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Princípios básicos do behaviorismo Prof.º Vitor Hugo Costa Descrição Os princípios teóricos básicos do behaviorismo, do paradigma respondente ao operante, e observações do cotidiano. Propósito Compreender os princípios básicos que norteiam o behaviorismo, tanto no que diz respeito ao paradigma respondente quanto ao paradigma operante, é fundamental para que o psicólogo possa observar esses mesmos princípios se manifestarem na vida cotidiana. Objetivos Módulo 1 Paradigma respondente Analisar o histórico de desenvolvimento do behaviorismo a partir da manifestação do paradigma respondente no comportamento humano. Módulo 2 Paradigma operante Reconhecer o paradigma operante no comportamento humano e as mudanças provocadas no ambiente. Introdução O behaviorismo é uma das abordagens psicológicas e tem por objetivo analisar, quantificar e controlar o comportamento de humanos e animais a partir do método científico. Talvez o termo controlar gere estranheza em muitas pessoas e deixe no ar a pergunta: Será que o behaviorismo quer transformar as pessoas em robôs? Por isso, o propósito deste conteúdo é apresentar o behaviorismo com todos os seus conceitos e paradigmas, desmistificando muitos preconceitos sobre essa abordagem e demonstrando o quão importante ele foi ao longo do último século e o quanto ainda pode ser útil. 1 - Paradigma respondente Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o histórico de desenvolvimento do behaviorismo a partir da manifestação do paradigma respondente no comportamento humano. Conceitos behavioristas Como explicar a natureza das ações humanas? Desde os tempos mais remotos, os filósofos clássicos buscam a compreensão das ações humanas para entender não somente por que as pessoas desempenham os comportamentos simples de sobrevivência, como outros animais, mas também os comportamentos complexos que revelam as vontades que impulsionam planejamentos e atitudes para chegar a determinado ponto ou se desenvolver como indivíduo único. Por muitos séculos, a ideia de que uma força motriz de base metafísica seria suficiente para explicar tais características foi dominante para as explicações acerca da natureza humana e de suas ações. Com o desenvolvimento do método científico, os argumentos filosóficos que usavam a metafísica para explicar os fenômenos da natureza foram paulatinamente perdendo sua proeminência frente aos avanços e às descobertas nas áreas da Física, Química, Astronomia e Biologia. Mas e as ações humanas? Elas ainda só poderiam ser explicadas como consequência das relações com determinado substrato metafísico? Como analisar cientificamente características tão subjetivas quanto as ações humanas? Vejamos as respostas para essas perguntas na sequência. Estudiosos do comportamento Apesar de algumas tentativas de estabelecer a Psicologia como mais um campo de estudo científico, os estudiosos sempre acabavam esbarrando em algum problema paradigmático que inviabilizava tal adaptação. O filósofo e psicólogo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920), por exemplo, foi muito bem-sucedido com seu Laboratório de Psicologia Experimental, em Leipzig, elaborando importantes estudos em um movimento que ficou conhecido como escola estruturalista. Ainda que trouxessem muitas contribuições para a criação de uma psicologia científica, os estruturalistas não deixaram de receber críticas por eleger objeto de estudo e método de análise vulneráveis à experiência subjetiva do pesquisador. Se, para o método científico, parte-se do princípio de que o fenômeno observado pode ser analisado para obter generalizações provisórias, mas replicáveis, como seria possível chegar a regras seguras e replicáveis se o objeto da psicologia estruturalista eram as experiências conscientes, e o método era a introspecção? Ao final do século XIX, importantes estudiosos, como Edward L. Thorndike (1874-1949) e John B. Watson (1878-1958), resolveram estudar o comportamento. Thorndike estudava gatos e seus padrões de comportamentos para solucionar um problema específico de como sair de uma caixa previamente construída, para que o animal, colocado dentro da caixa, pudesse escapar apenas se pressionasse uma barra ou puxasse uma alavanca, o que fazia com que a corda presa à porta levantasse um peso, abrindo-a. O estudioso calculava o tempo necessário para que o gato chegasse a uma resposta adequada e o recompensava. Thorndike, então, percebeu que, após o animal acidentalmente pressionar a barra ou puxar a alavanca, nas vezes seguintes em que o gato era posto na caixa, o tempo da resposta correta diminuía de forma progressiva. Assim, Thorndike chegou a reproduzir uma curva de aprendizado que poderia ser observada não só no estudo com gatos, mas com diversos outros animais. A partir desse experimento, o estudioso elaborou a Lei do efeito, sobre a qual discutiremos melhor mais adiante. Na mesma época, Watson esboçava seus primeiros trabalhos sobre o comportamento. Ele era crítico da escola estruturalista, pois defendia que o estudo da experiência consciente era falho, já que um estudo objetivo da mente seria impossível. Para ele, era mais importante se concentrar diretamente no comportamento observável e tentar controlá-lo. Portanto, Watson foi um dos principais defensores da mudança do objeto de estudo da Psicologia, da mente para o comportamento, uma vez que este pode ser observado, controlado, quantificado, e seus experimentos, replicados. Saiba mais Watson também é conhecido como o pai do behaviorismo, já que o início da utilização do termo foi com a publicação de seu trabalho, em 1913, Psychology as the behaviorist views it ou Psicologia como um comportamentista a vê, na tradução em português. Os estudos de Watson foram muito influenciados pelos trabalhos sobre comportamentos reflexos do fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936). Os estudos experimentais sobre comportamento aprendido de Watson eram realizados com animais, mas o próprio psicólogo deixava claro que esse era um modelo experimental que poderia ser replicado inclusive em humanos. Trinta anos depois da criação da escola behaviorista por Watson, outro proeminente estudioso, Burrhus F. Skinner (1904-1990), trouxe uma grande contribuição ao estudo do comportamento, apresentando a teoria sobre a modelagem de comportamentos complexos e postulando o behaviorismo radical, o qual também será abordado melhor em breve. O behaviorismo foi a proposta para uma psicologia científica mais bem aceita, ao menos até meados do século XX, que dominou o cenário acadêmico por décadas, principalmente no campo da psicologia experimental. Os behavioristas têm como pressuposto analisar as ações emitidas pelos organismos, cujo objetivo é promover o estudo científico do comportamento de organismos individuais, de animais ou pessoas. Aqui, vamos entender melhor os conceitos introdutórios sobre o behaviorismo, tais como sua definição, suas vertentes de pensamento e suas aplicações teóricas e práticas. Breve histórico A seguir, veja um breve histórico sobre os primeiros autores que influenciaram o estudo do comportamento: Edward L. Thorndike (1874-1949) Thorndike era interessado em estudar a inteligência humana e foi aluno de James M. Cattell (1860-1944). Observando como gatos e outros animais faziam para resolver problemas para obter consequências agradáveis, deu um importante pontapé para uma primeira teoria da aprendizagem, criando, assim, a Lei do efeito, que diz que: se um comportamento for seguido de satisfação, será fortalecido, mas se for seguido de castigo, será enfraquecido. Ivan Pavlov (1849-1936) Pavolv, importante fisiologista russo, estudava o papel das enzimas digestivas, mais especificamente a liberação de saliva na presença de comida em cachorros. Com isso, observou que comportamentos reflexos poderiam ser produzidos a partir da associação de estímulos com respostas reflexas. Condicionamento clássico É um conceito relacionadoà aprendizagem animal de novos comportamentos a partir da associação com comportamentos reflexos previamente apresentados. John B. Watson (1878-1958) Watson foi pioneiro e criador da escola behaviorista. Foi quem defendeu pela primeira vez que a Psicologia deveria ser a ciência do comportamento observável. Além disso, desenvolveu importantes pesquisas sobre o processo de condicionamento clássico e demonstrou a importância disso para entendermos o aprendizado de padrões de respostas emocionais, como, por exemplo, o medo. S→R Watson postulou a relação entre estímulo e resposta, ou seja, uma alteração no ambiente (estímulo) gera uma alteração no organismo (resposta). Burrhus F. Skinner (1904-1990) Dedicou-se a analisar comportamentos complexos. Para ele, nem todos os comportamentos do cotidiano poderiam ser explicados por respostas reflexas. Trouxe grandes contribuições ao behaviorismo com suas teorias de reforço, punição e modelagem do comportamento. R→S Skinner não desconsiderou a obra de Watson, mas a complementou com a teoria de condicionamento operante, a qual postula que uma mudança no organismo (resposta) gera uma mudança no ambiente (estímulo) que aumentará ou diminuirá a chance de o organismo repetir aquela resposta inicial. Classes de comportamentos Re�exo inato e re�exo aprendido Imagine que uma pessoa pediu uma belíssima torta de limão que está exposta na lanchonete que tanto ama. O atendente lhe serve a torta. Ansiosamente, o cliente se encaminha para a mesa mais próxima, senta-se, pega o garfo, retira um generoso pedaço do recheio repleto de raspas de limão e o leva à boca. No entanto, nesse dia, o cozinheiro errou a receita ao adicionar uma proporção de limão muito maior que a necessária, deixando o belo doce extremamente ácido. Tente imaginar o que a pessoa da história sentiu. Assim como a personagem, provavelmente, você já experimentou essa sensação de formigamento incômoda, que, às vezes, até pode ser levemente dolorosa. Isso nada mais é do que uma resposta automática do organismo para que as glândulas salivares aumentem consideravelmente e em pouco tempo a produção de saliva para facilitar o processo de digestão do alimento. Exame do reflexo patelar. Assim como a ativação rápida das glândulas salivares, existem diversos outros mecanismos de resposta do organismo a mudanças do ambiente. Por exemplo, o reflexo patelar, o qual pode ser demonstrado quando um leve golpe é dado no tendão patelar, fazendo com que os músculos da perna se contraiam, é outra situação bastante habitual. Temos também outros exemplos: quando um pequeno objeto entra no olho de uma pessoa, automaticamente, a produção de lágrima aumenta. Se uma pessoa encostar sua pele em uma superfície muito quente, de imediato irá afastá-la do contato com o meio. Assim, todos esses exemplos têm alguns fatores em comum: são respostas do organismo a uma mudança do ambiente, não necessariamente conscientes. E, então, surge o seguinte questionamento: o que há de especial nessas situações? Resposta A contração da perna diante do golpe no joelho, a dilatação da pupila em ambiente mais iluminado, o aumento da salivação ao se deparar com um alimento saboroso ou a sucção que o bebê realiza quando encontra o mamilo da mãe são exemplos de reflexos. De acordo com Moreira e Medeiros (2007, p. 18): “Reflexos não são apenas comportamentos, mas sim a relação entre estímulo e resposta”. Isso significa que, diante de determinado estímulo (mudança do ambiente), uma resposta relacionada (mudança no organismo) é eliciada. Assim, é esperado que um ambiente muito quente elicie na pessoa a resposta de suar, e não a de esticar a perna, por exemplo. Atenção! Para uma mudança no organismo, dá-se o termo resposta ou comportamento, enquanto estímulo é o termo usado para uma mudança do ambiente. O reflexo é uma relação causal entre estímulo e resposta. A equação dessa relação pode ser representada da seguinte maneira: Sn → Rn Determinado estímulo elicia uma resposta Quadro: Equação dos reflexos. Vitor Hugo Costa. Essa relação entre estímulo e resposta é de suma importância para a sobrevivência dos organismos. Como mencionado anteriormente, muitos desses reflexos são eliciados sem uma aprendizagem prévia. Isso ocorre porque cada organismo já nasce com um conjunto de comportamentos herdados ao longo de sua história filogenética, isto é, a história evolutiva de uma espécie. Isso explica por que filhotes de pássaros abrem o bico para receberem comida, mas não conseguem fazer movimento de sucção para mamarem das fêmeas adultas. A capacidade de eliciar comportamentos diante da apresentação de estímulos ambientais é importante para que o organismo se adapte e sobreviva àquele ambiente em que está inserido. Propriedades dos re�exos Pelo fato de haver uma relação causal entre estímulo e resposta, podemos observar algumas propriedades importantes para a compreensão dos reflexos (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). A primeira é a relação entre a intensidade do estímulo e da resposta: Quanto maior a intensidade do estímulo, maior será a intensidade da resposta. Por exemplo, se o golpe na patela for fraco, a contração muscular será proporcionalmente fraca, mas se o golpe for forte, a contração será maior. Outras propriedades são: Há sempre uma intensidade mínima de estímulo para que a resposta seja eliciada pelo organismo. Exemplo: somente a partir de uma intensidade, determinado barulho eliciará a resposta de fechar as pálpebras. É o tempo compreendido entre apresentar o estímulo e eliciar a resposta. Assim, quanto maior a intensidade do estímulo, menor será o tempo de latência. Exemplo: expor uma pessoa alérgica a um ambiente cujo ar contém pólen eliciará espirros a partir de um dado momento. Se a quantidade de pólen no ar do ambiente aumentar de forma drástica, a frequência dos espirros aumentará mais rapidamente. Quando um estímulo é apresentado muitas vezes, a ponto de reduzir a intensidade da resposta. Exemplo: depois de certo tempo em um ambiente malcheiroso, é possível perceber que o cheiro não incomoda mais e, muitas vezes, sequer é percebido. Quando um estímulo é apresentado muitas vezes a ponto de aumentar a intensidade da resposta. Lei do limiar Lei de latência Habituação Sensibilização Exemplo: determinado barulho bastante incômodo pode se tornar insuportável depois de algum tempo. Com base nas propriedades dos reflexos, é possível entender como um organismo consegue sobreviver em seu ambiente, já que possui um conjunto básico de comportamentos essenciais para interagir com o meio. No entanto, é fácil observar as diferenças de comportamentos de um bebê recém-nascido e uma pessoa adulta. Como essa mudança se torna possível? Novos reflexos são desenvolvidos ao longo do desenvolvimento? É nesse ponto que os estudos de Pavlov e Watson tornam claros o processo de aprendizagem. Vamos focar primeiro nos experimentos de Pavlov. Condicionamento clássico Observando os processos de salivação de seus cachorros, Pavlov apenas pretendia compreender melhor os reflexos de liberação de saliva e sua função ao longo do sistema digestório. No entanto, ele percebeu que, a partir de determinado momento, os cachorros já secretavam saliva antes mesmo que o alimento lhes fosse apresentado. Intrigado, o pesquisador elaborou um experimento em que associava um estímulo que seguramente eliciaria salivação com algo aleatório. Inicialmente, apresentava ao cão, previamente preparado com instrumentos de coleta de saliva, apenas o som do badalar de um sino. Esse estímulo não era capaz de eliciar o aumento da secreção de saliva. No entanto, em seguida, quando o pesquisador apresentava apenas comida, o cachorro aumentava consideravelmente a quantidade de saliva. A continuação do experimento se dava com Pavlov apresentando comida ao cachorro e badalando o sino numintervalo de tempo muito pequeno entre um e outro. Essa associação era repetida algumas vezes até que, num dado momento, bastava o pesquisador apresentar o som do sino e o cão já começava a salivar. Esse processo descrito anteriormente pode ser representado como no esquema a seguir: 1º Momento 1º Momento Sino → (Nenhuma saliva) Comida → Saliv Estímulo neutro Não há resposta esperada Estímulo incondicionado Inc 2º Momento 3º Momento Sino + Comida → Salivação Sino → Salivaç Estímulo neutro + incondicionado Resposta incondicionada Estímulo condicionado c Quadro: Condicionamento clássico de Pavlov. Vitor Hugo Costa. Nota: vale frisar que do 2º ao 3º momento são necessárias várias repetições desse mesmo pareamento, devendo esse número de repetições ser alterado conforme algumas variáveis, tais como as características do próprio organismo e o tempo entre a apresentação dos estímulos, por exemplo. Para se compreender todo o processo de condicionamento clássico de Pavlov, é necessário esclarecer alguns termos: É um estímulo que não possui relação com as respostas esperadas no organismo observado. No caso do cachorro de Pavlov, o som do sino provavelmente eliciou algumas respostas, tais como o redirecionamento do olhar e o movimento das orelhas. Todavia, inicialmente não era esperado que o badalar do sino eliciasse salivação. É aquele que elicia uma resposta automática ao organismo. Por consequência, a resposta incondicionada é aquela eliciada por um estímulo incondicionado. Estímulo neutro Estímulo incondicionado Estímulo condicionado É aquele que previamente era neutro e que passa a eliciar uma resposta condicionada. O emparelhamento de estímulo neutro com estímulo incondicionado repetido diversas vezes resulta no condicionamento de um novo comportamento. Psicologia do comportamento humano Neste vídeo, o especialista refletirá sobre a psicologia do comportamento a partir das principais contribuições dos primeiros autores que influenciaram o estudo do comportamento humano. Escola behaviorista de Watson Behaviorismo metodológico A partir dos estudos de Pavlov sobre o condicionamento respondente, Watson se aprofundou nessa área para criar as bases do behaviorismo metodológico. Sua principal contribuição foi analisar o processo de condicionamento respondente para diversos comportamentos e, principalmente, para a compreensão de respostas emocionais. Para Watson, o propósito do behaviorismo seria prever a resposta do organismo com base no estímulo ou, dada uma resposta, descobrir qual estímulo a causou (GRAHAM, 2010). Tal objetivo foi de grande importância para compreender as fobias, demonstrando que a resposta de medo é um comportamento aprendido. Behaviorismo metodológico Escola behaviorista proposta por Watson. O estudioso não negava a existência da mente, mas afirmava que esta não poderia ser estudada de forma objetiva e científica. Ele descartou de suas análises os eventos internos, como os pensamentos e as emoções, pautando seus estudos em observações e experimentações. Além disso, Watson entendia que o comportamento pode ser controlado e previsto, uma vez que só é necessário conhecer o estímulo e a resposta relacionada. Se o behaviorismo metodológico não se interessava em analisar eventos internos como as emoções, por que Watson estudava as respostas de medo? Essa é uma questão muito importante que, talvez, já tenha causado muita confusão. De fato, Watson não se interessava estritamente em variáveis internas, as quais não podia observar e controlar, como a natureza subjetiva do medo, as reações fisiológicas e as sensações do indivíduo. O que se analisavam eram os comportamentos externos apresentados pelo organismo diante do estímulo: chorar, cobrir os olhos, gritar, afastar-se do local etc. Por exemplo, para o estudioso, não era possível observar “a dor de barriga” ou “a tristeza”. Comentário Hoje em dia, sabemos que há todo um sistema interligado de fisiologia, comportamentos e cognições que coordenam uma resposta emocional, mas, na época de Watson, isso ainda era desconhecido. Por isso, o paradigma respondente ainda era muito importante e interessante para explicar respostas de ansiedade, trauma e fobia. Generalização respondente e extinção respondente Os casos de fobia ou estresse pós-traumático nada mais são do que eventos disparadores de grande carga de estresse e ansiedade que provocam diversos prejuízos à vida. Embora as reações fisiológicas associadas a essas condições sejam perfeitamente naturais ao indivíduo, isso não significa que as respostas disfuncionais tenham nascido com ele. Vamos pensar em uma situação Exemplo Imagine um motorista que não consegue mais dirigir seu veículo desde que sofreu um grave acidente. O carro poderia ser considerado o estímulo neutro, uma vez que não eliciava nenhuma resposta emocional negativa. Sofrer o acidente foi uma experiência intensa, em que a vida do motorista foi colocada em risco, gerando uma resposta de medo. Assim, o acidente poderia ser considerado o estímulo condicionado, e o medo, a resposta condicionada. O motorista aprendeu que dirigir um carro pode ser algo muito perigoso e colocar sua vida em risco. Então, o carro passa a ser estímulo condicionado, e o medo, a resposta condicionada. Dentre suas pesquisas mais famosas e mais criticadas, Watson demonstrou que poderia desenvolver resposta de medo em um bebê. Para provar que ele apresentaria uma resposta neutra ao estímulo ao qual queria treiná-lo para temer, apresentou ao pequeno Albert, de apenas 9 meses de idade, um papel em chamas, uma máscara de terror, um cachorro e um pequeno rato branco. Já que, em nenhuma dessas situações, a criança esboçou reação aversiva, todos os elementos poderiam ser considerados estímulos neutros. Watson voltou, então, a apresentar o rato branco à criança e, ao mesmo tempo, disparava um som estridente e alto que assustava o pequeno Albert. Repetiu essa associação várias vezes até que, em um dado momento, a simples aproximação do rato já eliciava o choro e os gritos da criança como resposta de medo. Com esse experimento, que, certamente, não seria aprovado em nenhum conselho de ética em pesquisa nos dias de hoje, Watson também demonstrou outros dois fenômenos: a generalização e a extinção (BISACCIONI; CARVALHO NETO, 2010). Depois de desenvolver um reflexo condicionado de medo ao rato, Watson avaliou a resposta do bebê a objetos felpudos. A simples semelhança de textura entre o rato e um coelho, um ursinho de pelúcia ou uma máscara do Papai Noel (com sua longa barba branca) fez com que Albert se afastasse, choramingasse ou tapasse o rosto com as mãos. Com isso, o experimento demonstrou que, após um processo de condicionamento, o organismo também pode eliciar uma resposta de intensidade variável para estímulos semelhantes ao condicionado. Esse processo é conhecido como generalização respondente. No entanto, para eliminar ou reduzir de modo considerável essa resposta de medo, Watson e seus pesquisadores precisariam apresentar o estímulo aversivo para a criança de forma sucessiva, sem a presença do estímulo incondicionado (barulho estridente), de tal forma que a intensidade do estímulo reduzisse proporcionalmente à diminuição da intensidade da resposta. Esse processo é conhecido como extinção respondente. Saiba mais No início do século XX – incluindo o período em que Watson realizava suas pesquisas –, havia uma forte corrente defensora da ideia de eugenia: estudo das características genéticas aplicadas para o melhoramento da espécie humana. Tal corrente viabilizou diversos discursos preconceituosos e absurdos que, obviamente, nunca se provaram verdadeiros. O trabalho de Watson seguia o caminho oposto, uma vez que, por meio do emprego do método científico e da aplicação prática dos conceitos, demonstrava que o desenvolvimento dos comportamentos humanos não dependia apenas da herança genética de cada indivíduo,mas sim das interações com o ambiente (CIRINO, 2013). Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os reflexos apresentam muitas propriedades diferentes e, uma delas, é a do limiar do estímulo, que pode ser definida como A a capacidade de se gerar associações comportamentais. B a intensidade mínima a partir da qual um dado estímulo elicia uma resposta. C medida inversamente proporcional à intensidade do estímulo que elicia a resposta. D consequência que aumenta as chances de uma resposta ocorrer novamente. Parabéns! A alternativa B está correta. Segundo a lei do limiar, todo reflexo depende de uma intensidade mínima do estímulo para que haja eliciação da resposta. Exemplo: para que a atenção de uma pessoa seja direcionada a um determinado som, é preciso que o estímulo sonoro seja gerado com uma frequência maior ou igual a 20Hz. Questão 2 O behaviorismo metodológico de John Watson preconiza que respostas emocionais, tais como o medo, são aprendidas ao longo da vida. Com base nessa afirmação e no que foi apresentado sobre o condicionamento respondente, leia o trecho a seguir e marque a alternativa correta. João trabalhava num escritório que ficava no 21º andar de um edifício comercial, o que o obrigava a usar o elevador todos os dias. Certa vez, o elevador parou no meio do caminho, suas luzes se apagaram e ele caiu três andares. João levou um susto terrível, pois pensou que fosse morrer. Algumas semanas depois, o evento traumático ocorreu novamente, mas, dessa vez, além da queda, o elevador lotado ficou completamente desligado por quase uma hora. Isso levou João a ter uma reação de medo ainda mais intenso. Depois do segundo evento, João percebeu que ao entrar num elevador sua respiração ficava mais ofegante, o coração batia mais rápido, suas mãos suavam, suas pernas ficavam mais fracas e ele não parava de pensar que algo de ruim iria acontecer. Com base no texto, responda: E quanto maior a intensidade do estímulo, maior será a magnitude da resposta. A O elevador é o estímulo incondicionado e as reações fisiológicas são o estímulo condicionado. B O medo que João sentiu é irracional, portanto, não participa do condicionamento. C As reações fisiológicas (sudorese, taquicardia, falta de ar e tremores nas extremidades) são o estímulo condicionado. Parabéns! A alternativa D está correta. No cenário descrito anteriormente, o elevador é o estímulo neutro, já que não é esperado gerar automática e naturalmente uma resposta de medo. Os acidentes, eventos traumáticos, aqui representando os estímulos incondicionados, disparam reações fisiológicas de medo (resposta incondicionada). Como todas as vezes que isso aconteceu João estava no elevador, então houve um emparelhamento, tornando o elevador um estímulo condicionado e, as reações fisiológicas, as respostas condicionadas. 2 - Paradigma operante Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o paradigma operante no comportamento humano e as mudanças provocadas no ambiente. Escola behaviorista de Skinner Vida e pesquisas do psicólogo O paradigma respondente até aqui abordado foi essencial para compreender a relação entre o organismo e o ambiente. Entender essa D O elevador é o estímulo neutro e as reações fisiológicas são a resposta incondicionada. E O medo é o estímulo condicionado e o elevador é o estímulo incondicionado. dinâmica permitiu aos psicólogos analisar e controlar comportamentos reflexos, inclusive quanto a padrões de respostas emocionais. Todavia, não é possível explicar comportamentos complexos, os quais participam, seguramente, da maior parte do repertório comportamental de um organismo. Por exemplo, quando uma partícula de poeira entra nos olhos de uma pessoa, por reflexo inato há o aumento da liberação de lágrimas. Como explicar, a partir dessa teoria, o aprendizado de como tocar um instrumento musical, praticar um esporte ou mesmo consumir de forma abusiva alimentos, substâncias químicas e jogos? Para explicar esses comportamentos, a teoria do condicionamento operante foi proposta e amplamente estudada pelo escritor e psicólogo Skinner como parte de uma ampliação da escola watsoniana do behaviorismo. Saiba mais Skinner foi um dos grandes nomes da Psicologia do século XX, trazendo contribuições de suma importância à análise do comportamento. Desde sua infância, ele demostrava duas paixões, dividindo seu tempo entre escrever poemas e crônicas, além de inventar ferramentas e dispositivos para resolver problemas diários ou simplesmente por diversão. Ambas as paixões foram muito úteis para ajudá-lo com as produções de trabalhos acadêmicos e pesquisas futuras. Skinner se mostrou um aluno rebelde durante boa parte de seu tempo na escola e acreditava que os métodos de ensino pouco encorajavam os alunos a aprimorar seus conhecimentos, tendendo a desmotivá-los da experiência de aprender. Ele se graduou na faculdade de Letras, mas não conseguiu um bom desempenho como escritor. Anos mais tarde, foram-lhe apresentadas as obras de Watson e Pavlov, e Skinner se encantou pelo estudo do comportamento animal, decidindo, portanto, seguir com um doutorado em Psicologia (CRUZ, 2019). Após seu doutorado, Skinner trabalhou como pesquisador na Universidade de Harvard, onde investigava cientificamente as relações entre o comportamento humano e sua fisiologia. Nesse período, desenvolveu seus principais instrumentos de pesquisa, como a “Caixa de Skinner”, e elaborou os conceitos de modelagem e controle do comportamento que definiram sua obra. Behaviorismo metodológico versus behaviorismo radical As pesquisas experimentais e observacionais de Skinner foram responsáveis por conceitos como: Condicionamento operante Modelagem Esquemas de reforçamento Caixa de Skinner Behaviorismo radical Skinner não considerava a teoria do behaviorismo metodológico de Watson equivocada, tampouco pretendia abandoná-la. No entanto, estabeleceu algumas críticas sobre a natureza dos eventos internos, a definição de comportamento, a existência de uma mente e a relação entre organismo e ambiente. Diferente de Watson, Skinner nega radicalmente a existência da mente, mas defende a análise de eventos internos, uma vez que pensamentos e emoções também são considerados por ele como comportamentos. Atenção! Assim, o behaviorismo de Skinner é tido como radical por negar em absoluto a existência de algo que não faz parte do mundo físico e não tem mensuração identificável no tempo e no espaço, como a mente, a alma, a consciência ou a cognição. Além disso, também é radical por compreender toda e qualquer manifestação do organismo como um comportamento, seja ele expressado (correr, comer, escrever), seja ele encoberto (eventos internos, como os pensamentos). A tabela a seguir elucida essas diferenças: Autor John B. Watson B. F. Skinner Mente X Corpo Dualista Monista Introspecção Não aceita Aceita, mas como método de estudo (comportamento verb Comportamento Explicado pela relação entre a alteração do ambiente e do organismo Aspectos filogenéticos, ontogenéticos e culturais influenciam as contingências ambientais Equação S – R S – R – S Tabela: Distinção entre correntes behavioristas. Vitor Hugo Costa. Controle de estímulos e tipos de reforços Comportamento e consequências no ambiente Para comportamentos voluntários e complexos, o paradigma respondente não consegue trazer explicações tão satisfatórias quanto o paradigma operante. Enquanto no paradigma respondente entende-se que um determinado estímulo (S) elicia uma resposta (R), no paradigma operante, a análise parte de comportamentos aleatórios (R), que são emitidos espontaneamente pelo organismo, provocam uma consequência (S) no ambiente, e esta, por sua vez, aumentará ou diminuirá a probabilidade de o comportamento ser emitido novamente. O cotidiano de uma pessoa está repleto de exemplos que podem figurar muitobem o conceito básico do paradigma operante. Exemplo Imagine que um namorado pergunte a sua companheira, que odeia futebol, se ela aceitaria comemorarem o aniversário de namoro num bar que transmitirá a final do campeonato. A consequência é que a namorada fica furiosa e briga com o rapaz por horas. É provável que a chance de uma situação como essa se repetir seja muito pequena. É dito que quando uma consequência aumenta a chance de um comportamento ocorrer novamente, houve um reforço. Mas, no caso de a consequência reduzir as chances de o comportamento ocorrer mais vezes, houve uma punição. Voltando ao exemplo anterior, o comportamento de propor uma comemoração inusitada gerou uma consequência aversiva no ambiente, caracterizada pela reação agressiva da namorada. Logo, se após a atitude da namorada o rapaz diminuir a frequência desse comportamento, então houve uma punição. Mas se, ao invés de uma reação severa e hostil, a namorada aceitasse o convite, mesmo que a contragosto, provavelmente estaria reforçando o comportamento do companheiro, pois aumentaria a chance de ele se repetir. Muitos são os exemplos de punições e reforços observáveis no dia a dia, tanto em animais quanto em humanos. Por exemplo, quando um beija-flor se aproxima de um bebedouro e descobre que há algo que lhe agrada (água + açúcar), a chance de ele voltar àquele bebedouro aumenta; Uma criança que chora quando está com fome, tende a chorar nessas circunstâncias caso ela seja frequentemente atendida. Quando uma pessoa cumprimenta um vizinho com bom dia e recebe uma resposta grosseira, a chance de ela voltar a cumprimentá-lo é menor. Um cachorro que sai para passear e tem suas patinhas queimadas pelo chão quente, tenderá a não querer mais sair. A grande contribuição de Skinner com isso foi a observação de que é possível controlar comportamentos a partir de suas consequências no ambiente (MOREIRA; MEDEIROS, 2007) e, a partir disso, propor maneiras de ajudar pessoas com padrões comportamentais muito disfuncionais e que trazem muito sofrimento. Reforço positivo e negativo Diferentemente do paradigma respondente, o paradigma operante foca sua atenção na relação entre o comportamento emitido pelo organismo e as consequências geradas por ele no ambiente. Na realidade, é possível afirmar que a maioria dos comportamentos que um organismo emite gera consequências no ambiente. Por exemplo, apertar o botão do elevador é um comportamento que irá resultar no surgimento do elevador diante do passageiro, logo, ocorre uma mudança no ambiente. São inúmeros os exemplos que podem ilustrar essa relação: Vestir uma roupa nova e receber elogios Beber água e saciar a sede Ligar para alguém e ser atendido Abrir as janelas e sentir o vento É possível dizer inclusive que o comportamento produz consequências e é controlado por elas (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Sendo assim, algumas consequências podem favorecer que o comportamento se repita. Fala-se em reforço quando a consequência do comportamento emitido aumenta a possibilidade de ele ocorrer novamente. Ademais, um reforço pode ser de dois tipos: Reforço positivo Ocorre quando um comportamento tem sua frequência aumentada pelo acréscimo de um estímulo. Reforço negativo Ocorre quando a frequência de um comportamento aumenta pela retirada de um estímulo aversivo. Vejamos agora alguns pontos importantes: Se o estudante pensar em reforço como uma espécie de prêmio, excluirá automaticamente a possibilidade de pensar em um reforço negativo. Além disso, ao pensar na ideia de uma premiação, é comum haver a confusão de que o reforço positivo necessariamente é algo material, como um biscoito de cachorro. Um beijo e um abraço, palavras de carinho, um sorriso, o controle remoto que muda de canais, atender a um chamado, mas também pode ser a dor para um masoquista ou o cigarro para um dependente em nicotina. É frequente que algumas pessoas pensem no reforço negativo como sendo o reforço de um comportamento ruim ou a retirada de um comportamento considerado inadequado. Não! O reforço sempre resultará no aumento de um comportamento, mas se esse reforço for negativo, essa frequência aumentará pela retirada de estímulos indesejados. Podendo ser de dois tipos: Fuga Evitação O reforço sempre aumentará a frequência de um comportamento. O reforço é positivo porque a frequência do comportamento aumenta pela adição de um estímulo. O reforço é negativo porque a frequência do comportamento aumenta com a subtração de um estímulo aversivo. Mais importante é saber que um estímulo reforçador não deve ser confundido apenas com premiação ou ganho de bens materiais. Quando o estímulo aversivo está presente na situação. Quando o estímulo aversivo não está presente. Agora, vamos ver exemplos desses dois tipos de estímulos: Exemplo 1. Karina se deparou com um cachorro agressivo e saiu correndo desesperadamente. O comportamento de “correr” tende a se repetir com a fuga do estímulo aversivo “cachorro nervoso”. 2. Sabendo que haveria apresentação de trabalho, Ivan faltou à escola e ficou em casa. O comportamento de “ficar em casa! tende a se repetir, evitando se deparar com o estímulo aversivo “apresentação de trabalho”. É importante salientar que existem dois tipos de reforçadores (ou estímulos reforçadores): Reforçador primário Quando o reforçador tem valor inato para o organismo e, portanto, foi selecionado ao longo da história evolutiva. Exemplos: alimento, água, sexo, dor. Reforçador secundário Não tem um valor biológico intrínseco, sendo aprendido ao longo do desenvolvimento. Exemplos: dinheiro, diploma, carro, imóveis. Processo de modelagem Aprendizagem de novos comportamentos A partir da teoria do reforço, Skinner foi capaz de explicar como comportamentos presentes no repertório comportamental do organismo serão mais frequentemente selecionados ou não pelas suas consequências no meio. No entanto, é com a teoria da modelagem que o pai do behaviorismo radical trouxe à luz uma explicação sobre como um novo comportamento poderá ser integrado ao repertório do indivíduo, ampliando-o (SKINNER, 1969). A modelagem é um método de reforçamento de aproximações sucessivas do comportamento alvo. Ou seja, todo novo comportamento emitido pelo organismo e que se aproxime do comportamento terminal deve ser reforçado positivamente e num curto espaço de tempo. Skinner defendia que a teoria da modelagem poderia explicar a aprendizagem de todos os comportamentos humanos mais complexos. Imagine uma criança aprendendo a andar de bicicleta. Num primeiro momento ela precisa de rodinhas e, mesmo assim, ainda se desequilibra e sofre algumas quedas. A cada queda, ajusta a posição do corpo para não cair mais. Toda vez que observa um movimento mais adequado e que permite que ela permaneça em pé, fixa no seu repertório e repete. À medida que novos movimentos e novas acomodações são feitas e positivamente reforçadas, mais perto a criança está de aprender o comportamento de andar de bicicleta. Outro grande exemplo de modelagem é a própria fala. Desde os primeiros sons de choro emitidos pela criança, os adultos ao redor reforçam-na com atenção ou reciprocidade. Os primeiros balbuciares são reforçados e, gradualmente, começam a surgir as primeiras sílabas e até as primeiras tentativas de palavras. Havendo os reforçadores positivos rotineiramente, a criança consegue elaborar suas primeiras palavras. O aprendizado de um novo idioma, ensaiar um novo passo de dança, treinar uma nova e difícil música no violão, aprender a dirigir etc. Não há momento certo ou único para esse processo ocorrer na vida de um organismo, pois pode acontecer a todo momento, dependendo de imediato reforço positivo dos comportamentos aproximados e a não validação dos comportamentos indesejados. Saiba mais O processo de modelagem provou ser uma explicação consistente para a aprendizagem de novos comportamentos. Durantea Segunda Guerra Mundial, Skinner foi considerado o precursor da “engenharia do comportamento” e até recebeu um convite do exército para solucionar um problema: já eram usados mísseis nessa época para bombardeios, mas não havia tecnologia para direcionar esses mísseis diretamente para o alvo (CAPSHEW, 1993). A partir da modelagem, Skinner treinou pombos para que eles fizessem esse trabalho de estabilização dos mísseis. O animal era inserido dentro de uma câmara e treinado a dar bicadas em uma janela que, dentre outras três, apresentava a imagem de um cenário. Essa imagem corria externamente para as outras janelas conforme a câmara fazia leves inclinações à direita ou à esquerda. Sempre que o pombo bicasse a janela em que estivesse a imagem, receberia comida. Depois de treinado, o pombo era colocado dentro de uma câmara no interior de um míssil do exército norte-americano. Quando o míssil era disparado para um alvo inimigo, o pombo começava a executar as bicadas que controlariam a direção do projétil. Nesse caso, a imagem que aparecia na janela para o pombo era o alvo a ser atacado, e as bicadas na janela eram responsáveis por direcionar corretamente o míssil para o alvo. Atenção! Não confunda modelagem com modelação. Modelagem é o processo de aprendizagem por aproximações sucessivas proposto por Skinner. Modelação é um processo de aprendizagem proposto por Albert Bandura (1925-2021) que ocorre por observação e comparação com modelos. Teoria do condicionamento operante Neste vídeo, o especialista refletirá sobre a teoria do condicionamento operante e os comportamentos que podem ser influenciados pelas consequências do ambiente. Esquemas de reforço Extinção operante Vimos até aqui o básico sobre o conceito de condicionamento operante e que uma resposta emitida pelo organismo gera consequências no ambiente, e essas consequências podem aumentar a frequência de a resposta se repetir. Mas o que aconteceria se essa consequência fosse retirada? O resultado da exclusão da consequência reforçadora é a gradual redução da frequência da resposta a nível operante, o que significa dizer que a resposta volta a ser emitida com a regularidade que tinha antes de ser reforçada (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). A esse processo dá-se o nome de extinção operante. Resumindo A extinção operante é o meio pelo qual a retirada do estímulo reforçador resultará na redução ou eliminação da frequência da resposta reforçada. Por exemplo, normalmente, as pessoas só utilizam o controle remoto da televisão porque, ao dar um certo comando, a consequência é que o telespectador tenha o resultado que espera (ex.: aumento do volume ou troca de canal). Agora, imagine que ao apertar um botão nada aconteça. Aperta outro botão e continua sem mudar em nada. Muda-se a posição das mãos, eleva-se o controle, bate no controle, abre a caixa de pilha e mexe nelas, chacoalha o controle, mas não adianta, pois nenhum comando gera a consequência desejada. Então, deixa-se o controle no sofá e se esforça para assistir ao programa que estiver passando na televisão, em quaisquer circunstâncias. Talvez essa situação já tenha acontecido com você. Quando é dado um comando para o controle, o comportamento é reforçado caso o comando resulte naquilo que é esperado de acontecer. A consequência esperada desse comando é um reforço. Mas, se nada do que é esperado acontecer, significa que o reforço foi retirado da contingência e, por isso, a tendência é parar de apertar seus botões. A conclusão mais importante é que, sem a manutenção das consequências reforçadoras, o comportamento tende a se tornar cada vez menos frequente. Esquemas de reforçamento O processo de modelagem é responsável pelo desenvolvimento de um novo comportamento. No entanto, quais devem ser as condições para que isso aconteça? É a partir do entendimento sobre os esquemas de reforçamento que se torna possível saber quais as condições necessárias das respostas para que haja reforço (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). São, no total, cinco esquemas de reforçamento, sendo um contínuo e quatro variáveis. Os esquemas de reforçamento contínuo ocorrem quando a emissão de uma resposta sempre é reforçada. Esse tipo de esquema é muito eficaz para o desenvolvimento de um novo comportamento, ou seja, no processo de modelação. A cada comportamento emitido e que seja próximo ao padrão que se quer alcançar, a aplicação de reforços imediatos irá agilizar a aprendizagem, tal como no exemplo mencionado anteriormente sobre o aprendizado da fala pela criança. É importante que os cuidadores estejam próximos estimulando que novos comportamentos sejam emitidos e sempre reforçar a cada novo acerto. Atenção! Esquemas de reforço são relativos a que critérios as respostas devem obedecer para que o reforçador seja liberado. Acontece que o esquema de reforçamento contínuo acaba se tornando mais vulnerável à extinção, uma vez que basta retirar o reforço e o comportamento terá sua frequência de emissão reduzida. Sendo assim, depois que o comportamento foi incorporado ao repertório comportamental do organismo, reforços podem ser aplicados de maneira descontínua, mantendo esse comportamento e dificultando sua extinção. Esse é o esquema de reforçamento intermitente ou parcial, no qual o reforço ocorre de maneira irregular e pode ser de 4 tipos: Razão �xa Ocorre quando é necessária uma quantidade regular de respostas antes da apresentação de cada reforço. Tal esquema pode ser observado nas escolas primárias, onde a cada número de bons comportamentos a criança ganha uma recompensa, como uma estrela dourada, por exemplo. Razão variável Ocorre quando a quantidade de respostas para cada aplicação do reforço varia. Um exemplo ilustrativo pode ser a bonificação entre motoristas de aplicativo. Num dia, é preciso concluir 20 viagens para receber um bônus em dinheiro. No dia seguinte, 32 viagens para receber o mesmo bônus. Terceiro dia, 25 viagens para receber o bônus, e assim por diante. Intervalo �xo Ocorre quando se fixa o intervalo de tempo desde o último reforço. Por exemplo, conversar com uma pessoa amada que se encontra em outro país e com o fuso horário muito diferente. Assim, todos os dias, às 8h é feita a ligação. Agora, imagine que você está chegando a sua casa e precisa usar o controle remoto para abrir o portão da garagem. Você aperta o botão do controle, mas o portão não abre. Aperta mais uma, duas, três vezes e nada. Muda a posição do controle, pressiona a lateral do aparelho, aperta outra vez, mas o portão continua não abrindo. Leva a mão esquerda para fora do carro, aperta o botão, e o portão segue imóvel. Tenta o mesmo com a mão direita, mas o portão continua parado. Até que, depois de muitas “tentativas”, você desiste e liga para alguém trazer outra bateria ou outro controle menos usado. Essa situação é muito frequente, faz parte de nosso cotidiano e pode ocorrer de inúmeras formas. Por que não corremos imediatamente para trocar as pilhas do controle da televisão ou do portão da garagem? Pelo mesmo motivo que a criança do exemplo anterior parece emitir os comportamentos com maior intensidade antes que se perceba uma redução. Isso ocorre devido ao fenômeno de aumento da frequência da resposta imediatamente antes de iniciar o processo de extinção operante. Controle do comportamento pela punição Punição positiva e punição negativa Ao longo deste material, vimos as consequências que aumentam a frequência de um determinado comportamento. Além delas, existem as consequências que diminuem a probabilidade de um comportamento ocorrer. Essas consequências são as punições. Tal qual no reforço, são Intervalo variável Ocorre quando o intervalo de tempo aplicado para o reforço varia desde o último reforçamento. Por exemplo, checagem de mensagem. Toda vez que você recebe mensagem de alguém importante, consta como um reforço, mas não é possível controlar os intervalos de tempo de quando as mensagensirão chegar. considerados dois tipos de punição: punição positiva e punição negativa. Atenção! É bem verdade que se fala bastante sobre aprendizagem mediante controle aversivo. Isso costuma confundir alguns estudantes que tendem a imaginar que punição é sinônimo de coisas aversivas. É preciso ter cuidado, pois, ao falar em controle aversivo, incluem-se o reforço negativo, a punição positiva e a punição negativa. Agora, vamos ver com mais detalhes as diferenças entre estes dois tipos de punições: É aquela que diminui a frequência de um comportamento pela adição de um estímulo aversivo. Diversos são os exemplos de punições positivas que se pode pensar: broncas e sermões de cuidadores para seus filhos, aplicação de multa, notas baixas entre muitas outras. Mas vale ressaltar que não se deve pautar um estímulo aversivo por uma avaliação moral, mas sim pelo que realmente reduz a possibilidade de o comportamento ocorrer. O que pode ser um estímulo aversivo para algumas pessoas, pode não ser para outras. É aquela que diminui a frequência de um comportamento pela retirada de um reforçador de outros comportamentos do ambiente. Isso significa que não é tirado o estímulo que reforça o comportamento, mas sim os reforçadores de outros comportamentos importantes para aquele organismo. Por exemplo, o chefe de uma empresa quer diminuir a frequência de conversas em voz alta de um determinado funcionário específico retirando a gratificação salarial que ele havia recebido. Punição negativa versus extinção Também é comum haver confusão entre esses conceitos, uma vez que ambos envolvem a retirada de reforçadores. A diferença está no fato de que, na extinção, retira-se o estímulo reforçador principal, enquanto na punição negativa retira-se algum reforçador da situação. Punição positiva Punição negativa Vejamos alguns exemplos. Exemplo de extinção Você costumava ir a um restaurante unicamente por causa de um prato específico. Logo, o prato é o que reforça positivamente você a ir ao restaurante. Se o estabelecimento retira o prato do cardápio, então, você para de ir ao restaurante – foi tirado o reforço do comportamento. Exemplo de punição negativa Pedro se exaltou e gritou com uma de suas professoras. Então, seus pais tiraram seu celular e o videogame, depois, os esconderam – para reduzir o comportamento inadequado de Pedro, retirou-se reforçadores importantes: celular e videogame. Senso comum e visão cientí�ca sobre estímulos punitivos Segundo Mayer e Gongora (2011), são feitas críticas sobre a ideia de punição com base tanto no senso comum quanto em opiniões científicas. Se for pensada pelo viés do senso comum, há tanto uma relação com a ideia de promoção de sofrimento, revelando-se supostamente uma prática desumana, quanto a ideia de que a punição não passa de vingança ou merecimento. No que diz respeito às críticas por parte de alguns analistas do comportamento, defende-se a ideia de que há possíveis efeitos colaterais com a geração de subprodutos comportamentais e emocionais importantes, tais como: Retraimento social do indivíduo que sofreu punição Aumento da emissão de comportamentos violentos (inclusive para indivíduos fora da contingência) Contra-ataque à fonte punidora Há, todavia, analistas do comportamento que preferem assumir uma postura menos crítica, não condenando o uso de punição em intervenções comportamentais. De acordo com Mayer e Gongora (2011), a eficácia e a segurança do emprego de estímulos punitivos devem levar em consideração basicamente três pontos: 1. Sempre pensar na segurança do indivíduo envolvido na prática; 2. Compreender que o alvo da punição é apenas o comportamento, não o indivíduo; 3. Medidas punitivas só deverão ser adotadas quando os comportamentos selecionados estiverem prejudicando a vida do indivíduo. Normalmente, as punições devem ser usadas para solucionar problemas muito graves e urgentes, justamente quando outras estratégias não foram eficazes. Por isso, jamais deve-se banalizar o uso dessa medida. Respostas emocionais de estresse, raiva e ansiedade Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Júlio sempre foi um jovem muito sedentário. Ele não gostava de fazer atividade física porque tinha preguiça de sair de casa e preferia jogar videogame com os amigos. Mas após uma consulta na qual o médico lhe recomendou mais cuidado com a saúde, Júlio resolveu se matricular numa academia. Já nos primeiros dias de prática, Júlio sentiu-se muito bem com os exercícios e passou a frequentar a academia todos os dias. Seu ânimo e bem-estar melhoraram consideravelmente. Poucos meses mais tarde, recebeu uma proposta de trabalho irrecusável numa empresa muito distante de sua casa, fazendo com que reduzisse suas idas à academia drasticamente. Júlio chegava cansado em casa e sentindo muita preguiça de sair novamente. Com base no texto acima, assinale a alternativa correta. Parabéns! A alternativa B está correta. Júlio se sentiu bem fazendo os exercícios físicos e isso o reforçou a aumentar a frequência desse comportamento. No entanto, ao assumir o novo trabalho, houve uma diminuição progressiva das idas à academia, o que consequentemente iniciou um processo de extinção operante. Questão 2 Marina conversou muito ao telefone e a conta chegou exorbitante. Por esse motivo, seu pai proibiu que ela jogasse videogame. Triste com a decisão do pai, Marina parou de ficar horas ao telefone. No que diz respeito ao comportamento de falar ao telefone, não poder jogar videogame funcionou como A A academia é o estímulo neutro e os exercícios são uma forma de reforço negativo. B O bem-estar gerado pelos exercícios são o reforço positivo e a redução da frequência de idas à academia seria a extinção operante. C A academia é o reforço negativo. D Os resultados físicos do exercício atuam como a extinção operante. E O trabalho é o reforço positivo para o hábito de fazer ginástica. A punição positiva. B reforçamento positivo. C reforçamento negativo. Parabéns! A alternativa D está correta. O pai retirou um reforçador importante do ambiente com o intuito de reduzir um determinado comportamento. Considerações �nais Analisamos os conceitos, a definição, os antecedentes históricos e os paradigmas do behaviorismo de forma ampla, abordando os principais preceitos que envolvem a teoria: behaviorismo metodológico e paradigma respondente, behaviorismo radical e o paradigma operante. Vimos que os conceitos de reforço, punição, modelagem de comportamento e extinção são fundamentais para compreendermos como os comportamentos se manifestam ao longo do desenvolvimento do indivíduo e como isso pode tanto influenciar quanto ser influenciado pela herança genética, pelas experiências de vida e pela cultura. Por fim, é igualmente importante tentarmos compreender no cotidiano o quanto as duas teorias (respondente e operante) se interconectam e são capazes de explicar grande parte dos comportamentos e das interações humanas. O desenvolvimento das teorias behavioristas leva os autores atuais a não reduzirem os seres vivos, principalmente os indivíduos humanos, a um mecanicismo simplista baseado na ação e na reação do organismo com o meio. Entende-se que o conjunto de contingências comportamentais ajuda a constituir as características únicas do indivíduo. Podcast Neste podcast, o especialista abordará os princípios básicos do behaviorismo, destacando o paradigma respondente e o paradigma D punição negativa. E reforçamento punitivo. operante, com exemplos de respectivos comportamentos observados na vida cotidiana. Explore + Para se aprofundar no conceito de comportamento e nos conhecimentos sobre a prática e a pesquisa em análise do comportamento, pesquise o artigo Behaviorismo e análise experimental do comportamento, de João Cláudio Todorov. Para compreender como o processo de modelagem pode ser usado em qualquer modelo de aprendizageme como isso ajudou Skinner a criar invenções muito curiosas, assista ao vídeo The pigeon-guided missiles of WWII (Project Orcon), disponível no YouTube. Para entender melhor o conceito de modelagem, assista ao vídeo do YouTube Skinner – Modelagem (legendado), que elucida como funciona o processo de aprendizagem. Referências BISACCIONI, P.; CARVALHO NETO, M. B. Algumas considerações sobre o “pequeno Albert”. Temas em Psicologia, v. 18, n. 2, p. 491-498, 2010. CAPSHEW, J. H. Engineering behavior: project pigeon, World War II, and the conditioning of B. F. Skinner. Technology and Culture, v. 34, n. 4, p. 835-857, 1993. CIRINO, S. Por uma nova Psicologia. Ciência Hoje, v. 52, n. 307, p. 58-59, 2013. CRUZ, R. N. B. F. Skinner: uma biografia do cotidiano científico. Belo Horizonte: Artesã, 2019. GRAHAM, G. Behaviorism: Stanford encyclopedia of philosophy, 2010. MAYER, P. C. M.; GONGORA, M. A. N. Duas formulações comportamentais de punição: definição, explicação e algumas implicações. Acta Comportamentalia: Revista Latina de Análisis de Comportamiento, v. 19, p. 47-63, 2011. MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007. NEVIN, J. A. An integrative model for the study of behavioral momentum. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v. 57, n. 3, p. 301-316, 1992. RODRIGUES, M. E. 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