Buscar

Mendes_de_Marco_Andrade_Souza_Macedo_SHS5874

Prévia do material em texto

1
USP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
EESC – ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS 
SHS - DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO 
PÓS-GRADUAÇÃO EM HIDRÁULICA E SANEAMENTO 
Disciplina Hidrologia Física – SHS 5874 
Professor Responsável: Dr. Eduardo Mário Mendiondo 
 
 
 
 
 
 
REFLEXÕES SOBRE IMPACTOS DAS 
INUNDAÇÕES E PROPOSTAS DE 
POLÍTICAS DE PÚBLICAS 
MITIGADORAS 
 
 
 
 
 
 
Heloisa Ceccato Mendes 
Gerson de Marco 
Juliana Pontes M. Andrade 
Saulo Aires Souza 
Rodrigo F. Macedo 
 
 
 
 
 
 
 
São Carlos, Agosto de 2004 
 2
ÍNDICE 
 
Apresentação.................................................................................................3 
 
 
 
Autores.............................................................................................................4 
 
 
 
Capítulo 1 
 
Expansão Urbana e Inundações: Histórico e Impactos 
Heloisa Ceccato Mendes.....................................................................................5 
 
 
 
Capítulo 2 
 
Alterações Climáticas e Seus Impactos 
Gerson de Marco...............................................................................................19 
 
 
 
Capítulo 3 
 
Medidas não Estruturais 
Juliana Pontes M. Andrade................................................................................44 
 
 
 
Capítulo 4 
 
Medidas Estruturais Extensivas 
Saulo Aires Souza.............................................................................................48 
 
 
 
Capítulo 5 
 
Medidas Estruturais Intensivas 
Rodrigo F. Macedo............................................................................................60
 3
 APRESENTAÇÃO 
 
O presente trabalho é produto de discussões e revisão bibliográfica 
realizadas na Disciplina Hidrologia Física, ministrada pelo Prof. Dr. Eduardo 
Mario Mendiondo pelo Programa de Pós –Graduação em Hidráulica e 
Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São 
Paulo. 
No primeiro capítulo á apresentada uma abordagem histórica 
inundações, atentando para a maneira pela qual esse fenômeno foi 
compreendido e para os impactos ocasionados ao longo dos tempos, 
destacando a inserção da América do Sul e Brasil no panorama mundial. O 
segundo capítulo aborda a questão das mudanças climáticas e sua influência 
sobre o balanço hídrico de uma bacia de estudo, a partir da elaboração de 
cenários. No terceiro capítulo é abordada a importância da implementação de 
medidas estruturais como ferramenta para o planejamento do uso e ocupação 
do solo. 
 
 
 4
 AUTORES 
 
Heloisa Ceccato Mendes – heloisacm@yahoo.com.br 
Mestranda, desde 2004, do PPG-SEA, Programa de Pós-Graduação em 
Ciências da Engenharia Ambiental, Departamento de Hidráulica e Saneamento, 
EESC-USP, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. 
Arquiteta e Urbanista, graduada pela EESC-USP em 2000. 
 
 
 
Gerson de Marco – gersondm@yahoo.com.br 
Aluno especial no SHS, Engenheiro Civil, graduado pela Faculdades 
Integradas de Araraquara em 2003, pós-graduando em Engenharia de Segurança 
do Trabalho pela Faculdades Integradas de Araraquara. 
 
 
 
 
Juliana Pontes M. Andrade – jupontes@sc.usp.br 
 
Mestranda, desde 2004, do PPG-SHS, Programa de Pós-Graduação em 
Hidráulica e Saneamento, Departamento de Hidráulica e Saneamento, EESC-USP, 
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. Engenheira Civil, 
graduada pela UFC - Universidade Federal do Ceará em 2004. 
 
 
 
 Saulo Aires de Souza – aires@sc.usp.br 
 Mestrando, desde 2004, do PPG-SHS, Programa de Pós-Graduação em 
Hidráulica e Saneamento, Departamento de Hidráulica e Saneamento, EESC-USP, 
Escola de Engenharia de São Carlos, USP - Universidade de São Paulo. Engenheiro 
Civil, graduado pela UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2003. 
 
 
 
 Rodrigo F. Macedo - rodrigofmacedo@digizap.com.br 
 
 Mestrando, desde 2004, do PPG-SHS, Programa de Pós-Graduação em 
Hidráulica e Saneamento, Departamento de Hidráulica e Saneamento, EESC-USP, 
Escola de Engenharia de São Carlos, USP - Universidade de São Paulo. Engenheiro 
Civil, graduado pela UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2000. 
 
 5
 
CAPÍTULO 1 
 
Expansão Urbana e Inundações: Histórico e Impactos 
Heloisa Ceccato Mendes 
 
Introdução 
O presente trabalho tem como objetivo estabelecer uma reflexão sobre o 
processo de ocupação territorial por meio da urbanização e sua relação com a 
ocorrência de inundações. Visando à contextualização do tema, foi realizada 
uma breve análise sobre o modo como as inundações foram compreendidas ao 
longo dos tempos, seguida pela avaliação dos impactos ocasionados em 
âmbito mundial, nas últimas décadas, e por uma abordagem mais específica 
sobre a experiência brasileira. 
O mesmo procedimento foi adotado com relação à questão da 
urbanização, partindo-se de uma primeira análise em âmbito mundial, 
complementado-a com uma abordagem mais específica sobre a urbanização 
no Brasil, atentando para possíveis influências de tal processo na ocorrência de 
inundações. 
 
Breve Histórico da Compreensão das Inundações 
 
A freqüente ocorrência de inundações em várias cidades de todo o 
mundo sinaliza para a necessidade de reflexão sobre seus processos históricos 
de expansão, gerando crescente impermeabilização do solo, ocupação de 
fundos de vale e invasão das Áreas de Proteção Permanente próximas às 
nascentes dos rios e córregos urbanos. Ainda que constatemos a ausência de 
efetiva implementação de medidas mitigadoras dos impactos gerados pelas 
inundações, observamos que tem sido cada vez mais difundido o entendimento 
de que a maneira como a ação antrópica se dá sobre o meio desempenha um 
importante papel neste processo. Porém, uma abordagem histórica nos mostra 
que tal entendimento nem sempre foi difundido. 
 6
Em um primeiro momento, abordaremos as inundações a partir de uma 
perspectiva histórica, visando à compreensão das maneiras pelas quais esse 
fenômeno foi interpretado ao longo dos tempos. 
Segundo Albrecht Hoffman (2000), o primeiro europeu a tentar explicar 
as inundações foi Konrad of Megenberg (1309 – 1374), no livro de sua autoria 
“The book of nature”, em que explicava este fenômeno como erupções de 
águas armazenadas no solo. Na Idade Média, as inundações eram 
compreendidas como fenômenos seguidos por morte e ruína. Tal pensamento 
teve certa extensão até o século XVI, quando as inundações eram vistas como 
produto de forças celestiais ou um julgamento divino. Observamos, portanto, 
que o entendimento das causas das inundações se modificou ao longo dos 
tempos. Do mesmo modo, esse processo ocorreu também com o 
desenvolvimento das medidas preventivas às inundações, como demonstra 
Frank Toensmann (2000) dividindo o desenvolvimento de tais medidas em 
Northern Hesse, na Alemanha, em três fases: de 1850 a 1945, de 1945 a 1980 
e de 1980 a 2000. 
O primeiro período, de 1850 a 1945, foi marcado por obras hidráulicas 
nas cidades de Diemel e Eder e pelo levantamento de dados realizado na 
cidade de Kassel. A primeira fase se caracteriza, portanto, pelo 
desenvolvimento dos recursos hídricos a partir de uma visão apoiada no 
desenvolvimento técnico, crescente nesse período, mas sem nenhuma 
preocupação em estabelecer compatibilidade com o meio ou com o conceito de 
Desenvolvimento Sustentável 1. 
A segunda fase, de 1945 a 1980, foi marcada pela criação de 
associações e elaboração de projetos de desenvolvimento dos recursos 
hídricos e controle de vazões, mas poucos foram implementados. A forte 
ênfase nas medidas técnicas, característica da primeira fase, foi modificada 
com a lei ambiental de 1976, que definiu os impactos e medidas 
compensatórias a eles relacionados. 
 
1 Sobre o tema, destaca-se: “ Para ser aplicado com sucesso, afirma ZHOU (1998), o desenvolvimento sustentável 
deve trazer a perspectiva de que um ambientesaudável é essencial para uma economia próspera. Tal enfoque 
encara sociedade, economia e meio ambiente como elementos essenciais de um sistema, que se suportam 
mutuamente (...) O desenvolvimento sustentável também afirma que os recursos do meio ambiente devem ser 
examinados tanto pelo seu valor atual quanto futuro, baseado nos princípios de vida dentro de parâmetros 
ecológicos globais de longo prazo” (ZHOU, 1998 (*) apud MONTAÑO, 2002, p.10) 
 
(*) ZHOU, C. GIS monitors our fragile Earth. In: GIS World. v.11, n. 10, Fort Collins – CO – USA, Outubro, 1998. 
 7
Na terceira fase, de 1980 a 2000, as questões vinculadas ao 
Desenvolvimento Sustentável e compatibilidade com o ambiente ganharam 
maior destaque, representadas na prevenção e na implantação de retenções 
naturais, bastante enfatizadas. Porém, esse período foi também marcado por 
um certo distanciamento das medidas técnicas, fato ao qual o autor faz 
algumas ressalvas, alertando que a eficácia de um projeto depende de uma 
boa mistura desses três estágios de prevenção das inundações. 
 
As Inundações no mundo e seus impactos 
 
Os principais impactos causados por inundações são as perdas 
materiais e humanas, interrupção de atividade econômica e social nas áreas 
inundadas, contaminação por doenças de veiculação hídrica (leptospirose e 
cólera, por exemplo), contaminação da água (pela inundação de depósitos de 
material tóxico e estações de tratamento, por exemplo). Além disso, um fato 
relevante é o de que muitas cidades brasileiras apresentam ligações 
clandestinas de esgoto não tratado nas redes de águas pluviais, o que 
ocasiona, em uma situação de inundação, contato direto da população com a 
água misturada ao esgoto. Segundo Gerhard Berz (2000), mais de 250 bilhões 
de dólares foram empregados ,nos últimos dez anos, na compensação dos 
danos causados por inundações. Além disso, uma comparação entre as 
inundações e outros riscos naturais no período de 1985 a 1999, expressa na 
Figura 1, indica grande expressividade desses eventos: 
 8
 
Figura 1 – Catátrofes Naturais no mundo 1985 - 1999 
Fonte: Adaptado de BERZ, 2000 
 
 
Tais gráficos demonstram os seguintes dados sobre as inundações: 
• Correspondem a cerca de um terço 29% das ocorrências de 
catástrofes naturais 
• Causam mais da metade (53%) das mortes causadas por 
catástrofes naturais, o correspondente a 382.085 mortes. 
• São responsáveis por cerca de um terço (29%) das perdas 
econômicas causadas às catástrofes naturais, o que corresponde 
a US$ 275 bilhões. 
• As perdas asseguradas relacionadas às inundações 
correspondem a apenas 10% do total de perdas asseguradas 
O Gráfico D da Figura 1 indica que, dos prejuízos relacionados às 
inundações, apenas 8% são asseguradas, o que corresponde a um valor de 
US$ 15,12 bilhões. Portanto, relacionando esse valor aos US$ 275 bilhões, 
correspondentes aos prejuízos causados por inundações no mundo entre 1985 
e 1999, verificamos que somente 5,5 % das perdas econômicas causadas por 
inundações no mundo são asseguradas. Tal fato, associado à constatação de 
que o número de pessoas afetadas pelas inundações tem aumentado nos 
 9
últimos tempos, de acordo com a Figura 2, constitui um quadro bastante 
preocupante. 
 
Figura 2 – Pessoas afetadas por desastres naturais 
(INTERNATIONAL FLOOD NETWORK, s/d) 
 
Outro fato relevante é o de que as inundações atingem várias localidades 
do planeta, em maior ou menor grau, como demonstra a Figura 3: 
 
Figura 3 - Ocorrência de secas, inundações e tempestades: uma visão geográfica dos 
últimos 30 anos 
(adaptado de INTERNATIONAL STRATEGY FOR DISASTER REDUCTION; UNITED 
NATIONS, 2003) 
 10
 
A análise da Figura 3 indica que a América do Sul foi a terceira região do 
mundo com maior número de incidência de inundações entre 1973 e 2002, com 
registro de 240 eventos, ou seja, 11,8% do total de inundações ocorridas no 
mundo nesse período. Nesse período, a região com o maior registro de 
enchentes foi a Ásia Central, com 337 eventos, seguida pela Ásia do Sudeste, 
com 250 eventos), conforme a Tabela 1. 
 
Esses dados indicam a necessidade de implementação de medidas 
mitigadoras dos grandes impactos sociais e econômicos gerados pelas 
inundações em todo o mundo, assim como a necessidade de realização de 
levantamentos de dados que subsidiem tal processo. 
 
 
 
 
Tabela 1 - Número de Inundações 
por Região no período de 1973 a 
2002 
Dados: INTERNATIONAL 
STRATEGY FOR DISASTER 
REDUCTION; UNITED NATIONS, 
2003, 
Elaboração: Heloisa Ceccato Mendes
Nota: Inclui as inundações com um dos 
seguintes critérios: dez ou mais mortes, cem 
pessoas afetadas, pedido de assistência 
internacional 
Região Número de Inundações 
entre 1973 e 2002
Porcentagem em relação ao 
Número Total de Inundações no 
Mundo entre 1973 e 2002
América do Norte 113 5,6%
América Central 100 4,9%
América do Sul 240 11,8%
Caribe 68 3,4%
Europa do Leste 92 4,5%
Europa do Norte 24 1,2%
Europa do Oeste 70 3,5%
Europa do Sul 73 3,6%
África Central 39 1,9%
África do Leste 136 6,7%
África do Norte 66 3,3%
África do Oeste 87 4,3%
África do Sul 28 1,4%
Ásia Central 337 16,6%
Ásia do Leste 173 8,5%
Ásia do Oeste 55 2,7%
Ásia do Sudeste 250 12,3%
Malásia 9 0,4%
Polinésia 1 0,0%
Austrália e Nova Zelândia 63 3,1%
Micronésia 2 0,1%
2026 100,0%
 11
As Inundações no Brasil e seus impactos 
 
Segundo a ANA (Agência Nacional de Águas), vários municípios brasileiros 
foram atingidos por inundações de 1998 a 1999, conforme indica a Figura 4. 
Nota-se uma relativa concentração nas regiões Sul e Sudeste, da qual 
destacamos no mapa o estado de São Paulo, que apresenta a marcação de 
vários municípios atingidos por inundações nesse período. 
As chuvas recentes de janeiro a março de 2004 ocasionaram uma série 
de inundações nos municípios brasileiros. Nesse período, de acordo com a 
Figura 5 (publicada no jornal Folha de São Paulo em 10 de maio de 2004), 
1.224 municípios brasileiros foram atingidos, sendo 64 localizados no estado 
de São Paulo. O balanço total dos prejuízos, conforme a figura a seguir, foi de 
17.510 casas destruídas, 95.523 casas danificadas e 376.987 pessoas 
atingidas. 
 
Figura 4- Municípios atingidos por inundações (1998-1999) 
Fonte: ANA - Agência Nacional de Águas 
 12
Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, as inundações causam 
prejuízos anuais de aproximadamente US$ 1 bilhão no Brasil (MCT/CGE, 
2002). 
 
A influência da urbanização na ocorrência de inundações 
 
Segundo Carlos Tucci (2003)2, o escoamento pluvial pode produzir 
inundações e impactos por meio de Inundações de áreas ribeirinhas e 
Inundações devido à urbanização, dois processos que podem ocorrer 
isoladamente ou combinados. Geralmente os rios apresentam dois leitos: o 
leito menor, onde a água escoa a maior parte do tempo, e o leito maior, que é 
inundado com risco geralmente entre 1,5 e 2 anos. As inundações de áreas 
ribeirinhas ocorrem pelo processo natural no qual o rio escoa pelo seu leito 
maior, sendo uma decorrência do processo natural do ciclo hidrológico. Com a 
ocupação urbana do leito maior, local caracterizado como área de risco, os 
impactos de inundações tornam-se freqüentes. 
 Alguns dos aspectos do processo de urbanização que podem 
influenciar no aumento da freqüência e magnitude das inundações são: 
impermeabilização do solo e aumento de escoamento por canais (produzindo 
aumento nas vazões máximas), desorganização na implantação da infra-
 
2 TUCCI, C. E. M. Águas Urbanas. In: TUCCI, C. E. M.; BERTONI, J. C. (org). Inundações urbanas na América do 
Sul. Porto Alegre:, Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2003, 471 p. 
Fonte: (Folha de São Paulo, 10 de maio de 2004)Fonte: (Folha de São Paulo, 10 de maio de 2004)
Figura 5 - Balanço da chuva de janeiro a março de 2004 
Fonte: Folha de São Paulo, 10 de maio de 2004 
 13
estrutura urbana (como pontesque podem obstruir o escoamento), aumento da 
deposição de sedimentos em função da desproteção das superfícies e 
deposição de resíduos sólidos (obstruindo rios e canais), ocupação urbana e 
impermeabilização em áreas com risco de inundação (diminuição da 
capacidade de infiltração nas áreas alagáveis), além do processo de formação 
de ilhas de calor em áreas urbanas (produzindo precipitações intensas em área 
urbana e agravando a situação das inundações), entre outros. 
 
O processo de urbanização no mundo 
 
Segundo Carlos Tucci e Juan Carlos Bertoni (2003), no ano 1800 
somente 1% da população mundial vivia em cidades. A partir do século XVIII, a 
revolução industrial teve como efeito um processo mundial de urbanização 
muito intenso e cada vez mais acelerado. Segundo Guglielmo (1996)3 apud 
TUCCI; BERTONI (2003), durante a primeira metade do século XX a população 
total do mundo aumentou em 49% e a população urbana em 240%. Na 
segunda metade do século essa evolução foi ainda mais expressiva, pois a 
população urbana passou de 1.520 milhões de habitantes em 1974 para 1.970 
milhões em 1982. A Tabela 2 demonstra o crescimento da porcentagem da 
população urbana no mundo de 1955 a 1995, apresentado também uma 
estimativa para o período entre 1995 e 2015. 
Tabela 2 - Evolução da População Urbana 1955 a 2015 
Fonte: FNUAP apud TUCCI; BERTONI, 2003, p.2
Año 1955 1975 1995 2015 
% del total 32 38 45 54 
 
Atualmente, a população mundial é de aproximadamente 6.100 milhões 
de habitantes, dos quais 2.850 milhões correspondem à população urbana. 
Portanto, 47% da população mundial é urbana na atualidade. Se o crescimento 
dos últimos tempos for mantido, em pouco tempo a população urbana terá 
superado a população rural mundial, pela primeira vez na história. 
 
3 GUGLIELMO, R. Les grande métropoles du monde et leur crise. Paris: A Colin, 1996, 268p. 
 
 14
Em 1950, oito aglomerações urbanas alcançavam ou ultrapassavam a 
população de 5 milhões de habitantes: Nova York, Londres, La Ruhr, Tókio, 
Sahngai, Paris, Buenos Aires e Moscou, correpondendo a 7% da população 
mundial naquele momento. No ano 2000, a população mundial do planeta 
concentrada em metrópoles com pelo menos 10 milhões de habitantes já 
correspondia a 15% da população mundial (UNESCO apud TUCCI; BERTONI, 
2003, p.2).A tendência de crescimento urbano é liderada pela América do Sul, 
onde a concentração urbana nas principais cidades tem o crescimento mais 
alto das regiões do mundo e o maior de todos os tempos. É importante atentar 
para o fato de que o processo de urbanização nos países em desenvolvimento 
se diferencia do ocorrido nos países desenvolvidos. A Figura 6 demonstra que 
o crescimento da população nos países desenvolvidos praticamente se 
estancou desde meados de 1950, enquanto a previsão para que isso ocorra 
nos países em desenvolvimento é somente para o ano 2150. 
Segundo Guglielmo (1996)4 apud TUCCI; BERTONI (2003), na segunda 
metade do século XIX - ou na primeira metade do século XX, de acordo com o 
caso - as metrópoles dos países desenvolvidos passaram por um crescimento 
demográfico intenso associado à industrialização. O desenvolvimento industrial 
nos países em desenvolvimento foi mais intenso, pelo contrário, na segunda 
metade do século XX. Em 1950, das 8 grande metrópoles do mundo, 6 se 
situavam em países desenvolvidos (75%) e em 1990, das 35 cidades com mais 
de 5 milhões de habitantes do mundo, somente 12 pertencem a países 
 
4 GUGLIELMO, R. Les grande métropoles du monde et leur crise. Paris: A Colin, 1996, 268p. 
(**) INDEC – Instituto Nacional de Estadística y Censos. Anuário Estadístico. Buenos Aires, 1999. 
 
Figura 6 - Crescimento da 
População em países 
Desenvolvidos e Em 
Desenvolvimento 
Fonte: Nações Unidas apud TUCCI; 
BERTONI, 2003, p.3 
 15
desenvolvidos (35%), o que demonstra como o processo de urbanização nos 
países em desenvolvimento foi intenso nesse período. 
É interessante ressaltar também que das 15 cidades mais povoadas do 
mundo, 4 se localizam na América Latina, sendo duas no Brasil. São elas: São 
Paulo, Cidade do México, Buenos Aires e Rio de Janeiro. O prognóstico é de 
que por volta do ano 2010 existirão 60 cidades com população superior a 5 
milhões de habitantes, sendo a maioria em países em desenvolvimento. 
A Figura 7 demonstra que, a partir de 1975, as cidades de países 
desenvolvidos (Paris, Londres e Nova York) apresentaram diminuição 
representativa do aumento da população, enquanto as cidades de países em 
desenvolvimento (São Paulo e Buenos Aires) apresentaram comportamento 
contrário: crescimento populacional acentuado. Esse fato se deve ao próprio 
aumento do crescimento da população e também ao êxodo rural intenso. 
 
O processo de urbanização no Brasil 
 
As décadas de 1960 e 1970 foram caracterizadas no Brasil por um 
processo muito intenso de urbanização. Segundo Instituto Polis et al (2001), 
em 1960 a população total do Brasil era composta por 44,7% de população 
urbana e 55,3% de população rural. Dez anos depois essa relação se inverteu, 
com números quase idênticos: 55,9% de população urbana e 44,1% de 
população rural. Entre 1960 e 1996, a população urbana brasileira aumentou 
em mais do que quatro vezes, passando de 31 milhões de habitantes para 137 
milhões, recebendo, portanto, 106 milhões de novos moradores nesses 36 
anos. 
Figura 7 - Evolução da 
População de grandes 
metrópoles da Europa e da 
América 
Fonte: Adaptado de 
GUGLIELMO,1996 (5) ; 
INDEC,1999 (**) apud TUCCI;
BERTONI, 2003, p.4 
Anos
Po
pu
la
çã
o 
(m
ilh
õe
s 
de
 h
ab
)
Anos
Po
pu
la
çã
o 
(m
ilh
õe
s 
de
 h
ab
)
 16
Esse processo produziu uma ocupação urbana com infra-estrutura 
inadequada e gerou o surgimento de favelas e periferias situadas em áreas de 
risco. Tal processo fez com que as cidades brasileiras se caracterizassem pela 
existência de territórios urbanos legais e ilegais ou irregulares. Desse modo, 
passaram a existir no cenário urbano brasileiro a cidade legal e a cidade ilegal. 
“No final dos anos cinqüenta mais de sessenta por cento 
da população estava no campo, agora temos mais de setenta e cinco por cento 
da população na cidade, com muitos desterritorializados de várias partes, que 
constituíram as imensas periferias, favelas e as cidades precárias, irregulares e 
ilegais existentes em todas as localidades brasileiras”. (ROLNIK, 1995, p. 8) 
Segundo Carlos Tucci (2003)5, quase a totalidade das cidades da 
América do Sul não apresenta em seus planos diretores restrições que 
impeçam efetivamente o loteamento de áreas com risco de inundação, o que 
contribui para a exposição da população aos riscos das inundações urbanas. 
No entanto, é importante considerar também a dinâmica da cidade ilegal, já 
que nos casos em que se aplica uma restrição às áreas ribeirinhas - não 
permitindo o loteamento por tratar-se de uma área com risco de inundação -, 
ou no caso de áreas ribeirinhas pertencentes ao poder público, é freqüente a 
ocorrência de invasões por população de baixa renda. 
Desse modo, nos deparamos com um impasse bastante freqüente nas 
cidades brasileiras. É necessário impedindo a ocupação urbana em áreas 
alagáveis; porém, não se pode ignorar a existência de duas dimensões 
urbanas: a cidade legal e a cidade ilegal, cada uma com o seu mercado. 
Segundo Raquel Rolnik (1995) há uma interação entre o mercado formal 
e o informal: 
“O mercado formal, que aprova planta na prefeitura, segue a lei, etc..., é 
apenas um dos mercados. E quando a lei diz, o mercado formal não pode 
lotear até a beira do córrego (...) a beira do córrego perde valor para o mercado 
imobiliário formal, virando, automaticamente, reserva de terra do mercado 
clandestino. Onde estão todas favelas? Na beira dos córregos, ou nas áreas de 
maior declividade.”(ROLNIK, 1995, p. 17) 
 
5 TUCCI, C. E. M. Águas Urbanas. In: TUCCI, C. E. M.; BERTONI, J. C. (org). Inundações urbanas na América do 
Sul. Porto Alegre:, Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2003, 471 p. 
 17
Além da ocupação informal das áreas alagáveis, a implantação de 
avenidas marginais aos rios urbanos, intervenção bastante recorrente nas 
cidades brasileiras, subjugou os sistemas das águas a um padrão de ocupação 
pré-determinado pelo homem, sem considerar sua compatibilidade com o meio, 
como um reflexo do pensamento positivista no processo de ocupação do 
território, de sobreposição do homem ao meio. 
O pensamento amplamente difundido no Brasil, baseado na adaptação 
da hidrografia ao sistema de mobilidade urbana, fez com que vários rios 
urbanos sofressem intervenções drásticas de retificação de seus meandros. 
Exemplos bastante representativos deste tipo de intervenção são as avenidas 
marginais aos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo-SP. Nesse contexto, em 
que as várzeas foram aproveitadas como terreno barato, foi realizada a 
retificação do Rio Pinheiros para a ampliação de avenidas, em 1927, retratada 
na Figura 8 (GUERRA, 2003). 
 
Figura 8 - Rio Pinheiros antes e depois da retificação Fonte: GUERRA, 2003, p. 32 e 33 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BERZ, Gerhard. Flood Disasters: Lessons form the Past – Worries for the 
Future. Symposium on River Flood Defence. v2. Kassel: Herkules Verlag, 
2000, p. F1-F10 
FOLHA DE SÃO PAULO. FGTS atende só 6% das vítimas das cheias. São 
Paulo. 10 de maio de 2004 
GUERRA, Abílio et al. Rios Urbanos: Workshop – Intervenção Urbanística na 
região do Rio Pinheiros em São Paulo. São Paulo: FAU-SP, 2003, 96 p. 
HOFFMAN, Albrecht. Floods and their Origin in the Medieval World of Thought. 
Symposium on River Flood Defence. v1. Kassel: Herkules Verlag, 2000, 
p.B1 – B9 
INSTITUTO PÓLIS et al. Estatuto da Cidade: guia para implementação pelos 
municípios e cidadãos. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de 
Publicações, 2001. 
 18
INTERNATIONAL FLOOD NETWORK. Effective Flood Management for 
Precious Water and Life. Tokyo: International Flood Network, s/d. 
INTERNATIONAL STRATEGY FOR DISASTER REDUCTION; UNITED 
NATIONS. Living with Risk: Turning the tide on disasters towards 
sustainable development - World Disaster Reduction Campaign. 
Geneva, 2003 
MCT/CGE – Ministério de Ciência e Tecnologia / Centro de Estudos e Gestão 
Estratégica; Diretrizes estratégicas para o Fundo de Recursos Hídricos 
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Brasília, 2002. Disponível 
em http://www.ana.gov.br, capturado em 11/08/2004. 
MONTAÑO, Marcelo. Os recursos hídricos e o zoneamento ambiental: o 
caso do município de São Carlos. São Carlos: EESC- USP- Depto de 
Hidráulica e Saneamento, Dissertação de Mestrado, 2002. 
ROLNIK, Raquel. Planejamento Urbano nos anos 90: novas perspectivas para 
velhos temas. In: SILVA, Kleber Pinto. A cidade contemporânea: 
tendências e conceitos. Bauru: UNESP: Faculdade de Arquitetura, Artes e 
Comunicação: Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, 
1995. 
TOENSMANN, Frank. About the History of Flood Defence: The Northern Hesse 
Example. Symposium on River Flood Defence. v1. Kassel: Herkules 
Verlag, 2000, p.B63 – B85 
TUCCI, C. E. M.; BERTONI, J. C. (org). Inundações urbanas na América do 
Sul. Porto Alegre:, Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2003, 471 
p. 
 
 19
CAPÍTULO 2 
 
Alterações Climáticas e Seus Impactos 
Gerson de Marco 
 
Resumo 
 
 No presente artigo reúnem-se, em síntese apertada, estudos relativos às 
alterações climáticas globais, suas conseqüências nas precipitações 
pluviométricas e seus impactos e a adoção de medidas mitigadoras aos 
fenômenos que provocam essas alterações climáticas. O aumento de CO2 e de 
outros gases na atmosfera provoca o “efeito estufa”, responsável, em grande 
parte, pelas alterações climáticas globais, que afetam o regime das 
precipitações pluviométricas, aumentando-as ou diminuindo-as. Outros 
fenômenos, como El Niño e La Niña, também influenciam essas precipitações. 
Os impactos das alterações climáticas têm várias repercussões: no 
escoamento dos rios; no volume e disponibilidade das águas, superficiais ou 
subterrâneas; na qualidade das águas; na ocorrência de cheias e secas e de 
mudanças ambientais, e de mudanças econômicas e sociais. Entre as mais 
importantes medidas mitigadoras, a comunidade internacional recomenda a 
redução da emissão de gases “efeito estufa”, meta do Protocolo de Quioto, 
ainda não implantado. 
 
Introdução 
 
 Há registros da ocorrência de alterações climáticas na Terra desde 
sempre, sendo assim um fenômeno natural. Atualmente são consideradas 
como um problema sério, devido ao ritmo acelerado em que acontecem. 
Um dos fatores que contribuíram para as mudanças climáticas foi a 
revolução industrial, por volta do século XVIII, quando passou-se a emitir CO2 
para a atmosfera, resultante da queima dos combustíveis fósseis (carvão, 
petróleo, gás natural). Atualmente, as fontes de energia fóssil representam 80% 
 20
do consumo mundial. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o 
Desenvolvimento Econômico), o homem joga cerca de 23.400 toneladas de 
carbono para a atmosfera por ano. Também os desflorestamentos contribuíram 
para um aumento de 30% na concentração atmosférica de CO2. 
Além do CO2, houve também grande aumento da concentração de 
determinados gases na atmosfera, como CH4, N2O, CFC, HFC, PFC e SF6. 
Estes gases também absorvem parte das radiações infravermelhas que a terra 
irradia para o espaço, provocando uma retenção de calor. Tal fenômeno, 
chamado de “efeito estufa”, é responsável por um aumento de cerca de 0,5 oC, 
no último século, das temperaturas médias da atmosfera terrestre. A figura 1 
ilustra o aumento de CO2 na atmosfera ao longo dos anos. 
 
 
 Figura 1. Variação da emissão de CO2. 
(Fonte: Santos) 
 
O CH4 apresenta um GWP (Global Warming Potential ou Potencial de 
Aquecimento Global) 21 vezes superior ao do CO2 e o N2O um GWP 310 vezes 
superior ao do CO2. Outros gases naturais que provocam o “efeito estufa” são 
o H2O e o O3. A temperatura global tem crescido constantemente, em 
decorrência do acúmulo dos gases “efeito estufa” como mostra a figura 2. 
 
 21
 
 Figura 2. Variações da temperatura superficial da Terra nos últimos 140 anos e no último milênio. 
(Fonte: IPCC) 
 
Existem sumidouros naturais de CO2, que contribuem para seu equilíbrio 
ao absorverem este gás (como é o caso da floresta) ou ao fixarem-no ao solo 
(como é o caso da agricultura). Esses sumidouros assumem papel importante 
para a redução ou estabilização da concentração de CO2 na atmosfera 
(Relatório do Estado do Ambiente 1999 – Alterações Climáticas, Portugal). 
Também contribuem para alterações climáticas os fenômenos El Niño e 
La Niña. O primeiro, que é a interação atmosfera-oceano, associado a 
alterações dos padrões normais da temperatura da superfície do mar, assume 
dimensões continentais e planetárias, à medida que provoca desarranjos de 
toda ordem em vários climas da Terra. Cientistas, estudando as variações 
climáticas do planeta, descobriram que ele tem relação com o “efeito estufa”, 
como indicam modelos climáticos. Já o La Niña se caracteriza por ser o oposto 
do El Niño e pode também ser chamado de episódio frio, pois traz o aumento 
de chuvas em várias regiões da Terra. 
Fenômeno ligado à ação humana, mas de efeito mais localizado, é o 
chamado “ilhas de calor”, que acontece nas grandes metrópoles, onde a 
excessiva pavimentação e verticalização urbana provocam aquecimento do ar, 
fazendo-o subir e causando maior instabilidade atmosférica, com tendência 
para a ocorrência de temporais e granizo. 
 A partir de 1972, registrou-se uma tendência global de alteração da 
temperatura média doar, com seu aquecimento, conforme demonstram 
pesquisas realizadas por vários países, inclusive Portugal (Relatório do Estado 
do Ambiente 1999 – Alterações Climáticas). 
 22
 
Conseqüências das mudanças climáticas no mundo 
 
 Uma maior quantidade de energia armazenada na atmosfera, em razão 
do aquecimento global, implica uma intensificação do ciclo hidrológico, 
acarretando profundas assimetrias espaciais e temporais da precipitação nas 
diferentes regiões do globo. 
 As distribuições sazonais das precipitações, ao longo dos anos 
hidrológicos, vêm sofrendo importantes alterações. Há locais em que, 
dependendo do mês, tem diminuído a precipitação, e há locais em que, 
dependendo do mês, está aumentando. Os ciclos poderão variar, com longos 
períodos de secas intensas ou grandes períodos de chuvas carregadas. Assim, 
havendo um maior risco de cheias nas regiões onde está projetado um 
aumento das precipitações, serão necessárias medidas de médio e longo 
prazo, incluindo ações estruturais (como construção de reservatórios e de 
sistemas de transporte de águas, ações reguladoras do uso do solo e de 
florestação) e outras não estruturais (como gestão de riscos e previsão de 
fenômenos climáticos extremos). As áreas onde ocorrerá esse aumento das 
precipitações estão nas latitudes mais elevadas, em algumas regiões 
equatoriais e no Sudoeste da Ásia. A diminuição das precipitações ocorrerá 
nas latitudes médias, em particular na região do Sul da Europa e no 
Mediterrâneo. 
 O escoamento dos rios tenderá a aumentar nas latitudes elevadas e a 
decrescer nas latitudes médias, em algumas regiões tropicais, como por 
exemplo, o Brasil. Como conseqüência, haverá um agravamento da assimetria 
Norte-Sul no que se diz respeito aos recursos hídricos. 
 A subida do nível médio das águas do mar é considerada como uma das 
potenciais conseqüências do aquecimento global, com projeção desse 
aumento de 9 a 88 cm, até 2100, sendo o valor mais provável da ordem de 50 
cm (Santos, 2003). 
 
Outros impactos das alterações climáticas 
 
 23
Os impactos das alterações climáticas, como exposto, afetam vários 
domínios, mas, naquele dos recursos hídricos, certamente tais impactos serão 
mais significativos, quer pela relação direta da água com o clima, quer pelas 
disponibilidades de água condicionarem muitos setores da atividade sócio-
econômica. 
Os impactos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos fazem-
se sentir tanto do lado da oferta, como do lado da procura de água. No que 
respeita à oferta, as alterações climáticas provocam uma modificação do 
regime de precipitações, que conduz a variações do volume e da distribuição 
temporal das disponibilidades de água, quer superficiais, quer subterrâneas. A 
estes impactos sobre a quantidade da água há que acrescentar os impactos 
sobre a qualidade, devidos a variações das disponibilidades de água, ao 
aumento da temperatura e à subida do nível médio do mar. Do lado da procura 
de água, são de esperar alterações nos volumes de água consumidos, 
sobretudo na irrigação, mas também na produção de energia, em particular 
devido ao aumento das necessidades de refrigeração. Os impactos das 
alterações poderão vir a fazer-se sentir sobre a intensidade e a freqüência de 
situações de cheias e de secas. 
 
Impactos das Alterações Climáticas sobre o Escoamento 
 
Uma diminuição da precipitação, acompanhada por um aumento da 
evapotranspiração potencial, relacionada com o aumento da temperatura, 
tenderá a provocar uma diminuição das disponibilidades anuais de água. As 
variações sazonais das alterações da temperatura e precipitação podem, no 
entanto, não confirmar esta tendência. 
 
Impactos sobre a qualidade da água 
 
As modificações da quantidade da água, resultantes das alterações 
climáticas, terão, obviamente, conseqüências indiretas sobre a qualidade da 
água, em virtude da modificação das condições de absorção das cargas 
poluentes pelos meios hídricos. Além disso, o aumento de temperatura, 
associado às alterações climáticas, terá também impactos diretos sobre a 
 24
qualidade da água, como por exemplo, diminuir o nível de saturação de 
oxigênio dissolvido na água ou condicionar os processos químicos e biológicos 
que ocorrem nos meios hídricos, influenciando nos fenômenos de eutrofização 
e no comportamento dos ecossistemas. 
 
Impactos sobre as águas subterrâneas 
 
Em termos gerais, parece aceitável que a recarga dos aqüíferos siga de 
perto as variações de precipitação relacionadas com as alterações climáticas. 
Mas existe alguma incerteza relativamente à forma como os aqüíferos reagirão 
às modificações dos regimes sazonais e interanual de precipitações. Por outro 
lado, os aumentos de evapotranspiração, associados a acréscimos de 
temperatura, podem conduzir à salinização dos solos e posterior lixiviação nos 
aqüíferos. Por fim, as esperadas subidas do nível do mar, associadas ao 
aquecimento global, são capazes de afetar os recursos hídricos subterrâneos, 
como resultado do fenômeno de intrusão salina costeira. 
 
Impactos sobre a procura de água 
 
As mudanças de temperatura, associadas às alterações climáticas, além 
de condicionarem as disponibilidades de água, podem também ter impactos 
sobre a procura de água. Estes impactos podem ser particularmente 
significativos no caso da utilização da água para a agricultura, em 
conseqüência da modificação da evapotranspiração e da umidade do solo. 
Podem também ocorrer impactos significativos sobre a procura de água para 
certas utilizações industriais, como no caso, por exemplo, dos sistemas de 
arrefecimento hidráulico, ou para determinadas utilizações domésticas e 
municipais, como as ligadas à alimentação humana, aos banhos, ou à rega de 
parques e jardins (Chunha, Oliveira e Nunes). 
 
Impactos sobre a ocorrência de cheias e secas 
 
 As alterações climáticas não determinam apenas modificações dos 
valores médios do escoamento, mas também dos seus valores extremos, 
 25
provocando alterações dos regimes de cheias e secas. Em particular, podem 
ocorrer alterações da intensidade, duração e períodos de ocorrência das cheias 
e secas. Estudos evidenciam uma tendência geral para um acréscimo da 
precipitação na época úmida e um decréscimo da precipitação na época seca. 
O regime de escoamento deverá, normalmente, seguir esta tendência geral, 
sendo assim de se esperar uma intensificação das cheias e secas, em 
conseqüência das alterações climáticas. É de se esperar ainda que as 
inundações provocadas pelas cheias, nos trechos dos rios, nas regiões 
costeiras, possam ser agravadas pela subida do nível do mar, associada às 
alterações climáticas. 
 Às secas alie-se o processo de desertificação, como conseqüência do 
aquecimento global, fatos que afetam atualmente cerca de 1/6 da população 
mundial, comprometendo uma superfície de cerca de 3.600 milhões de 
hectares, ou seja, aproximadamente 30% das zonas continentais do planeta. 
 
Impactos ambientais, econômicos e sociais 
 
Apesar da modelação da variabilidade da alteração climática ser um 
domínio ainda não amadurecido, são previsíveis, ainda com grandeza incerta, 
impactos ambientais significativos: deslocação de zonas bióticas, extinção de 
biodiversidades, adulteração dos recursos renováveis. Tudo isto levará a 
grandes impactos econômicos, devido à mudança da disponibilidade de 
recursos naturais, e a impactos sociais, que influenciarão na habitabilidade, nas 
migrações e na saúde pública. 
Como grande parte das espécies de árvores conhecidas são sensíveis 
às variações de clima, podendo sobreviver apenas dentro de uma pequena 
faixa de temperatura e umidade, um aquecimento de apenas 1°C poderia 
acabar com mais de 200 km de zonas florestais, e se o aquecimento 
prosseguisse tão rapidamente, florestas inteiras poderiam estar ameaçadas. 
Árvores de climas mais secos e quentes tornar-se-iam mais suscetíveis adoenças, insetos, como também a outros desgastes. Espécies tropicais, mais 
adaptadas ao novo clima, poderiam, por fim, mover-se e substituir aquelas, 
ainda que lentamente. 
 26
A agricultura também seria afetada, uma vez que as plantações, 
também, são sensíveis ao clima. A mudança de clima exigiria grandes 
mudanças nas práticas agrícolas. Apenas o ajuste dos sistemas de irrigação 
mundiais poderia custar aproximadamente US$ 200 bilhões. Índices mais altos 
de dióxido de carbono beneficiariam as plantas, acelerando o processo da 
fotossíntese, embora algumas espécies se adaptem melhor que outras a esse 
gás. Plantas daninhas poderiam prosperar em uma atmosfera rica em carbono, 
invadindo áreas de cultivo de alimentos e de outras plantas, destituindo-as de 
nutrientes. O aquecimento global favoreceria insetos que vivem em áreas 
quentes, que apresentam um curto tempo de vida e que podem adaptar-se e 
evoluir rapidamente. Pestes de insetos e parasitas patogênicos tenderiam a 
proliferar sob essas condições de rápido aquecimento. Acredita-se que as 
perdas nas safras devido aos insetos aumentariam, e que os países em médias 
latitudes experimentariam um influxo de doenças tropicais. 
As espécies animais que pudessem migrar, enfrentariam obstáculos que 
não existiram em mudanças climáticas anteriores. À medida que o 
aquecimento global progredisse, a vida selvagem poderia tornar-se "presa da 
civilização", em refúgios e áreas não selvagens, que já não representam 
hábitats apropriados. Cidades, estradas, áreas de cultivo, além de outras 
barreiras humanas, dificultariam o processo de migração. Para preservar a vida 
selvagem, seria necessário criar "corredores de migração" ou promover 
grandes esforços de relocação. 
 
Cenários das mudanças climáticas na América do Sul 
 
 Em razão dos pesquisadores não saberem qual será o índice de 
emissão de gases de efeito estufa, foram apresentados vários cenários de 
mudanças climáticas para o nosso país. Nos modelos climáticos 
computacionais foi suposto que ocorrerá um aumento na temperatura de 4 a 6 
oC. 
 Análises feitas indicaram um aumento das temperaturas do ar à 
superfície terrestre, durante o século XX, no Brasil, compatíveis com o 
aquecimento global. 
 27
 Relativamente às precipitações, não é apontada uma alteração clara, 
mas é observada uma mudança na variabilidade climática nas escalas 
interanual e interdecadal. 
O IPCC (Intergovernamental Painel on Climate Change) concluiu, em 
pesquisa realizada no ano de 2000, baseada nos resultados obtidos em 11 
simulações realizadas, cobrindo o período de 1870 a 2100, que houve 
alterações climáticas em várias regiões do globo, incluindo a América do Sul 
(Carter and Hulme, 2000). E as projeções do estudo do IPCC para a América 
do Sul mostram, de maneira geral, aumento de temperatura, até 2080, de cerca 
de 1 oC (cenário B1 de baixa emissão), podendo subir para mais de 6 oC, no 
norte da América do Sul, e aproximadamente para 4 oC, no sul da América do 
Sul (cenário A2 de alta emissão), em 2080. No que se refere à precipitação, a 
incerteza é ainda muito grande. 
 
 
Figura 3. Mapa mostrando as duas regiões da América do Sul. As regiões são definidas na grade do modelo 
climático HadCMS. Os domínios regionais são ligeiramente diferentes para cada um dos outros modelos 
climáticos. 
 (Adaptado de Carter and Hulme, 2000) 
 
 
 28
 
 Figura 4. Variação da temperatura média anual, 1901-1998 (painel superior), 
 e da precipitação anual, !901-!998 (painel inferior), no Brasil. A variação é 
 relativa às médias do período 1961-90 (com valores médios de 25,0 oC e 
 1780mm, respectivamente. 
 (Hulme, M. e Sheard, N. (1999) Cenários de Alterações Climática para o Brasil 
 Climatic Research Unit, Reino Unido, 6pp) 
 
Para o norte da América do Sul, há simulações que apontam aumento 
de precipitação, enquanto outras, reduções. Isso se repete para o sul da 
América do Sul, embora haja uma predominância de simulações indicando 
aumento de precipitação. O nível de incerteza sobre as mudanças da 
freqüência de ocorrência de extremos climáticos é maior do que para a 
distribuição das precipitações pluviométricas. Todavia, espera-se que a 
atmosfera, em virtude do aumento da temperatura nas suas camadas mais 
próximas da superfície, reterá mais vapor de água, podendo provocar um 
aumento do ciclo hidrológico, talvez aumentando a ocorrência de situações 
extremas, como tempestades intensas. No entanto, apesar de razoável essa 
hipótese sob o ponto de vista físico, há necessidade de efetiva comprovação. 
 29
 
 
Figura 5. Características principais dos diagramas de espalhamento (“Scatter Plots”) das 
mudanças sazonais de temperatura e precipitação para os cenários de emissões SRES. 
Adaptado de Carter and Hulme, 2000 
 
 
Figura 6. Caracterização das mudanças de temperatura anual com relação a média do 
período 1961-90 para o cenário B1 de baixa emissão. Mapas para as décadas de 2020 
(superior), 2050 (meio) e 2080 (inferior). Os painéis à esquerda mostram as mudanças 
medianas a partir de resultados de 10 Modelos Climáticos Globais (MCG). Os painéis à 
direita mostram faixa de variação dos resultados dos diferentes MCG. 
Adaptado de Carter e Hulme, 2000. 
 30
 
 
Figura 7. Caracterização das mudanças de precipitação anual com relação a média do 
período 1961-90 para o cenário B1 de baixa emissão. Mapas para as décadas de 2020 
(superior), 2050 (meio) e 2080 (inferior). Os painéis à esquerda mostram as mudanças 
medianas a partir de resultados de 10 Modelos Climáticos Globais (MCG). Os painéis à 
direita mostram faixa de variação dos resultados dos diferentes MCG. 
Adaptado de Carter e Hulme, 2000. 
 31
 
 
Figura 8. Caracterização das mudanças de temperatura anual com relação à média 
do período 1961-90 para o cenário A2 de alta emissão. Mapas para as décadas de 
2020 (superior), 2050 (meio) e 2080 (inferior). Os painéis à esquerda mostram as 
mudanças medianas a partir de resultados de 10 Modelos Climáticos Globais (MCG). 
Os painéis à direita mostram a faixa de variação dos resultados dos diferentes MCG. 
Adaptado de Carter e Hulme, 2000. 
 
 
 32
 
Figura 9. Caracterização das mudanças de precipitação anual com relação a média do 
período 1961-90 para o cenário A2 de alta emissão. Mapas para as décadas de 2020 
(superior), 2050 (meio) e 2080 (inferior). Os painéis à esquerda mostram as mudanças 
medianas a partir de resultados de 10 Modelos Climáticos Globais (MCG). Os painéis à 
direita mostram a faixa de variação dos resultados dos diferentes MCG. 
Adaptado de Carter e Hulme, 2000. 
 
 
Simulação através do VWP 
 
 A fim de enriquecer o presente artigo, simulou-se, com os dados citados, 
através do VWP (Virtual Water Problem), que se constitui em um exemplo 
narrativo virtual, com ferramentas relacionadas à hidrologia, para fins 
unicamente pedagógicos. Através dos enredos criados, aproximou-se do 
comportamento da bacia de um rio, observando-se políticas de águas globais, 
problemas relacionados à bacia de um rio, enredos de água, resumos 
executivos, projeções com outros dados aleatórios e o ajuste com equações e 
outros elementos. 
 
Enunciado do VWP: 
 
PROBLEMA de ÁGUA VIRTUAL 
 33
Assunto: “Hidrologia Física” 
Autor: Prof. Dr. E. Mario Mendiondo, Univ. São Paulo, Brasil, 
Contatos: emm@sc.usp.br, www.shs.eesc.usp.br/pessoal/docentes/docente 
 
Um Problema de Água Virtual (VWP) é um exemplo narrativo virtual com 
o uso de ferramentas de hidráulica e hidrologia somente para fins pedagógicos. 
Um VWP permite que os estudantes e cientistas utilizem enredos de água 
através de enredos criados, com aproximação de bacia de rio, mas sem 
endossos nem compromissos para com as instituições a que pertençam. O 
VWP seguinte é o primeiro de umas sériesde VWPs. Suas narrativas 
compreendem: 1) políticas globais de água, 2) o estudo de um caso de bacia 
de rio relacionado ao problema, 3) a força-tarefa internacional, 4) forças 
motrizes, 5) enredos de água, 6) resumos executivos, 7) protocolos de 
intervenção adaptáveis e 8) equações, dados, etc., apresentando referências e 
ligações ao término da narrativa do VWP. 
 
Narrativas de Problema de Água virtuais 
 
As Nações Unidas estimulam a geração de novos projetos de uso 
sustentável de água em pequenas localidades. O Banco Mundial financiará 
Organizações Não Governamentais (ONGs) para desenvolver políticas de 
água, com o emprego de conhecimentos aplicáveis às megalópoles a áreas 
rurais. Autoridades de vários países submeteram à ONU e ao Banco Mundial a 
questões relativas à ocupação humana ocorrentes nas comunidades rurais. 
Todos estes projetos deveriam ser unificados em termos de impacto regionais 
(de espaço), gerenciamento sustentável (tempo) e situados em latitudes 
diferentes (relevância internacional). 
 
Um caso-estudo: um problema de bacia de rio 
 
Além de patrocinar a Década 2003-2012 Internacional de BAR do ‘' 
Program-Prediction em Bacias de Ungauged, a ONU e o Banco Mundial 
decidiram conceder o benefício a outras comunidades rurais, até o ano 2050. 
Isso atingirá uma bacia de rio de até um 20 km2 de área e sem urbanização 
 34
prévia. Para permitir que uma comunidade se aproxime da ONU se aproxime, o 
Programa de BAR recomendado Turcato como bacia de rio como um caso-
estudo por VWP. Representante de um bioma tropical, no Brasil, a Bacia do 
Rio Turcato teve grande uso da terra no período 1950-2004, sem a adoção de 
práticas conservacionistas, resultando em altas taxas de erosão na bacia. 
Práticas conservadoras em toda bacia do rio Turcato, na tentativa mitigar as 
altas taxas de erosão cota mais alta do córrego, resultou na formação de 
encostas. 
 
Uma tarefa de força Internacional 
 
Um problema apontado por programa de BAR é a alta incerteza 
relacionada ao capacidade Smax de armazenamento total de água da bacia de 
rio. O Smax sofre mudança anuais desde 1950 a 2004 e, claro que, mudará 
novamente para um limiar novo até as 2050. Selecionado 
enredos de bacia de rio foram enfileirados de acordo com: 1) armazenamento 
de capacidade total variado, 2) distintas opções de projeto hidráulico até o ano 
2050 e 3) com grupos de perícias de Investigadores mundiais do assunto 
“Hidrologia Física”, SHS-5874, de um curso pós-graduado da Escola de 
Engenharia o São Carlos, da Universidade o São Paulo, Brasil, com 
treinamento em hidrologia e hidráulica, foi selecionado, inicialmente, uma 
Força-tarefa Internacional para trabalhar este VWP. Cada grupo trabalhará em 
zonas rurais de Pejuçara, enredos discrepantes de bacia de rio. 
 
 
 Forças motrizes em bacia de rio de zona rural 
 
Forças motrizes principais são as mudanças de uso da terra devido a 
ação humana em bacia de rio de zona rural. Até o ano 2050, ONGs locais 
estão procurando uma concentração de 25.000 (vinte cinco milhares) pessoas 
que vivam em zona rural. A demanda de água para setores como habitações, 
pequenas casas comerciais, agricultura (irrigação), micro-indústria e pecuária 
aparecerão. 
 35
Previsão de enredos de futura escassez de água mais alta neste bioma 
tropical limitará o potencial de uso de água para os habitantes e setores que 
demandam a água-demanda na comunidade rural. 
Um Comitê Regional de Bacia de Rio fez um relatório interno sobre Avaliação 
de ecossistema (www.millenniumassessment.org). 
Resumo executivo de enredos futuros durante ano 2050: 
1. embora com avaliação incerta em valores absolutos, está seguro que 
propôs a urbanização e o uso da terra, que 2050 provocarão uma diminuição 
de 30% em Smax (2050), com relação ao Smax(2004); porém, no ano de 
1950, anterior às atividades de aquecimento Smax (1950) era de ca. 50% mais 
alto que Smax (2004).Enredos diferentes de Tabela 1 descrevem o Smax 
(1950). Para fins práticos, Smax [mm] = (máximo água armazenamento 
volume) / (área da bacia). 
2. clima mudança enredos previsão global um aumento em temperatura 
nesta região até as 2050. Este aumento de temperatura produzirá o mesmo 
incremento para temperaturas mensais do ano 2050 comparado com as 
temperaturas mensais do ano 2004. Esta mudança de clima vai produzir uma 
mudança no regime de evapotranspiração e precipitação pelo ano; por 
conseguinte, o regime de déficits de água e excessos de água diferirá entre 
enredos. Mensalmente, temperaturas no ano de 1950 eram aproximadamente -
1,0 o C em comparação a valores mensais em 2004. Nota: a temperatura muda 
em valores absolutos é o mesmo durante todos os meses pelo ano. 
3. estudos previdentes apontaram que a pressão de vapor de água (ea) 
em ano 2050 vá permanecer aproximadamente igual, comparado com valores 
de ea mensais em 1950 e 2004 (Tabela 2). 
4. porém, a temperatura é diferente, respectivamente no período 1950-
2004 e 2004-2050, afetando e afetará o limiar físico de condensação de vapor 
de água da atmosfera do habitante da bacia. É assim porque a pressão de 
vapor de água saturada (eas), o máximo valor de pressão de água a uma 
determinada temperatura, é uma função de temperatura ambiente. Em resumo, 
temperaturas de orvalho-ponto mensais serão diferentes em 2050 em relação 
aos anos 1950 e 2004, de acordo com os enredos apontados na Tabela 1. 
5. devido a mudança do clima (temperatura), a umidade relativa RH (% = 
ea / eas · 100) é diferente para todos os meses dos anos 1950, 2004 e 2050. 
 36
6. de acordo com valores diferentes de T, eas e RH nos anos 1950, 
2004 e 2050, também, padrões de precipitação mudam de 1950 a 2004 e de 
2004 a 2050 durante todos os meses. Poderiam ser avaliadas mudanças de 
uma relação física de RH mensal (%) com a precipitação mensal P (mm), 
computada em 2004, e válida para 1950 e 2050. Computações exatas são 
esboçadas na seção “Equações.” 
7. evapotranspiração potencial mensal (ETp) durante anos 1950, não 
será a mesma de 2004 e 2050, porque ela depende da temperatura. Assim 
ETp é calculado através de procedimentos comuns, usando a fórmula de 
Thornthwaite, da qual é função latitude, temperatura e coeficientes locais. 
8. até ano 2050, retiradas de água mensais (Dem) para consumo de 
vários setores vão aparecer e afetar o equilíbrio hidrológico na bacia de rio. 
Estimativas preliminares calcularam um total de 250 litros / (capita.dia). Porém, 
há uma incerteza alta desta estimativa devido a conflitos de água entre o uso 
de água nesses setores que esperaram acontecer em 2050. É divergente 
retiradas de água são propostas de acordo com enredos da Tabela 1. A 
retirada de água selecionada será constante durante todos os meses em 2050. 
Esta retirada de água é desprezível em ano 1950 e 2004, respectivamente. 
 
A Aplicação do VWP 
 
 O VWP considera resultados relacionados ao armazenamento de água, 
como também a possível escassez hídrica em bacia e como pode isto refletir 
nas populações no que se relaciona às necessidades de consumo, 
determinando projetos de sustentabilidade da disponibilidade de água. Os 
resultados de VWP comportam alterações, de conformidade com as mudanças 
climáticas que alimentarem seus dados informativos. 
 Utilizou-se na simulação, através do VWP, dados atuais relativos à 
temperatura, à área da bacia (20 km2), ao Smáx (volume máximo de 
armazenamento de água dividido pela área da bacia), à ea (pressão de vapor 
de água), à eas (pressão de vapor de água saturada) e à P (precipitação), e, 
considerou-se a elevação global de 0,5 oC no último século, diminuindo-se 
esse aumento para projeção no ano de 1900; e a projeção para o sul da 
 37
América do Sul, em 2080, pressupõe um aumento de 4 oC, em cenário de alta 
emissão. 
 Concluiu-se, em comparação com as temperaturas mensais do ano de 
2004, que a mudança do climavai produzir uma alteração do regime de 
evapotranspiração e precipitação em 2080 e, em conseqüência, o regime de 
déficits e excessos de água diferirá, conforme se vê nas figuras 10, 11, e 12, 
que evidenciam aumento da evaporação nos períodos 1900-2004 e 2004-2080, 
enquanto que a precipitação diminui nesses mesmos períodos. A pressão de 
vapor de água (ea), em 2080, permaneceria igual aos valores da ea referente 
aos meses de 1900 e de 2004, porém haveria diferença de temperatura nos 
períodos 1900-2004 e 2004-2080, afetando o limite físico de condensação de 
vapor de água, na atmosfera da bacia. A ETR (evapotranspiração real) sofreria 
pouca variação nos período de 1900-2004, com tendência à diminuição no 
período entre 2004-2080. 
Em resumo, as temperaturas seriam diferentes em 2080 em relação ao 
período 1900-2004, de acordo com a simulação realizada. Devido à mudança 
do clima, a umidade relativa (RH) será diferente em todos os meses dos anos 
de 1900, 2004 e 2080. Também, de acordo com os valores diferentes de T, eas 
e RH nos anos de 1900, 2004 e 2080. A simulação realizada consta das 
tabelas 1, 2 e 3. 
 Observando-se as figuras 10,11 e 12 e as tabelas anexas, pode-se 
concluir que o excesso da disponibilidade de água, no período 1900-2004 
apresenta uma pequena diferença entre seus valores anuais, sendo a 
somatória correspondente ao ano de 1900 maior, enquanto que o déficit desse 
mesmo período cresce em 2004 aproximadamente dez vezes mais do que era 
no ano de 1900. Comparando-se os valores correspondentes aos excessos de 
água no período 2004-2080, fica bem claro que, se em 2004 havia excesso na 
somatória anual, já em 2080 a disponibilidade cai para zero, de forma que se 
pode afirmar, que haverá um comprometimento da reservação de água da 
bacia. O déficit de água nesse mesmo período sofrerá uma alteração 
assustadoramente elevada, tendo em vista que, se observado o ano de 2004, o 
valor é relativamente baixo. Essas mudanças significativas no excesso e no 
déficit de água provocarão sérias conseqüências para o consumo para a 
população, o exercício de atividades industriais, agropecuárias, e de outras que 
 38
dependem da água dessa bacia. Para amenizar o problema, deverão ser 
adotadas providências eficazes, entre elas, melhor aproveitamento das águas 
pluviais, através da reservação, o uso racional da água disponível e o 
reaproveitamento de águas servidas. 
 O excedente hídrico acumulado no ano de 1900 correspondia a um ativo 
de US$ 14.599.096,73, enquanto o déficit era de US$ 590.963,53, havendo 
portanto um balanço positivo. No ano de 2004, o excedente hídrico indica um 
ativo de US$ 14.104.641,33, aproximadamente igual ao de 1900, enquanto que 
o déficit representa um passivo de US$ 6.017.420,03, aproximadamente 10 
vezes maior que o de 1900. Em 2080, sendo a disponibilidade de água 
equivalente a zero, também o ativo será de US$ 0, enquanto que o passivo 
será de US$ 59.375.513,07. 
 Comparando-se os resultados do VWP para o ano de 2080, mencionado 
no trabalho, em que se registra aumento de 4 oC em relação a 2004, com os 
dados obtidos para 2050, em que se verifica aumento de 2 oC, também em 
relação a 2004, conclui-se: 
1 - A ETP (Evapotranspiração Potencial) em 2080 será ligeiramente maior que 
em 2050, em razão do aumento da temperatura; 
2 - A precipitação em 2050 será maior do que em 2080; 
3 - A ETR (Evapotranspiração Real) em 2050 será maior do que em 2080; 
4 - Não haverá excesso de recurso hídrico em 2050 e em 2080, pois que,em 
ambos, os anos equivalerá a zero; 
5 - O déficit hídrico em 2080 será maior que em 2050, importando, assim, em 
prejuízos maiores de natureza econômica e financeira, além de outros 
decorrentes da demanda pela água. 
 
 39
Simulação VWP (2004)
0
50
100
150
200
250
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo
V
ar
iá
ve
is
ETP (mm)
P (mm)
ETR (mm)
Excess (mm)
Deficit (mm)
Figura 10. Simulação VWP das variáveis apresentadas na figura em relação ao tempo, referente ao ano de 2004. 
 
 
Sumulação WWP (1900)
0
50
100
150
200
250
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo
Va
riá
ve
is
ETP (mm)
P (mm)
ETR (mm)
Excess (mm)
Deficit (mm)
 
Figura 11. Simulação VWP das variáveis apresentadas na figura em relação ao tempo, referente ao ano de 1900. 
 
 40
Simulação VWP (2080)
0
50
100
150
200
250
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo
Va
riá
ve
is
ETP (mm)
P (mm)
ETR (mm)
Excess (mm)
Deficit (mm)
Figura 12. Simulação VWP das variáveis apresentadas na figura em relação ao tempo, referente ao ano de 2080. 
 
Simulação VWP 2050
0
50
100
150
200
250
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo
Va
riá
ve
is
ETP (mm)
P (mm)
ETR (mm)
Excess (mm)
Deficit (mm)
 Figura 13. Simulação VWP das variáveis apresentadas na figura em relação ao tempo, referente ao ano de 2050. 
 
Conclusões e Recomendações 
 
 A maior parte dos esforços internacionais tem se dirigido a políticas de 
mitigação e redução de gases de “efeito estufa”. Uma das que têm alta 
prioridade é a busca de alternativas às fontes fósseis, que são limitadas, 
diferentemente das energias renováveis (hidreletricidade, energia eólica, 
fotovoltaica, geotérmica e biomassa usada com tecnologia moderna), muito 
menos poluentes e que são, sob vários pontos, superiores às fontes 
 41
convencionais. As fontes renováveis representam hoje, no seu conjunto, 5% do 
total mundial, e são elas que precisam crescer, reduzindo a participação da 
energia fóssil. O Brasil tem extraordinário programa de energias renováveis 
(hidrelétricas, biomassa, Proinfa e outros). 
Contudo, alguns cientistas começam a sugerir uma estratégia de 
adaptação às alterações climáticas, uma vez que, mesmo com a redução das 
emissões de gases de “efeito estufa”, não haverá maior diminuição dos efeitos 
nefastos provocados, pois, tanto os países em desenvolvimento, como os 
desenvolvidos, não atuam no sentido da redução e ainda, em razão da inércia 
do próprio sistema climático, que provocará sempre alterações climáticas, 
ainda que haja grande redução num futuro próximo. 
Outros cientistas sugerem que os países desenvolvidos que se mostram 
resistentes, como os Estados Unidos e a Rússia, devem tornar-se mais 
flexíveis, para que entre em vigor o Protocolo de Quioto, que visa a sucessivas 
reduções de emissões de GEE (Gases de “Efeito Estufa”). 
 Medida de grande efeito é a compensação das emissões de gases 
através do reflorestamento. Entretanto, mais econômico é diminuir o 
desmatamento, o que também é mais correto sob o ponto de vista ecológico. 
 A alteração do clima está aí. Ainda há os que não acreditam, mas, ou 
têm motivos escondidos, ou então são uma minoria pouco significante. 
 Fomos nós que a provocamos: conclusão controvertida, mas cada vez 
com mais adeptos. 
 O efeito estufa não é a única alteração, nem talvez a mais importante, 
porque não conhecemos tudo, mas sabemos que a estrutura de transferência 
energética é complexa, muito complexa para que a percebermos por enquanto. 
 Temos de agir, se quisermos que não seja “o fim do mundo, tal como o 
conhecemos”. 
 Embora os impactos das alterações climáticas sobre os recursos 
hídricos não sejam ainda completa e rigorosamente conhecidos, já existe um 
elevado grau de confiança sobre algumas tendências que deverão implicar 
alterações nas estratégias de gestão da água. É por isso fundamental que se 
prepare para estas alterações, a par com a continuidade dos esforços de 
investigação nesta matéria. Além disso, é necessário reconhecer a importância 
 42
da avaliação dos impactos das alterações climáticas sobre os recursos hídricos 
das bacias hidrográficas e procurar avaliar devidamente esses impactos. 
 O planejamento e a gestão dos recursos hídricos sempre exigiu uma 
capacidade de previsão e a adoção de políticas adequadas à incerteza e 
variabilidade do regime hidrológico. Esse sistema tradicional de planejamento 
e gestãoestá bem preparado para adaptar as suas metodologias e técnicas à 
necessidade de ter em conta os impactos das alterações climáticas. Mas 
mudança conceitual que é necessário introduzir diz respeito a descartar a 
hipótese tradicional da engenharia que o registro hídrico é um bom indicador 
das futuras condições climáticas. Os agentes de planejamento e gestão dos 
recursos hídricos têm que começar a entender as mudanças climáticas como 
uma das variáveis a considerar, acarretando incertezas adicionais sobre a 
oferta e procura de água. 
 Se, por um lado, as alterações climáticas não impõem alterações 
profundas na filosofia de gestão dos recursos hídricos, o certo é que é bastante 
provável que venham acentuar o desafio permanente que é gerir a água. A 
previsível diminuição das disponibilidades hídricas e o aumento da sua 
assimetria sazonal e espacial, acompanhada pela degradação da qualidade da 
água, o aumento de sua procura e o agravamento dos problemas das cheias, 
reflete na importância da existência de políticas de planejamento e gestão das 
águas estabelecidas no profundo conhecimento dos recursos hídricos, que 
explorem a complementaridade dos recursos superficiais e subterrâneas, e a 
necessidade de criteriosa gestão e utilização da água, incluindo ações 
estruturais, tais como a construção de reservatórios e sistemas de transporte 
de água, ações reguladoras do uso dos solos, de florestação, de gestão de 
riscos e de previsão de fenômenos climáticos extremos. 
 
Referências Bibliográficas 
 
CORSON, W.H., Manual Global de Ecologia, Augustus Editora (1996), 2a ed, 
 São Paulo - http://quimica.fe.usp.br/global/ca4/estima.htm 
CUNHA, L.V.; OLIVEIRA, R.; NUNES, V.B. (2003) Impactos das Alterações 
 Climáticas sobre os Recursos Hídricos de Portugal, Universidade Nova 
 de Lisboa, Lisboa, 13pp. 
 43
DESSAI, S.; TRIGO, R. (1999) Ciências das Alterações Climáticas, School of 
 Environmental Sciences, University of East Anglia, Norwich, 13pp. 
DIREÇÃO GERAL DO AMBIENTE (DGA)-GOVERNO DE PORTUGAL, 
 Relatório do Estado do Ambiente 1999, Alterações Climáticas, 
 Portugal - www.iambiente.pt/rea99/docs/21altclim.pdf 
MENDIONDO, E.M. (2004) Virtual Water Problem Reloaded, 12pp- 
 http://www.shs.eesc.usp.br/laboratorios/hidraulica/ 
NOBRE, C.A. (2002) Mudanças climáticas globais: possíveis impactos nos 
 ecossistemas do país, 20pp., Revistas Parcerias Estratégicas– Ministério 
 da Ciência e Tecnologia Brasil, 
 www.mct.gov.br/CEE/revista/ Parcerias12/13 CarlosNobre.pdf 
PEIXOTO, J.P.; ABRAHAM, H.O. (1991) Physics of Climate, American Institute 
of Physics, New York, 52Opp. 
RINO, B.L. (1998) A alteração do clima pelo homem, Universidade de Coimbra, 
 8pp. 
SANTOS, F.D. (2003) Água e Alterações Climáticas, Faculdade de Ciências da 
 Universidade de Lisboa, Lisboa, 24pp. 
TUCCI, C.E.M., CLARKE, R.T, COLLISHONN, W., SILVEIRA, A., 
 VILLANUEVA, A., (2004) Universidade Federal do Rio Grande do 
 Sul. 
http://www.iph.ufrgs.br/pesquisa/climaerechidricos/conceitos/default.htm 
WMO (1995) Climatic Change, Technical Note N° 79, WMO-N° 195.TP100, 
 79pp 
 44
CAPÍTULO 3 
 
Medidas não-estruturais 
Juliana Pontes M. Andrade 
 
Introdução 
A exposição de uma comunidade ou empreendimento ao risco de 
enchente é uma combinação de dois fatores: a probabilidade de ocorrência de 
enchentes na área e a vulnerabilidade da área a conseqüências indesejáveis e 
perdas econômicas causadas pelas enchentes. (Samuels, 2000) 
Deste modo, pode-se combater as enchentes em duas frentes: uma que 
atue na diminuição da ocorrência (medidas estruturais) e outra que busque a 
redução das perdas (não estruturais). 
Dentre as medidas não estruturais, podem ser citadas: 
- zoneamento das áreas de risco; 
- planejamento do uso do solo; 
- sistemas de previsão e alerta; 
- seguro contra enchentes; 
- evacuação temporária da área da várzea; 
- aumento da capacidade de escoamento do canal; 
- controle da erosão e reflorestamento. 
Neste capítulo, apenas as duas primeiras medidas serão abordadas. 
 
Zoneamento 
Segundo Schubart (1999), ”zoneamento envolve o resultado de um 
processo político-administrativo, em que o conhecimento técnico, ao lado de 
outros critérios, é utilizado para fundamentar a adoção de diretrizes e normas 
legais, visando atingir objetivos socialmente negociados, que implicam em um 
conjunto de sanções ou incentivos sociais que restringem o uso de recursos e 
a ocupação do território”. 
Tomando esse conceito para o âmbito de ações de combate a 
enchentes, pode-se dizer que o zoneamento das áreas de risco consiste 
 45
delimitar áreas associadas a enchentes com diferentes períodos de retorno 
(conhecimento técnico). A determinação dos limites destas áreas, no entanto, 
é função do grau de risco que se assume como aceitável em cada uma delas 
(processo político-adminsitrativo). Assim, tem-se o conhecimento do grau de 
susceptibilidade de cada zona permitindo a elaboração do planejamento de sua 
ocupação (diretrizes e normas legais). 
Tucci (2002) considera a divisão em três faixas decrescentes de riscos: 
zona de passagem da enchente, zona com restrições e zona de baixo risco. 
A zona de passagem tem alto risco de inundação, portanto deveria ser 
proibido qualquer tipo de construção nestas áreas. No entanto, em muitos 
casos, essas áreas já se encontram ocupadas principalmente por populações 
de baixa renda através de invasões. O que se pode fazer é um remanejamento 
desta população para áreas mais seguras, devendo-se também garantir uma 
forma de não ocupação das áreas ribeirinhas. Menescal et al (2001) propõe 
que entre as áreas de inundação e os limites da planície poderiam ser 
ocupadas por parques; áreas de esportes; áreas de preservação; vias de 
transporte que possam ser fechadas temporariamente; construções com 
estruturas abertas para suportar as inundações. 
Na zona com restrições seriam permitidas construções que levem em 
consideração a possível ocorrência de enchentes. Para isso seria redigido um 
código de obras para a regulamentação dessas construções. 
Já na zona de baixo risco, maiores precauções podem ser dispensadas. 
É necessário no entanto que a população seja orientada de como proceder no 
caso de uma enchente. 
Como toda ação de caráter restritivo, o zoneamento só se torna 
efetivamente útil quando acompanhado de uma fiscalização. Tendo em vista 
que a população poderá retornar à área nos períodos de estiagem e, sendo os 
custos de construção na zona com restrições mais elevados, as construtoras 
poderão tender à desobediência de algumas imposições. 
 
 Planejamento do uso e ocupação do solo 
O zoneamento determina quais áreas podem ser ocupadas, já o 
planejamento do uso e ocupação diz respeito a como essas áreas devem ser 
ocupadas. 
 46
Uma das principais preocupações é com a impermeabilização do solo. 
Um percentual mínimo de área permeável deve ser mantido para proporcionar 
a infiltração e dificultar o escoamento superficial. O Código de Obras da capital 
paulista estipula em 15% a área do terreno que deve ficar permeável 
(Campanili 2003). Segundo a mesma autora, há ainda uma lei municipal que 
obriga terrenos com mais de 500 m² de área construída ou cobertura 
impermeável (incluindo estacionamentos), a deixar pelo menos 30% de sua 
área com piso drenante ou construir reservatórios temporários de água pluvial, 
chamados de piscininhas. Nem mesmo as calçadas ficaram livres das 
restrições, outra lei prevê que as calçadas, em projetos ou reformas deverão 
ter uma faixa de grama ou pedregulho para melhorar a absorção das águas 
pluviais. 
Assim como estas, existem inúmeras outras leis em diversas cidades 
brasileiras, no entanto o seu cumprimento não é verificado em sua maioria. 
 
Medidas Não Estruturais x Medidas Estruturais 
As medidas não estruturais, geralmente, possuem custos menores 
quando comparadas com as estruturais.E seus resultados se apresentam em 
um prazo mais curto que os das outras. 
De acordo com a Constituição Federal, as ações de combate a enchentes são 
de responsabilidade da União (TUCCI et al, 2000). Porém, algumas das 
medidas não estruturais são realizadas pelo poder municipal. As leis de uso e 
ocupação do solo, restringindo a área a ser construída e seu máximo grau de 
impermeabilização, e os planos diretores exemplificam a ação dos municípios. 
Como o município tem verba bastante inferior às dos Estados, e muito menores 
ainda em comparação à da União, o poder municipal tem mais possibilidade de 
adotar medidas não estruturais. Pois estas carecem de menores montantes 
para serem implementadas. Entretanto, no âmbito político dá-se preferência 
pelas medidas estruturais, pois estas são mais facilmente perceptíveis pela 
população. 
 
 
 
 47
Referências Bibliográficas 
 
Campanili, M. (2003) Cidades x enchentes: uma guerra pelo uso do solo. 
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2003/mar/09/89.htm, acessado em 
18 de abril de 2004 
Menescal, R. A., Figueredo, N. N., Franco, S. R. (2001) A Problemática das 
Enchentes na Região Metropolitana de Fortaleza. In: Anais eletrônicos do XIV 
Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Aracaju, 25-29/11/2001. 
Samuels, P.G. (2000) An Overview of Flood Estimation and Flood Prevention, 
In: F. Toensmann & M. Koch (eds.) River flood defence, Herkules Vg, Kassel, 
Alemanha, v.2, pp.G1 – G9 (Kassel Reports of Hydraulic Eng. No. 9/2000). 
Schubart, H. O. R.(1999) Zoneamento Ecológico-Econômico e a Gestão dos 
Recursos Hídricos In: Interfaces da Gestão de Recursos Hídricos: Desafios da 
Lei de Águas de 1997. Parte 3: Gestão dos Recursos Hídricos e Gestão do Uso 
do Solo. 
Tucci, C.E.M. (2002) Controle de Enchentes, In: Tucci, C. E. M. (org): 
Hidrologia: Ciência e Aplicação, 3ª ed., Editora da Universidade, 621-652. 
 48
CAPÍTULO 4 4 
Medidas Estruturais Extensivas 
Saulo Aires Souza 
 
Introdução 
 As medidas estruturais são obras da engenharia hidráulica 
implementadas para mitigar os impactos causados pelas enchentes, podem ser 
extensivas ou intensivas. Segundo Tucci (1993), As extensivas são as medidas 
que agem na bacia, modificando as relações entre precipitação e vazão, 
fazendo com que através de medidas físicas diretas na bacia possa reduzir o 
coeficiente de escoamento e diminuir os efeitos da erosão e como 
conseqüência a diminuição dos riscos de enchente, Tucci (1993) também 
menciona que essas medidas extensivas são na maioria das vezes inviável 
para bacias médias e grandes sendo geralmente aplicável para pequenas 
bacias. Como medidas extensivas podem ser citados vários tipos de exemplos, 
como: o controle da cobertura vegetal, obras de microdrenagem, obras 
(dispositivos) que aumentem a capacidade de infiltração e de percolação 
(pavimentos permeáveis, valos de infiltração, bacias de percolação, 
dispositivos hidráulicos permeáveis e etc.), armazenamento (telhados) e o 
controle da erosão do solo (obras que englobam todas as mencionadas acima). 
Medidas Estruturais Extensivas de Controle da Cobertura Vegetal 
A implementação de políticas públicas no tocante ao aumento da 
cobertura vegetal (reflorestamento) na bacia reside na questão econômica, pois 
o reflorestamento de bacias envolve um custo significativo. É importante fazer 
um planejamento integrado com a população para que haja uma diminuição 
substancial dos custos e viabilizando a medida ao longo da bacia. A vegetação 
exerce várias funções nas áreas das bacias, entre as quais se destaca a de 
interceptação de parte da precipitação. Ela retém água principalmente nas 
copas arbóreas e arbustivas, dando tempo para efetivação do processo de 
evapotranspiração. A capacidade de interceptação está relacionada às 
 49
características da cobertura vegetal, como tipo, forma e densidade, e é inversa 
ao volume e duração das chuvas - quanto mais intensas e/ou mais longas as 
chuvas, menor a capacidade relativa de interceptação. Quanto menor a 
cobertura vegetal, menor a infiltração e maior volume de água irá escorrer 
superficialmente, ocasionando erosão, destruindo e desagregando o solo, 
enchendo os cursos d’água de detritos que irão impedir ou dificultar seu 
escoamento. Quando o terreno encontra-se revestido por cimento, pedra ou 
asfalto, o escoamento superficial é praticamente inevitável, não há infiltração. A 
força destrutiva da água é aumentada e uma rede eficaz de esgotos e 
tubulações subterrâneas são indispensáveis. 
Como foi dito acima, o aumento da cobertura vegetal (reflorestamento) 
na bacia é uma medida muito dispendiosa e muitas vezes inviável, 
principalmente para bacias médias e grandes, é aplicável para pequenas 
bacias onde contribui sensivelmente na diminuição das vazões máximas 
amortecendo o escoamento, aumentando a permeabilidade do solo, pois 
mantém a cobertura natural do solo, aumentando a capacidade de infiltração 
do solo na qual parte da água que infiltra é transferida para atmosfera por 
transpiração dos vegetais, evita que nessas áreas faça-se uso e ocupação 
indevida do solo e reduz a erosão do solo, propiciando a diminuição da 
freqüência de cheias pequenas e médias. Diante das vantagens mencionadas 
acima, se nota a importância da implementação do reflorestamento como forma 
de políticas públicas voltadas para enchentes. 
Já existem vários projetos sendo implementados na América do Sul e no 
Brasil, pode-se destacar o projeto que está sendo desenvolvido no Rio de 
Janeiro que é o projeto Mutirão Reflorestamento na qual os objetivos principais 
do projeto são a recomposição da cobertura florestal do município e a 
ampliação da oferta de trabalho em comunidades de baixa renda (SMAC, 
1999). Dentre os objetivos específicos estão a promoção da estabilidade do 
solo, garantindo maior segurança a população; prevenção da obstrução da 
rede de drenagem e o assoreamento dos canais, reduzindo a ocorrência de 
enchentes; limitação da expansão da comunidade sobre área de risco ou de 
proteção ambiental, e recuperação do ecossistema da floresta atlântica 
 50
revertendo o processo de perda de cobertura vegetal. Até janeiro de 2001, o 
projeto reflorestou uma área de aproximadamente, 1200 hectares, totalizando 
2,6 milhões de mudas plantadas, atendendo a mais de 70 comunidades, com 
uma população estimada de 150.000 mil pessoas. Cerca de 500 pessoas 
trabalham no projeto em regime de mutirão remunerado. No entanto, cerca 
1300 pessoas são diretamente dependentes da remuneração oferecida aos 
integrantes do projeto. Apesar do caráter temporário do trabalho, essa 
remuneração, é a única fonte de renda para cerca de 40 % das famílias. A mão 
de obra empregada no projeto pertence a uma faixa da população 
economicamente ativa desempregada, principalmente do setor da construção 
civil, com idade média de 29 anos. 
A política de reflorestamento ilustrada é um exemplo de resposta 
governamental que atua principalmente sobre o estado/impactos no meio 
ambiente (áreas vulneráveis a desastres provocados por ação antrópica – 
enchentes e escorregamento). Este projeto, apesar de apresentar resultados 
positivos quantos às áreas reflorestadas, não é suficiente para atuar na 
pressão “redução da cobertura vegetal” – que corresponde a diminuição de 
6.400 hectares no período entre 1984 e 1989 -, nem na fiscalização e controle 
da ocupação urbana. 
Medidas Estruturais Extensivas de Controle da Erosão 
O controle da erosão do solo é uma das principais medidas extensivas, 
principalmente em áreas urbanas já que os principais problemas de inundações 
nas regiões metropolitanas estão no tocante á problemas com erosão do solo 
que causa o assoreamento dos rios. As autoridades responsáveis pelas 
políticas públicas devem ter mente a necessidade de planejar e projetar obras 
de controle a erosão que resultem em uma solução racional e definitiva para o 
problema, sendo