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82 apresenta, ao mesmo tempo, objeto a no discurso do mestre como como mais-de-gozar e como causa de desejo. O significante é o que introduz no mundo o Um, e é suficiente que haja o Um para que tudo comece, para que S1 comande o S2, quer dizer, que ao significante que vem depois, depois que o Um funciona, ele obedece. O que é maravilhoso é que para obedecer é preciso que ele saiba algo. O que é próprio do escravo, como se exprimia Hegel, é saber algo. Se ele não soubesse nada, nem valeria a pena comandá- lo [...] (LACAN, 1984, p. 47). Enquanto produção, o mais-de-gozar (a) encontra uma barreira para satisfazer a verdade do sujeito ($) que, somente através da fantasia, como um desejo primitivo de encontro com o objeto perdido, torna possível alguma recuperação do gozo. Ou seja, é pelo fato de que há perda, de que há resto que um sujeito pode sustentar seu desejo, em face do Outro, pela elaboração da fantasia. Porém, a fantasia ($ <> a), ao se situar sob a barra, submetida à ação do recalque, irá estabelecer uma compulsão à repetição, inacessível ao eu, que Lacan (1969-1970/1992) chama de feroz ignorância: uma escravidão para fazer o Outro (senhor) gozar. No discurso do mestre, o dominante é a lei que inscreve o vivente na linguagem. O significante- mestre, imperativo do S1, ordena submeter-se à lei da linguagem. Diante dessa impossibilidade, algo fica fora da lei, o que não impede que seu discurso seja o laço civilizador fundante, que exige renúncia pulsional e que retorna em forma de imperativo de gozo do supereu. O discurso do mestre é o laço civilizador que exige a renuncia pulsional, promovendo rechaço do gozo que retorna sob a forma de supereu, do qual o sentimento de culpa do sujeito é o índice que se manifesta através do olhar que vigia e da voz que critica. O discurso do mestre produz os dejetos da civilização – o que escapa à simbolização – sob a forma de mais-de-gozar (QUINET, 2001, s/p.). 2.1.2. O discurso do universitário No giro anti-horário de um quarto de volta do discurso do mestre para o discurso universitário, temos a passagem do saber-fazer ao saber teórico. A verdade do comando do significante mestre como acionamento do trabalho inconsciente é recalcada, estando o objeto a colocado no lugar do Outro. O saber (S2), como conhecimento organizado e acumulado, ao ser sustentado pelo significante mestre (S1), indica que os índices de confiabilidade de seus autores assumem o poder de mando. O saber se faz agente para o controle do objeto, enquanto que o significante-mestre, ocupando o lugar da verdade, encontra-se em uma disjunção estrutural com o sujeito no lugar da produção.