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CÁLCULO I Equipe de Professores do Projeto Newton Aula nº 06: Limites Laterais e Limite da Função Composta. Objetivos da Aula � De�nir limites laterais de uma função em um ponto de seu domínio; � Utilizar os limites laterais para veri�car a existência de um limite; � Calcular o limite de uma função composta; 1 Limites Laterais Ao discutirmos a ideia intuitiva de limite de uma função f num ponto p na aula passada, �zemos questão de sempre exibir uma tabela tomando valores maiores que p (à direita de p) e menores que p (à esquerda de p). Essa preocupação pode ser exempli�cada no seguinte exemplo: Exemplo 1. Considere a função de Heaviside, de�nida por H(t) = { 1 se t ≥ 0 0 se t < 0 . É possível calcular lim t→0 H(t)? Figura 1: Grá�co da função de Heaviside. Antes de responder a essa questão, devemos entender que considerar pontos x tendendo a um número real p pela direita, signi�ca dizer que estamos nos aproximando de p por valores maiores que ele. Sempre que �zermos isso, utilizaremos a notação x → p+. Analogamente, se considerarmos pontos x tendendo a um número real p pela esquerda, signi�ca que estamos nos aproximando de p por números menores que ele, e isso será denotado por x→ p−. No caso da função de Heaviside, H, notamos que lim t→0+ H(t) = 1 e limt→0− H(t) = 0. Formalizando essa ideia: 1 Universidade Federal do Pará Cálculo I Aula nº 07 De�nição 1. Dizemos que L é o limite à direita da função f(x) quando x→ p+ e escrevemos lim x→p+ f(x) = L se, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se p < x < p+ δ, então |f(x)− L| < ε. De�nição 2. Dizemos que L é o limite à esquerda da função f(x) quando x→ p− e escrevemos lim x→p− f(x) = L se, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se p− δ < x < p, então |f(x)− L| < ε. Como não existe um único número real para o qual a função H(t) se aproxima quando t → 0 (independente do lado pelo qual se aproxima do ponto 0), dizemos que lim t→0 H(t) não existe e esse fato é enunciando no nosso próximo teorema, que relaciona a de�nição de limite com as de�nições de limite à esquerda e à direita: Teorema 1. lim x→p f(x) = L se, e somente se, lim x→p+ f(x) = L = lim x→p− f(x) Portanto, o teorema acima é um bom critério para sabermos se o limite de uma função existe ou não, como podemos observar nos seguinte exemplos: Exemplo 2. Calcule o valor de lim x→0 f(x), se existir, onde f(x) = |x|. Solução: Por de�nição, f(x) é dada por f(x) = { x se x ≥ 0 −x se x < 0 Observemos que f(x) = x se x → 0+ e f(x) = −x se x → 0−. Logo, calculando os limites laterais, temos que lim x→0+ f(x) = lim x→0+ x = 0 e lim x→0− f(x) = lim x→0− −x = 0. Logo, pelo Teorema 1, lim x→0 |x| = 0. � Exemplo 3. Veri�que a existência do limite lim x→0 |x| x . Solução: Note que: lim x→0+ |x| x = lim x→0+ x x = lim x→0+ 1 = 1; (1) lim x→0− |x| x = lim x→0− −x x = lim x→0− −1 = −1; (2) Como lim x→0+ f(x) 6= lim x→0− f(x) então, pelo Teorema 1, temos que lim x→0 |x| x não existe. 2 Limite de uma Função Composta Nosso intuito nessa seção é estudar o limite de uma função composta. Apresentaremos dois resultados importantes para o nosso estudo, que nos permitirão calcular certos limites que por ora ainda não são possíveis. Equipe de Professores do Projeto Newton 2 Cálculo I Aula nº 07 Teorema 2. Sejam f, g duas funções tais que Imf ⊆ Dg. Se lim x→a f(x) = b e g é contínua em b, então lim x→a g(f(x)) = g ( lim x→a f(x) ) . Exibiremos agora alguns exemplos de utilização do resultado anterior. Exemplo 4. Calcule: (a) lim x→1 cos ( 1− √ x 1− x ) ; (b) lim x→1 √ x2 − 1 x− 1 ; (c) lim x→1 (3− x3)4 − 16 x3 − 1 ; (d) lim x→−1 3 √ x+ 2− 1 x+ 1 . Solução: (a) Um primeiro passo a ser dado é identi�car na composta g(f(x)) = cos ( 1− √ x 1− x ) , qual é a função f(x) e g(u). Nesse caso, �ca claro que f(x) = 1− √ x 1− x e que g(u) = cosu. Agora, devemos veri�car se as funções dadas satisfazem as hipóteses do Teorema 2. Primeiramente, vamos calcular limx→1 f(x). Observe que lim x→1 1− √ x 1− x = lim x→1 1− √ x 12 − ( √ x)2 = lim x→1 �� ��1− √ x �� ���(1− √ x)(1 + √ x) = lim x→1 1 1 + √ x = 1 2 . O segundo passo a ser dado é veri�car se g(u) é contínua em u = 1 2 . De fato, pois a função g(u) = cosu é contínua em R. Logo, pelo teorema 2, temos que lim x→1 cos ( 1− √ x 1− x ) = cos ( lim x→1 1− √ x 1− x ) = cos ( 1 2 ) . (b) Note que h(x) = √ x2 − 1 x− 1 = g(f(x)), em que g(u) = √ u e f(x) = x2 − 1 x− 1 . Note também que lim x→1 x2 − 1 x− 1 = lim x→1 ��� �(x− 1)(x+ 1) ���x− 1 = lim x→1 (x+ 1) = 2. Equipe de Professores do Projeto Newton 3 Cálculo I Aula nº 07 Como a função g(u) = √ u é contínua em 2, então segue do teorema 2 que lim x→1 √ x2 − 1 x− 1 = √ lim x→1 x2 − 1 x− 1 = √ 2. (c) Observe que não podemos enxergar nitidamente que a função h(x) = (3− x3)4 − 16 x3 − 1 pode ser representada como a composta de duas outras funções. Para isso, fazemos o seguinte método, chamado mudança de variável no limite. Como o nome diz, devemos mudar a variável x para uma variável u de tal forma que o limite possa ser facilmente resolvido. Dessa forma, façamos u = 3− x3. Observe que, desta equação, podemos concluir que x3 = 3− u (que utilizaremos para fazer a substituição no denominador da fração). Portanto, a função h(x) será escrita, em termos da variável u, como q(u) = u4 − 16 2− u . Agora, devemos determinar a �nova tendência� de u: lim x→1 u = lim x→1 (3− x3) = 2. Logo, se x→ 1, então u→ 2. E assim, calculamos: lim x→1 (3− x3)4 − 16 x3 − 1 = lim u→2 u4 − 16 2− u = lim u→2 u4 − 16 −(u− 2) = − lim u→2 (u2 − 4)(u2 + 4) u− 2 = − lim u→2 �� ��(u− 2)(u+ 2)(u2 + 4) ���u− 2 = − lim u→2 ((u+ 2)(u2 + 4)) = −4 . 8 = −32. (d) Assim como no exemplo anterior, vamos aplicar a mudança de variável no cálculo do limite lim x→−1 3 √ x+ 2− 1 x+ 1 . Fazendo u = 3 √ x+ 2, observe que x = u3 − 2 e que, como lim x→−1 u = lim x→−1 3 √ x+ 2 = 1, Equipe de Professores do Projeto Newton 4 Cálculo I Aula nº 07 temos que se x→ −1 então u→ 1. Logo, lim x→−1 3 √ x+ 2− 1 x+ 1 = lim u→1 u− 1 u3 − 1 = lim u→1 ���u− 1 ��� �(u− 1)(u2 + u+ 1) = lim u→1 1 u2 + u+ 1 = 1 3 . � O próximo teorema é uma consequência imediata do teorema anterior e a�rma propriedade extremamente útil para a determinação de limites, pois garante que a composta de duas funções contínuas também é contínua: Teorema 3. Sejam f, g funções tais que Imf ⊆ Dg. Se f for contínua em a e g for contínua em f(a) então a função composta (g ◦ f)(x) = g(f(x)) é contínua em a. A utilidade desse último resultado é mostrado nos seguintes exemplos: Exemplo 5. Determine o maior subconjunto A de R em que a função h(x) = cos(x2) é contínua. Solução: Note que a função h(x) pode ser reescrita como (g ◦ f)(x) em que f(x) = x2 e g(u) = cosu. Note que f é contínua em R e g é contínua em R. Logo, pelo teorema 3, temos que a composta g ◦ f é contínua em A = R. � Exemplo 6. Determine o maior subconjunto A de R em que a função h(x) = ln(1 + senx) é contínua. Solução: Note que a função f(x) = 1 + senx é contínua em R. Mas, a função g(u) = lnu é contínua em seu domínio, que é o conjunto (0,+∞). Sendo assim, devemos tomar os valores de x ∈ Df tais que f(x) > 0, ou seja senx > −1. Desse modo, a composta não estará de�nida para os valores de x em que senx = −1, isto é, para x = ±3π 2 ,±7π 2 , ..., sendo a mesma contínua nos outros valores. Portanto, A = R− { 3π 2 + 2kπ } , k ∈ Z. � Resumo Faça um resumo dos principais resultados vistos nesta aula. Aprofundando o conteúdo Leia mais sobre o conteúdo desta aula nas seções 2.2 e 2.3 do livro texto. Sugestão de exercícios Resolva os exercícios das seções 2.2 e 2.3 do livro texto. Equipe de Professores do Projeto Newton 5