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Seminário Internacional Fazendo Gênero 12 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2021, ISSN 2179-510X 
“MATERNIDADE REAL” NAS MÍDIAS SOCIAIS: PARTICULARIDADES, 
TENSÕES E NOVAS IMAGENS MATERNAS 
 
Ana Luiza de Figueiredo Souza1 
 
Resumo: Em anos recentes, a maternidade vem sendo discutida por mulheres nas mídias sociais, 
sobretudo a partir da ideia de maternidade real: a vivência materna retratada de forma a incluir seus 
aspectos difíceis, frustrantes e ambivalentes, para além dos positivos e dos historicamente associados 
à relação entre mãe e filho/a (amor, dedicação, cuidado). O artigo objetiva explorar de que modos 
diferentes mulheres constroem a performance da chamada maternidade real, e quais seriam suas 
implicações na maneira como a maternidade e a maternagem são vivenciadas e percebidas. Para isso, 
toma por base exemplos empíricos brasileiros analisados junto a teorias dos estudos maternos, de 
gênero e de dinâmicas sociais contemporâneas. Conclui-se que “maternidade real” se refere à 
realidade de cada mãe, seu lugar de fala, sendo que, nas mídias sociais, a maioria delas pertence às 
camadas médias da população. As narrativas que produzem são mais voltadas ao desgaste da 
maternidade, à ambivalência materna, aos julgamentos alheios e a modelos maternos e de 
maternagem hegemônicos. Tais descrições influenciam algumas mulheres a enxergar a maternidade 
como demasiado problemática. Muitas vezes, as performances possuem abordagem individualista, o 
que dificulta o aprofundamento do debate acerca de estruturas que mantêm a maternidade opressiva 
para mulheres. Ainda assim, costumam relacionar maternidade a questões socioambientais, além de 
divulgarem novas imagens, discursos e práticas maternas. 
 
Palavras-chave: Maternidade. Maternagem. Vivência materna. Mídias sociais. Performance. 
Introdução 
Nos debates sobre temáticas maternas que cresceram ao longo dos últimos anos 
(FIGUEIREDO SOUZA, 2019a), um termo costuma se fazer presente: “maternidade real”. Tendo 
ganhado força entre mulheres das camadas médias com o objetivo de visibilizar aspectos da 
maternidade historicamente ocultos ou amenizados tanto pelas práticas socioculturais hegemônicas 
quanto pelo discurso midiático dominante, também passou a ser utilizado para outras finalidades. 
Entre elas, auxiliar mulheres que se identifiquem com essas narrativas, normalizar experiências 
desagradáveis relacionadas à maternidade, valorizar o papel da mãe ao reconhecer os desafios que 
enfrenta ou mesmo promover serviços, produtos e conteúdos para mães em geral. 
Abundantes em blogs maternos, páginas e perfis pessoais no Facebook, as narrativas sobre a 
chamada maternidade real também ganham espaço em canais do YouTube, contas do Twitter e, mais 
 
1 Mestre e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense 
(PPGCOM UFF), Niterói, Brasil. Bolsista CAPES-Proex. E-mail de contato: analuizafigueiredosouza@id.uff.br. 
 
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recentemente, perfis do Instagram.2 Baseado em exemplos empíricos coletados desde 2016, o artigo 
discute os principais eixos discursivos articulados em torno da ideia de maternidade real, junto a 
algumas problematizações que a envolvem. 
Ambivalência(s) materna(s) 
Ivana Brown (2010) defende que ser mãe implica o sentimento de ambivalência e seus 
derivados — cobrança social, ansiedade e culpa —, sendo socialmente vigiada dentro e fora de casa 
ou das mídias sociais. Orna Donath (2017) percebe a ambiguidade que permeia o discurso das mães 
e a maternagem. Nas narrativas sobre a “maternidade real”, experiências aborrecidas caminham junto 
a momentos satisfatórios. O conceito de ambivalência materna pode ser usado, inclusive, para se 
referir às contradições da maternidade. Entre elas, o fato de que ter filhos seja fonte tanto de 
frustração, cansaço e dúvidas quanto de realização, motivação e aprendizagem. Tal imbricamento 
pode ser verificado abaixo. 
Imagem 1 — Facetas opostas 
 
 
2 O algoritmo do Facebook passou a priorizar posts de perfis pessoais em vez de posts de páginas no feed dos usuários. 
Por isso, muitos criadores de conteúdo migraram ou passaram a investir no Instagram, entre eles, administradoras de 
páginas maternas. 
 
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Postagens como essa ajudam a construir imagens maternas que destoam da representação 
contida, idealizada, grata e estática que parte significativa da cultura midiática e do imaginário 
popular imprimem à maternidade. Costumam remeter a terceiros, que julgam e criticam. Isso denota 
que, enquanto o desempenho materno permanece objeto de avaliação pública, as mães encontram 
formas de rebater essas críticas, seja expondo seu desagrado com elas, seja fornecendo relatos que 
explicam seu cansaço ou incapacidade de corresponder às altas expectativas que se têm delas. 
Podemos ampliar o conceito de ambivalência materna para abarcar manifestações de 
negociação entre a vida (ou a estética) que uma mulher mantinha antes de se tornar mãe e a vida (ou 
a aparência) que passou a ter depois dos filhos, expressa por narrativas como a que se vê a seguir. 
 
Imagem 2 — Mudanças no corpo 
 
 
A ideia de gratidão (pela experiência de ser mãe) ainda se faz presente, mas é colocada dentro 
de um contexto que mistura insatisfação (com o novo formato corporal) e satisfação (com aquilo que 
gerou essas transformações corporais), conforme se lê na continuação texto: “Nessa bagagem toda, 
me redescobri como mulher e mãe... Descobri uma mãe & mulher guerreira que jamais imaginava 
ser! Me orgulho e muito da mulher que tornei” (RODRIGUES, 2021, sem paginação). Ao longo de 
toda a narrativa, podemos perceber a autora se posicionando entre “a cobrança de pessoas hipócritas” 
e “como foi difícil a aceitação”. Pondera, assim, os ganhos e perdas trazidos pela chegada dos filhos. 
Impactos gerados pela maternidade podem se tornar, inclusive, motivo de valorização da mãe 
que os enfrenta, uma espécie de capital social (RECUERO, 2014) compartilhado por sua audiência. 
“Linda de todas as formas”, “parabéns pela mulher que é”, “que texto mais perfeito, você é 
maravilhosa”, “uma mulher admirável e empoderada”, “viva cada dia sua beleza e sua maturidade”, 
“continua linda e ainda mais amada” — escrevem diferentes mulheres nos comentários. 
 
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Disputas de sentido 
Apesar da popularidade de postagens que declaram expor a “maternidade real”, algumas mães 
externalizam não se sentirem representadas por esse discurso, conforme se vê na publicação abaixo. 
 
Imagem 3 — Outras maternidades reais 
 
 
A autora, mãe de uma criança com síndrome de Down, reclama do retrato exausto, caótico e 
melancólico que tantas mães, especialmente quando têm filhos com necessidades especiais, fazem de 
si. Para ela, tais sentimentos não deveriam ser generalizados, muito menos aplicados a toda e qualquer 
mãe. Atribui a bagunça da rotina materna à falta de planejamento das mães, expondo outro modo de 
lidar com as obrigações maternais sem envolver agonia ou justificativas para possíveis deslizes. 
Aponta, ainda, críticas recebidas por mães que não produzem relatos sofridos sobre a maternidade: 
“(...) se você não for assim, a sua maternidade não é real, é fake, é maternidade de redes sociais. E 
continua: “(...) se você consegue dar conta de tudo que faz, se cuida, malha, passeia, viaja, sua 
maternidade é completamente julgada como mentira” (BARROS, 2021, sem paginação). Dinâmica 
que se verifica em discussões online sobre temáticas maternas, nas quais mulheres que colocam maior 
ênfase nos aspectos positivosda maternidade costumam ser acusadas de romantizá-la (FIGUEIREDO 
SOUZA, 2019a). Desse modo, a autenticidade das mães aparece ligada às adversidades. 
A publicação permite refletir: as narrativas sobre a chamada maternidade real, em vez de 
romperem com a normatividade materna já estabelecida, criam novas normas que aquelas que se 
referem à maternidade devem seguir? O foco no sofrimento materno o normaliza a ponto de restringir 
 
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as possibilidades de se pensar a vida com filhos? No post, a autora menciona “todas as dificuldades 
de ser mãe”, reconhecendo que os obstáculos existem. Porém, opta pelo que denomina maternidade 
leve. Por um lado, podemos entender que estruturas seculares de exploração das mulheres, junto a 
pressupostos ideológicos da cultura patriarcal (O’REILLY, 2013), tornam a maternidade opressiva 
— o que se agrava em países que oferecem pouco amparo socioeconômico à população, como o 
Brasil. Nesse sentido, a “mãe triste, exausta, ao ponto de estar quase sempre para explodir” reflete o 
cotidiano de muitas brasileiras. Por outro lado, retratar a maternidade majoritariamente pela 
perspectiva do sofrimento resulta em algumas potências maternas não serem tão exploradas, fazendo 
a maternidade ser percebida como demasiado problemática por muitas mulheres.3 
Reflexos da influência de narrativas sobre a dita maternidade real na percepção de outras 
pessoas sobre a maternidade podem ser vistos no post intitulado Não leia o meu blog se você estiver 
procurando uma razão para não ter filhos, do blog materno Tudo sobre minha mãe. Trata-se da 
resposta da autora a “um tipo de comentário de quem não tem filho que leio frequentemente aqui no 
blog e que me incomoda. É quando a pessoa diz que depois de ler um determinado texto meu, ela tem 
certeza que não quer ter filhos”. Esses comentários desagradam a autora, que argumenta que, quando 
fez, o blog, “queria que fosse um ponto de encontro de mães que quisessem discutir honestamente 
suas dificuldades e também, claro, celebrar o amor e a alegria que é ter filhos” (FURTADO, 2014, 
sem paginação). O trecho indica a dimensão coletiva dos relatos sobre a chamada maternidade real, 
que ajudam a criar comunidades (no caso, online) em torno de experiências maternas. Redes de trocas 
e interações que, apesar de terem existido no âmbito privado em diferentes momentos históricos 
(FIGUEIREDO SOUZA, 2019a), se tornam mais visíveis em uma cultura na qual a visibilidade e a 
conectividade constituem vetores (SIBILIA, 2016). 
A autora escreve que, se os filhos lerem seu blog já adultos, vão “constatar que quando eles 
eram pequenos vivi muitas alegrias e me diverti muito com eles, mas também passei por fases em 
que me senti muito cansada, tive muitas dúvidas. (...). Isso é razão para não ter filhos? Para mim não”. 
E finaliza: 
Eu não quero mais ficar lendo esses comentários que implicitamente sugerem que a minha 
vida de mãe é uma carga sem fim. Porque não é, a minha vida de mãe é como a vida de todo 
mundo, com seus altos e baixos, com seus desafios e acertos. Que atire a primeira pedra quem 
vive, em qualquer tipo de vida, só alegrias. O importante para mim é que eu estou vivendo 
esse amor que eu queria viver. E ponto final (FURTADO, 2014, sem paginação). 
 
3 Conforme averiguado em trabalhos anteriores e em narrativas das próprias mães, como neste post: 
https://www.facebook.com/photo/?fbid=2648531411933762&set=a.843401922446729. 
 
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Percebemos, assim, disputas de sentido em relação ao que é ser mãe, quais modelos de 
maternidade e maternagem seriam mais ou menos autênticos, tendo como base a própria vivência 
materna (FIGUEIREDO SOUZA, 2019a), isto é, o conjunto de valores e ideologias relacionados à 
maternidade que cada mulher adquire ao longo da vida. 
Entre justificativas, conveniências e tabus 
Parte considerável das narrativas sobre a “maternidade real” nas mídias sociais é dirigida às 
mães. Reflexos da cultura da autoajuda (CASTELLANO, 2018), repetem ideias como “tudo bem não 
estar tudo bem” e “você faz o que é possível”, geralmente envolvidas por relatos sobre a relação 
afetuosa com os filhos, colocada como fator mais relevante na maternagem. Um exemplo pode ser 
visto abaixo. 
Imagem 4 — Negociando desempenho 
 
 
Número significativo de narrativas também remete a terceiros que, por não entenderem tudo 
que envolve a rotina materna, podem ser duros ao se referirem à maternagem alheia. Uma orientação 
comum é a de não julgar nenhuma mãe. Tais narrativas estabelecem que cada mulher vai conduzir a 
maternagem e se relacionar com a maternidade de um jeito único, que não deve ser alvo de 
julgamentos, sobretudo vindos do público materno. A seguir, temos mais um exemplo. 
 
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Imagem 5 — Não julgareis 
 
De teor explicativo, esse tipo de narrativa revela os bastidores do cotidiano maternal para 
justificar por que alguém deveria ser mais compreensivo com possíveis deslizes das mães, enquanto 
as estimula a terem maior tolerância em relação a suas limitações ou planos alterados. Considerando 
o nível de cobrança social sobre as mães (BROWN, 2010), a conjuntura de fatores que tornam a 
maternidade opressiva em sociedades patriarcais (O’REILLY, 2013) e o agravamento dessas 
dinâmicas em uma cultura da alta performance (CASTELLANO, 2018; SIBILIA, 2016) que engloba 
o desempenho materno, podemos encarar tais narrativas como meios de conscientizar as pessoas 
sobre as implicações de ser mãe, além de aliviar a carga materna. Configuram elementos conectivos 
na formação de redes de apoio (pontuais ou duradouras) entre mulheres (mães ou não) que entendem 
as demandas que recebem e podem tanto se parabenizar por darem conta delas quanto se consolarem 
caso algo não saia como o esperado. 
Contudo, essa dinâmica gera outros desdobramentos. Cria-se uma retórica. Já que a 
maternidade é tão difícil — o que se explica por um conjunto de fatores —, torna-se conveniente 
tratar qualquer atitude materna somente como reflexo desse conjunto. Assim, fica mais nebuloso 
distinguir uma maternagem negligente ou abusiva de uma maternagem que, com seus altos e baixos, 
busca o bem-estar dos filhos. Discursos da “maternidade real” muitas vezes ignoram as consequências 
de atitudes das mães, considerando-as meios de lidar com o estresse da rotina materna. Apontá-las se 
transforma em falta de empatia, conforme mostra a imagem 6. Sentir que cometeu um erro na 
maternagem vira internalização da culpa materna. 
 
 
 
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Imagem 6 — Tenha empatia 
 
 
É compreensível, por exemplo, que uma mãe atarefada dê doces para que o filho sossegue e 
ela consiga trabalhar — sendo preciso investigar por que está nessa posição, pensar ações para 
interferirmos socialmente a fim de garantir melhor qualidade de vida a outras como ela. Mas isso não 
significa que alimentar precocemente uma criança com açúcar não tenha consequências em sua saúde 
e comportamento. Se a “mãe real” é a mãe exausta e explorada, isso a engessa no papel de eterna 
vítima social, capaz apenas de reagir a estruturas opressivas, sem criar potencialidades substanciais 
na maternidade ou assumir posicionamentos sem respaldá-los em amenizações contextuais. O retrato 
da mãe sofredora que necessita de compreensão, embora embasado na vivência de tantas mulheres 
mundo afora, por vezes, pode colapsar com performances maternas que constroem (intencionalmente 
ou não) imagens mais ativas e dinâmicas das mães. 
Performances estas que, quando destoam da moral maternahegemônica, não costumam ser 
publicizadas. Entre os discursos que mobilizam a “maternidade real”, certos relatos não são escritos, 
algumas experiências ficam ocultas. Odeio esses filhos. Me arrependo de ser mãe. A tristeza dos meus 
filhos me dá prazer. Embora essas afirmações possam ser encontradas em narrativas de mulheres 
sobre temáticas maternas nas mídias sociais (FIGUEIREDO SOUZA, 2019b), não costumam se 
associar ao termo “maternidade real”. Descrever os aspectos ruins da maternidade, mesmo que 
represente uma ruptura com práticas maternas hegemônicas, não constitui exatamente um tabu. 
Aproxima-se de uma nova forma de abordá-la, demandada por boa parte das mulheres. Tanto que 
recebem retorno positivo quando publicam narrativas em que expõem os desafios maternos. Todavia, 
pôr em xeque as recompensas e o afeto maternais ultrapassa a tolerância mais flexível que o trato da 
 
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maternidade adquiriu nos últimos anos. Descumprir certas conveniências discursivas ao falar sobre a 
maternidade pode configurar tabus maternos, dos quais se evita comentar. 
Considerações finais 
Embora as discussões em torno da chamada maternidade real mobilizem mulheres de 
diferentes perfis, narrativas sobre ela são mais notórias entre as classes médias urbanas com acesso 
frequente à internet — ainda que esse grupo abarque desde camadas populares de renda mais baixa 
até aquelas com renda elevada. Isso explica por que algumas questões não estão presentes ou 
aparecem de forma escassa. Entre elas, maternidade no campo ou na floresta, recusa ao aborto legal 
em hospitais autorizados a realizarem o procedimento, maternagem em contextos periféricos etc. 
O foco na exposição de aspectos desagradáveis da maternidade pode ser entendido como 
resposta a representações apaziguadas e idealizadas das mães, que possuem lastro histórico e até hoje 
pautam o imaginário social, os modelos maternos e de maternagem hegemônicos, além de boa parte 
das produções midiáticas. Em geral, as narrativas possuem caráter tanto explicativo — visibilizando 
para a sociedade, até em tom de denúncia, facetas maternas que costumam ser suprimidas pelo 
discurso público — quanto conectivo, voltado a outras mães e mulheres que podem se tornar mães, a 
fim de mostrar que aqueles sentimentos e experiências são compartilhados por outras pessoas e, 
também, criar redes de validação e apoio para sua própria maternagem e relação com a maternidade. 
Verificam-se disputas de sentido sobre o conceito de “maternidade real”. Nem todas as mães 
se sentem contempladas pelo retrato sobrecarregado, caótico e sofrido da “mãe real”, mesmo que 
muitas delas reconheçam que a maternidade impõe desafios. Existem, ainda, as que buscam uma 
representação materna que abarque aspectos positivos e negativos, como em outras vivências sociais. 
Em todos esses modelos, a definição de “maternidade real” é feita por meio de abordagem 
individualista, a partir do lugar de fala da mulher que opina sobre ela. Isso dificulta o aprofundamento 
do debate acerca de estruturas socioculturais e políticas que mantêm a maternidade opressiva para 
mulheres. Por outro lado, as narrativas costumam relacioná-la a questões socioambientais, sobretudo 
ligadas a gênero, contribuindo para a circulação de novas imagens, discursos e práticas maternas. 
 
 
 
 
 
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Referências 
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sorrir, 10 jan. 2018. Disponível em: http://www.21motivosparasorrir.com.br/maternidade-real-a-
maternidade-que-eu-nao-quero-viver/ 
BROWN, Ivana. Ambivalence of the Motherhood Experience. In: O’REILLY, Andrea (org.). Twenty 
First Century Motherhood: Experience, Identity, Policy, Agency. New York: Columbia, 2010. p. 
121-139. 
CÁRIE na primeira infância. Mundo Mãe, 27 jan. 2020. Disponível em: 
https://www.instagram.com/p/CKgyn0ZHt0D/ 
CASTELLANO, Mayka. Vencedores e Fracassados: O Imperativo do Sucesso na Cultura da 
Autoajuda. Curitiba: Appris, 2018. 
DONATH, Orna. Mães Arrependidas: uma outra visão da maternidade. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2017. 
FIGUEIREDO SOUZA, Ana Luiza de. “Me deixem decidir se quero ou não ser mãe!”: narrativas 
pessoais de mulheres sobre a maternidade nas mídias sociais. Niterói, 2019a. 216 p. Dissertação 
(mestrado). Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. 
FIGUEIREDO SOUZA, Ana Luiza de. Tabus maternos: representações e debates em mídias sociais 
brasileiras. Anais eletrônicos do X Seminário ALAIC, Niterói, 2019b. 
FURTADO, Camila. Não leia o meu blog se você estiver procurando uma razão para não ter filhos. 
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http://tudosobreminhamae.com/blog/2014/5/27/i63m5tcs7t6wquyujfgt58quymbbld. 
HOJE eu fiz um milhão de coisas pequenas. Blog de Pediatria Dra. Fernanda Naka, 25 jan. 2021. 
Disponível em: https://bit.ly/3ahKJVw. 
MAIS empatia, por favor. Mágicas de Mãe, 2 jan. 2020. Disponível em: 
https://www.facebook.com/772943826159206/photos/a.843401922446729/2644872048966365. 
MINHA cara quando falam tá cansada de quê? Universo Materno, 8 jan. 2021. Disponível em: 
https://www.facebook.com/UniversomaternooficialJPRS/posts/3786757804713109. 
O’REILLY, Andrea. “It saved my life”: The National Association of Mothers’ Centres, Matriocentric 
Pedagogy and Maternal Empowerment. Journal of the Motherhood Iniciative for Research and 
Community Involvement, Bradford, v. 4, n. 1, p. 185-209, 2013. 
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulinas, 2014. 
RODRIGUES, Magda. Meu corpo não é o mesmo, eu também não sou a mesma pessoa. Mah mãe de 
duas, 25 jan. 2021. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CKek4EhFgBm/. 
SIBILIA, Paula. O show do eu: A intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2016. 
 
 
 
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“Real motherhood” on social media: particularities, tensions and new maternal images 
 
Abstract: In recent years, motherhood is being discussed by women on social media, especially from 
the idea of “real motherhood”: the maternal experience portrayed to include its difficult, frustrating 
and ambivalent aspects, beyond the positive ones and those historically associated with the 
relationship between mother and child (love, dedication, care). The paper aims to explore how 
different women build the performance of the so-called real motherhood, and what would be its 
implications in the way motherhood and mothering are experienced and perceived. To do so, the 
article is based on Brazilian empirical examples analyzed along with theories of motherhood, 
contemporary dynamics and gender studies. It is concluded that the term “real motherhood” refers to 
the reality of each mother, their place of speech, with most of them belonging to the middle classes 
of the population on social media. The narratives they produce are more concerned with the stress of 
motherhood, maternal ambivalence, judgment of others and motherhood and mothering hegemonic 
models. Such descriptions influence some women to see motherhood as too problematic. The 
performances often have an individualistic approach, which hinders deepening the debate about 
structures that maintain motherhood oppressive for women. Still, they often relate motherhood to 
socio-environmental issues, also disseminating new maternal images, discourses and practices. 
 
Keywords: Motherhood. Mothering. Motherhood experience. Social media. Performance.