), depois as competências gerenciais ou administrativas de cada executivo como gestor de pes- soas – indo desde o presidente até o supervisor mais elementar – e na base as competências individuais de cada funcionário. Um sistema integrado cujo dinâmico arcabouço reúne um complexo elenco de conhecimen- tos, habilidades e competências sempre pronto e dis- ponível para aproveitar as oportunidades que surgem no mundo dos negócios antes que os concorrentes o façam (Figura 15). 74 parte I – os novos desafIos da gestão de pessoas O desafio está em diagnosticar as competências ne- cessárias a cada organização para então identificar e avaliar sua presença (Figura 16). fIgura 16 Diagnóstico das competências organizacionais. identificação das competências internas Seleção e desenvolvimento de competências internas Diagnóstico das competências humanas Formulação da estratégia organizacional Definição da missão, do negócio, da visão e do modelo de gestão da organização Diagnóstico das competências essenciais à organização Definição de objetivos e indicadores de desempenho organizacionais Definição de indicadores de desempenho e de remuneração de equipes e de indivíduos Formulação dos planos operacionais de trabalho e de gestão Acompanhamento e avaliação Mas as competências não estão soltas, quase sempre estão nas pessoas e não na tecnologia, nem nos artefatos ou nos arquivos da empresa. Elas envolvem um extenso portfólio de talentos e mais o envoltório que os cerca e dinamiza, como a arquitetura organizacional, a cultura corporativa, o estilo de gestão e a modelagem do trabalho. Sem esses elementos, que constituem o seu ambiente de trabalho, o talento se torna impotente para realizar qualquer coi- sa que acrescente valor à organização. Não basta buscar e reter talentos, é preciso proporcionar a eles o con- texto básico para que possam se desenvolver, crescer e produzir resultados que agreguem valor ao negócio da organização. avalIaçãO CrítICa: plantar e desenvolver talentos O botânico não pensa apenas em sementes e plan- tas, mas principalmente no tipo de solo onde serão plantadas. Sem o solo adequado, adubado, hidratado e constantemente bem cuidado, as sementes e plantas não terão um futuro. Elas provavelmente não crescerão nem se desenvolverão. Poderão até fenecer, e rapidamente. O profissional de GP também não deve pensar apenas em agregar, reter e desenvolver talentos na organização. Ele precisa cuidar também do entorno em que os talentos deverão atuar. Se o entorno não for adequado, os talen- tos terão duas opções: acomodar-se e conformar-se ou sair da organização em busca de um lugar melhor para trabalhar. O entorno é tão importante quanto o talento adquirido. Entorno como o continente e talento como o conteúdo. Afinal, o que é este entorno? O entorno é composto pela estrutura organizacional, pela cultura corporativa e pelo estilo de gestão predominante na organização. O talento somente se desenvolverá e dará resultados se o entorno que o envolve for adequado, ami- gável, impulsionador e alegre. Sem esses elementos, que constituem o seu ambiente de trabalho, o talento irá se tornar impotente para realizar qualquer coisa que acrescente valor à organização. CapÍtULo 3 – pLaneJaMento estratÉgICo de gestão de pessoas 75 fIgura 17 A plataforma que apoia o planejamento estratégico da GP. Talentos Arquiteturaorganizacional Cultura organizacional Modelagem do trabalho Estilo de gestão Liberdade Responsabilidade valores Espírito empreendedor Engajamento Iniciativa Apendizagem Oportunidades Inovação Liderança Motivação Empowerment Coaching Mentoring Apoio e suporte Orientação Comunicação Integração Conectibilidade Comunicação Atividade conjunta Busca de sinergia Equipes integradas Equipes variedade Autonomia Significado Identidade Retroação Autorrealização Satisfação pessoal Dessa maneira, a arquitetura e a cultura organiza- cional, o estilo de gestão e a modelagem do trabalho constituem a plataforma básica e o entorno adequado para que os talentos possam fazer acontecer. Assim, a GP requer necessariamente a intervenção nessas qua- tro variáveis no sentido de proporcionar um ambiente de trabalho que favoreça e impulsione o trabalho do talento humano. Elas são os elementos habilitadores que incentivam e dão oportunidades ao talento. Isso faz parte do planejamento estratégico da GP. Não basta cui- dar apenas de pessoas, mas principalmente do contexto no qual trabalham. Isso significa dimensionar significa- tivamente a amplitude de trabalho da GP (Figura 17). CasO de apOIO: a Construbase 18 A Construbase, uma empresa mundial de engenha- ria e construção, enfrentou um terrível baixo astral. Du- rante dois anos passou por uma queda radical trocando US$ 200 milhões de lucro por US$ 500 milhões em prejuízos. A situação crítica levou à decisão de colocar uma nova equipe de diretores no comando da empresa. O novo presidente empenhou-se na reestruturação para redirecionar os esforços e retornar à lucratividade. Após dois anos, a Construbase voltou a ser lucrativa. Nessa altura, a diretoria pediu ao presidente para reavaliar a estratégia da empresa, seu foco global e o conjunto de produtos, serviços e clientes. No decorrer de um ano, a estratégia foi reavaliada e os ajustes efetuados. A diretoria solicitou então ao presidente que veri- ficasse se a empresa possuía a tecnologia adequada e os sistemas internos em condições de apoiar e manter sua estratégia. Após a análise da tecnologia disponível, os sistemas foram aprimorados e ajustados à estraté- gia. A diretoria pediu então ao presidente uma terceira providência. Queria saber se a empresa era dotada da estrutura organizacional adequada para implementar e manter sua estratégia. Para realizar a auditoria organizacional, o comitê executivo solicitou ao vice-presidente de RH que anali- sasse as forças e as fraquezas da organização, avaliasse se a estrutura existente era a correta para implementar a estratégia e recomendasse as melhorias necessárias. O vice-presidente de RH nomeou uma equipe de asses- soria de gerentes que, por sua vez, criou um processo de avaliação utilizando dados coligidos por meio de en- trevistas com funcionários, clientes e fornecedores. As recomendações resultantes foram entregues à diretoria e as mudanças organizacionais foram implementadas.