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Congresso Online de Nascimento Natural e Humanizado (volume 1) Gestação E-BOOK Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com II Mensagem do Editor Informação verdadeira e de fontes confiáveis é um tesouro que pode mudar e salvar vidas. Neste e-book, você vai ter acesso às mais atuais informações sobre o universo da humanização do nascimento, resultado de entrevistas completas com os mais estudiosos e competentes profissionais/especialistas da área no Brasil e no mundo. Este livro digital, em seus quatro volumes, transcritos das palestras do Nascer Melhor 2 (Congresso Online de Nascimento Natural e Humanizado), é um material imprescindível se você é profissional da área ou uma gestante em busca do seu parto humanizado. No Volume I - Gestação, você vai ler sobre a importância do início da vida, os fundamentos do parto humanizado, o papel da doula, exercícios de preparação para o parto e também sobre espiritualidade no parto. No Volume II - Parto I, você vai ler sobre o parto fisiológico, a segurança no parto, os mitos do parto, violência obstétrica e sobre parto domiciliar. No Volume III - Parto II, você vai ler sobre o parto normal após cesárea, dor no parto, a importância do apoio emocional, a sexualidade no parto e sobre a experiência de parir. No Volume IV - Pós-parto, você vai ler sobre a recepção humanizada ao bebê, a importância do pai e as transformações no casamento nesse momento lindo e ao mesmo tempo delicado. Você está preparada? Então, confira o índice, escolha a palestra para ler e inicie agora mesmo essa grande jornada! Que seja uma maravilhosa experiência! Afetuoso abraço, Otavio e equipe Nascer MelhorOtavio e equipe Nascer Melhor Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Índice (Volume 1 - Gestação) A Importância do Início da Vida..................................4 (Carla Machado) Parto Humanizado x Violência Obstétrica.................17 (Ricardo Jones) A Importância da Doula na Gestação e no Parto........30 (Erica de Paula) Exercícios de Preparação para o Parto....................44 (Fadynha) A Espiritualidade na Gestação e no Parto...............60 (Laura Uplinger) Fo to d e Ka lu B ru m Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 4 Carla Machado A Importância do Início da Vida ... Otávio - Estamos aqui com uma pessoa fantástica! Para quem não conhece ainda, é a Carla Machado. Ela é presidente da ANEP e vice-presidente da OMAEP. A Carla é astróloga e terapeuta. E faz um trabalho maravilhoso pelo Brasil e no exterior também. Carla, muito obrigado por estar aqui com a gente, compartilhando um pouquinho dos seus conhecimentos e do seu tempo. Eu queria que você explicasse: Por que essas instituições de que você faz parte são importantes em todo esse movimento da humanização de que a gente vem falando? Elas são importantes para a conscientização também? Das pessoas, das mulheres, das famílias como um todo? Fala um pouquinho pra gente, Carla, o que é a ANEP. O que é a OMAEP? E assim, brevemente, como é a atuação dessas instituições? Presidente da ANEP Brasil - Associação Nacional para Educação Pré- natal no Brasil, uma entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é promover a educação pré-natal natural; é também Vice-presidente da OMAEP - Organização Mundial das Associações para Educação Pré-natal. Atua também como terapeuta e astróloga. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 5Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Trazer essa consciência é o intuito principal da ANEP. Como disse, o Brasil é um dos 24 países que têm uma ANEP. E essas 24 associações são reguladas pela OMAEP, Organização Mundial das Associações para Educação Pré-Natal, da qual em 2015 eu tive a honra de me tornar vice-presidente. Acredito que fui escolhida para esse cargo em função do que nós temos realizado aqui no Brasil. Claro que poder levar a nossa experiência para o mundo é muito bacana, muito gratificante, mas o mais importante é o que fazemos localmente. Otávio - Maravilha, Carla. Puxa, que ótimo saber desse trabalho maravilhoso que a ANEP vem fazendo aqui no Brasil. Muito legal. Como você explicaria a psicologia pré-natal de uma forma fácil, para que as pessoas possam compreender? De que forma ela contribui para a pessoa? E fala sobre como o seu trabalho aborda essas questões do medo, da insegurança, dos obstáculos que muitas vezes as gestantes enfrentam para poder realizar esse sonho de ter um parto normal, um parto humanizado. Carla - AA principal questão da psicologia pré-natal é a noção de que existe uma forma de consciência desde o iniciozinho da vida. Recentemente, tivemos um módulo com a Marcy Axness, em que ela deu uma meditação lindíssima, baseada num texto do Thomas Verny, autor do livro clássico de psicologia pré- Carla - ANEP é Associação Nacional para Educação Pré-Natal. Existem 24 ANEPs no mundo inteiro, e a do Brasil foi fundada em 2010 num congresso da ReHuNa em Brasília. De lá para cá, o que viemos fomentando é justamente a importância da educação pré-natal. Nas escolas, aprende-se muito sobre matemática, geografia e português. Essas matérias são importantes, mas há muito pouco ou quase nada acerca de como ser pai e como ser mãe. Os jovens vão para a vida meio crus. Como não há nenhum tipo de educação nessa área, queremos fomentar esse tema e a sua importância, acabando com a ideia de que educação sexual na escola serve apenas para aprender como evitar gravidez indesejada e DSTs. Queremos trazer a questão do amor, da relação, da comunhão entre um homem e uma mulher, e desejamos que essa informação chegue o quanto antes para os jovens, se possível antes deles começarem a namorar. Assim evitaremos inúmeros problemas e surpresas tristes, ajudaremos a criar um “espaço” para que os novos seres humanos por vir sejam gestados por uma mãe cujo companheiro fique “gravido” dos dois: grávido da mãe grávida. E para que a sociedade também abrace esse pai e essa mãe. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 6Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação algo consciente, mas ainda não existe nenhuma neurologia, o que em nós é consciente? A morte, a vida, o não manifesto e o manifesto se tocam. E tudo o que acontece com esse ser fica registrado: discussões que ele possa ter ouvido, fome, situações de miséria, de violência ou de alegria intensa, de esperança... Eu já tive relatos de pacientes que ao retornar para dentro do útero, durante uma sessão de terapia, lembraram de um carro que a família teve, mas só durante o período da gestação. Esse carro não apareceu em foto e ninguém falou dele. “Mãe, aquele fusca azul que a gente tinha”; “Que fusca azul? Não tinha nenhum fusca azul!” e aí o pai lembra que tinha havido sim. Existe uma memória, uma consciência desses nossos primórdios. E isso por um lado é maravilhoso, mas por outro pode incomodar bastante. Se depois que a criança nasce a mãe já sente culpa, já se sente responsável por tudo, imagina quando ela se depara com natal: “A Vida Secreta da Criança Antes de Nascer”. Foi uma vivência sobre o momento da concepção e depois do momento da implantação. Muitas pessoas ficaram impressionadas com o fato de termos memória desse momento. Freud pensava que a criança só tinha memória a partir do terceiro ano de vida, devido à aquisição da linguagem. Antes não. Agora, se sabe que temos registros de memória até intra- utero. Essa noção levou a psicologia para dentro do útero, onde já existe uma consciência, uma forma de consciência. E se a primeira célula, a que dá origem a todas as outras, tem memória, essa memória é ainda mais forte nesse iniciozinhode vida. Marcy nos falou da memória da hora em que o óvulo salta do ovário para a trompa como sendo uma possível elucidação do fenômeno em que a pessoa acorda de repente, assustada com aquela sensação de estar caindo. Poderia ser a sensação de queda, que tivemos um dia enquanto óvulo. Para muitas pessoas, a noção de que existe uma consciência desde essa época é meio bizarra. Porém, o que acontece nessa fase deixa marcas. De alguma forma, mesmo ainda não formado fisicamente, o ser já “habita” ali e tudo o que ele vivencia o marca. Estamos tocando na esfera da espiritualidade, porque se existe “Já existe uma forma de consciência desde o iniciozinho da vida” Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 7Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação mãe só ligava para minha irmã, que já estava do lado de fora e estava dando muito trabalho. É como se eu não existisse, e hoje em dia sinto como se eu não existisse para o mundo.” Claro que não é todo segundo filho que vive isso, estou dando uns exemplos para reforçar a noção de que existe uma consciência pré-natal e que a criança no ventre materno é um ser que se relaciona e percebe tudo o que está acontecendo ao seu redor. Otavio, você já deve ter entrevistado alguém sobre a epigenética, certo? O termo epigenética significa: “acima da genética”. A genética é transmitida pela linhagem familiar, os pais, os avós, etc., mas acima dessa genética está toda a influência do meio ambiente. Penso que um dos casos mais clássico de epigenética que encontramos na natureza é o das abelhas de uma mesma colmeia. Todas nascem com a mesma carga genética, mas uma é alimentada com geleia real e, mais tarde, se torna a abelha- rainha! Ela se desenvolve de maneira totalmente diferente e cresce muito mais do que as outras, só por causa da nutrição que a informação de que a vida intrauterina nos marca para sempre, que a natureza deu para a mulher um poder sobre o psiquismo de cada filho. Não apenas sobre o psiquismo, um poder até maior. Um poder total. Às vezes quando falo isso algumas mulheres dizem: “Mas é um peso, eu não quero todo esse poder. Se alguma coisa der errado, a culpa vai ser minha! Então, não quero essa responsabilidade.” E eu digo: “Mas não sou eu que estou dando essa responsabilidade para você, é a natureza! Só estou deixando claro uma coisa óbvia: queira ou não, a criança participa da vida da mãe. Se a mãe fuma... tive pacientes que reviveram essa experiência intra-utero e sentiram a intoxicação do cigarro. Uma pessoa que acompanho percebeu que a mãe nem se dava conta de que ela estava bem ali, em seu ventre – era como se ela não existisse! Um bebê prematuro, nascido de 20 ou 24 meses de gestação é um ser com o qual podemos nos comunicar, certo? Pois do lado de dentro ele também é um ser receptivo. Se a mãe se comunica com o seu bebê prematuro, por que não com o seu bebê ainda do lado de dentro? Só porque há algo que o cobre? E essa sensação de descaso é muitas vezes entendida pelo bebê como uma negligência, como um abandono. “Não, minha Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 8Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação é também importante que ela possa se alimentar bem, e de preferência com alimentos provenientes de uma agricultura orgânica. Tudo a fim de que um início de qualidade se propague depois para o resto da vida de cada um de seus filhos. Estive recentemente em São Francisco, num congresso da APPPAH (Association for Prenatal & Perinatal Psychology and Health), a Associação para a Psicologia Pré-natal & Perinatal e Saúde, uma associação norte-americana fundada em 1983 pelo psiquiatra Thomas Verny e o psicólogo David Chamberlain. Lá se comentou que investir nos três primeiros anos de vida, dá um retorno de 1 para 7, mas que investir no período gestacional traz um retorno de 1 para 14! O que se economiza de médico, psicólogo, fonoaudiólogo, fora o que se economiza em advogados, sistema judiciário, sistema penitenciário... uma gigante economia. Em 1998, duas sociólogas escreveram um livro chamado “Ghosts from the Nursery” (Fantasmas do Berçário), que faz um apanhado de entrevistas feitas num presídio de Seattle, para saber da primeira infância – incluindo o período pré-natal – de jovens prisioneiros que haviam cometido crimes sérios. Elas encontraram uma forte correlação entre uma primeira infância exposta a inúmeros traumas e a criminalidade no final da adolescência. recebeu. É o que chamamos de fenótipo: o resultado da interação do gene com o meio. No ser humano essa interação se faz segundo a nutrição que ele recebe durante seu desenvolvimento pré-natal, não apenas nutrição física, mas nutrição emocional, psíquica, a qualidade da relação, tudo isso o nutre e contribui na sua formação. Então, o poder da gestante é total: ela tem o poder de silenciar os genes de doenças, se estiver num belo ambiente e em contato com a natureza, rodeada de beleza, se ela não estiver carregando tudo nas costas, preocupada em sustentar a família, como tanto se vê no Brasil... Por trás da frase “gravidez não é doença”, existe toda a sorte de desrespeito com as mulheres, com as gestantes. Porque, como não é doença, é como se não fosse um estado especial. Mas é um estado muito especial, extraordinário: ela está gestando um futuro ser humano, um futuro planeta! Nós, sociedade, devemos abraçar essa família, para que esse pai abrace essa mãe e para que essa mãe abrace essa criança. Como círculos concêntricos. Temos que nos conscientizarmos do nosso papel e oferecer mais lugares bonitos para a mulher gestar, fazer com que ela disponha de mais tempo, de mais qualidade de tempo. Claro, Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 9Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação comentou comigo que a educação pré-natal também considera a pré-concepção. Falamos de várias assuntos relativos à gestação, mas quais são as características da psicologia da pré-concepção? Carla - Legal você me perguntar isso, Otávio, porque esse é o maior trabalho da ANEP. Vemos bastante informação na internet sobre a importância de um parto humanizado, uma gestação com yoga, meditação, tem coisas lindas acontecendo por aí a esse respeito. Porém muito pouco se ouve sobre concepção consciente. Se você consultar textos sagrados, como os Vedas, encontrará dados e preceitos – até mesmo astrologia – sobre qual seria o melhor momento para conceber um novo ser. No hinduísmo, existe um sexo para prazer e um sexo para reprodução. Não vou saber falar disso em detalhes, mas sei que são diferentes, que se, por exemplo, o casal estiver embriagado é prejudicial, se estiver tenso... Muita gente exclama: “Mas eu nem sei como foi...”, e começa o mea culpa. O objetivo não é esse, porque o que já passou, passou, cada um fez o melhor que podia com a informação que tinha. Mas O subtítulo do livro é “Tracing the Roots of Violence” (Traçando as Raízes da Violência). O sueco Bertil Jacobson, pesquisador do prestigioso Instituto Karolinska, descobriu correlações significantes entre a forma como um adolescente se suicida e a maneira como nasceu... Na idade adulta, tanto a violência contra si-próprio como a violência conta o outro está totalmente conectada à violência sofrida no início da vida! E se fossemos um pouquinho mais inteligentes, lograríamos um imenso retorno: em vez de investir em armamento e guerra, começaríamos a investir no bem estar físico, emocional, mental e espiritual da gestante. Otávio - Nossa, que legal saber de tudo isso! Se trata de uma grande mudança de perspectiva para com a gestante. Ela tem que ser uma das pessoas mais importantes da sociedade porque vai gerar um novo ser social para esse mundo. Muitolegal tomar consciência desses aspectos tão sutis. E você O retorno do investimento no período pré-parto, período gestacional, é de 1 para 14. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 10Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação desenvolveu a luz elétrica, várias tecnologias maravilhosas, que eu aproveito bem – estamos fazendo essa entrevista à distância, e sem tecnologia ela não aconteceria. Só que isso não pode ser em detrimento da perda das qualidades instintivas, das qualidades de percepção do corpo, de honrar a mãe Matéria da qual todos viemos e à qual pertencemos. Nossos frutos são colhidos da terra. Um bebê não vem do mundo virtual, pelo menos não por enquanto, e acredito que ainda vá demorar muito. Um bebê de verdade precisa ser gestado, ainda não deu para reproduzir o útero em laboratório. Otávio - Carla, me veio essa pergunta: Então, o estado emocional e mental dos pais na hora da concepção influencia esse ser definitivamente? Carla - Influencia, é como um fractal. Conhece o fractal? Uma couve-flor é um fractal. Cada um de seus ramos é uma pequena couve-flor e cada raminho “pequetitico” desse ramo também tem a forma uma couve-flor. A concepção representa o primeiro fractal. Bom, você conhece como queremos trazer informação pra quem ainda vai conceber, é bom que eles possam saber. Muitos dizem “eu não fiz assim porque não sabia”, e é importante se preparar conscientemente para conceber um filho. Na formação da ANEP, o primeiro módulo é sobre a importância dos ciclos femininos da menstruação, do sangue. Vivemos em uma sociedade que cada vez mais suprime isso: enchem a mulher de hormônios para que ela não menstrue – afinal de contas, “A vida tem que acontecer!” – ela vai perdendo a conexão com seus ciclos e depois tem dificuldade para engravidar... Inúmeros problemas de infertilidade têm origem numa desconexão com os ciclos inerentes ao corpo. Na menina, o processo de empoderamento começa ao perceber o corpo, perceber quando está ovulando, considerar a menstruação como algo belo, consagrá-la a, oferta-la à terra, por exemplo em algum ritual de menarca, como muitos povos indígenas. Ela vai percebendo que seu ciclo é menstrual, mensual, mensal. Percebe também que o mês está ligado à lua cujo ciclo tem 28 dias, e vai compreendendo, sentindo que faz parte de um organismo cósmico, que não está isolada. Nossa civilização Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 11Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação É verdade que tudo dá para “consertar”. Se a concepção não foi ideal, durante a gestação você pode se comunicar com essa criança. Alguns genes serão ativados e outros mascarados em função da sua atmosfera interna. Se o ambiente está bom e eu tenho que “fabricar” o fígado – beleza! – o fígado vai ficar “bonzão”, vai ficar tinindo. Mas se eu tenho 10 dias para formar o fígado e durante 9 dias a briga está solta, no último dia vou fazer o possível para compensar o ambiente negativo dos dias anteriores... Dá para consertar, sim, até um certo ponto. E depois tem terapias, mas não deixa de ser um conserto. É desejável gestar desde o início com consciência. Sei que essas informações são um pouco difíceis, mas temos que começar a falar disso, mesmo que alguns comecem a entrar na culpa e digam “Eu devia ter feito isso”, “Eu devia ter feito aquilo”. Eu também fiz um monte de bobagem. Tenho dois filhos e há uma porção de coisas que eu faria diferente hoje com as informações que eu tenho. a importância do nascimento e vem trabalhando há mais de ano no Nascer Melhor, porque sabe o quanto os inícios têm força e deixam marcas para toda a vida. E qual é o início do parto? A concepção. O parto só pode existir porque antes houve a concepção. A gestação toda só existe por conta da concepção. Conceber seria como lançar uma pedrinha no lago: ao entrar na água ela causa a formação de ondas concêntricas. Essa analogia dá uma ideia da força do processo: enquanto você tem a pedra na mão, é possível escolher para que lado jogar, a direção, o ângulo, a força... tudo isso está na sua mão. Depois de ter jogado, você ainda pode atuar, mas bem menos. Conceber num clima de harmonia e com muito amor é diferente de conceber logo após uma briga, uma bebedeira, se o sexo for de reconciliação, ou só feito de desejo. Às vezes dois irmãos de uma mesma família não se parecem em nada... “Vamos conceber um filho”, “Estamos abertos para acolher um filho”, “Vamos parar com a pílula”, “Vamos parar com o método anticoncepcional para poder engravidar”. A criança que chega é mais calma. Claro, a outra também terá qualidades, não vai ser uma pessoa sem valor, não é isso. Mas pode dar mais trabalho, demandar mais, ser menos receptiva à alegria e ao outro. Se a concepção não foi ideal, durante a gestação você pode se comunicar com essa criança. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 12Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação com a respiração holotrópica, criação do Stanislav Grof, que muito contribuiu para os congressos da APPPAH. Tem também o Rebirthing do Leonard Orr, a Anatheóresis do Joaquín Grau e suas técnicas de indução a estados mais profundos de consciência, o Thetahealing, da Vianna Stibal, a Constelação Familiar do Bert Hellinger, e outras terapias mais convencionais. Utilizo bastante os Florais, eles são muito úteis para esse trabalho interno no qual talvez o mais importante seja a disposição. Disposição para olhar dentro de si e explorar suas próprias questões. Nem tudo é trauma, nem tudo é dor, há também luz e alegrias que às vezes precisamos resgatar a fim de alimentar, nutrir com mais amor nossa vida interior, o bebê no ventre, família e sociedade. O objetivo principal do trabalho informacional das ANEPs é contribuir para que o amor e a sabedoria possam fluir e realmente permear, alimentar esses novos serezinhos que estão chegando ao nosso planeta. Otávio - Uma vez eu li algo lindo que falava mais ou menos isso: “Tudo é por amor, pelo amor e para o amor. Por amor, através do amor e em direção ao amor.” Tem muita a ver com o que você está trazendo... O processo educacional também é importante, ele retroalimenta o passado e influencia o futuro. É um processo quântico, a vida é quântica. O objetivo da educação pré-natal é ter consciência da relevância do período pré-natal desde antes da concepção, e abraçar o sagrado da vida desde o início. Porque a vida é sagrada. Qualquer vida, de qualquer ser humano. Otávio - Maravilha. Eu fiquei pensando aqui, Carla, se você teria alguma dica. Porque parece evidente a importância desse processo de trabalho interno das pessoas, tanto das mulheres quanto dos homens. Você tem alguma dica, que tipo de coisas que seriam legais, importantes para que as pessoas façam esse trabalho interno até antes mesmo da concepção? Carla - Estou montando um trabalho sobre isso com uma amiga terapeuta. Há varias técnicas. Por exemplo, eu já trabalhei muito O objetivo da educação pré-natal é que a gente tenha essa consciência desde antes da concepção, para que a vida possa ser considerada sagrada desde o seu início Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 13Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Até o nascimento do pai influencia. Mas se ela conseguiu liberar medos, dogmas e padrões, seu parto transcorre de forma natural, com o mínimo de intervenção. Ela tende a procurar um lugar mais escuro, mais privado, para dar à luz. Com o mínimo de interferência possível. Um lugar onde ela se sente dona. Não debaixo do telhado de uma instituição onde ela não tem nenhuma capacidade de comandar.Ela tem tendência a escolher o lugar onde vai estar no comando, onde ela se sente poderosa. E esse parto geralmente é em casa mesmo, domiciliar. Estudos comprovam que partos domiciliares demoram a metade do tempo que um parto hospitalar. Eu tive a minha primeira filha em uma casa de parto, e foram quatro horas e meia de trabalho de parto. Seis anos depois, meu filho nasceu em casa e foram duas horas e quinze. Quer dizer, eu faço parte da estatística de que o parto domiciliar é realmente mais rápido, tem menos interferência e menos gente... Em casa estamos no nosso espaço. Nesse congresso da APPPAH, foi falada uma coisa importante por uma educadora: deveríamos parar de falar da gestação como durando nove meses, e falar da gestação de dez meses. Porque dez meses são 40 semanas, cada mês com quatro semanas, e Deixa eu te fazer mais uma pergunta. O que diz a educação pré- natal sobre a importância do parto? Que fatores são importantes para que essa gestante tome consciência durante o trabalho de parto? Carla - Idealmente, a mulher já vem construindo esse processo do parto, antes mesmo de gestar: a partir da menarca, ela começa a prestar atenção no próprio corpo, começa a perceber seus sinais e sua linguagem, sabe o que é a menstruação, sabe o que é uma cólica menstrual, sabe o que fazer para aliviar dores e desconforto. Depois essa jovem encontra o parceiro, eles têm uma concepção planejada, consciente se possível. Uma gestação sempre vai ter seus altos e baixos, mas que ela seja vivida pelo casal da forma mais “acordada” possível, que a mãe busque ter uma boa alimentação e que essa criança seja esperada com alegria. E também, que a mãe se sinta apoiada pelos que a rodeiam e que ela se sinta inspirada, pois sua imaginação é toda poderosa. Assim o parto vai ser tudo de bom, correspondo ao um fractal inicial. O nascimento que a mulher viveu quando veio ao mundo também influencia o seu parto. Sempre tem alguma influência. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 14Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Vai dizer que a ansiedade não vai afetar esse serzinho ainda em desenvolvimento! Então, esse ponto educacional é muito interessante: criar uma nova cultura para que a ansiedade não venha antes do tempo. Carla - Eu até lanço um desafio aqui, para quem está assistindo a gente. Fazer uma pesquisa com o pessoal de mais de 60 anos: quem nasceu de 10 meses. Provavelmente a grande maioria. O que antes era normal agora é aberração. A responsabilidade é nossa. O pessoal do parto humanizado tem que começar a rever esses números. A mãe fica ansiosa, quer que o parto aconteça logo e quando os filhos chegam na adolescência: “Eles crescem tão rápido!”. Corremos a vida inteira. Otávio - Carla, falamos sobre a gestação, voltamos e falamos um pouquinho sobre a pré- concepção, você deu algumas dicas sobre o parto. E como é o pós-parto na visão da ANEP? Carla - Muito bom falarmos também disso, porque será o tema do nosso próximo módulo. Aliás, os módulos da formação da ANEP são independentes, quem quiser ir lá no Rio, no Jardim Botânico, ou na formação do ano que vem em Belo Horizonte, pode se inscrever pelo nosso site www.anepbrasil.org.br isso evitaria muitos casos de prematuridade. Hoje em dia, as crianças estão nascendo com 36, 38 semanas... Os médicos dizem que 38 já está bom, já passou da conta, “Vamos tirar, vamos abrir.” Precisamos mudar essa cultura! Otavio, você que está fazendo cultura com o Nascer Melhor, começa a disseminar essa ideia. A gestação dura 40 semanas, e 40 semanas não são 9 meses, são 10 meses. Chega na 40 e já está todo mundo olhando para o relógio. Temos uma cultura de velocidade, de estar sempre correndo e com pressa. O bebê não tem pressa. Meu filho nasceu com 41 semanas e cinco dias, e você precisa ver a pressão que eu sofri. Todo mundo ligando preocupado. “A criança não nasceu!” e minha parteira na época disse: “Carlinha, 42 semanas é o prazo careta da OMS. Depois das 42 a gente começa a se preocupar”. Até o pessoal da humanização fala de nove meses... e acho muito interessante nos começarmos a falar de 40 semanas, e assim evitar a prematuridade. É um problema muito grave, essa pressa, a cultura da pressa. Otávio - De fato, a minha filha nasceu com 42 semanas também. E isso ocorre muito. Gera ansiedade. Chega 38 e vem a ansiedade... Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 15Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação que a criança precisa, a causa do choro... E às vezes ela nem precisa chorar. O Joseph Chilton Pearce escreveu um livro chamado “A Criança Mágica”, que fala de uma pesquisa na Uganda, onde é comum uma grávida caminhar, parar, dar à luz, pegar o bebê e seguir andando. Ele observou mulheres numa fila – talvez para receber alguma cesta de alimentação. Todas carregavam seus bebês nos slings, sem fralda. E todos os panos limpinhos, não tinha um cocô. Ele ficou curioso e foi perguntar para uma delas: “Como você consegue que seu bebê fique sem fralda e com o paninho limpinho?” Ela respondeu: “Quando ele tem vontade, eu coloco ele na terra, ele faz as necessidades na terra, num lugar apropriado”. “Mas como você sabe quando ele está com vontade?” A mulher olhou para ele como se ele fosse um E.T.: “Ué, como você sabe quando está com vontade?” Tipo assim: “É obvio!”. Esse seria um pais muito avançado se aos 4 anos eles não estragassem tudo. Aos 4 anos a criança é totalmente alijada da família e por isso a nação não vai para frente. Dá para estragar depois... Quando eu li essa parte do livro do Joseph Chilton Pearce, falando sobre O momento do pós-parto é o momento em que a família se forma. No pós-parto a responsabilidade do pai, o tipo de ajuda que ele pode dar, muda: o foco já não é apenas sobre a mãe, e ele vai passar a se ocupar junto com ela do bebê. Antes era só a mãe, o poder era só da mãe. E depois de 10 meses no ninho da gestação, há também uma gestação extrauterina. Em comparação aos outros mamíferos, o bebê humano nasce prematuro, por causa do tamanho da cabeça. A girafinha nasce e já sai correndo do leão. O bebê humano nasce e por muitos meses é inteiramente dependente de um adulto, e se não for cuidado, ele morre. Viemos de um ranço educacional segundo o qual a criança tem que ser treinada desde o início a ficar sozinha e “o bebê não pode chorar, tem que ficar no berço”. No entanto, o bebê que mais chora é o que fica no berço. Quem chora muito menos é o bebê que fica junto, pelo menos durante os primeiros meses, com cama compartilhada, amamentação em livre demanda... para favorecer uma boa conexão. A questão principal ali não é o que vai ser feito. A questão principal é o vínculo. É a partir do vínculo que adivinhamos o Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância do Início da Vida - Pág. 16Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação vezes a gente não se dá conta, dentro desse processo todo de conceber, gestar e trazer ao mundo um ser. Fico muito feliz e grato por você estar participando do Nascer Melhor 2, e desejo muito sucesso no trabalho que você realiza, tanto na ANEP, quanto na OMAEP. Obrigado e um grande abraço. as mulheres da Uganda, fiquei muito chocada ao saber que para elas, o choro da criança já é um alerta máximo. Quando a criança chora é porque o negócio está muito feio. Que qualidade de vínculo é possível para o ser humano? Qual nosso grau de qualidade de vínculo? O quanto podemos melhorar como espécie? Na Uganda, as condições financeiras não são as melhores do mundo, sabemos que há muita miséria, muitos problemas lá. Mas de alguma maneira, lá eles conseguiram esse tipo de vínculo. E por que não podemos conseguir aqui, num lugar onde há, em teoria, muito mais condiçõesmateriais para que isso aconteça? Quais as condições psíquicas, quais as condições em termos de organização social e de respeito mútuo, que precisamos pra que esse vínculo se faça? Acho que essa é uma pergunta para todos. Todo mundo tem que fazer seu dever de casa. Otávio - Que legal, Carla. Então, como você comentou lá no início, que seja tudo em prol do amor. Todo o trabalho que você vem desenvolvendo é pra isso. Carla, super feliz de poder conversar contigo. Muito legal ouvir você falando sobre todas essas partes mais sutis, de que muitas Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 17 Ricardo Jones Parto Humanizado x Violência Obstétrica ... Otávio - Estamos aqui com uma pessoa fantástica. Dr. Ricardo Jones é obstetra, ginecologista e faz parte da ReHuNa, que é a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento. O Ricardo é considerado um dos precursores da humanização no Brasil. Foi ele o obstetra que assistiu o nascimento da minha filha, Sophie; que foi uma grande experiência. É justamente por essa experiência que participei da construção do congresso Nascer Melhor. Então, estou muito feliz em estar conversando contigo, Ricardo. Muito obrigado por estar novamente aqui, participando do congresso. É uma grande honra para gente estar te recebendo e poder levar essas informações para muitas pessoas. Ricardo, existem muitos detalhes, contextos sutis, envolvidos com o termo: “parto humanizado”. Médico obstetra, ginecologista e homeopata. Faz parte do colegiado nacional da ReHuNa - Rede pela Humanização do Parto e Nascimento. Autor de diversas publicações nacionais e internacionais e dos livros “Memórias de um Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista” e “Entre as Orelhas - Histórias de Parto”. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 18Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação mulheres começaram a questionar a forma muito mecanizada e medicalizada com que os bebês eram trazidos ao mundo e a forma como elas eram tratadas nos hospitais, sem que tivessem direitos para fazer escolhas a respeito da forma como isso ia acontecer. A partir de então, no bojo da contracultura, junto com o movimento hippie, junto com os elementos culturais da liberação sexual, algumas mulheres reuniram-se em vários lugares do mundo (na Europa isso se tornou mais rápido e mais intenso) e começaram a fazer reinvindicações. Essas reinvindicações eram de várias naturezas, entre elas, a diminuição do uso de drogas, a possibilidade de poder escolher a posição mais adequada para o parto, a possibilidade de ter seu parto n’água, a utilização mais restrita e mais minuciosa do uso de medicações, uma compreensão mais alargada do que significava a intervenção do parto e dos riscos que ela produzia no nascimento. Isso foi crescendo de uma forma pouco difusa. Tinha-se muita certeza das coisas que não se queria, mas não se tinha uma visão muito clara do que nós desejávamos para o parto humano. Nós tínhamos uma série de rejeições, mas ainda não tínhamos focalizado em propostas. Então, para quem ainda não sabe o que é, que tipo de informações é possível trazer para que a pessoa se sinta mais confiante, e possivelmente, escolha ter um parto humanizado? Quais são os elementos que o parto humanizado traz? Ricarso - Bem, primeiramente, queria agradecer mais uma vez o convite, por estar aqui nesse congresso virtual. É sempre um prazer levar adiante essas ideias da humanização do nascimento, que é uma paixão que envolve a tanta gente, em tantas partes do mundo. Certamente, a humanização do nascimento hoje em dia é utilizada de uma forma mais banalizada, porque se tornou mais recorrente entre as pessoas, a necessidade de produzir algum nível de transformação na forma como nós recebemos os bebês. Evidentemente, quando existe um movimento muito forte que parte da base, isso é, das mulheres, das mães que terão seus filhos, acaba-se fazendo confusão sobre o significado real do que seja parto humanizado. O parto humanizado surgiu das inquietações sobre a forma como nós trazíamos os bebês, desde o tempo da contracultura, no final dos anos 60 e início dos anos 70. Foi quando algumas Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 19Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação e começaram a fazer reinvindicações. A partir de então, considerei como sendo parto humanizado, aquele que, em primeiro lugar, garante o protagonismo à mulher. Portanto, a humanização do nascimento está pareada com os movimentos de libertação da mulher, os movimentos feministas, a medida que garante à mulher o protagonismo e o direito de fazer escolhas a respeito de como e onde seu bebê vai nascer. Assim, se não houver o pleno protagonismo da mulher, para que ela faça escolhas ou recusas informadas sobre a forma como seu bebê vai vir ao mundo não se pode chamar de “parto humanizado”. O segundo elemento fundamental para que se tenha um parto humanizado é a existência de “uma visão interdisciplinar” do parto, que não se restringe a uma visão meramente médica; ainda que a visão médica seja muito importante para entendimento dos processos fisiológicos e fisiopatológicos do nascimento. Muito mais que isso, o parto é um evento cultural, um evento de pessoas. É um evento que não pertence a uma corporação. O parto não pode ser entendido da mesma forma que se entende a uma cirurgia, como cirurgia de vesícula, de câncer ou um No Brasil, especialmente no final dos anos 80, início dos anos 90, começou um movimento que se chamava “Parto Consciente”, liderado por uma doula, surgida no Rio de Janeiro (Fadynha, Maria de Lurdes), que convidou profissionais da área da saúde de várias partes do Brasil, para integrarem os seus famosos congressos anuais, no Rio de Janeiro, de Parto e Nascimento Consciente. Nesses encontros, afluíam pessoas de várias áreas: Psicoterapeutas, enfermeiras, obstetras, pediatras, educadoras perinatais e mães que desejavam saber, afinal, “o que era isso que estaria se propondo?”. Num momento inicial não se tinha clara e exata noção do que se queria, mas paulatinamente percebeu-se que que precisava- se focar em alguns elementos fundamentais e essenciais. Em meu primeiro livro estabeleci uma normativa ideológica para o que seria parto humanizado, estabelecendo um tripé conceitual para facilitar o entendimento do conceito de “parto humanizado”. A partir de então, no bojo da contracultura, junto com o movimento hippie, junto com os elementos culturais da liberação sexual, algumas mulheres reuniram-se em vários lugares do mundo (na Europa isso se tornou mais rápido e mais intenso) Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 20Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação disso, produziam muito mais malefício do que benefício para ambos. Portanto, a humanização do nascimento pode ser entendida por esse tripé simplificado: A garantia do protagonismo, a visão interdisciplinar e a vinculação com a medicina baseada em evidências. Se não estiver baseado em evidências, o procedimento não pode ser considerado humanizado. Se não for através de uma visão ampla do fenômeno, e não apenas um olhar fisiopatológico do evento, não é humanização do nascimento. E se a mulher se mantiver calada e sem a possibilidade de estabelecer o seu parto da forma com ela quer, também não é humanização do nascimento. Otávio - Qual a diferença entre o parto normal e o parto humanizado? Ricardo - Costuma-se dizer que o parto normal é o parto tratamento medicamentoso qualquer. No parto concorrem outros elementos psicológicos afetivos, emocionais, espirituais e culturais,que fazem com que ele seja muito mais rico que simplesmente a extração de um bebê do ventre materno. Em terceiro lugar, mas não menos importante, está a clara e umbilical vinculação, da humanização do nascimento, com a medicina baseada em evidências. Percebe-se que os procedimentos para o atendimento ao recém-nascido e para a condução do parto são muito mais mitológicos e culturalmente determinados do que baseados em evidências científicas sólidas. A partir dos meados dos anos 80, quando surgiu esse movimento internacional, que é a medicina baseada em evidências, a obstetrícia e, evidentemente, o nosso movimento de humanização do nascimento, se agarrou a essas novas realidades para questionar todas as intervenções utilizadas sobre a mulher. Também para depurar as que poderiam produzir algum benefício, para mãe e para o bebê, e aquelas que eram meramente ritualísticas, aquelas que não tinham nenhuma vantagem, mas que eram repetidas através das décadas, sem que houvesse uma sustentação científica adequada. E, além No parto concorrem outros elementos psicológicos afetivos, emocionais, espirituais e culturais, que fazem com que ele seja muito mais rico que simplesmente a extração de um bebê do ventre materno. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 21Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação normal, para ser humanizado, precisa estar muito vinculado com aquilo que a ciência comprova todos os dias através de estudos multicêntricos realizados no mundo inteiro, com o que é benéfico para o binômio mãe e bebê. Otávio - Quanto à cesariana. Porque às vezes é dito que as pessoas que acreditam no parto humanizado, que defendem o parto humanizado, são contra a cesariana? O que você diria a respeito disso? Ricardo - Eu diria que é um preconceito antigo e que não tem mais sentido ser usado hoje em dia. Na verdade, isso é o que se chama de “estratégia dos pequenos espantalhos”. Quando não se tem muitos argumentos para justificar a manutenção de um paradigma antigo, acusa-se o novo paradigma de ser muito radical, o que é equivocado. Desde o princípio, a humanização do nascimento se oferece para cultura como uma síntese, e não como uma nova tese. Na verdade, humanização do nascimento é uma síntese entre dois paradigmas que se enfrentam: De um lado, o naturalismo, ou seja, as ideias de que “não se precisa fazer nada”, de que “a natureza ‘dá conta’ de tudo” e de que “não é preciso intervir, deve- se deixar que os bebês nasçam como a natureza determina”; vaginal. É o parto conforme a norma. É o parto da maneira como a nossa espécie se adaptou nos últimos milhões de anos, desde as espécies que nos antecederam, até mais ou menos 200.000 anos atrás, com o surgimento da nossa espécie. Isso é o parto normal. O que se percebe é que o parto normal pode ser conduzido de forma extremamente anômala, extremamente anormal, com uma série de intervenções que podem produzir malefícios a mãe. Como exemplo muito clássico tem-se a manobra de Kristeller, uma manobra que consiste em fazer a pressão sobre o fundo uterino para apressar o nascimento do bebê. É uma manobra que pode produzir muito dano para mãe. E é, portanto, condenável pela boa prática obstétrica. Outro exemplo são as episiotomias de rotina, que devem ser condenadas quando feitas rotineiramente. Há também uma série de outros elementos maléficos, como a troca da roupa da mãe, a depilação materna e lavagem intestinal que, quando utilizados, desconfiguram esse parto como humanizado. Isto porque são procedimentos não são sustentados pelas evidências científicas. Portanto, um parto humanizado precisa se depurar de procedimentos inadequados do parto normal. E um parto Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 22Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação algumas mulheres, diante dessa incapacidade de seu corpo parir naturalmente, seriam tragadas por uma morte que poderia ser evitada pelo uso de recursos tecnológicos, que se têm hoje em dia: principalmente o recurso da cesariana. Por outro lado, o paradigma tecnocrático desmerece, desconsidera todo o preparo fisiológico e todo significado psicológico, afetivo e emocional que tem o parto, enquanto evento no qual uma mulher ultrapassa suas próprias dificuldades, vence os desafios, e inunda o seu bebê com os hormônios adequados e adaptativos, que Michel Odent chama de “o coquetel do amor”. São eles, principalmente: ocitocina, endorfina e prolactina. Desconsidera a possibilidade de oferecer o melhor início para essa criança, através da massagem no bebê, exercida pelo canal vaginal, o banho de hormônios e o contato íntimo que, neste processo, ela terá com esse bebê. Portanto, não existe nenhum tipo de dificuldade de entender que a humanização do nascimento não se contrapõe à utilização de tecnologia. Na verdade, ela faz uma crítica muito dura e muito consistente aos abusos e procedimentos que retiram a mulher do processo e de um outro lado, um paradigma tecnocrático, que diz que as mulheres são essencialmente incompetentes para terem seus filhos da forma mais natural e, portanto, a ciência, a tecnologia, deve agir sobre esse corpo de forma que a própria tecnologia seja quem, na verdade, vai parir esse bebê, e não a mulher. A humanização do nascimento não se filia a nenhuma dessas teses e não se contrapõe a nenhuma delas. Ela se oferece como síntese. Porque entende que pode caminhar respeitando os milhões de anos de preparo e adaptação da natureza para que o parto ocorra da forma como ele ocorre e, ao mesmo tempo, respeita a utilização da tecnologia quando ela se faz necessária. Portanto, a humanização do nascimento não é contra a cesárea. Muito pelo contrário, ela valoriza sobremaneira a capacidade que a tecnologia tem de salvaguardar mães e bebês quando eles se afastam da rota da fisiologia e se aproximam, perigosamente, do caminho da patologia. Nessas circunstâncias as cesarianas são bem-vindas. Nessas circunstâncias é necessário utilizar tecnologia para ajudar essa mãe a passar por esse desafio que, por si só, não seria possível. O modelo mais naturalista e que rechaça qualquer evento tecnológico é muito arriscado também. Na medida em que Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 23Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Ou, então, uma obstetriz. Uma doula, que trabalha com a humanização do nascimento, pode compor uma equipe, porque entende o propósito do contato psicológico, emocional e desse entorno, que é oferecido às grávidas através do trabalho das doulas. Então, todos esses profissionais podem trabalhar de uma forma humanizada se obedecerem a esses pré-requisitos fundamentais. Existem vários tipos de equipe no mundo inteiro: desde equipe de uma pessoa só, como um obstetra trabalhando solitariamente, como dito anteriormente, ou uma enfermeira trabalhando solitariamente. Existem modelos, como o que inaugurei aqui na cidade de Porto Alegre, composto de um obstetra, uma doula e uma enfermeira obstetra. Porque isso pode nos oferecer um contínuo de atendimento que não sofre jamais dissolução de continuidade. A paciente pode começar seu trabalho de parto sendo acompanhada pela doula e pela enfermeira obstetra, com a avaliação da enfermeira obstetra apenas, do progredir do trabalho de parto ainda no domicílio. E quando essa paciente se encontra em condições adequadas, ela pode ser transferida para um hospital pra evitar a iatrogenia do parto no hospital. Esse é um modelo que utilizamos com sucesso na cidade de Porto Alegre, a ponto de ser convidado como sendo um dos decisório. Entretanto, a tecnologia sempre será bem-vinda e será utilizada por todos aqueles que abraçam a ideia da humanizaçãodo nascimento, quando ela for necessária pra dar continuidade ao processo que afastava-se do ritmo normal, do caminho da normalidade; para dar continuidade ao processo que, perigosamente, levaria a mulher a um desfecho ruim. Otávio - Sobre a equipe, quais são os profissionais que estão envolvidos no parto humanizado? E qual o papel e função de cada um desses profissionais? Ricardo - Não existe uma equipe fixa para atenção ao parto humanizado. Pode-se trabalhar com a humanização do nascimento solitariamente, como um obstetra, no seu plantão. Obedecendo o protagonismo da mulher, entendendo o parto como uma vivência interdisciplinar, e sendo respeitoso, com as evidências científicas, sozinho no plantão do SUS numa cidade do interior do Brasil. O atendimento pode ser feito por um médico humanizado dentro de uma grande universidade, ou em seu consultório privado. Outra possibilidade de atendimento é uma enfermeira obstetra que trabalha dentro do modelo de humanização do nascimento numa casa de parto ou na sua clínica privada. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 24Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação extremamente importantes e são fundamentais em todo o projeto de humanização do nascimento. Otávio - Existe uns dados que falam que 80% das mulheres desejam ter um parto normal, mas na rede privada, por exemplo, somente 20% delas conseguem. Porque ocorre essa distinção tão grande? Ricardo - São vários os fatores que concorrem pra isso. Eu poderia dizer que o grande responsável ou a grande responsável pela dissintonia entre o que se sabe que é melhor e o que efetivamente acontece, é a cultura como um todo. Não existe um personagem culpado por tudo isso. Existem personagens e suas responsabilidades. Existe a responsabilidade das mulheres, que não se informam adequadamente e que não procuram profissionais capazes de lhes garantir o desejo por modelos que funcionam no livro Birth Models That Work, da autora Robbie Davis-Floyd. Mas existem outros modelos que podem ser aplicados em várias partes do mundo. Não existe um modelo correto. Não existe um modelo único. Existem princípios, já falados e, principalmente, o olhar para aquela mulher e o entendimento dela como sendo absolutamente capaz de oferecer uma condição adequada para seu parto. Porque nós acreditamos que as mulheres são capazes de parir. Todavia, acredito que na atenção ao parto eutócico, na atenção ao parto normal, os profissionais mais importantes são as enfermeiras obstétricas. O trabalho qualificado das doulas também pode oferecer todo o envolvimento emocional fundamental para criar aquela “partolândia” bem acolhedora que nós esperamos para o trabalho de parto. E os médicos são fundamentais, essenciais para todos os casos que se desviam da normalidade. Por isso, todas as equipes têm como perspectiva a possibilidade de internar essa paciente num local de maior complexidade e contar com a presença de médicos que estejam próximos, para dar apoio em qualquer circunstância. Os médicos são Na atenção ao parto normal, os profissionais mais importantes são as enfermeiras obstétricas. O trabalho qualificado das doulas também pode oferecer todo o envolvimento emocional fundamental para criar aquela “partolândia” bem acolhedora que nós esperamos para o trabalho de parto. E os médicos são fundamentais, essenciais para todos os casos que se desviam da normalidade. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 25Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação nascimento”, e podem descobrir as vantagens da humanização do nascimento e as graves desvantagens de se marcar uma cesariana. Portanto, acho que a falha em diminuir as taxas de cesariana, é uma concorrência de fatores em que as mulheres são responsáveis e os profissionais são muito responsáveis também. Porque os profissionais, durante o pré-natal utilizam desse espaço, que poderia ser usado no sentido de melhora a autoestima dessas mulheres, fazer com que elas acreditassem nas suas potencialidades, para diminuir a sua autoestima e aumentar a importância que eles enxergam no trabalho das instituições e dos profissionais. É como se, durante todo o pré-natal, eles reforçassem os riscos de um parto, os riscos de ela ter o bebê no momento que se desencadeia o trabalho de parto tentando diminuir sempre, os riscos inerentes a realização de uma grande cirurgia como a cesariana. Portanto, esses fatores, acrescidos a remuneração extremamente inadequada que se oferece a um médico, pelos planos de saúde, para a tarefa difícil que é a disponibilidade do profissional para atender um parto, a qualquer momento que for um parto normal ou que não possuam pelo menos uma atitude de profissional que diga: “Não, vou realizar uma cesariana caso seja necessário. Entretanto, lutarei bravamente para que você possa ter o seu parto da forma mais fisiológica possível”. Portanto, quando as mulheres procuram médicos que são notadamente cesaristas e depois têm uma cesariana, essas mulheres também são responsáveis por suas escolhas. Não se pode vitimizar totalmente a mulher e achar que ela não é responsável pelas coisas que escolhe. Mulheres não são criancinhas, mulheres são competentes para fazer essas escolhas, mas, para isso, elas precisam ter informação. E as informações, hoje em dia, estão razoavelmente acessíveis para aquelas mulheres que têm a possibilidade de acessar a internet. A nossa taxa de cesariana no setor da classe média por exemplo, no setor dos convênios, chamada saúde complementar, ultrapassa 85%. Mulheres que tem capacidade econômica de pagar um plano de saúde como tantos que existem por aí, normalmente têm a possibilidade de ter um computador em casa. Se elas têm um computador em casa, elas podem digitar facilmente “parto humanizado”, “médicos humanizados”, “humanização do Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 26Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação cirurgia que nós sabemos que é prejudicial para as mães e bebês. Otávio - Fiquei pensando, quando você falou dessa questão do sistema: O que você acredita que seria importante da gente aprimorar no sistema obstétrico brasileiro pra que a humanização conseguisse chegar em mais pessoas? Ricardo - Eu acho que a gente pode fazer, em curto prazo, é formar mais enfermeiras obstetras, incrementar essa produção de novas enfermeiras obstetras, para que elas possam inundar o mercado. Porque as enfermeiras obstetras são as especialistas em parto normal. O modelo europeu, que é o modelo que produz os melhores resultados, é todo calcado no trabalho da enfermeira obstetra para o atendimento do parto normal. No Brasil temos um modelo que é importado dos Estados Unidos que é um fracasso. É um fracasso nos Estados Unidos, que é rico, e é um fracasso no Brasil, que é um país ainda em desenvolvimento. Portanto, pedir que médicos, que são durante vários anos da formação médica, mas também na pós-graduação, nas residências de ginecologia e obstetrícia, treinados para o chamado: Sábados, Domingos; feriados; madrugadas; horário de consultório; isso também faz com que muitos médicos desistam de ficar disponíveis para suas pacientes e realizem apenas a cesariana. Porque o médico não quer estar 100% do seu tempo disponível para suas clientes. Isso é muito ruim para prática médica, isso é muito ruim para as mães, e muito ruim para os bebês. Porque produz uma taxa absurda de cesarianas e provocam muitos malefícios: não só em curto prazo, como aumento da morbidade e mortalidade neonatal e materna. Em longo prazo, também, se levarmos em consideração os problemas advindos da cesariana na amamentação, que vai ser um pouco prejudicada,e no desenvolvimento dessa criança, que não vai ter o contato fundamental na primeira hora de vida, chamada “hora dourada”, que é a hora que Klaus e Kennell descreviam como a mais importante para o estabelecimento de vínculo. Portanto, nós precisamos sim, questionar de uma forma muito intensa esse abuso de cesarianas, principalmente na saúde suplementar, e estabelecer algumas regras para que não seja tão fácil e sem nenhum entrave, a realização de uma grande Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 27Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Otávio - Seria maravilhoso tudo isso. Ricardo, o que você diria para essa gestante que está buscando mais informação sobre a humanização e está querendo saber mais sobre o assunto? O que você diria para incentivar essa gestante? Para procurar uma doula em sua cidade? Buscar uma equipe de humanização do nascimento? O que você diria? Otávio - Eu diria para essa mulher: Lute bravamente contra a alienação que frequentemente é proposta a ela pelo sistema. Informe-se. Apodere-se do seu parto para poder se empoderar. O parto tem que ser seu. Ele não é um serviço que alguém vai fazer para você. É um serviço que você vai fazer com a ajuda de outras pessoas. Procure outras mulheres que estão grávidas, reúnam-se em clubes de mães, em clubes da prefeitura, nas escolas, nas creches, na igreja. Encontre outras mulheres grávidas e façam grupos, troquem ideias, tentem encontrar doulas ou atendimento de patologia, e bem treinados no atendimento de patologia, ofereçam para essas pessoas um atendimento na fisiologia não me parece uma coisa muito adequada. Seria muito mais interessante reforçarmos o surgimento de enfermeiras obstétricas, entregar a elas o atendimento ao parto normal, fazer com que os médicos fiquem muito afeitos ao atendimento das patologias e das cesarianas e das cirurgias e também trazer um número muito grande de doulas, para o atendimento, tanto no serviço do SUS quanto no privado. Portanto, esses caminhos são interessantes. Em outra perspectiva, é importante reforçar a criação de casas de parto, a exemplo do que acontece em tantos lugares no mundo e são lugares que oferecem uma qualidade superior de atendimento ao parto de baixo risco, ao parto eutócico, de risco habitual. tPorque são lugares em que a gente pode conjugar o apuro técnico, a presença de profissionais bem treinados e um ambiente muito semelhante a casa da pessoa. E, portanto, isso oferece à mulher que estar parindo uma sensação de aconchego que os hospitais, que são lugares preparados para atender pessoas doentes, não conseguem oferecer. É importante reforçar a criação de casas de parto, a exemplo do que acontece em tantos lugares no mundo e são lugares que oferecem uma qualidade superior de atendimento ao parto de baixo risco. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 28Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação falam dessa revolução silenciosa que está acontecendo, de partos mais seguros e de partos mais dignos. Essa é a tarefa das mulheres. As mulheres não podem esperar que os médicos se modifiquem para oferecer esse serviço a elas. Não! As mulheres têm de pressionar a comunidade médica e a comunidade das enfermeiras e das doulas para que esse serviço aconteça na sua cidade, no seu hospital, na sua comunidade. Parto humanizado não é um direito reservado apenas às mulheres que podem pagar. É um direito humano, básico e essencial que tem que existir em qualquer hospital do SUS, em qualquer maternidade, em qualquer parte desse país. Isso é um direito básico de todas as mulheres, mas direito, a gente não ganha, a gente conquista. E as mulheres, enquanto grupo, precisam se unir, para exigir das autoridades que o parto humanizado seja oferecido a cada uma delas nos hospitais desse país. Otávio - Eu vou dar meu breve relato, porque eu lembro muito bem desse episódio e minha esposa lembra mais ainda. Foi a primeira vez que a gente fez uma consulta contigo, Ricardo. Eu lembro que sentamos na sua frente, no seu consultório, educadoras perinatais nas suas cidades para fazer encontros de mulheres, para poderem tratar desse assunto. Comprem livros sobre a humanização do nascimento, existem muitos livros e em português hoje em dia, que oferecem informação de qualidade para as mulheres. E não são simplesmente coleções de patologias médicas que você deve tomar cuidado. Não. É muito mais que isso! É como deve ser sua atitude diante do parto! A sua atitude diante da gestação com um todo! Tente encontrar na sua cidade, profissionais que realmente respeitem aquilo que você deseja, que é um parto mais fisiológico, mais natural e mais seguro, que é o parto natural. Se afaste de médicos que proponham desde o início cesarianas. Afastem-se de médicos que dizem que fazem parto normal, mas quando você vai avaliá-lo, no hospital, descobre que ele só faz cesarianas. Se você quer um parto normal, desde o início selecione um médico que tenha a ver ou que tenha sintonia com seus desejos suas ideias e suas vontades. Junte-se a outras pessoas, procure sites na internet que falem de parto normal. Entre em comunidades da internet, do facebook, que falam do parto normal. Tente se aproximar de pessoas que Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com Parto Humanizado x Violência Obstétrica - Pág. 29Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Essas ideias não pertencem a ninguém, são de todos nós. Nós somos semeadores, ficamos jogando sementes para ver onde poderão florescer da melhor maneira possível. E eu fico muito grato em ter essas oportunidades, em que a gente pode falar para muitas pessoas ao mesmo tempo, mesmo que não seja um contato muito direto. Pelo menos, temos a possibilidade de plantar uma sementinha. E, quem sabe, possa florescer um parto digno e respeitoso para essas mulheres. Otávio - Maravilha. Ricardo, um abração! Gente, um abração! Até mais! estávamos buscando informações sobre a humanização do nascimento, sobre o parto humanizado e queríamos fazer um parto humanizado, queríamos que a nossa filha nascesse dessa forma. E eu lembro que a primeira pergunta, a minha esposa, foi: “Como que tu queres o teu parto?”. E isso foi muito marcante para ela, ela sempre comenta disso. E eu também registrei isso, que é justamente a evolução do protagonismo. “Como tu desejas que seja seu parto? Se eu puder te ajudar, eu vou te ajudar”, foi assim que a gente sentiu. Isso foi realmente transformador pra gente. Então, Ricardo, nossa, imensa gratidão por todas essas informações maravilhosas. Eu tenho certeza que todas as mulheres que estão te assistindo aqui agora, vão sair mexidas com esse sacode dado por ti. Então, muito grato. Ricardo - Eu só tenho a agradecer a oportunidade de mais uma vez estar participando desse congresso virtual. Eu fico muito feliz a cada vez que nós temos a possibilidade de disseminar essas ideias. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 30 Erica de Paula A Importância da Doula na Gestação e no Parto ... Otávio - Na palestra de hoje, a gente está com uma pessoa especial, que tem uma grande influência em todo o movimento de humanização do parto que a gente vê aqui no país, que é a Érica de Paula. Ela é psicóloga, doula, educadora perinatal e coautora de um filme fantástico, que realmente mudou a minha perspectiva e a minha vida em relação à humanização do nascimento. Esse documentário é o Renascimento do Parto. Para quem não viu, recomendo muito que assista. Érica, muito legal ter a sua presença no Nascer Melhor 2. Estou feliz de poder levar toda a sua bagagem, seus conhecimentos a muitas mulheresque estão participando do congresso. No nosso bate-papo, eu queria que a gente conversasse sobre a importância, o papel e as funções que a doula exerce. Na minha Psicóloga, doula, educadora perinatal e acupunturista. Reconhecida nacionalmente pela autoria, produção, roteiro e pesquisa do documentário “O Renascimento do Parto”, que retrata a grave situação obstétrica brasileira. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 31Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação 1/4 das mulheres se percebem vítimas de violência obstétrica no momento do parto. E esse número é, provavelmente, subestimado, porque muitas mulheres não sabem que alguns procedimentos que elas sofreram são violência obstétrica e consideraram que aquilo era uma assistência padrão. Junto com isso, tem um terceiro estudo que é sempre bom mencionar, de que 80% das mulheres, no início da gestação, querem ter parto normal. Elas são desencorajadas ao longo da gestação, tanto pelos profissionais que a atendem durante o pré- natal, quanto pela sociedade, por conta desses diversos mitos que existem a respeito do parto, e, no final das contas, acabam mudando de ideia. E as poucas que continuam querendo parto normal, no fim, acabam não conseguindo. Então, a presença da figura da doula nesse momento, tanto durante a gestação quanto no parto, acaba sendo ainda mais experiência, quando minha filha nasceu, foi maravilhoso ter uma doula. Achei fantástico o que a doula faz durante o trabalho de parto. Então, queria que você falasse um pouco para gente: qual a verdadeira importância, a real importância que a doula tem para a mulher nesse momento tão significativo na vida dela? Érica - Sempre que a gente vai falar de função da doula, eu gosto de começar contextualizando um pouquinho sobre a realidade obstétrica do Brasil. Inclusive, na realidade obstétrica que nós temos, a função da doula é ainda mais importante, porque reúne a função da mulher que cuida, que é a tradução do nome doula, em grego, com a mulher ativista. O Brasil é o país campeão mundial em cesarianas. A gente ultrapassou 56% no índice geral e, em boa parte dos hospitais privados, esse número chega em mais de 90%, sendo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que seja de, no máximo, 15%. Além dessa questão do excesso de cesarianas, a gente tem também um problema gravíssimo, que é o da violência obstétrica. Algumas pesquisas mostram que até pelo menos Na realidade obstétrica que nós temos, a função da doula é ainda mais importante, porque reúne a função da mulher que cuida, que é a tradução do nome doula, em grego, com a mulher ativista. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 32Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Então, a figura da doula como profissão acabou substituindo essas mulheres que existiam com mais facilidade antigamente, para acompanhar a parturiente durante o momento do trabalho de parto. Então, na profissionalização desse trabalho, a doula exerce um papel de educadora perinatal. Ela é a mulher que vai dar informação para essa gestante, como se fosse uma consultoria para que essa gestante faça escolhas, desde escolhas como qual equipe vai se adequar mais à expectativa que ela tem, qual hospital vai ser o mais adequado. Ou, se ela quer saber sobre os locais em que ela pode parir, a gente vai explicar sobre os hospitais, qual é a rotina de cada um, a burocracia de cada um. Se existem casas de parto, como são os partos domiciliares, como que cada equipe e profissional lidam com cada assunto, porque a gente acaba ganhando experiência com a realidade local. Então, é um trabalho de consultoria ao longo da gestação. De tirar dúvidas, de enviar material de leitura, de emprestar DVDs, de conversar com avó, marido, convence-los de alguma coisa que eles ainda não ‘engoliram’ direito, não entenderam a importância. importante nesse contexto brasileiro que a gente vive. Qual é a função da doula? É uma função múltipla. Começa durante a gestação: doula vem do grego e significa ‘mulher que serve’. A função de doula, atualmente, é vista como uma ocupação, e a gente está buscando que ela seja uma profissão. É uma figura que existe desde que o mundo é mundo. As mulheres, sempre que iam parir seus filhos, tinham a presença de uma amiga, uma irmã, alguém da família, uma vizinha, uma comadre, que a acompanhava naquele momento, e que estava ali para cuidar dela, que era independente da figura da parteira. Antigamente, havia as parteiras, que aparavam os bebês, e as pessoas ao redor cuidavam daquela mulher. Antigamente, essa vida em rede, em sociedade, era mais comum. A gente brinca que, para criar um filho, é preciso uma aldeia inteira. As mulheres eram mais unidas, mais conectadas. Hoje em dia, com esse mundo moderno, todo mundo trabalhando fora, isso ficou um pouco mais inviável. A gente não sabe quem são nossos vizinhos, às vezes tem poucos amigos pessoais com quem contar e todo mundo muito ocupado com seus afazeres. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 33Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação A gente brinca que, na hora da dor, é muito fácil você querer um atalho, uma analgesia, uma cesariana. Eu falo muito para as minhas gestantes durante o trabalho de parto: “tenta lembrar o motivo que te fez escolher esse tipo de parto durante a gestação. Você sabe que estudou isso, você sabe que existem motivos, benefícios para essa escolha”. Porque, na hora da dor, a gente quer apenas resolver essa dor. Então, esse trabalho de informação durante a gestação é muito importante, tanto para a gestante quanto para os companheiros, para a família. Porque, às vezes, ele envolve a troca de profissionais da equipe, troca de médico... Um plano de parto pode ser algo mirabolante para conseguir atender a expectativa daquela mulher. É importante ter um plano A, um plano B e um plano C para que a gestante não fique descoberta em nenhuma hipótese, para que essa gestante tenha uma assistência legal, respeitosa e humanizada de qualquer forma, para qualquer via de parto que acabar acontecendo. Ainda que seja uma cesariana, a gente vai construir com essa mulher um plano de parto, que não necessariamente precisa ser por escrito. Existem pessoas que querem fazer planos de parto por escrito, tudo direitinho com as expectativas, mas ele Otávio - Érica, esse papel informacional inicial parece muito importante. Esse contato que a doula tem com a gestante antes do trabalho de parto, com todas essas informações que ela traz, parece ser fundamental. Como você vê isso? Érica - É metade do caminho, talvez até mais, para esse acompanhamento no trabalho de parto. Às vezes, alguma gestante me contrata em cima da hora. Eu já cheguei a conhecer gestantes no dia do parto. Mas ela teve metade da doula que poderia ter tido. Vou falar sobre o acompanhamento da doula no trabalho de parto, que é muito importante. Mas o acompanhamento na gestação talvez seja mais importante ainda, porque é o momento que a gente tem para preparar essa mulher. Para empoderar - termo que a gente usa muito - essa mulher com informação para que ela possa saber onde está pisando, saber exatamente o motivo de cada escolha que ela fez. Isso, na hora do parto, vai fazer muita diferença. É essencial que a gestante possa ter a perspectiva do porquê ela escolheu isso. É importante ter um plano A, um plano B e um plano C para que a gestante não fique descoberta em nenhuma hipótese. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 34Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Érica - Muito frequentemente.Recentemente, atendi a uma gestante que chegou com o relato de que tipo de parto ela gostaria, e qual era o plano dela para conseguir esse parto. Mas tanto o profissional quanto o hospital escolhido, a gente já sabia, provavelmente não atenderiam às expectativas dela. Mas é nosso papel permitir que ela descubra isso sozinha, também. Acho que a doula não tem que ter o papel de ser uma tutora, de fazer nenhum tipo de escolha pela mulher. Ela dá algumas ferramentas para que essa mulher descubra sozinha que aquele profissional, aquele hospital, aquele plano que ela está tendo, não vai atender às suas expectativas. A gente fala: “olha, faz essas perguntas para o seu médico. Vê o que ele vai te responder”, ou, então: “conversa com a secretária para ver como normalmente é a rotina do consultório. Se ele desmarca muito para atender parto ou não. Conversa com as gestantes que estão na salinha de espera do consultório, pergunte que tipo de parto elas tiveram, ouça os relatos”. Então, a gente vai tentando dar ferramentas para que essa mulher se empodere sozinha. Não é papel da doula fazer escolhas pela gestante. Isso é muito importante. pode ser combinado verbalmente também. Em primeiro lugar, tem de haver essa explicação sobre quais são as intervenções que existem durante o trabalho de parto. Quais não são legais, quais a mulher deveria recusar, e explicar o porquê de tudo, também de quais procedimentos não são feitos de rotina, mas podem ser necessários. Aí, a gente explica quais as indicações, vai traduzindo um pouco esses jargões, esses termos técnicos, para uma linguagem acessível a um público leigo, como as gestantes normalmente são. A doula faz também esse trabalho de tradução dos artigos científicos, do que está sendo falado. As doulas devem, de preferência, frequentar os congressos e estar sempre em dia com as informações produzidas pela medicina baseada em evidências para poder trazer essas questões um pouquinho para a realidade dessas grávidas, para embasar melhor as escolhas que elas fazem. Otávio - Pode acontecer, Érica, nesse papel informacional que a doula exerce com a gestante, de a própria gestante começar a se dar conta de muitas coisas que ela não se dava, e resolver trocar de obstetra? Aconteceu, ou acontece isso? Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 35Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação Por isso essa função da doula como educadora perinatal é, às vezes, mais importante que o acompanhamento do parto em si. A gente vai traçar com essa gestante um planejamento para que ela possa, na hora do parto, confiar naquele profissional, para que, nesse momento, ela não tenha que brigar para ter suas escolhas respeitadas. Parto é o momento de você se entregar e vivenciar o que você escolheu, não é para brigar. Se tiver que brigar, se for a única opção, então vamos brigar, mas a ideia não é essa. Existem pesquisas que mostram que o trabalho da doula diminui a necessidade do uso de analgesia durante o parto. A gente tem técnicas de alivio não farmacológicos de dor que vão auxiliar essa gestante a não precisar de analgesia. O fato da doula estar ali, estimulando a livre deambulação, dando sugestões, às vezes, de modificação de posição, ajudando no alívio de dor, vai diminuir também a chance dessa gestante precisar de ocitocina. São partos que, em geral, são até mais rápidos. Até mesmo pela função que a gente tem também de acompanhar a gestante um pouco mais desde o início. Muitas vezes, o Otávio - Legal. Eu quero que a gente consiga pontuar algumas coisas, como: em que a doula ajuda a gestante? Quais coisas a doula pode ajudar a gestante a evitar? Érica - Em primeiro lugar, esse papel de oferecer informações para a gestante ao longo do pré- natal vai fazer com que sejam evitadas muitas intervenções desnecessárias, ou até mesmo uma cesariana desnecessária. Mas isso deve ser feito, de preferência, durante a gestação. Algo que muitas gestantes dizem quando me procuram é: “eu quero te contratar porque, na hora do parto, se o médico quiser fazer alguma coisa que não for legal, uma cesariana e etc., você vai me dizer que aquilo está errado.” Algumas pessoas acham que, na hora do parto, a doula vai brigar com o profissional, com o médico, questionar alguma conduta. Esse é um erro muito comum de acontecer. Isso não é legal, não é a função da doula. Isso deve ser feito durante o pré-natal. Existem pesquisas que mostram que o trabalho da doula diminui a necessidade do uso de analgesia durante o parto. Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 36Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação um parto ou não. A gente precisa, obrigatoriamente, que tenha uma pessoa treinada em reanimação neonatal para atender ao bebê se ele precisar de cuidados. Esse profissional pode ser uma enfermeira obstetra, uma enfermeira neonatal, ou um médico pediatra. Esse é um tema bastante polêmico, né? Mas, em geral, nos hospitais, o que vamos ter é um pediatra. E, numa situação normal de parto, esse pediatra vai apenas prestar os primeiros cuidados ao bebê junto à equipe de enfermagem: pesar, medir, fazer alguns testes rápidos. Em uma situação de emergência, ele vai reanimar esse bebê e fazer o que for necessário. Teremos ainda o anestesista profissional, que vai dar a anestesia, se for necessário, seja num parto normal ou numa cesariana. Há as enfermeiras obstetras, que são enfermeiras que fizeram uma especialização na área de obstetrícia, e são legalmente habilitadas para atender partos de baixo risco – tanto em domicílio quanto nos hospitais. Há pouco tempo foi formalizado que as enfermeiras tem respaldo legal para atender partos em hospitais também. Há, também, as obstetrizes, que são profissionais de entrada direta. São equivalentes às enfermeiras obstetras e também profissional médico começa o acompanhamento num estágio mais avançado do trabalho de parto. Então, estar ali com a doula apoiando desde o início, traz uma tranquilidade para a gestante e vai evitar uma intervenção precoce no hospital. A internação precoce no hospital é a causa de muitos problemas. Pode causar tanto intervenções quanto cesarianas. É aí que o relógio começa a correr, aquele profissional de saúde começa a querer intervir para o parto acontecer mais rapidamente, porque a gestante está ali há muito mais tempo do que ela deveria estar. Então, entre outras coisas, essas são algumas das funções da doula, nesse sentido de evitar intervenções ou uma cesariana. Otávio - O que a doula não pode fazer? Você pode explicar de uma forma simples, para que as pessoas possam entender, até onde vai o papel da doula? Onde que começa o papel da obstetriz, ou da parteira, da enfermeira obstetra. E o papel o médico obstetra? Qual é esse limiar entre os papéis de cada um da equipe? Érica - Vamos falar um pouquinho, rapidamente, de cada profissional que compõe uma equipe. A gente vai ter: o profissional pediatra – que é o neonatologista, que pode estar presente em Licenciado para Ingrid Thaís Beltrame Botelho - 84609257904 - Protegido por Eduzz.com A Importância da Doula na Gestação e no Parto - Pág. 37Nascer Melhor 2 (vol. 1) - Gestação que você quer tirar? Alguma coisa que você não entendeu, que o médico falou?”. Fazer uma massagem, sugerir uma posição, estar ali dando a mão. Estar ali, presente. A gente fala que a doula é uma profissional de suporte contínuo, que passa o tempo todo ao lado da gestante. Os outros profissionais têm o momento certo de atuar. O médico, a enfermeira obstetra, não vão ficar o tempo todo com a grávida. Eles vão chegar, provavelmente, num trabalho de parto um pouco mais avançado, ou em franco trabalho de parto, como a gente fala. Eles vão escutar o coraçãozinho do