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Literatura Portuguesa II Aula 03: A poesia realista Tópico 01: A renovação proposta pela geração de 70 VERSÃO TEXTUAL As discussões sobre a situação de descompasso de Portugal ante os países mais avançados – em termos econômicos, científicos e industriais – da Europa foram constantes nos extratos letrados da sociedade portuguesa nas últimas décadas do século XIX. Podem ser encontradas, segundo Menezes (2010, p.43), em “documentos de Estado, na literatura, nos trabalhos de cunho científico, nas polêmicas, na imprensa, nas discussões das associações e instituições culturais, no campo da educação etc. Muitas foram as causas para esse “atraso” entre a maioria dos países europeus em oposição a Portugal (e Espanha), mas pode-se citar, dentre outras, a modernização política disseminada pelos ideais da revolução francesa, que resultaram em movimentos de consolidação do liberalismo, novo dinamismo na filosofia – especialmente após a afirmação do Iluminismo e do idealismo alemão –, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, exemplificado na expansão da malha ferroviária, no desenvolvimento de novas máquinas e inventos, nas conquistas das ciências naturais e, principalmente, no avanço da economia capitalista consolidando um cotidiano cada vez mais urbano e fabril. Esse desenvolvimento diversificado não se realizou em Portugal que permaneceu amarrado à tradição católica e fidalga voltada sobre si mesma. A despeito das críticas de setores laicos do liberalismo luso, ainda pouco independente, o catolicismo desempenhava um papel central na cultura nacional, apoiado pela maioria de sua elite política e intelectual, o que impedia a disseminação das novas ideias e alimentava o marasmo e a inércia cultural. Portugal estava distante da vanguarda cultural e da modernidade. André Nunes de Azevedo (2005), no artigo “As idéias de decadência e regeneração no ideário político de Antero de Quental”, assim resume a situação econômica e cultural do país: A organização produtiva do país apresentava uma economia de base agrícola e comercial, revelando um capitalismo de frágil base no campo da produção, postado, cada vez, mais na especulação financeira. A sociedade lusitana era eminentemente rural, prevalecendo o pequeno camponês como agente preponderante. Nas grandes cidades, que apresentaram forte ritmo de crescimento 78