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Simplificadamente, define-se substância cinzenta como tecido nervoso constituído predominantemente de corpos celulares e substância branca como o tecido formado pelos prolongamentos desses corpos. A formação reticular, uma região evolucionária muito antiga, apresenta uma estrutura intermediária entre a substância branca e a substância cinzenta (é uma rede de neurônios). Ocupando a parte central do tronco encefálico, a formação reticular, cuja principal função é ativar o córtex cerebral, se projeta cranialmente um pouco para dentro do diencéfalo, e caudalmente à porção mais alta da medula espinhal. Pesquisas cito-arquitetônicas mostram que a formação reticular não tem estrutura homogênea, podendo-se delimitar grupos mais ou menos bem definidos de neurônios, que consistem os núcleos da formação reticular. Que são: Núcleos da rafe; Lócus ceruleus; Substância cinzenta periquedutal; Área tegmentar ventral. Do ponto de vista cito-arquitetural, a formação reticular pode ser dividida em uma zona magnocelular, de células grandes que ocupam seus 2/3 mediais, e uma zona parvocelular, de células pequenas que ocupam o terço lateral. A zona magnocelular dá origem às vias ascendentes e descendentes longas e pode ser considerada a zona efetuadora da formação reticular. Do ponto de vista bioquímico, a formação reticular não é homogênea, havendo neurônios vários tipos de neurotransmissores, destacando-se as monoaminas, como a noradrenalina, a serotonina e a dopamina. CONEXÕES DA FORMAÇÃO RETICULAR A formação reticular possui conexões amplas e variadas. Além de receber impulsos que entram pelos nervos cranianos, ela mantém relações nos dois sentidos com o cérebro, cerebelo e a medula: • Conexões com o cérebro: a formação reticular projeta fibras para todo o córtex cerebral, por via talâmica e extratalâmica. • Conexões com o cerebelo: existem conexões nos dois sentidos, entre o cerebelo e a formação reticular. • Conexões com a medula: dois grupos principais de fibras ligam a formação reticular à medula (fibras rafe-espinhais e trato retículo-espinhal). • Conexões com núcleos dos nervos cranianos: os impulsos nervosos que entram pelos nervos cranianos sensitivos ganham a formação reticular através de fibras que a ela se dirigem. Com suas conexões com todo o SNC (córtex cerebral, tálamo, hipotálamo, sistema límbico, cerebelo, nervos cranianos e medula espinhal), a formação reticular do tronco encefálico controla a atividade elétrica cortical (sono e vigília), a sensibilidade (atenção seletiva), atividades motoras somáticas complexas (que envolvem centros reflexos como o respiratório, o vasomotor e o locomotor), o SNA e o eixo hipotálamo- hipófise (controlando o sistema neuro- endócrino). É a estrutura que explica as alterações físicas, emocionais e mentais ocasionadas pela estimulação de algumas áreas periféricas (pele, músculos ou articulações). REGULAÇÃO DA VIGÍLIA, DO SONHO E DO SONO O Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA), é a estrutura da formação reticular que, presente na parte mais cranial da mesma, principalmente no mesencéfalo, é responsável pela ativação cortical e consequente estado de vigília. Sinais Mobile User sensitivos externos (como um som de forte intensidade), ao chegar ao córtex, descem à formação reticular e sobem, fazendo conexão com centros talâmicos, até chegar novamente ao córtex, trazendo-nos ao estado vigil, se estivermos dormindo, ou ao estado de atenção (córtex pré-frontal) se acordados. Esse efeito sempre é reforçado pela parte posterior do hipotálamo, que também se relaciona com a vigília. Além disso, o próprio córtex pode estimular o SARA, mantendo-se ativado (acordado), utilizando para isso o poder da vontade, de centro físico inexistente ou ainda desconhecido. Certas drogas ativadoras corticais também agem nesse mecanismo para manter o córtex “ligado”. Já certas áreas da formação reticular, presentes na ponte e no bulbo, “desligam” ativamente o córtex cerebral, induzindo ao sono. A partir de uma fase inicial de grande relaxamento muscular, entra-se na fase de sono propriamente dito que, do ponto de vista eletroencefalográfico, não é homogêneo. Cabe aqui uma breve descrição dos padrões eletroencefalográficos de vigília e sono. Durante a vigília, o eletroencefalograma (EEG) demonstra um padrão dessincronizado, com ondas assimétricas de alta frequência (14 a 24 ciclos/s) e baixa amplitude, as ondas beta. No relaxamento, no transe hipnótico e no estado de sonho surgem ondas ainda dessincronizadas, semelhantes ao padrão de vigília, mas com menor frequência (8 a 13 ciclos/s), as ondas alfa. Nessa fase de sonho, descoberto em 1.953 pelo pioneiro na pesquisa sobre o sono Nathaniel Kleitman, a despeito do grande relaxamento muscular, obtido por meio de suspensão da produção de alguns neurotransmissores ativadores e produção de outros inibidores, observa-se um rápido movimento dos olhos, por isso mesmo conhecido como sono paradoxal ou sono REM (Rapid Eye Movement). Nesses períodos que duram, em geral, entre 90 a 120 minutos por noite, o ritmo respiratório e o cardíaco se tornam irregulares, a temperatura corporal não mais é regulada (se iguala com a do ambiente) e os corpos cavernosos, nas genitálias externas em ambos os sexos, se enchem de sangue, independentemente da ocorrência ou não de sonhos sensuais (ereção peniana e clitoridiana). Alguns grupos neuronais da formação reticular, dos quais o locus ceruleus, situado na ponte, é o mais importante, são os responsáveis pelo desencadear do sono paradoxal e foram denominados de neurônios indutores do sonho. O consumo energético cerebral é o mesmo do estado de vigília e é nesse estado que ocorrem nossos sonhos mais vívidos. Já no sono profundo, o sono não-REM, essas ondas se apresentam sincronizadas, com baixa frequência (4 a 8 ciclos/s) e alta amplitude, as ondas teta. Esse padrão também surge nos momentos em que surgem os sonhos vívidos e pode estar relacionado com a criatividade e a intuição. Um pequeno grupo de células na base do encéfalo tem sua atividade levada ao máximo durante o sono não-REM e foram denominadas de neurônios do sono. Controle da atividade elétrica cortical e regulação do sono: A formação reticular é capaz de ativar o córtex cerebral a partir do SARA, sistema ativador reticular ascendente. A ação se faz através de conexões da formação reticular com os núcleos inespecíficos do tálamo. A formação reticular contém mecanismos capazes de regular o sono de maneira ativa. O sono, do ponto de vista eletroencefalográfico, não é homogêneo, comportando vários estágios. Entre estes está o sono paradoxal (REM), assim denominado porque embora o indivíduo se encontre profundamente adormecido, seu traçado eletroencefalográfico é dessincronizado, semelhante ao do indivíduo acordado. Durante o sono paradoxal há um relaxamento muscular e os olhos se movem rapidamente e é nessa fase que ocorrem os sonhos. O sono paradoxal é ativamente desencadeado a partir de grupos neuronais situados na formação reticular, entre os quais o locus ceruleus. SELEÇÃO DAS INFORMAÇÕES SENSORIAIS Duas outras estruturas da formação reticular (a substância cinzenta peri- aquedutal e os núcleos da rafe) têm participação ativa no mecanismo das sensações, como tato ou dor, causando analgesia ou anestesia seletiva. Essa seletividade pode ser observada no fato de “esquecermos” algum sinal incômodo (como uma dor), quando estamos concentrados em outra coisa. Não sentir a pressão da cadeira sobre as nádegas, enquanto concentrados num filme é um exemplo dessa seletividade. Os estímulos sensoriais, antes de chegar ao córtex, fazem conexãocom a substância cinzenta peri-aquedutal do mesencéfalo, de onde seguem aos núcleos da rafe, presentes em toda a formação reticular, na linha mediana do tronco cerebral. Desses núcleos partem fibras que se conectam com neurônios inibidores presentes na medula espinhal e no núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo (nervo sensitivo da cabeça). Essa inibição da via da dor se faz através da liberação de um opióide endógeno conhecido como encefalina. Entende-se assim, como a introdução de uma agulha em uma parte do corpo pode causar alívio da dor em um ponto doloroso muito distante, ou diversas outras mudanças, correlacionadas com as funções da formação reticular. Controle eferente da sensibilidade: Sabe-se que até certo ponto o sistema nervoso é capaz de selecionar informações sensoriais que lhe chegam, eliminando ou diminuindo algumas e concentrando-se em outras, fenômeno chamado de atenção seletiva. Isto se faz por um mecanismo ativo envolvendo fibras eferentes ou centrífugas capazes de modular a passagem dos impulsos nervosos nas vias aferentes específicas. Esse controle eferente da sensibilidade se faz principalmente por fibras originadas na formação reticular, como as fibras que inibem a penetração no sistema nervoso central de impulsos dolorosos, caracterizando as vias de analgesia. CONTROLE DO SISTEMA NERVOSO EMOCIONAL, DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E NEUROENDÓCRINO Numerosas projeções da formação reticular fazem sinapses com o sistema límbico, hipotálamo e tálamo, estruturas relacionadas com as emoções, com uma função aparentemente reguladora. Mas não se pode descartar a possibilidade de essas fibras levarem comandos originadores do fenômeno emocional. Conexões, por sua vez, provenientes daquelas regiões, chegam à formação reticular e dessa seguem aos neurônios do SNA, regulando suas respostas, de acordo com as emoções. Essa estimulação do SNA pela formação reticular, se faz através de sinapses com os neurônios pré-ganglionares do tronco cerebral, da medula espinhal tóraco-lombar e sacral. Já o controle endócrino se faz através de conexões da formação reticular com o hipotálamo. Dessa forma se justifica a liberação de ACTH (hormônio do estresse) e de hormônio antidiurético que se seguem a estímulos elétricos originados na formação reticular. Controle do sistema nervoso autônomo: O sistema límbico e o hipotálamo são os dois centros supra-segmentares mais importantes para o controle do sistema nervoso autônomo e têm projeções para a formação reticular, a qual, por sua vez, liga-se a neurônios pré- ganglionares do sistema nervos autônomo, estabelecendo assim o principal mecanismo de controle da formação reticular sobre esse sistema. Controle neuroendócrino: Estímulos elétricos da formação reticular do mesencéfalo causam a liberação de ACTH e do hormônio antidiurético. CONTROLE DA MOTRICIDADE Estímulos em determinados centros da formação reticular determinam respostas motoras reflexas complicadas cuja execução envolve áreas diversas e ocasionalmente distantes do SNC. Respostas motoras como o do vômito (centro bulbar do vômito), da deglutição (centro pontino da deglutição), do movimento ocular (núcleo pontino parabducente) e a da locomoção (centro locomotor no mesencéfalo), são de responsabilidade da formação reticular. Pelas suas conexões com as áreas motoras do córtex e do cerebelo, atua também na contração muscular, regulando o tônus muscular, a postura e o equilíbrio. Mas a regulação de maior importância à manutenção da “vida” do corpo físico, se faz através de dois centros: o centro bulbo- pontino da respiração e o centro bulbar vasomotor (responsável pelo ritmo cardíaco e controle da pressão arterial). Controle da motricidade somática: A formação reticular tem influencia sobre neurônios motores medulares, ativando-os ou os inibindo através do trato córtico-espinhal. Aferências das áreas motoras do córtex cerebral, através da via córtico-retículo- espinhal, controlam a motricidade voluntária dos músculos axiais e apendiculares proximais. Aferências do cerebelo enquadram-se nas funções exercidas por ele, como regulação automática do equilíbrio, do tônus e da postura, agindo também sobre os mesmos grupos musculares. CENTRO VASOMOTOR Desse centro saem fibras que fazem sinapse com os neurônios pré-ganglionares do SNA de forma a ativar o simpático ou o parassimpático, de acordo com informações acerca da pressão arterial, provenientes do núcleo do trato solitário (localizado no bulbo). Essas informações, coletadas no seio carotídeo, seguem via nervo glossofaríngeo até chegar ao núcleo do trato solitário e, em seguida, ao centro vasomotor. Assim o centro vasomotor pode aumentar o ritmo cardíaco e a pressão arterial (pela vasoconstricção arterial periférica), efeito simpático, ou diminuí-los, efeito parassimpático. Controle vasomotor: Situado na formação reticular do bulbo, o centro vasomotor coordena os mecanismos que regulam o calibre vascular, do qual, é dependente da pressão arterial, influenciando também o ritmo cardíaco. CENTRO RESPIRATÓRIO O centro respiratório bulbar apresenta uma porção dorsal, responsável pelo estímulo à inspiração, e uma ventral, responsável pelo estímulo à expiração. Uma outra porção, situada no centro pneumotáxico da ponte, transmite impulsos inibitórios para a parte dorsal (inspiratória) do centro respiratório bulbar (por isso é mais fácil parar de respirar após uma expiração). Do centro respiratório bulbar saem, então, fibras que se conectam à medula espinhal cervical (para inervar o diafragma, via nervo frênico), gerando a respiração abdominal, e à medula espinhal torácica (para inervar a musculatura intercostal, via nervos intercostais), gerando a respiração torácica. O centro mantém os movimentos respiratórios automáticos. Mas esses movimentos também sofrem controle voluntário, pois fibras provenientes do córtex cerebral também fazem sinapse nos neurônios motores dos nervos frênicos e intercostais. Essa ação voluntária provém, provavelmente, da ativação cortical pela própria formação reticular. Da mesma forma, alterações emocionais, via hipotálamo, e alterações na concentração de CO2 no sangue, via corpo carotídeo – nervo glossofaríngeo – trato solitário, chegam ao centro respiratório ocasionando modificação do ritmo respiratório. Cabe aqui ressaltar duas importantes inter- relações: • A inter-relação existente entre pensamentos e sentimentos de raiva e agressividade, o hipotálamo posterior, o SARA (Sistema Ativador Reticular Ascendente, responsável pela vigília) e o locus ceruleus (responsável pelo sonhar), o SNA simpático e as fibras do centro respiratório que fazem sinapse com os neurônios motores dos nervos intercostais – respiração torácica; e • A inter-relação existente entre pensamentos e sentimentos de amor e compaixão, o hipotálamo anterior, áreas pontinas e bulbares da formação reticular responsáveis pelo relaxamento e sono, o SNA parassimpático e as fibras do centro respiratório que fazem sinapse com os neurônios motores dos nervos frênicos – respiração abdominal. As inter-relações acima explicam como a formação reticular modula todas essas alterações. Usando o nosso poder da vontade, podemos alterar nosso padrão respiratório e, dessa forma, alterar nossos sentimentos e estado de estresse. Mudar o padrão torácico de respirar para o abdominal, muda a ativação do SNA do simpático para o parassimpático, diminui a secreção de adrenalina e cortisol (e inúmeras outras alterações hormonais descritas no próximo capítulo), muda nosso estado mental e muscular de agitação e estresse para relaxamento, e, enfim, muda nossos sentimentosinferiores em sentimentos altruístas. Essa inter-relação aceita múltiplas vias e a alteração de uma delas repercute em todas as outras. Assim, podemos utilizar o nosso poder da vontade para mudar, ou o padrão respiratório ou o nosso estado mental, ou praticar exercícios específicos que estimulem ou inibam a secreção de alguma glândula endócrina específica, e, dessa forma, alterar todo esse complexo. O elo comum em todo esse sistema de alterações é a formação reticular. Controle da respiração: Informações sobre o grau de distensão dos alvéolos pulmonares continuamente são levadas ao núcleo do trato solitário pelas fibras aferentes viscerais gerais do nervo vago. Desse núcleo os impulsos nervosos passam ao centro respiratório, localizado na formação reticular do bulbo. Consciência refere-se à percepção do eu e da sua relação com o ambiente e consiste em alerta e percepção. Para manter a consciência normal, o cérebro requer um fluxo constante de informações sensoriais e a capacidade de processar essas informações. Dados visuais, auditivos, olfativos, gustativos, viscerais e somatossensoriais são sintetizados e interpretados pelo cérebro simultaneamente. A interrupção desse fluxo de informações ou a incapacidade de processá-lo pode levar ao rebaixamento do nível de consciência. Isso pode ocorrer no nível cortical ou subcortical, e a apresentação clínica varia consideravelmente dependendo da localização do insulto. A consciência depende da função cortical intacta. O córtex é responsável pelo conteúdo da consciência ou percepção. Enquanto isso, o alerta é iniciado pelas estruturas subcorticais, incluindo os núcleos do tronco encefálico, tálamo, prosencéfalo basal, hipotálamo e, mais notavelmente, o sistema reticular ativador ascendente (SRAA). O sistema de ativação reticular ascendente (SARA) é uma rede de neurônios originários do tegmento da ponte superior e do mesencéfalo, que acredita-se ser parte integrante da indução e manutenção do estado de alerta. Esses neurônios se projetam para estruturas no diencéfalo, incluindo o tálamo e o hipotálamo, e daí para o córtex cerebral. Alterações no estado de alerta podem ser produzidas por lesões focais no tronco cerebral superior, danificando diretamente o SARA. A percepção consciente do mundo exterior e de si mesmo caracteriza o estado de vigília, que é resultante da atividade de diversas áreas cerebrais coordenadas pelo sistema reticular ativador ascendente. Entre o estado de vigília ou plena consciência e o estado comatoso, no qual o paciente perde completamente a capacidade de identificar seu mundo interior e os acontecimentos do meio que o circunda, é possível distinguir diversas fases intermediárias em uma graduação, cujo principal elemento indicativo é o nível da consciência. Pode haver dificuldade para saber onde começa e onde termina o estado de coma, isto é, qual é o limite entre a vigília e o início do comprometimento da consciência e entre este e a morte encefálica. A consciência pode ser perdida de modo agudo e breve, como nas síncopes, convulsões e na concussão cerebral por traumatismo de crânio leve, até situações em que o nível de consciência está completamente reduzido, como no coma. Veja na tabela abaixo dos níveis de consciência. No entanto, atualmente tem-se evitado usar as expressões citadas anteriormente pelo fato de, eventualmente, vários observadores terem noções diferentes sobre cada uma delas. Desse modo, tem sido utilizada a escala de coma de Glasgow (ECG), que foi inicialmente utilizada para avaliação de traumatizados, porém, hoje, é usada em outras situações, determinando alterações de nível de consciência. A Escala de Coma de Glasgow (ECG) foi publicada pela primeira vez na revista Lancet em 1974 por Graham Teasdale e Bryan J. Jennett, ambos do Instituto de Ciências Neurológicas de Glasgow, na Escócia. A escala é utilizada para se avaliar o estado neurológico do paciente que sofreu lesão cerebral aguda grave, medindo assim o seu estado de consciência. Além disso, a escala serve como parâmetro para auxiliar na decisão de realizar ou não procedimentos médicos específicos. A mesma tem três variáveis: I. Abertura ocular II. Resposta verbal III. Resposta motora Graham Teasdale conduziu uma pesquisa junto a outros dois pesquisadores (Paul Brennan e Gordon Murray), quarenta anos após o lançamento da ECG original, adicionando a reatividade pupilar à avaliação. Tal atualização tem como objetivo obter melhores informações sobre o prognóstico no TCE. Essa deve ser verificada após a avaliação dos três outros fatores e o resultado deve ser subtraído do valor obtido anteriormente. As notas atribuídas à Reatividade Pupilar do paciente devem de encaixar em: (2) Inexistente = nenhuma pupila reage ao estímulo de luz, (1) Parcial = apenas uma pupila reage ao estímulo de luz e (0) Completa = as duas pupilas reagem ao estímulo de luz. A avaliação do nível de consciência ocorre pelo contato com o paciente no decorrer da interação. Uma vez que as técnicas disponíveis não permitem analisar diretamente a consciência do paciente é importante reconhecer a complexidade desse tipo de avaliação clínica. Entre os fatores neurológicos que devem ser observados estão: • nível de consciência; • tamanho e resposta da pupila; • movimentação extrínseca do olho; • padrão respiratório; • resposta motora esquelética. O estímulo sensitivo deve ser feito em leito ungueal, clavícula, músculo trapézio (considerar nesse caso estímulo dos dois lados). Deve ser considerada sempre a melhor resposta. A caracterização exata dos padrões motores é importante, sendo o padrão flexor ou decorticação caracterizado por flexão dos membros superiores e extensão dos inferiores, e o padrão extensor ou descerebração caracterizado por extensão dos membros superiores e inferiores. É uma escala útil na avaliação e no acompanhamento de rebaixamento agudo do nível de consciência. CLASSIFICAÇÃO DO PACIENTE Primeiro faz-se a avaliação da escala normalmente, levando em conta a resposta de abertura ocular, de fala e de movimentação, somando pontos de acordo com a resposta. Após isso, faz-se a avaliação da reatividade pupilar com estímulo luminoso: se ambas as pupilas estiverem foto reagentes, não se altera o somatório da escala já feito pelos passos acima; se somente uma das pupilas não estiver reagente, subtrai-se 1 ponto da escala; e se nenhuma das 2 pupilas estiverem reagentes, subtrai-se 2 pontos da escala. Assim, a não reação da pupila indica uma maior gravidade e pior prognóstico. Esquematizando: ECG-P = ECG – (no de pupilas não reagentes) Paciente hígido = Glasgow 15 Paciente com risco de vida e indicação de assistência ventilatória com EOT (Escala de Glasgow menor ou igual a 8) < 8: Trauma grave 9 a 13: Trauma moderado 14 a 15: Trauma leve < 3: indica morte cerebral A escala pode ser usada tanto para identificar a gravidade do quadro do paciente quanto para verificar a evolução e resposta aos tratamentos, de forma a garantir um melhor prognóstico devido uma conduta mais exitosa. Apesar de ser um método amplamente utilizado, a Escala de Glasgow apresenta algumas falhas, como a impossibilidade de avaliar a resposta verbal em pessoas que estejam intubadas ou afásicas, e exclui a avaliação dos reflexos do tronco cerebral. Além disso, caso a pessoa esteja sedada, a avaliação do nível de consciência também pode ser dificultada. O exame pupilar é fundamental na avaliação de pacientes em coma. Neste exame, é necessário observar o diâmetro, a simetria e o reflexo fotomotor, de forma que uma pupila sempre seja comparada com a outra.Diâmetro pupilar: é mantido pelo sistema nervoso autônomo, sendo que o diâmetro da pupila é o resultado da ação dilatadora do sistema nervoso simpático e da ação constritora do sistema nervoso parassimpático. O diâmetro normal pupilar varia de 2 a 6 mm. Mobile User Pupilas menores de 2 mm são consideradas mióticas ou “em miose”. Pupilas maiores de 6 mm são denominadas midriátricas ou “em midríase”. É possível medir pupilas com o auxílio de um pupilômetro, como a espátula pupilômetro: Observar também a anisocoria: tamanho desigual das pupilas e alterações de forma pupilar, como a forma ovoide, que é sinal precoce de herniação transtentorial por hipertensão intracraniana (HIC). Reação pupilar: está incluída na avaliação de Glasgow. Este é um fenômeno conjugado ao nervo óptico (II par de nervos cranianos) e ao nervo oculomotor (III par). O nervo óptico é, na verdade, a via aferente responsável pela transmissão do estímulo luminoso. Sendo assim, os diversos formatos de pupilas e sua reatividade podem indicar e localizar lesões estruturais. As alterações pupilares em pacientes comatosos são: • Pupila pontina: pupilas extremamente mióticas, com reflexo fotomotor presente bilateralmente, causada pela lesão da ponte. • Pupila tectal: ambas as pupilas estão dilatadas discretamente e apresentam reflexo fotomotor negativo. A pupila tectal sofre alterações de diâmetro ao estímulo doloroso (hippus) e é causada por lesão na região do teto do mesencéfalo. • Pupila mesencefálica: são pupilas médias e fixas com reflexo fotomotor negativo bilateralmente, que refletem lesão da porção ventral do mesencéfalo. • Pupila diencefálica (pupila metabólica): causada pela disfunção diencefálica bilateral e pela encefalopatia metabólica, ambas as pupilas tendem a apresentar miose com reflexo fotomotor positivo. • Pupila uncal ou do III nervo craniano: as pupilas são anisocóricas, sendo que uma das pupilas é midriática e apresenta reflexo fotomotor negativo. Como possíveis causas, encontram-se a herniação do uncus do lobo temporal e o aneurisma de artéria comunicante posterior. O sono é um processo fisiológico caracterizado por um conjunto de alterações comportamentais fisiológicas que ocorrem de forma conjunta, desde fechamento dos olhos, redução da atividade motora, postura tipicamente relaxada e em decúbito, atividades elétricas características e elevado limiar para resposta a estímulos externos. As principais funções do sono são relacionadas ao descanso e a regeneração orgânica que são essenciais para o funcionamento do corpo e mente, conservação da energia diária, consolidação do aprendizado e memória, além da função imunológica, auxiliando processos de defesa do organismo frente a estímulos externos ou do próprio corpo. Em consonância, noites mal dormidas tem efeitos adversos bem conhecidos como fadiga, cansaço, indisposição, alteração de sintomas cognitivos como atenção e memória, baixo rendimento escolar e em atividades de trabalho sendo um fator de risco importante para acidentes como os automobilísticos. Ainda tem relação independente com complicações cardiovasculares sendo fator de risco para obesidade, diabetes, hipertensão arterial e doenças psiquiátricas. Mobile User FUNÇÕES FISIOLÓGICAS APRESENTAM RITMOS CIRCADIANOS: Todos os organismos têm um padrão diário alternado de repouso e de atividade. Esses padrões de atividade alternada, como muitos outros ciclos biológicos, geralmente seguem um ciclo claro-escuro de 24 horas e são conhecidos como ritmos circadianos. Quando um organismo é colocado em condições constantes de claro ou escuro, essas atividades rítmicas persistem e, pelo que parece, são determinadas por um relógio interno. O “relógio” principal reside em redes de neurônios localizados no núcleo supraquiasmático (NSQ) do hipotálamo, com relógios secundários que influenciam o comportamento dos diferentes tecidos. Uma interpretação bem simples para explicar o funcionamento do relógio biológico é que a sua ciclagem resulta de uma complexa alça de retroalimentação, em que genes específicos ativam e direcionam a síntese proteica. As proteínas se acumulam, desativam os genes e, então, elas mesmas são degradadas. À medida que as proteínas desaparecem, os genes ligam a síntese novamente e o ciclo reinicia. O relógio do NSQ tem uma atividade intrínseca sincronizada com o meio externo, via informação sensorial sobre os ciclos de luz recebida pelos olhos. Os ritmos circadianos nos seres humanos podem ser observados na maioria das funções fisiológicas e, em geral, correspondem às fases dos nossos ciclos sono- vigília. Por exemplo, a temperatura do corpo e a secreção de cortisol ciclam em um padrão diário. A melatonina da glândula pineal também está fortemente ligada à ciclagem claro-escuro: a melatonina é, às vezes, chamada de “hormônio do escuro”, pois a sua secreção aumenta à noite. O núcleo supraquiasmático tem receptores de melatonina, apoiando a hipótese de que a melatonina pode modular a ciclagem do relógio. A ruptura do ritmo circadiano, como ocorre quando há alternância de turno de trabalho ou jet lag, pode levar a prejuízos na saúde física e mental. Os transtornos do sono, depressão, depressão sazonal, diabetes e obesidade vêm sendo relacionados com anormalidades dos ritmos circadianos. Jet lag, que ocorre quando as pessoas mudam seus ciclos claro-escuro ao viajar para locais com fuso horário diferente, é uma manifestação comum do efeito dos ritmos circadianos no funcionamento diário. Tratamentos com melatonina e exposição à luz natural no novo local são os únicos tratamentos que mostram ter qualquer efeito significativo sobre o jet lag O sono e o estado de vigília ocorrem em alternância circadiana, sendo regulado nas 24 horas pela interferência da luz. Esse ciclo não é semelhante em todos os indivíduos porque diversos processos estão associados como idade, sexo, características individuais como estados de humor e questões culturais relacionadas aos horários de descanso e trabalho. É também influenciado por substâncias como álcool e drogas, além de citocinas e hormônios justificando a variedade natural pela idade e também em indivíduos que utilizam substâncias exógenas. O sono dura em média de 7:30 horas ou 8 horas e a vontade é o principal controlador desse horário de sono. Dentre estes existem as variações consideradas dormidores curtos que tem noites de sono menores que 6 horas e dormidores longos com sono ultrapassando 10 horas por noite. A distribuição habitual do horário de dormir também não é um elemento fixo, mas em geral essa distribuição se dá entre o período das 22h ou 23h da noite e o despertar ocorre entre as 6/7 horas da manhã. A transição da vigília para o sono tende a produzir um comprometimento transitório de memória e durante o sono ocorre inativação da transferência de memória entre o armazenamento de curto prazo e longo prazo. Vamos entender de forma prática essas relações, quantas vezes acordamos sem lembrar do início do sono?! E o Mobile User esquecimento de situações como telefonemas que recebemos durante a noite e tão pouco lembrar do toque do despertador?! Essas são situações bastante cotidianas. No entanto, sobre a memória de longo prazo o sono tem papel essencial, visto que é no período do sono que ocorre a consolidação da memória e aprendizado que obtivemos durante o dia a partir da ativação do hipocampo. Existem dois estados distintos de sono, tomando como base características eletrofisiológicas do eletroencefalograma (EEG), do eletroculograma e do eletromiograma: Sono sincronizado ou sono não REM (NREM – non-rapid-eye-movement). Sono dessincronizado ou sono REM (REM significa rapid-eye-movement). O sono normal é constituído pela alternância dos estágios REM e NREM. Termo REM significa movimento rápido dos olhos, este que ocorre durante a fase mais profunda do sono. O Sono Não REM é característico pela fase inicial de sonolência, com diminuição progressiva do tônus, cérebro em estado tranquilo e com baixa atividade psicológica. O Eletroencefalograma (EEG) é sincrônico, com ondas características de complexos K, fusos de sono e ondas lentas de alta voltagem. Ele é subdivido em três fases N1, N2 e N3 ou SWS (S3 + S4). A figura a seguir representa os estágios desde a vigília ou estágio 0 que registra ondas rápidas, de baixa amplitude (curtas e pequenas), que indicam alto grau de atividade dos neurônios corticais. Também faz parte desse estágio o movimento aleatório dos olhos e um acentuado tônus muscular. De 5 a 15min na cama, o indivíduo já atinge o primeiro estágio do sono. • Estágio 1: É o estágio entre a vigília e o sono, quando a melatonina (o hormônio do sono) é liberada, induzindo-o. Há uma redução do tônus muscular. • Estágio 2: Ocorre a redução da atividade dos neurônios corticais, com isso diminuem o ritmo cardíaco e respiratório e começa o sono leve. Relaxam-se os músculos e a temperatura corporal cai. Os estágios 1 e 2 podem se alternar com a vigília antes que entre em sono profundo. • Estágios 3 e 4: São os estágios de sono profundo, quando começam as ondas delta e o tônus muscular diminui ainda mais. Praticamente não há movimentação dos olhos. No sono REM ocorre total atonia com movimento periódico rápido dos olhos, atividade intensa cerebral e EEG ativado, dessincronizado. Os sonhos noturnos são originados nessa fase do sono. Logo, há um cérebro ativo em corpo completamente paralisado. É comum que ocorram despertares noturnos, principalmente ao fim da noite e estes são pouco lembrados pela manhã. Por fim, entenda que o ciclo do sono não ocorre de forma simétrica e regular, mas com predominância do sono REM ou não REM em determinados momentos da noite e sempre mesclados com períodos de despertar que também são variáveis. Mobile User Existe a correlação direta com neurotransmissores no processo de sono, durante a vigília predominam cinco neurotransmissores que fazem parte do sistema reticular ativador ascendente, sendo eles: histamina, dopamina, noradrenalina, serotonina e acetilcolina. Outros neurotransmissores ativadores são orexina e hipocretina. Dentre os neurotransmissores inativadores destacam-se o Gaba e a melatonina. As principais regiões envolvidas na transmissão de mecanismos ativadores e inativadores estão na região do hipotálamo, veja no fluxograma a seguir. A histamina é um neurotransmissor que estimula o estado de vigília, sendo assim, anti- histaminérgicos ou antialérgicos são medicamentos que promovem sono, enquanto isso, o neurônio GABAérgico é o principal estimulador do sono. As regiões do hipotálamo lateral e núcleo supraquiasmático produzem substâncias como orexina e melatonina e regulam o estado de sono-vigília, sendo a orexina estimulando a vigília e a melatonina o sono. Durante o sono, o encéfalo consome tanto oxigênio como o cérebro acordado e, por isso, o sono é um estado metabolicamente ativo. O sono é dividido em quatro estágios, cada um marcado por eventos identificáveis e previsíveis associados a alterações somáticas e padrões de EEG característicos. Nos estados de vigília, muitos neurônios estão disparando, mas não de uma forma coordenada. Um eletrencefalograma, ou EEG, do estado de alerta ou vigília (olhos abertos) mostra um padrão rápido e irregular, sem ondas dominantes. Em estados acordados, mas em repouso (olhos fechados), no sono ou em coma, a atividade elétrica dos neurônios sincroniza em ondas com padrões característicos. Quanto mais sincrônica a atividade dos neurônios corticais, maior a amplitude das ondas. Por conseguinte, o estado acordado, mas em repouso, é caracterizado por ondas de baixa amplitude e alta frequência. À medida que a pessoa adormece e o estado de alerta é reduzido, a frequência das ondas diminui. As duas principais fases do sono são: o sono de ondas lentas e o sono do movimento rápido dos olhos. O sono de ondas lentas (também chamado de sono profundo ou sono não REM, estágio 4) é indicado no EEG pela presença de ondas delta, de alta amplitude, ondas de baixa frequência e de longa duração que se espalham pelo córtex cerebral. Durante essa fase do ciclo do sono, as pessoas ajustam a posição do corpo sem comando consciente do encéfalo. Em contrapartida, o sono do movimento rápido dos olhos (REM) (estágio 1) é marcado por um padrão de ECG mais próximo ao de uma pessoa acordada, com ondas de baixa amplitude e alta frequência. Durante o sono REM, a atividade do encéfalo inibe os neurônios motores que se dirigem para os músculos esqueléticos, paralisando-os. As exceções a esse padrão são os músculos que movimentam os olhos e os que controlam a respiração. O controle das funções homeostáticas é deprimido durante o sono REM, e a temperatura do corpo diminui, aproximando-se da temperatura ambiente. O sono REM é o período durante o qual ocorre a maioria dos sonhos. Os olhos movem-se atrás das pálpebras fechadas, como se acompanhassem a ação do sonho. As pessoas são mais propensas a acordar espontaneamente nos períodos de sono REM. Um típico período de oito horas de sono consiste em ciclos repetidos. Na primeira hora, a pessoa sai da vigília em sono profundo (estágio 4, primeira área azul). O sujeito adormecido, então, cicla entre o sono profundo e o sono REM (estágio 1), com estágios 2 a 3 ocorrendo entre eles. Próximo ao período final das oito horas de sono, a pessoa permanece a maior parte tempo no estágio 2 e no sono REM, até finalmente despertar. A vigília é o resultado da ação conjunta da formação reticular ascendente (neurônios glutamatérgicos) em associação com núcleos aminérgicos (serotonina, noradrenalina, histamina e dopamina) e colinérgicos localizados na ponte, bulbo e no prosencéfalo basal e, principalmente, dos núcleos hipotalâmicos lateral e posterior – hipocretinas e histamina, respectivamente. O ciclo vigília-sono é regulado por neurônios hipotalâmicos pelo Sistema Ativador Ascendente. A atividade de seus neurônios pode ser medida pela taxa de ·disparos dos potenciais de ação. Durante o dia (vigília) esta taxa é muito alta, indicando que ele está ativando o córtex. Este recebe normalmente as aferências dos núcleos talâmicos sensitivos. No final da vigília, em antecipação ao momento de dormir, um grupo de neurônios do hipotálamo anterior (núcleo pré-óptico ventrolateral) inibe a atividade dos neurônios monoaminérgicos do Sistema Ativador Ascendente, desativando o córtex. Simultaneamente, o núcleo reticular do tálamo inibe a atividade dos núcleos talâmicos sensitivos, barrando a passagem para o córtex dos impulsos originados nas vias sensoriais. Inicia-se, assim, o estado de sono de ondas lentas, no qual a atividade elétrica do córtex é devida a circuitos intrínsecos sem influência de informações sensoriais externas e o eletroencefalograma é sincronizado. Pouco antes do despertar, os neurônios do Sistema Ativador Ascendente voltam a disparar, cessa a inibição dos núcleos talâmicos sensitivos pelo núcleo reticular e inicia-se novo período de vigília. O período do sono não é uniforme e 4-5 vezes por noite o eletroencefalograma mostra um traçado de vigília, apesar de a pessoa estar dormindo e com intenso relaxamento muscular. Por isso, esta fase do sono é denominada sono paradoxal. Durante esta fase os olhos se movem rapidamente, caracterizadapela sigla REM (rapid eye movement). Assim, existem dois tipos de sono que se alternam: o sono REM e o não REM ou sono de ondas lentas, este último dividido em fases I a IV. Durante o sono REM, o consumo de oxigênio pelo cérebro é igual ou maior do que em vigília, refletindo a atividade cortical. O indivíduo sonha e seus olhos movem-se rapidamente. No sono não REM o cérebro repousa. Sua taxa de consumo de oxigênio está em nível baixo e predomina o tônus parassimpático, com redução de frequência cardíaca e respiratória. William Dement, pesquisador do sono, descreve o sono não REM como um cérebro ocioso em um corpo móvel e o sono REM, um cérebro ativo em um corpo imóvel. O sono REM ocupa 20% a 25% do tempo total de sono no adulto jovem. Pesquisas sugerem que ele tem papel no processo de consolidação de memórias. O conteúdo bizarro que ocorre em alguns sonhos poderia ser devido à ativação aleatória de áreas do córtex. O sono REM é gerado por neurônios colinérgicos da formação reticular da junção ponte-mesencéfalo (núcleo pedúnculo- pontino), cuja destruição o abole. Durante o sono REM, muitas áreas corticais estão tão ativas como na vigília, incluindo o córtex motor. Este só não gera movimentos em todo o corpo porque os neurônios motores estão inibidos, resultando atonia. Esta atonia é produzida por vias colinérgicas descendentes dos neurônios do núcleo pedúnculo-pontino. Algumas pessoas, particularmente os idosos, perdem o mecanismo inibitório que promove a atonia muscular do sono REM. Esses casos são conhecidos como Transtorno Comportamental do sono REM. Os portadores são vítimas de constantes ferimentos por vivenciar seus sonhos com movimentos. Descreve-se o caso de um marido que sonhou que estava batendo na mulher, acordou e estava batendo mesmo. A geração do ritmo de vigília e sono depende também do núcleo supraquiasmático do hipotálamo que, juntamente com a glândula pineal, sincroniza este ritmo com o de claro e escuro. O sono REM é encerrado pelos neurônios do locus ceruleus, que aumentam sua atividade na transição entre o sono paradoxal e a vigília, podendo ser considerados os neurônios do despertar. • Somatropina (GH ou HGH): é um hormônio altamente metabólico, que controla o crescimento das células e a estatura dos indivíduos. Possui seus picos de secreção durante o sono profundo, fase em que também ocorre uma maior absorção. • Melatonina: hormônio produzido pela glândula pineal, influencia na regulação do sono e é produzido naturalmente quando anoitece (quando há ausência de luz), de forma mecânica em resposta ao escuro da noite. • Adenosina: é um hormônio que resulta da queima de energia pelo corpo durante o dia. Se acumula ao longo do dia e produz a sensação de cansaço, responsável pela nossa reação de entender que é hora de dormir. Ao final do dia, à medida que os níveis de melatonina sobem no organismo e se combinam com a adenosina, ficamos sonolentos até dormir. • Serotonina: hormônio responsável pela comunicação entre as células nervosas. Atua em diversas funções do corpo como temperatura do corpo, movimentos, apetite e até mesmo o sono e a sensação de cansaço. Privação de sono é um termo geral para descrever um estado causado por quantidade ou qualidade inadequada de sono, incluindo insônia voluntária ou involuntária e distúrbios do sono de ritmo circadiano. O sono é tão importante para o corpo humano quanto comida e água, mas muitos de nós não dormem o suficiente. Sono insuficiente, qualidade de sono inadequada ou perturbações do ciclo sono-vigília (como as que ocorrem com o trabalho por turnos ou viagens para outro fuso horário) têm consequências no modo como funcionamos durante o dia, causando sonolência e fadiga. Assim, as principais funções do sono são relacionadas ao descanso e a regeneração orgânica que são essenciais para o funcionamento do corpo e mente, conservação da energia diária, consolidação do aprendizado e memória, além da função imunológica, auxiliando processos de defesa do organismo frente a estímulos externos ou do próprio corpo. Em consonância, noites mal dormidas tem efeitos adversos bem conhecidos como fadiga, cansaço, indisposição, alteração de sintomas cognitivos como atenção e memória, baixo rendimento escolar e em atividades de trabalho sendo um fator de risco importante para acidentes como os automobilísticos. Ainda tem relação independente com complicações cardiovasculares sendo fator de risco para obesidade, diabetes, hipertensão arterial e doenças psiquiátricas. Uma pessoa cansada e sonolenta é propensa a acidentes, julgamento prejudicado e mais propenso a cometer erros e más decisões. Ficar acordado por 24 horas leva a uma coordenação olho-no-olho reduzida que é semelhante a ter um teor de álcool no sangue de 0,1. É por isso que a privação de sono contribui para acidentes rodoviários e lesões de trabalho. A falta de sono também pode afetar o desempenho escolar de uma criança e pode estar associada a um maior risco de problemas emocionais, como depressão. As causas comuns de privação de sono incluem: Escolha pessoal - algumas pessoas não percebem que o corpo precisa de um sono adequado. Em vez de ir para a cama regularmente em um horário razoável, eles preferem ficar acordados até tarde para socializar, assistir televisão ou ler um bom livro. Doenças - doenças como resfriados e amigdalite podem causar ronco, engasgos e despertar frequente, e têm um efeito direto sobre o sono, fragmentando-o. Trabalho - as pessoas que trabalham por turnos interrompem seus ciclos de sono-vigília regularmente. Viajantes frequentes (por exemplo, tripulação de linha aérea) também tendem a ter padrões de sono erráticos. Distúrbio do sono - problemas como apnéia do sono, ronco e distúrbio dos movimentos periódicos dos membros podem perturbar o sono da pessoa muitas vezes durante a noite. Medicamentos - alguns medicamentos usados para tratar doenças como epilepsia ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) podem causar insônia. O ambiente de sono - o sono pode ser interrompido por uma série de razões ambientais; por exemplo, porque o quarto está muito quente ou frio ou por causa de vizinhos barulhentos ou de um parceiro de cama que ronca. Má higiene do sono - os hábitos de algumas pessoas são perturbadores; por exemplo, beber café ou fumar perto da hora de dormir estimula o sistema nervoso e torna o sono menos provável. Outro problema comum é ficar deitado na cama e se preocupar, em vez de relaxar. Bebês, bebês mais velhos e crianças pequenas - os pais quase sempre passam por privação de sono porque seus filhos pequenos acordam com frequência durante a noite para se alimentar ou se consolar. Cumpre ressaltar também que o desenvolvimento tecnológico contribui tanto de forma positiva quanto negativa para a qualidade de vida e a qualidade do sono das pessoas. Dentre os fatores que afetam o sono nas sociedades modernas estão a luz artificial - que modificou os hábitos relacionados aos ciclos sono-vigília e claro-escuro; a rede de telecomunicações, as demandas sociais e o estilo de vida ativo Sintomas da privação de sono em adultos Os sintomas de privação de sono em adultos incluem: • Bocejar constante • A tendência de cochilar quando não está ativo por um tempo; por exemplo, ao assistir televisão • Apatia/desânimo ao acordar de manhã • Apatia/desânimo com sono experimentado durante todo o dia (inércia do sono) • Pouca concentração e alterações de humor (mais irritável). Sintomas de privação de sono em crianças A privação de sono afeta as crianças de maneiras diferentes dos adultos. Crianças com sono tendem a "acelerar" em vez dedesacelerar. Os sintomas incluem: • Mau humor e irritabilidade • Acessos de raiva • A tendência de "explodir" emocionalmente à menor provocação • Excesso de atividade e comportamento hiperativo • Cochilos diurnos • Tonturas quando acordam de manhã • Relutância em sair da cama pela manhã. Dentre os efeitos da perda de sono em crianças e adolescentes, tem-se uma série de problemas de escolaridade, incluindo travessura e falta de concentração. Adolescentes cronicamente privados de sono têm maior probabilidade de ter problemas com o controle dos impulsos, o que leva a comportamentos de risco, além de um risco aumentado de transtornos como depressão e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Consequências gerais da falta de sono A falta de sono prejudica o desempenho. Quando uma pessoa que precisa de oito horas de sono por noite tem apenas seis, essa perda de sono de duas horas pode ter um grande impacto, incluindo: • Alerta reduzido • Tempo de atenção reduzido • Mais lento do que o tempo de reação normal • Julgamento pobre Mobile User • Reduzida consciência do meio ambiente e da situação • Habilidades de tomada de decisão reduzidas • Memória fraca • Concentração reduzida • Maior probabilidade de "protelar" mentalmente ou se fixar em um pensamento • Maior probabilidade de mau humor • Eficiência de trabalho reduzida • Perda de motivação • Erros de omissão - cometer um erro ao esquecer de fazer algo • Erros de comissão - cometer um erro ao fazer algo, mas escolher a opção errada • Microssono - breves períodos de sono involuntário que variam de alguns segundos a alguns minutos de duração. Quando se questiona sobre o quanto de sono é o suficiente para uma pessoa, verifica- se que as necessidades de sono variam de pessoa para pessoa, dependendo da idade, níveis de atividade física, saúde geral e outros fatores individuais. Em geral: Crianças da escola primária - precisam de cerca de 9 a 10 horas. Estudos mostram que aumentar o sono de crianças em apenas meia hora pode melhorar drasticamente o desempenho escolar. Adolescentes - também precisam de cerca de 9 a 10 horas, possuindo uma maior necessidade de sono no momento em que os compromissos sociais e a pressão dos colegas causam uma redução no tempo de sono. Fatores de estilo de vida, como horários de início precoce da escola, os privam do sono até tarde necessário. Há evidências de que, próximo à adolescência, há uma mudança no ciclo sono-vigília para ficar com sono mais tarde, com preferência por acordar mais tarde. Adultos - precisam de cerca de oito horas, dependendo de fatores individuais, tendo a tendência de precisar de menos horas de sono à medida que se envelhece. Porém, sabe-se que a necessidade diária de sono depende das características e funcionamento diário de cada organismo, bem como da presença de déficits atribuídos ao número de horas de sono. Um indivíduo pode dormir oito horas por noite e mostrar indisposição, falhas de memória e hipersonolência diurna, enquanto outro pode dormir apenas cinco horas e mostrar total disposição e bem-estar. A classificação dos quadros de sono está disposta em algumas metodologias como: Classificação Internacional de Doenças (CID10), manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM) V e International Classification of Sleep Disorders (ICSD) 3, sendo esta é a classificação mais completa e largamente utilizada. No ICS 3 existem classificações como: Insônia: trata-se de transtorno de insônia crônica, transtorno de insônia de curto prazo e outros transtornos de insônia. É importante salientar que sintomas isolados e variantes da normalidade são avaliados isoladamente como, por exemplo, estar em tempo excessivo na cama ou tempo de dormir curto. Transtorno de hipersonolência: narcolepsia tipo 1, narcolepsia tipo 2, hipersonia idiopática, síndrome de Kleine- Levin; hipersonia devido ao uso de drogas e substâncias, hipersonia associada a transtornos mentais e síndrome do sono insuficiente. A variante da normalidade é o dormidor longo, aquele que dorme mais de 10 horas ao dia. Transtornos respiratórios relacionados ao sono: a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) é a principal síndrome, além do transtorno de hipoventilação relacionado ao sono e hipoxemia relacionada ao sono. Também há variação com relação a roncos eventuais e catatrenia, estas que podem ser normais ou patológicas. Transtorno do ritmo circadiano de sono- vigília: envolve alterações de ciclo circadiano como ruptura do ciclo tanto por questões endógenas quando por associação endógena e exógena. Em média há uma distribuição normal de início de sono em torno das 22h e despertar em torno das 6h da manhã. Quando há um hábito de dormir muito cedo existe a denominação de avanço de fase e quando ocorre mais tarde é um atraso de fase. Este fato pode ser uma variação da normalidade, contudo, neste caso, estamos falando de cronótipos extremos que podem gerar alterações no ciclo de vida. Outras alterações são tipo de sono-vigília irregular que engloba os pacientes que não tem horários fixos para dormir ou acordar, tipo de sono-vigília de livre curso engloba pacientes que não tem contato com a luz, especialmente pacientes cegos, transtornos dos trabalhadores em turnos que são aqueles que tem plantões noturnos semanais e o Jet-Lag que é a alteração quando há mudança de fuso por viagens. Os tratamentos para essas condições são relacionados a higiene do sono, fototerapia e uso de melatonina Parassonias: Parassonias de Sono Não REM – Despertar confusional, sonambolismo e terror noturno como transtornos do despertar, transtorno alimentar relacionado ao sono e parassonias do sono REM que envolve transtorno comportamental, paralisia do sono isolada recorrente e transtornos de pesadelos. Parassonias do Sono REM – transtornos do despertar envolvem despertar incompleto do sono, normalmente ocorre no SW3, este que é mais abundante na primeira metade do sono, não respondem a estímulos externos, são autolimitados e sem associação com sonhos ou imagens mentais, há amnésia do fato ocorrido, mais comum em crianças e adolescentes e tem curso clínico benigno, com duração de poucos minutos e cessação espontânea. Eles são: 1. Despertar confusional; 2. Sonambulismo e 3. Terror noturno. Os transtornos comportamentais do sono REM são relacionados e perda de atonia típica do sono REM, vocalizações e comportamentos motores complexos com memória parcial dos mesmos, ocorrem mais comumente na segunda metade da noite, mais comum em idosos e adultos e pode ter relação com doenças como as neurodegenerativas. O tratamento das parassonias varia de acordo com o padrão de sono REM ou não REM, no primeiro caso após diagnóstico confirmado com a polissonografia pode instituir terapia com benzodiazepínicos e melatonina, enquanto no sono não REM o tratamento primordial é a retirada de fatores desencadeantes, realização de higiene do sono, programar o horário de despertar e, se necessário, Clonazepam e melatonina. Sonambulismo faz parte da classe de distúrbios que provocam comportamentos inadequados durante o sono, chamadas de parassonias, em que há uma alteração do padrão do sono devido à ativação de áreas do cérebro em momentos inapropriados. É mais frequente em crianças, apesar de poder existir em qualquer idade. A pessoa com sonambulismo manifesta atividades motoras complexas, como caminhar ou conversar, podendo em seguida despertar ou voltar a dormir normalmente. Geralmente, há pouca ou nenhuma recordação do ocorrido. Transtornos do movimento relacionados ao sono: as principais síndromes associadas são síndrome de pernasinquietas, síndrome dos movimentos periódicos dos membros, câimbras nas pernas relacionadas ao sono, bruxismo relacionado ao sono, transtorno do movimento rítmico relacionado ao sono e mioclonia benigna do sino na infância. Síndrome das pernas inquietas: atentar a esta patologia pela sua incidência consideravelmente elevada, em torno de 5% a 10% dos casos de distúrbios do sono. Há queixa de sensação estranha em membros inferiores que, em geral, tem alívio após movimentação e surge mais comumente ao fim do dia. Não confunda com a inquietação em quadros de ansiedade, neste caso é uma síndrome específica relacionada ao sono. Uma característica marcante é que como melhora ao movimento dificulta o padrão habitual de sono do paciente. A fisiopatologia dessa patologia é ainda desconhecida, mas há correlação com mecanismos genéticos e da dopamina. A investigação envolve exames laboratoriais para afastar alterações de coagulação, deficiência de ferro e outras que podem gerar esse reflexo de sensação inespecífica nos membros. O tratamento envolve higiene do sono, compressas mornas nos membros, agentes dopaminérgicos como Pramipexol, Cabergolina e Levodopa, Gabapentina e Pregabalina, sempre em doses individualizadas. É um transtorno caracterizado pela dificuldade de iniciar ou manter o sono, ou ainda insatisfação com a qualidade do sono, resultando em sintomas diurnos, físicos e emocionais, com impacto no desempenho das funções sociais e cognitivas. A insônia, independente de sua etiologia, está associada a uma gama de sintomas adversos, como distúrbios físicos, mentais e emocionais, como alterações do humor, ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração e memorização. A insônia pode ser inicial, de manutenção ou terminal. Na insônia inicial, o paciente apresenta dificuldade para iniciar o sono, com duração superior a 30 minutos. A insônia de manutenção é caracterizada por despertares durante a noite, que podem ser de curta ou de longa duração. A insônia terminal tem como principal sintoma o despertar precoce. Comumente, essas três formas de insônia estão presentes em um mesmo paciente. A insônia pode ser classificada em aguda ou crônica. A aguda dura menos de 4 semanas e, geralmente, surge como resposta a fatores estressores. de natureza psicogênica, médica ou ambiental. As insônias crônicas frequentemente levam o paciente a procurar o médico, uma vez que tendem a se desenvolver durante meses, anos ou por toda uma vida. De acordo com os fatores etiopatogênicos, as insônias podem ser classificadas como primárias, associadas, secundárias e comórbidas. As primárias podem ser divididas em psicofisiológica, idiopática e paradoxal. Como será observado, esses três tipos de insônia se interagem na maioria das insônias primárias, e, dependendo do paciente, seus componentes fisiopatológicos estão presentes com intensidade diferente. Da mesma forma, os termos insônias associadas, secundárias e comórbidas, por sua vez, também se confundem, pois os agentes etiopatogênicos envolvidos são complexos e multifatoriais. • Insônia aguda, insônia transitória ou insônia de ajustamento: São insônias decorrentes de um fator precipitante causal, claramente identificável em uma pessoa com sono previamente normal sem queixas anteriores, devendo durar alguns dias ou, no máximo, 1 mês. O fator estressante precipitante pode ser psicológico ou físico, como, por exemplo, demissão, prova, viagem, diagnóstico de uma condição médica, hospitalização ou um ambiente de sono desconfortável. A insônia aguda caracteristicamente se resolve com a suspensão do fator estressor precipitante. • Insônias primárias: As insônias primárias têm duração mínima de 1 mês, não são causadas por outro transtorno mental, neurológico, clínico, por outro transtorno do sono, pelo uso de medicações, pelo abuso de substâncias ou por higiene do sono inadequada, facilmente identificável. Ela apresenta, principalmente, sintomas de dificuldade de conciliar e/ou manter o sono, com despertares noturnos de longa duração, sono de má qualidade e sintomas diurnos, como fadiga e irritabilidade. Alguns pacientes apresentam paradoxalmente uma facilidade para adormecer em locais distintos do ambiente habitual de sono, como em hotéis, no laboratório de sono ou em situações monótonas não intencionais, como assistindo televisão na sala. Embora sejam definidos três tipos de insônias primárias, como psicofisiológica, idiopática e paradoxal, os fatores envolvidos nas insônias crônicas são multifatoriais. A insônia psicofisiológica é denominada de insônia aprendida, cursando com um estado de hiperalerta cognitivo caracterizado por ansiedade relacionada com o ato de dormir. A insônia idiopática inicia-se na infância, persistindo durante a vida adulta, e há geralmente história familiar de insônia, o que sugere um forte fator constitucional e, talvez, genético. Já a insônia paradoxal tem como ponto essencial a presença de queixas subjetivas de sono de má qualidade e presença de sintomas diurnos de leve intensidade na ausência de alterações objetivas de sono no exame de polissonografia (PSG). A insônia paradoxal está relacionada com percepção inadequada do sono. Como será observado, o universo dos insones tem fatores que se interagem, como: componente constitucional, substrato neurobiológico (hiperalerta), componentes ansiosos, além de fatores comportamentais e cognitivos (percepção inadequada do tempo total de sono). • Insônias associadas ou comórbidas e secundárias: Definem-se insônias associadas quando predomina o sintoma insônia e ocorrem, paralelamente, outros fatores associados, os quais têm participação importante na manutenção da insônia. As insônias podem estar associadas a depressão, ansiedade generalizada, higiene do sono inadequada, condição médica, uso de substâncias e medicamentos. Outros transtornos do sono podem estar associados às insônias, tornando-se um fator complicador, não só no diagnóstico como no planejamento terapêutico desses casos. Tem- se como exemplo a apneia obstrutiva do sono, a fibromialgia e os transtornos do ritmo vigília-sono. O termo insônia comórbida se confunde com insônia associada. Quando o agente causal é o principal fator responsável pela insônia, podemos dizer que se trata de uma insônia secundária. A característica principal da insônia secundária é a relação causal direta e temporal com o fator responsável por ela, que uma vez eliminado, ocorre, concomitantemente, o desaparecimento da insônia. Diversos fatores se interagem e participam nessas formas de insônia sem que se atenha a separar em insônia associada, comórbida e secundária: higiene do sono inadequada (prática de hábitos que não são adequados para uma boa qualidade de sono. Entre as práticas de má higiene de sono estão consumo de cafeína, nicotina e álcool no mínimo 6 horas antes de dormir, refeições pesadas à noite, atividade física vigorosa até 4 horas antes de dormir, atividade psicologicamente estressante à noite, horários inconstantes para dormir e acordar, cochilos longos ou próximos do horário do sono da noite) – condição médica, uso de substâncias ou medicação, transtornos mentais, transtornos do humor, transtorno de ansiedade, fibromialgia, transtornos do ritmo circadiano, síndrome das pernas inquietas. SAOS é uma doença respiratória do sono caracterizada por obstrução total ou parcial da via aérea superior durante o sono, sendo marcada por episódios de apneia e hipopneia. No primeiro caso há obstrução de 90% ou mais das vias aéreas superiores por 10 segundos ou mais, associada a dessaturação e/ou despertar. Já na hipopneia ocorre obstrução de 30% ou mais, por 10 segundos,associada a dessaturação (3% ou mais) e/ou despertar. Esses episódios causam diminuição da oxigenação orgânica e consequente fragmentação do sono, cursado com sintomas adversos como sonolência diurna, alterações cognitivas e comportamentais, queda do rendimento e fadiga diária, alterações metabólicas e possíveis acidentes como automobilísticos relacionados a sonolência e cansaço. Classificação da apneia: • A apneia pode ser central ou periférica: a apneia periférica ocorre por alteração na via aérea superior, principalmente por características estruturais/anatômicas e a central por origem neurológica, uso de medicações e insuficiência cardíaca. A diferenciação básica dessas apneias é na polissonografia, sendo que na central é evidente a dessaturação sem esforço respiratório. Existem também apneias mistas que envolvem as características periféricas e centrais. A SAOS é mais comum em indivíduos adultos e idosos, entre 35 a 60 anos, mas pode ocorrer em outras faixas etárias, em geral, ao acometer crianças está mais relacionada a alterações anatômicas. Tem maior prevalência em homens, em torno de 3 a 7% e em mulheres entre 2 e 5%. Sobre a etiologia, existem fatores modificáveis ou adquiridos ao longo da vida e fatores não modificáveis associados a esta patologia. Dentre os fatores modificáveis destacam-se o estilo de vida com obesidade, consumo excessivo de álcool e sedentarismo e os não modificáveis com idade, sexo e anatomia das vias aéreas. A maior parte das apneias periféricas ocorrem na região de faringe, especialmente em hipofaringe, pois são regiões de partes moles que permite colabamento de regiões. É incomum a correlação com traqueia e nariz. Em relação aos fatores de perviedade das vias aéreas, a estrutura craniofacial com tamanho e posição da mandíbula, variações do osso hioide e tamanho do palato (quanto maior, mais fácil a interrupção da via aérea) influenciam na perviedade. Atividade neuromuscular e tecidos ao redor, respetivamente com tônus muscular, aferências nervosas e reflexos e obesidade que são fatores de risco já mencionados. Por fim, destacam-se as propriedades intrínscecas como maior propensão a formação de edemas durante a noite, perfusão vascular e propriedades intrínsecas da A correlação dos fatores supracitados com o sono ocorre, pois, durante o sono, há um relaxamento natural da musculatura e redistribuição de líquidos corporais e alterações em qualquer parte, seja na drenagem ou composição muscular podem favorecer o colabamento parcial ou total das vias aéreas e causar a apneia. A sonolência excessiva diurna (SED) é definida como a necessidade de dormir durante o dia ou em horários inapropriados. Não necessariamente está relacionada ao sono, mas a incapacidade de se manter alerta, por desatenção, cansaço e lentificação. • Dormidor longo: este é um variante da normalidade incluindo indivíduos que necessitam de um tempo maior de sono, entre 10 ou mais horas por noite, mas não há correlação com anormalidades durante o sono; • Síndrome do sono insuficiente: a privação de sono é a principal causa de sonolência excessiva diurna, caracterizada após o período de 3 meses de privação para constituir um problema crônico. Essa privação de sono é fator de risco para diversas condições como acidentes, cansaço excessivo, desatenção e outros. O melhor tratamento é o sono! Sim, é essencial garantir a quantidade necessária de sono noturna para garantir os processos fisiológicos corporais. • Hipersonia associada a transtornos mentais: este é um dos diagnósticos diferenciais essenciais na abordagem a sonolência, sendo responsáveis por cerca de 5 a 7% dos casos de hipersonia. É mais comum em mulheres e pode ocorrer em quadros de somatização e conversão, mas o mais comum é nos quadros de humor como depressão e mania. • Doenças causadoras de hipersonia: inúmeras doenças entram como possibilidade de sonolência excessiva diurna tanto por aspectos intrínsecos quanto interações medicamentosas. Dentre elas destacam-se: Doença de Parkinson, Doenças endócrinas: hipotireoidismo, hipersonia pós- traumática, doenças metabólicas, como encefalopatia hepática, doença renal crônica e insuficiência adrenal, doenças genéticas associadas ao controle central do sono e hipersonia residual em pacientes tratados para SAOS. As causas primárias são menos comuns, mas necessitam de reconhecimento clínico para tratamento e seguimento adequado. Veja abaixo as quatro principais. • Hipersonia idiopática: em geral cursa com muitas horas de sono por dia, normalmente entre 12 e 14 horas, excedendo o normal para um dormidor longo. Não há achados habituais em pacientes com narcolepsia como cataplexia, paralisias do sono ou alucinações hipnagóticas e é essencial excluir outras causas como sono insuficiente. A polissonografia pode ser solicitada para avaliar e excluir outras causas, sendo que, em geral, não serão encontrados dados específicos de anormalidade. O tratamento é essencialmente com higiene do sono e tentativa de regular o período do ciclo circadiano. • Síndrome de Kleine-Levin: ocorrem ataques prolongados e inexplicáveis de sono, entre 2 dias a 5 semanas, sendo esta uma condição rara e sem etiologia conhecida. Há associação de sintomas como agressividade, desinibição, hiperfagia e sintomas cognitivos. Esses pacientes normalmente são assintomáticos entre os ataques de sono prolongado. É uma doença primária do sono caracterizada por: sonolência excessiva diurna, episódios de cataplexia, alucinações hipnagógicas, paralisia do sono e fragmentação do sono. Essa é uma condição rara, atingindo em torno de 0,02% da população e tem interações entre fatores ambientais, genéticos e imunológicos. A cataplexia é caracterizada por episódios de atonia muscular sem perda de consciência, ou seja, ele se mantém vígil e orientado. Alucinações hipnagógicas são alucinações normais em início do sono, contudo, em paciente com narcolepsia é algo muito frequente e o conteúdo da alucinação pode ser diverso, relacionado a alimentação, audição e outros. A paralisia do sono é o momento de despertar sem perda de atonia do sono REM. É um transtorno crônico do sono caracterizada por ataques repentinos de sono, em que a pessoa pode dormir em qualquer lugar, a qualquer hora do dia, dificultando as atividades do dia a dia. Os ataques podem surgir poucas ou várias vezes ao dia, e o sono costuma durar alguns minutos. Existem 2 tipos de narcolepsia, tipo 1 e tipo 2. A do tipo 1 é marcada por cataplexia, teste das latências múltiplas de sono alterado e dosagem diminuída de hipocretina no liquor. Enquanto a tipo 2 não tem outros comemorativos, além de teste das latências múltiplas de sono alterado. Transtornos do sono são relativamente comuns, o que pode ser deduzido pela variedade de agentes indutores do sono disponíveis nas farmácias. Entre os transtornos do sono mais comuns estão a insônia (dificuldade de iniciar o sono ou permanecer adormecido o suficiente para descansar), a apneia do sono e o sonambulismo. A apneia do sono é uma condição na qual o sujeito acorda quando a respiração é interrompida, quer seja por falta de estímulo do sistema nervoso central ou pela obstrução das vias aéreas. O sonambulismo é um distúrbio de comportamento do sono que, por muitos anos, pensou-se representar a ação dos sonhos. Entretanto, a maioria dos sonhos ocorre durante o sono REM (estágio 1), ao passo que o sonambulismo ocorre durante o sono profundo (estágio 4). Durante os episódios de sonambulismo, que podem durar de 30 segundos a 30 minutos, os olhos do sujeito estão abertos, registrando o ambiente. Ele tem a habilidade para desviar de objetos,pode subir escadas e, em alguns casos, há relatos de que ele executa tarefas como preparar comida ou vestir roupas. A pessoa, em geral, tem pouca ou nenhuma lembrança consciente do episódio de sonambulismo quando acorda. O sonambulismo é mais comum em crianças, e a frequência dos episódios diminui com a idade. Existe também um componente genético quando a tendência ao sonambulismo ocorre em famílias. A propedêutica do sono envolve uma abordagem complexa, multifatorial, com anamnese ampliada objetivando conhecer o paciente e seus hábitos, pois vários fatores, como já citados, podem interferir no ciclo sono-vigília. Pontos essenciais na investigação são: Hábitos noturnos como horários de deitar e levantar, latência do sono, noctúria e despertares noturnos; Hábitos diurnos como sonolência, fadiga, horários de exercícios físicos e refeições; Condições ambientais; Sintomas ansiosos, quadros psiquiátricos e transtornos diversos; Uso de medicação, drogas psicoativas e outras doenças; Histórico familiar de distúrbios do sono. Ao exame físico deve-se atentar para peso e altura, sobretudo calculando o IMC, pois a obesidade pode interferir como causa de transtornos como apneia do sono, ângulo da mandíbula e circunferência do pescoço e sempre associe essas informações com relatos de algum companheiro, se for presente. As principais queixas de sono incluem: → Insônia → Sonolência excessiva (SED) → Incapacidade de dormir ou acordar na hora desejada → Eventos e comportamentos anormais As principais escalas e índices são: Escala de sonolência de Epworth. Índice de qualidade de sono de Pittsburgh (PSQI), Índice de gravidade de insônia e Diário de sono. Os exames complementares de destaque são a polissonografia, teste das latências múltiplas do sono (TLMS), também conhecido como Teste Múltiplo de Latência do Sono, teste de manutenção da vigília e Actigrafia. Vamos entender um pouco melhor da polissonografia, visto que este é o exame padrão ouro para diversos quadros que envolvem o sono. Ocorre então o monitoramento do sono durante a noite que pode ser feito em ambiente hospitalar ou doméstico e pode também ser filmada (a videopolissonografia). Dentre os parâmetros avaliados e para isso ocorre a montagem de eletroencefalograma (EEG), Eletrooculograma (EOG), Eletromiograma (EMG) de mento e membros, Medidas de fluxo oronasal, Medida de movimento toracoabdominal, eletrocardiograma, oximetria de pulso, microfone para ronco. Na avaliação do laudo são vários os aspectos citados para corroborar com o diagnóstico clínico como tempo total de sono e tempo total acordado após início do sono, arquitetura do sono que são as porcentagens e distribuição do sono durante a noite, latência do sono incluindo sono REM, eficiência do sono, questões respiratórias dentre roncos, diminuição da saturação e índice de apneia e hipopneia e índice de movimentos periódicos de pernas. Esse exame não é solicitado de rotina em qualquer queixa ou suspeita clínica, mas especialmente em situações descritas na tabela 1. Existem duas variações da polissonografia para avaliar a sonolência diurna, sendo que, normalmente, são precedidos de uma polissonografia noturna. • Teste das latências múltiplas do sono: 5 cochilos durante o dia deitado em ambiente adequado a cada 2 horas – Orientado a não se opor ao sono, avaliar latência do sono e latência do sono REM e a principal avaliação é o tempo que o paciente leva para dormir e para entrar no sono REM. Tem como principais indicações a Hipersonia e Narcolepsia. • Teste da manutenção da vigília: indicação de avaliar a capacidade do paciente em ficar acordado, logo, ele deve se opor ao sono. Há 5 oportunidades de cochilo diurno em ambiente adequado a cada duas horas. A actigrafia é mais uma opção de acompanhar o sono, sendo ele um aparelho móvel, normalmente em pulso como relógio e mede o nível de atividade motora. Aparelhos atuais determinam também a frequência cardíaca e temperatura. A grande vantagem é que pode ser utilizada por vários dias permitindo um relato do diário por mais tempo, além do conforto ao paciente. O instrumento para a avaliação objetiva do sono e de seus transtornos é a polissonografia (PSG), que consiste no registro simultâneo de algumas variáveis fisiológicas durante o período principal de sono. O tipo de registro classificado como Nível 1 é considerado o padrão-ouro da PSG. Consiste no exame de noite inteira, realizado em um laboratório especializado, sob supervisão contínua de um técnico habilitado em PSG, com registro simultâneo e contínuo de diversos parâmetros neurofisiológicos, cardiorrespiratórios e outros. Os parâmetros avaliados incluem EEG, eletrooculograma, eletromiograma, eletrocardiograma, fluxo aéreo (nasal e oral), transdutor de pressão nasal, esforço respiratório (torácico e abdominal), saturação arterial de oxigênio, ronco e posição corporal. Quando o objetivo do exame é diagnóstico, é chamado de exame basal e, quando tem a finalidade de regular pressão aérea positiva (PAP), pode ser denominado de PSG para titulação de CPAP, devendo ser realizado após ter sido feito o diagnóstico de um quadro de apneia obstrutiva do sono (AOS) em uma PSG basal. Outro tipo de exame é a PSG do tipo split- night, que consiste, em uma mesma noite, na avaliação diagnóstica de quadro de AOS na primeira metade do registro, seguida de regulação de PAP. Pode ser uma alternativa para quadros graves de AOS, mas sua indicação deve ser criteriosa, pois esse tipo de exame pode acarretar erros diagnósticos e/ou ajustes inadequados do nível da PAP adequada para o tratamento. Não se recomenda sua indicação quando o paciente está utilizando drogas que suprimam o sono REM (p. ex.: antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos), assim como em pacientes que apresentam dificuldade para adormecer, despertar precoce, sono curto e quadros ansiosos e depressivos. No laboratório de sono, pode ser feita a vídeo-PSG, também chamada de polissonografia com EEG. Nessa modalidade de exame, são colocados os eletrodos comumente realizados na eletrencefalografia, além dos parâmetros rotineiramente avaliados na PSG de rotina. O paciente é obrigatoriamente filmado durante a noite. Pode ser indicado para diagnóstico diferencial de comportamentos anormais durante o sono (parassonias e crises epilépticas durante o sono). Com o advento dos aparelhos computadorizados, tornou-se possível a realização da PSG completa (parâmetros neurofisiológicos e cardiorrespiratórios) na residência do paciente. É o chamado Nível 2, mas ainda não há evidências de que apresente vantagens sobre o padrão-ouro. O exame do Nível 3 consiste em uma monitoração cardiorrespiratória, com avaliação de alguns parâmetros (fluxo aéreo, movimentos torácico e abdominal, eletrocardiograma, oximetria), sem possibilidade de analisar o padrão de sono. Pode ser feito no laboratório de sono ou no domicílio do paciente. Esse tipo de abordagem deve ser indicado em casos bem selecionados de transtornos respiratórios, quando há forte suspeita de AOS. Não é indicado para ajuste de pressão de PAP. Esse exame deve ser indicado com cautela, pois não é possível avaliar o padrão de sono nem diagnosticar outros transtornos do sono; se tiver um resultado negativo (não faz o diagnóstico de AOS), o paciente deverá ser submetido à PSG padrão. Na PSG, é possível avaliar diversos parâmetros objetivos, os quais devem ser correlacionados com a história clínica. Esses parâmetros incluem tempo total de registro e de sono, eficiência de sono, latência de sono não REM e REM, porcentagem e distribuição das fases de sono, número e duração de despertareslongos (>15 segundos) e breves (<15 segundos), índices (eventos respiratórios e motores), arritmias cardíacas, alteração de gases sanguíneos etc. • Tempo total de registro: é o intervalo entre o apagar (“boa noite”) e o acender (“bom dia”) das luzes. • Tempo total de sono: é o tempo efetivamente dormindo, e não o tempo total em que o indivíduo permanece na cama; é o tempo de registro menos o tempo em vigília. • Eficiência do sono: representa a razão entre a quantidade do tempo total de sono e o tempo total de registro; o valor normal é ≥85% no adulto jovem. • Latência do sono NREM: é o tempo que leva desde o apagar das luzes até o início do sono, (geralmente estágio N1). O valor normal para adultos jovens é de até 30 minutos. • Latência do sono REM: é o tempo entre o início do N2 e o início do primeiro episódio de sono REM. O valor normal no adulto jovem é de 70-120 minutos. • Porcentagem e distribuição das fases de sono: os estágios do sono se alternam durante a noite e, em um adulto saudável, a porcentagem normal é de até 8% de estágio N1, 50%-55% de estágio N2, 15%-25% de sono de ondas lentas e 20%-25% de sono REM. • Índice: define o número de um determinado evento por hora de sono: - Microdespertares: duração de 3 a 15 segundos, e o índice normal é considerado entre 10-15/hora. - Índice de apneias-hipopneias: é o número de pausas respiratórias dividido pelo número de horas de sono: - Índice de movimento periódicos de membros: Também devem ser descritas as arritmias cardíacas e as alterações de gases sanguíneos, sendo que o parâmetro mais utilizado é a saturação arterial da oxiemoglobina obtida pela oximetria digital. A “arquitetura do sono” refere-se à sucessão dos estágios do sono e de vigília ao longo da noite, e o hipnograma é a sua representação gráfica. A PSG pode ser indicada em diversas condições médicas. É o exame de rotina para investigação dos transtornos respiratórios do sono e para titulação da PAP e, ainda, para avaliação da resposta terapêutica de cirurgias, aparelhos intraorais e perda de peso. Quando houver suspeita de narcolepsia, a PSG deverá ser seguida pelo teste das latências múltiplas de sono. Nos casos das insônias, há controvérsias quanto à utilidade da PSG como investigação de rotina. Ela pode ser indicada para complementação diagnóstica ou para avaliação subjetiva do padrão de sono. Ela é necessária quando há suspeita de movimentos periódicos durante o sono, mas não é indicada para o diagnóstico de síndrome das pernas inquietas. Em casos de comportamentos anormais durante o sono, a vídeo-PSG pode ser importante, principalmente para diagnóstico diferencial entre os diferentes tipos de parassonias e com crises epilépticas. Alguns cuidados são essenciais para a realização desse exame. A PSG não deverá ser realizada quando o paciente não estiver em seu estado habitual (após privação prévia de sono ou após regimes irregulares de sono, com quadro gripal ou febril, em mudança de fuso horário etc.), pois esses fatores vão interferir nos resultados. Medicações como antidepressivos, ansiolíticos, hipnóticos, estimulantes do sistema nervoso central (SNC) e antipsicóticos podem alterar a arquitetura de sono; se o paciente estiver fazendo uso de alguma dessas drogas, não se recomenda a sua suspensão para a realização da PSG. Caso haja indicação clínica para se retirar a medicação, é fundamental que o exame seja realizado após um período equivalente a cinco vezes a duração da meia-vida da droga (geralmente 14 dias sem a medicação). O teste das latências múltiplas do sono (TLMS) é um exame utilizado para a quantificação objetiva de sonolência diurna e, especialmente, para o diagnóstico laboratorial da narcolepsia. Ele é geralmente realizado após uma PSG noturna e consiste em quatro a cinco registros poligráficos feitos durante o dia, obtidos em intervalos de 2 horas, com duração de 20 minutos para cada registro. O paciente é instruído a “não resistir ao sono” e, em cada registro, mede-se o tempo que o paciente demora a dormir; depois, é calculada a latência média de sono, e um valor inferior a 5 minutos é considerado anormal. O TLMS também visa detectar a presença de sono REM precoce (SOREMPs; sleep-onset REM period) nos registros diurnos, sendo que o diagnóstico de narcolepsia requer a presença de SOREMPs em pelo menos dois registros. O TLMS é indicado como parte da avaliação laboratorial nos pacientes com suspeita de narcolepsia, principalmente na ausência de cataplexia. Quando o paciente apresenta cataplexia, que é patognomônica de narcolepsia e confirma o diagnóstico clínico, o TLMS pode ou não ser realizado, passando a ser uma recomendação, e não uma exigência. Pacientes com suspeita de hipersonia idiopática devem ser submetidos à PSG e ao TLMS para o diagnóstico diferencial com narcolepsia. Alguns cuidados são indispensáveis para que o TLMS tenha um resultado válido e confiável. Medicações que alteram o sono REM (por exemplo, antidepressivos, estimulantes, sedativos, hipnóticos, anti-histamínicos) podem causar falsos negativos ou falsos positivos e devem ser suspensos por um período de 14 dias ou o equivalente a cinco vezes a duração da meia-vida da droga (no caso de fluoxetina, 6 semanas) antes da realização do exame. É essencial que o paciente mantenha um regime regular de sono nas duas semanas que antecedem o exame e deve evitar privação de sono. Além disso, deve haver redução ou suspensão do uso de substâncias estimulantes (cafeína, chocolate, nicotina, refrigerantes tipo cola) na semana anterior ao exame. Por vezes, o TLMS pode ser inconclusivo, aconselhando-se sua repetição, principalmente quando o paciente tem a suspeita clínica de narcolepsia, mas não houve o registro de pelo menos dois SOREMPs.