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1 VÍVIAN ANGÉLICA DOS SANTOS MALVA Contribuições da Naturologia para a educação em saúde na Casa do Zezinho Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Mestrado Profissional em Saúde Ambiental do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como requisito parcial obtenção do Grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Daniel Manzoni de Almeida São Paulo 2020 2 3 VÍVIAN ANGÉLICA DOS SANTOS MALVA Contribuições da Naturologia para a educação em saúde na Casa do Zezinho Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Mestrado Profissional em Saúde Ambiental do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como requisito parcial obtenção do Grau de Mestre. Aprovada em junho de 2020. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Daniel Manzoni de Almeida – Orientador CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS __________________________________________________________________________ Profa. Dra. Paula Cristina Ischkanian SENAC – SÃO PAULO __________________________________________________________________________ Prof. Dr Jefferson Russo Victor CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS São Paulo 2020 4 “Dedico este trabalho a todos os Zezinhos e a seus educadores, que constroem o dia a dia na Educação através do Amor!” 5 AGRADECIMENTOS A gratidão é a sensação mais doce ao ver esse trabalho ter tomado forma e vestir essas páginas, pois ele existe por dois grandes propósitos em minha vida: ver a Naturologia florescer e contribuir com a Casa do Zezinho. Gostaria de reconhecer aos Mestres: Profa. Dra. Renata Ferraz de Toledo, Profa. Dra. Andrea R. Bueno Ribeiro, Profa. Dra. Vanessa Aparecida Feijó de Souza, Prof. Dr. Ricardo Palamar Menghini e Prof. Dr. Arnaldo Rocha: foram eles que me incentivaram muito neste caminho do Mestrado e deixaram profundas lembranças de amizade, eficiência, integridade e dedicação. Saúdo e sou muito grata a meu orientador, Prof. Dr. Daniel Manzoni de Almeida, que em meio a tantas demandas, assumiu este lugar com muita propriedade, sempre com muito bom-senso e propósito. Seu caráter agregador, seu amor ao que faz e sua dedicação são um exemplo. Agradeço à meus pais: Sebastião e Elly, professores em tempo integral, que foram sempre meus mentores e a quem sigo como exemplos de dedicação e amor à profissão. Com certeza, existe mais deles em mim do que eu supunha saber. Também a meus irmãos: Maurício, Lílian, Edgar, Milton e Sandra, e a meus sobrinhos Pamela e Matheus, pela presença, amor e apoio constante, vocês são pilares essenciais em meu caminhar! A meu afilhado, Luis Fernando, que aquece meu coração com suas palavras de encorajamento e me ensina a ser melhor todos os dias. Aos meus alunos, pela generosidade da troca, pela disponibilidade e confiança durante os estágios e pelo aprendizado e construção conjunta. Um afeto muito especial pela Tia Bia, Tia Angela e Tia Rafaelli, que possibilitaram os encontros e viabilizaram o projeto na Casa do Zezinho. Minha eterna gratidão a todos que me inspiram: André Hinsberger, Caio Portella, Elizabeth Friedrich, Adriana Elias, Paula Ischkanian, Edgar Cantelli, Eliane Feliz, Estela Gutierrez, Eunice Gugliotti, Maria Grillo, Tia Dag (Dagmar Garroux), entre tantas outras pessoas que compartilham comigo sua sabedoria interna. Reconheço em mim a chama Divina que me permite experenciar, aprender, doar e receber, descobrir e repartir essa imensa Inteligência que permeia toda a Humanidade! 6 “Ser Educador é ser poeta do Amor.” Augusto Cury 7 RESUMO A Naturologia é uma profissão em franca expansão no Brasil, e tem potencialidades em muitas áreas. Este projeto abre espaço para duas dessas possibilidades: a de educador em saúde para crianças e jovens, e a de parceiro em educação no desenvolvimento de capacitação socioemocional nas escolas. Este projeto partiu de uma revisão bibliográfica para avaliar as pesquisas disponíveis sobre Naturologia para menores de idade e culminou numa pesquisa com os educadores da Casa do Zezinho, uma escola não-formal, para levantamento das principais necessidades através de uma pesquisa participativa. Não foram encontrados estudos sobre promoção de saúde e Naturologia aplicados a crianças e adolescentes, e a pesquisa sobre o levantamento das necessidades ampliou-se na possibilidade da construção de diversas oficinas onde o naturólogo pode contribuir positivamente para a capacitação de habilidades socioemocionais. Palavras chave: Naturologia, menores de idade, socioemocional, promoção de saúde. 8 ABSTRACT Naturology is a booming profession in Brazil, and has potential in many areas. This project opens space for two of these possibilities: a health educator for children and young people, and a partner in education in the development of socio-emotional training in schools. This project started from a bibliographic review to evaluate the research available on Naturology for minors and culminated in a survey with educators from Casa do Zezinho, a non-formal school, to survey the main needs through a participatory research. There were no studies on health promotion and Naturology applied to children and adolescents, and the research on the survey of needs has expanded in the possibility of building several workshops where the naturologist can contribute positively to the training of socioemotional skills. Keywords: Naturology, minors, socioemotional, health promotion. 9 SUMÁRIO Capítulo 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS .............................................................................. 10 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10 2 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 11 3 OBJETIVOS ............................................................................................................. 13 Capítulo 2 - CONTRIBUIÇÕES DA NATUROLOGIA PARA SAÚDE E BEM-ESTAR DE MENORES DE IDADE ........................................................................................................... 15 Capítulo 3 - CONTRIBUIÇÕES DA NATUROLOGIA PARA A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA CASA DO ZEZINHO ................................................................................................................ 33 Capítulo 4 – PRODUTO TÉCNICO ......................................................................................... 57 Capítulo 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES .................................................... 80 Anexo A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) ...................... 82 Anexo B – Posicionamento sobre Naturologia às questões dos educadores ....................... 83 Anexo C - Metodologia ativa Carroussel...................................................................................85 10 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1 INTRODUÇÃO A Naturologia surgiu no Brasil no início dos anos 90, culminando com a criação da primeira graduação em 1994, portanto, é uma profissão bem recente. Um de seus princípios é: “o naturólogo é um professor (docere)”. Docere, vem da palavra latina “ensinar” e uma das funções donaturólogo é capacitar, nos fatores que afetam a saúde e a doença, de forma que as pessoas estejam mais informadas a respeito de suas escolhas e de como poderiam ser mais capazes de manter a própria vitalidade. Isso envolve: nutrição, exercícios, bem-estar, postura, higiene, sono e situações sociais, ocupacionais e ambientais, entre outros1. O naturólogo é essencialmente um educador, com o objetivo de formar uma pessoa com relação à sua saúde, voltada mais a um processo de autoconhecimento do que à transmissão de conhecimentos acerca desta ou daquela prática terapêutica, além de também promove-la voltada à sustentabilidade ambiental e à saúde social2. Foi neste âmbito que a Naturologia encontrou a Casa do Zezinho, num primeiro projeto há mais de dez anos atrás, quando a proposta era aproximar- se dos pais e responsáveis proporcionando atendimentos voluntários aos sábados para essas pessoas que vivem em alta vulnerabilidade e com pouco acesso a esse tipo de apoio e acolhimento e que depois ampliou-se para a comunidade em geral, atendendo somente adultos, dentro do projeto “Se Cuida Zezinho”. Por volta de 2017, decorrente da crise financeira, o patrocínio foi retirado pelas empresas que o sustentavam, e houve a paralização das atividades, que vêm agora sendo retomadas, nos moldes antigos, com trabalho voluntariado. Nesse meio tempo, outra semente, que já vinha sendo cultivada emergiu: a de trazer a Naturologia para dentro da Casa, atendendo aos Zezinhos, no esquema de oficinas. Dentro desta nova perspectiva, trabalhar com crianças e jovens revelou- se um novo desafio e um vasto campo de oportunidades. 11 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1. A CASA DO ZEZINHO Fundada oficialmente em março de 1994, a Casa do Zezinho tem como missão: Criar condições, por meio da educação, para que crianças e jovens de baixa renda, em situação de vulnerabilidade e risco social, possam ter autonomia de pensamento e de ação para decidir seus próprios caminhos de vida. A condição básica para atender essa missão, da caZaa que os acolhe, é a formação da identidade de todos os seus membros. A Casa do Zezinho é apresentada por meio de seis CaZas, que qualificam espaços importantes das experiências dos Zezinhos. Juntas, formam o condomínio de CaZas, ou melhor, os vários puxadinhos que dão sentido arquitetônico às biografias vividas na favela pelos Zezinhos3. A pedagogia que norteia o trabalho dos educadores foi nomeada de “Pedagogia do Arco-Íris”, voltada para os cinco sentidos (cheiro, sabor, som, movimento e imagem). ...estudamos Freinet e Piaget, discutimos Paulo Freire, Montessori, Vygotsky, Dewey e outros muitos, mas como atuamos cercados pela necessidade de soluções prementes, não podemos nos sentir engessados por planejamentos rígidos, comandados por linhas procedimentais previsíveis. Quem fala do nosso próximo passo é o desafio do caminhar, a intriga do cotidiano. O melhor a fazer não é o que os rígidos programas prometem, os estáveis projetos estipulam, mas a resposta pronta ao problema de cada dia que em cada criança a toda hora se manifesta. Não é apenas Pedagogia, muito mais que isso: trabalhamos a emergência, construímos com seriedade, moldados pelo grito da hora, pela nossa pedagodia4. No corpo de educadores, existem vários Zezinhos, que depois de concluir a faculdade de pedagogia (ou outras) tornam-se educadoé a fres no projeto. Os espaços de aprendizagem dividem-se conforme a idade: Sala violeta (crianças de 7 a 8 anos); Sala Jeans (crianças de 8 a 9 anos); Sala Mares (crianças de 9 a 10 anos); Sala Matas (pré-adolescência, crianças de 11 a 12 anos); Sala Solar (primeira adolescência, jovens de 12 a 13 anos); Sala Oriente (média adolescência, jovens de 13 a 15 anos); Sala Coração de Estudante (adolescência, jovens de 16 a 21 anos). Os educadores, sensibilizados e ferramentados, dispõem muitas vezes de maior oportunidade do que os pediatras e os professores da escola pública para detectar problemas cruciais na vida e no desenvolvimento dos Zezinhos4. O educador da CaZa precisa dominar as teorias do desenvolvimento infantil. Deve gostar de (e querer) se especializar e de pessoas. Deve ter disposição para apurar seus sentidos, atentar aos detalhes e singularidades das histórias que virão ao seu encontro3. a CaZa (com Z) é a forma como os autores referenciam-se à Casa dos Zezinhos, por isso a notação foi mantida nas citações. 12 A Casa acolhe a arte, dando possibilidades do jovem trabalhar seu campo sensorial, dando forma às emoções, de forma a expressar a universalidade dos afetos humanos. A criança não é aprendiz de conteúdos, então prima-se pelo aprender a fazer (Arte), a conhecer (Ciência), a saber (Filosofia), a ser e a viver/conviver (Espiritualidade)5. 2.2. A NATUROLOGIA E A EDUCAÇÃO EM SAÚDE A Naturologia, por definição posiciona-se como: Conhecimento na área da saúde embasado na pluralidade de sistemas terapêuticos complexos vitalistas, que parte de uma visão multidimensional do processo de saúde-doença e utiliza da relação de interagência e de práticas integrativas e complementares no cuidado e atenção à saúde. Ela é produto de interações, religações e diálogos entre práticas e sistemas terapêuticos como as medicinas tradicionais e os conhecimentos biológicos e biomédicos da ciência moderna6 (p.15-16). O naturólogo é um profissional que visa a integralidade em suas práticas. Entre as diversas habilidades desenvolvidas por ele, constam o conhecimento do ser humano como uma interação complexa com ele mesmo e com todos os sistemas exteriores que interagem com ele; a compreensão dos padrões emocionais e sua inter-relação com os processos físicos, visando ao entendimento da homeostase do indivíduo; conhecimentos sobre Práticas Integrativas e Complementares, [...] e avaliação do ser humano, física e energeticamente, a fim de estabelecer para cada indivíduo o seu padrão individual de normalidade7. O naturólogo trata do “interagente”: como o próprio nome diz, é aquele que interage, que faz parte do processo. O princípio da Interagência é o diferenciador da prática terapêutica naturológica. Gera postura integrativa entre terapeuta e paciente; promove a filiação com princípios e paradigmas contrários a fragmentação do conhecimento e traz o componente ético como obrigatório para a construção do saber e do fazer em Naturologia8. O pensar em educação tem como base a complexidade inerente ao homem, e isso nos leva a buscar uma visão transdisciplinar. Assim, a educação permeia todas as áreas podendo unir o conhecimento científico ao conhecimento popular, desperta consciência e autoconhecimento, gerando assim, mais autonomia e crescimento. O papel formativo e educacional da Naturologia está claramente exposto na proposta do Código de Ética Profissional do naturólogo, que afirma no capítulo I, dos Princípios Fundamentais9: 13 Art. 1º - O Naturólogo: I – É um profissional comprometido com o ser humano em toda sua complexidade. A atuação do Naturólogo contempla ações em educação, promoção e recuperação de saúde. O trabalho educativo vai além do campo da informação ao integrar valores, costumes e modelos sociais que levam a condutas e práticas especificas. “Só conhecendo o indivíduo e suas circunstâncias é possível uma ação eficiente e permanente em saúde”10. 3 OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral Analisar as contribuições da Naturologia em processos de educação em saúde na Casa do Zezinho (ou em contextos parecidos com a Casa), visando estabelecer possibilidades de melhoria com a atuação do profissional Naturólogo. 3.2. Objetivos específicos • Investigar os problemas relevantes de saúde (de forma integrativa) que interferem na rotina educacional dos sujeitos “zezinhos”; • Identificar com os educadores da Casa do Zezinho: percepções, dificuldades, necessidades, barreirase principais anseios quando à saúde (física, emocional e mental) dos sujeitos “zezinhos” e quanto à prática da Naturologia; • Desenvolver um processo de construção de oficinas, unindo o saber dos educadores e dos naturólogos, em busca de soluções para as questões identificadas, utilizando abordagens educacionais na saúde integrativa; • Identificar alternativas para réplica de algumas ações para a família dos sujeitos “zezinhos”. 14 4 REFERÊNCIAS 1. World Naturopathic Federation. WNF White Paper: Naturopathic Philosophies, Principles and Theories. 2017;6:7. Available from: www.worldnaturopathicfederation.org 2. Teixeira DV. Integralidade, Interagência e Educação em Saúde: uma etnografia da Naturologia. Univ Fed St Catarina. 2013; 3. Marques C. Marques L. Mendes Jr L. Garroux D. Caza: uma matriz de muitos zezinhos. ÔZé Editora, editor. São Paulo; 2013. 4. Antunes, C.; Garroux D. Pedagogia do cuidado: um modelo de educação social. Vozes, editor. Petropolis, RJ; 2014. 5. Pedagogia do arco-íris [Internet]. [cited 2020 May 20]. Available from: http://www.casadozezinho.org.br/pedagogia-arco-iris.php 6. Sabbag SHF, Nogueira BMR, De Callis ALL, Leite-Mor ACMB, Portella CFS, Antônio RDL, et al. a Naturologia No Brasil: Avanços E Desafios. Cad Naturologia e Ter Complement. 2013;2(2):11. 7. Rodrigues, Daniel Maurício de Oliveira; Hellmann, Fernando; Daré, Patricia Kozuchovski; Wedekin LM. Naturologia: diálogos e perspectivas. Editora Unisul, editor. Palhoça; 2012 8. Silva AEM da. Naturologia: Um diálogo entre saberes. Prismas E, editor. Curitiba; 2013. 9. Portella, Caio; Soares, Pollyana; Assis, Alan; Stella, Americo; Hellmann F. Codigo de Etica profissional do Naturólogo. 2017; 10. Briceño-León R. Siete tesis sobre la educación sanitaria para la participación comunitaria. Cad Saude Publica. 1996;12(1):7–30. http://www.worldnaturopathicfederation.org/ 15 CAPÍTULO 2 – ARTIGO SUBMETIDO Revista: INTERFACE ISSN: 1414-3283 CONTRIBUIÇÕES DA NATUROLOGIA PARA SAÚDE E BEM-ESTAR DE MENORES DE IDADE Vívian Angélica dos Santos Malva1; Arnaldo Rocha2; Daniel Manzoni de Almeida3 1 Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, São Paulo, SP. e-mail de contato: vivian.malva@terra.com.br 2 Docente do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, São Paulo – SP; Mestre e Doutor em Ciências, Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. 3 Docente do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, São Paulo – SP; Mestre e Doutor em Ciências Biológicas. Pós doutorado em Ensino de Biologia/Ciências. RESUMO Os ciclos de vida são abordados em diversas racionalidades médicas, por apresentarem desafios específicos que requerem abordagens diferentes. O objetivo deste estudo foi examinar a produção na literatura sobre contribuições da Naturologia, Naturopatia (como é conhecida em outros países) ou Práticas Integrativas e Complementares (PIC), internacionalmente conhecidas como Complementary and Alternative Medicine (CAM) para menores de idade. O método foi uma revisão integrativa de literatura. Obteve-se 223 referências derivadas da pesquisa via estratégia de busca, sendo que 21 cumpriram os critérios de inclusão. Não foram encontrados estudos sobre promoção de saúde e Naturologia aplicados a crianças e adolescentes. Sendo a Naturologia um estudo emergente, traz consigo a perspectiva do desenvolvimento de novas abordagens, considerando sistemas terapêuticos complexos vitalistas, a idades em que ainda não têm sido aplicadas. mailto:%20vivian.malva@terra.com.br 16 PALAVRAS-CHAVE: Naturologia, Práticas integrativas e complementares. Menores de idade. Crianças. Adolescentes. Promoção de saúde. NATUROLOGY CONTRIBUTIONS TO HEALTH AND WELL-BEING OF UNDERAGE PEOPLE ABSTRACT Life cycles are addressed in many medical rationalities, as they present specific challenges that require different approaches. The aim of this study was to examine the literature production on contributions from Naturology, or Integrative and Complementary Practices (PIC), internationally known as Complementary and Alternative Medicine (CAM) for minors. The method was an integrative literature review. As a result, 223 references derived from the research were obtained via the search strategy, 21 fulfilled the criterion of exclusively meeting this age group. Conclusion: Most articles showed the good acceptance of these practices, however, there are no studies on health promotion and Naturology for children and adolescents. Since Naturology is an emerging study, it brings the perspective of developing new approaches, considering complex vitalist therapeutic systems, at ages when they have not yet been applied. KEY WORDS: Naturology. Integrative and complementary practices. Underage people. Child. Adolescent. Health promotion. CONTRIBUCIONES DE NATUROLOGIA A LA SALUD Y BIENESTAR DE MENORES RESUMEN Los ciclos de vida se abordan en diferentes racionalidad médicas, ya que presentan desafíos específicos que requieren diferentes enfoques. El objetivo de este estudio fue examinar la producción de literatura sobre contribuciones de Naturología, o Prácticas Integrativas y Complementarias (PIC), internacionalmente conocida como Medicina Complementaria y Alternativa (CAM) para menores. El método fue una revisión bibliográfica integradora. Como resultado, se obtuvieron 223 referencias derivadas de la investigación a través de 17 la estrategia de búsqueda, 21 cumplieron el criterio de cumplir exclusivamente con este grupo de edad. Conclusión: la mayoría de los artículos mostraron la buena aceptación de estas prácticas, sin embargo, no hay estudios sobre promoción de la salud y naturología para niños y adolescentes. Dado que Naturology es un estudio emergente, aporta la perspectiva de desarrollar nuevos enfoques, considerando sistemas terapéuticos vitalistas complejos, en edades en que aún no se han aplicado. PALABRAS CLAVE: Naturología. Prácticas integradoras y complementarias. Menor de edad. Niño. Adolescent. Promoción de la salud. INTRODUÇÃO Racionalidade médica, segundo Madel Luz1, é todo constructo lógico e empiricamente estruturado em cinco dimensões (morfologia, dinâmica vital, doutrina médica, sistema de diagnose e sistema de intervenção terapêutica), tendendo a constituir-se em sistema de proposições potencialmente “verdadeiras”, isto é, verificáveis de acordo com os procedimentos da racionalidade científica, e de intervenções eficazes face ao adoecimento humano. Como exemplos de racionalidades médicas temos: Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Ayurvédica, Antroposofia, entre outras. No Brasil, considera- se como Práticas Integrativas e Complementares várias dessas racionalidades e o profissional da saúde, que aborda e atua de forma complexa, integral e transdisciplinar2 utilizando-as é o Naturólogo. Naturologia, por sua vez, pode ser definida como: Área da saúde embasado na pluralidade de sistemas terapêuticos complexos vitalistas, que parte de uma visão multidimensional do processo de vida-saúde-doença e utiliza da relação de interagência e de práticas integrativas e complementares no cuidado e atenção à saúde3. (pág 15) A complexidade e a transdisciplinaridade permeiam a produção dos saberes na formação profissional dos Naturólogos. A proposta de intervenção é desenvolver e ampliar o auto-conhecimento e o auto-cuidado4. 18 O termo “Naturologia” foi escolhido aqui no Brasil, ao invés de Naturopatia, face ao radical grego pathos, que remete ao significado de “doença e sofrimento”,enquanto logia direcionava para “estudo e conhecimento”5. Uma das definições mais comumente utilizadas para CAM (Complementary and Alternative Medicine), é aquela publicada pela U.S. National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH): “CAM é um grupo de diversos sistemas médicos e de saúde, práticas e produtos que geralmente não são considerados parte da medicina convencional”6. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), “a prática da Naturopatia pode variar largamente, dependendo da história de sua evolução, a legislação que afeta sua prática, e as demandas do público pela “traditional medicine” (TM) ou “complementary and alternative medicine” (CAM) na jurisdição específica7. Na Naturologia, o paciente dá lugar ao interagente, pessoa única, capaz de conceber o seu processo de saúde-doença e detentora das decisões e escolhas do seu processo de vida. Não cabe ao naturólogo, que coloca-se transversalmente na relação, explicar o processo de saúde-doença do outro, pois esta seria a expressão de uma relação verticalizada8. Por meio desta abordagem, a Naturologia se aproxima da Promoção e Educação em Saúde, pois se propõe a olhar e interagir com o outro como sujeito corresponsável no seu processo terapêutico, respeitando sua autonomia e estimulando-o ao auto-cuidado e auto- conhecimento9. O objetivo deste trabalho foi reunir a bibliografia mundial sobre naturologia aplicada à faixa etária de 0 a 18 anos e apresentar uma reflexão crítica de sua ocorrência, possibilidade e potenciais ainda não atingidos. MATERIAL E MÉTODO O presente trabalho é uma Revisão Integrativa de Literatura, método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática10. Foram incluídos artigos científicos publicados na íntegra, no período de 2010 a 2019, oriundos de pesquisas científicas desenvolvidas em vários países, encontrados pelos descritores “naturopathy” ou “naturologia” e utilizando-se os 19 filtros “children”, “naturopathy”, “pediatrics”, “adolescent”, “alternative medicine” “complementary and alternative medicine”, “child”, ”complementary therapies”, nas bases de dados BVS(BIREME), Periodicos CAPES, Pubmed e Scopus. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os números de artigos selecionados e refutados de acordo com os fatores de inclusão e exclusão propostos na metodologia desta revisão podem ser vistos na Figura 1. Muitas pesquisas trouxeram artigos que mencionavam crianças e/ou jovens, mas que incluíam também adultos, ou eram de outra área diferente da Saúde, e foram excluídas (Critério de exclusão: estudos com maiores de 18 anos e/ou estudo não pertencer à area da Saúde). Foram consideradas nos filtros as várias expressões que denotam o uso das diferentes racionalidades médicas, bem como “Medicina integrativa”, “praticas” integrativas”, CAM (Complementary and Alternative medicine)”, etc. (conforme descritores relacionados no item Metodologia). Finalmente, foi feita a leitura de todos os artigos, e foram descartados os estudos cujos objetivos não se aplicavam à atual pesquisa. 20 FIGURA 1: Processo de seleção dos artigos da amostra, 2010-2019. Fonte: Elaborado pelos autores O Quadro 1 descreve as principais características dos artigos selecionados, objetivo e desfecho de cada um. A maioria das pesquisas buscou verificar patologias específicas e a utilização de práticas integrativas. Quadro 1: Características dos Estudos incluídos Autor, ano e País Nome do artigo Desenho do estudo População-foco Objetivos Desfecho principal ANHEYER, D; KERN, C; DOBOS, G; CRAMER.H Germany 2018. “ I think you can achieve quite a lot if all of the staff stands behind it” – A qualitative study about the experience, knowledge and application of complementary therapies and integrative medicine in pediatrics. Estudo de entrevista qualitativa semi- padronizada. Investigar a extensão do conhecimento, a aplicação prática e as atitudes em relação ao uso e integração dessas terapias em duas clínicas pediátricas alemãs. Há um grande potencial e interesse em CAM ou medicina integrativa entre os funcionários de cuidados pediátricos, essa investigação concluiu que a implementação de CAM /Medicina integrativa pode ser uma extensão promissora para a rotina de cuidados diários. 21 Autor, ano e País Nome do artigo Desenho do estudo População-foco Objetivos Desfecho principal APRIL, K. T.; FELDMAN, D.E.; ZUNZUNEGUI, M.V.; DESCARREAUX, P.M.; DUFFY. C.M Canadá 2009 Longitudinal analysis of complementary and alternative health care use in children with juvenile idiopathic arthritis. Estudo de coorte com 182 indivíduos de idade média de 10 anos, que compareceram às clínicas ambulatoriais por 1 ano. Determinar a frequência do uso de diferentes tipos de cuidados de saúde complementares em crianças com artrite idiopática juvenil, avaliar sua eficácia do ponto de vista dos pais e explorar a fatores associados à utilização e ao uso continuado O uso de cuidados de saúde complementares e alternativos em crianças com artrite idiopática juvenil é considerado moderadamente benéfico pela maioria dos pais. A utilidade e o uso anterior estão associados a um uso mais prolongado por seus filhos. CRADDOCK L., RAY, L.D. Canadá 2012 Pediatric migraine teaching for families. Journal for specialists in pediatric nursing. Revisão de literatura Resumir as evidências atuais e fornecer uma base para o aprendizado da família. O manejo eficaz da enxaqueca pediátrica pode ser alcançado com uma combinação de estratégias bio-comportamentais personalizadas, modificações no estilo de vida e programação ideal de tratamento farmacológico preventivo. COHEN, E.M.; DOSSETT M.L.; MEHTA D. H.; DAVIS, R. B.; LEE, Y.C. USA 2017 Factors associated with complementary medicine use in pediatric musculoskeletal conditions: Results from a nacional survey. Nos dados da Pesquisa Nacional em Saúde dos Estados Unidos de 2012 (incluindo seu suplemento infantil de CAM), foram examinados os fatores associados ao uso de CAM em crianças com condições MSK. O uso de medicina complementar e alternativa (CAM), só foi investigado em crianças com problemas músculo-esqueléticos em extensão limitada. O objetivo foi caracterizar fatores associados ao uso de CAM em crianças com condições musculo-esqueléticas. Vários fatores, particularmente a educação e o uso de CAM pelos pais, foram associados ao uso de CAM nos filhos. Ensaios de intervenção são necessários para determinar a eficácia de terapias específicas da CAM para o tratamento de diferentes condições de MSK em crianças, mesmo tendo um indício de taxa alta de resposta.. COHEN, E.M.; DOSSETT M.L.; MEHTA D. H.; DAVIS, R. B.; LEE, Y.C. USA 2018 Factors associated with insomnia and complementary medicine in children: results of a nacional survey. Dados da Pesquisa Nacional em Saúde dos Estados Unidos- de 2012 para estimar a prevalência de dificuldades do sono e uso de CAM em crianças entre 6 a 17 anos. As estimativas foram ponderadas para refletir o desenho amostral. Foi utilizada regressão logística. O interesse no uso de terapias complementares e de medicina alternativa (CAM) para tratar distúrbio de sono em menores está crescendo. O objetivo foi identificar: a prevalência de dificuldades do sono nesta idade e a prevalência e os padrões de uso de CAM. As terapias de CAM, particularmente os suplementos não vitamínicos e não minerais, são comumente usados entre crianças com problemasde sono. Mais pesquisas são necessárias para caracterizar a segurança e a eficácia das terapias de CAM. EDWARDS, E; MISCHOULON, D.; RAPAPORT, M; STUSSMAN, B; WEBER, W. USA 2013 Building an Evidence Base in Complementary and Integrative Healthcare for Child and Adolescent Psychiatry. Avaliação da Pesquisa Nacional em Saúde dos Estados Unidos em 2007 sobre terapias complementares Avaliar o uso de terapia complementar em crianças americanas de 0 até 17 anos, nos 12 últimos meses. A integração de terapias complementares se com a medicina convencional pode chegar em melhores resultados, avaliados pelo alívio dos sintomas, desempenho escolar, funcionamento social e relações familiares. A evidência dessas terapias em psiquiatria infantil/adolescente é fragmentária. com escassez de ensaios clínicos bem projetados. GALICIA- CONNOLLY E.; ADAMS, D; BATEMAN J.; DAGENAIS S.; CLIFFORD T; BAYDALA L; KING VOHRA S. Canadá 2014 CAM Use in Pediatric Neurology: an exploration of concurrent use with conventional medicine. Pesquisa sobre o uso de CAM, incluindo motivos de uso, utilidade e uso simultâneo com a medicina convencional. Avaliar o uso de CAM entre pacientes que se apresentam em clínicas de neurologia em dois centros acadêmicos no Canadá. (Stollery Children's Hospital em Edmonton e Ontário Oriental (CHEO) em Ottawa). A maioria dos entrevistados considerou útil, com poucos ou nenhum dano associado. Os pais gostariam de mais informações e seriam mais fáceis de compartilhar se estivessem disponíveis sobre a segurança e a eficácia das mesmas. 22 Autor, ano e País Nome do artigo Desenho do estudo População-foco Objetivos Desfecho principal GOLD, J.I.; NICOLAOU C.D.; BELMONT K.A.; KATZ, A.R.; BENARON D. M.; YU, W. USA 2008 Pediatric Acupuncture: a review of clinical research. Revisão da literatura atual, incluindo avaliação sistemática do valor metodológico de cada estudo e uma discussão sobre os possíveis benefícios e efeitos adversos da acupuntura.294 questionários foram incluídos. Gold e equipe investigaram a acupuntura para algumas condições, como por ex: dor crônica, enxaqueca pediátria, stress de procedimentos, enurese, constipação, epilepsia, alergias, incapacidade neurológica, espasmos da laringe, náuseas e vômitos pós operatórios e condições relacionadas a cancer. Embora a acupuntura seja uma grande promessa como modalidade de tratamento para diversas condições pediátricas, é necessária uma quantidade significativa de pesquisas adicionais para estabelecer uma base empírica para a incorporação da acupuntura no tratamento padrão. GROENEWALD, C. B.; BEALS- ERICKSON, S.; RALSTON- WILSON J.: RABBITTS, J.A.; PALERMO T.M. USA 2017 Complementary and Alternative Medicine use by children with pain in the United States. Dados do National Health 2012 Survey (NHIS) para estimar padrões, preditores e benefícios percebidos do uso de CAM em 10281 crianças na idade de 4 a 17 anos com e sem condições dolorosas nos Estados Unidos. A dor crônica é relatada em torno de 15% a 25% das crianças. O objetivo deste estudo foi fornecer estimativas do uso de CAM por crianças com dor nos Estados Unidos. A CAM é freqüentemente usada por crianças com dor neste país e muitos pais relatam benefícios de sintomas de seus filhos. As mais utilizadas foram (na ordem): terapias biológicas, manipulação, terapias mente/corpo, racionalidades médicas, talvez por maior conexão com o pensamento ocidental, maior disponibilidade e menor custo GRUBER, M.; BEN-ARYE E.; KEREM N. COHEN-KEREM R. Israel 2013 Use of complementary alternative medicine in pediatric otolaryngology patients: A survey. Pesquisa transversal. com 308 qestionários anônimos aplicados aos pais acompanhantes de pacientes jovens atendidos na clínica de otorrinolaringologia. Os pais foram questionados sobre sua atitude geral em relação à CAM.. Investigam o padrão de uso de CAM em crianças e adolescentes atendidos em uma clínica pediátrica de otorrinolaringologia. A CAM desempenha um papel substancial entre os pais. A conscientização do otorrino sobre a preferência e o interesse dos pais pode contribuir para a tomada de decisão em relação ao tratamento de pacientes pediátricos. Mais investigações sobre a CAM são necessárias e a colaboração clínica com os terapeutas da CAM deve ser considerada. JENKINS, B.N.; VINCENT N.; FORTIER M.A. USA 2015 Differences in referral and use of complementary and alternative medicine between pediatric providers and patients. Pesquisas foram submetidas a 283 pais e cuidadores de pacientes pediátricos e a 200 provedores de cuidados de saúde pediátrica. Comparar o uso pediátrico de medicina complementar e alternativa (CAM) e o encaminhamento CAM do profissional de saúde pediátrico, bem como identificar preditores de uso e encaminhamento. O HCP referiu terapias de CAM com mais freqüência do que os pais relataram usar para seus filhos. Os resultados podem sugerir que os pais subutilizam /rapias de CAM. As possíveis barreiras ao uso da CAM em pacientes pediátricos precisam ser exploradas. JONG, M. C.; VLIET, M. v; HUTTENHUIS, S; VEER,D.v.d; HEIJKANT S.V.D. Holanda 2012 Attitudes toward integrative paediatrica: a National survey among Youth Health Care Physicians in the Netherlands. Out/2010: foi enviado um questionário anônimo com 30 itens a todos os médicos da Organização Holandesa de YHC que incluiu perguntas sobre uso de Medicina Integrativa, atitudes, uso e conhecimento de CAM, características demográficas e práticas. O objetivo do presente estudo foi avaliar as atitudes e crenças dos médicos do Youth Health Care (YHC) na Holanda em relação à Medicina Integrativa em pediatria Em geral, os médicos holandeses do YHC têm uma atitude relativamente positiva em relação à Pediatria Integrativa; mais da metade dos entrevistados usaram uma ou mais formas de CAM e um terço recomendou terapias com CAM. A maioria dos médicos não perguntou a seus clientes sobre o uso da CAM e parecia ter desconhecimentos sobre as CAM. 23 Autor, ano e País Nome do artigo Desenho do estudo População-foco Objetivos Desfecho principal KEMPLER K.J.; GARDINER P.; BIRDEE,G. USA 2013 Use of Complementary and Alternative Medical Therapies among Youth with Mental Health Concerns . Dados da Entrevista Nacional de Saúde de 2007. A pesquisa foi analisada para 5651 jovens de 7 a 17 anos. O estudo concentrou-se em três condições de saúde mental: transtorno de déficit de atenção/ TDAH, ansiedade e depressão. O uso de terapias médicas complementares e alternativas (CAM) é comum entre adultos com problemas de saúde mental, mas pouco se sabe sobre o uso de CAM entre adolescentes com problemas de saúde mental. As terapias CAM de fácil acesso são comumente usadas por jovens com TDAH, depressão e ansiedade, pais e médicos podem não saber, o que pode afetar os tratamentos convencionais. LINDLY, O.J.; THORBURN S.; HEISLER, K.; REYES, N. M.; ZUCKERMAN, K.E. USA 2018 Parent´s use of complementary Health Approaches for Young Children with Autism Spectrum disorder. Estudo de métodos mistos para entender os fatores que influenciam a decisão dos pais de usar estas abordagens. Dados relatados pelos pais: amostra de 352 crianças com transtorno do autismo em Denver, Colorado; Los Angeles,Califórnia; ou Portland, Oregon.. Conhecer o motivo pelo qual os pais usam abordagens de saúde complementares para crianças com transtorno do autismo é limitado. Entrevistas de acompanhamento feitas com 31 pais Os resultados do estudo podem ter utilidade para os profissionais de saúde que trabalham com crianças com transtorno do espectro do autismo e suas famílias em relação às abordagens de saúde complementares. A decisão pelo uso de CAM é multifatorial. LU, C.; LIU X.; STUB T.; KRISTOFFERSEN A.E.; LIANG S.; WANG X.; BAI X.; NORHEIM A.J.; MUSIAL F.; ARAEK T.; FONNEBO V.; LIU J. China 2018 2017 Complementary and alternative medicine for treatment of atopic eczema in children under 14 years old: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Estudos randomizados sobre CAM em 12 bancos de dados chineses e ingleses desde o início até maio de 2018. Foram incluídas 2233 crianças (<14 anos) diagnosticadas com Eczema atópico, que receberam terapia CAM sozinha ou com medicina convencional. Avaliar os efeitos benéficos e prejudiciais da CAM em crianças com EA abaixo de 14 anos de idade. 24 ensaios clínicos randomizados. Os ensaios testaram 5 tipos de terapias CAM, incluindo probióticos, dieta, biofilme, óleo de borragem e natação. Comparados ao placebo, os probióticos mostraram efeito melhorado para o índice SCORAD . Para sintomas e sinais como prurido, lesões na pele, combinada com os cuidados habituais foi mais eficaz para alívio dos sintomas ≥95 e para ≥ 50% de melhora dos sintomas em comparação aos cuidados usuais. LUCAS S.; LEACH M.; KUMAR, S. Australia 2018 Complementary and alternative medicine utilisation for the management of acute respiratory tract infection in children: A Systematic review. Revisão sistemática e metanálise (PRISMA). Dos 2261 artigos,22 foram incluídos nesta revisão. Responder à seguinte pergunta: Quais tipos de CAM são usados para o manejo da infecção aguda do trato respiratório em crianças? O objetivo da revisão não foi explorar a eficácia dessas intervenções, mas mapear o leque de intervenções de CAM usadas. Uma gama diversificada de intervenções de CAM é usada no manejo de infecção aguda do trato respiratório em crianças, na região sul da Ásia - Índia, Paquistão e Bangladesh. Mais pesquisas são necessárias para entender melhor os tipos de CAM usados entre crianças com esta infecção nos países ocidentais. MAGI, T.; KUEHNI C.E.; TORCHETTI L.; WENGENROTH L.; LÜER, S.; FREI-ERB M. SINGAPORE 2015 Use of Complementary and Alternative Medicine in Children with Cancer: a Study at a Swiss University Hospital. Pacientes com câncer infantil tratados no Hospital Infantil da Universidade de Berna entre 2002 e 2011 (133) pesquisados retrospectivamente sobre o uso da CAM. Este estudo examinou a prevalência e os métodos de CAM, os terapeutas que a aplicaram, razões a favor e contra o uso de CAM e sua eficácia percebida. Como muitos pacientes em oncologia pediátrica usam CAM, é necessária comunicação aberta entre famílias, tratamento de oncologistas e terapeutas de CAM, o que permitirá que os pais façam escolhas com informações melhores e mais seguras sobre o uso de CAM. 24 Autor, ano e País Nome do artigo Desenho do estudo População-foco Objetivos Desfecho principal PORCINO A.; SOLOMONIAN L.; ZYLICH S.; GLUVIC B.; DOUCET C.; VOHRA S. Canada 2014 Pediatric training and practice of Canadian chiropratic and naturopathic doctors: a 2004- 2014 comparative study. As pesquisas foram enviadas para Quiropatas (DCs) e naturopatas (NDs) selecionados aleatoriamente em Ontário, Canadá, em 2004, e uma pesquisa on-line nacional foi realizada em 2014. Os dados foram analisados usando estatística descritiva, testes t, testes não paramétricos e regressão linear Objetivo foi acessar o conhecimento, atitudes e comportamento de Quiropatas (DCs) e naturopatas (NDs) em relação a pacientes pediátricos em suas práticas. A maioria atende bebês, crianças e jovens em busca de uma variedade de condições e problemas de saúde, mas auto- avaliam seu treinamento pediátrico na graduação como inadequado. Os autores incentivam incluir conteúdo educacional maior na grade e sugerem colaboração com instituições com experiência em educação pediátrica para facilitar o desenvolvimento do currículo, especialmente em áreas que afetam a segurança dos pacientes. SCHÜTZE, T; LÄNGKER, A.: ZUZAK, T.J.; SCHMIDT P.; ZERNIKOW,B. B. Alemanha 2016 Use of complementary and alternative medicine by pediatric oncology patients during paliative care. Pais que perderam o filho devido a câncer em North Rhine Westfalia ./ Alemanha. Dois grupos: 1999– 2000 e 2005–2006. Aplicado questionário semiestruturado sobre a frequência do uso de CAM e os tratamentos específicos que haviam sido utilizados. Avaliar a frequência e os tipos de CAM administrados por pais com crianças que sofrem de câncer durante a fase paliativa. O estudo fornece informações sobre o uso de CAM em crianças que sofrem de câncer durante a fase paliativa da doença. Os pacientes que usaram CAM foram para melhorar o sistema. imune, a estabilização física/mental e o enfrentamento da doença. Mais pesquisas são necessárias para investigar benefícios, potenciais efeitos adversos e a potencial eficácia da CAM nessa população. SHEN, J.; ORAKA, E. USA 2011 Complementary and alternative medicine (CAM) use among children with current asthma. Dados da Asthma Call Back Survey (ACBS) 2006–2008. 8447 crianças (elegíveis: 5435 com asma atual). Pesquisa respondida pelos pais Estimar a prevalência de uso de medicina complementar e alternativa (CAM) em crianças com asma atual. Crianças com asma mal controlada são mais propensas a usar CAM;. Também é mais comumente usada por crianças que enfrentam barreiras de custo aos cuidados com a asma convencional. O uso de CAM poderia ser um marcador para identificar pacientes que precisam de educação e apoio ao paciente / família, facilitando assim o controle aprimorado da asma. TOMLINSON, D; HESSER, T.; ETHIER M-C; SUNG L. Canada 2010 Complementary and alternative medicine use in pediatric cancer reported during palliative phase of disease. Os pais elegíveis entrevistados (77) foram identificados pela equipe de atenção primária. Informações demográficas e questionários foram preenchidos pelos pais na presença de uma enfermeira pesquisadora. Avaliar a frequência, tipos e potenciais determinantes do uso de medicina complementar e alternativa (CAM) e a consideração do uso de CAM, coletados de pais e filhos durante a fase paliativa de câncer. Apenas 22 crianças (29%) haviam recebido algum tipo de CAM, com 42 pais (55%) considerando a sua utilização pelo filho. As variáveis de família e doença não foram indicativas do uso de CAM. Os pais com ensino superior e aqueles com um membro da família com câncer eram mais propensos a considerar o uso da CAM. Fonte: Elaborado pelos autores. Dos 21 artigos selecionados verificamos que 16 aplicam-se a condições e patologias específicas, com objetivo, em quase sua totalidade, de avaliar se as práticas integrativas estariam sendo utilizadas, sua amplitude e correspondente avaliação dos resultados. No Quadro 2, verificamos as principais práticas utilizadas. 25 QUADRO 2. PRINCIPAIS PRÁTICAS UTILIZADAS POR PATOLOGIA Patologia/Problema ArtigosRef. Artigo Terapias complementares associadas Condições musculo- esqueléticas 1 (11) Diversas. Enxaqueca 1 (12) Suplementos (massagem, acupressão, acupuntura, reiki, aromaterapia e hipnose são citadas) Asma 1 (13) Técnicas respiratórias, vitaminas e produtos herbais Dor 1 (14) Terapias baseadas em biologia – mais usadas - (terapia de quelação, ervas ou suplementos não-vitaminicos, dietas especiais); Terapias manipulativas ou baseadas no corpo – 2o lugar - (quiropraxia e manipulação osteopática, massagem, terapia craniosacral, técnicas de movimento e exercício), Terapias mente-corpo (biofeedback, hipnose, meditação, imagens guiadas, relaxamento progressivo, yoga, Tai-chi, qi gong) e Sistemas médicos alternativos/técnicas de cura (Acupuntura, Ayurveda, Homeopatia, Naturopatia, curadores tradicionais, terapia de cura energética). Trato respiratório 1 (15) Diversidade considerável nos tipos de CAM utilizados. o uso é muito contextualizado em culturas individuais (Ayurveda sendo utilizada em 65% das áreas rurais da Índia, e CAM sendo utilizado por 70% das pessoas no Canadá, e 49% na França). As terapias baseadas em botânica foram o grupo mais frequente. Nos paises ocidentais, os estudos sobre ervas e suplementos não foram proeminentes, e sim homeopatia e antroposofia. Eczema atópico 1 (16) Probióticos, dieta, biofilme, óleo de borragem e natação, e outros. Sono 1 (17) Diversas. Suplementos foi a mais citada. Otorrinolaringologia 1 (18) Diversas. Artrite juvenil idiopática 1 (19) Quiropraxia, acupuntura, osteopatia, massagem, homeopatia, naturopatia, hipnose, reflexologia, cura espiritual, alterações dietéticas e suplementos, remédios tradicionais e outros. Os tipos mais comuns de CAM foram suplementos, quiropraxia e naturopatia. Autismo 1 (20) Não cita Psiquiatria/Saúde mental (deficit de atenção/hiperativida de, ansiedade e depressão) 2 (21), (22) 1- Práticas meditativas, Yoga, Tai Chi e Qi Gong, relaxamento. Produtos naturais (ervas, suplementos, manipulações dietéticas e probióticos) são a terapia complementar mais comumente usada. 2-dietas especiais, suplementos e terapias de mente-corpo Condições neurológicas 1 (23) Suplementos multivitamínicos, massagem e quiropraxia foram as técnicas mais citadas. Câncer 3 (24), (25) e (26) 1- não cita; 2- homeopatia, e o grupo mais utilizado foi o de terapias botânicas como fitoterapia; 3- não cita Fonte: Elaborado pelos autores. 26 Nestes artigos específicos é possível verificar que alguns comentários são bastante frequentes como: - uma maior utilização de práticas complementares e integrativas muitas vezes é motivada pela insatisfação com as terapias hegemônicas (13, 19); - fatores que influenciam sua utilização incluem: educação e/ou maior renda dos pais, acesso a plano ou seguro saúde privado, dificuldade no pagamento do tratamento convencional, fácil acesso às terapias, uma das pessoas da família com a patologia já utiliza as práticas (11, 13, 14, 22, 23, 26) ; - em relação à prática médica, ou os artigos sugerem a necessidade de uma comunicação mais aberta entre a família, o médico especialista e o terapeuta. Falam também da dificuldade criada pelo fato do médico não questionar a utilização de CAM e/ou do paciente não citar seu uso; a ocorrência destas questões ampliam o perigo de interações medicamentosas ou a utilização/subutilização errônea das terapêuticas (13, 20, 22, 23, 24); - a utilização conjunta das práticas complementares e integrativas com os tratamentos convencionais em muitos casos dão melhores resultados (13, 18, 20, 21, 22, 24); - os pais consideram as práticas em vários níveis: de úteis até significativamente relevantes, mas são unânimes em relatar falta de conhecimento e dificuldade de obtenção de informações, para melhor utilização e confiança (11, 14, 15, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25); - há necessidade de maiores pesquisas em todas as áreas; pois as poucas existentes são com adultos (11, 12, 15, 17, 18, 21, 25). Na última década, a medicina integrativa tem sido considerada um campo emergente, especialmente nos Estados Unidos e abraça as metodologias CAM. Dois artigos comentam sobre isso, principalmente com o objetivo de explicar as atitudes dos médicos frente à pediatria integrativa e as discrepâncias entre as referências e ao efetivo uso delas27,28. Um dos estudos demonstrou que, embora nos Estados Unidos algumas terapias já estejam até integradas em hospitais, existe um grande potencial e interesse em sua implementação nas clínicas pediátricas alemãs, embora isso não seja suficientemente endereçado dentro das instituições educacionais. Isso 27 poderia possibilitar planos de tratamento que assegurassem aos pacientes melhor qualidade de vida e menores custos à saúde pública na Alemanha29. Na população pediátrica, o uso de intervenções pela homeopatia, naturopatia, acupuntura, quiropraxia, suplementos herbais, suplementação vitamínica e mineral, modificações dietéticas e macrobióticas são muito reportadas. A acupuntura emergiu como um método popular para gerenciar sintomas associados com várias condições médicas. Uma das preocupações citadas foi entender as limitações metodológicas associadas com a acupuntura pediátrica. Estudos citam que muitas crianças toleram bem a acupuntura como uma experiencia positiva, entretanto algumas permanecem desconfiadas e por isso muitos pediatras escolhem opções menos invasivas30. Um dos artigos foi considerado muito relevante, já que trouxe a questão do treino pediátrico de quiropatas e naturopatas. Para investigar a demografia, o conhecimento, atitudes e comportamentos dos praticantes de terapias complementares foram conduzidas duas pesquisas (em 2004 e 2014). Todos os respondentes indicaram que tiveram pelo menos um paciente pediátrico por semana. Quase todos os profissionais disseram ter modificado sua abordagem de atendimento para esta idade. Ambos reportaram desejo de uma melhor educação pediátrica durante suas formações, com poucas sendo consideradas adequadas, e também concordaram que, o conforto para tratar crianças aumenta com anos de experiência e com a idade da criança. Maiores pesquisas indicando riscos e benefícios associados com a prática pediátrica de quiropatas e naturopatas são necessárias, assim como o co-gerenciamento de cuidado com outros profissionais, principalmente endereçando maior segurança ao paciente. Uma maior colaboração entre as instituições convencionais e de terapia complementar poderia seria eficiente para compartilhar o cerne do curriculo pediátrico31. Aqui no Brasil, o naturólogo recebe na graduação uma ampla gama de conhecimentos em racionalidades médicas (Ayurveda, Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Botânica, etc), e em outras terapias, excetuando-se Homeopatia e Suplementação alimentar, que é comum em outros países, e ainda há falta de estudos quando o interagente é um menor de idade, talvez pela falta de procura nos consultórios, ou a dificuldade de 28 acesso a essas informações na saúde pública. Seria muito interessante e recomendável uma pesquisa nacional para levantamento da população que conhece e utiliza as práticas integrativas. Nos artigos estudados, são citadas diversas vezes, a dificuldade do médico em saber sobre tratamentos complementares. Os motivos são vários, entre eles: o médico não questiona, o paciente não acha importante citar o uso, os pais não consideram a existência de interações entre medicamentos e produtos naturais, etc. Sendo assim, fica evidenciada a necessidade de implementação de políticaspúblicas envolvendo a educação dos pais e dos profissionais da saúde sobre Naturologia. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Naturologia é uma das práticas incluídas na Política Nacional de Práticas Integrativas (PNPIC) em 27/03/2017, e por ser uma abordagem vitalista, apoia e estimula a capacidade intrínseca do corpo em equilibrar-se dentro de um estilo de vida mais saudável. A abordagem médica hegemônica concentra-se no tratamento e gerenciamento de sintomas isolados. Porém, dentro de uma visão complexa e integrativa, com equipes multiprofissionais, naturólogo e demais profissionais da área da saúde podem, em conjunto, encontrar as bases para uma saúde melhor, que reflitam na infância, adolescência, juventude e idade adulta com maior qualidade de vida. Políticas públicas envolvendo educação dos pais e dos profissionais de saúde são importantes à consolidação das práticas dos profissionais da Naturologia. Há um grande hiato entre o conhecimento das práticas integrativas e complementares e a contribuição que uma abordagem naturológica pode dar em termos de recursos de promoção de saúde, principalmente ao se considerar o grande potencial que cada racionalidade médica traz de específico a cada idade. Vemos que a contribuição dessa pesquisa em relação ao objetivo de fazer um levantamento bibliográfico sobre Naturologia aplicada a crianças e 29 adolescentes resultou num número insuficiente de artigos para a caracterização da atuação dos naturólogos para essa faixa etária, mas, em contrapartida evidenciou a necessidade de novos estudos, dentro de uma perspectiva ampliada das contribuições que o naturólogo pode dar para o ensino e promoção da saúde em seu conceito amplo e como um direito social também neste ciclo de vida específico. Por fim, também nos chama a atenção que as poucas pesquisas encontradas sejam em países da América do Norte, Oriente Médio, Países Baixos, Europa, Ásia e Oceania. Porque razão, países da América do Sul, do continente africano não teriam interesse nesse tipo de pesquisa? Em relação ao nosso país, dada a relevância da Política Nacional de práticas integrativas e complementares, várias delas já incorporadas ao Sistema Único de Saúde, a reflexão é muito pertinente. REFERÊNCIAS 1. Pelizzoli M. Saúde em novo paradigma: alternativas ao modelo da doença. 1a. UFPE EU da, editor. Recife; 2011. 261p. 2. Portella, CFS. Naturologia, transdisciplinaridade e transracionalidade. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares. 2013; 2 No. 3:9. 3. Sabbag, SHF, Nogueira BMR, de Callis ALL, Leite-Mor ACMB, Portella CFS, Antônio RDL, et al. A Naturologia no Brasil: avanços e desafios. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares. 2013; 2(2):11 4. Silva, AEM. Naturologia: um diálogo entre saberes. 1a. São Paulo; 2013. 197 p. 5. Morais NL, Antonio RL, Rrodrigues DMO. Referências em Naturologia: um sistema terapêutico de cuidado em saúde. Unisul E, editor. Palhoça; 2018. 6. National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH). Bethesda(MD). 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Complement Ther Med [Internet]. 2018;41(September):186–91. Available from: https://doi.org/10.1016/j.ctim.2018.09.025 30. Gold JI, Nicolaou CD, Belmont KA, Katz AR, Benaron DM, Yu W. Pediatric Acupuncture: A Review of Clinical Research. Evidence-Based Complement Altern Med. 2009;6(4):429–39. 31. Porcino A, Solomonian L, Zylich S, Gluvic B, Doucet C, Vohra S. Pediatric training and practice of Canadian chiropractic and naturopathic doctors: A 2004-2014 comparative study. BMC Complement Altern Med. 2017;17(1):1– 8. https://doi.org/10.1016/j.ctim.2018.09.025 33 CAPÍTULO 3 Contribuições da Naturologia para a educação em saúde na Casa do Zezinho Vívian Angélica dos Santos Malva1; Daniel Manzoni de Almeida2 1 Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, São Paulo, SP. e-mail de contato: vivian.malva@terra.com.br 2 Docente do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, São Paulo – SP; Mestre e Doutor em Ciências Biológicas. Pós doutorado em Ensino de Biologia/Ciências. RESUMO As relações conceituais entre a Naturologia e a Educação em Saúde apresentam muitas similaridades quando dialogadas em busca de objetivos comuns como a visão transdisciplinar e resgate de saberes tradicionais. A Casa do Zezinho é uma entidade não governamental, que já completou 26 anos de existência na periferia da zona Sul de São Paulo, e desenvolve seu trabalho com crianças e adolescentes que vivem em alta vulnerabilidade social. Diante dessa realidade, a Educação em Saúde é uma das prioridades da Casa. Esta pesquisa- intervenção, utilizando estratégia participativa, propôs verificar como ações integradas, de forma participativa entre o Naturólogo e os educadores contribuem em processos de educação em saúde de forma sistêmica e integral. Palavras-chave: Naturologia, complexidade, integralidade, educadores, vulnerabilidade, participação social. ABSTRACT The conceptual relationships between Naturology and Health Education have many similarities when discussed in search of common goals such as the transdisciplinary view and the rescue of traditional knowledge. Casa do Zezinho is a non-governmental entity, which has completed 26 years of existence on the outskirts of the south of São Paulo, and develops its work with children and adolescents who live in high social vulnerability. Given this reality, Health Education is one of the priorities of this place. This intervention research, using a participatory strategy, proposed to verify how integrated actions, in a participatory way between mailto:%20vivian.malva@terra.com.br 34 the Naturologist and the educators, contribute to health education processes in a systemic and integral way. Keywords: Naturology, complexity, integrality, educators, vulnerability, social participation. RESUMEN Las relaciones conceptuales entre Naturología y Educación para la Salud tienen muchas similitudes cuando se discuten en busca de objetivos comunes como la visión transdisciplinaria y el rescate del conocimiento tradicional. Casa do Zezinho es una entidad no gubernamental, que ha cumplido 26 años de existencia en las afueras del sur de São Paulo, y desarrolla su trabajo con niños y adolescentes que viven en alta vulnerabilidad. Ante esta realidad, la educación en salud es una de sus prioridades. Esta investigación de intervención, utilizando una estrategia participativa, propuso verificar cómo las acciones integradas, de manera participativa entre el Naturólogo y los educadores, contribuyen a los procesos de educación para la salud de una manera sistémica e integral. Palabras clave: Naturología, complejidad, integralidad, educadores, vulnerabilidad. INTRODUÇÃO Ao falarmos da manifestação e desenvolvimento de Projetos Sociais Educativos junto a comunidades de baixa renda, nas cidades brasileiras, vimos que uma parte delas configuram uma área de práticas educativas - a da educação não- formal. Trata-se de um campo que, na atualidade, domina a cena do associativismo brasileiro no meio popular, cria cenários e paisagens urbanas específicas e não são vistas ou tratadas como objeto de estudo na área da educação. As práticas da educação não-formal se desenvolvem usualmente extramuros escolares, nas organizações sociais, nos movimentos, nos programas de formação sobre direitos humanos, cidadania, práticas identitárias, lutas contra desigualdades e exclusões sociais1. 35 A Casa do Zezinho é um exemplo de Educação não-formal. Tem metodologia e um conjunto de ações pedagógicas desenvolvidas pela própria casa2. O naturólogo atua de forma integral, tendo a atenção voltada para vários aspectos que influem na saúde do interagente4. O princípio da Interagência aproxima-se da Educação em Saúde por entender o processo terapêutico como um ato de troca5. Assim, integralidade é um conceito que permite uma identificação dos sujeitos como totalidades, ainda que não sejam alcançáveis em sua plenitude, considerando todas as dimensões possíveis que se pode intervir, pelo acesso permitido por eles próprios. No cuidado de pessoas, grupos e coletividade nós a entendemos ao ver o usuário como sujeito histórico, social e político, dentro de seu contexto familiar, ao meio ambiente e à sociedade na qual se insere. Assim, evidencia-se a importância de articular as ações de educação em saúde como elemento produtor de um saber coletivo e a noção de integralidade como princípio deve orientar para ouvir, compreender e, a partir daí, atender às demandas e necessidades das pessoas, grupos e comunidades num novo paradigma de atenção à saúde. É um espaço de reflexão-ação, fundado em saberes técnico- científicos e populares, culturalmente significativos para o exercício democrático, capaz de provocar mudanças individuais e prontidão para atuar na família e na comunidade, interferindo no controle e na implementação de políticas públicas, contribuindo para a transformação social6. A educação em saúde é um campo multifacetado, para o qual convergem diversas concepções das duas áreas, as quais espelham diferentes compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições político-filosóficas sobre o homem e a sociedade. Verifica-se que, dentre várias, duas dimensõesdessa disciplina se destacam: a primeira envolve a aprendizagem sobre as doenças, como evitá-las, seus efeitos sobre a saúde e como restabelecê-la. A outra dimensão, caracterizada como promoção da saúde pela Organização Mundial da Saúde, inclui os fatores sociais que afetam a saúde, abordando os caminhos pelos quais diferentes estados de saúde e bem-estar são construídos socialmente. Dessa forma, ao conceito de educação em saúde se sobrepõe o conceito de promoção da saúde, como uma definição mais ampla de um processo que abrange a participação de toda a população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco 36 de adoecer. Essa noção está baseada em um conceito de saúde ampliado, considerado como um estado positivo e dinâmico de busca de bem-estar, que integra os aspectos físico e mental (ausência de doença), ambiental (ajustamento ao ambiente), pessoal/emocional (auto-realização pessoal e afetiva) e sócio- ecológico (comprometimento com a igualdade social e com a preservação da natureza)7. O pensar em educação tem como base a complexidade inerente ao homem, e isso nos leva a buscar uma visão transdisciplinar. Assim, a educação permeia todas as áreas podendo unir o conhecimento científico ao conhecimento popular, desperta consciência e autoconhecimento, gerando assim, mais autonomia e crescimento. Isto posto, vislumbrando uma oportunidade para a Naturologia melhor contribuir na construção de uma práxis mais adequada à realidade das crianças e jovens nas oficinas até hoje ofertadas, esta é uma pesquisa-intervenção, utilizando estratégia participativa, cujo público-alvo foram os educadores - aos quais a autora se juntou em duas rodas de conversa. MATERIAL E MÉTODOS A presente pesquisa teve um enfoque qualitativo e foi desenvolvida por meio da pesquisa participativa, que é definida como uma abordagem colaborativa que envolve a todos, participantes e pesquisadores, reconhecendo o que cada um agrega ao processo. Representa uma oportunidade de pesquisa transformadora dando à uma comunidade uma voz genuína8. As pesquisas participativas têm-se mostrado potentes na apreensão dessa realidade complexa, compreendida entre os diversos atores envolvidos, e têm a capacidade de identificar os contextos em que os fenômenos ocorrem. Alia-se a isso, que os saberes do senso comum são determinantes, e isso significa estar aberto a processos que se auto-organizam9. Assim, pode ser entendida como um processo de criação de conhecimento e também de mobilização para a tomada de decisões e novas ações, e neste caso, em específico, contribuir com uma nova visão, que pode transformar positivamente a relação dialógica entre a Naturologia e a Educação. Esta pesquisa foi realizada junto aos educadores da Casa do Zezinho, que atuam diariamente nas diversas salas (separadas por idade), localizada à R. Anália 37 Dolácio Albino, 30, Parque Maria Helena, na extrema zona sul de São Paulo, na Subprefeitura do Campo Limpo. São 7 salas (Salas Violeta, Jeans, Mares e Rios, Matas, Solar, Oriente e Coração). Cada sala possui dois educadores (períodos manhã e tarde), além dos educadores específicos que atendem a todas as idades. A população do estudo foram, no total 22 educadores, sendo 13 participantes nas duas reuniões. Os educadores voltam-se para a formação de habilidades, é uma educação pautada em valores, que movimenta ações coletivas na comunidade Zezinho e se multiplica pelas teias de convivência e relações com todos10. O educador acompanha o grupo em todas as atividades propostas, e também nas oficinas, e é sempre um referencial para a sala em que atua. Foram realizados encontros com os participantes da pesquisa, no formato de rodas de conversa, pautadas nas percepções dos educadores. As rodas de conversa possibilitam o diálogo, trazendo os diversos saberes dos participantes, onde não há verticalização de poder, todos são atores críticos e reflexivos. As rodas produzem conhecimentos coletivos, favorecem o entrosamento e confiança entre os participantes. De acordo com Freire: “exercitaremos tanto mais e melhor a nossa capacidade de aprender e de ensinar quanto mais sujeitos e não puros objetos do processo nos façamos”11 (p.65) Foi utilizada a observação participante, que é uma metodologia adequada para que a pesquisadora pudesse apreender e até intervir nos diversos contextos que se promoveram durante os encontros. Essa metodologia permitiu uma maior aproximação ao cotidiano e seus processos e foi utilizada pela pesquisadora cujo interesse se deu na dinâmica do grupo da forma como acontece, em todas as suas interações: “A observação enquanto técnica exige treino disciplinado, preparação cuidadosa e conjuga alguns atributos indispensáveis ao observador- investigador, tais como atenção, sensibilidade e paciência. Tem por referência o(s) objetivo(s), favorecendo uma abordagem indutiva, com natural redução de “pré-concepções” 12(p. 35). Alguns recursos utilizados durante as reuniões foram: enquetes, rodas de conversa, brainstorming e Carroussel (método ativo para a coleta de informações de forma estruturada que gera uma lista razoavelmente concisa dos pensamentos e respostas dos participantes sobre alguns tópicos específicos, onde eles 38 trabalham em pequenos grupos e têm a oportunidade de sugerir, bem como avaliar colaborativamente as idéias de outros grupos). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número CAEE 12862619.0.0000.5492. Todos os participantes receberam instruções sobre a pesquisa e Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A) utilizados para a anuência de participação dos sujeitos envolvidos. A participação foi voluntária e respeitou os critérios éticos propostos pela Resolução n° 466 de 12 de dezembro de 2012 e pela Resolução n° 510 de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde, que dispõem sobre as diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Na divulgação dos resultados desta pesquisa está mantido o sigilo dos participantes. Considera-se como benefícios e vantagens aos participantes voluntários da pesquisa a possível ampliação e melhor compreensão dos educadores da Casa do Zezinho dos determinantes e principais motivadores para a construção de oficinas para o Projeto Zezinho Zen, bem como a definição e realização das mesmas. Por se tratar de uma pesquisa desta natureza, os resultados obtidos foram compartilhados com os participantes no decorrer do processo e ao término da pesquisa foi disponibilizada aos mesmos uma cópia da dissertação de mestrado. Para efeito de Análise e interpretação dos dados, foi utilizada a Análise de Conteúdo, que Laurence Bardin define como a descrição analítica, apresentando as prováveis aplicações da análise de conteúdo como um método de categorias que permite a classificação dos componentes, procurando conhecer aquilo que está por trás do significado das palavras13. Para isso, a organização da codificação compreende três escolhas: - o recorte: escolha das unidades; - a enumeração: escolha das regras de contagens; - a classificação e a agregação: escolha das categorias14. Para o recorte e enumeração, foram consideradas: a unidade de registro, que é a unidade de significação ou unidade de base, visando a categorização e a contagem frequencial, que no caso foram as falas dos educadores; e a palavra, onde foram retidas as palavras-chave, sendo desprezados os advérbios, conjunções e verbos, para dar origem à nuvem de palavras (Figura 1). Nuvem de palavras é um gráfico digital que mostra o grau de frequência das palavras em um 39 texto. Quanto maior a utilização da palavra, mais chamativa é a representação dessa palavra no gráfico. A partir deste momento, foi codificado o material, de forma a produzir uma categorização, que éuma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação, e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos14. Fazer uma análise temática, consiste em descobrir os “núcleos de sentido”, que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido14.[...] Classificar elementos em categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com os outros. O que vai permitir o seu agrupamento é a parte comum existente entre eles14 (p.135 e 148). RESULTADOS Todas as reuniões foram momentos de muita troca entre os participantes, discussão de conteúdos interdisciplinares e identificação de demandas. As reuniões foram agendadas previamente, de acordo com a disponibilidade do grupo. Foram realizadas duas rodas de conversa (27/09/2019 e 25/11/2019) de aproximadamente 1 hora de duração onde houve a oportunidade de reunir educadores de todas as salas, além dos específicos. Vale lembrar que, o educador de sala acompanha uma turma, e o educador específico tem suas oficinas baseadas na sua área de especialização, como por exemplo: filosofia, educação física, gastronomia, entre outros, e atuam no formato de oficina. Os educadores possuem uma agenda bem reduzida, pois é feita uma única reunião mensal, alternada com o treinamento fornecido pela Prefeitura local - assim, a disponibilidade é a cada dois meses, dentro de um cronograma repleto de atividades. É importante realçar que a escolha de métodos de coleta de dados deveria ser simples, de rápida aplicação, para aproveitar da melhor forma o tempo dos participantes. As ferramentas escolhidas foram: Enquete de opinião: A enquete faz uma pergunta direta sobre um tema que esteja no centro de um debate travado publicamente, portanto quer identificar uma 40 opinião simples e é uma forma de criar interatividade com o público, nos ajuda a situar a temática apresentada15. Roda de conversa: As rodas de conversas possibilitam encontros dialógicos, criando possibilidades de produção e ressignificação de sentido – saberes – sobre as experiências dos partícipes. Sua escolha se baseia na horizontalização das relações de poder. Os sujeitos que as compõem se implicam, dialeticamente, como atores históricos e sociais críticos e reflexivos diante da realidade16. Metodologia Carroussel: As metodologias ativas são uma estratégia de ensino centrada nas pessoas que deixam o papel de receptor passivo e assumem o de agente e principal responsável pela sua aprendizagem. A Metodologia Carroussel busca uma informação estruturada ou atividade de coleta de pensamentos que gera uma lista razoavelmente concisa das respostas dos participantes sobre um tópico específico. Trabalha-se em pequenos grupos para transmitir idéias ou fazer sugestões sobre o assunto em questão, além de ter a oportunidade de avaliar colaborativamente as idéias de outros grupos e usá-las como uma base possível para formar suas próprias respostas às perguntas17. Apresentação dos resultados Na primeira reunião, que ocorreu dia 27/09/2019, vinte educadores estiveram presentes, foram convidados a lerem e assinarem o TCLE. Nesta oportunidade, foi feita uma enquete sobre o que os educadores conheciam a respeito da Naturologia, e o que gostariam de saber mais a respeito da mesma. O quadro 1 mostra as respostas: 41 Quadro 1: Enquete sobre Naturologia Educador Resposta sobre o conhecimento da Naturologia O que deseja conhecer a mais? A Naturologia é a forma de incluir mecanismos naturais no cotidiano (alimentação, higiene, remédio, cosméticos, etc. B Naturologia é o estudo do corpo humano em conexão com ativos da natureza, utilizando produtos naturais para tratamentos corporais como: dores, emoções e/ou incômodos que se apresentam no dia a dia. C É o estudo da medicina alternativa, que acolhe e cuida do ser humano de forma integral. D Para mim é algo ou qualquer coisa relacionando para o bem estar em prol a saúde. E Entendo que Naturologia possa ser uma medicina que cuida do corpo e mente através de meios naturais através da natureza. Forma de acalmar os zezinhos em situações de desconforto, e utilizando esse método como apoio. F Naturologia é um meio natural de cuidar do corpo, alma e mente. Como se inicia o auto-cuidado por meio da Naturologia G A Naturologia é a área do conhecimento e aplicação de produtos e cosméticos essencialmente artesanais e naturais. H Eu acho que a Naturologia é uma ciência onde trabalha nossas capacidades naturais e inerentes, que geralmente estão adormecidas, como por exemplo, a capacidade de encontrar concentração e calma, a partir de nós mesmos. Gostaria de saber de onde surgiu a Naturologia e conhecer e vivenciar mais vezes as técnicas. I É um trabalho que visa cuidar do ser em um todo. Como por exemplo: mente, corpo e automaticamente, espírito. J Naturologia: ciência que estuda o natural do ser humano e da natureza para entender um ser em tudo. Onde encontramos a verdadeira essência da natureza. K Naturologia é aquilo que é voltado para o natural. Trabalha o equilibrio do ser humano Por ter um conhecimento superficial o interesse profundo sempre é importante. L Naturologia é um cuidado com o corpo e a alma. Quando falamos de Naturologia ela engloba que tipo de metodologia? M Área que atua na melhora/bem-estar do indivíduo com métodos naturais Métodos da Naturologia que auxilie na labirintite N Um método de cuidar do corpo e mente buscando recursos naturais Eu pretendo fazer uma formação em acupuntura e gostaria de saber tudo o que envolve a área Fonte: os autores (2019) 42 Esses resultados mostraram que ainda era bem incipiente o conhecimento sobre a Naturologia entre os educadores, e embora houvesse um certo denominador comum sobre o conceito de uso de ferramentas tradicionais e naturais, melhora do bem-estar do indivíduo, cuidado do corpo e da mente, trabalho do equilíbrio, entre outros, também era nítido a necessidade de aprofundar e garantir a abordagem correta e responder aos questionamentos levantados. Passamos então para a apresentação sobre o projeto, para que eles pudessem conhecer os objetivos e principalmente a importância de suas participações; e durante a mesma, tivemos a oportunidade de falar sobre a Naturologia, de forma a fazer o alinhamento adequado e tecer junto com eles a essência do que seria a atuação do naturólogo. Adicionalmente, foi preparado um material sobre a Naturologia que foi entregue aos participantes na segunda reunião contendo os objetivos, propósitos e forma de atuação da Naturologia (Anexo B). No pouco tempo que restava, foi aberto uma roda de conversa para os educadores colocarem suas percepções e ansiedades em relação ao projeto. Na segunda reunião, que ocorreu dia 25/11/2019, participaram quinze educadores, dos quais treze haviam também participado da primeira. Foi aplicada a metodologia ativa Carroussel, conforme Anexo C, para levantamento de percepções, interação entre os participantes e reflexão colaborativa entre os grupos. A observação participante foi direcionada para garantir que houvesse bastante estímulo à conversação, possibilitando oportunidades para que todos os educadores se colocassem. A roda sempre foi feita de forma que todos pudessem ver-se e todos colaboraram para que houvesse o mínimo de interrupções, conforme acordo estabelecido antes da sessão, pelo fato de termos um tempo exíguo para a realização das atividades. Foram observados os comportamentos, gestos, os assuntos de maior interesse e os que provocaram maiores debates. Por meio da observação participante pude perceber que: - Os educadorestêm a percepção da validade do trabalho e querem fazer a experiência em suas respectivas salas. - A interação foi providencial entre eles, permitindo uma discussão amigável e profícua pois, no dia a dia há pouca probabilidade para acontecer. 43 - Para ter mais qualidade e atingir o nível de expectativa dos educadores, seria interessante aprofundar as parcerias externas com naturólogos e poder contar com mais mão-de-obra de voluntariado, uma vez que, muitas atividades dependem de quantidade de profissionais de Naturologia envolvidos. - Algumas reflexões envolvem muitos aspectos e necessitariam de mais encontros para se desenvolverem. ANÁLISE DOS DADOS Na pré-análise do material, as sessões foram transcritas. Segundo a recomendações de Bardin14, foram feitos o recorte e enumeração, conforme descrito no item Metodologia, o que deu origem à nuvem de palavras representativa da fala dos educadores sobre tudo o que foi conversado: Figura 1: Nuvem de palavras representativa das falas dos educadores Fonte: os autores A nuvem de palavras nos permitiu perceber os palavras mais impactantes e também sua frequência. Percebemos que haviam grupamentos de palavras muito significativas, como por exemplo, questões relevantes na sala de aula na visão dos educadores. Assim, foi extraído um subconjunto de palavras seguindo esse critério para avaliar sua representatividade, que foi de aproximadamente 27% das palavras no total: 44 Figura 2: Nuvem de palavras de questões relevantes em sala de aula Fonte: os autores Da mesma forma, também foi possível perceber a preocupação em relação às famílias dos zezinhos e a sua constância na fala dos educadores. Foi feita novamente a extração dos discursos das palavras referentes à essa questão, que aproximadamente representou 20% das mesmas: Figura 3: Nuvem de palavras de questões relevantes à família dos alunos Fonte: os autores 45 Esse trabalho foi importante para que, na etapa seguinte, chegássemos à categorização de necessidades conforme Tabela abaixo: Tabela 1 – Categorização das necessidades NECESSIDADES Preocupações Depoimentos/ falas: 1) ATUAÇÃO NOS PROBLEMAS RELEVANTES QUE INTERFEREM NA ROTINA EDUCACIONAL DOS ZEZINHOS Prevalência de questões sócio-emocionais que refletem nas atividades gerais do grupo E1: “foi notório a mudança deles, não só de falar com a estagiáriab mas também do desenvolvimento de habilidades socio- emocionais: paciência, tolerância, grupos com conflitos entre eles, identificar emoções, saber digerir essa emoção (posso estar com raiva, mas não posso ser violento com meu colega) – todo esse trabalho de Danças Circulares, rodas de conversa, contação de histórias – eles vêm todo dia com propostas diferentes, e querendo trabalhar mais na linguagem das crianças – ajudou muito!” E2: “ pude vivenciar com vocês, particularmente eu amei, o grupo também, eles sentiram bastante a falta de vocês, e eu indico, realmente vi mudança no grupo. Não conhecia, passei a conhecer depois que vocês foram na minha sala – antes era só sementinha (auriculoterapia), as mandalas... mas eu pude ver que é muito mais que isso”. O educador precisa lidar com conteúdos intensos em meio à rotina diária. E5:” eles falam muitas coisas para nós, ficamos com o emocional muito pesado, às vezes a gente chega em casa... como renovar isso que eu ouvi, processar, trabalhar em mim para poder ajudar o outro? A agitação e imediatismo torna as tarefas executadas em pouco tempo um desafio para controle da sala. E8: “Os zezinhos são muito ansiosos, e passam isso para os educadores: querem fazer tudo rápido e de qualquer jeito”. E10:”As questões emocionais ganham um grande impacto, às vezes, na sala porque a criança começa a chorar tempestivamente e a gente não sabe o que está acontecendo, quando entendemos o motivo vemos que há uma grande dificuldade em lidar com uma situação familiar ou algo parecido, mas até descobrir, este fato já movimentou toda a sala, já tirou o foco e tenho que retomar todo o trabalho”. b A fala do educador refere-se à estagiária do curso de Naturologia, aluna de graduação. 46 E2: “eles tem dificuldade em aceitar o novo” A agressividade necessita de atenção E5: “A agressividade é diferente entre crianças e jovens, nas crianças é mais física, nos jovens, mais irônica, mais verbal, mais sutil, criando mais debates e intrigas”. Questões físicas aparecem muitas vezes para mascarar as emocionais. E3: “a gente vem aprendendo a olhar a criança: quais as questões que ela traz? Questões físicas não são só físicas, podem estar ligados a questões emocionais [...] não sei lidar muito com essa situação, trabalho com crianças de 8 a 9 anos, e de repente, um começa a dizer que está com dor de cabeça e isso começa a se repetir várias vezes ao dia, a gente começa a conversar e vê que não está tudo bem, são questões emocionais que ele está passando e ele não consegue expressar, nem entender que aquilo é importante, então ele reclama de uma dor física para justificar algo que ele passa em casa.” Atendimento aos educadores. E4: “o educador precisa estar equilibrado [...] a agitação é tão grande, pela quantidade grande de zezinhos que a gente acaba passando essa agitação, eu tento ficar calmo, tirar essa agitação, quando não está agitado a gente até estranha porque eles estão sempre agitados, quando eles vão para o meu espaço eu preciso dessa calma, desse processo. Eles falam que gostam disso, às vezes eu também não estou calmo, por mais que eu transpareça estar.” 2) ATENDIMENTOS DA FAMÍLIA Atendimentos individuais contínuos feitos pelos educadores à família dos zezinhos podem abrir espaços para a Naturologia. E8: a Naturologia poderia participar para entender a receptividade da família, para no final fazer um convite de uma atividade conjunta, numa abordagem mais integrativa. Assim seria uma possibilidade de entender o contexto familiar auxiliando com nossas técnicas, além de facilitar o contato e informações com outras formas medicinais. E13: Às vezes a família nem sabe, com a correria, que a criança está apresentando alguma mudança de comportamento, além de trabalhar o relacionamento entre a família, por exemplo, a criança com o pai, com a mãe, participando dessa atividade, para a gente ver esse relacionamento, melhorar esses vínculos afetivos familiares também. 47 E6: “fazemos reunião e se concordarem fazemos também reuniões individuais com os pais. O que vocês sugerem? Podemos ver como a família aceita algumas coisas que vocês quiserem fazer, ver se são mais acessíveis. Os pais pedem para colocar as sementinhas.” (auriculoterapia) E7: “Os pais podem não conhecer o trabalho e a Naturologia, poderia rolar uma escrita, uma conscientização para os próprios pais que as crianças vão chegar com as sementinhas ou algo parecido”. E13: “Os pais gostam de participar. É importante para ver o que a família aceita ou não, ver se são mais acessíveis...” Atividades com pais e filhos. E2: Existem vários encontros com a família, em que a gente tenta promover a saúde da família porque acontecem várias atividades, as mães vem fazer artesanato de fuxico, fazer algumas coisas com as crianças, talvez num desses encontros que aconteçam a sua atividade entraria tranquilamente, nossa, tem muito responsável aqui que nunca meditou, no dia da reunião pode fazer uma atividade mais básica... a gente sente que a família gosta de participar e entender esse contexto, e acho que isso é uma falaquase unânime de todas as salas, a família e a casa do Zezinho, pedindo para eles terem esse momento dentro da casa. Uma atividade que eles pudessem fazer, para se sentir um pouco mais próximos da realidade dos filhos. Atendimento aos pais e responsáveis. E6: sei que vocês já fizeram isso no passado. Seria interessante pensar novamente nisso. 3) POSSIBILIDADE DE ATENDIMENTOS ADICIONAIS Atender grupos de casos específicos (todos os espaços juntos) Exemplo: casos de violência (doméstica, de abuso, de separação, de abandono) E7: Já pensaram em criar grupos específicos? Temos várias questões recorrentes que poderiam ser trabalhados em conjunto. Ampliar as técnicas para os educadores, pois assim seria possível realizar em sala em momentos de necessidade. E5: ... e até para a gente, depois que ele fazem a oficina com vocês, que eles trazem: tia, você já fez isso? Também para conhecer, saber o que é, para poder também vivenciar a troca e poder dar continuidade.” 48 Mais atendimentos Ampliar para CJ (Jovens) que não são atualmente atendidos. E12: não somos atendidos pelo Zezinho Zen. E9: todo semestre fico esperando que vocês dêem esse tipo de experiência aos jovens Integrar o trabalho com os temas mensais do Projeto Saúde. E8: Fala com as coordenadoras. Seria importante vocês estarem alinhados com os temas mensais. Fonte: os autores DISCUSSÃO Segundo a OMS18, os determinantes sociais da saúde (DSS) são as condições nas quais as pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem, e o conjunto mais amplo de forças e sistemas que moldam as condições da vida cotidiana. Entre 1991 e 2010, a população residente nesses locais – chamado pelo IBGE de aglomerados subnormais – aumentou em mais de 60%, passando de pouco menos de sete milhões para 11,4 milhões de pessoas, segundo o Censo Demográfico. Tais números só reforçam a importância de se conhecer a realidade de quem vive nesses locais. Precariedade de serviços públicos, violência, medo dos alagamentos, escassos espaços para a cultura e o lazer são alguns dos desafios de quem mora em Capão Redondo, Parque Santo Antônio e arredores. Há uma infinidade de códigos, regras e de gestos a ser decifrados por quem precisa sobreviver neste ambiente. [...] Uma fluidez permanente, uma capacidade de improviso e adaptação absurda são o verdadeiro substrato de quem precisa dar o máximo para garantir o mínimo”19(p.31). Ao frequentar a Casa do Zezinho, ouvimos muitas histórias, e a frase: “você não sabe o que é viver numa favela!”, e ao conhecer um pouco mais do dia a dia de seus moradores, e principalmente, das crianças e jovens que lá crescem, é impossível não admirar o uso da arte, e a expressão de autorretratos que cobrem as paredes da Casa, e permitem o autoconhecimento e a auto aceitação. “A arte é uma das ferramentas mais poderosas para se trabalhar com jovens, crianças e adolescentes. O pensamento artístico, com sua capacidade de criar ligações múltiplas, é fundamental na pedagogia e no processo educacional da Casa do Zezinho.”19 ( p.66) 49 Assim, nestes quase dez anos que acompanho com trabalho voluntariado a Casa, percebo as transformações, as dificuldades, os novos desafios que todos os dias se apresentam, e admiro cada educador, que, ao virar “tio/tia” é totalmente absorvido por este trabalho. Neste processo, nos tornamos melhores por causa da intervenção do que o outro é capaz de fazer, na interface de todas as linguagens. A Naturologia, dentro da Casa do Zezinho, tem trazido profundas reflexões sobre a saúde, de forma multifacetada, buscando entender a criança e o jovem de maneira sistêmica e o que ela busca provocar, dentro da saúde integrativa como possível eixo integrador da pedagogia do cuidado. E isso é uma via de duas mãos, pois, quanto mais compreendemos o modo de vida dos zezinhos e seus estigmas, mais percebemos a premência de somar novas contribuições a algumas já muito reconhecidas como: auto expressão, preparação para o mercado de trabalho, auto reconhecimento e empoderamento pessoal, que a Casa já providencia. Dessa forma, a retroalimentação é frequente nesta parceria. A Naturologia parte de um olhar multidimensional do ser humano e propõe o desenvolvimento e ampliação do autoconhecimento e do autocuidado, e para isso é importante frisar que não é norteada pelas modalidades terapêuticas que utiliza, e sim por um diálogo entre elas20. Nesse sentido, é que percebemos toda a potencialidade existente na inserção do Naturólogo na rotina da Casa do Zezinho: - a infância e a juventude são, efetivamente, períodos imprescindíveis para o estabelecimento de hábitos de vida saudáveis que farão a diferença nas etapas posteriores (higiene do sono, saúde mental, atividades físicas, entre outros). - através do vínculo terapêutico, acolher e atender de forma única as necessidades de cada criança ou jovem nas questões individuais, tratando-as de forma multidimensional. Condições crônicas são altamente favorecidas por estas formas de tratamento provindas de outras racionalidades médicas, e de forma alguma excluem as indicações médicas vigentes - mas proporcionam bem estar, são de fácil acesso e de valores aquisitivos mais populares, sendo possível trabalhar a prevenção e a promoção da saúde. Embora crianças e jovens possam também ter doenças agudas, recuperam-se rapidamente quando recebem o apoio correto, por sua vitalidade natural. Das necessidades levantadas, a primeira categorização diz respeito a atuar nos problemas relevantes que interferem na rotina educacional dos zezinhos, e as 50 questões apontadas nos remetem a certas habilidades não cognitivas (emocional, sentimentos, imediatismo, dificuldade em relacionamentos) e transtornos mentais leves (estresse, ansiedade, hiperatividade, agitação, agressividade – distúrbio de conduta, distúrbios do sono), listados no CID-1021. Durante as rodas de conversa foi muito frequente as questões relacionadas à esse âmbito das habilidades socioemocionais, tanto no suporte às crianças e jovens, como aos próprios educadores. Muitos teóricos que discorreram sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano como Jean Piaget, que colaborou muito com o desenvolvimento cognitivo e suas contribuições para estruturar um currículo escolar; a psicanálise de Donald Winnicott, referente ao papel dos pais na constituição emocional dos indivíduos; os conceitos de Lev Vygotsky sobre a influência da cultura e das interações sociais são alguns exemplos que constroem um referencial psicopedagógico há muito discutido, e que serve como base de novas discussões nesta área de competências e sua inserção na área escolar22. Para diversos autores, as principais responsáveis pelo desenvolvimento socioemocional na infância são as interações com os primeiros cuidadores familiares23. Em um estudo sobre o clima familiar refere-se à percepção dos indivíduos acerca da qualidade dos relacionamentos intrafamiliares, que pode ser avaliado por meio de fatores como coesão, que fala sobre o vínculo emocional entre os membros da família; apoio, que diz respeito ao suporte emocional e material existente; conflito, referente aos sentimentos negativos intrafamiliares que podem gerar ambiente agressivo e conflituoso; e hierarquia, em relação à diferenciação de poder e controle nas relações intergeracionais24. Depois entra a escola. Embora não haja consenso acerca das dimensões que caracterizam o clima escolar, sabe-se que ele é resultado de múltiplos fatores ali presentes, desde os individuais até os sociais, como a qualidade dos relacionamentos interpessoais dos alunos com os pares ou com os professores; entre outros23. Na última década, o aprendizado socioemocional ganhou muito destaque nas pesquisas e diversos programas e estruturas foramcriados para ensiná-los e promovê-los25. No Brasil, há o direcionamento de que todas as escolas deverão contemplar as competências socioemocionais em seus currículos até o final de 2020. Conforme a Base Nacional Comum Curricular26, as habilidades necessitam 51 estar em todas as disciplinas e trabalhadas de forma transversal. No Brasil, as duas linhas teóricas mais difundidas são a desenvolvida pela organização americana Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (Casel), de Chicago, e a do Big Five Factors (Cinco Grandes Fatores de Personalidade). A primeira atua com cinco aspectos: autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável (BNCC). Já a Big Five explora cinco domínios: extroversão, amabilidade, abertura para experiências, conscenciosidade e o neuroticismo27. Embora a implementação destes modelos esteja a cargo de cada instituição, em nossa experiência a Naturologia pode ser uma parceira no desenvolvimento de competências socioemocionais, auxiliar no desenvolvimento de habilidades sócio- afetivas aliadas à educação: - Avaliação do ciclo de vida: as crianças e jovens não são “mini-adultos”, e existem poucas evidências de tratamentos associados a ciclos de desenvolvimento: como perceber se o indivíduo está biologicamente, organicamente preparado para avançar numa fase em que o estímulo ainda pode estar forçando seu dinamismo interno? Como ajudar a criança/jovem a lidar com isso? O naturólogo pode fazer um diálogo muito interessante sobre as etapas de desenvolvimento nas diversas Racionalidades Médicas a que tem acesso no curso de formação; - formação de oficinas direcionadas a competências sócio-emocionais com a utilização de estratégias (brincadeiras, jogos cooperativos, teatro, contação de histórias, rodas de conversa), adequados a cada idade, para dinamizar e trabalhar o auto-conhecimento e as próprias emoções; - capacitar os educadores na replicação de atividades e/ou continuidade das oficinas; - possibilitar a autorreflexão e alavancar um “continuum”, uma sequência no desenvolvimento em que cada etapa melhore a próxima, e isso possa repercutir em cada uma das salas do arco-íris(por idade); ou seja uma sequência de oficinas; - estabelecer a relação de interagência com as crianças e jovens, dando prioridade à autonomia dos mesmos em relação à sua própria saúde, convidando- os à co-participação e co-responsabilidade em suas várias dimensões. Este é um 52 grande diferencial do “ser educador” naturólogo, refletido no vínculo estabelecido pela empatia, pela compaixão. A segunda categoria fala da necessidade de atendimentos à família. Logicamente, ampliar e promover a saúde da família entra numa segunda etapa, mas tão importante quanto a primeira, pois, se a família não suporta novos hábitos, se não discute questões emocionais, se não é capaz de entender o trabalho que está sendo feito com o filho, tudo se perde. “Considerando que a família e a escola compartilham as funções de educação e de socialização na infância, é importante que sejam investigados os efeitos individuais e interativos de diferentes fatores desses contextos para o desenvolvimento das crianças. Destaca-se o papel central dos processos proximais, como os relacionamentos da criança com os pais e os professores, os quais são fundamentais para o desenvolvimento de comportamentos adaptados ou não adaptados, uma vez que possibilitam a interação da criança com o ambiente“23 (pág. 399). A Naturologia, neste contexto, pode auxiliar os educadores a explicar o trabalho para os pais, disseminar e conscientizar a proposta, além da possibilidade de entender o contexto e os padrões familiares. Esse é um aspecto transgeracional que, se não for explorado, reduz a potência do trabalho, fato notado já pela Casa, e é uma dimensão em que o naturólogo pode assertivamente atuar. Além disso, a participação e entendimento dos pais bem como a autorização dos mesmos amplia as possibilidades terapêuticas. A terceira categoria amplia sobremaneira o projeto, e observar as sugestões dos educadores mostra que houve um entendimento mais amplificado da Naturologia (que foi o objetivo da primeira reunião). Notamos que os educadores, em diversas ocasiões sugeriram que fossem também atendidos pelos naturólogos, em busca de maior equilíbrio e qualidade de que é mais voluntários. Além disso, ter a participação dos educadores de referência nas oficinas mostrou-se algo bem importante, pois isso aumenta a aceitação do grupo, além da possibilitar a continuidade do trabalho. A possibilidade de oficina com os pais, bem como o atendimento aos mesmos também pode ser incluída. 53 O atendimento a grupos específicos é uma boa possibilidade que ainda não havia sido pensada, mas que faz sentido ao alargar as perspectivas de que algo acontece também com outras pessoas, de forma a potencializar os diálogos. A capacitação dos educadores é prevista, uma vez que a Naturologia pode sempre agregar novas oficinas, deixando as que funcionarem para serem replicadas. Sempre vale lembrar que a Naturologia busca trabalhar em equipes multiprofissionais. Algumas das propostas aqui explicitadas podem agregar vários profissionais, como psicólogos, sociólogos, entre outros, o que traz possibilidades de estágios colaborativos nos cursos de Bacharelado. CONCLUSÃO Os objetivos colocados para a pesquisa foram adequadamente cumpridos, discutidos com os educadores e trouxeram à luz muitos componentes a serem trabalhados nas próximas etapas. A ampliação do contexto que, anteriormente era somente o levantamento das necessidades, cujo espectro ampliou-se na possibilidade da construção de uma sequência de oficinas mais focadas na capacitação de habilidades socioemocionais, abre novos caminhos de diálogo com a Educação, cuja contribuição para a sociedade é facilitar a entrada do indivíduo na vida adulta com maior autoconhecimento e melhor preparação nas interações socioafetivas. A necessidade de novas pesquisas nesta área é premente, e essas potencialidades abrem novas perspectivas à profissão da Naturologia. Na última reunião com os educadores, várias menções foram feitas às oficinas já realizadas, com boa avaliação por parte deles, embora não tenhamos nenhuma pesquisa que o comprovem. Seria muito interessante, em paralelo às melhorias e implementação de outros tipos de atividades, de acordo com as necessidades agora levantadas, avaliar formas de verificar a efetividade das mesmas. 54 REFERÊNCIAS: 1. Da Gloria Gohn M. Educação não-formal, educador(a) social e projetos sociais de inclusão social. Meta Aval. 2009;1(1):28–43. 2. Antunes, C.; Garroux D. Pedagogia do cuidado: um modelo de educação social. Vozes E, editor. Petropolis, RJ; 2014. 3. Sabbag SHF, Nogueira BMR, De Callis ALL, Leite-Mor ACMB, Portella CFS, Antônio RDL, et al. a Naturologia No Brasil: Avanços E Desafios. Cad Naturologia e Ter Complement. 2013;2(2):11. 4. Rodrigues, Daniel Maurício de Oliveira; Hellmann, Fernando; Daré, Patricia Kozuchovski; Wedekin LM. Naturologia: diálogos e perspectivas. Unisul E, editor. 2012. 5. Silva AEM da. Naturologia: Um diálogo entre saberes. Editora Prismas; 2013. 6. Machado MDFAS, Monteiro EMLM, Queiroz DT, Vieira NFC, Barroso MGT. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS - Uma revisão conceitual. Cienc e Saude Coletiva. 2007;12(2):335–42. 7. Schall VT, Struchiner M. Educação em saúde : novas perspectivas Health education : new perspectives. 1987. 8. Wallerstein N, Duran B. Community-based participatory research contributions to intervention research: The intersection of science and practice to improve health equity. Am J Public Health. 2010;100(SUPPL. 1):40–6. 9. Toledo, Renata Ferraz de; Rosa,Teresa Etsuko da Costa; Keinert, Tania Mezzomo; Cortizo CT. Pesquisa participativa em Saúde: Vertentes e veredas. 1a edição. Saúde I de, editor. São Paulo; 2018. 10. Pedagogia do Arco-íris [Internet]. 2020 [cited 2020 May 1]. Available from: http://www.casadozezinho.org.br/pedagogia-arco-iris.php 11. Freire P. Pedadogia da Autonomia: saberes necessários à prática pedagógica. Terra P e, editor. São Pauko; 1996. 12. Correia M. A observação participante enquanto técnica de investigação. Pensar Enferm. 2009;13(2):30–6. 55 13. Santos FM. Resenha ANÁLISE DE CONTEÚDO: A VISÃO DE LAURENCE BARDIN. Rev Eletrônica Educ [Internet]. 2012;6(1):383–7. Available from: http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/291/156 14. Bardin L. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. 70. E, editor. Lisboa; 2016. 15. Segurado R, Chaia V. Enquetes e sondagens de opinião e a agenda de debates da ciberpolítica. Sociologia. 2020;1–19. 16. Sampaio J, Santos GC, Agostini M, Salvador A de S. Limites e potencialidades das rodas de conversa no cuidado em saúde: Uma experiência com jovens no sertão pernambucano. Interface Commun Heal Educ. 2014;18:1299–312. 17. CCEA. Active Learning & Teaching Method Key Stage 3. 2007;84. 18. OMS. Diminuindo diferenças: A prática das políticas sobre determinantes socias da saúde. 2011;56. 19. Garroux, Saulo; Mendes Jr. L. Santo Antonio das Artes: Zezinho. 1a. Edição. São Paulo: Editora Conteúdo; 2009. 20. Zeff JL. THE CORNERSTONES OF NATUROPATHIC MEDICINE [Internet]. 1986 [cited 2020 Apr 21]. Available from: https://salmoncreekclinic.com/articles-by-dr-zeff/clinical-theory/the- cornerstones-of-naturopathic-medicine/ 21. Portal da Saúde SUS - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde [Internet]. [cited 2020 Apr 10]. Available from: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=060203 22. Abed ALZ. O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para a aprendizagem e o sucesso escolar de alunos da educação básica. Construção Psicopedag [Internet]. 2016; 24(25):8–27. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415- 69542016000100002 23. Petrucci GW, Borsa JC, Koller SH. A Família e a Escola no Desenvolvimento Socioemocional na Infância. Temas em Psicol. 2016;24(2):391–402. http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/viewFile/291/156 https://salmoncreekclinic.com/articles-by-dr-zeff/clinical-theory/the-cornerstones-of-naturopathic-medicine/ https://salmoncreekclinic.com/articles-by-dr-zeff/clinical-theory/the-cornerstones-of-naturopathic-medicine/ http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=060203 56 24. Teodoro MLM, Allgayer M, Land B. Desenvolvimento e validade fatorial do Inventário do Clima Familiar (ICF) para adolescentes. Psicol Teor e Prática. 2009;11(3):27–39. 25. Oberle E, Domitrovich CE, Meyers DC, Weissberg RP. Establishing systemic social and emotional learning approaches in schools: a framework for schoolwide implementation. Cambridge J Educ. 2016;46(3):277–97. 26. Base Nacional de Educação [Internet]. [cited 2020 May 9]. Available from: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno- de-praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais- como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying 27. Passos MF, Laros JA. O modelo dos cinco fatores de personalidade: Revisão de literatura. Peritia. 2014;21(January 2014):13–21. 57 CAPÍTULO 4 PRODUTO TÉCNICO Apresentação: Esta Consultoria Educacional é produto da pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Mestrado profissional em Saúde Ambiental do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, fundamentado no estudo de necessidades da Casa do Zezinho para as oficinas de Naturologia e tem por objetivo ser um guia para os educadores da Casa que quiserem replicar ou dar continuidade a qualquer uma das atividades grupais ali desenvolvidas. 1. Aderência: o produto apresenta origem nas atividades desenvolvidas no projeto de Mestrado, oriundo das linhas de pesquisas/atuação e projetos vinculados a estas linhas do programa de Mestrado em Saúde Ambiental. a. Projeto de pesquisa vinculado ao produto: Contribuições da Naturologia para a educação em saúde na Casa do Zezinho. b. Linha de pesquisa vinculada ao produto: L1 – Direito e educação na interface sociedade, animal e ambiente. 2. Impacto: a. Demanda: espontânea. b. Objetivo da pesquisa: solução de um problema previamente identificado, conforme pesquisa. c. Área impactada: educacional. 3. Aplicabilidade: O produto foi desenvolvido com base nas necessidades levantadas na Casa do Zezinho e portanto, sua aplicabilidade diz respeito à esse local. Porém, sua aplicabilidade é grande face à oportunidade de oferecer consultoria em outra escolas para que possa ser desenvolvido projeto semelhante. 4. Inovação: Inserção do profissional naturólogo nas atividades educativas para integrar o grupo de profissionais que trabalham com questões socioemocionais. 58 OFICINA ZEZINHO ZEN 59 INTRODUÇÃO A qualidade do desenvolvimento de competências socioemocionais de crianças e adolescentes têm sido objeto de muitos estudos nos últimos anos, devido à relevância desse tema, já que o termo está associado à habilidades que se constroem a partir do desenvolvimento de relações interpessoais e afetivas, e que se modificam conforme a interação com o meio social1. Essas competências vêm sendo sustentadas por vários programas e, estão presentes em todas as 10 competências gerais da Base Nacional Comum Curricular2. Existem diferentes estudos e práticas internacionais e nacionais voltadas ao trabalho com competências socioemocionais (por exemplo: OCDE, Casel, Wida, Center for Curriculum Redesign,, entre outros). A CASEL3 (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning), referenciada na BNCC identifica cinco competências essenciais3: Figura 1 – As 5 competências socioemocionais Fonte: www.psicoedu.com.br As oficinas têm sido elaboradas na prática para contextualizar questões trazidas pelos educadores e/ou pelo que vivenciamos no dia a dia com as crianças. Essa vivência tem mostrado que a Naturologia, por ter este olhar multidisciplinar e multidimensional, pode contribuir (e muito) para trabalhar as questões socio-emocionais e isso tem sido feito de forma individual e em grupo e também de forma mista. Este material foi fundamentado no estudo de necessidades da Casa do Zezinho para as oficinas de Naturologia e pretende ser um guia para os educadores da Casa que quiserem replicar ou dar continuidade a qualquer uma das atividades grupais, embora seja essencial a presença dos naturólogos para agregar o atendimento individual que respeita a integridade de cada criança. 60 A Naturologia é uma profissão relativamente nova, e, como resultado deste trabalho, vemos despontar a viabilidade de oferecer consultoria para as escolas onde, depois de uma fase de levantamento de necessidades, será possível implementar soluções dedicadas à realidade da mesma, focada em habilidades sócio-emocionais, favorecendo, em casos específicos em que o atendimento personalizado a pais, alunos e professores seja necessário. Referências: 1. Marin AH, Silva CT da, Andrade EID, Bernardes J, Fava DC. Social-emotional competence: concepts and associated instruments. Rev Bras Ter Cogn. 2017;13(2):92–103. 2. Base Nacional de Educação [Internet]. [cited 2020 May 9]. Availablefrom: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de- praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-como-fator-de- protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying 3. CASEL [Internet]. [cited 2020 May 17]. Available from: https://casel.org/what-is-sel/ http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying https://casel.org/what-is-sel/ 61 Danças Circulares Em 1976, o coreógrafo alemão/polonês Bernhard Wosien visitou a Comunidade de Findhorn no norte da Escócia e, a pedido de Peter Caddy, um de seus fundadores, ensinou pela primeira vez uma coletânea de Danças Folclóricas para os residentes. Bernhard Wosien já havia passado dos 60 anos e, há algum tempo, andava procurando uma prática corporal mais orgânica. Freqüentando grupos de Danças Folclóricas, percebeu que ali estava o que procurava. Vivenciou a alegria, a amizade e o amor, tanto para consigo mesmo como para com os outros, e sentiu que a Dança em roda possibilita uma comunicação sem palavras e mais amorosa entre as pessoas. A Comunidade de Findhorn existia há 15 anos quando Wosien ensinou as Danças pela primeira vez. De 1976 para os dias de hoje, centenas de Danças foram incorporadas ao conjunto do que passou a se chamar “Danças Circulares Sagradas”, Danças circulares por que são dançadas em círculo e “Sagradas” no sentido de respeitar a forma que se dança, pelo respeito pelo povo que a criou. As danças são passadas através de cursos que garantam a veracidade da informação, assim, uma dança aqui no Brasil é ensinada da mesma forma que em qualquer outro país. O símbolo do círculo é de grande importância neste processo e sua forma tem uma razão: desde a antiguidade, o homem usa a forma circular, contínua e perfeita para se expressar. Desde Bernhard Wosien, o interesse pelas danças circulares sagradas tem crescido rapidamente e as danças se multiplicaram e se espalharam por todo o mundo por ser tida por seus praticantes como meditativa, revigorante, pacífica, lúdica e instrutiva, curativa e divertida e é indicada para pessoas de todas as idades. ...O ser humano originalmente dançava com objetivos específicos: - rituais de iniciação de nascimento, puberdade, conexão com a tribo, liderança de uma tribo ou grupo, uma passagem para um novo estágio espiritual; -rituais de casamento, de infertilidade ou constituição de um lar; -rituais periódicos em várias sociedades secretas, adoração de seus deuses e adoração de diferentes aspectos da natureza com os quais seus deuses estavam geralmente ligados; -na guerra, rituais pedindo coragem e força para enfrentar o inimigo, para conseguir vitória, para aplacar seus mortos e, algumas vezes, seus inimigos mortos... O homem sempre dançou em círculos. 62 Impressões relativas aos aspectos grupais: - instrumento facilitador do processo de formação de grupo; - sentido de união e integração; - possibilidade de estabelecer contato com os outros através das mãos e dos olhos; - possibilidade de vivenciar a harmonia grupal através do ritmo e do movimento; - dissolução de fronteiras, na medida em que se compartilham danças de vários países e diferentes culturas; - dança democrática, uma vez que inclui todos, sem distinções; - possibilidade de percepção do grupo por outra via de comunicação; - momento de confraternização: menos competição, mais amizade;... - complementar às técnicas corporais; - promoção da organização interna; - possibilidade de acolhimento do outro, na medida em que não discrimina as pessoas; - possibilidade de bem estar geral e relaxamento. Danças Circulares Sagradas – uma proposta de educação e cura Ana Lúcia Borges da Costa – Editora Triom – 2ª. ed., 2002 Códigos para as marcações das danças D – pé direito; E – pé esquerdo lt - lateral; t - atrás; f - frente xt – cruzar atrás; xf - cruzar na frente j - junto; p - pulo; c - chute pf - apontar na frente; pt - apontar atrás fl - flexionar os joelhos rep-reposição; b - batida H -Homem; M - Mulher lv - levantar; esc-escova bal – balanço; toq – toque cal - calcanhar; g - giro - “nariz” do dançarino (olhando para o centro) Direções: - em direçao ao centro - em direção à direita - giro no lugar 63 Donguri Koro Koro Esta peça de 1921 foi apresentada no Jornal Chuniti “Mundo das canções Infantis” há aproximadamente 15 anos, sendo muito cantada pelas crianças e parece que, dentre os discos de canções infantis, é campeã de vendagem atualmente; a melodia é curta. O primeiro verso “donguri koro koro donburiko”, expressa muito bem a correspondência entre as bolotas que caem rolando das árvores, com a entonação das palavras. As bolotas são frutos de algumas espécies de carvalhos, envolvidos na base da casca em forma de tigela. Antigamente, qualquer família de agricultores possuía um ou dois carvalhos plantados nos jardins da casa e, no outono, seus frutos caíam aos montes. As crianças pegavam os frutos para brincarem, fazendo bonecos (joão bobo), desenhando olhos e boca na bolota, ou, piões, espetando palitos de fósforo ou de dente no meio da bolota. Quando achavam bolotas grandes, escondiam-nas, enterrando em lugares secretos como se fossem tesouros. Donburiko é a onomatopéia (palavra cuja pronúncia imita o som natural da coisa significada), que expressa a queda na água, mas há muitas pessoas que cantam donguriko devido a própria cena da canção em que a bolotinha conversa com o dojo (tipo de peixe). O humor prende o coração das crianças e ela é cantada como se fosse uma peça acompanhada de expressão corporal. Nonomura, Chiekol Canções Infantis do Japão Tokyo – Tokyo Ongakutosho, 1991, pág. 39 Donguri Koro Koro Fonte: Sonia Lima DED EDE DED E Braços/Mãos enrolando g g g j D E D E Braços Elevados g g g j 64 Letra: Donguri koro koro Donguri ko Donguri koro koro yorokonde Oikeni hamatte saa tairren Shibaraky ishoni assondaga Dojou ga detekite kon nitiwa Yappari oyamaga koishiito Botian ishoni assobiamaschou Naite wa dojou wo komarasseta Rolando, Rolando Rolando... felizes Caiu na lagoa. E agora? Brincaram por um bom tempo Apareceu um peixinho: Boa tarde Até que sentiu saudades de casa Garoto, vamos brincar? Chorando, deixou o peixinho preocupado Mando Tiro, Tiro Lá Fonte: Renata Ramos Origem: Brasil Coreografia: Cristiana Menezes – Fevereiro de 2004 Formação: pares (A e B) – A está à esquerda de B, progride na Roda Mãos: em “V” Música: Domínio Público – arranjo de Villa Lobos, cd “Villa Lobos e os Brinquedos de Roda” – Grupo de Percussão da UFMG e Coral Infantil da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes) – BH (MG) Letra: Bom dia Vossa Senhoria, mando tiro, tiro lá Bom dia Vossa Senhoria, mando tiro, tiro lá Láaaaaaaaaaaaaa Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá...... 2X: 2X: Observação: A pessoa “A” fica de frente para a pessoa “B”, de mãos dadas e entra na roda à direita de “B” fazendo 4passos (DEDE) no lugar e “A” 4 passos (DEDE) para progredir. 65 Twee Emmertjes Water Halen (buscar dois baldinhos de água no poço) Fonte: Petrus Schoenmaker Origem: Holanda, Coreografia: tradicional Formação: 6 pares, frente a frente, coluna Originalmente – de um lado homens, de outro, as mulheres) Mãos: direita com direita, esquerda com esquerda (forma de “x”) 3 1 – Ida M M M M M M 1 2 – Volta 2 3 – Vão para o final da fila H H H H H H 3 Parte 1: As mãos dadas na forma de “x” fazem 20 vezes, na altura da barriga, o movimento de serra, um braço estica enquanto o outro encolhe. Parte 2: Tomando como referência a coluna dos homens, os parceiros mais à esquerda, passam no meio da coluna, trotando de mãos dadas, enquanto os outros parceiros batem palmas. Mulher: Mulher (ida) (volta) 8X Homem: Homem Parte 3: Quando o trote acaba, homem e mulher vão para o final da fila, passando pelas costas dos outros pares e reencontrando-se. Parte 4: Mulheres (mãos na cintura) Homens (mãos para trás) 66 Münchnerpolka (Polka da cidade de Münchner) Fonte: Petrus Schoenmaker Origem: Alemanha Coreografia: tradicional Formação: pares, homens de costas para o centro Mãos: dadas, na altura da cintura) H M Os homens fazem os mesmos movi- Bater as palmas das mãos mentos que as mulheres, porém com nas próprias coxas, uma os pés invertidos palma individualmente e três palmas com o parceiro. Homem: Impulsiona a Mulher com a mão direita ao mesmo tempo que pega impulso para encontrar nova parceira H M Os homens fazem os mesmos movi- mentos que as mulheres, porém com os pés invertidos Mulher: Impulsiona o Homem com a mão esquerda ao mesmo tempo que pega impulso para encontrar novo parceiro 67 Aniversário Fonte: Renata Ramos Origem: Brasil Formação: círculo fechado e depois em linha Mãos: em “V” CD: Palavra Cantada – 10 anos 4X: Os próximos passos são feitos num ritmo mais lento e conforme vai para o centro as mãos sobem acompanhando a letra. Quando volta as mãos descem: 68 Meditação A meditação pode ser definida como um meio de autorregulação da atenção, em que busca desenvolver o domínio dos recursos atencionais, através da prática (Danucalov & Simões, 2006) , ou seja, é a auto-observação e percepção racional objetivando a modificação voluntária no estado de consciência (Menezes, Dell’Aglio, 2009). Ao pensar nas práticas meditativas e nos inúmeros benefícios comprovados, surge a questão a respeito da importância da meditação ser inserida desde os primeiros anos de vida. É uma forma de auxiliar no desenvolvimento, buscar ampliar a consciência e facilitar o processo de autoconhecimento. Na segunda infância, a escola é um dos maiores aliados no desenvolvimento da criança. É no ambiente escolar que se inicia de maneira mais incisiva à formação de opiniões, através da necessidade de convívio com os outros, aumento dos desafios diários e a obtenção de mais responsabilidades, tanto dentro de casa, por já estar crescendo, como na escola, com tarefa, atividades, horários, socialização, etc. (Souza, 2007). Ao praticar a concentração no presente e a consciência, as crianças aprendem a fazer uma breve pausa, a tomar fôlego, percebendo o que precisam naquele instante. Isso permite que saiam do piloto automático, identifiquem seus impulsos e aprendam a prestar atenção – de uma forma amorosa – a tudo o que fazem. Os exercícios Mindfulness são adequados para todas as crianças com pelo menos cinco anos, que queiram acalmar o rodamoinho de pensamentos em sua cabeça, aprender a sentir e entender suas emoções e melhorar sua concentração. Também atendem a crianças que têm baixa autoestima e que precisem assegurar-se de que não há problema algum em serem elas mesmas.(SNEL, 2016) Por outro lado, propor uma prática meditativa para o público adolescente caracteriza um movimento contracultura que, na atualidade o padrão tende a um imediatismo da era tecnológica e uma virtualização cada vez maior das relações, o que os leva a uma desconexão com o corpo e com o momento presente e um crescente índice de déficit de atenção e hiperatividade. A meditação pode contribuir para a qualidade de vida e da atenção plenas nos adolescentes. (Assis, 2017) 69 Os exercícios para a meditação podem começar pela atenção com a respiração. Observar o ritmo, atentar para o aqui e agora, é o primeiro passo para desenvolver a concentração. EXERCÍCIO DO BARQUINHO Um dos primeiros exercícios para isso, é o do barquinho: as crianças desenvolvem uma dobradura de barco num papel colorido, deitam-se no chão, e colocam o barco em cima da sua barriga. Este objeto funciona como um meio de percepção dos movimentos da respiração, pois promove atenção, através de uma brincadeira, e é então convidada a encher e esvaziar sua barrica, de forma a fazer ondas, como se o barquinho estivesse em pleno mar. O movimento contínuo e cadenciado reforça a atenção ao foco, e depois pode progredir para o fechamento dos olhos e eventual imagem mental do barquinho, tomando maior consciência do movumento, através da condução. EXERCÍCIO “QUIETINHO FEITO UM SAPO” (Snel, 2016, pág.44) “O sapo é uma criatura incrível. É capaz de enormes saltos, mas também é capaz de sentar muito, muito quieto. Apesar de estar ciente de tudo o que lhe acontece e à sua volta, ele não reage prontamente. O sapo senta quieto e respira, guardando sua energia em vez de se deixar levar por todas as idéias que passam por sua cabeça. O sapo é quieto, muito quieto, enquanto respira. Sua barriguinha de sapo sobe um pouquinho e desce. Sobe e desce. Tudo o que o sapo pode fazer, você também pode. Tudo o que você precisa é de atenção plena. Atenção para com a sua respiração. Atenção, paz e tranquilidade. Referências: ASSIS, Alan da Silva Menezes de. Contribuições da meditação para qualidade de vida dos adolescentes. Cadernos de Naturologia e Terapias Complemetares. São Paulo, v. 5, n. 8, p.1- 9. Jun 2017. DANUCALOV, Marcelo Árias Dias; SIMÕES, Roberto Serafim. Neurofisiologia da Meditação: Investigações científicas no yoga e nas experiências místico-religiosas: a união entre ciência e espiritualidade. São Paulo: Phorte, 2006. 493 p. MENEZES, Carolina Baptista, DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Porque meditar? A experiência subjetiva da praticada meditação. Psicologia em estudo, Maringá, v.14 n.3 p. 565- 70 573, set, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pe/v14n3/v14n3a18. Acesso em 12/05/2020. SNEL, Eline. Quietinho feito um sapo: exercícios de meditação para crianças (e seus pais) 1ª Edição. Rio de Janeiro: Bicicleta amarela, 2016. SOUZA, Karenvan Mierlo dee. Sentar para Meditar: uma prática crescente entre crianças. 2017. Disponível em: https://www.colegioparticipacao.com.br/single-post/2017/03/16/Sentar- para-Meditar-uma-pr%25C3%25A1tica-crescente-entre-crian%25C3%25A7as. Acesso em 12/05/2020. https://www.scielo.br/pdf/pe/v14n3/v14n3a18 https://www.colegioparticipacao.com.br/single-post/2017/03/16/Sentar-para-Meditar-uma-pr%25C3%25A1tica-crescente-entre-crian%25C3%25A7as https://www.colegioparticipacao.com.br/single-post/2017/03/16/Sentar-para-Meditar-uma-pr%25C3%25A1tica-crescente-entre-crian%25C3%25A7as 71 Diário das emoções O Diário das Emoções é um jogo educativo muito interessante para fomentar o desenvolvimento da consciência e conhecimento sobre as emoções. Através dessa simples atividade, podemos ajudar as crianças a reconhecer corretamente a suas emoções diante das mais distintas situações. Essa atividade pode vir super bem para crianças que tenham problemas de conduta e não sabem expressar o que sente. Mas, claro, deveriam todas as crianças ter seu diário emocional, uma vez que, ao refletir sobre os próprios estados emocionais podem desenvolver habilidades que permita o autoconhecimento e uma melhor relação com as pessoas de seu entorno. Passo a passo do Diário das Emoções -recomendada a partir dos 8 anos de idade, quando já tenha desenvolvida a capacidade de escrita e leitura. Para fazer um Diário das Emoções é necessário: • um caderno ou um diário • lápis e borracha • lápis-de-cor e canetinhas Desenvolvimento da atividade: 1. Explique às crianças quais são as 7 emoções principais: alegria, amor, medo, raiva, surpresa, frustração e tristeza. Pode ser que, em um primeiro momento, elas não entendam muito bem o que cada sentimento expressa, mas podemos agregar outros jogos para que elas possam reconhecer cada uma delas. É preciso que saibam que podemos experimentar todas ou várias dessas emoções ao longo do dia. 2. Incentive-as a criar um bonito diário. Com um caderno, peça que elabore uma bonita capa, e que dentro, coloque desenhos e enfeites para que tudo fique do seu gosto. Pelas escolhas de desenhos e cores que faça, você aprenderá muito sobre cada criança. Claro que você também pode lhe presentear com um Diário pronto, mas lembremos que, sempre que possível, devemos incentivar a criatividade da criança. Cada dia, motive-a a sentar-se em um canto cômodo e silencioso da casa e refletir sobre o que passou. Ajude-a fazendo-lhe as seguintes reflexões: . Aconteceu algo de especial no seu dia? Seja bom ou ruim? O quê? . Como você se sentiu? 72 . Pode dizer por quê se sentiu assim? . Como você manifestou o que sentiu? (Por exemplo: se era alegria, saltou e gritou; se era raiva, bateu em algo ou alguém; se era tristeza, chorou…) . Esta emoção a ajudou na situação? Que você pode fazer para mantê-la ou para muda- la e se sentir melhor. 4. O Diário das Emoções, como o nome bem diz, é um diário, logo é importante que sua participação seja oral, ajudando-a a refletir. Deixe a criança expressar por escrito o que sente e não, por isso, ter que mostrar o que escreveu pra ninguém. A final, devemos respeitar a privacidade da criança. 5. Ao final da semana, não deixe de fazer uma reflexão, mostrando à criança como as emoções sentidas e seu reconhecimento, pode ajuda-la na resolução de problemas. Há também a possibilidade de agregar a confecção de um pequeno livro, que será feito a partir de uma folha sulfite A4: https://www.youtube.com/watch?v=YX5jp1hqUG4 Paralelamente a esse trabalho, agregamos vivências com músicas que traziam acesso às emoções básicas para falar sobre o Diário (com as crianças que quiseram compartilhar a experiência). O ATLAS DAS EMOÇÕES é um grande recurso. Segundo o site, Dalai Lama imaginou "um mapa de nossas emoções para cultivar uma mente calma." Ele pediu a seu velho amigo e renomado cientista de emoções, Dr. Paul Ekman, que pusesse em prática a sua idéia, e ele assumiu a criação do Atlas de Emoções juntamente com sua filha, Eve Ekman, a segunda geração de pesquisadores e treinadora de emoções. O Atlas representa o que os pesquisadores aprenderam sobre o estudo psicológico das emoções. É muito interessante explorar a linha do tempo, entender os gatilhos que os acontecimentos geram em termos de emoções, e qual a estratégia para lidar com aquilo. Dependendo do caminho escolhido há uma resposta diferente. Mediante qualquer situação, compreender essa responsabilidade da escolha é um processo. Além disso, eles conectam uma cor para cada emoção, pois a criança tem capacidade de relacionar cores, ela tem uma interpretação lúdica das cores diferentes de nós, dentro do seu próprio vocabulário. http://atlasofemotions.org/ https://www.youtube.com/watch?v=YX5jp1hqUG4 http://atlasofemotions.org/ 73 Jogos cooperativos Em um grupo existem três formas de interação entre os indivíduos participantes: eles podem agir isoladamente, podem competir entre si e podem ajudar uns aos outros. A cooperação é uma ferramenta metodológica valiosa, que não pretende resolver todos os problemas, mas é uma maneira de compreender o mundo e as relações humanas em termos de igualdade, onde as relações que desejamos promover são de participação e ajuda (Fernández-Rio et al, 2015). Os Jogos Cooperativos sempre estiveram, como movimento, muito integrados às Danças Circulares Sagradas. Esses Jogos auxiliam a iniciar a oficina, a trabalhar um conceito, e muitos já são bem conhecidos do público. Elencamos alguns mais utilizados na Casa do Zezinho, mas a quantidade de jogos possíveis é enorme e deve ser explorada. Os jogos têm valores e propósitos variados, assim, é o facilitador quem determina quantos jogos e de quais espécies serão usados, eles podem ser agrupados em categorias de forma a auxiliar na abertura, confiança do grupo, de comunicação, de fechamento, entre outros: a flexibilidade e a criatividade estão em selecionar os jogos de acordo com o grupo e estilo do facilitador. (Platts, 1997) Ao planejar uma sessão de jogos cooperativos é importante ter sempre um jogo de nomes (para que todos se reconheçam pelo nome), desenvolver a confiança e deixar um espaço para comentários. O início, quando se estabelecem os compromissos do grupo também deve ser sempre incluído, bem como as avaliações de local e duração, que influenciam no sucesso da mesma. (Platts, 1997) Referencias: Fernández-Rio, J. Atividades e Jogos cooperativos. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2015. Platts, David Earl. Autodescoberta divertida: uma abordagem da Fundação Findhorn para desenvolver a confiança nos grupos. São Paulo: TRIOM, 1997. 74 CHAMANDO PELO NOME Materiais: Bolas de diferentes tamanhos e texturas Descrição: O grupo forma um círculo. Um dos alunos segura uma bola na mão e diz seu nome em voz alta, para que todos os seus colegas o ouçam, antes de lançar a bola à pessoa que está à sua esquerda. Aquele que recebe a bola faz o mesmo, e assim sucessivamente, até que a bola retorne ao participante que iniciou a atividade. A partir daí, uma vez que os nomes de todos os integrantes já foram ditos em voz alta, ele chama qualquer um do círculo e lança- lhe a bola: aquele que a recebe faz o mesmo, e assim por diante. Variações: Os alunos podem buscar por diferentes formas de lançar a bola com a mão. Além disso num momento posterior na brincadeira, a pessoa que recebe a bola pode também ter de dizer o nome do colega que a lançou. Por fim, em vez de lançar a bola com as mãos, podemos pedir para que os participantes o façam com o pé. Observações: É fundamental que o colega que irá receber a bola esteja em contato visual com aquele que irá lança-la, para evitar acidentes. Se ele não estiver olhando, o outro não poderá lançar a bola. Se por acaso um aluno não lembrar o nome de um colega, ele deve perguntar-lhe antes de chama-lo paralhe lançar a bola. Pode-se também, uma vez construída a rede, explorar essa rede de relações de diversas maneiras e fazer o jogo ao contrário. Fonte: Baseado em Burrington et al. (Fernández-Rio, 2015) PASSANDO O BAMBOLÊ Materiais: Bambolês Descrição: A turma se divide em grupos de cerca de seis alunos. Os integrantes de cada grupo devem dar as mãos, formando um círculo. Coloca-se, então, um bambolê sobre as mãos unidas de dois integrantes de cada grupo. Objetivo: passar o bambolê por todo o círculo de pessoas que o formam sem nunca soltar as mãos e sem deixar o bambolê tocar no chão. Variações: Podemos utilizar dois, três ou quatro bambolês no círculo. Além disso, podemos pedir aos alunos que passem os bambolês com os olhos fechados e que não se comuniquem verbalmente uns com os outros. Outra possibilidade seria posicionar os integrantes voltados para o exterior do círculo, ou fazer com que eles tenham que saltar através do bambolê, ou passá-lo primeiro por suas pernas e depois pelos seus braços. Os bambolês também poderiam ser mantidos fixos, e aí os alunos é que se deslocariam. Posturas específiccas também poderiam ser determinadas para os alunos durante o curso da atividade, como os seguintes: ajoelhados, agachados, sentados ou em diferentes tipos de posição. Observações: Não é permitido tocar os bambolês com as mãos para fazê-los circular. Fonte: Baseado em Burrington et al. (Fernández-Rio, 2015) 75 NÓ GRUPAL Materiais: nenhum Descrição: Os participantes dividem-se em grupos de oito a dez pessoas e formam um círculo. Este jogo é um exercício de cooperação do grupo e de sintonização. Os participantes estendem os braços à sua frente, na altura dos ombros e movem-se no círculo até que todas as mãos se sobreponham umas às outras. O facilitador deve contar até três e aí, as pessoas pegarão duas mãos diferentes nas suas. Certifiquem-se que elas não são da mesma pessoa e, de preferência, que não sejam das pessoas ao lado. Neste momento, os participantes formaram um nó grupal. O objetivo é desentranhar o nó sem soltar as mãos. É importante a sintonia mútua e que os participantes encontrem a melhor forma de desemaranhar o grupo. (Plattz, 1997) Variações: Os participantes posicionam-se formando um círculo de oito pessoas, de modo que todos tenham alguém localizado bem à sua frente. Todos estendem a mão esquerda em direção ao centro do círculo e pegam a mão esquerda daquele que está à sua frente. Em seguida, fazem o mesmo com a mão direita, mas com outro integrante do círculo. O objetivo é desfazer o nó sem soltar-se em momento algum, até formar um círculo normal ou dois círculos separados. Fonte: Baseado em Burrington et al. (Fernández-Rio, 2015) Observações: É necessário que o círculo seja formado por um número par de pessoas. Além disso é importante tomar cuidado e tratar com carinho os colegas na hora de desfazer o nó. SIGA MEU PASSO Materiais: Aparelho de som Descrição: Essa atividade cooperativa possui várias etapas. Na primeira, cada participante movimenta-se livremente ao ritmo de uma música, porém sempre da mesma forma. Na segunda etapa, os participantes formam duplas e cada um ensina a seu colega a forma que ele escolheu para movimentar-se. Na terceira etapa, duas duplas se juntam e formam um quarteto, repetindo o processo anterior. Assim, ao término dessa etapa, cada quarteto possui quatro movimentos ou passos que se adequam à música, alguns dos quais, inclusive, podem estar repetidos. Na quarta etapa, cada quarteto seleciona um desses passos, tendo como única condição que todos os integrantes do quarteto sejam capazes de realiza-lo. Uma vez selecionado, o quarteto ensaia seu passo para que todos o executem ao mesmo tempo. Por fim, eles apresentam o passo para o restante da turma. Observações: É preferível usar fragmentos musicais em compassos binários. Fonte: Experiência passada por Alfredo Larraz (Fernández-Rio, 2015) 76 CHUVA Materiais: nenhum Descrição: Este é um bom jogo para acalmar um grupo hiper-ativo e muito energizado). Os participantes sentam-se em círculo, em silêncio. Esse jogo chama-se “chuva” por causa dos sons criados ao se jogar. É um jogo não verbal, portanto, não deve haver falas. O facilitador, ao se virar lentamente no círculo, vai fazer um gesto. Ao fazer um contato com os olhos de outra pessoa, essa começa a repetir o gesto e continua a fazê-lo até que um novo contato de olho-no-olho seja feito e o gesto mudado. Na primeira vez no círculo, o facilitador deve bater um dedo indicador no outro, devagar. Na próxima vez, bate dois dedos de uma mão com dois dedos da outra; depois três dedos de uma mão com três dedos da outra; então quatro dedos de uma mão com quatro da outra; depois estale os dedos, depois bata ambas as mãos. A cada nova volta no círculo, aumente o ritmo e a intensidade do som, simulando assim, mais e mais, a chuva. Observações: após completar a sequencia comece a fazer o contrário, isto é, vá diminuindo o ritmo e o som até que, na última voltam todos permaneçam em silêncio, significando que parou de chover. Para concluir, convide os participantes a discutir a experiência. Fonte: Plattz, 1997. JOGO DE APRECIAÇÃO Materiais: novelo de lã ou linha Descrição: O círculo de apreciação não deve ser usado se o grupo não se conhece, portanto, evita-se de usá-lo em etapas iniciais com o grupo. Este jogo reserva um tempo para que cada membro possa receber dos outros observações ou qualidades que vêm do coração, assim as afirmações devem ser genuínas e sinceras, fruto da experiência vivida com a pessoa. A pessoa apreciada simplesmente recebe os elogios com um “muito obrigado”. O grupo senta- se no chão, formando um círculo. Cada participante tem a oportunidade de fazer a apreciação de um outro. O facilitador segura firme o fio da meada em uma mão, enquanto segura o novelo na outra. Seleciona então, uma pessoa do círculo e joga o novelo de lã para essa pessoa, que a pega e escuta uma pequena apreciação do facilitador. Por exemplo: “eu aprecio o modo como você escuta os outros”, ou pode também ser somente uma palavra, uma virtude, uma qualidade. A pessoa que foi apreciada prossegue segurando o fio com uma mão e jogando o novelo para outra pessoa no círculo da mesma forma. Este procedimento continua até que todas as pessoas sejam apreciadas. Assim, enquanto os participantes continuam a segurar sua ponta do novelo, o facilitador ressalta a rede de interconexões formada pela expressão da apreciação, aceitação e respeito mútuos. Fonte: Plattz, 1997 77 ESPELHO Materiais: Aparelho de som Descrição: Escolha um par que você não conhece muito bem. Decidam quem será “A” e “B” e fiquem de pé, um de frente para o outro. Este jogo é não-verbal, portanto vocês devem permanecer em silêncio durante o todo o exercício. Quando a música começar, ”A” vai lentamente movimentar os braços e as mãos em gestos suaves; depois de algum tempo começa também a movimentar o tronco, a cabeça e o resto do corpo, da maneira que desejar. “B”, simultaneamente, vai espelhando as ações de “A”, ao mesmo tempo. Comecem lentamente até estabelecerem um bom contato. A idéia não é pregar truques no outro, mas sim, estabelecer um fluxo criativo entre os dois. Após 2-3 minutos, o facilitador instrui para que invertam os papéis. Após 2-3 minutos, o facilitador diz: “agora nenhum de vocês pode liderar o tempo todo. A iniciativa deve surgir de uma sintonização mútua, passando de um para o outro, conforme perceberem a hora certa de mudar”. Após 2-3 minutos, o facilitador diz “acerquem-se de mais dois participantes com os quais sintam harmonia de movimentos. Gradualmente misturem-se com outros grupos até que o grupo todo se junte em um círculo, sempre se movendo juntos e harmoniosamente. Ao final, os participantes devem ser convidados a falar sobre a experiência. Fonte: Plattz, 1997HISTÓRIA EM GRUPO Materiais: nenhum Descrição: Escolha um título ou tema para uma história. É possível também combinarem a forma (conto, mistério, ficção científica, ou qualquer outra forma literária). Sentem-se em círculo. O propósito deste jogo é vocês se sintonizarem para criar uma história em grupo. Uma pessoa começa dizendo duas ou três frases, podendo até interromper uma frase na metade, se quiser. A pessoa seguinte do círculo continua dizendo mais duas ou três frases e por aí segue o jogo, com cada pessoa acrescentando dados à história até chegar ao fim. Dependendo do grupo, pode-se dar duas a três voltas no círculo até que alcance uma conclusão. Para finalizar, convide os participantes a falar sobre sua experiência. Fonte: Plattz, 1997 78 Atividades meditativas individuais Algumas meditações ativas são muito interessantes para a concentração, foco, persistência e auto-centramento. São atividades individuais, mas que podem adquirir um maior sentido social quando a sequencia da mesma é a troca entre os participantes ou a exposição dos trabalhos. MANDALAS DE LÃ Materiais: palito de sorvete ou palito de churrasco e lãs de diversas cores Descrição: Tecer mandalas https://www.youtube.com/watch?v=__WyYNiu_-A PULSEIRA DA AMIZADE Materiais: Roda de papelão e linhas Descrição: https://www.facebook.com/watch/?v=831045103952519&external_log_id=d674ea68007b7d0 f5223370203dbbd05&q=craft%20say%20hello%20to%20the%20hip Após a confecção há a troca de pulseiras pela sala em pares, ou em outro estilo de trocas. DOBRADURAS (ORIGAMI) Materiais: Papéis de diversas cores Descrição: https://br.pinterest.com/gripeixotoo/dobraduras-de-papel/ As dobraduras devem ser escolhidas conforme o tema que se quer trabalhar. https://www.youtube.com/watch?v=__WyYNiu_-A https://www.facebook.com/watch/?v=831045103952519&external_log_id=d674ea68007b7d0f5223370203dbbd05&q=craft%20say%20hello%20to%20the%20hip https://www.facebook.com/watch/?v=831045103952519&external_log_id=d674ea68007b7d0f5223370203dbbd05&q=craft%20say%20hello%20to%20the%20hip https://br.pinterest.com/gripeixotoo/dobraduras-de-papel/ 79 Material elaborado por alunos e professores do Mestrado Profissional em Saúde Ambiental da FMU 80 CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES A proposta inicial deste trabalho foi fazer um levantamento, junto aos educadores da Casa do Zezinho, das principais necessidades, enquanto atuantes que somos na oficina de Naturologia e, ao mesmo tempo, explorar a potencialidade da profissão na área de educação em saúde para crianças e jovens. Em contrapartida, ter a oportunidade de divulgar corretamente o que faz e como trabalha o naturólogo, já que observamos certas distorções que são normais de ocorrer pela falta de conhecimento e pelo fato de, na maioria das vezes, as pessoas confundirem a profissão com as técnicas. Foi feita extensa pesquisa de revisão com o objetivo de entender contribuições da Naturologia para esta faixa de idade, e tudo o que encontramos foram pesquisas sobre o uso ou não das práticas integrativas e complementares e fatores que geraram o interesse dos pais em sua utilização. As racionalidades médicas têm suas próprias formas de olhar esses ciclos de desenvolvimento, mas não existem estudos contemplando essa faixa etária, dentro de uma visão naturológica. De qualquer forma, os artigos encontrados mostram que é objeto de investigação saber o quanto essa busca cresce e seus motivos. Vale lembrar que, nos Estados Unidos, o uso de práticas integrativas e complementares (PIC) por menores de idade gerou um suplemento infantil na Pesquisa Nacional de Saúde. Seria muito interessante ter este tipo de investigação em nosso censo brasileiro, para sabermos entre adultos, jovens e crianças, quem se utiliza das PICS, suas motivações e resultados. Além disso, também seria de grande valor incrementar o currículo das graduações com melhor educação pediátrica e juvenil. Chamar a atenção dessa população ao atendimento naturológico significa trabalhar a promoção da saúde em diversos níveis para o futuro jovem/adulto, o que irá se refletir em sua vida pessoal, social e ambiental. A pesquisa com os educadores foi bastante enriquecedora, na busca das necessidades e problemas relevantes que interferem na rotina do dia a dia, que já estão auxiliando na reestruturação e melhora das oficinas oferecidas. Identificamos três grandes prioridades ligadas à desenvolvimento de competências socioemocionais, os possíveis desdobramentos junto às famílias, e a outras inovações sugeridas para a expansão do projeto. Novas pesquisas poderão ser feitas para avaliar as oficinas. 81 Dessa forma, entendemos que o Naturólogo pode ser um parceiro junto à Educação e pode, inclusive, oferecer consultorias, voltadas às necessidades de cada escola, e colaborar com esse olhar multidimensional, trabalhando individualmente ou em grupo com crianças e jovens para a promoção da saúde. Sendo assim, entendemos que nossa atuação no período de desenvolvimento desta dissertação foi adequadamente enriquecedora para todas as pessoas envolvidas e adequada no sentido de atender os anseios em requisitos de produção científica. 82 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa “Contribuições da Naturologia para a educação em saúde na Casa do Zezinho”, do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental do Complexo Educacional Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. A pesquisa tem por objetivos: analisar as contribuições da Naturologia em processos de educação em saúde na Casa do Zezinho (ou em contextos parecidos com a Casa), visando estabelecer possibilidades de melhoria com a atuação do profissional Naturólogo; identificar os problemas relevantes de saúde (de forma integrativa) que interferem na rotina educacional dos zezinhos; identificar com os educadores da Casa do Zezinho, percepções, dificuldades, necessidades, barreiras e principais anseios quando à saúde (física, emocional e mental) dos zezinhos e quanto à prática da Naturologia e desenvolver um processo de construção de oficinas, unindo o saber dos educadores e dos naturólogos, em busca de soluções para as questões identificadas, utilizando abordagens educacionais na saúde integrativa. Justificativa para a realização da pesquisa, assim como possíveis benefícios e vantagens ao participante voluntário: conhecer melhor a contribuição da Naturologia, contribuir para a melhoria das ações de promoção e educação em saúde para os zezinhos e desenvolver conhecimentos para a replica de oficinas que serão desenvolvidas pelos naturólogos. Metodologia: a sua participação nesta pesquisa será durante a realização de encontros com a pesquisadora responsável e demais educadores, no formato de roda de conversa, que se desenvolve como um grupo de discussão, por meio da livre manifestação da opinião de todos os participantes. Você poderá ter participação nas gravações em video e áudio que possam ser realizadas durante a execução dos encontros. Pode ser que, nestes encontros, haja riscos de constrangimento pessoal e/ou desconforto ao responder as questões propostas para reflexão e discussão durante as atividades. Portanto, caso não se sinta confortável, poderá se negar a participar, sem precisar de justificativa para isso. Nesse caso, as informações, sejam em video ou áudio, serão apagadas na frente do participante, com uma testemunha. As informações serão tratadas com sigilo, ou seja, não há riscos de os participantes serem identificados. Por se tratar de uma pesquisa participativa, os resultados obtidos serão compartilhados com os participantes no decorrer do processo. Ao término da pesquisa será disponibilizada aos participantes cópia da dissertação de mestrado. Ciente dasua participação, você não terá compromisso financeiro, seja para receber ou efetuar qualquer pagamento, seja com os pesquisadores ou instituições participantes desse projeto, representadas pelo Complexo Educacional Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. Caso necessite de qualquer esclarecimento você pode entrar em contato com Vívian Angélica dos Santos Malva, responsável por essa pesquisa e vinculada ao Complexo Educacional Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, Programa de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental, por meio do telefone: 11-98153-8835 ou ainda pelo e-mail: vivian.malva@terra.com.br A pesquisa será realizada de acordo com os requisitos da Resolução CNS Nº 466/2012 e de suas complementares. Caso manifeste seu livre consentimento em participar desta pesquisa você receberá uma via deste TCLE, após ser orientado(a) quanto ao conteúdo de tudo aqui mencionado e tendo compreendido a natureza e objetivo desse estudo. ________________________________ __________________________________ Nome do participante da pesquisa Assinatura do participante da pesquisa RG: Vívian Angélica dos Santos Malva __________________________________ Nome do pesquisador responsável Assinatura do pesquisador responsável 83 ANEXO B – POSICIONAMENTO SOBRE O QUE É NATUROLOGIA E RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DOS EDUCADORES Definição: Naturologia é o conhecimento da área da saúde embasado na pluralidade de sistemas terapêuticos complexos vitalistas, que parte de uma visão multidimensional do processo de saúde-doença e utiliza da relação de interagência e de práticas integrativas e complementares no cuidado e na atenção à saúde. Vitalismo: o organismo é mais do que a soma das partes e seu funcionamento é regido pela força vital, responsável pela integridade e harmonia do organismo. O objetivo é promover, manter e recuperar a saúde, através da estimulação e suporte à inerente energia do corpo, para a melhoria da qualidade de vida, harmonia e equilíbrio do ser humano com o meio em que vive. A Naturologia utiliza-se da Medicina Tradicional Chinesa, Medicina Ayurvédica, Medicina botânica (fitoterapia, aromaterapia e terapia floral), massagem, práticas de corpo e mente, iridologia, arte integrativa, fenomenologia, entre tantas outras técnicas; o diferencial deste profissional é fazer um diálogo entre elas, possibilitando a escolha mais adequada ao momento do interagente. Na Naturologia a pessoa não é um paciente, ela é chamada de interagente, porque é convidada a fazer parte do processo. O que você gostaria de saber sobre a Naturologia??? - Eu gostaria de saber como se inicia o auto-cuidado por meio da Naturologia. Essa é uma ótima pergunta. Numa consulta, é feita a anamnese da pessoa, e é montado um plano terapêutico. Logicamente, como a pessoa é convidada a fazer parte do processo, para cada caso são elencados possíveis auto-cuidados que se adequem às necessidades entre uma consulta e outra: pode ser um banho aromático, uma auto-massagem, um chá específico, uma prática corporal chinesa, um alongamento, etc. Ela também é convidada a observar hábitos, alimentação e sensações/sentimentos. - Gostaria de saber de onde surgiu a Naturologia e conhecer e vivenciar mais vezes as técnicas. A maioria dos princípios e teorias da Naturopatia tiveram origem na Europa nos séculos XVI e XVII, mas as raízes filosóficas remontam aos gregos (Tales de Mileto, Sócrates, Hipócrates, Platão, Aristóteles, dentre outros); indianos, chineses, árabes, alemães. Já o berço da Naturopatia moderna é os Estados Unidos da América, principalmente devido aos feitos de Benedict Lust no início do século passado. No Brasil, o termo Naturologia foi utilizado por acharmos que ela estaria mais voltada para 84 a saúde e utilizava aspectos voltados para a educação e o ambiente. Já a Naturopatia era utilizada com foco na doença, pois o termo já trazia este aspecto da palavra Pathos, que significa sofrimento e muitos interpretam erroneamente como doença, porém, Pathos remete também à paixão, excesso, passagem, afetividade, sentimento. Artigo: https://www.researchgate.net/publication/321813221_Afinal_Naturologia_e_Naturopatia_sao_cois as_distintas_ou_similares - Quando falamos de Naturologia ela engloba que tipo de metodologia? O profissional naturólogo utiliza muitas técnicas, conforme explicado acima. Não existe uma metodologia única. Os egressos partem para várias especializações, mestrados e doutorados e acabam por ter uma individualidade no atendimento. O principal é sempre olhar a pessoa de forma integral. - Métodos da Naturologia que auxilie na labirintite Existem muitas formas de tratamento para labirintite, pois cada racionalidade médica vitalista tem uma forma de explica-la e consequentemente, de tratá-la. Assim, deve ser analisada a situação atual do interagente, sua multidimensionalidade e aí é traçado o plano terapêutico adequado. Eu pretendo fazer uma formação em acupuntura e gostaria de saber tudo o que envolve a área A formação em Medicina Tradicional Chinesa normalmente dá muitas ferramentas pois tem: 1) Uma doutrina médica 2) Um sistema de diagnóstico 3) Um sistema terapêutico 4) Uma dinâmica vital 5) Uma morfologia Essas são as 5 dimensões de uma racionalidade médica, segundo Madel Luz. Normalmente a formação em MTC dura em torno de 2 anos e eu sugiro que você busque um lugar que tenha uma linhagem e um estágio adequado. A Naturologia estuda outras racionalidades além da MTC. Estou à disposição para quaisquer dúvidas adicionais. Vívian Angélica dos Santos Malva https://www.researchgate.net/publication/321813221_Afinal_Naturologia_e_Naturopatia_sao_coisas_distintas_ou_similares https://www.researchgate.net/publication/321813221_Afinal_Naturologia_e_Naturopatia_sao_coisas_distintas_ou_similares 85 ANEXO C – METODOLOGIA ATIVA CARROUSSEL As pessoas foram divididas em grupos de 4 a 5 pessoas, por opção dos mesmos, cada grupo com educadores de determinada faixa etária; A cada grupo foi dada uma cartolina com uma questão relevante ao assunto do dia (levantamento de necessidades dos zezinhos); Cada grupo trabalhou dentro de um limite de tempo (5 minutos) para escrever suas respostas, idéias e pensamentos sobre a pergunta, cada um com uma caneta de cor diferente para os identificar; Depois desse tempo cada grupo migrava para outra cartolina com outra questão diferente; Cada grupo foi convidado a rever a resposta do(s) grupo(s) anterior(es), se concordassem, eles faziam uma marca na resposta com sua cor de caneta, se discordassem, poderiam agregar com a justificativa da negação, além de incluir suas próprias respostas; O processo continua pelo carroussel, até que todos tenham passado por todas as cartolinas; Ao final foi feito o debriefing. As perguntas foram: 1) A casa do Zezinho tem alguma oficina focada na promoção de saúde? 2) Existe um projeto de Educação em Saúde na Casa do Zezinho? Como a Naturologia pode contribuir? 3) Quais problemas relevantes de saúde (de forma integrativa) interferem na rotina educacional dos zezinhos? 4) Quais as percepções, dificuldades, necessidades, barreiras e principais anseios quando à saúde (física, emocional e mental) dos zezinhos em relação à prática da Naturologia? 5) O que você acha que poderia ser feito para melhorar a atuação da Naturologia aqui na casa? 6) Você acha que a abordagem da Naturologia deveria incluir a família dos Zezinhos? Como?