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SUMÁRIO 
2 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE ....................................... 4 
3.1 Saúde no período colonial .................................................................... 6 
3.2 Santas Casas de Misericórdia .............................................................. 7 
3.3 Institucionalização da medicina no Brasil imperial ............................... 8 
3.4 Novas diretrizes para saúde: O governo Vargas (1930-1945) ........... 11 
3.5 A criação dos Iaps .............................................................................. 13 
4 ARTE DE CURAR NO SÉCULO XIX ........................................................ 14 
4.1 Conflitos entre a medicina e outras práticas de cura .......................... 16 
4.2 Curandeirismos .................................................................................. 17 
4.3 Barbearias (sangradores) ................................................................... 18 
5 SAÚDE PÚBLICA ..................................................................................... 20 
5.1 A trajetória do médico dedicado à ciência .......................................... 22 
5.2 Epidemias e Saúde pública no século XIX ......................................... 24 
5.3 Saneando a cidade: Políticas sanitárias e controle urbano ................ 28 
6 POLÍTICAS PÚBLICAS: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE PÚBLICA E 
SAÚDE COLETIVA ................................................................................................... 29 
6.1 Objetos de trabalho da saúde pública e da saúde coletiva ................ 31 
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 34 
 
 
 
 
 
 
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1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE 
 
Fonte: bit.ly/3LvfMyY 
A concepção de saúde é influenciada pelo contexto social, econômico, político 
e cultural. Em outras palavras, o significado de saúde não é universal, pois é um 
conceito que varia de acordo com a época, local e classe social. Além disso, também 
depende de valores pessoais, científicos, religiosos e filosóficos. O mesmo ocorre ao 
definir doença. O que é considerado uma doença pode ter várias interpretações e 
variações (SCLIAR, 2007). 
Estudos paleontológicos demonstram que as doenças, especialmente as 
infecciosas, são companheiras antigas da humanidade. Mesmo as múmias egípcias 
apresentam sinais de doenças, como no caso da varíola do Faraó Ramsés V. Desde 
os primórdios, os seres humanos têm tentado enfrentar essa ameaça que foi 
conceituada como doença. No contexto religioso, a origem do conceito se baseia no 
princípio de que a doença resulta da ação de forças reguladoras no organismo devido 
ao pecado ou maldição. 
Para os antigos hebreus, a doença não era necessariamente causada por 
demônios ou maus espíritos, mas, em qualquer caso, representava um sinal da ira 
divina diante do pecado humano (SCLIAR, 2007). 
 
 
5 
 
A medicina grega desempenha um papel crucial no tratamento das doenças. 
Na mitologia grega, há vários deuses relacionados à saúde. Além de adorarem 
Asclépio ou Esculápio (uma figura histórica na Ilíada), deus da medicina, os gregos 
também reverenciavam duas outras deusas: Hígia (Saúde) e Panacéia (Cura). Hígia 
era uma manifestação de Atena, a deusa da razão. Como o nome sugere, sua ênfase 
enfatizava a importância dos hábitos de higiene. Embora Panacéia tenha surgido com 
a ideia de curar tudo (um conceito mágico ou religioso), é importante observar que, 
para os gregos, a cura era alcançada através do uso de plantas e métodos naturais, 
e não apenas por meio de rituais (NOVAES, 2016). 
A palavra "saúde" em português deriva do latim "salus" (salutis), que significa 
salvação, preservação da vida, cura e bem-estar. Em francês, "santé" (saúde) tem 
origem em "sanitas" (sanitatis), que deriva do latim "sanus", significando "são" ou 
"aquele que possui saúde". Como mencionado anteriormente, na concepção grega, a 
higiene está relacionada à deusa Hígia, conhecida como Salus pelos romanos, a 
deusa da Preservação da Saúde, Limpeza e Higiene. 
Existe um plural idiomático para o termo saúde, o que reforça a ideia de que 
ela representa a afirmação positiva da vida, o estado positivo de estar vivo. Portanto, 
pode-se dizer que a saúde, em sua origem etimológica, é um "estado positivo de 
viver", aplicável a todos os seres vivos, especialmente aos seres humanos 
(PEREIRA,2018). 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, evita definir o conceito de 
saúde, porém afirma que "a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo 
medidas políticas, sociais e respiratórias que visem à redução do risco de doenças e 
outros agravos, além do acesso universal e igualitário às ações e serviços para 
promoção, proteção e recuperação da saúde". Esse é o princípio que orienta o 
Sistema Único de Saúde (SUS) e contribui para o desenvolvimento da conquista dos 
brasileiros. 
 
 
6 
 
2.1 Saúde no período colonial 
 
 Fonte: shre.ink/HiaK 
A escravidão e as matanças iniciadas com a apreensão ou desocupação de 
terras e seu impacto na história, foi menor que o de doenças estrangeiras para o que 
é chamado de desastre demográfico para a população indígena pela historiografia. 
Os índios foram vítimas de diversas doenças, trazidas pelos colonos europeus, 
doenças para as quais eles não tinham defesa genética, como, por exemplo, segundo 
Pôrto (2006): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Sarampo; 
 Varíola; 
 Rubéola; 
 Escarlatina; 
 Tuberculose; 
 Febre tifoide; 
 Malária; 
 Disenteria e 
 Gripe. 
 
 
7 
 
A saúde da população negra também era extremamente precária. Os escravos 
africanos enfrentaram diversas situações e atividades, assim como diferentes formas 
de tratamento por parte dos senhores. Os cronistas do período colonial destacavam 
que os negros que mantinham a agricultura praticamente não tinham descanso e eram 
frequentemente castigados, além de serem geralmente mal alimentados. O sistema 
de trabalho nas minas era completamente diferente daquele nos engenhos de açúcar 
(EDLER, 2018). 
Segundo o autor, em relação à saúde da população branca, não é possível 
generalizar, pois havia uma variedade de situações naquele período. Sejam nobres 
ou plebeus, aqueles que viviam nas grandes cidades ou refugiados em engenhos ou 
fazendas, mercadores, médicos, advogados, membros do clero regular, vivendo em 
mosteiros ou aldeias do interior, assentados em áreas de mineração ou liderando 
tropas de gado, todos eles tiveram seus padrões de vida acolhedores em termos de 
hábitos alimentares e condições de saúde, independentementeda classe social a que 
permanecem. 
É evidente que as condições de vida dos Barnabés, vendedores ambulantes, 
artesãos, trabalhadores mecânicos, capatazes, soldados de baixa patente, mendigos 
e os mais pobres em geral não eram melhores do que algumas categorias de 
escravos, e todos eles viviam distantes da elite branca. 
De acordo com os ensinamentos de Edler, "A Igreja Católica era o pilar da vida 
cultural da colônia, e as ordens religiosas desempenhavam um papel fundamental na 
disseminação da fé e da cultura cristã" (EDLER, 2018). 
Para os cristãos, o bem-estar físico era uma prioridade para a salvação 
espiritual. A doença também era vista como uma manifestação do pecado ou da graça 
de Deus. Os ensinamentos da Bíblia, com os exemplos de Jesus, indicavam que o 
cuidado com os enfermos era uma bênção sagrada e não se limitava aos praticantes 
treinados. A fé cristã enfatizava que cuidar e curar deveria ser uma vocação de todos, 
como um ato consciente de humildade e, portanto, uma parte importante da Caritas 
cristã. 
Nas procissões organizadas pelas irmandades, nas igrejas ou nas casas, as 
orações buscavam a intervenção dos santos, cada um representando sua 
especialidade. São Sebastião era invocado para epidemias, Santa Lúcia contra dor 
 
8 
 
de dente, Santo Adrião contra peste e fraturas, Santo Alberto contra convulsões 
(EDLER, 2018). 
2.2 Santas Casas de Misericórdia 
Devido às dificuldades e perigos da vida, a igreja sempre incentivou os fiéis 
brasileiros a formarem irmandades, organizadas de acordo com as categorias sociais, 
para buscar soluções e abrir as portas para a vida eterna. 
No Brasil, a irmandade mais antiga é a da Misericórdia. Inspirada na promessa 
do corpo, ela se dedicava a alimentar os presos e os famintos, resgatar os cativos, 
cuidar dos enfermos, vestir os necessitados, acolher os peregrinos e sepultar os 
mortos (EDLER, 2018). 
Essas irmandades eram lideradas por figuras proeminentes de prestígio social 
elevado, graças ao legado de seus membros e recursos diretos da Coroa. Por ordem 
de São Francisco e do Carmo, foram mantidos no século XVIII quatro hospitais 
destinados a atender os confrades. Desde o século XVI, os hospitais da Santa Casa 
da Misericórdia encontravam-se, em sua maioria, em níveis médios e em uma 
situação de pobreza contínua, e prestavam atendimento à população indigente e aos 
moribundos em 15 cidades brasileiras. 
Conforme afirmado por Edler (2018), os moradores das cidades e vilas 
solicitavam aos governantes a presença de médicos durante todo o período colonial. 
As cartas eram escritas ao rei expressando preocupação com a saúde dos súditos e 
lamentando a escassez de recursos médicos e farmácias necessários para a cura de 
suas doenças. No entanto, o desafio era encontrar médicos dispostos a viajar para a 
colônia. A falta de uma clientela com recursos financeiros suficientes para justificar a 
partida da metrópole fazia com que a permanência no Brasil dependesse da obtenção 
de alguma carga, principalmente política ou relacionada à Câmara. 
2.3 Institucionalização da medicina no Brasil imperial 
Até a criação da Junta do Protomedicato no reinado de D. Maria I, em 1782, o 
exercício da medicina no Brasil era restrito aos físicos e cirurgiões que possuíam 
 
9 
 
atestado de habilitação e certificados emitidos pelos comissários das duas 
autoridades médicas dominantes: o remédio-mor e o físico-mor. 
Inicialmente, os representantes diretos do poder real residiam apenas nas 
maiores povoações, mas a partir do século XVIII, os regimentos sanitários passaram 
a contar com a presença de comissários em um número maior de cidades e vilas, o 
que resultou em um aumento nas observações realizadas (EDLER, 2018). 
Os físicos atuavam como médicos da Coroa, da Câmara e das tropas nas 
principais cidades e vilas, porém eram numericamente poucos. No século XVIII, 
cidades como Recife, Salvador e Rio de Janeiro contavam apenas com três ou quatro 
físicos em atividade. Eles eram responsáveis pelos exames, diagnósticos e instruções 
de tratamento para os pacientes. Já os cirurgiões eram responsáveis pelos 
procedimentos manuais e eram considerados socialmente inferiores aos que exigiam 
o uso de instrumentos como lancetas, tesouras, escalpelos, cautérios e agulhas. As 
atribuições dos cirurgiões eram limitadas a sangrias, tratamento de feridas e fraturas, 
e aplicação de ventosas, sendo proibida a administração de medicamentos internos, 
que era um privilégio dos médicos formados em Coimbra (EDLER, 2018). 
Por volta de 1808, com o internamento das escolas de medicina, ocorreu um 
rompimento com as restrições impostas pela metrópole, o que possibilitou a formação 
de médicos no país. Entre os anos de 1707 e 1749, diversos boticários prestaram 
exames no Brasil. Durante o período de D. Maria I, foram registrados exames de 
catorze, e no período Joanino (1808-1821), cento e quarenta e oito boticários foram 
examinados pela Fisicatura-mor. 
Em 1808, com a criação da primeira organização nacional de saúde pública no 
Brasil, foi estabelecido o cargo de chefe da saúde da corte e do estado, que serviu 
como embrião para o Serviço de Saúde dos Portos, com delegados nos estados. O 
Alvará sobre regimentos e jurisdição do Físico-Mor e Cirurgião-Mor e seus delegados 
foi autorizado em 23/11/1808 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). 
No ano de 1828, foi promulgada a lei de Municipalização dos Serviços de 
Saúde em 30 de agosto. A partir desse momento, as Juntas Municipais passaram a 
assumir as funções anteriormente exercidas pelo Físico-Mor, Cirurgião-Mor e seus 
Delegados. Nessa mesma época, foi criada a Inspeção de Saúde Pública do Porto do 
 
10 
 
Rio de Janeiro, que ficava subordinada ao Senado da Câmara. Em 1833, o número 
de integrantes dessa certificação foi duplicado. 
A chegada da revolução industrial teve um impacto profundo na estrutura social 
humana e na saúde pública. O deslocamento em massa da população de pequenas 
comunidades rurais para os centros urbanos criou condições propícias para o 
surgimento de graves surtos de epidemias. 
Antes de 1850, as atividades de saúde pública se limitavam a delegar funções 
de saúde ao conselho municipal e controlar a saúde de navios, portos e autoridades 
de vacinação para prevenir a prevenção da varíola. A tuberculose, uma doença com 
uma longa história, encontrou novas condições propícias para sua disseminação, 
provocada em um aumento em sua ocorrência e mortalidade. Tornou-se uma das 
principais causas de morte, afetando especialmente os jovens na idade produtiva. 
O ano de 1851 foi marcado por uma série de eventos que desejava para a 
saúde pública no país: 
 A regulamentação da lei que estabeleceu a Junta Central de Higiene 
Pública, que ficava subordinada ao Ministro do Império. 
 A abertura de um crédito extraordinário ao Ministério do Império, 
destinado a despesas com medidas sanitárias para impedir o avanço da 
febre amarela e prevenir seu reaparecimento, além de fornecer 
assistência aos enfermos necessitados, por meio do Decreto n. º 752, de 
01/08/1851. 
 A força da execução do regulamento do registro de nascimentos e óbitos, 
por meio do Decreto n. º 798, de 18/6/1851. 
 Foi aberto ao Ministério do Império um crédito extraordinário destinado às 
despesas com epidemia de bexigas na província do Pará e em outras, por 
meio do Decreto n. º 826, de 26/9/1851. 
 Foi estabelecido o regimento da Junta de Higiene Pública por meio do 
Decreto n. º 828, de 29/9/1851. 
 Foi aberto ao Ministério do Império um crédito extraordinário destinado às 
despesas com a Junta de Higiene Pública naquele exercício, conforme o 
Decreto n. º 835, de 3/10/1851. 
 
11 
 
De acordo com o Ministério da Saúde, em 1878, por meio do Decreto n. º 
7.027/78 e a confirmação das autoridades sanitárias, foi determinado que após as 
mortes por doenças infecciosas, as casas e estabelecimentos, sejam eles públicosou 
particulares, passassem por escrito terminal. 
2.4 Novas diretrizes para saúde: O governo Vargas (1930-1945) 
A primeira fase do governo Vargas foi formada pelo governo provisório criado 
pela revolução de 1930, que introduziu importantes mudanças nos direitos civis em 
geral e nas políticas sociais brasileiras em particular. As mais importantes foram: a 
introdução do voto secreto e do sufrágio feminino em 1932 (FAUSTO, 2000); a criação 
do Departamento de Educação e Saúde Pública (MESP) em 1930 (Decreto n. º 
19.402, de 14 de novembro de 1930) e a criação do Instituto de Aposentadorias e 
Pensões dos Marítimos (IAPM) em 1933. 
A Criação do IAPM deu início a transformação das CAPS nos IAPS (CARVALHO, 
2001), sob a tutela do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC), depois do 
Ministério do Trabalho e da Previdência Social (MTPS). Os IAPS foram criados de 
acordo com o figurino típico do sistema e seguro social, ou seja, por categorias 
profissionais ou econômicas. Ao longo dos anos 30 foram criados IAPS, como: IAPB 
(bancários), IAPI (industriários), IAPTEC (transportes e cargas), IPASE (servidores do 
Estado), IAPC (comerciários) e IAPFESP (Ferroviários e Empregados em Serviços 
Públicos). 
Os IAPS destinavam-se apenas aos trabalhadores do mercado formal de trabalho 
das cidades. Assim, tanto os trabalhadores rurais quanto os informais das cidades 
continuaram sem acesso aos benefícios previdenciários e de saúde. Ainda que 
voltado para uma parcela da população, os IAPS tiveram um alcance social muito mais 
amplo do que as CAPS, em função, principalmente, do aumento da urbanização e da 
industrialização a partir dos anos 1930. Em 1945, o número de segurados dos IAPS 
atingiu 2,8 milhões, um aumento aproximado de cerca de 20 vezes o número de 140 
mil segurados de 1930 (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989). 
Uma das características mais importantes dos IAPS, que os diferenciavam das 
CAPS era a forte presença do Estado, que indicava o presidente dos seus colegiados 
 
12 
 
de gesto, os quais contavam, ainda, com representações dos empregadores e 
trabalhadores. Quanto a estrutura das receitas, as contribuições das empresas e dos 
colaboradores passaram a ser arrecadadas pelo governo federal, que as transferia 
posteriormente para os IAPS. 
A gestão financeira do sistema previdenciário era baseada no regime de 
capitalização, havendo a obrigação de formação de reservas financeiras para garantir 
as futuras aposentadorias e pensões (fundo de garantia) a gestão dessas reservas 
nem sempre era criteriosa no início havia diretrizes específicas para a aplicação das 
reservas. Muitas vezes a aplicação de recursos não tinha por meta maximizar os 
ganhos financeiros das aplicações, servindo para financiar atividades cujo retorno 
pecuniário era duvidoso. 
De acordo com esses mesmos autores, em 1955, os montantes aplicados em 
títulos e valores mobiliários, que obtinham rendimentos mais elevados, representaram 
apenas 30% do Patrimonio total. 
Esse montante foi reduzido para 13% em 1964, deteriorando as situações 
econômicas dos IAPS. Os recursos dos IAPS teriam sido gastos em outros 
investimentos de retorno duvidoso para o Estado, tais como a Companhia Siderúrgica 
Nacional (CSN), a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), a Fábrica 
Nacional de Motores (FNM) e a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro. Tais recursos 
nunca teriam retornado aos caixas dos institutos. 
O centro da atenção dos IAPS era o financiamento das aposentadorias e pensões. 
Nem todos os institutos ofereciam assistência médica aos seus segurados, apenas o 
IAPM e o IAPB ofereceram desde o início este tipo de assistência. Os segurados do 
IAPC, por exemplo, passaram a contar com essa proteção em 1940, e os do IAPI, em 
1953. A unificação dos benefícios foi estabelecida em 1960, quando foi aprovada a 
Lei Orgânica da Previdência Social (MATIJASCIC, 2002). 
 Assim como as CAPS, os IAPS ofereciam assistência médica principalmente 
por meio de serviços terceirizados. As primeiras unidades de saúde dos institutos só 
foram criadas no final da década de 1940 e já se limitavam a alguns grandes centros 
urbanos, como Rio e São Paulo. A experiência do IAPS na área de assistência médica 
ampliou a tendência iniciada pelos CAPS de fortalecer o mercado privado de serviços 
de saúde no país. 
 
13 
 
Matisjacic (2002) aponta que uma das principais causas da deterioração 
financeira do sistema previdenciário foi o forte aumento dos gastos com serviços 
médicos. 
As despesas médicas representavam, em 1940, 13,4% do total dos gastos dos 
IAPS, enquanto em 1967, atingiram 29,6%. A dicotomia de saúde pública centrada, 
de um lado, em áreas preventivas, imunização, saneamento e controle de vetores, e 
de outro, na assistência médica de caráter curativo e especializado oferecida pelo 
sistema previdenciário continuou durante todo o período. Enquanto o sistema 
previdenciário financiava a assistência médica para uma parcela da população 
urbana, o MESP financiava as áreas de saúde pública de caráter coletivo, 
desenvolvidas, sobretudo, no interior do país (LIMA; FONSECA; HOCHMAN, 2005). 
Em 1937, o antigo DNSP foi substituído pelo Departamento Nacional de saúde 
(DNS). Em 1942, com apoio norte-americano, e em função do esforço de guerra dos 
aliados, foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), uma autarquia pública 
ligada ao MESP, ao qual o DNS era subordinado. O objetivo do SESP era inicialmente 
a organização de instalações sanitárias e atenção integral à saúde da população das 
áreas produtoras de borracha (Amazônia) e ferro (Minas Gerais). 
2.5 A criação dos Iaps 
A política de proteção ao trabalhador iniciada pelo governo Vargas marcou a 
trajetória de expansão e consolidação dos direitos sociais. Algumas políticas são 
importantes: carteira profissional obrigatória para trabalhadores urbanos, definição da 
jornada de oito horas, direito a férias e leis de salário mínimo. Nessa fase, foi criado o 
Instituto de Aposentados e Pensões (Iaps), ampliando a atuação dos Caps e 
constituindo a primeira minuta do sistema previdenciário brasileiro. 
O Iaps passou a reunir no mesmo órgão categorias profissionais inteiras, não 
apenas empresas, Agências Marítimas (IAPM), Trabalhadores Comerciais (IAPC), 
Industriais (IAPI) e outras, e dependia do envolvimento do Estado em sua gestão, 
controle e financiamento. Com o Iaps, começa a montagem do sistema público de 
previdência social, mantendo os trabalhadores na forma de títulos formais de 
contribuição para garantir os benefícios. 
 
14 
 
O trabalhador que não contribuísse para os institutos era excluído do regime 
de proteção. Eram eles: trabalhadores agrícolas, autônomos e qualquer trabalhador 
que exercia uma função não reconhecida pelo Estado. A seguridade social era 
privilégio de poucos presos, deixando grandes segmentos da população, 
especialmente os mais vulneráveis, vítimas da injustiça social. 
Outra particularidade deste modelo foi a desagregação dos benefícios por 
grupo ocupacional. Cada IAP organizou e ofereceu a seus colaboradores uma lista de 
benefícios condizentes com a capacidade contributiva e organizacional de cada 
categoria, tornando algumas categorias profissionais mais privilegiadas que outras. 
As categorias economicamente mais poderosas, como industriais, banqueiros, tinham 
maior disponibilidade de recursos, e na saúde isso significou um melhor padrão de 
atendimento médico-hospitalar, diferenciado por categoria, e a manutenção da 
desigualdade social mesmo entre os trabalhadores pobres (BAPTISTA, 2007, p. 37-
38). 
3 ARTE DE CURAR NO SÉCULO XIX 
A saúde pública é um tema de culto mundial, que possui uma trajetória secular 
marcada por contradições e frequentemente condenada por preconceitos. No 
contexto do Brasil colonial, os problemas relacionados à medicina morreram devido à 
escassez de profissionais nessa área, à falta deinteresse dos médicos portugueses 
em migrar para o Brasil e à adesão da instalação de instituições de ensino superior 
na Colônia. Esses fatores resultaram, em muitos casos, na preferência da população 
por curandeiros e pajés como praticantes da arte de curar, em um momento histórico 
complicado e diversificado, onde as fronteiras entre médicos letrados dedicados aos 
estudos e cirurgiões práticos eram indistintos (MIRANDA, 2017). 
A reorganização do espaço hospitalar no Brasil colonial ocorreu gradualmente, 
especialmente nos hospitais militares no início do século XIX. Acreditávamos que 
essas instituições eram péssimas devido às condições precárias de higiene e à falta 
de comportamentos programados, provocada na superlotação dos pacientes nas 
enfermarias e no descaso das autoridades públicas em melhorar as instalações 
físicas. Esses fatores influenciaram para o atraso na organização do espaço 
 
15 
 
hospitalar. Somente na segunda metade do século XIX, iniciando pelo Hospital Pedro 
II, houve uma reorganização efetiva desse espaço (MIRANDA, 2017). 
Esses fatores influenciaram para o atraso na organização do espaço hospitalar. 
Somente na segunda metade do século XIX, iniciando pelo Hospital Pedro II, houve 
uma reorganização efetiva desse espaço (MIRANDA, 2017). 
Esses fatores influenciaram para o atraso na organização do espaço hospitalar. 
Somente na segunda metade do século XIX, iniciando pelo Hospital Pedro II, houve 
uma reorganização efetiva desse espaço (MIRANDA, 2017). 
George Stahl defende a teoria do vitalismo, segundo a qual a ação natural dos 
órgãos foi resultado da regulação de uma alma sensível. Essa alma era responsável 
por distribuir igualmente e de maneira ordenada o espírito vital presente no corpo. Por 
outro lado, Friedrich Hoffmann adotou uma abordagem mecanicista chamada 
solidismo. Para ele, o corpo humano era comparado a uma máquina, e o movimento 
que decorava seu funcionamento era uma expressão da vida. 
Hoffmann considerou que o corpo seguia as leis da hidráulica, com base no 
sistema de movimentos circulatórios dos humores. Esses movimentos eram 
impulsionados pelos alimentos que, uma vez assimilados pelo sangue, eram 
direcionados ao cérebro. Lá, um fluido nervoso foi secretado para manter o movimento 
e as contrações do coração. 
Hoffmann argumentava que as doenças surgiam devido a alterações nos 
humores causadas por interrupção anormais, que perturbavam os espíritos sutis e 
prejudicavam o fluxo circulatório do sangue. Embora Hoffmann tenha cometido erros 
em sua doutrina, Miranda (2017) destaca que ele merece crédito por desempenhar 
um papel significativo nas pesquisas sobre o sistema nervoso e suas funções para o 
corpo. 
As artes de cura são praticadas no Brasil desde os tempos coloniais e 
transmitidas às gerações seguintes por quem as pratica. A cura era realizada por: 
 
 
 
 
 
 Curandeiros; 
 Boticários; 
 Barbeiros sangradores; 
 Parteiras; entre outros. 
 
 
16 
 
 
Já no século XIX, demonstrou-se que as práticas sociais e culturais 
circunscritas foram preservadas, seja pela tradição popular, pelo desenvolvimento de 
novos procedimentos administrativos de atenção à saúde, ou mesmo como forma de 
prevenção alcançada pela chamada medicina acadêmica. (MIRANDA, 2017). 
3.1 Conflitos entre a medicina e outras práticas de cura 
Na década de 1880, nos últimos anos da abolição da escravidão e no início do 
processo de Proclamação da República, um episódio interessante ocorreu na Paraíba, 
conforme registrado na notável obra de Coriolano de Medeiros. Essa história envolve 
o curandeiro Antônio Mão Santa, que era reconhecido como uma figura famosa e 
próspera (MEDEIROS, 1994). 
O caso "Mão Santa" como ficou conhecido o curandeiro, ajuda a compreender 
melhor a posição da prática da cura quando se trata da medicina acadêmica, ao 
mesmo tempo em que se percebe uma falta de confiança nos métodos de tratamento 
médico. Conforme expõe o autor ao discutir o feito mais notável do renomado 
curandeiro paraguaio: Alguns dias após sua chegada, Mão Santa foi solicitado para 
tratar do filho do Capitão do Porto Queiroz, que não havia apresentado melhoras com 
os tratamentos médicos e havia sido considerado sem esperanças. Os pais do jovem 
depositaram suas esperanças no curandeiro, e o sucesso não tardou a chegar. Em 
pouco tempo, toda a cidade ficou sabendo do milagre, e o Capitão do Porto não 
apenas passou a admirar Mão Santa, como também o recomendou a várias famílias 
respeitáveis. Assim, o prestígio de Mão Santa se firmou e consolidou na cidade da 
Paraíba naquela época (MEDEIROS, 1994). 
O autor afirma que, no caso de Mão Santa, houve uma mudança na hierarquia 
dos cuidados médicos da época, o que tornou o curandeiro mais prestigiado do que o 
médico devido ao tratamento dispensado ao capitão do filho de Porto. A situação neste 
caso foi criada como resultado do sucesso do curandeiro no tratamento de uma 
doença que a medicina não conseguiu tratar. 
 
17 
 
3.2 Curandeirismos 
Ariosvaldo da Silva Diniz realizou um estudo em 2011 que foi citado por Silva e 
Mariano (2020) e abordou questões relacionadas à epidemia de Cólera que eclodiu 
na província de Pernambuco em 1856. Este estudo evidencia os inúmeros agentes da 
cura que foram ao cenário insalubre do Recife para combater a doença, cuja natureza 
etiológica e terapêutica era desconhecida na época. 
Sem dúvida, a menção do "curandeirismo" no Império brasileiro faz refletir 
sobre o significado do termo, não apenas para entendê-lo como uma noção voltada 
para quem o pratica (especialmente o curandeiro), mas também para enfocar a sua 
gradual ressignificação na história brasileira. 
 Silva; Mariano (2020) argumenta que termo cura que “abarca em si um 
número de saberes populares e de agentes da cura filiados as mais diversas tradições 
e culturas que tinham o seu espaço e sua validade junto aos doentes”. Portanto, a 
partir dessa assertiva, o termo "curandeirismo" não é mais utilizado no singular, sendo 
denominado no plural "curandeirismos", para abranger os diversos conhecimentos 
tradicionais sobre os diferentes métodos de práticas de cura que eram exercidas. 
A década de 1880 pode ser destacada como um período estratégico para tratar 
do assunto, sobretudo, se considerarmos não somente o crescimento da medicina 
acadêmica, mas também os chamados “práticos", que eram todas as pessoas que se 
envolveram na arte da reabilitação e cura, mas não receberam nenhuma formação 
acadêmica para tal. 
Na sociedade em que o poder médico-higienista estava em ascensão, a 
presença dos práticos certamente causaria desconforto. Isso se deve ao fato de eles 
não possuírem formação acadêmica nem o reconhecimento das ciências, que eram 
parte essencial do discurso médico. Em termos legais, sua atuação seria limitada, 
quase insignificante. 
 Conforme aponta Tânia Salgado Pimenta, somente os práticos que 
possuíssem licenças específicas poderiam exercer as artes e ofícios de curar. Essas 
licenças eram concedidas mediante avaliação da antiga Real Junta do 
Protomedicado, um órgão estabelecido por D. Maria I em 1782. Em 1808, a junta foi 
substituída pela Fisicatura, que exerceu essa função até 1828. A partir desse ano, as 
 
18 
 
práticas de cura passaram a ser fiscalizadas pelas Câmaras Municipais locais 
(PIMENTA, 2003). 
Sabe-se pelos documentos oficiais das instituições médicas citadas que as 
artes de cura dependiam da legalidade imperial, a maioria das atividades relacionadas 
aos curandeirismos, continuaram sendo realizadas pelos curandeiros e seus colegas, 
em larga escala, ainda que não possuíssem carta oficial ou autorização. 
Esses agentes (curandeiros) continuavam gozando de grande popularidade e 
prestígio entre a população, afinal, desde a época colonial era prática comum buscar 
ajuda aos curandeiros, em casos de complicações de saúde. A busca era grande e o 
exercícioera praticado atendendo as pessoas mais pobres até à elite. Esse fato gerou 
uma verdadeira luta entre o saber médico-científico e os curandeirismos, cujas 
atividades de mercado estavam beneficiando mais aos práticos do que os alopáticos 
ou homeopáticos. 
3.3 Barbearias (sangradores) 
Observando o trabalho dos barbeiros sangrentos ao longo dos tempos 
imperiais, percebe-se como a profissão estava fundamentalmente sujeita a condições 
legais e raciais, em sua maioria livres ou escravizados. Parte disso também foi 
delegado aos curandeiros, como foi o caso de Pai Manoel, que era escravizado e foi 
a principal figura da epidemia de Cólera que eclodiu no Recife em 1856. 
Diante da hierarquia da cura os barbeiros costumavam estar em posição de 
baixa credibilidade em relação aos médicos ou outros agentes da cura. Sob a 
manipulação das lâminas o processo alternava: 
 Sangrias; 
 Aplicação de ventosas; 
 Aplicação de sanguessugas; 
 Atuavam como dentistas; ou 
 Se tornando mais convencional, no campo da estética. 
 
 
19 
 
Em relação à má reputação, e, diante dos confrontos da medicina, os barbeiros 
sangradores eram os menos hostis em relação às disputas por clientes, como mostra 
o Jornal da época “O Popular” em 1883: 
Na repartição de instrução pública, um médico ocupava o cargo principal. 
Porém, ao se encontrar cercado por um louco e um idiota, decidiu chamar um dentista 
barbeiro para auxiliá-lo. Com pouco tempo, aquela senhora estaria falecida, tendo seu 
corpo preparado para o enterro pelo bedel, que também atua como mestre de tesoura 
(SILVA; MARIANO, 2020). 
Embora não houvessem estudado durante anos e lhes faltassem o 
conhecimento básico na área da ciência, os barbeiros tinham uma certa influência 
junto à população. Influência à qual os médicos levaram anos para adquirirem. Dessa 
forma, os médicos cobraram das autoridades que providências fossem tomadas para 
que eles pudessem exercer suas práticas de forma hegemônica. Para isso, foi 
necessário criar a categoria charlatão, a qual envolvia todas as pessoas que 
trabalham na medicina/cura de forma diferente da medicina científica. O termo era 
hostil em oposição a identidade do médico detentor do conhecimento científico e único 
profissional de confiança para tratar das questões de saúde (SAMPAIO, 2001). 
As atividades de curas ilegais estavam preocupando cada vez mais os 
doutores, por sentirem sua subsistência ameaçada, visto que essas atividades eram 
procuradas por vários setores da população levando a uma grande concorrência no 
campo de atuação na sociedade. 
Os médicos não se contentavam em ser apenas mais uma opção respeitável e 
confiável de cura, baseada em seu compromisso com a ciência. Seu objetivo era se 
tornar a única opção disponível, a fim de conquistar definitivamente o poder e o 
prestígio que acreditavam merecer como representantes da doutrina científica. Para 
alcançar esse objetivo, eles dependiam do apoio do poder legislativo, pois sabiam que 
apenas com seus próprios recursos não conseguiriam obter a legitimidade desejada. 
Os interesses de ambas as partes eram alinhados: tanto os médicos quanto as 
autoridades reconheciam a importância de buscar o bem-estar da população como 
uma meta compartilhada (PIMENTA, 2003). 
 
20 
 
4 SAÚDE PÚBLICA 
O início das ações de Saúde Pública relacionadas às questões sanitárias, 
ocorreram na época da vinda da Família Real para o Brasil (1808), sendo 
caracterizada pela importância em manter a manutenção da mão de obra saudável 
que fosse capaz de manter os negócios da realeza. A preocupação com a Saúde 
Pública residia nas práticas de higiene e na atenção médica básica, atendendo as 
demandas expostas pela Família Real, bem como aos demais membros opulentos da 
sociedade (FARIA, 1997). 
 Naquela época, fazia-se necessário controlar efetivamente as doenças 
tropicais que acometiam a população do país, doenças essas que eram 
desconhecidas pelos europeus como, por exemplo: 
 
 
 
 
Algumas doenças que assolavam a população nos tempos do Brasil colônia 
trazidas pelos próprios europeus, como: 
 
 
 
 
 
Essas doenças levaram à situação que demandava da construção de um 
sistema sanitário eficaz de controle baseado no conhecimento das formas de 
transmissão e também no tratamento das mesmas. 
Diante da situação e com o aumento da preocupação com as condições de vida 
nas cidades, mais médicos vieram, instalando-se e dando início ao projeto de 
institucionalização do setor saúde no Brasil e a regulação da prática médica 
profissional. A primeira faculdade de medicina foi inaugurada no mesmo ano da 
chegada da Família Real, a Escola Médico-cirúrgica, localizada em Salvador, Bahia, 
visando institucionalizar os programas de ensino e normalizar a prática médica 
 Febre amarela; e 
 Malária. 
 
 Peste bubônica; 
 Cólera; e 
 Varíola. 
 
 
21 
 
conforme os modelos europeus. Com o tempo os médicos estrangeiros foram 
substituídos por médicos brasileiros ou formados no Brasil. 
Esse período foi marcado pelo interesse em regular o exercício da atividade 
profissional e sanitária em relação ao interesse político e econômico do Estado em 
garantir a sustentabilidade da produção da riqueza por meio do controle de mão de 
obra e da qualidade dos produtos, com medidas voltadas para controle de doenças, 
disciplina e normatização da prática profissional (LIMA; LEMOS, 2020). 
As primeiras Políticas de Saúde Pública que surgiram no mundo e que, logo 
seriam colocadas em prática no Brasil eram voltadas principalmente para: 
 
 Proteção e saneamento das cidades, principalmente as portuárias, 
responsáveis pela comercialização e circulação dos produtos exportados; 
 Controle e observação das doenças e enfermos, inclusive e principalmente 
dos ambientes; 
 Teorização acerca das doenças e construção de conhecimentos para 
adoção de práticas mais eficazes no controle das moléstias. 
 
Com a proclamação da República, em 1889, iniciou-se um novo ciclo na política 
estadual que se caracterizou pela fortificação e consolidação econômica. Nesse 
contexto, a política de saúde ganhou mais destaque, desempenhando um papel 
significativo na formação da identidade do próprio estado e de sua autoridade sobre o 
território e na conformação de uma ideologia de nacionalidade, configurando um 
esforço civilizatório (LIMA; LEMOS, 2020). 
Ainda segundo os autores, foi exatamente nesta ordem que os problemas de 
saúde e saneamento foram marcantes ao longo da história da saúde no Brasil. A 
agricultura era a base econômica do Brasil e tinha no café a vinculação do trabalho 
assalariado que carecia cada vez de mão de obra e, as epidemias que se propagavam 
entre os trabalhadores devido às péssimas condições de saneamento afetavam o 
crescimento econômico. 
 
22 
 
4.1 A trajetória do médico dedicado à ciência 
 
Fonte: bit.ly/3LzL9Zj 
Oswaldo Cruz nasceu em agosto de 1872, na cidade de São Luís do Paraitinga, 
sendo seus pais Bento Gonçalves Cruz e Amália Bulhões Cruz. Em 1877, sua família 
se mudou para o Rio de Janeiro, onde Oswaldo estudou no Colégio Laure, no Colégio 
São Pedro de Alcântara e no Externato Dom Pedro II. 
Em 1892, concluiu sua graduação na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 
apresentando sua tese intitulada "A veiculação microbiana pelas águas". Antes 
mesmo de concluir o curso, ele já havia publicado dois artigos na revista renomada 
Brasil Médico (FIOCRUZ, 2017). 
Seu interesse pela biologia levou Oswaldo Cruz a montar um pequeno 
laboratório em seu próprio porão. No entanto, a morte de seu pai ocorreu no ano de 
sua formação, o que interrompeu seus estudos por algum tempo. 
Dois anos depois, recebeu um convite de Egydio Salles Guerra para trabalhar 
na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, onde ficou responsável pela montagem e chefia 
do laboratório de análises clínicas. Em 1897, permaneceu para Paris e passou dois 
anos estudandomicrobiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur, além de 
medicina legal no Instituto de Toxicologia. 
Após retornar da capital francesa, Oswaldo Cruz reassumiu sua carga na 
Policlínica Geral e integrou-se à comissão de Eduardo Chapot-Prévost para investigar 
a mortalidade de ratos que causaram um surto de peste bubônica em Santos. No Rio 
 
23 
 
de Janeiro, ocupou a carga de direção técnica no Instituto Soroterápico Federal, que 
estava em construção na Fazenda Manguinhos e foi fundado em 1900. Dois anos 
depois, assumiu a direção do Instituto e trabalhou para expandir suas atividades além 
da produção de soro antipestoso, incluindo pesquisa básica aplicada e formação de 
recursos humanos. Em seguida, assumiu o comando da Diretoria-Geral de Saúde 
Pública (DGSP) (FIOCRUZ, 2017). 
Naquela época, Oswaldo Cruz sentiu o desafio do trabalho de conduzir uma 
campanha sanitária para combater as principais doenças da capital federal, que eram 
a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Para isso, foram adotados métodos 
como o isolamento dos doentes e a notificação obrigatória dos casos positivos, além 
da captura de mosquitos e ratos, que eram os vetores dessas doenças, e transmitidos 
das residências nas áreas protegidas. Usando o Instituto Soroterápico Federal como 
suporte técnico-científico, foram iniciadas campanhas de saneamento e, em poucos 
meses, a incidência de peste bubônica ocorreu significativamente devido à 
erradicação dos ratos que transmitiam a doença. 
Durante a luta contra a febre amarela na mesma época, Oswaldo Cruz criou 
diversos desafios. Muitos médicos e parte da população acreditavam que a doença 
era transmitida pelo contato com roupas, suor, sangue e secreções de pessoas 
doentes. No entanto, Oswaldo Cruz defendeu uma nova teoria: a de que a febre 
amarela era transmitida por um mosquito. Suspendendo os métodos tradicionais de 
combate à doença, como a aderente, ele implementou medidas sanitárias por meio 
de brigadas que percorriam casas, jardins, quintais e ruas, eliminando focos de 
insetos. Sua atuação provocou uma reação violenta popular (FIOCRUZ, 2017). 
Com o ressurgimento dos surtos de varíola, Oswaldo Cruz registrou uma 
vacinação em massa da população, mas causou resistência. Jornais iniciaram 
campanhas contra a medida, e o Congresso protestou, originado na formação de uma 
liga antivacinação. Em novembro, ocorreu uma rebelião popular e, no dia 14, a Escola 
Militar da Praia Vermelha se rebelou. O governo conseguiu reprimir a rebelião após 
uma semana, mas suspendeu a obrigatoriedade da vacina. Em 1907, a febre amarela 
foi erradicada do Rio de Janeiro. No entanto, em 1908, surgiu uma nova epidemia de 
varíola, e a própria população passou a procurar postos de vacinação. 
 
24 
 
Apesar da crise ocorrida entre 1905 e 1906, Oswaldo Cruz liderou uma 
expedição a 30 portos marítimos e fluviais em todo o país, com o objetivo de 
estabelecer um código sanitário seguindo as normas internacionais. Todo o empenho 
de Cruz contra as doenças lhe rendeu reconhecimento internacional em 1907, quando 
recebeu a medalha de ouro no 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia 
em Berlim, Alemanha, por seu trabalho em prol do saneamento do Rio de Janeiro 
(FIOCRUZ, 2017). 
Em 1908, Oswaldo Cruz foi recebido como um herói nacional, e no ano 
seguinte, o instituto passou a ter seu nome. Com o apoio da equipe do Instituto 
Oswaldo Cruz (IOC), foi realizado um levantamento das condições sanitárias no 
interior do país 
4.2 Epidemias e Saúde pública no século XIX 
Tradicionalmente as doenças com variações espaciais (distribuição espacial 
particular, relacionada a processos sociais ou ambientais específicos) são 
classificadas como doenças endêmicas. Da mesma forma, doenças que mudam ao 
longo do tempo são classificadas como epidemias, ou seja, apresentam concentração 
de casos em um determinado período indicando que a estrutura epidemiológica possui 
mudanças mais ou menos abruptas (BARATA, 2000). 
Até a primeira metade do século XIX, as instituições médicas viam o Brasil 
como um país que estava relativamente livre das epidemias que afligiam outras 
nações. No entanto, tudo mudou com a chegada da febre amarela em 1849. A partir 
desse momento, à medida que as relações comerciais do país se estreitaram, 
ocorreram novas epidemias (KODAMA et al., 2012). 
Em 1855 a epidemia de cólera foi registrada e considerada oficialmente a 
primeira doença no Brasil que matou cerca de 200.000 pessoas (COOPER, 1987). A 
doença surgiu pela primeira vez na província do Pará em maio de 1855 e depois 
atingiu o Amazonas e a província do Maranhão. A doença se espalhou também da 
Bahia para Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Rio de 
Janeiro. 
 
25 
 
Os relatórios médicos sugeriam nas primeiras avaliações da epidemia que a 
cólera, apesar de atingir todas as classes sociais, acometia principalmente os 
escravos e a população mais pobre devido às condições sanitárias em que viviam. 
Nesse sentido, era necessário proteger os escravos, pois estes eram legalmente 
definidos como propriedade privada e moldados de acordo com as ambições dos 
senhores. Portanto, eram essenciais à continuidade do sistema de plantação em 
expansão no século XIX (GOMES; SILVA, 2020). 
Alguns portugueses instalados no Brasil ao se verem diante do sofrimento dos 
recém-chegados procuraram alertar o governo português, em relação às medidas 
repressivas que deveriam ser tomadas para limitar as partidas, publicando então 
cartas aos jornais portugueses. Como prática recorrente, muitas dessas cartas 
explicavam os prós e os contras da emigração, destacavam os problemas de 
saneamento básico no Brasil e da mortalidade dos jovens emigrantes portugueses ao 
imigrarem para o país (ALVES, 2005). 
Como cita o autor: “Um deles, publicado no Periódico dos Pobres do Porto em 
30 de maio de 1853, apesar de repetidos avisos, lamentou a falta de medidas oficiais 
de controle das partes e argumentou com veemência: 
Não é surpreendente que o governo português tenha tolerado indiferentemente 
ao abandono de milhares de cidadãos que poderiam ser úteis ao Estado e si próprios, 
deixando suas casas para buscar uma fortuna ilusória em terras estrangeiras. O que 
é realmente difícil de entender é o fato de que, mesmo tendo conhecimento de uma 
epidemia nos principais portos do Império, o governo continua indiferente, permitindo 
que a juventude portuguesa parta em busca de uma morte quase certa. A febre 
amarela, como é conhecida em Portugal, tornou-se endêmica no Brasil. Desde 1849-
1850, ela sempre aparece na estação quente, causando vítimas, principalmente entre 
os estrangeiros recém-chegados e, sobretudo, entre os portugueses, cujo número é 
considerável. 
O governo português, que estabelece quarentenas e lazaretos para aqueles 
que retornam à pátria, não pode ignorar esses fatos, no entanto, parece não 
ter compaixão pelos infelizes que, deixando sua terra natal, seus pais e 
amigos, encontram a morte em terras estrangeiras! É aqui, na Bahia, e no Rio 
de Janeiro, que a febre amarela continua a ceifar um grande número de vidas, 
e, no entanto (parece inacreditável), são essas as duas cidades que os 
emigrantes preferem buscar! É doloroso, mesmo para os corações menos 
testemunhais, testemunhar jovens de 12 a 24 anos lutando contra uma 
 
26 
 
doença terrível que rapidamente apaga sua luz de inteligência e extingue 
suas vidas (ALVES, 2005, p. 4-5). 
Nos discursos em torno da emigração, das demandas das patologias e 
principalmente das epidemias, Alves reitera que o argumento foi forte e relevante, de 
modo que mesmo aqueles que defendiam a liberdade da emigração tiveram que 
enfrentar o problema e buscar soluções arejadas para encontrar apoio no despertar e 
a preocupação social. Não só a febre amarela criou uma imagem negativa da vida 
cotidiana no Brasil, como outras epidemias eclodiramrepetidas vezes em, às quais a 
correspondência jornalística atribuiu descrições sombrias e desamparo (ALVES, 
2005). 
Ainda segundo o autor: "Veja a informação de um correspondente sergipano, 
datado de 24/03/1863, mas inserido em O Comércio do Porto em 20/05/1863:" 
A cólera está se aproximando da capital, ou melhor, podemos dizer que já 
está dentro de nossas portas! Por onde passa, causa uma devastação cruel. 
À medida que se espalhou de norte a sul, a epidemia mostrou-se menos 
severa, mas ao chegar à cidade de Maroim, tornou-se intensa e fez um 
grande número de vítimas. Estima-se que apenas nos últimos dias cerca de 
400 pessoas tenham sucumbido nesse local, cuja população não passa de 
4.000 habitantes. 
A vila do Rosário, com seus 2.000 habitantes, está aguardando! Quem não 
morreu encontrou na fuga a única solução para salvar suas vidas. O infeliz 
vigário, que permanecia em seu posto evangélico, acabou se tornando vítima 
de sua própria dedicação! [...] recentemente, a cidade de Laranjeiras, uma 
das mais importantes da província, foi invadida e os estragos foram enormes. 
A mortalidade começou com 12 casos diários e, numa escalada contínua, 
chegou aos 60, com um grande número de corpos enterrados ontem! 
No entanto, o local onde a mortalidade é assombrosa em relação ao número 
de habitantes é o povoado do Socorro, com pouco mais de 200 residências, 
localizado a meia légua de Aracaju. A mortalidade nessa pequena 
comunidade consumida 28 ontem, e pelas notícias que chegam hoje, é 
possível acreditar que a infeliz paróquia de Socorro permanecerá 
completamente deserta! Em Aracaju, a situação está começando a se 
agravar, embora ainda não seja um estado sanitário aterrador. 
[...] A escravatura é o grupo que mais sofre. Parece que o cólera tem um 
gosto especial por ceifar vidas entre os "paisinhos", enquanto a febre amarela 
se diverte com os brancos. Temos de tudo no Brasil, graças a Deus! [...] A 
situação atual de Sergipe é extremamente triste. Estou com as malas prontas, 
esperando o vapor do Sul para seguir para o Norte e tranquilizei minha mente, 
que tem sofrido bastante com essa tristeza geral (ALVES, 2005, p. 6-7). 
Como resultado, o Brasil pós-independência não era um destino desejável para 
atrair europeus por causa de representações menos favoráveis, como o estado do 
sistema de saúde. 
 
27 
 
As grandes cidades começaram a se transformar em lugares que ofereciam 
novas oportunidades de vida, atraindo principalmente imigrantes estrangeiros 
insatisfeitos com as condições de vida e emprego nas fazendas de café (BARATA, 
2000). 
Ainda segundo o autor, alguns desses trabalhadores migravam para escapar 
das epidemias de febre amarela e varíola que atingiram avassaladoramente muitas 
cidades do interior. A última década do século XIX e a primeira década do século XX 
chamaram a atenção das autoridades sanitárias visando esclarecer o mecanismo de 
transmissão e os métodos de controle dessas duas doenças. 
A maneira como ocorriam as ocupações do espaço agrário e urbano também 
contribuíram para determinar condições extremamente favoráveis para a ocorrência 
de doenças de transmissão vetorial, hídrica e respiratória. 
Dentre as doenças transmitidas por vetores, destacam-se: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao utilizar dados estatísticos como ferramenta para mensurar fenômenos 
sociais surgiu o desenvolvimento da administração científica. A prevalência de 
doenças infecciosas, principalmente a febre amarela e a malária causaram um grande 
impacto de mortalidade nas cidades e principais canteiros de obras dos países 
periféricos, prejudicando o comércio e dificultando o desenvolvimento do capitalismo. 
A solução na época era fornecer incentivos públicos para a pesquisa 
biomédica, especialmente a biomedicina voltada para as doenças tropicais e uma 
equipe de trabalho de estilo militar que pudesse realizar intervenções disciplinares e 
eficazes quando necessário. 
Dessa forma, surgiram as campanhas sanitárias, e o sucesso dessas fora 
enfatizado não somente pelos resultados alcançados no processo de controle das 
 Febre amarela; 
 Peste; 
 Malária; 
 Leishmanioses 
cutaneomucosas; e 
 Doença de Chagas. 
 
 
28 
 
epidemias, mas também pela nítida conexão entre o conhecimento científico, a 
capacidade técnica e a organização dos processos de trabalho em saúde. Com a 
finalidade de fabricar soros e vacinas contra a peste, foi criado o Instituto Soroterápico 
Federal, em 25 de maio de 1900 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). 
4.3 Saneando a cidade: Políticas sanitárias e controle urbano 
O Rio de Janeiro superou o estigma da febre amarela no início do século XX 
graças ao trabalho do sanitarista Oswaldo Cruz, como diretor-geral de saúde pública, 
criou e preparou uma campanha exclusiva contra a febre amarela e reorganizou a 
autoridade sanitária definindo medidas rigorosas contra a insalubridade: 
 
1. Ordenou à demolição e a reforma de edifícios; 
2. Criou brigadas mata-mosquitos; 
3. Saneou caixas de água e esgotos; 
4. Expurgou casas, por meio da queima de soluções à base de enxofre, 
como forma de acabar com os mosquitos e suas larvas (imitando a 
campanha norte-americana desenvolvida em Havana com base na 
teoria de Carlos Finlay de que o agente transmissor era um mosquito – 
Stegomyia fasciata, Culex aegypti ou Aedes aegypti). 
 
A febre amarela não foi a única campanha de Osvaldo Cruz. Outras também 
foram desenvolvidas, por exemplo, contra a peste bubônica, como o extermínio de 
ratos, e a campanha contra a varíola, que tornou a vacinação obrigatória (ALVES, 
2005). 
O trabalhador de saúde tinha muitos inimigos. Mas a imagem da campanha 
pela transição sanitária foi decisiva para garantir melhores condições e contribuir para 
a reputação internacional: naquela época, o Brasil lutava pelo direito a um país 
saudável no conceito dos organismos internacionais de saúde e até ser como modelo 
exemplar. Seus portos eram considerados limpos, em grande parte devido às novas 
normas sanitárias internacionais que reduziram os critérios de classificação, e essas 
novas representações, ditadas pela nova cultura médica, foram categóricas ao 
 
29 
 
advento da mitologia, predominante no início do século XX, colocando o Brasil como 
uma futura potência mundial. 
No entanto, a década de 1920 foi marcada pela crise do padrão exportador 
capitalista, uma vez que os países importadores se tornavam mais exigentes com a 
qualidade dos produtos, surgindo muitas represarias aos produtos brasileiros, onde 
os navios e portos ainda mantinham níveis de higiene insalubres, exportando 
doenças. Novas ações foram implementadas no controle das doenças na área da 
saúde pública (COSTA, 1985). 
Por outro lado, o Estado assume ativamente na década de 1930 o papel de 
regulador através da elaboração de projeto econômico baseado na industrialização 
em prol da implantação de infraestrutura produtiva o que propiciou o fortalecimento do 
projeto político-ideológico nacional, onde foi criado o Mesp - Ministério da Educação 
e Saúde Pública, e MTIC – Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, medidas que 
fomentaram o crescimento e a mudança do sistema econômico e regem a “regulação 
da cidadania” pela previsão de um “direito à saúde”. 
5 POLÍTICAS PÚBLICAS: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE PÚBLICA E 
SAÚDE COLETIVA 
A Saúde Coletiva teve início no final da década de 1970 no período em que o 
Brasil passava pela ditadura militar, vinculada à luta pela democracia e ao movimento 
da Reforma Sanitária. A medicina social e o preventivismo também influenciaram para 
sua constituição (OSMO; SCHRAIBER, 2015). 
Os autores acrescentam que a Saúde Coletiva é caracterizada como um 
“campo de conhecimento e âmbito próprio de práticas” sendo de natureza 
interdisciplinar, cujas disciplinas básicas são a epidemiologia, o planejamento, a 
administração de saúde, e as ciências sociais em saúde. 
Em 1977 a Organização Mundial daSaúde propôs a seguinte meta: “Saúde 
para Todos no ano 2000”. Como decorrência, tanto o cenário brasileiro quanto o 
mundial levaram a um debate sobre o conceito de saúde e doença e a estruturação 
dos serviços de saúde"). Um dos aspectos centrais no encaminhamento dessa meta 
era o detalhamento e a operacionalização do conceito de equidade, reconhecendo-se 
 
30 
 
como fundamental a superação das desigualdades sociais para a melhoria das 
condições de saúde das populações (RABELLO, 2010). 
A Saúde Coletiva é descrita a partir de uma perspectiva multidisciplinar a qual 
atua em conjunto com as seguintes disciplinas: 
 
 
 
 
 
 
 
É caracterizada pela história de lutas para mudar efetivamente a estrutura da 
ciência e da política social da Saúde. Um exemplo foi a Reforma Sanitária e todo o 
legado construtivista. Esta área é dividida em três subdivisões: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diante desta situação vale ressaltar que ambas as áreas são importantes para 
o planejamento de ações de saúde levando à contínua dependência em realizar 
pesquisas destinadas a melhorar os seus métodos. 
Devido às mudanças no perfil de morbidade da população, a diminuição da 
ocorrência de doenças transmissíveis e ao envelhecimento progressivo da população, 
a epidemiologia começou a focar suas pesquisas nas doenças não transmissíveis e 
nem infecciosas, além da preocupação com fatos não exclusivamente relacionados 
às doenças como é o caso dos estudos sobre violência, hábitos deletérios e peso ao 
nascer. Com isso, a concepção de unicausalidade das doenças mudou gradualmente, 
 Biomedicina; 
 Estatística; 
 Biologia; e 
 Ciências Humanas. 
 
 Epidemiologia; 
 Planejamento / gestão e 
Serviços de saúde; e 
 Ciências Humanas. 
 
 
31 
 
dando margem ao pensamento multicausal no qual a interação entre agente, 
hospedeiro e meio ambiente é responsável pelo surgimento das doenças (SILVA et 
al, 2020). 
De acordo com os autores, a Epidemiologia e a Medicina têm uma raiz em 
comum: Hipócrates associava o aparecimento de doenças à interação entre o 
indivíduo e o ambiente, mas com o passar do tempo suas teorias foram abandonadas. 
Foi quando surgiu a teoria dos Miasmas, onde se acreditavam que as epidemias eram 
causadas devido à má qualidade do ar proveniente da emanação de decomposições 
de animais, plantas e pacientes. 
5.1 Objetos de trabalho da saúde pública e da saúde coletiva 
Os problemas de saúde pública são definidos em termos de mortes, doenças, 
agravos e riscos, tomando como objeto de trabalho os problemas de saúde seu 
entendimento é a ausência de doenças. 
Por sua vez, a saúde coletiva, toma como objeto necessidades de saúde, isto 
é, como tudo o que necessário não apenas para prevenir doenças e prolongar a vida, 
mas também para melhorar a sua qualidade e permitir o exercício da liberdade 
humana em busca da felicidade. Como resultado, dois níveis de distinção se destacam 
nessa comparação. O conceito de saúde pública menciona "ciência e arte” “campo de 
conhecimentos" e "práticas de saúde " na concepção coletiva de saúde. 
Essas menções distintas indicam, essencialmente, a adesão dos pensadores 
da saúde pública, por um lado, e da saúde coletiva, de outro, a diferentes marcos 
conceituais. A segunda ordem de diferenças significativas é observada quando se 
consideram os momentos constituintes do processo de trabalho, o objeto, os 
instrumentos e o trabalho propriamente dito de cada um dos movimentos. 
 Como ferramenta de trabalho, a saúde pública mobiliza a epidemiologia 
tradicional, o planejamento normativo e a administração taylorista, em abordagens 
caudatárias da clínica e, portanto, da concepção biologista da saúde. Na realidade, 
são as ações isoladas da Vigilância Epidemiológica e da Vigilância Sanitária ou o 
desenvolvimento de programas especiais, desarticulados das outras ações, como a 
 
32 
 
Saúde Materno-Infantil ou o Programa Nacional de Imunização, que estabelecem os 
métodos de trabalho característicos da saúde pública. 
Em contrapartida, a saúde coletiva propõe o uso da epidemiologia crítica ou 
social como ferramentas de pesquisa, priorizando o estudo das causas sociais e das 
desigualdades em saúde, bem como o planejamento estratégico e comunicativo e a 
governança democrática. Além disso, abre-se às contribuições de todos os 
conhecimentos científicos e populares que podem orientar a elevação da consciência 
sanitária e realizar intervenções intersetoriais sobre os fatores estruturais da saúde. 
Desse modo, iniciativas como a promoção da saúde, cidades saudáveis, políticas 
públicas saudáveis, saúde em todas as políticas compõem as estratégias de saúde 
coletiva. 
Quanto ao trabalho propriamente dito, o agente da saúde pública exerce as 
atribuições da vigilância tradicional (epidemiológica e sanitária), aplica os modelos de 
transmissão de doenças (controle de riscos), realiza ações de educação sanitária e 
fiscaliza a produção e a distribuição de bens e serviços considerados de interesse da 
saúde na perspectiva reducionista do risco sanitário, definido pela clínica biomédica. 
Além disso, esse agente é aquele que assume as tarefas do planejamento normativo, 
define objetivos e metas considerando apenas o ponto de vista estatal, sem levar em 
conta a distribuição do poder na sociedade. Também assume funções relacionadas à 
administração sanitária, pautadas pelas tentativas dos trabalhadores subalternos. 
Por outro lado, o agente da saúde coletiva tem um papel amplo e estratégico: 
a responsabilidade pela direção do processo coletivo de trabalho, seja na dimensão 
epidemiológica e social de apreensão e compreensão das necessidades de saúde, 
bem como na dimensão organizacional e gerencial de seleção e operação de 
tecnologias para o atendimento dessas necessidades. Onde o profissional da saúde 
coletiva é, portanto, um militante sociopolítico da emancipação humana. 
 Em prol da saúde pública, o Estado é o ator político por excelência, capaz por 
si só de garantir a prevenção das doenças. De acordo com a saúde coletiva, além do 
Estado, há outros atores e poderes na sociedade civil que devem atuar para promover 
a democratização da saúde. Essa comparação mostra que as articulações desses 
dois movimentos ideológicos com a atual estrutura da sociedade, são distintos. A 
saúde pública encontra-se institucionalizada nas atividades cotidianas dos serviços 
 
33 
 
do SUS. A saúde coletiva inspirou o projeto da Reforma Sanitária que deu origem ao 
SUS, mas persiste como alternativa contra-hegemônica. 
Por fim, a saúde pública, em seu atual formato institucionalizado, tenderia a 
ficar dialeticamente superada, aproveitando seus elementos técnicos de modo a 
integrá-los nas estratégias da atenção integral à saúde. E, em um cenário otimista em 
que o SUS constitucional encontrasse um ambiente propício para sua conversão em 
realidade concreta, ela teria um papel político a cumprir, especialmente na definição 
de rumos condizentes com as propostas preconizadas pela Reforma Sanitária 
brasileira. Em termos mais concretos, haveria um ambiente propício à multiplicação 
de centros de produção e reprodução de conhecimento, tecnologias e inovações, 
visando o aprimoramento do SUS e ao avanço da democratização da saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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