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80 saber não-sabido; é o meio de gozo para construir o gozo do Outro. O $ é o significante que representa o sujeito do inconsciente, sujeito marcado pela linguagem e pela impossibilidade de completude. É um sujeito que emerge na articulação entre dois significantes (S1 → S2), portanto, resposta do real. A letra a representa o objeto a, mais-de-gozar, condensador de gozo e causa-do- desejo. O objeto a marca o furo que existe na estrutura da linguagem, constituindo a possibilidade da existência do desejo. É o representante da pulsão nas discursividades e aquele que provoca o mal-estar presente nas relações: é a voz do supereu. A barra cumpre a função de ser o sinal que estabelece a resistência à significação, ou seja, a operação do recalcamento. A estrutura de cada discurso exige uma impotência, relacionada pela barreira do gozo. Aquilo que o discurso produz é impotente em mostrar a verdade deste mesmo discurso, pois não há relação entre a produção e a verdade. A busca de um saber, pretenso, se constituir como uma totalidade fechada; este é um ponto frisado por Lacan ao longo do Seminário 17, com o objetivo de trabalhar o saber inconsciente. Em Radiofonia, Lacan (1970/2003, p. 435) afirma que o “inconsciente nada tem a ver senão com a dinâmica que precipita a passagem brusca de um desses discursos para outro”. A instância dinâmica do inconsciente continua Lacan, “consiste em provocar a báscula com que um discurso vira outro, por defasagem do lugar onde se produz o efeito de significante” (ibid.). A dinâmica que precipita a passagem de um discurso ao outro não é histórica, nos esclarece Milner (1996), mas se relaciona ao funcionamento do inconsciente como corte, corte não sucessivo e não cronológico, articulado ao inconsciente e ao discurso analítico, corte esse em estreita relação com um resto impossível de simbolizar. Cito Lacan: O que, em nenhum caso, é para ser tomado como uma série de emergências históricas – que um tenha aparecido muito tempo depois dos outros, não é o que importa aqui. Muito bem, eu diria agora que desse discurso psicanalítico há sempre alguma emergência a cada passagem de um discurso a outro (LACAN, 1972-1973/1985, p. 26). FIGURA 2 - Matema dos discursos