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Simone Santos A. Silva; Sebastião Pimentel Franco | 49 
 
manifestar opinião sobre a lepra “todos doutrinavam sobre o 
assunto”. (RIBEIRO DE ALMEIDA, apud, MONTEIRO, 1995, p.136). 
A partir dos anos 30, a proposta do isolamento compulsório, 
agregou partidários de peso, como médicos influentes no meio 
político. Não demorou muito para que “o armamento anti-leproso” 
formado pelo modelo tripé (internação nos leprosários, controle dos 
possíveis “comunicantes” da doença e separação dos filhos sadios, e 
sua internação nos preventórios), fosse implantado (MONTEIRO, 
1995, p.136). 
Em 1935 foi iniciado o Plano de Combate a Lepra, que 
defendia a compulsoriedade do isolamento dos doentes, algo que se 
efetivou, na gestão do Gustavo Capanema. As políticas de combate a 
lepra, a partir desse período, englobaram além do internamento, 
novos estudos sobre a doença e organização de censos. Uma rede de 
ações foi esturrada pelos agentes de combate a doença, que 
certamente resultou na fiscalização e controle do Estado sobre o 
doente e sobre as famílias afetadas, implicando em sérias 
dificuldades os indivíduos. (CUNHA, 2005, p. 88-9). 
Ao longo dos anos 30 e 40 a execução do isolamento 
compulsório se baseou no modelo isolacionista de São Paulo, que 
mantinha um serviço de profilaxia paradigmático. O regime 
isolacionista implantado no estado orientou a adoção nas outras 
regiões, servindo de base para a união (MONTEIRO, 1995, p. 149-
165). 
No caso de São Paulo, o isolamento foi mais efetivo, pois a 
proposta agregou mais entre seus partidários, médicos afinados 
com os grupos políticos influentes. Isso corroborou para o 
fortalecimento das políticas de combate pautadas no isolamento 
compulsório. Durante os anos 30 São Paulo foi modelo para outras 
regiões orientando as ações da união (MONTEIRO, 1995, p. 149-
165). Os preceitos do modelo paulista, sendo sua execução justificada 
e apoiada por medidas que variavam da força da lei, à força militar 
caso necessário. 
50 | Saúde e Doenças no Brasil: Perspectivas entre a História e a Literatura 
 
 No entanto, a aplicação das políticas de isolamento 
compulsório não ocorreu de maneira uniforme no país. No Rio de 
Janeiro, havia maior flexibilidade quanto às ações de internamento 
dos doentes de hanseníase, sendo mais indicados para os casos 
contagiantes. (MONTEIRO, 1995, p. 165). 
A breve exposição da história da lepra e das ações de combate 
a doença nos ajuda a compreender que o nosso personagem estava 
vivendo seu drama pessoal num período de adequação das ações de 
profilaxia da lepra, e seu cotidiano como doente de lepra não deveria 
ser muito simples. 
 
A doença e a “nova vida que se abria” 
 
Segundo Antônio M. Martins na condição de doente ele 
enfrentou dificuldades por conta do estigma em torno da lepra. Tal 
condição representou grande embaraço, conforme ele destaca, 
 
[...] o doente do mal de Hansen [...] não é apenas o portador de 
uma enfermidade grave, [...] mas, sobretudo, agente involuntário 
do pavor, que o afasta da sociedade chamada sadia. Ele caminha 
só, por estradas marginais e sombrias, e é precisamente essa 
condição de pária que o torna infeliz mais do que os próprios 
sofrimentos ocasionados pela moléstia [...] (MARTINS, 1984, p.31). 
 
O embaraço descrito pelo autor certamente era bem maior do 
que ele pode ou desejou descrever na sua escrita. Antônio M. Martins 
escreve sua obra contando-nos a trajetória após o diagnóstico da 
lepra e sua internação no Hospital dos Lázaros no Rio de Janeiro. A 
narrativa de Antônio deixa-nos com a sensação de um esforço do 
autor para amenizar as situações constrangedoras que certamente 
enfrentou por conta estigma da doença. Também observamos que o 
autor evita demonstrar as influências de possíveis ações arbitrárias 
por parte dos órgãos que cuidavam da profilaxia da lepra sobre sua 
trajetória. A leitura sobre a primeira internação, que segundo o