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Concreto Armado Liana Parizotto Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 P231c Parizotto, Liana. Concreto armado / Liana Parizotto. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 220 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-090-0 1. Concreto armado – Engenharia civil. I. Título. CDU 624.012.45 Revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi Mestre em Engenharia de Produção (UFRGS) Professora do curso de Engenharia Civil (FSG) Iniciais_Concreto armado.indd 2 09/06/2017 17:36:38 Durabilidades das estruturas de concreto Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identi� car os mecanismos de envelhecimento e deterioração das estruturas de concreto armado. Avaliar o conceito de vida útil e as condições de agressividade am- biental para o projeto estrutural. Determinar os critérios de projeto que visam à durabilidade das estruturas. Introdução A durabilidade é um dos requisitos de qualidade das estruturas de con- creto armado. Ela consiste na capacidade da estrutura em resistir às influências ambientais durante sua construção e vida útil. Conhecer e avaliar as condições de exposição da estrutura é extrema- mente importante para definir o grau de agressividade do meio ambiente e os mecanismos de deterioração aos quais ela estará sujeita. Realizada esta análise, medidas de projeto podem ser tomadas para evitar o de- senvolvimento prematuro da deterioração e, com isso, garantir que as estruturas apresentem segurança, estabilidade e bom desempenho em serviço durante sua vida útil. Para estruturas expostas a meios muito agressivos, os critérios de projeto são ainda mais rigorosos e relevantes, pois efeitos severos de deterioração podem ser desenvolvidos em apenas alguns anos. Neste capítulo você vai conhecer os mecanismos de envelhecimento e deterioração das estruturas de concreto armado, o conceito de vida útil e as classes de agressividade ambiental para o projeto estrutural, além dos critérios que podem ser estabelecidos no projeto para garantir as exigências de durabilidade da estrutura. U4_C13_ Concreto armado.indd 190 09/06/2017 17:19:38 A durabilidade e os mecanismos de envelhecimento e deterioração A durabilidade das estruturas de concreto armado é um dos requisitos para a qualidade fi nal de uma edifi cação. De acordo com a ABNT NBR 6118:2014, “Projeto de estruturas de concreto – Procedimento”, a durabilidade consiste na capacidade da estrutura em resistir às infl uências ambientais durante a sua construção e vida útil. O envelhecimento e a deterioração são causas que afetam diretamente a durabilidade das estruturas. Os mecanismos de deterioração da estrutura propriamente dita são todos aqueles que podem ser relacionados às ações mecânicas, como movimentações de origem térmica, impactos, ações cíclicas, retração, fluência e relaxação. Além destes, existem os mecanismos que são ligados diretamente aos materiais componentes das estruturas de concreto armado: o concreto e o aço (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Mecanismos de deterioração do concreto Segundo a ABNT NBR 6118:2014, os mecanismos preponderantes de de- terioração relativos ao concreto são: lixiviação; expansão por sulfatos; reação álcali-agregado. A lixiviação é a dissolução dos compostos hidratados (à base de cálcio) da pasta de cimento por águas puras, carbônicas agressivas, ácidas e outras que possuam elevada capacidade de dissolução, destruindo sua estrutura de poros. Os elementos sujeitos a esse mecanismo devem ter sua fissuração restrita, e suas superfícies expostas precisam ser protegidas com produtos específicos, para minimizar a infiltração de água (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Pela ação do dióxido de carbono presente na atmosfera, a cal dissolvida e lixiviada resulta em depósitos brancos na superfície do elemento, que são denominados eflorescências. Diferentemente da ação da lixiviação no sis- tema de poros, as eflorescências só prejudicam o concreto na sua aparência (BRANDÃO, 1998). Veja na Figura 1 os efeitos da eflorescência na aparência do concreto. 191Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 191 09/06/2017 17:19:39 Figura 1. Desplacamento do concreto com exposição das armaduras em uma ponte. Fonte: Andrew Sabai / Shutterstock.com. A expansão por sulfato é a expansão por ação de águas ou solos que contenham (ou estejam contaminados com) sulfatos, dando origem a reações expansivas com a pasta de cimento. Sua prevenção é realizada mediante a utilização de cimento resistente a sulfatos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Essa expansão é seguida por uma fissuração progressiva, que facilita o acesso de novas soluções de sulfato. O concreto adquire uma aparência esbran- quiçada, e pode ocorrer o desprendimento de lascas do elemento, deixando as armaduras suscetíveis a demais ataques (BRANDÃO, 1998). A reação álcali-agregado é uma expansão gerada entre os álcalis do concreto e os agregados reativos, podendo causar intensa fissuração do con- creto. Dentre os fatores que influenciam em expansões consideráveis estão a quantidade e o tipo de sílica ou calcário no agregado (reatividade) e suas dimensões; o tipo e a quantidade de cimento; e, principalmente, a quantidade de água disponível para a ocorrência das reações (BRANDÃO, 1998). Esses mecanismos podem comprometer não somente a resistência do concreto, mas também sua função na proteção das armaduras, deixando-as suscetíveis à corrosão. Concreto armado 192 U4_C13_ Concreto armado.indd 192 09/06/2017 17:19:40 Mecanismos de deterioração da armadura De acordo com a ABNT NBR 6118:2014, os mecanismos preponderantes de deterioração relativos à armadura, conforme a sua vulnerabilidade a ataques pelo processo de despassivação, são os seguintes: despassivação por carbonatação; despassivação por ação de cloretos. A despassivação por carbonatação se dá pela ação do gás carbônico da atmosfera sobre o aço. Esse fenômeno resulta na deterioração e redução do pH do concreto, em geral entre 12 e 13, para valores inferiores a 9, propiciando a corrosão das armaduras. As condições ambientais e, principalmente, a quantidade de gás carbônico agressivo são os fatores determinantes no que diz respeito à intensidade do ataque (BRANDÃO, 1998). Para ver como ocorre o processo de despassiva- ção por carbonatação, assista ao vídeo “Processo de carbonatação do concreto” (ANDRADE, 2016a), disponível no link ou código a seguir. https://goo.gl/cAA71z A despassivação por ação de cloretos consiste na ruptura local da camada de passivação devido ao elevado valor de íon-cloro, resultando na corrosão das armaduras. As edificações em contato com a água marítima são as mais suscetíveis a esse tipo de ataque, com seus efeitos sendo bastante severos em apenas alguns anos (BRANDÃO, 1998). 193Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 193 09/06/2017 17:19:40 https://goo.gl/cAA71z O processo de corrosão da armadura é o resultado final do comprome- timento da durabilidade nos dois mecanismos. A corrosão da armadura traz consequências importantes, como a perda da seção transversal da armadura e o decréscimo de sua resistência mecânica; a formação de óxidos e hidróxidos que geram uma tendência à expansão, podendo ocasionar fissuração e até mesmo o desplacamento da camada de cobrimento; e a degradação da camada externa do aço, prejudicando a transferência de tensões entre os materiais (TORRES, 2011). Observe na Figura 2 a ocorrência do desplacamento do concreto em uma ponte, gerando, como consequência, a exposição direta das armaduras à ação do dióxido de carbono. Figura 2. Desplacamento do concreto com exposição das armaduras em uma ponte. Fonte: OnokunG / Shutterstock.com. Para ver como ocorre o processo de despassivação por ação de cloretos, assista ao vídeo “Como se pro- cessa o ataquedo cloreto no aço” (ANDRADE, 2016b), disponível no link ou código a seguir. https://goo.gl/S7CC1d Concreto armado 194 U4_C13_ Concreto armado.indd 194 09/06/2017 17:19:41 https://goo.gl/S7CC1d Em ambos os casos, é recomendável utilizar concretos com baixa porosi- dade, controlar a fissuração e tomar cuidados com o cobrimento das armaduras, de maneira a evitar o ingresso dos agentes agressivos no interior do concreto. Para obras passíveis à deterioração pela ação de cloretos, é recomendável ainda o uso de cimentos com adição de escória ou material pozolânico (ASSOCIA- ÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Para saber mais sobre o processo de corrosão das armaduras pela ação de cloretos, leia “Corrosão por cloretos em estruturas de concreto armado: uma meta-análise” (TORRES, 2011). A vida útil das estruturas e a agressividade ambiental A ABNT NBR 6118:2014 caracteriza a vida útil de projeto como o período de tempo durante o qual se mantêm as características das estruturas de concreto, sem intervenções signifi cativas, desde que cumpridos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor. O conceito de vida útil pode ser aplicado para a estrutura no geral, e também em partes, quando determinados componentes necessitam de consideração especial de vida útil, como é o caso de aparelhos de apoio e juntas de movi- mentação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). A vida útil de projeto (VUP) corresponde ao tempo desde o início de sua utilização até o momento da ocorrência da despassivação da armadura, conhecido como período de iniciação. A partir desse momento, não significa que, necessariamente, haverá corrosão importante na armadura, nem que será caracterizado o colapso da estrutura. No entanto, é o período que deve ser adotado no projeto da estrutura a favor da segurança (HELENE, 1993 apud BARBOSA, 2009). A vida útil das estruturas é estimada tendo como referência experiências anteriores, com predições baseadas na comparação de desempenho, ou ainda por meio de ensaios acelerados, métodos determinísticos e probabilísticos (HELENE, 1993 apud BARBOSA, 2009). 195Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 195 09/06/2017 17:19:41 Para saber mais sobre os métodos auxiliares na avaliação da vida útil da estrutura, leia “Estimativa de vida útil de estrutura de concreto armado imediatamente após sua execução” (BARBOSA, 2009). A ABNT NBR 8681:2003, “Ações e segurança nas estruturas – Procedi- mento”, recomenda que a vida útil de projeto da estrutura seja de, no mínimo, 50 anos. Para que a estrutura atinja esse valor, ou mesmo um valor superior estipulado para determinado projeto, é necessário que sejam obedecidos alguns critérios. Para edifícios habitacionais, a ABNT NBR 15575-1:2013 orienta que sejam atendidos simultaneamente todos os aspectos descritos a seguir: emprego de componentes e materiais de qualidade compatível com a VUP; execução com técnicas e métodos que possibilitem a obtenção da VUP; cumprimento em sua totalidade dos programas de manutenção corretiva e preventiva; atendimento aos cuidados preestabelecidos para fazer o uso correto da edificação; utilização do edifício em concordância ao que foi previsto em projeto. Em todos os casos, as estruturas de concreto precisam ser projetadas e construídas de modo que, sob as condições ambientais previstas no projeto, apresentem segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante o período correspondente à sua vida útil, que é o período de tempo em que a estrutura deve garantir as exigências de qualidade quanto à durabilidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015a). A avaliação do meio ao qual a estrutura estará exposta é de extrema importância durante a fase de projeto. A partir desse estudo, são definidos os critérios de projeto que visam a garantir que a estrutura mantenha sua durabilidade durante a vida útil prevista. Além disso, é necessário conhecer as condições ambientais, visto que estas definem o grau de agressividade ao qual a estrutura estará sujeita. Concreto armado 196 U4_C13_ Concreto armado.indd 196 09/06/2017 17:19:42 A ABNT NBR 6118:2014 classifica a agressividade ambiental conforme a exposição da estrutura e os riscos de sua deterioração conforme a Tabela 1. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014, p. 11). Classe de agressividade ambiental Agressividade Classificação geral do tipo de ambiente para efeito de projeto Risco de deterioração da estrutura I Fraca Rural Insignificante Submersa II Moderada Urbanaa,b Pequeno III Forte Marinhaa Grande Industriala,b IV Muito forte Industriala,c Elevado Respingos de maré a Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura). b Pode-se adimitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em obras em regiões de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente. c Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes e indústrias químicas. Tabela 1. Classes de agressividade ambiental. A maneira como o elemento de concreto armado vaI interagir com o meio ambiente ocorre em função de suas características físicas (como a porosi- dade, a absorção e a permeabilidade) e de suas características químicas (que dependem principalmente da composição do cimento e das adições), as quais permitirão uma maior ou menor capacidade de interação com os agentes agressivos presentes no meio ambiente (BARBOSA, 2009). 197Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 197 09/06/2017 17:19:42 Dentre as recomendações da ABNT NBR 12655:2015, “concreto de cimento Portland – preparo, controle, recebimento e aceitação”, para cumprir as exigên- cias de durabilidade (caso não sejam realizados ensaios comprobatórios para essa característica), devem ser obedecidos critérios quanto à composição e à qualidade do concreto conforme a classe de agressividade à qual a estrutura estará sujeita, conforme a Tabela 2. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2015b, p. 12). Concreto Tipo Classe de agressividade I II III IV Relação água/ cimento em massa CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45 CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45 Classe de concreto (ABNT NBR 8953) CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40 CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40 Consumo de cimento Portland por metro cúbico de concreto kg/m3 CA e CP ≥ 260 ≥ 280 ≥ 320 ≥ 360 CA: componentes e elementos estruturais de concreto armado. CP: componentes e elementos estruturais de concreto protendido. Tabela 2. Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto. Caso os elementos de concreto sejam expostos a solos ou soluções contendo sulfatos, a ABNT NBR 12655:2015 indica a utilização de cimento resistente a sulfatos na mistura, de acordo com a ABNT NBR 5737:1992, e os requisitos de relação água/cimento e resistência devem atender as orientações estabelecidas na Tabela 3. Concreto armado 198 U4_C13_ Concreto armado.indd 198 09/06/2017 17:19:42 Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2015b, p. 13). Condições de exposição em função da agressividade Sulfato solúvel em água (SO4) presente no solo % em massa Sulfato solúvel (SO4) presente na água ppm Máxima relação água/ cimento, em massa, para concreto com agregado normala Mínimo fck (para concreto com agregado normal ou leve) MPa Fraca 0,00 a 0,10 0 a 150 Conforme Tabela 2 Conforma Tabela 2 Moderadab 0,10 a 0,20 150 a 1500 0,50 35 SeveracAcima de 0,20 Acima de 1500 0,45 40 a Baixa relação água/cimento ou elevada resistência podem ser necessárias para a obtenção de baixa permeabilidade do concreto ou proteção contra a corrosão da armadura ou proteção a processos de congelamento e delego. b A água do mar é considerada para efeito do ataque de sulfatos como condição de agressividade moderada, embora o seu conteúdo de SO4 seja acima de 1500 ppm, devido ao fato de que a etringita é solubilizada na presença de cloretos. c Para condições severas de agressividade, devem ser obrigatoriamente usados cimentos resistentes a sulfatos. Tabela 3. Requisitos para concreto exposto a soluções contendo sulfatos. Para condições especiais de exposição, a norma prevê ainda que alguns requisitos mínimos de durabilidade do concreto sejam atendidos. Um deles é adotar a máxima relação água/cimento igual a 0,5 e fck mínimo de 35 MPa, quando é necessário um concreto de baixa permeabilidade, por exemplo, em caixas d’água, e o outro é optar pela máxima relação água/cimento igual a 0,4 e fck mínimo de 40 MPa quando ocorre a exposição do concreto a cloretos provenientes de agentes químicos de degelo, sais, água salgada, água do mar, ou respingos desses agentes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015a). 199Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 199 09/06/2017 17:19:43 Critérios de projeto para durabilidade Alguns critérios, quando adotados nos projetos, melhoram as condições de du- rabilidade das estruturas. Dentre os recomendados pela ABNT NBR 6118:2014 estão a drenagem, as formas arquitetônicas e estruturais, a inspeção e manu- tenção preventiva, a qualidade do concreto de cobrimento, o detalhamento das armaduras, o controle da fi ssuração e outras medidas especiais. Muitos dos mecanismos de deterioração acontecem em função da presença de água para que ocorram as reações, por isso, a norma recomenda cuidados relativos à drenagem nas estruturas. Segundo a ABNT NBR 6118:2014, é preciso evitar a presença e o acúmulo de água das chuvas ou decorrentes de outras ações. Para isso, deve ser prevista a disposição de ralos e condutores em superfícies horizontais expostas, e as juntas de movimentação e dilatação precisam ser convenientemente seladas de forma a se tornarem estanques à percolação de água. Os topos de platibandas e paredes têm de ser protegidos, sendo previstas pingadeiras para os beirais. Os encontros entre os diferentes níveis devem ser protegidos por rufos. Devem ser evitadas as formas arquitetônicas e estruturais que possam reduzir a durabilidade da estrutura. Se a disposição de alguns elementos estruturais favorecer o acúmulo de água, preveja aberturas para drenagem e ventilação (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Suas formas precisam ainda permitir o acesso para inspeção e manutenção preventiva da edificação, o que deve ser avaliado e previsto ainda em fase de projeto, junto com a produção do manual de utilização, inspeção e manutenção, buscando uma estratégia que facilite esses procedimentos. Tome cuidados especiais para com a manutenção de partes da estrutura com vida útil inferior ao todo, como em aparelhos de apoios, zonas com impermeabilizações, etc. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). A qualidade do concreto está diretamente ligada à durabilidade das estru- turas. O concreto, além de resistir aos esforços de compressão, deve executar de maneira aceitável sua função na proteção das armaduras contra os ataques externos. Quando os elementos de concreto armado estão sujeitos a meios agressivos, tome medidas para a redução de porosidade e permeabilidade da mistura. Caso não sejam realizados ensaios comprobatórios de durabilidade da estrutura, os valores da relação água/cimento, consumo de cimento e a classe de resistência devem ser respeitados de acordo com as classes de agressividade e o caso de exposição, conforme as Tabelas 2 e 3 apresentadas anteriormente. A NBR ABNT 6118:2014 não permite que sejam utilizados aditivos à base de cloreto em estruturas de concreto. De maneira a não prejudicar a proteção Concreto armado 200 U4_C13_ Concreto armado.indd 200 09/06/2017 17:19:43 das armaduras, o teor máximo de íons de cloreto na mistura deve obedecer aos limites estipulados pela ABNT NBR 12655:2015, conforme a Tabela 4. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2015b, p. 13). Classe de agressividade (5.2.2) Condições de serviço da estrutura Teor máximo de íons cloreto (Cl-) no concreto % sobre a massa de cimento Todas Concreto protendido 0,05 III e IV Concreto armado exposto a cloretos nas condições de serviço da estrutura 0,15 II Concreto armado não exposto a cloretos nas condições de serviço da estrutura 0,30 I Concreto armado em brandas condições de exposição (seco ou protegido da umidade nas condições de serviço da estrutura) 0,40 Tabela 4. Teor máximo de íons de cloreto para proteção das armaduras do concreto. As operações de lançamento e adensamento do concreto devem permitir que as armaduras sejam inteiramente envolvidas pela massa de concreto e, por isso, no detalhamento, a disposição das armaduras precisa prever espaço suficiente para a entrada da agulha do vibrador (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Além da qualidade da mistura, a espessura da camada de concreto que protege as armaduras mais próximas da superfície externa do elemento, de- nominada cobrimento, precisa seguir alguns critérios estabelecidos pela ABNT NBR 6118:2014. O valor mínimo do cobrimento, após estipulado, tem de ser o menor valor a ser respeitado ao longo do elemento, constituindo, inclusive, um critério de aceitação. Para que o cobrimento mínimo seja respeitado, é considerado um valor de cobrimento nominal no projeto, que nada mais é do que o cobri- mento mínimo acrescido de uma tolerância de execução (Δc) (ASSOCIAÇÃO 201Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 201 09/06/2017 17:19:43 BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Em obras correntes, o valor de Δc deve ser maior ou igual a 10 mm. O cobrimento nominal precisa ser respeitado conforme a Tabela 5, que o relaciona de acordo com o tipo de elemento e a classe de agressividade ambiental. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014, p. 20). Tipo de estrutura Componente ou elemento Classe de agressividade ambiental (Tabela 6.1) I II III IVc Cobrimento nominal mm Concreto armado Lajeb 20 25 35 45 Viga/pilar 25 30 40 50 Elementos estruturais em contato com o solo d 30 40 50 Concreto protendidoa Laje 25 30 40 50 Viga/pilar 30 35 45 55 a Cobrimento nominal da bainha ou dos fios, cabos e cordoalhas. O cobrimento da armadura passiva deve respeitar os cobrimentos para concreto armado. b Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento, com pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros, as exigências desta Tabela podem ser substituídas pelas de 7.4.7.5, respeitando um cobrimento nominal ≥ 15 mm. c Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e intensamente agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos da classe de agressividade IV. d No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45 mm. Tabela 5. Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nomi- nal para Δc=10 mm. A ABNT NBR 6118:2014 permite ainda que essa tolerância (Δc) seja redu- zida para 5 mm quando concretos de classe superior ao mínimo exigido forem Concreto armado 202 U4_C13_ Concreto armado.indd 202 09/06/2017 17:19:44 utilizados, ou então quando houver controle de qualidadee limites rígidos de variabilidade das medidas durante a execução. Essa exigência, quando for utilizada, tem de ser explicitada nos desenhos do projeto. Além do especificado na Tabela 5, o cobrimento nominal possui restrições com relação às armaduras. Assim, o cobrimento nominal deve ser maior que o diâmetro da barra (ou que o diâmetro equivalente de um feixe de barras, quando houver) que será envolvida. Além disso, a dimensão máxima do agregado presente na mistura do concreto pode ser, no máximo, 20% maior do que o cobrimento nominal do elemento (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014). Em caso de fissuração, os riscos de corrosão das armaduras são mais elevados. Na região de fissuras de flexão, transversais à armadura principal, sua ocorrência e evolução dependem essencialmente da qualidade e da espes- sura do concreto de cobrimento da armadura. Durante o dimensionamento e a verificação dos elementos, deve ser realizado o controle da fissuração, limitando seus valores característicos de fissuração (wk) conforme a Tabela 6. Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014, p. 80). Tipo de concreto estrutural Classe de agressividade ambiental (CAA) e tipo de protensão Exigências relativas à fissuração Combinação de ações em serviço a utilizar Concreto simples CAA I e CAA IV Não há – Concreto armado CAA I ELS-W wk ≤ 0,4 mm Combinação frequente CAA II e CAA III ELS-W wk ≤ 0,3 mm CAA IV ELS-W wk ≤ 0,2 mm Tabela 6. Exigências de durabilidade à fissuração e à proteção da armadura em função das classes de agressividade ambiental. Quando as condições de exposição forem adversas, tome medidas especiais de proteção e conservação, como a utilização de revestimentos hidrofugantes, de argamassa, de cerâmicas, a impermeabilização da superfície e a galvani- zação da armadura, entre outras. 203Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 203 09/06/2017 17:19:44 1. Com relação aos mecanismos de deterioração da estrutura, assinale a resposta correta: a) A lixiviação é a dissolução dos compostos à base de cálcio da pasta de cimento pelo contato com água marítima. b) A expansão por sulfato é a expansão do concreto por ação de águas ou solos que contenham ou estejam contaminados com cloretos. c) A reação álcali-agregado pode ocorrer quando o cimento do concreto é composto por cal reativa, que reage em contato com o agregado e a armadura. d) A despassivação por carbonatação ocorre pela ação do gás carbônico da atmosfera sobre o aço. e) A despassivação por ação de cloretos é um mecanismo de deterioração do concreto que ocorre pelo elevado valor de íon-cloro. 2. Com relação aos efeitos causados pelos mecanismos de deterioração, assinale a alternativa correta: a) A lixiviação é um fenômeno que causa a expansão do concreto e a formação de fissuras. b) A expansão por sulfatos, além de gerar a expansão do concreto, resulta em depósitos brancos na superfície do elemento, denominados eflorescências. c) Na reação álcali-agregado, ocorre a expansão do concreto e a formação de fissuras. d) A despassivação por carbonatação resulta na corrosão do concreto pela ação do gás carbônico da atmosfera. e) A despassivação por ação de cloretos resulta na ruptura total da camada de passivação, gerando processos de corrosão em toda a superfície da armadura. 3. Com relação à vida útil das estruturas e à divisão de classes de agressividade proposta pela ABNT NBR 6118:2014, assinale a alternativa correta: a) A vida útil de projeto (VUP) é sempre maior que a vida útil que a estrutura terá. b) Os critérios que influenciam para que a vida útil de projeto (VUP) seja atingida não englobam a execução, pois parte-se do pressuposto de que deve ser seguido o que consta no projeto. c) Um ambiente rural possui classe de agressividade I, para a qual a agressividade é moderada e o risco de deterioração da estrutura é pequeno. d) Um ambiente urbano possui classe de agressividade III, para a qual a agressividade é forte e o risco de deterioração da estrutura é grande. e) Um ambiente industrial pode possuir classe de agressividade III ou VI, dependendo basicamente de sua utilização. 4. Conforme as recomendações na ABNT NBR 6118:2014 para Concreto armado 204 U4_C13_ Concreto armado.indd 204 09/06/2017 17:19:45 critérios de projeto que visam à durabilidade da estrutura, assinale a alternativa correta: a) O controle de fissuração é um dos critérios que visam à durabilidade; a limitação da abertura de fissuras é definida pelo projetista, a partir de experiências anteriores. b) A drenagem das estruturas não é um critério evidenciado pela ABNT NBR 6118:2014, visto que, depois de endurecido, o concreto e seus componentes não reagem na presença de água. c) A camada de cobrimento deve ser avaliada conforme a classe de agressividade e o tipo de elemento, devendo ainda ser aumentada caso o diâmetro da barra envolvida por ela for maior que a espessura avaliada inicialmente. d) As medidas especiais recomendadas pela ABNT NBR 6118:2014 incluem a inspeção e a manutenção preventiva da estrutura. e) A qualidade do concreto utilizado é um dos critérios que visam à durabilidade da estrutura. A ABNT NBR 6118:2014 especifica a classe de concreto mínima a ser utilizada conforme a classe de agressividade ambiental, mas não faz considerações quanto a sua dosagem. 5. Um edifício residencial será construído na região central de uma grande cidade com clima bastante úmido e, por isso, é recomendado que sua classe de agressividade (considerando-a para ambientes internos e externos) seja avaliada a favor da segurança. Conforme os critérios de projeto e as condições de agressividade, assinale a alternativa correta: a) A classe de agressividade que deve ser considerada para o projeto é a classe III. b) O consumo de cimento por metro cúbico de concreto não deve ser inferior a 320 kg. c) A abertura de fissuras nos elementos estruturais deve ser limitada a 4 mm. d) A classe C30 é a classe mínima do concreto que deve ser utilizada, com relação água/ cimento máxima de 0,6. e) Se for utilizado um concreto C35 nos elementos estruturais, o cobrimento nominal a ser considerado pode ser de 20 mm para as lajes e 25 mm para vigas, pilares e fundações. 205Durabilidades das estruturas de concreto U4_C13_ Concreto armado.indd 205 09/06/2017 17:19:46 ANDRADE, S. Como de processa o ataque do cloreto no aço. [S.l.]: Canal do Youtube – Por Dentro da Engenharia Civil, 2016b. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=8RKnuLStl8k>. Acesso em: 29 abr. 2017. ANDRADE, S. Processo de carbonatação do concreto. 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