Prévia do material em texto
CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Cadeia Comportamental: Conceito de Encadeamento e Análise de Tarefas Aída Brito Maria, aluna de Psicologia na Universidade do Piauí, precisava escrever um texto como atividade complementar para a nota referente à aula da disciplina de “Psicologia Experimental”. Entretanto, Maria estava muito apreensiva, se esquivando da atividade com receio de não cumprir conforme o que foi proposto por sua professora, além de se sentir “perdida”, por não saber nem por onde começar. Sabendo disso, João, seu amigo, propôs a Maria que ela fizesse uma lista com as demandas que deveriam ser cumpridas. Dessa forma, Maria assim fez: Lista de Tarefas para Disciplina de Psicologia Experimental 1º: Acessar o email. 2º: Clicar no link do Classroom. 3º: Abrir o vídeo da aula. 4º: Assistir à aula. 5º: Fazer o resumo da aula. 6º: Escrever sobre o que entende do assunto. Ao chegar ao 6º ponto da lista, Maria se sentia muito feliz por ter finalizado a sua atividade e cumprido todo o ciclo de tarefas até fazer o que julgava ser mais difícil: a escrita. Com isso, ao finalizar, Maria enviou a sua atividade para a professora e marcou em seu checklist que mais uma das atividades estava concluída. Ao visualizar a atividade, a professora a elogiou, comentando que seu trabalho estava excelente e então Maria comemora e agradece a João por sua ajuda. Com esse exemplo torna-se possível identificar algumas características gerais do que é chamado na Análise do Comportamento de “cadeia comportamental”. Uma cadeia comportamental pode ser definida enquanto uma sequência de elos, ou seja, subcomponentes que, em sua totalidade, formam uma cadeia. Tais elos consistem em estímulos e respostas que CBI of Miami 4 acontecem em sequência e em uma estreita proximidade de tempo. Ou seja, o início de uma cadeia se dá a partir de um SD, como “preciso fazer a atividade da disciplina”, que impulsionará o sujeito a fazer determinadas tarefas, as quais, em sequência, incentivarão na realização de outras. Portanto, “o motivo para chamar essa sequência de cadeia de estímulo- resposta pode ser visualizado ao representá-lo por escrito, da seguinte forma” (Martin, Pear, 2018, p.__): SD1 = > R1 => SD2 => R2 =>SD3 => R3 … SD10 => R10 =>S+ Visualizem nesse momento o primeiro exemplo: Maria precisava fazer a sua atividade para a disciplina de Psicologia Experimental. Em dúvida de como iniciar, João deu a ideia para a amiga de que ela destrinchasse esse comportamento em uma cadeia, fazendo uma pequena listagem de subcomponentes que ela deveria cumprir. Sendo assim, o primeiro SD foi “atividade para o curso”, gerando a resposta da listagem de tarefas a serem realizadas (R1). Em seguida, a lista de tarefas cumpre o papel de SD para que Maria cumpra a sua segunda tarefa, sendo “abrir o email” (R2). A tarefa de abrir o email deixa de ser resposta e passa a ser SD (SD3) para que, posteriormente, Maria pudesse clicar no símbolo do Classroom (R3). O comportamento de abrir a sala do Classroom torna SD (SD4) para que ela abra o vídeo da sua aula (R4) e assim sucessivamente até completar toda a cadeia e experienciar o reforço. Ao definir a cadeia comportamental, Martin e Pear (2018) advertem sobre a quebra das cadeias, ao explicarem que “se uma resposta qualquer for tão fraca a ponto de falhar em ser evocada pelo SD que a precede, o restante da cadeia não ocorrerá. A cadeia será quebrada no ponto do seu elo mais fraco”. Portanto, frente a essa observação, é importante compreender a diferença entre o que, de fato, são cadeias comportamentais e o que são apenas sucessões de comportamentos. Estas diferenciam-se por, na primeira, as respostas operarem enquanto SDs para outros comportamentos, enquanto no segundo caso, há interrupções entre a cadeia, não havendo uma proximidade entre estímulo e resposta. CBI of Miami 5 Compreendendo o que se define enquanto “cadeias comportamentais”, pensemos, então, no quanto tais comportamentos estão inseridos nas contingências naturais de cada sujeito. Dessa forma, é possível analisarmos o quanto pode ser difícil a emissão de tais comportamentos para sujeitos com atrasos no desenvolvimento, visto que o reforço só se dá ao final de toda a cadeia. Além disso, alguns indivíduos apresentam dificuldades para compreender o que se apresenta enquanto estímulo discriminativo, assim como discriminar os aspectos reforçadores ao final da cadeia de comportamentos. Dessa forma, e visando contribuir para um ensino mais adequado às demandas de cada sujeito, poderá ser feito o que chamamos de “análise de tarefas”. Este procedimento irá avaliar cada passo de uma determinada cadeia existente, decompondo-a em uma sequência de respostas, do começo até o fim, e observando o que o aprendiz faz ou não faz, além de averiguar qual ele precisa de mais ou menos ajuda. Portanto, existem alguns métodos para ensinar a cadeia comportamental. O terapeuta poderá elaborar a cadeia seguindo alguns passos, como: 1º passo: Planejamento - Fazer a cadeia e o planejamento de como ela deverá ser. 2º passo: Linha de base - Conhecer o que o sujeito faz ou não com independência. 2.1: Nesse caso, o terapeuta poderá fazer essa linha de base seguindo dois procedimentos, como: 2.1.1 Procedimento de oportunidade única - Ou seja, quando é dada uma oportunidade para que o sujeito faça e, assim, o terapeuta possa avaliar o que ele consegue ou não fazer com independência, da mesma forma que poderá averiguar qual critério de ajuda será necessário. 2.1.2 Procedimento de oportunidades múltiplas - Ou seja, quando o sujeito erra ou não sabe, é oferecido ajuda e em seguida uma nova oportunidade para que o sujeito faça. Assim, o terapeuta poderá avaliar o que ele consegue ou não fazer com independência, bem como poderá averiguar qual o critério de ajuda necessário. CBI of Miami 6 3º passo: Análise de tarefas - Após serem realizados o planejamento e a linha de base, é feito um procedimento para identificar qual o tipo de cadeia que será utilizada, como: 3.1 Encadeamento para trás. 3.2 Encadeamento para frente. 3.3 Apresentação de tarefa total. No “encadeamento para trás” a última resposta da cadeia é a primeira a ser ensinada. Ou seja, o terapeuta poderá planejar uma cadeia, como “calçar o sapato”, acompanhar o sujeito em todas as etapas, dando ajuda para que seja realizada corretamente e, apenas no último elo, dará menos ajuda. De forma mais didática, pensemos no seguinte exemplo: João precisa calçar a sua meia para, em seguida, calçar o sapato. Dessa forma, a mãe do João irá dar as instruções e ajudá-lo para que: 1º: Pegue a meia. 2º: Segure a meia. 3º: Abra a meia. 4º: Coloque a meia nos dedos. 5º: Puxe a meia até a metade do pé. E, então, no último passo que seria “puxar a meia até o calcanhar”, a mãe do João daria menos ajuda, objetivando que o João conseguisserealizar essa atividade com independência. Após algumas tentativas (ao longo dos dias) e com a aquisição desse passo, a mãe do João trabalharia um novo passo, dando menos ajuda, sendo: “puxar a meia até a metade do pé” e assim consecutivamente, até João adquirir todos os elos dessa cadeia comportamental. Tal procedimento é muito utilizado em tarefas mais complexas. Por quê? Porque diante de uma atividade difícil ou muito complexa o sujeito poderá perder a motivação, principalmente em casos que o último componente é o mais difícil, chegando a emitir comportamentos de esquiva. CBI of Miami 7 Um outro exemplo seria “amarrar o cadarço”. É muito comum vermos, principalmente crianças, com dificuldades para amarrar o cadarço. Nesse caso, poderia ser feito da seguinte forma: 1º passo: Segurar os dois cadarços. 2º passo: Fazer uma orelhinha com um dos cadarços. 3º passo: Fazer uma orelhinha com o segundo cadarço. 4º passo: Cruzar as orelhinhas. 5º passo: Passar a segunda orelhinha por baixo da primeira. E então, novamente, no último passo que seria “puxar dando um nó”, o auxiliador poderia dar menos ajuda ao aprendiz, contribuindo para que a resposta aconteça de forma independente. Após adquirir esse passo, será trabalhado o 5º passo de forma independente e assim consecutivamente. No “encadeamento para frente” se destaca o ensino de respostas discretas na ordem que elas têm que serem cumpridas. Exemplo: Eu preciso que o aprendiz saiba lavar as mãos. Então, eu vou ensiná-lo a abrir a torneira até ela atingir o critério. Após atingir o critério será ensinado o segundo passo - colocar as mãos na água. Ao conseguir, de forma independente, molhar as suas mãos, o indivíduo deverá ser treinado para passar sabão nas mãos e assim sucessivamente. Sendo assim, ao dar a instrução ou ao o sujeito perceber que está com as suas mãos sujas, servirá enquanto estímulo discriminativo (mãos sujas/instrução do terapeuta) para o lavar as mãos. Dessa forma, o sujeito saberá, de forma independente, chegar até ao banheiro, abrir a torneira, molhar as suas mãos e aplicar sabão, mas ainda precisará de suporte para o cumprimento dos demais alvos. Assim serão treinados todos os elos até se cumprir toda a cadeia e o indivíduo obter o reforço - mãos limpas. Este procedimento é mais frequentemente utilizado no ensino de cadeia comportamental, visto a necessidade desse tipo de ensino em situações cotidianas, como: vestir roupas, uso do banheiro, asseio pessoal, alimentação, entre outros. Porém, isso não indica que essa estratégia seja melhor do que as demais, visto que não foi encontrada nenhuma diferença no quesito efetividade entre os procedimentos citados. CBI of Miami 8 Por fim, na “apresentação de tarefa total” serão abordados todos os componentes como se fossem uma única unidade. Ou seja, o aprendiz passará por todas as etapas até aprender toda a cadeia comportamental. Por exemplo: João não sabe lavar as mãos. Portanto, Maria dará a instrução: “João, você está com as mãos sujas, vamos lavar”. 1º passo: Abrir a torneira. 2º passo: Molhar as mãos. 3º passo: Fechar a torneira. 4º passo: Passar sabão nas mãos. 5º passo: Esfregar as mãos. 6º passo: Abrir a torneira. 7º passo: Enxaguar as mãos. 8º passo: Fechar a torneira. 9º passo: Enxugar as mãos na toalha. Caso fosse feita uma “apresentação de tarefa total” da cadeia de “lavar as mãos”, o instrutor daria todo o modelo e ajudaria o aprendiz a realizá- la corretamente. Aos poucos e com o passar das tentativas, poderá ir esvanecendo as dicas utilizadas, tornando possível que a atividade seja feita com maior independência. Além disso, uma estratégia muito utilizada para o ensino de cadeias comportamentais, principalmente para aprendizes que apresentam uma dificuldade maior na discriminação dos passos, é o uso de rotinas visuais, como exemplificado abaixo: CBI of Miami 9 Fonte: Arasaac Com relação aos métodos que podem ser escolhidos para cada cadeia de comportamento, Martin e Pear (2018, ) recomendam: Para tarefas com um número pequeno de etapas que podem ser concluídas em um curto prazo (no máximo em alguns minutos), a apresentação de tarefa total é provavelmente o método de escolha. (...) Entretanto, para as tarefas mais complexas, tanto o encadeamento para trás como o encadeamento para frente provavelmente são mais efetivos. Dessa forma, é possível compreender a importância e a efetividade das estratégias de ensino a partir de uma cadeia comportamental, vislumbrando sempre a independência e a autonomia do sujeito diante de suas atividades cotidianas.