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65405-465889Ebook_Nascer_Melhor_2_-_Vol_1_-_Gestacao

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Congresso Online de Nascimento Natural e Humanizado
(volume 1) Gestação
E-BOOK
Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com
 
 
 
 
II
Mensagem do Editor
Informação verdadeira e de fontes confiáveis é um tesouro que pode mudar e 
salvar vidas.
Neste e-book, você vai ter acesso às mais atuais informações sobre o universo 
da humanização do nascimento, resultado de entrevistas completas com os mais 
estudiosos e competentes profissionais/especialistas da área no Brasil e no 
mundo.
Este livro digital, em seus quatro volumes, transcritos das palestras do Nascer 
Melhor 2 (Congresso Online de Nascimento Natural e Humanizado), é um material 
imprescindível se você é profissional da área ou uma gestante em busca do seu 
parto humanizado.
No Volume I - Gestação, você vai ler sobre a importância do início da vida, os 
fundamentos do parto humanizado, o papel da doula, exercícios de preparação 
para o parto e também sobre espiritualidade no parto.
No Volume II - Parto I, você vai ler sobre o parto fisiológico, a segurança no 
parto, os mitos do parto, violência obstétrica e sobre parto domiciliar.
No Volume III - Parto II, você vai ler sobre o parto normal após cesárea, dor 
no parto, a importância do apoio emocional, a sexualidade no parto e sobre a 
experiência de parir.
No Volume IV - Pós-parto, você vai ler sobre a recepção humanizada ao bebê, 
a importância do pai e as transformações no casamento nesse momento lindo e 
ao mesmo tempo delicado.
Você está preparada? Então, confira o índice, escolha a palestra para ler e inicie 
agora mesmo essa grande jornada! Que seja uma maravilhosa experiência!
Afetuoso abraço,
Otavio e equipe Nascer MelhorOtavio e equipe Nascer Melhor
Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com
Índice
(Volume 1 - Gestação)
A Importância do Início da Vida..................................4
(Carla Machado)
Parto Humanizado x Violência Obstétrica.................17
(Ricardo Jones)
A Importância da Doula na Gestação e no Parto........30
(Erica de Paula)
Exercícios de Preparação para o Parto....................44
(Fadynha)
A Espiritualidade na Gestação e no Parto...............60
(Laura Uplinger)
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A Importância do Início da Vida - Pág. 4
Carla Machado
A Importância do
Início da Vida
...
Otávio - Estamos aqui com uma pessoa fantástica! Para quem 
não conhece ainda, é a Carla Machado. Ela é presidente da ANEP 
e vice-presidente da OMAEP. A Carla é astróloga e terapeuta. E 
faz um trabalho maravilhoso pelo Brasil e no exterior também.
 Carla, muito obrigado por estar aqui com a gente, compartilhando 
um pouquinho dos seus conhecimentos e do seu tempo. Eu 
queria que você explicasse: Por que essas instituições de que 
você faz parte são importantes em todo esse movimento da 
humanização de que a gente vem falando? Elas são importantes 
para a conscientização também? Das pessoas, das mulheres, 
das famílias como um todo? 
 Fala um pouquinho pra gente, Carla, o que é a ANEP. O que 
é a OMAEP? E assim, brevemente, como é a atuação dessas 
instituições?
Presidente da ANEP Brasil - Associação Nacional para Educação Pré-
natal no Brasil, uma entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é promover 
a educação pré-natal natural; é também Vice-presidente da OMAEP - 
Organização Mundial das Associações para Educação Pré-natal. Atua 
também como terapeuta e astróloga.
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A Importância do Início da Vida - Pág. 5Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Trazer essa consciência é o intuito principal da ANEP. Como 
disse, o Brasil é um dos 24 países que têm uma ANEP. E essas 24 
associações são reguladas pela OMAEP, Organização Mundial 
das Associações para Educação Pré-Natal, da qual em 2015 
eu tive a honra de me tornar vice-presidente. Acredito que fui 
escolhida para esse cargo em função do que nós temos realizado 
aqui no Brasil. Claro que poder levar a nossa experiência para o 
mundo é muito bacana, muito gratificante, mas o mais importante 
é o que fazemos localmente.
Otávio - Maravilha, Carla. Puxa, que ótimo saber desse trabalho 
maravilhoso que a ANEP vem fazendo aqui no Brasil. Muito legal. 
Como você explicaria a psicologia pré-natal de uma forma fácil, 
para que as pessoas possam compreender? De que forma ela 
contribui para a pessoa? E fala sobre como o seu trabalho aborda 
essas questões do medo, da insegurança, dos obstáculos que 
muitas vezes as gestantes enfrentam para poder realizar esse 
sonho de ter um parto normal, um parto humanizado. 
Carla - AA principal questão da psicologia pré-natal é a noção 
de que existe uma forma de consciência desde o iniciozinho da 
vida. Recentemente, tivemos um módulo com a Marcy Axness, 
em que ela deu uma meditação lindíssima, baseada num texto 
do Thomas Verny, autor do livro clássico de psicologia pré-
Carla - ANEP é Associação Nacional para Educação Pré-Natal. 
Existem 24 ANEPs no mundo inteiro, e a do Brasil foi fundada 
em 2010 num congresso da ReHuNa em Brasília. De lá para 
cá, o que viemos fomentando é justamente a importância da 
educação pré-natal. 
 Nas escolas, aprende-se muito sobre matemática, geografia 
e português. Essas matérias são importantes, mas há muito 
pouco ou quase nada acerca de como ser pai e como ser mãe. 
Os jovens vão para a vida meio crus. Como não há nenhum 
tipo de educação nessa área, queremos fomentar esse tema e a 
sua importância, acabando com a ideia de que educação sexual 
na escola serve apenas para aprender como evitar gravidez 
indesejada e DSTs.
Queremos trazer a questão do amor, da relação, da comunhão 
entre um homem e uma mulher, e desejamos que essa informação 
chegue o quanto antes para os jovens, se possível antes deles 
começarem a namorar. Assim evitaremos inúmeros problemas 
e surpresas tristes, ajudaremos a criar um “espaço” para que os 
novos seres humanos por vir sejam gestados por uma mãe cujo 
companheiro fique “gravido” dos dois: grávido da mãe grávida. 
E para que a sociedade também abrace esse pai e essa mãe. 
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A Importância do Início da Vida - Pág. 6Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
algo consciente, mas ainda não existe nenhuma neurologia, o 
que em nós é consciente?
A morte, a vida, o não manifesto 
e o manifesto se tocam. E tudo o 
que acontece com esse ser fica 
registrado: discussões que ele 
possa ter ouvido, fome, situações 
de miséria, de violência ou de 
alegria intensa, de esperança...
Eu já tive relatos de pacientes que ao retornar para dentro do 
útero, durante uma sessão de terapia, lembraram de um carro 
que a família teve, mas só durante o período da gestação. Esse 
carro não apareceu em foto e ninguém falou dele. “Mãe, aquele 
fusca azul que a gente tinha”; “Que fusca azul? Não tinha nenhum 
fusca azul!” e aí o pai lembra que tinha havido sim. 
Existe uma memória, uma consciência desses nossos 
primórdios. E isso por um lado é maravilhoso, mas por outro 
pode incomodar bastante.
Se depois que a criança nasce a mãe já sente culpa, já se 
sente responsável por tudo, imagina quando ela se depara com 
natal: “A Vida Secreta da Criança Antes de Nascer”. Foi uma 
vivência sobre o momento da concepção e depois do momento 
da implantação. Muitas pessoas ficaram impressionadas com o 
fato de termos memória desse momento. 
 Freud pensava que a criança só tinha memória a partir do 
terceiro ano de vida, devido à aquisição da linguagem. Antes 
não. Agora, se sabe que temos registros de memória até intra-
utero. Essa noção levou a psicologia para dentro do útero, onde 
já existe uma consciência, uma forma de consciência.
 E se a primeira célula, a que dá origem a todas as outras, tem 
memória, essa memória é ainda mais forte nesse iniciozinhode 
vida. Marcy nos falou da memória da hora em que o óvulo salta 
do ovário para a trompa como sendo uma possível elucidação 
do fenômeno em que a pessoa acorda de repente, assustada 
com aquela sensação de estar caindo. Poderia ser a sensação 
de queda, que tivemos um dia enquanto óvulo.
 Para muitas pessoas, a noção de que existe uma consciência 
desde essa época é meio bizarra. Porém, o que acontece nessa 
fase deixa marcas. De alguma forma, mesmo ainda não formado 
fisicamente, o ser já “habita” ali e tudo o que ele vivencia o marca. 
Estamos tocando na esfera da espiritualidade, porque se existe 
“Já existe uma forma 
de consciência desde 
o iniciozinho da vida”
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A Importância do Início da Vida - Pág. 7Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
mãe só ligava para minha irmã, que já estava do lado de fora e 
estava dando muito trabalho.
É como se eu não existisse, e hoje em dia sinto como se eu 
não existisse para o mundo.” Claro que não é todo segundo 
filho que vive isso, estou dando uns exemplos para reforçar a 
noção de que existe uma consciência pré-natal e que a criança 
no ventre materno é um ser que se relaciona e percebe tudo o 
que está acontecendo ao seu redor. 
Otavio, você já deve ter entrevistado alguém sobre a epigenética, 
certo? O termo epigenética significa: “acima da genética”. A 
genética é transmitida pela linhagem familiar, os pais, os avós, 
etc., mas acima dessa genética está toda a influência do meio 
ambiente.
Penso que um dos casos mais clássico de epigenética que 
encontramos na natureza é o das abelhas de uma mesma 
colmeia. Todas nascem com a mesma carga genética, mas uma 
é alimentada com geleia real e, mais tarde, se torna a abelha-
rainha!
Ela se desenvolve de maneira totalmente diferente e cresce 
muito mais do que as outras, só por causa da nutrição que 
a informação de que a vida intrauterina nos marca para sempre, 
que a natureza deu para a mulher um poder sobre o psiquismo 
de cada filho. Não apenas sobre o psiquismo, um poder até 
maior. Um poder total.
Às vezes quando falo isso algumas mulheres dizem: “Mas é um 
peso, eu não quero todo esse poder. Se alguma coisa der errado, 
a culpa vai ser minha! Então, não quero essa responsabilidade.” E 
eu digo: “Mas não sou eu que estou dando essa responsabilidade 
para você, é a natureza! Só estou deixando claro uma coisa 
óbvia: queira ou não, a criança participa da vida da mãe. Se 
a mãe fuma... tive pacientes que reviveram essa experiência 
intra-utero e sentiram a intoxicação do cigarro. Uma pessoa que 
acompanho percebeu que a mãe nem se dava conta de que ela 
estava bem ali, em seu ventre – era como se ela não existisse! 
 
Um bebê prematuro, nascido de 20 ou 24 meses de gestação 
é um ser com o qual podemos nos comunicar, certo? Pois do 
lado de dentro ele também é um ser receptivo. Se a mãe se 
comunica com o seu bebê prematuro, por que não com o seu 
bebê ainda do lado de dentro? Só porque há algo que o cobre?
E essa sensação de descaso é muitas vezes entendida pelo 
bebê como uma negligência, como um abandono. “Não, minha 
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A Importância do Início da Vida - Pág. 8Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
é também importante que ela possa se alimentar bem, e de 
preferência com alimentos provenientes de uma agricultura 
orgânica. Tudo a fim de que um início de qualidade se propague 
depois para o resto da vida de cada um de seus filhos.
Estive recentemente em São Francisco, num congresso da 
APPPAH (Association for Prenatal & Perinatal Psychology and 
Health), a Associação para a Psicologia Pré-natal & Perinatal e 
Saúde, uma associação norte-americana fundada em 1983 pelo 
psiquiatra Thomas Verny e o psicólogo David Chamberlain. Lá 
se comentou que investir nos três primeiros anos de vida, dá 
um retorno de 1 para 7, mas que investir no período gestacional 
traz um retorno de 1 para 14!
O que se economiza de médico, psicólogo, fonoaudiólogo, fora 
o que se economiza em advogados, sistema judiciário, sistema 
penitenciário... uma gigante economia. Em 1998, duas sociólogas 
escreveram um livro chamado “Ghosts from the Nursery” 
(Fantasmas do Berçário), que faz um apanhado de entrevistas 
feitas num presídio de Seattle, para saber da primeira infância 
– incluindo o período pré-natal – de jovens prisioneiros que 
haviam cometido crimes sérios. Elas encontraram uma forte 
correlação entre uma primeira infância exposta a inúmeros 
traumas e a criminalidade no final da adolescência.
recebeu. É o que chamamos de fenótipo: o resultado da interação 
do gene com o meio. No ser humano essa interação se faz 
segundo a nutrição que ele recebe durante seu desenvolvimento 
pré-natal, não apenas nutrição física, mas nutrição emocional, 
psíquica, a qualidade da relação, tudo isso o nutre e contribui 
na sua formação. 
Então, o poder da gestante é total: ela tem o poder de silenciar 
os genes de doenças, se estiver num belo ambiente e em contato 
com a natureza, rodeada de beleza, se ela não estiver carregando 
tudo nas costas, preocupada em sustentar a família, como tanto 
se vê no Brasil... Por trás da frase “gravidez não é doença”, existe 
toda a sorte de desrespeito com as mulheres, com as gestantes. 
Porque, como não é doença, é como se não fosse um estado 
especial. Mas é um estado muito especial, extraordinário: ela 
está gestando um futuro ser humano, um futuro planeta! 
Nós, sociedade, devemos abraçar essa família, para que esse 
pai abrace essa mãe e para que essa mãe abrace essa criança. 
Como círculos concêntricos.
Temos que nos conscientizarmos do nosso papel e oferecer 
mais lugares bonitos para a mulher gestar, fazer com que ela 
disponha de mais tempo, de mais qualidade de tempo. Claro, 
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A Importância do Início da Vida - Pág. 9Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
comentou comigo que a educação pré-natal também considera 
a pré-concepção. Falamos de várias assuntos relativos à 
gestação, mas quais são as características da psicologia da 
pré-concepção?
Carla - Legal você me perguntar isso, Otávio, porque esse é o 
maior trabalho da ANEP. Vemos bastante informação na internet 
sobre a importância de um parto humanizado, uma gestação 
com yoga, meditação, tem coisas lindas acontecendo por aí a 
esse respeito.
 Porém muito pouco se ouve sobre concepção consciente. 
Se você consultar textos sagrados, como os Vedas, encontrará 
dados e preceitos – até mesmo astrologia – sobre qual seria 
o melhor momento para conceber um novo ser. No hinduísmo, 
existe um sexo para prazer e um sexo para reprodução.
Não vou saber falar disso em detalhes, mas sei que são 
diferentes, que se, por exemplo, o casal estiver embriagado 
é prejudicial, se estiver tenso... Muita gente exclama: “Mas eu 
nem sei como foi...”, e começa o mea culpa. 
O objetivo não é esse, porque o que já passou, passou, cada 
um fez o melhor que podia com a informação que tinha. Mas 
O subtítulo do livro é “Tracing the Roots of Violence” (Traçando 
as Raízes da Violência). O sueco Bertil Jacobson, pesquisador 
do prestigioso Instituto Karolinska, descobriu correlações 
significantes entre a forma como um adolescente se suicida e 
a maneira como nasceu... 
Na idade adulta, tanto a violência contra si-próprio como a 
violência conta o outro está totalmente conectada à violência 
sofrida no início da vida!
E se fossemos um pouquinho 
mais inteligentes, lograríamos 
um imenso retorno: em vez de 
investir em armamento e guerra, 
começaríamos a investir no bem 
estar físico, emocional, mental e 
espiritual da gestante. 
Otávio - Nossa, que legal saber de tudo isso! Se trata de uma 
grande mudança de perspectiva para com a gestante.
Ela tem que ser uma das pessoas mais importantes da 
sociedade porque vai gerar um novo ser social para esse mundo. 
Muitolegal tomar consciência desses aspectos tão sutis. E você 
O retorno do 
investimento no 
período pré-parto, 
período gestacional, é 
de 1 para 14.
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A Importância do Início da Vida - Pág. 10Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
desenvolveu a luz elétrica, várias tecnologias maravilhosas, que 
eu aproveito bem – estamos fazendo essa entrevista à distância, 
e sem tecnologia ela não aconteceria.
Só que isso não pode ser em detrimento da perda das qualidades 
instintivas, das qualidades de percepção do corpo, de honrar a 
mãe Matéria da qual todos viemos e à qual pertencemos. Nossos 
frutos são colhidos da terra.
Um bebê não vem do mundo virtual, pelo menos não por 
enquanto, e acredito que ainda vá demorar muito. Um bebê de 
verdade precisa ser gestado, ainda não deu para reproduzir o 
útero em laboratório.
Otávio - Carla, me veio essa pergunta: Então, o estado 
emocional e mental dos pais na hora da concepção influencia 
esse ser definitivamente? 
Carla - Influencia, é como um fractal. Conhece o fractal? Uma 
couve-flor é um fractal. Cada um de seus ramos é uma pequena 
couve-flor e cada raminho “pequetitico” desse ramo também 
tem a forma uma couve-flor.
A concepção representa o primeiro fractal. Bom, você conhece 
como queremos trazer informação pra quem ainda vai conceber, 
é bom que eles possam saber. Muitos dizem “eu não fiz assim 
porque não sabia”, e é importante se preparar conscientemente 
para conceber um filho.
Na formação da ANEP, o primeiro módulo é sobre a importância 
dos ciclos femininos da menstruação, do sangue. Vivemos em 
uma sociedade que cada vez mais suprime isso: enchem a mulher 
de hormônios para que ela não menstrue – afinal de contas, “A 
vida tem que acontecer!” – ela vai perdendo a conexão com 
seus ciclos e depois tem dificuldade para engravidar... Inúmeros 
problemas de infertilidade têm origem numa desconexão com 
os ciclos inerentes ao corpo.
 Na menina, o processo de empoderamento começa ao 
perceber o corpo, perceber quando está ovulando, considerar 
a menstruação como algo belo, consagrá-la a, oferta-la à terra, 
por exemplo em algum ritual de menarca, como muitos povos 
indígenas.
Ela vai percebendo que seu ciclo é menstrual, mensual, 
mensal. Percebe também que o mês está ligado à lua cujo ciclo 
tem 28 dias, e vai compreendendo, sentindo que faz parte de 
um organismo cósmico, que não está isolada. Nossa civilização 
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A Importância do Início da Vida - Pág. 11Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
É verdade que tudo dá para 
“consertar”. Se a concepção não 
foi ideal, durante a gestação você 
pode se comunicar com essa 
criança. Alguns genes serão 
ativados e outros mascarados em 
função da sua atmosfera interna. 
Se o ambiente está bom e eu tenho que “fabricar” o fígado – 
beleza! – o fígado vai ficar “bonzão”, vai ficar tinindo. Mas se 
eu tenho 10 dias para formar o fígado e durante 9 dias a briga 
está solta, no último dia vou fazer o possível para compensar o 
ambiente negativo dos dias anteriores...
Dá para consertar, sim, até um certo ponto. E depois tem 
terapias, mas não deixa de ser um conserto. 
É desejável gestar desde o início com consciência. Sei que 
essas informações são um pouco difíceis, mas temos que 
começar a falar disso, mesmo que alguns comecem a entrar 
na culpa e digam “Eu devia ter feito isso”, “Eu devia ter feito 
aquilo”. Eu também fiz um monte de bobagem. Tenho dois filhos 
e há uma porção de coisas que eu faria diferente hoje com as 
informações que eu tenho.
a importância do nascimento e vem trabalhando há mais de ano 
no Nascer Melhor, porque sabe o quanto os inícios têm força 
e deixam marcas para toda a vida. E qual é o início do parto? 
A concepção. O parto só pode existir porque antes houve a 
concepção. A gestação toda só existe por conta da concepção. 
Conceber seria como lançar uma pedrinha no lago: ao entrar 
na água ela causa a formação de ondas concêntricas. Essa 
analogia dá uma ideia da força do processo: enquanto você 
tem a pedra na mão, é possível escolher para que lado jogar, a 
direção, o ângulo, a força... tudo isso está na sua mão. Depois 
de ter jogado, você ainda pode atuar, mas bem menos. 
Conceber num clima de harmonia e com muito amor é diferente 
de conceber logo após uma briga, uma bebedeira, se o sexo for 
de reconciliação, ou só feito de desejo. Às vezes dois irmãos de 
uma mesma família não se parecem em nada... “Vamos conceber 
um filho”, “Estamos abertos para acolher um filho”, “Vamos parar 
com a pílula”, “Vamos parar com o método anticoncepcional 
para poder engravidar”. A criança que chega é mais calma. 
Claro, a outra também terá qualidades, não vai ser uma pessoa 
sem valor, não é isso. Mas pode dar mais trabalho, demandar 
mais, ser menos receptiva à alegria e ao outro. 
Se a concepção não 
foi ideal, durante a 
gestação você pode
se comunicar com
essa criança.
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A Importância do Início da Vida - Pág. 12Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
com a respiração holotrópica, criação do Stanislav Grof, que 
muito contribuiu para os congressos da APPPAH.
Tem também o Rebirthing do Leonard Orr, a Anatheóresis 
do Joaquín Grau e suas técnicas de indução a estados mais 
profundos de consciência, o Thetahealing, da Vianna Stibal, a 
Constelação Familiar do Bert Hellinger, e outras terapias mais 
convencionais. Utilizo bastante os Florais, eles são muito úteis 
para esse trabalho interno no qual talvez o mais importante 
seja a disposição. Disposição para olhar dentro de si e explorar 
suas próprias questões.
 Nem tudo é trauma, nem tudo é dor, há também luz e alegrias 
que às vezes precisamos resgatar a fim de alimentar, nutrir 
com mais amor nossa vida interior, o bebê no ventre, família e 
sociedade. O objetivo principal do trabalho informacional das 
ANEPs é contribuir para que o amor e a sabedoria possam fluir 
e realmente permear, alimentar esses novos serezinhos que 
estão chegando ao nosso planeta. 
Otávio - Uma vez eu li algo lindo que falava mais ou menos 
isso: “Tudo é por amor, pelo amor e para o amor. Por amor, 
através do amor e em direção ao amor.” Tem muita a ver com o 
que você está trazendo...
O processo educacional também é importante, ele retroalimenta 
o passado e influencia o futuro. É um processo quântico, a vida 
é quântica. O objetivo da educação pré-natal é ter consciência 
da relevância do período pré-natal desde antes da concepção, 
e abraçar o sagrado da vida desde o início.
Porque a vida é sagrada. Qualquer vida, de qualquer ser 
humano.
Otávio - Maravilha. Eu fiquei 
pensando aqui, Carla, se você 
teria alguma dica.
Porque parece evidente a 
importância desse processo de 
trabalho interno das pessoas, 
tanto das mulheres quanto dos 
homens. Você tem alguma dica, 
que tipo de coisas que seriam 
legais, importantes para que as pessoas façam esse trabalho 
interno até antes mesmo da concepção? 
Carla - Estou montando um trabalho sobre isso com uma amiga 
terapeuta. Há varias técnicas. Por exemplo, eu já trabalhei muito 
 O objetivo da 
educação pré-natal 
é que a gente tenha 
essa consciência 
desde antes da 
concepção, para que 
a vida possa ser 
considerada sagrada 
desde o seu início
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A Importância do Início da Vida - Pág. 13Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Até o nascimento do pai influencia. Mas se ela conseguiu liberar 
medos, dogmas e padrões, seu parto transcorre de forma natural, 
com o mínimo de intervenção. Ela tende a procurar um lugar 
mais escuro, mais privado, para dar à luz. Com o mínimo de 
interferência possível. Um lugar onde ela se sente dona. 
Não debaixo do telhado de uma instituição onde ela não tem 
nenhuma capacidade de comandar.Ela tem tendência a escolher 
o lugar onde vai estar no comando, onde ela se sente poderosa. 
E esse parto geralmente é em casa mesmo, domiciliar. Estudos 
comprovam que partos domiciliares demoram a metade do tempo 
que um parto hospitalar. 
 Eu tive a minha primeira filha em uma casa de parto, e foram 
quatro horas e meia de trabalho de parto. Seis anos depois, meu 
filho nasceu em casa e foram duas horas e quinze. Quer dizer, 
eu faço parte da estatística de que o parto domiciliar é realmente 
mais rápido, tem menos interferência e menos gente... Em casa 
estamos no nosso espaço.
Nesse congresso da APPPAH, foi falada uma coisa importante 
por uma educadora: deveríamos parar de falar da gestação como 
durando nove meses, e falar da gestação de dez meses. Porque 
dez meses são 40 semanas, cada mês com quatro semanas, e 
Deixa eu te fazer mais uma pergunta. O que diz a educação pré-
natal sobre a importância do parto? Que fatores são importantes 
para que essa gestante tome consciência durante o trabalho de 
parto?
Carla - Idealmente, a mulher já vem construindo esse processo 
do parto, antes mesmo de gestar: a partir da menarca, ela começa 
a prestar atenção no próprio corpo, começa a perceber seus 
sinais e sua linguagem, sabe o que é a menstruação, sabe o 
que é uma cólica menstrual, sabe o que fazer para aliviar dores 
e desconforto.
Depois essa jovem encontra o parceiro, eles têm uma concepção 
planejada, consciente se possível. Uma gestação sempre vai 
ter seus altos e baixos, mas que ela seja vivida pelo casal da 
forma mais “acordada” possível, que a mãe busque ter uma boa 
alimentação e que essa criança seja esperada com alegria. E 
também, que a mãe se sinta apoiada pelos que a rodeiam e que 
ela se sinta inspirada, pois sua imaginação é toda poderosa. 
Assim o parto vai ser tudo de bom, correspondo ao um fractal 
inicial. 
 O nascimento que a mulher viveu quando veio ao mundo 
também influencia o seu parto. Sempre tem alguma influência. 
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A Importância do Início da Vida - Pág. 14Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Vai dizer que a ansiedade não vai afetar esse serzinho ainda 
em desenvolvimento! Então, esse ponto educacional é muito 
interessante: criar uma nova cultura para que a ansiedade não 
venha antes do tempo.
Carla - Eu até lanço um desafio aqui, para quem está assistindo 
a gente. Fazer uma pesquisa com o pessoal de mais de 60 anos: 
quem nasceu de 10 meses. Provavelmente a grande maioria. O que 
antes era normal agora é aberração. A responsabilidade é nossa.
O pessoal do parto humanizado tem que começar a rever esses 
números. A mãe fica ansiosa, quer que o parto aconteça logo 
e quando os filhos chegam na adolescência: “Eles crescem tão 
rápido!”. Corremos a vida inteira. 
Otávio - Carla, falamos sobre a gestação, voltamos e falamos 
um pouquinho sobre a pré- concepção, você deu algumas dicas 
sobre o parto. E como é o pós-parto na visão da ANEP?
Carla - Muito bom falarmos também disso, porque será o tema 
do nosso próximo módulo. Aliás, os módulos da formação da 
ANEP são independentes, quem quiser ir lá no Rio, no Jardim 
Botânico, ou na formação do ano que vem em Belo Horizonte, 
pode se inscrever pelo nosso site www.anepbrasil.org.br 
isso evitaria muitos casos de prematuridade. Hoje em dia, as 
crianças estão nascendo com 36, 38 semanas...
Os médicos dizem que 38 já está bom, já passou da conta, 
“Vamos tirar, vamos abrir.” Precisamos mudar essa cultura! 
Otavio, você que está fazendo cultura com o Nascer Melhor, 
começa a disseminar essa ideia. A gestação dura 40 semanas, 
e 40 semanas não são 9 meses, são 10 meses. Chega na 40 e 
já está todo mundo olhando para o relógio. Temos uma cultura 
de velocidade, de estar sempre correndo e com pressa. O bebê 
não tem pressa.
Meu filho nasceu com 41 semanas e cinco dias, e você precisa 
ver a pressão que eu sofri. Todo mundo ligando preocupado. “A 
criança não nasceu!” e minha parteira na época disse: “Carlinha, 
42 semanas é o prazo careta da OMS. Depois das 42 a gente 
começa a se preocupar”. Até o pessoal da humanização fala 
de nove meses... e acho muito interessante nos começarmos 
a falar de 40 semanas, e assim evitar a prematuridade. É um 
problema muito grave, essa pressa, a cultura da pressa. 
Otávio - De fato, a minha filha nasceu com 42 semanas 
também. E isso ocorre muito. Gera ansiedade. Chega 38 e vem 
a ansiedade...
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A Importância do Início da Vida - Pág. 15Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
que a criança precisa, a causa do choro... E às vezes ela nem 
precisa chorar. 
O Joseph Chilton Pearce escreveu um livro chamado “A 
Criança Mágica”, que fala de uma pesquisa na Uganda, onde é 
comum uma grávida caminhar, parar, dar à luz, pegar o bebê e 
seguir andando. Ele observou mulheres numa fila – talvez para 
receber alguma cesta de alimentação. Todas carregavam seus 
bebês nos slings, sem fralda. E todos os panos limpinhos, não 
tinha um cocô.
Ele ficou curioso e foi perguntar para uma delas: “Como 
você consegue que seu bebê fique sem fralda e com o paninho 
limpinho?” Ela respondeu: “Quando ele tem vontade, eu coloco ele 
na terra, ele faz as necessidades na terra, num lugar apropriado”. 
“Mas como você sabe quando ele está com vontade?” A mulher 
olhou para ele como se ele fosse um E.T.: “Ué, como você sabe 
quando está com vontade?” Tipo assim: “É obvio!”. Esse seria 
um pais muito avançado se aos 4 anos eles não estragassem 
tudo.
Aos 4 anos a criança é totalmente alijada da família e por isso 
a nação não vai para frente. Dá para estragar depois... Quando 
eu li essa parte do livro do Joseph Chilton Pearce, falando sobre 
O momento do pós-parto é o momento em que a família se 
forma. No pós-parto a responsabilidade do pai, o tipo de ajuda 
que ele pode dar, muda: o foco já não é apenas sobre a mãe, e 
ele vai passar a se ocupar junto com ela do bebê.
Antes era só a mãe, o poder era só da mãe. E depois de 10 meses 
no ninho da gestação, há também uma gestação extrauterina. 
Em comparação aos outros mamíferos, o bebê humano nasce 
prematuro, por causa do tamanho da cabeça. A girafinha nasce 
e já sai correndo do leão. O bebê humano nasce e por muitos 
meses é inteiramente dependente de um adulto, e se não for 
cuidado, ele morre. 
Viemos de um ranço educacional segundo o qual a criança tem 
que ser treinada desde o início a ficar sozinha e “o bebê não 
pode chorar, tem que ficar no berço”. No entanto, o bebê que 
mais chora é o que fica no berço. Quem chora muito menos é 
o bebê que fica junto, pelo menos durante os primeiros meses, 
com cama compartilhada, amamentação em livre demanda... 
para favorecer uma boa conexão.
A questão principal ali não é o que vai ser feito. A questão 
principal é o vínculo. É a partir do vínculo que adivinhamos o 
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A Importância do Início da Vida - Pág. 16Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
vezes a gente não se dá conta, dentro desse processo todo de 
conceber, gestar e trazer ao mundo um ser.
Fico muito feliz e grato por você estar participando do Nascer 
Melhor 2, e desejo muito sucesso no trabalho que você realiza, 
tanto na ANEP, quanto na OMAEP. Obrigado e um grande abraço.
as mulheres da Uganda, fiquei muito chocada ao saber que 
para elas, o choro da criança já é um alerta máximo. Quando a 
criança chora é porque o negócio está muito feio. 
Que qualidade de vínculo é possível para o ser humano? Qual 
nosso grau de qualidade de vínculo? O quanto podemos melhorar 
como espécie? Na Uganda, as condições financeiras não são 
as melhores do mundo, sabemos que há muita miséria, muitos 
problemas lá. Mas de alguma maneira, lá eles conseguiram esse 
tipo de vínculo.
E por que não podemos conseguir aqui, num lugar onde há, em 
teoria, muito mais condiçõesmateriais para que isso aconteça? 
Quais as condições psíquicas, quais as condições em termos 
de organização social e de respeito mútuo, que precisamos pra 
que esse vínculo se faça? Acho que essa é uma pergunta para 
todos. Todo mundo tem que fazer seu dever de casa.
Otávio - Que legal, Carla. Então, como você comentou lá no 
início, que seja tudo em prol do amor. Todo o trabalho que você 
vem desenvolvendo é pra isso.
Carla, super feliz de poder conversar contigo. Muito legal ouvir 
você falando sobre todas essas partes mais sutis, de que muitas 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 17
Ricardo Jones
Parto Humanizado x 
Violência Obstétrica
...
Otávio - Estamos aqui com uma pessoa fantástica. Dr. Ricardo 
Jones é obstetra, ginecologista e faz parte da ReHuNa, que é 
a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento. O Ricardo é 
considerado um dos precursores da humanização no Brasil.
Foi ele o obstetra que assistiu o nascimento da minha filha, 
Sophie; que foi uma grande experiência. É justamente por essa 
experiência que participei da construção do congresso Nascer 
Melhor. Então, estou muito feliz em estar conversando contigo, 
Ricardo.
Muito obrigado por estar novamente aqui, participando do 
congresso. É uma grande honra para gente estar te recebendo 
e poder levar essas informações para muitas pessoas. Ricardo, 
existem muitos detalhes, contextos sutis, envolvidos com o 
termo: “parto humanizado”.
Médico obstetra, ginecologista e homeopata. Faz parte do colegiado 
nacional da ReHuNa - Rede pela Humanização do Parto e Nascimento. 
Autor de diversas publicações nacionais e internacionais e dos livros 
“Memórias de um Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra 
Humanista” e “Entre as Orelhas - Histórias de Parto”.
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 18Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
mulheres começaram a questionar a forma muito mecanizada 
e medicalizada com que os bebês eram trazidos ao mundo e a 
forma como elas eram tratadas nos hospitais, sem que tivessem 
direitos para fazer escolhas a respeito da forma como isso ia 
acontecer.
 
A partir de então, no bojo da contracultura, junto com o 
movimento hippie, junto com os elementos culturais da liberação 
sexual, algumas mulheres reuniram-se em vários lugares do 
mundo (na Europa isso se tornou mais rápido e mais intenso) 
e começaram a fazer reinvindicações.
Essas reinvindicações eram de várias naturezas, entre elas, a 
diminuição do uso de drogas, a possibilidade de poder escolher 
a posição mais adequada para o parto, a possibilidade de ter 
seu parto n’água, a utilização mais restrita e mais minuciosa do 
uso de medicações, uma compreensão mais alargada do que 
significava a intervenção do parto e dos riscos que ela produzia 
no nascimento. Isso foi crescendo de uma forma pouco difusa. 
Tinha-se muita certeza das coisas que não se queria, mas não 
se tinha uma visão muito clara do que nós desejávamos para o 
parto humano. Nós tínhamos uma série de rejeições, mas ainda 
não tínhamos focalizado em propostas.
Então, para quem ainda não sabe o que é, que tipo de informações 
é possível trazer para que a pessoa se sinta mais confiante, e 
possivelmente, escolha ter um parto humanizado? Quais são 
os elementos que o parto humanizado traz? 
Ricarso - Bem, primeiramente, queria agradecer mais uma vez 
o convite, por estar aqui nesse congresso virtual. É sempre um 
prazer levar adiante essas ideias da humanização do nascimento, 
que é uma paixão que envolve a tanta gente, em tantas partes 
do mundo.
Certamente, a humanização do nascimento hoje em dia é 
utilizada de uma forma mais banalizada, porque se tornou mais 
recorrente entre as pessoas, a necessidade de produzir algum 
nível de transformação na forma como nós recebemos os bebês. 
Evidentemente, quando existe um movimento muito forte que 
parte da base, isso é, das mulheres, das mães que terão seus 
filhos, acaba-se fazendo confusão sobre o significado real do 
que seja parto humanizado. 
O parto humanizado surgiu das inquietações sobre a forma 
como nós trazíamos os bebês, desde o tempo da contracultura, 
no final dos anos 60 e início dos anos 70. Foi quando algumas 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 19Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
e começaram a fazer reinvindicações.
A partir de então, considerei como sendo parto humanizado, 
aquele que, em primeiro lugar, garante o protagonismo à mulher. 
Portanto, a humanização do nascimento está pareada com os 
movimentos de libertação da mulher, os movimentos feministas, 
a medida que garante à mulher o protagonismo e o direito de 
fazer escolhas a respeito de como e onde seu bebê vai nascer. 
Assim, se não houver o pleno protagonismo da mulher, para 
que ela faça escolhas ou recusas informadas sobre a forma 
como seu bebê vai vir ao mundo não se pode chamar de “parto 
humanizado”.
O segundo elemento fundamental para que se tenha um parto 
humanizado é a existência de “uma visão interdisciplinar” do 
parto, que não se restringe a uma visão meramente médica; ainda 
que a visão médica seja muito importante para entendimento 
dos processos fisiológicos e fisiopatológicos do nascimento. 
Muito mais que isso, o parto é um evento cultural, um evento 
de pessoas. É um evento que não pertence a uma corporação. O 
parto não pode ser entendido da mesma forma que se entende 
a uma cirurgia, como cirurgia de vesícula, de câncer ou um 
No Brasil, especialmente no final dos anos 80, início dos anos 
90, começou um movimento que se chamava “Parto Consciente”, 
liderado por uma doula, surgida no Rio de Janeiro (Fadynha, 
Maria de Lurdes), que convidou profissionais da área da saúde 
de várias partes do Brasil, para integrarem os seus famosos 
congressos anuais, no Rio de Janeiro, de Parto e Nascimento 
Consciente. Nesses encontros, afluíam pessoas de várias áreas: 
Psicoterapeutas, enfermeiras, obstetras, pediatras, educadoras 
perinatais e mães que desejavam saber, afinal, “o que era isso 
que estaria se propondo?”.
Num momento inicial não se tinha clara e exata noção do que 
se queria, mas paulatinamente percebeu-se que que precisava-
se focar em alguns elementos fundamentais e essenciais.
Em meu primeiro livro estabeleci uma normativa ideológica 
para o que seria parto humanizado, estabelecendo um tripé 
conceitual para facilitar o entendimento do conceito de “parto 
humanizado”.
 
A partir de então, no bojo da contracultura, junto com o 
movimento hippie, junto com os elementos culturais da liberação 
sexual, algumas mulheres reuniram-se em vários lugares do 
mundo (na Europa isso se tornou mais rápido e mais intenso) 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 20Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
disso, produziam muito mais malefício do que benefício para 
ambos. 
Portanto, a humanização do 
nascimento pode ser entendida 
por esse tripé simplificado: A 
garantia do protagonismo, a visão 
interdisciplinar e a vinculação com 
a medicina baseada em evidências. 
Se não estiver baseado em 
evidências, o procedimento não 
pode ser considerado humanizado. 
Se não for através de uma 
visão ampla do fenômeno, e não 
apenas um olhar fisiopatológico do evento, não é humanização 
do nascimento. E se a mulher se mantiver calada e sem a 
possibilidade de estabelecer o seu parto da forma com ela 
quer, também não é humanização do nascimento.
Otávio - Qual a diferença entre o parto normal e o parto 
humanizado?
Ricardo - Costuma-se dizer que o parto normal é o parto 
tratamento medicamentoso qualquer. No parto concorrem 
outros elementos psicológicos afetivos, emocionais, espirituais 
e culturais,que fazem com que ele seja muito mais rico que 
simplesmente a extração de um bebê do ventre materno.
 
Em terceiro lugar, mas não menos importante, está a clara 
e umbilical vinculação, da humanização do nascimento, 
com a medicina baseada em evidências. Percebe-se que os 
procedimentos para o atendimento ao recém-nascido e para a 
condução do parto são muito mais mitológicos e culturalmente 
determinados do que baseados em evidências científicas sólidas.
A partir dos meados dos anos 80, quando surgiu esse 
movimento internacional, que é a medicina baseada em 
evidências, a obstetrícia e, evidentemente, o nosso movimento 
de humanização do nascimento, se agarrou a essas novas 
realidades para questionar todas as intervenções utilizadas 
sobre a mulher.
Também para depurar as que poderiam produzir algum 
benefício, para mãe e para o bebê, e aquelas que eram 
meramente ritualísticas, aquelas que não tinham nenhuma 
vantagem, mas que eram repetidas através das décadas, sem 
que houvesse uma sustentação científica adequada. E, além 
No parto concorrem 
outros elementos 
psicológicos 
afetivos, emocionais, 
espirituais e culturais, 
que fazem com que 
ele seja muito mais 
rico que simplesmente 
a extração de um bebê 
do ventre materno.
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 21Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
normal, para ser humanizado, precisa estar muito vinculado 
com aquilo que a ciência comprova todos os dias através de 
estudos multicêntricos realizados no mundo inteiro, com o que 
é benéfico para o binômio mãe e bebê.
Otávio - Quanto à cesariana. Porque às vezes é dito que as 
pessoas que acreditam no parto humanizado, que defendem o 
parto humanizado, são contra a cesariana? O que você diria a 
respeito disso?
Ricardo - Eu diria que é um preconceito antigo e que não tem 
mais sentido ser usado hoje em dia. Na verdade, isso é o que 
se chama de “estratégia dos pequenos espantalhos”. Quando 
não se tem muitos argumentos para justificar a manutenção de 
um paradigma antigo, acusa-se o novo paradigma de ser muito 
radical, o que é equivocado. Desde o princípio, a humanização 
do nascimento se oferece para cultura como uma síntese, e não 
como uma nova tese.
Na verdade, humanização do nascimento é uma síntese entre 
dois paradigmas que se enfrentam: De um lado, o naturalismo, 
ou seja, as ideias de que “não se precisa fazer nada”, de que “a 
natureza ‘dá conta’ de tudo” e de que “não é preciso intervir, deve-
se deixar que os bebês nasçam como a natureza determina”; 
vaginal. É o parto conforme a norma. É o parto da maneira 
como a nossa espécie se adaptou nos últimos milhões de anos, 
desde as espécies que nos antecederam, até mais ou menos 
200.000 anos atrás, com o surgimento da nossa espécie. Isso 
é o parto normal.
O que se percebe é que o parto normal pode ser conduzido 
de forma extremamente anômala, extremamente anormal, com 
uma série de intervenções que podem produzir malefícios a mãe. 
Como exemplo muito clássico tem-se a manobra de Kristeller, 
uma manobra que consiste em fazer a pressão sobre o fundo 
uterino para apressar o nascimento do bebê. É uma manobra que 
pode produzir muito dano para mãe. E é, portanto, condenável 
pela boa prática obstétrica.
Outro exemplo são as episiotomias de rotina, que devem ser 
condenadas quando feitas rotineiramente. Há também uma série 
de outros elementos maléficos, como a troca da roupa da mãe, a 
depilação materna e lavagem intestinal que, quando utilizados, 
desconfiguram esse parto como humanizado. Isto porque são 
procedimentos não são sustentados pelas evidências científicas.
Portanto, um parto humanizado precisa se depurar de 
procedimentos inadequados do parto normal. E um parto 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 22Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
algumas mulheres, diante dessa incapacidade de seu corpo parir 
naturalmente, seriam tragadas por uma morte que poderia ser 
evitada pelo uso de recursos tecnológicos, que se têm hoje em 
dia: principalmente o recurso da cesariana.
Por outro lado, o paradigma tecnocrático desmerece, 
desconsidera todo o preparo fisiológico e todo significado 
psicológico, afetivo e emocional que tem o parto, enquanto evento 
no qual uma mulher ultrapassa suas próprias dificuldades, vence 
os desafios, e inunda o seu bebê com os hormônios adequados 
e adaptativos, que Michel Odent chama de “o coquetel do amor”. 
São eles, principalmente: ocitocina, endorfina e prolactina. 
Desconsidera a possibilidade de oferecer o melhor início para 
essa criança, através da massagem no bebê, exercida pelo canal 
vaginal, o banho de hormônios e o contato íntimo que, neste 
processo, ela terá com esse bebê.
Portanto, não existe nenhum tipo de dificuldade de entender 
que a humanização do nascimento não se contrapõe à utilização 
de tecnologia.
Na verdade, ela faz uma crítica muito dura e muito consistente 
aos abusos e procedimentos que retiram a mulher do processo 
e de um outro lado, um paradigma tecnocrático, que diz que as 
mulheres são essencialmente incompetentes para terem seus 
filhos da forma mais natural e, portanto, a ciência, a tecnologia, 
deve agir sobre esse corpo de forma que a própria tecnologia 
seja quem, na verdade, vai parir esse bebê, e não a mulher.
A humanização do nascimento não se filia a nenhuma dessas 
teses e não se contrapõe a nenhuma delas. Ela se oferece como 
síntese. Porque entende que pode caminhar respeitando os 
milhões de anos de preparo e adaptação da natureza para que 
o parto ocorra da forma como ele ocorre e, ao mesmo tempo, 
respeita a utilização da tecnologia quando ela se faz necessária. 
Portanto, a humanização do nascimento não é contra a cesárea. 
Muito pelo contrário, ela valoriza sobremaneira a capacidade que 
a tecnologia tem de salvaguardar mães e bebês quando eles se 
afastam da rota da fisiologia e se aproximam, perigosamente, 
do caminho da patologia. Nessas circunstâncias as cesarianas 
são bem-vindas. Nessas circunstâncias é necessário utilizar 
tecnologia para ajudar essa mãe a passar por esse desafio que, 
por si só, não seria possível.
O modelo mais naturalista e que rechaça qualquer evento 
tecnológico é muito arriscado também. Na medida em que 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 23Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Ou, então, uma obstetriz. Uma doula, que trabalha com a 
humanização do nascimento, pode compor uma equipe, porque 
entende o propósito do contato psicológico, emocional e desse 
entorno, que é oferecido às grávidas através do trabalho das 
doulas. Então, todos esses profissionais podem trabalhar de 
uma forma humanizada se obedecerem a esses pré-requisitos 
fundamentais.
Existem vários tipos de equipe no mundo inteiro: desde equipe 
de uma pessoa só, como um obstetra trabalhando solitariamente, 
como dito anteriormente, ou uma enfermeira trabalhando 
solitariamente. Existem modelos, como o que inaugurei aqui na 
cidade de Porto Alegre, composto de um obstetra, uma doula 
e uma enfermeira obstetra. Porque isso pode nos oferecer um 
contínuo de atendimento que não sofre jamais dissolução de 
continuidade. A paciente pode começar seu trabalho de parto 
sendo acompanhada pela doula e pela enfermeira obstetra, 
com a avaliação da enfermeira obstetra apenas, do progredir 
do trabalho de parto ainda no domicílio. E quando essa paciente 
se encontra em condições adequadas, ela pode ser transferida 
para um hospital pra evitar a iatrogenia do parto no hospital.
 
Esse é um modelo que utilizamos com sucesso na cidade de 
Porto Alegre, a ponto de ser convidado como sendo um dos 
decisório. Entretanto, a tecnologia sempre será bem-vinda 
e será utilizada por todos aqueles que abraçam a ideia da 
humanizaçãodo nascimento, quando ela for necessária pra dar 
continuidade ao processo que afastava-se do ritmo normal, do 
caminho da normalidade; para dar continuidade ao processo 
que, perigosamente, levaria a mulher a um desfecho ruim.
Otávio - Sobre a equipe, quais são os profissionais que estão 
envolvidos no parto humanizado? E qual o papel e função de 
cada um desses profissionais?
Ricardo - Não existe uma equipe fixa para atenção ao 
parto humanizado. Pode-se trabalhar com a humanização do 
nascimento solitariamente, como um obstetra, no seu plantão. 
Obedecendo o protagonismo da mulher, entendendo o parto 
como uma vivência interdisciplinar, e sendo respeitoso, com as 
evidências científicas, sozinho no plantão do SUS numa cidade 
do interior do Brasil. 
O atendimento pode ser feito por um médico humanizado 
dentro de uma grande universidade, ou em seu consultório 
privado. Outra possibilidade de atendimento é uma enfermeira 
obstetra que trabalha dentro do modelo de humanização do 
nascimento numa casa de parto ou na sua clínica privada.
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 24Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
extremamente importantes e são 
fundamentais em todo o projeto de 
humanização do nascimento. 
Otávio - Existe uns dados que 
falam que 80% das mulheres 
desejam ter um parto normal, 
mas na rede privada, por exemplo, 
somente 20% delas conseguem. 
Porque ocorre essa distinção tão 
grande?
Ricardo - São vários os fatores 
que concorrem pra isso. Eu poderia 
dizer que o grande responsável ou a 
grande responsável pela dissintonia 
entre o que se sabe que é melhor 
e o que efetivamente acontece, é a 
cultura como um todo.
Não existe um personagem culpado por tudo isso. Existem 
personagens e suas responsabilidades. Existe a responsabilidade 
das mulheres, que não se informam adequadamente e que não 
procuram profissionais capazes de lhes garantir o desejo por 
modelos que funcionam no livro Birth Models That Work, da 
autora Robbie Davis-Floyd. Mas existem outros modelos que 
podem ser aplicados em várias partes do mundo. Não existe 
um modelo correto.
Não existe um modelo único. Existem princípios, já falados e, 
principalmente, o olhar para aquela mulher e o entendimento 
dela como sendo absolutamente capaz de oferecer uma condição 
adequada para seu parto. Porque nós acreditamos que as 
mulheres são capazes de parir. 
Todavia, acredito que na atenção ao parto eutócico, na 
atenção ao parto normal, os profissionais mais importantes 
são as enfermeiras obstétricas. O trabalho qualificado das 
doulas também pode oferecer todo o envolvimento emocional 
fundamental para criar aquela “partolândia” bem acolhedora 
que nós esperamos para o trabalho de parto. E os médicos são 
fundamentais, essenciais para todos os casos que se desviam 
da normalidade.
Por isso, todas as equipes têm como perspectiva a possibilidade 
de internar essa paciente num local de maior complexidade 
e contar com a presença de médicos que estejam próximos, 
para dar apoio em qualquer circunstância. Os médicos são 
Na atenção ao 
parto normal, os 
profissionais mais 
importantes são 
as enfermeiras 
obstétricas. O trabalho 
qualificado das doulas 
também pode oferecer 
todo o envolvimento 
emocional 
fundamental para criar 
aquela “partolândia” 
bem acolhedora 
que nós esperamos 
para o trabalho de 
parto. E os médicos 
são fundamentais, 
essenciais para 
todos os casos 
que se desviam da 
normalidade.
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 25Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
nascimento”, e podem descobrir as vantagens da humanização 
do nascimento e as graves desvantagens de se marcar uma 
cesariana. 
Portanto, acho que a falha em diminuir as taxas de cesariana, 
é uma concorrência de fatores em que as mulheres são 
responsáveis e os profissionais são muito responsáveis 
também. Porque os profissionais, durante o pré-natal utilizam 
desse espaço, que poderia ser usado no sentido de melhora a 
autoestima dessas mulheres, fazer com que elas acreditassem 
nas suas potencialidades, para diminuir a sua autoestima e 
aumentar a importância que eles enxergam no trabalho das 
instituições e dos profissionais.
É como se, durante todo o pré-natal, eles reforçassem os 
riscos de um parto, os riscos de ela ter o bebê no momento que 
se desencadeia o trabalho de parto tentando diminuir sempre, 
os riscos inerentes a realização de uma grande cirurgia como 
a cesariana.
Portanto, esses fatores, acrescidos a remuneração 
extremamente inadequada que se oferece a um médico, pelos 
planos de saúde, para a tarefa difícil que é a disponibilidade do 
profissional para atender um parto, a qualquer momento que for 
um parto normal ou que não possuam pelo menos uma atitude 
de profissional que diga: “Não, vou realizar uma cesariana caso 
seja necessário. Entretanto, lutarei bravamente para que você 
possa ter o seu parto da forma mais fisiológica possível”.
Portanto, quando as mulheres procuram médicos que são 
notadamente cesaristas e depois têm uma cesariana, essas 
mulheres também são responsáveis por suas escolhas. Não 
se pode vitimizar totalmente a mulher e achar que ela não é 
responsável pelas coisas que escolhe.
Mulheres não são criancinhas, mulheres são competentes 
para fazer essas escolhas, mas, para isso, elas precisam ter 
informação. E as informações, hoje em dia, estão razoavelmente 
acessíveis para aquelas mulheres que têm a possibilidade de 
acessar a internet. A nossa taxa de cesariana no setor da classe 
média por exemplo, no setor dos convênios, chamada saúde 
complementar, ultrapassa 85%.
Mulheres que tem capacidade econômica de pagar um plano 
de saúde como tantos que existem por aí, normalmente têm 
a possibilidade de ter um computador em casa. Se elas têm 
um computador em casa, elas podem digitar facilmente “parto 
humanizado”, “médicos humanizados”, “humanização do 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 26Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
cirurgia que nós sabemos que é prejudicial para as mães e 
bebês.
Otávio - Fiquei pensando, quando você falou dessa questão 
do sistema: O que você acredita que seria importante da gente 
aprimorar no sistema obstétrico brasileiro pra que a humanização 
conseguisse chegar em mais pessoas?
Ricardo - Eu acho que a gente pode fazer, em curto prazo, é 
formar mais enfermeiras obstetras, incrementar essa produção 
de novas enfermeiras obstetras, para que elas possam inundar o 
mercado. Porque as enfermeiras obstetras são as especialistas 
em parto normal.
O modelo europeu, que é o modelo que produz os melhores 
resultados, é todo calcado no trabalho da enfermeira obstetra 
para o atendimento do parto normal. No Brasil temos um modelo 
que é importado dos Estados Unidos que é um fracasso. É um 
fracasso nos Estados Unidos, que é rico, e é um fracasso no 
Brasil, que é um país ainda em desenvolvimento.
Portanto, pedir que médicos, que são durante vários anos 
da formação médica, mas também na pós-graduação, nas 
residências de ginecologia e obstetrícia, treinados para o 
chamado: Sábados, Domingos; feriados; madrugadas; horário de 
consultório; isso também faz com que muitos médicos desistam 
de ficar disponíveis para suas pacientes e realizem apenas a 
cesariana. Porque o médico não quer estar 100% do seu tempo 
disponível para suas clientes.
Isso é muito ruim para prática médica, isso é muito ruim para 
as mães, e muito ruim para os bebês. Porque produz uma 
taxa absurda de cesarianas e provocam muitos malefícios: não 
só em curto prazo, como aumento da morbidade e mortalidade 
neonatal e materna.
Em longo prazo, também, se levarmos em consideração os 
problemas advindos da cesariana na amamentação, que vai ser 
um pouco prejudicada,e no desenvolvimento dessa criança, 
que não vai ter o contato fundamental na primeira hora de vida, 
chamada “hora dourada”, que é a hora que Klaus e Kennell 
descreviam como a mais importante para o estabelecimento 
de vínculo. 
Portanto, nós precisamos sim, questionar de uma forma muito 
intensa esse abuso de cesarianas, principalmente na saúde 
suplementar, e estabelecer algumas regras para que não seja 
tão fácil e sem nenhum entrave, a realização de uma grande 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 27Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Otávio - Seria maravilhoso tudo isso. Ricardo, o que você diria 
para essa gestante que está buscando mais informação sobre 
a humanização e está querendo saber mais sobre o assunto?
O que você diria para incentivar 
essa gestante? Para procurar 
uma doula em sua cidade? Buscar 
uma equipe de humanização do 
nascimento? O que você diria? 
Otávio - Eu diria para essa mulher: 
Lute bravamente contra a alienação 
que frequentemente é proposta a 
ela pelo sistema. Informe-se.
Apodere-se do seu parto para poder se empoderar. O parto 
tem que ser seu. Ele não é um serviço que alguém vai fazer para 
você. É um serviço que você vai fazer com a ajuda de outras 
pessoas.
Procure outras mulheres que estão grávidas, reúnam-se 
em clubes de mães, em clubes da prefeitura, nas escolas, 
nas creches, na igreja. Encontre outras mulheres grávidas e 
façam grupos, troquem ideias, tentem encontrar doulas ou 
atendimento de patologia, e bem treinados no atendimento de 
patologia, ofereçam para essas pessoas um atendimento na 
fisiologia não me parece uma coisa muito adequada.
Seria muito mais interessante reforçarmos o surgimento 
de enfermeiras obstétricas, entregar a elas o atendimento ao 
parto normal, fazer com que os médicos fiquem muito afeitos 
ao atendimento das patologias e das cesarianas e das cirurgias 
e também trazer um número muito grande de doulas, para o 
atendimento, tanto no serviço do SUS quanto no privado. 
Portanto, esses caminhos são interessantes. Em outra 
perspectiva, é importante reforçar a criação de casas de parto, 
a exemplo do que acontece em tantos lugares no mundo e são 
lugares que oferecem uma qualidade superior de atendimento ao 
parto de baixo risco, ao parto eutócico, de risco habitual. tPorque 
são lugares em que a gente pode conjugar o apuro técnico, a 
presença de profissionais bem treinados e um ambiente muito 
semelhante a casa da pessoa.
E, portanto, isso oferece à mulher que estar parindo uma 
sensação de aconchego que os hospitais, que são lugares 
preparados para atender pessoas doentes, não conseguem 
oferecer.
É importante reforçar 
a criação de casas 
de parto, a exemplo 
do que acontece em 
tantos lugares no 
mundo e são lugares 
que oferecem uma 
qualidade superior de 
atendimento ao parto 
de baixo risco.
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 28Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
falam dessa revolução silenciosa que está acontecendo, de 
partos mais seguros e de partos mais dignos. Essa é a tarefa 
das mulheres. As mulheres não podem esperar que os médicos 
se modifiquem para oferecer esse serviço a elas.
Não! As mulheres têm de pressionar a comunidade médica e a 
comunidade das enfermeiras e das doulas para que esse serviço 
aconteça na sua cidade, no seu hospital, na sua comunidade. 
Parto humanizado não é um direito reservado apenas às 
mulheres que podem pagar. É um direito humano, básico e 
essencial que tem que existir em qualquer hospital do SUS, em 
qualquer maternidade, em qualquer parte desse país.
Isso é um direito básico de todas as mulheres, mas direito, a 
gente não ganha, a gente conquista. E as mulheres, enquanto 
grupo, precisam se unir, para exigir das autoridades que o parto 
humanizado seja oferecido a cada uma delas nos hospitais desse 
país. 
Otávio - Eu vou dar meu breve relato, porque eu lembro muito 
bem desse episódio e minha esposa lembra mais ainda. Foi a 
primeira vez que a gente fez uma consulta contigo, Ricardo. 
Eu lembro que sentamos na sua frente, no seu consultório, 
educadoras perinatais nas suas cidades para fazer encontros 
de mulheres, para poderem tratar desse assunto. Comprem 
livros sobre a humanização do nascimento, existem muitos 
livros e em português hoje em dia, que oferecem informação de 
qualidade para as mulheres. E não são simplesmente coleções 
de patologias médicas que você deve tomar cuidado. Não. É 
muito mais que isso!
É como deve ser sua atitude diante do parto! A sua atitude 
diante da gestação com um todo! Tente encontrar na sua cidade, 
profissionais que realmente respeitem aquilo que você deseja, 
que é um parto mais fisiológico, mais natural e mais seguro, 
que é o parto natural.
Se afaste de médicos que proponham desde o início cesarianas. 
Afastem-se de médicos que dizem que fazem parto normal, 
mas quando você vai avaliá-lo, no hospital, descobre que ele só 
faz cesarianas. Se você quer um parto normal, desde o início 
selecione um médico que tenha a ver ou que tenha sintonia com 
seus desejos suas ideias e suas vontades.
Junte-se a outras pessoas, procure sites na internet que falem 
de parto normal. Entre em comunidades da internet, do facebook, 
que falam do parto normal. Tente se aproximar de pessoas que 
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Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 29Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Essas ideias não pertencem a ninguém, são de todos nós. 
Nós somos semeadores, ficamos jogando sementes para ver 
onde poderão florescer da melhor maneira possível. E eu fico 
muito grato em ter essas oportunidades, em que a gente pode 
falar para muitas pessoas ao mesmo tempo, mesmo que não 
seja um contato muito direto.
Pelo menos, temos a possibilidade de plantar uma sementinha. 
E, quem sabe, possa florescer um parto digno e respeitoso para 
essas mulheres. 
Otávio - Maravilha. Ricardo, um abração! Gente, um abração! 
Até mais!
estávamos buscando informações sobre a humanização do 
nascimento, sobre o parto humanizado e queríamos fazer um 
parto humanizado, queríamos que a nossa filha nascesse dessa 
forma.
E eu lembro que a primeira pergunta, a minha esposa, foi: 
“Como que tu queres o teu parto?”. E isso foi muito marcante 
para ela, ela sempre comenta disso. E eu também registrei isso, 
que é justamente a evolução do protagonismo.
“Como tu desejas que seja seu parto? Se eu puder te ajudar, 
eu vou te ajudar”, foi assim que a gente sentiu. Isso foi realmente 
transformador pra gente. Então, Ricardo, nossa, imensa gratidão 
por todas essas informações maravilhosas. 
Eu tenho certeza que todas as mulheres que estão te assistindo 
aqui agora, vão sair mexidas com esse sacode dado por ti. Então, 
muito grato.
Ricardo - Eu só tenho a agradecer a oportunidade de mais uma 
vez estar participando desse congresso virtual. Eu fico muito 
feliz a cada vez que nós temos a possibilidade de disseminar 
essas ideias.
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 30
Erica de Paula
A Importância da Doula 
na Gestação e no Parto
...
Otávio - Na palestra de hoje, a gente está com uma pessoa 
especial, que tem uma grande influência em todo o movimento 
de humanização do parto que a gente vê aqui no país, que é a 
Érica de Paula.
Ela é psicóloga, doula, educadora perinatal e coautora de um 
filme fantástico, que realmente mudou a minha perspectiva e 
a minha vida em relação à humanização do nascimento. Esse 
documentário é o Renascimento do Parto. Para quem não viu, 
recomendo muito que assista.
Érica, muito legal ter a sua presença no Nascer Melhor 2. Estou 
feliz de poder levar toda a sua bagagem, seus conhecimentos 
a muitas mulheresque estão participando do congresso. No 
nosso bate-papo, eu queria que a gente conversasse sobre a 
importância, o papel e as funções que a doula exerce. Na minha 
Psicóloga, doula, educadora perinatal e acupunturista. Reconhecida 
nacionalmente pela autoria, produção, roteiro e pesquisa do documentário 
“O Renascimento do Parto”, que retrata a grave situação obstétrica 
brasileira.
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 31Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
1/4 das mulheres se percebem vítimas de violência obstétrica 
no momento do parto.
E esse número é, provavelmente, 
subestimado, porque muitas 
mulheres não sabem que alguns 
procedimentos que elas sofreram 
são violência obstétrica e 
consideraram que aquilo era uma 
assistência padrão.
Junto com isso, tem um 
terceiro estudo que é sempre 
bom mencionar, de que 80% das 
mulheres, no início da gestação, 
querem ter parto normal. Elas são desencorajadas ao longo da 
gestação, tanto pelos profissionais que a atendem durante o pré-
natal, quanto pela sociedade, por conta desses diversos mitos 
que existem a respeito do parto, e, no final das contas, acabam 
mudando de ideia. E as poucas que continuam querendo parto 
normal, no fim, acabam não conseguindo.
Então, a presença da figura da doula nesse momento, tanto 
durante a gestação quanto no parto, acaba sendo ainda mais 
experiência, quando minha filha nasceu, foi maravilhoso ter uma 
doula. Achei fantástico o que a doula faz durante o trabalho de 
parto.
Então, queria que você falasse um pouco para gente: qual a 
verdadeira importância, a real importância que a doula tem para 
a mulher nesse momento tão significativo na vida dela?
Érica - Sempre que a gente vai falar de função da doula, eu gosto 
de começar contextualizando um pouquinho sobre a realidade 
obstétrica do Brasil. Inclusive, na realidade obstétrica que nós 
temos, a função da doula é ainda mais importante, porque reúne 
a função da mulher que cuida, que é a tradução do nome doula, 
em grego, com a mulher ativista. 
O Brasil é o país campeão mundial em cesarianas. A gente 
ultrapassou 56% no índice geral e, em boa parte dos hospitais 
privados, esse número chega em mais de 90%, sendo que a 
Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que seja de, 
no máximo, 15%. 
 Além dessa questão do excesso de cesarianas, a gente 
tem também um problema gravíssimo, que é o da violência 
obstétrica. Algumas pesquisas mostram que até pelo menos 
Na realidade 
obstétrica que nós 
temos, a função da 
doula é ainda mais 
importante, porque 
reúne a função da 
mulher que cuida, que 
é a tradução do nome 
doula, em grego, com 
a mulher ativista.
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 32Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Então, a figura da doula como profissão acabou substituindo 
essas mulheres que existiam com mais facilidade antigamente, 
para acompanhar a parturiente durante o momento do trabalho de 
parto. Então, na profissionalização desse trabalho, a doula exerce 
um papel de educadora perinatal. Ela é a mulher que vai dar 
informação para essa gestante, como se fosse uma consultoria 
para que essa gestante faça escolhas, desde escolhas como 
qual equipe vai se adequar mais à expectativa que ela tem, qual 
hospital vai ser o mais adequado.
Ou, se ela quer saber sobre os locais em que ela pode parir, a 
gente vai explicar sobre os hospitais, qual é a rotina de cada um, 
a burocracia de cada um. Se existem casas de parto, como são os 
partos domiciliares, como que cada equipe e profissional lidam 
com cada assunto, porque a gente acaba ganhando experiência 
com a realidade local.
Então, é um trabalho de consultoria ao longo da gestação. 
De tirar dúvidas, de enviar material de leitura, de emprestar 
DVDs, de conversar com avó, marido, convence-los de alguma 
coisa que eles ainda não ‘engoliram’ direito, não entenderam a 
importância.
importante nesse contexto brasileiro que a gente vive.
Qual é a função da doula? É uma função múltipla. Começa 
durante a gestação: doula vem do grego e significa ‘mulher 
que serve’. A função de doula, atualmente, é vista como uma 
ocupação, e a gente está buscando que ela seja uma profissão. 
É uma figura que existe desde que o mundo é mundo.
As mulheres, sempre que iam parir seus filhos, tinham a 
presença de uma amiga, uma irmã, alguém da família, uma 
vizinha, uma comadre, que a acompanhava naquele momento, e 
que estava ali para cuidar dela, que era independente da figura 
da parteira. Antigamente, havia as parteiras, que aparavam os 
bebês, e as pessoas ao redor cuidavam daquela mulher.
Antigamente, essa vida em rede, em sociedade, era mais 
comum. A gente brinca que, para criar um filho, é preciso uma 
aldeia inteira.
As mulheres eram mais unidas, mais conectadas. Hoje em 
dia, com esse mundo moderno, todo mundo trabalhando fora, 
isso ficou um pouco mais inviável. A gente não sabe quem são 
nossos vizinhos, às vezes tem poucos amigos pessoais com 
quem contar e todo mundo muito ocupado com seus afazeres.
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 33Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
A gente brinca que, na hora da dor, é muito fácil você querer 
um atalho, uma analgesia, uma cesariana. Eu falo muito para as 
minhas gestantes durante o trabalho de parto: “tenta lembrar o 
motivo que te fez escolher esse tipo de parto durante a gestação. 
Você sabe que estudou isso, você sabe que existem motivos, 
benefícios para essa escolha”. Porque, na hora da dor, a gente 
quer apenas resolver essa dor.
Então, esse trabalho de informação durante a gestação 
é muito importante, tanto para a gestante quanto para os 
companheiros, para a família. Porque, às vezes, ele envolve a 
troca de profissionais da equipe, troca de médico...
Um plano de parto pode ser algo mirabolante para conseguir 
atender a expectativa daquela mulher. É importante ter um plano 
A, um plano B e um plano C para que a gestante não fique 
descoberta em nenhuma hipótese, para que essa gestante tenha 
uma assistência legal, respeitosa e humanizada de qualquer 
forma, para qualquer via de parto que acabar acontecendo.
Ainda que seja uma cesariana, a gente vai construir com essa 
mulher um plano de parto, que não necessariamente precisa 
ser por escrito. Existem pessoas que querem fazer planos de 
parto por escrito, tudo direitinho com as expectativas, mas ele 
Otávio - Érica, esse papel informacional inicial parece muito 
importante. Esse contato que a doula tem com a gestante antes 
do trabalho de parto, com todas essas informações que ela traz, 
parece ser fundamental. Como você vê isso?
 
Érica - É metade do caminho, 
talvez até mais, para esse 
acompanhamento no trabalho de 
parto. Às vezes, alguma gestante 
me contrata em cima da hora. Eu já 
cheguei a conhecer gestantes no 
dia do parto. Mas ela teve metade 
da doula que poderia ter tido.
Vou falar sobre o acompanhamento da doula no trabalho de 
parto, que é muito importante. Mas o acompanhamento na 
gestação talvez seja mais importante ainda, porque é o momento 
que a gente tem para preparar essa mulher.
Para empoderar - termo que a gente usa muito - essa mulher 
com informação para que ela possa saber onde está pisando, 
saber exatamente o motivo de cada escolha que ela fez. Isso, 
na hora do parto, vai fazer muita diferença. É essencial que a 
gestante possa ter a perspectiva do porquê ela escolheu isso.
É importante ter um 
plano A, um plano B 
e um plano C para 
que a gestante não 
fique descoberta em 
nenhuma hipótese.
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 34Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Érica - Muito frequentemente.Recentemente, atendi a uma 
gestante que chegou com o relato de que tipo de parto ela 
gostaria, e qual era o plano dela para conseguir esse parto. 
Mas tanto o profissional quanto o hospital escolhido, a gente já 
sabia, provavelmente não atenderiam às expectativas dela. 
Mas é nosso papel permitir que ela descubra isso sozinha, 
também. Acho que a doula não tem que ter o papel de ser uma 
tutora, de fazer nenhum tipo de escolha pela mulher.
Ela dá algumas ferramentas para que essa mulher descubra 
sozinha que aquele profissional, aquele hospital, aquele plano 
que ela está tendo, não vai atender às suas expectativas. A 
gente fala: “olha, faz essas perguntas para o seu médico.
Vê o que ele vai te responder”, ou, então: “conversa com a 
secretária para ver como normalmente é a rotina do consultório. 
Se ele desmarca muito para atender parto ou não. Conversa 
com as gestantes que estão na salinha de espera do consultório, 
pergunte que tipo de parto elas tiveram, ouça os relatos”. 
Então, a gente vai tentando dar ferramentas para que essa 
mulher se empodere sozinha. Não é papel da doula fazer escolhas 
pela gestante. Isso é muito importante.
pode ser combinado verbalmente também.
Em primeiro lugar, tem de haver essa explicação sobre quais 
são as intervenções que existem durante o trabalho de parto. 
Quais não são legais, quais a mulher deveria recusar, e explicar 
o porquê de tudo, também de quais procedimentos não são feitos 
de rotina, mas podem ser necessários. Aí, a gente explica quais 
as indicações, vai traduzindo um pouco esses jargões, esses 
termos técnicos, para uma linguagem acessível a um público 
leigo, como as gestantes normalmente são.
A doula faz também esse trabalho de tradução dos artigos 
científicos, do que está sendo falado. As doulas devem, de 
preferência, frequentar os congressos e estar sempre em dia 
com as informações produzidas pela medicina baseada em 
evidências para poder trazer essas questões um pouquinho para 
a realidade dessas grávidas, para embasar melhor as escolhas 
que elas fazem.
 
Otávio - Pode acontecer, Érica, nesse papel informacional que 
a doula exerce com a gestante, de a própria gestante começar 
a se dar conta de muitas coisas que ela não se dava, e resolver 
trocar de obstetra? Aconteceu, ou acontece isso? 
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 35Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
Por isso essa função da doula como educadora perinatal é, 
às vezes, mais importante que o acompanhamento do parto em 
si. A gente vai traçar com essa gestante um planejamento para 
que ela possa, na hora do parto, confiar naquele profissional, 
para que, nesse momento, ela não tenha que brigar para ter 
suas escolhas respeitadas.
Parto é o momento de você se entregar e vivenciar o que você 
escolheu, não é para brigar. Se tiver que brigar, se for a única 
opção, então vamos brigar, mas a ideia não é essa. 
Existem pesquisas que mostram que o trabalho da doula 
diminui a necessidade do uso de analgesia durante o parto. A 
gente tem técnicas de alivio não farmacológicos de dor que vão 
auxiliar essa gestante a não precisar de analgesia.
O fato da doula estar ali, estimulando a livre deambulação, 
dando sugestões, às vezes, de modificação de posição, ajudando 
no alívio de dor, vai diminuir também a chance dessa gestante 
precisar de ocitocina. São partos que, em geral, são até mais 
rápidos. 
Até mesmo pela função que a gente tem também de acompanhar 
a gestante um pouco mais desde o início. Muitas vezes, o 
Otávio - Legal. Eu quero que a gente consiga pontuar algumas 
coisas, como: em que a doula ajuda a gestante?
Quais coisas a doula pode ajudar a gestante a evitar?
Érica - Em primeiro lugar, esse 
papel de oferecer informações 
para a gestante ao longo do pré-
natal vai fazer com que sejam 
evitadas muitas intervenções 
desnecessárias, ou até mesmo 
uma cesariana desnecessária.
Mas isso deve ser feito, de preferência, durante a gestação. 
Algo que muitas gestantes dizem quando me procuram é: “eu 
quero te contratar porque, na hora do parto, se o médico quiser 
fazer alguma coisa que não for legal, uma cesariana e etc., você 
vai me dizer que aquilo está errado.”
 Algumas pessoas acham que, na hora do parto, a doula vai 
brigar com o profissional, com o médico, questionar alguma 
conduta. Esse é um erro muito comum de acontecer. Isso não 
é legal, não é a função da doula. Isso deve ser feito durante o 
pré-natal.
Existem pesquisas 
que mostram que 
o trabalho da doula 
diminui a necessidade 
do uso de analgesia 
durante o parto.
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 36Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
um parto ou não. A gente precisa, obrigatoriamente, que tenha 
uma pessoa treinada em reanimação neonatal para atender ao 
bebê se ele precisar de cuidados.
Esse profissional pode ser uma enfermeira obstetra, uma 
enfermeira neonatal, ou um médico pediatra. Esse é um tema 
bastante polêmico, né? Mas, em geral, nos hospitais, o que 
vamos ter é um pediatra. E, numa situação normal de parto, 
esse pediatra vai apenas prestar os primeiros cuidados ao bebê 
junto à equipe de enfermagem: pesar, medir, fazer alguns testes 
rápidos. Em uma situação de emergência, ele vai reanimar esse 
bebê e fazer o que for necessário.
Teremos ainda o anestesista profissional, que vai dar a 
anestesia, se for necessário, seja num parto normal ou numa 
cesariana. Há as enfermeiras obstetras, que são enfermeiras 
que fizeram uma especialização na área de obstetrícia, e são 
legalmente habilitadas para atender partos de baixo risco – 
tanto em domicílio quanto nos hospitais. Há pouco tempo foi 
formalizado que as enfermeiras tem respaldo legal para atender 
partos em hospitais também. 
Há, também, as obstetrizes, que são profissionais de entrada 
direta. São equivalentes às enfermeiras obstetras e também 
profissional médico começa o acompanhamento num estágio 
mais avançado do trabalho de parto. Então, estar ali com a doula 
apoiando desde o início, traz uma tranquilidade para a gestante 
e vai evitar uma intervenção precoce no hospital.
A internação precoce no hospital é a causa de muitos problemas. 
Pode causar tanto intervenções quanto cesarianas. É aí que o 
relógio começa a correr, aquele profissional de saúde começa a 
querer intervir para o parto acontecer mais rapidamente, porque 
a gestante está ali há muito mais tempo do que ela deveria estar. 
Então, entre outras coisas, essas são algumas das funções da 
doula, nesse sentido de evitar intervenções ou uma cesariana.
Otávio - O que a doula não pode fazer? Você pode explicar 
de uma forma simples, para que as pessoas possam entender, 
até onde vai o papel da doula? Onde que começa o papel da 
obstetriz, ou da parteira, da enfermeira obstetra. E o papel o 
médico obstetra? Qual é esse limiar entre os papéis de cada 
um da equipe?
Érica - Vamos falar um pouquinho, rapidamente, de cada 
profissional que compõe uma equipe. A gente vai ter: o profissional 
pediatra – que é o neonatologista, que pode estar presente em 
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A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 37Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação
que você quer tirar? Alguma coisa que você não entendeu, que 
o médico falou?”. Fazer uma massagem, sugerir uma posição, 
estar ali dando a mão. Estar ali, presente. 
A gente fala que a doula é uma 
profissional de suporte contínuo, 
que passa o tempo todo ao lado da 
gestante. Os outros profissionais 
têm o momento certo de atuar. 
O médico, a enfermeira obstetra, 
não vão ficar o tempo todo com a 
grávida. 
Eles vão chegar, provavelmente, num trabalho de parto um 
pouco mais avançado, ou em franco trabalho de parto, como a 
gente fala. Eles vão escutar o coraçãozinho do