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88 Estudos Estratégicos Capital empreendedor 6. O CAPITAL EMPREENDEDOR NO BRASIL 6.1 A evolução do private equity e do venture capital no Brasil Ribeiro (2005) apresenta um panorama detalhado da indústria brasileira de private equity e venture capital referente ao período compreendido entre 1999 e 2004 – não contemplando, portanto, a substancial expansão do setor ocorrida no Brasil a partir de 2005. Àquela época, o autor apontava que nosso mercado de private equity e de venture capital era extremamente reduzido em relação ao observado nos países que contavam com elevada disponibilidade dessa modalidade de capital: Comparativamente ao tamanho da economia brasileira, a indústria de PE/ VC [private equity/venture capital] ainda é pequena. Nos países com ele- vada disponibilidade de PE/VC, o montante investido anualmente equivale a 1% do PIB (OCDE, 2002). No Brasil, o investimento médio realizado no período de 1999 a 2004 foi de apenas 0,06% do PIB. Apesar disso, o setor tem perspectivas de crescimento. O fato de que 90% dos gestores pesquisa- dos pretendem continuar investindo em PE/VC no Brasil revela a existên- cia de condições necessárias para que a atividade possa ser desenvolvida. (RIBEIRO, 2005, p. 11) A título de comparação, o autor também apresentou números referentes a outros países em relação à mesma época. Enquanto em 2004 o capital investido28 no Brasil foi de apenas 0,4‰ do PIB29, esse número, no Reino Unido, foi de 11,1‰ do PIB naquele ano (o que é mais de 27 vezes superior ao índice brasileiro). Essa fração em relação ao PIB levantada apenas em 2004 no Reino Unido é superior a todo o estoque acumulado de capital sob gestão no Brasil (capital comprometido), que alcançou apenas 8,4‰ do PIB. Alguns números investidos em private equity em 2004 em outros países são: Canadá (6,8‰), Suécia (5,8‰), África do Sul (5,7‰), Hong Kong (5,5‰), Austrália (4,3‰, o que é cerca de dez vezes o índice observado no Brasil). Apesar dos números brasileiros terem sido muito modestos em relação ao observado no exterior, chama atenção a menção do autor quanto à opinião reinante na indústria segundo a qual não haveria escassez de capital, mas sim falta de bons projetos e de 28 O volume acumulado de capital sob gestão é denominado “capital comprometido”, e o montante cap- tado junto aos investidores em determinado ano é denominado “capital levantado”. A parcela de fato investida denomina-se “capital investido”, e a saída ocorrida em determinado ano é denominada “capital desinvestido”. 29 A proporção em relação ao PIB é apresentada em valores a cada mil unidades (‰), de maneira que 1‰ corresponde a 0,1%. 89 empresas a serem financiadas, que seria evidenciada pelo comportamento pouco coo- perativo das organizações gestoras, característica que não seria usual no exterior: Na Europa, quase metade dos investimentos são feitos de forma sindicaliza- da (BOTTAZZI et al, 2004) e mais de dois terços das organizações gestoras já participaram de coinvestimentos. A comparação sugere que as organiza- ções atuantes no Brasil cooperam pouco entre si. Este resultado é surpreen- dente quando se observa a forte concentração regional do setor e a existência de uma associação de classe bastante representativa. O comportamento pouco cooperativo pode ser explicado por diversos fatores. O mais convincente é o nível de competição na identificação de bons pro- jetos de investimento. Segundo a opinião reinante na indústria: “Não falta capital, faltam boas empresas e bons projetos que possam ser financiados por PE/VC”. Em uma indústria de PE/VC nascente, como a brasileira, gestores que obtêm bons resultados conseguem aumentar a reputação (track record). Segundo Gompers e Lerner (1998), reputação é o fator fundamental na atração de capital para investimento futuro (RIBEIRO, 2005, p. 11). O autor também apontou que, já em 2004, o Brasil apresentava muitas das condições necessárias para a expansão do setor de private equity e venture capital, revelada pelo fato de que 90% dos gestores pesquisados pretendiam continuar realizando essa mo- dalidade de investimentos no Brasil. Dentre essas condições, Ribeiro (2005, p. 99-100) destacava as seguintes: • importante número de saídas realizadas por meio do mercado acionário (IPOs) no biênio 2004-2005, uma vez que a possibilidade de saída pelo mercado acionário encoraja novos investimentos; • participação crescente de fundos de previdência privada em private equity e venture capital. A opinião do autor é a de que experiências bem-sucedidas nesse sentido contribuiriam para uma tendência na qual os gestores de fundos de pensão passam a utilizar esses ativos como instrumentos de diversificação de carteiras; • regulamentação de fundos de pensão não impediria investimentos de uma parcela de seus recursos em private equity e venture capital, que passam a ser uma alter- nativa relevante especialmente em um ambiente de taxas de juro mais reduzidas; • regulamentação nacional de veículos de investimento em private equity e venture capital atual e que confere segurança para que investidores institucionais e pessoas físicas possam investir;