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COMPETÊNCIA 3COMPETÊNCIA 3 Compreender e usar Compreender e usar a linguagem corporal a linguagem corporal como relevante para a como relevante para a própria vida, própria vida, integradora social e integradora social e formadora da identidade.formadora da identidade. 162 | A competência da área 3 tem como foco o corpo, e busca compreendê-lo a partir de sua dimensão significativa. Dessa forma, o corpo deve ser anali- sado a partir das relações que ele estabelece com a sociedade e como essas relações são traduzidas em linguagem a partir da corporeidade ou a partir de discursos sobre o corpo. Por vezes, a compe- tência 3 é tida como a que aborda a “educação física”, pois apresenta questões sobre esportes e atividades físicas, direcionadas para a construção de uma noção de saúde corporal e de socialização por meio de atividades esportivas/lúdicas. Dentro da prova cujo elemento central são dife- rentes formas de linguagem, é essa a competên- cia que especifica o foco para a linguagem corpo- ral. Nesse contexto, como podemos definir o que seria, de forma ampla, essa linguagem corporal? Considerando linguagem como um sistema com- posto de elementos codificados que possibilitam a significação e a comunicação, devemos consi- derar, no caso da linguagem corporal, o corpo como o elemento material a ser codificado/de- codificado. Um olhar, um tom de voz, um mo- vimento brusco, um braço cruzado ou um dedo erguido... todos esses elementos são possibilida- des materiais que o corpo pode reproduzir; no momento que um desses elementos é percebido não apenas como corpo, mas como algo “suges- tivo” (belo, ofensivo, agressivo) que remete a um significado, o corpo, além de corpo, passa a ser um signo. Por vezes a linguagem do corpo, não falada, pode se manifestar sem a intenção de quem a “emite”; difere da escrita e da oralidade, ela pode se fazer presente e significante independente da nossa vontade. O corpo fala, mas fala sua própria língua, que não pode ser traduzida perfeitamente em pa- lavras e se manifesta e se faz compreender por vezes sem qualquer mediação verbal. Pensando em situações que a linguagem corporal se apresenta de forma motivada, com o corpo se tornando significante de forma intencional, ob- servamos esse movimento presente nas diversas manifestações artísticas que utilizam o corpo como suporte ou meio de construção da arte. De certa forma, a produção de uma obra de arte é intencio- nal; seu significado pode não corresponder a sua intenção, mas sua produção é sempre motivada. No teatro, na dança, na performance e até no es- porte, o corpo é inserido em uma situação onde suas ações (seu movimento e presença) busca cor- responder a uma codificação específica, buscando se adequar a um funcionamento definido de ante- mão, mas sempre necessário de ser performado. “Até o momento, ninguém, na verdade, determinou o que pode o corpo... Pois ninguém, até o momento, conheceu a estrutura do corpo”. (B. Espinoza) Competência 3 | 163 O corpo e sua linguagem são os elementos primários de nossa interação com o mundo, da nossa com- preensão sobre ele e sobre nós mesmos. Desde que nascemos, antes de pensar por palavras, nós sentimos pelo corpo; e a conexão do corpo com a linguagem só não é mais primordial do que a do corpo com a vida, em sentido mais amplo. O trecho abaixo expõe essa essencialidade do corpo para a existência, usando termos semelhantes aos presentes nas competências e nas questões do ENEM: As ações que tecem a trama da vida cotidiana, das mais fúteis ou das menos concretas até aquelas que ocorrem na cena pública, envolvem a mediação da corporeidade; fosse tão somente pela atividade perceptiva que o homem desenvolve a cada instante e que lhe permite ver, ouvir, saborear, sentir, tocar e, assim, colocar significações precisas no mundo que o cerca. Moldado pelo contexto social e cultural em que o ator* se insere, o corpo é o vetor semântico pelo qual a evidência da relação com o mundo é construída: atividades perceptivas, mas também expressão dos sentimentos, cerimoniais dos ritos de interação, conjunto de gestos e mímicas, produção da aparência, jogos sutis da sedução, técnicas do corpo, exercícios físicos, relação com a dor, com o sofrimento, etc. Antes de qualquer coisa, a existência é corporal. Os usos físicos do homem dependem de um conjunto de sistemas simbólicos. Do corpo nascem e se propagam as significações que fundamentam a existência individual e coletiva; ele é o eixo da relação com o mundo, o lugar e o tempo nos quais a existência toma forma através da fisionomia singular de um ator, Através do corpo, o homem apropria-se da substância de sua vida traduzindo-a para os outros, servindo-se dos sistemas simbólicos que compartilha com os membros da comunidade. (A Sociologia do Corpo – David le Breton) *A palavra “ator” é usada nesse contexto de análise sociológica como ator social, para se referir ao indivíduo perante a sociedade. "Qual é a estrutura de um corpo? O que pode um corpo? A estrutura de um corpo é a composição da sua relação. O que pode um corpo é a natureza e os limites do seu poder de ser afetado" (G. Deleuze) 164 |