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Página 1 M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 21 Do ponto de vista anatômico, a via aérea superior pode ser definida como o conjunto de estruturas tubulares do sistema respiratório localizado acima do nível da glote. Do ponto de vista prático, as vias aéreas superiores são as fossas nasais, a faringe (nasofaringe, orofaringe e hipofaringe) e seios paranasais. A laringe, epiglote e traquéia são os elementos intermediários das vias aéreas. O termo vias aéreas inferiores se refere ao parênquima pulmonar e aos bronquíolos. As principais síndromes clínicas das vias aéreas superiores são: resfriado comum, faringite, otites e sinusites; e nas vias aéreas intermediárias temos as laringites, laringotraqueobronquites e epiglotites como doenças representantes desta categoria (mas que podem ser incluídas como infecções das vias aéreas superiores por algumas literaturas); a bronquite e pneumonias são as doenças agrupadas no contexto das desordens das vias aéreas inferiores. Este capítulo tem por função abordar, de maneira objetiva, as principais infecções das vias aéreas superiores (IVAS), que não são condições graves e ameaçadoras a vida, mas que representam um impacto socioeconômico muito importante quando analisamos as faltas anuais à escola quando as crianças estão acometidas e a as faltas ao trabalho quando os pais reservam seu tempo para tratar ou cuidar do filho doente. Como vimos anteriormente, embora não imponham risco de vida ao paciente (salvo em raras exceções, como a epiglotite, a laringite bacteriana e complicações gerais como a celulite por sinusite orbitária e a faringite com abscesso), as IVAS representam um importante impacto econômico quando analisamos as abstinências ao trabalho que os pais devem passar para cuidar de seus filhos – além da própria falta às aulas por parte das crianças. Além disso, as IVAS respondem por cerca de 40 a 60% dos atendimentos pediátricos nas Américas, representando também a maioria dos atendimentos em pediatria no Brasil. E, a partir daí, sempre existe a perspectiva de um diagnóstico por parte dos familiares, para que seja solicitado algum exame (como um “raio-X de pulmão”) ou alguma prescrição. Contudo, existe um aforismo em medicina que diz: “Uma gripe tratada com vários medicamentos dura uma semana; uma gripe tratada sem nenhum medicamento dura sete dias”. Portanto, a maioria das IVAS são auto-limitadas e, desta forma, o mais correto seria acompanhar o paciente clinicamente administrando, no máximo, medidas sintomáticas. Entretanto, a falta desta informação sempre gera uma pressão por parte dos pais que, se não forem atendidas as suas expectativas, não retornam mais ao médico e passam a dificultar o seguimento (follow-up) do paciente. Portanto, é papel do médico orientar, com segurança e propriedade, os pais com relação à gravidade e ao tratamento das IVAS, principalmente no que diz respeito ao fato de a maioria delas ser auto-limitada. As síndromes infecciosas das vias aéreas superiores podem ser causadas por uma grande variedade de agentes, como os vírus (principalmente) e bactérias. O fato que faz com que as IVAS por vírus sejam mais comuns tem explicação baseada na incapacidade do sistema imunológico em guardar memória contra estes invasores. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 22 Além disso, existe uma tendência que corrobora à seguinte conclusão: quanto mais novo for o paciente portador de IVAS, maior a probabilidade de se tratar de uma infecção viral, uma vez que os anticorpos passados de mãe para filho não são eficazes contra estes agentes; somente depois de um certo tempo e depois de certa idade (período necessário para que os anticorpos da mãe sejam substituídos), a criança passa a sofrer mais com infecções bacterianas. Etiologia Vírus Bactérias Picornavírus: abrange o rinovírus, o agente mais frequente e responsável por 30 – 40% das IVAS, e os enterovírus (Coxsackie, Echovírus e Poliovírus). Adenovírus Paramixovírus: parainfluenza, sarampo e caxumaba. Ortomixovírus Faringite: Streptococcus pyogenes Otite média aguda: S. pneumoniae, H. influenzae não tipável, Moraxella catarrhalis e S. pyogens. Sinusite: S. pneumoniae, H. influenzae, Moraxella catarrhalis e S. aureus (sinusites crônicas) Epiglotite: H. influenzae tipo b, S. pyogens, S. pneumoniae, S. aureus. A faringite aguda com envolvimento das amígdalas palatinas é uma doença inflamatória da orofaringe, caracterizada por eritema e pela presença ou não de exsudato amigdaliano, ulcerações e vesículas. O acometimento agudo da orofaringe e das amígdalas é também conhecido como angina. Com relação à etiologia, podemos afirmar que os agentes virais (75%, sendo o Adenovírus o mais comum) e, menos comumente, os bacterianos (Estreptococos, principalmente, seguidos de Haemophilus, S. aureus, Moraxella, Mycoplasma, Chlamydia, C. difteriae, Bordetella pertussis e Bacterióides) respondem pela maioria dos casos. Como vimos anteriormente, crianças menores que três anos raramente apresentam doença bacteriana. Após essa idade, a incidência se eleva de forma importante entre os 4 e 7 anos de idade e volta a cair, permanecendo estável entre adultos jovens. Sabemos que a presença ou ausência das amígdalas não afeta a suscetibilidade em adquirir a infecção faríngea, o seu curso clínico e o surgimento de complicações. Além disso, a diferenciação entre a infecção viral e bacteriana, difícil em alguns casos, é importante, uma vez que a terapia com Penicilina oferece uma melhora dramática na doença bacteriana e nada acrescenta nas infecções virais. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Semiologicamente, podemos dividir as faringoamigdalites de acordo com seu aspecto clínico em: Eritematosas: hiperemia e congestão da superfície tonsilar. A principal etiologia é viral. Eritematopapultáceas: hiperemia e edema associados a um exsudato amarelado não aderente nas criptas e na superfície tonsilar. Destacamos a faringite estreptocócica e faringite por vírus Epstein-Barr (EBV) – este provoca, além da amigdalite, um aumento tonsilar importante, linfadenomegalia cervical, rash e esplenomegalia. Pseudomembranosas: placas esbranquiçadas aderentes ao tecido amigdaliano que podem invadir a faringe, palato e úvula. O exsudato é branco-acinzentado e muito aderente. A tentativa de retirada provoca sangramento abundante. Destaca-se, neste caso, a difteria. Ulcerosas: as úlceras podem ser superficiais (vesiculosas), como na herpangina e na angina herpética; ou mais profundas, como na angina de Plaut-Vincent, tuberculose, sífilis e imunodeficiências. Além disso, outras situações clínicas devem ser consideradas. A faringoamigdalite associada ao resfriado comum não costuma estar associada a dor intensa e, geralmente, a criança apresenta dor de garganta moderada ou queixa-se de “garganta arranhando ou coçando”. Corrimento nasal, tosse, mal-estar, anorexia e febre usualmente estão presentes. No exame físico, a faringe se apresenta eritematosa e edemaciada. A faringite estreptocócica se inicia com queixas pouco específicas de cefaléia, dor abdominal e mal-estar, e a criança pode apresentar náuseas, vômitos e febre de até 40ºC. A dor de garganta, depois de algum tempo, pode se intensificar. Ao exame físico, o exsudato pode assumir a forma de uma membrana amarelo-acinzentada limitada ao tecido linfóide. O edema de úvula pode também ocorrer. Os linfonodos, que se encontram aumentados, são dolorosos. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 23 z z z z Faringite estreptocócica cursando apenas com hiperemia da faringe, sem hipertrofia das tonsilas. Faringite estreptocócica com hipertrofia de amígdalas.Faringoamigdalite estreptocócica com presença de exsudatos amarelo-acinzentados puntiformes característicos. Mononucleose infecciosa, uma doença viral cujo diagnóstico deve ser diferencial com relação às faringoamigdalites bacterianas. É uma doença típica de adolescentes com histórico passado de contato íntimo por beijos com outras pessoas desconhecidas (por isso, é conhecida como “doença do beijo”). Caracteriza-se na forma de placas exsudativas esbranquiçadas; além disso, paciente apresenta tríade clássica: faringite, adenomegalia e febre. O tratamento é sintomático e repouso. OBS1: O leucograma não diferencia com confiabilidade entre infecções bacterianas e virais, não sendo um dado laboratorial consistente. Contudo, de uma forma geral, na vigência de uma infecção estreptocócica, podemos encontrar leucocitose por neutrofilia com predomínio de segmentados, enquanto que nas infecções virais ocorreria leucocitose por linfocitose com atipia linfocitária acima de 4%. OBS2: O swab de orofaringe, seguido de cultura em ágar-sangue, possui uma elevada especificidade e sensibilidade na identificação do Streptococcus pyogenes. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 24 TRATAMENTO A maioria das faringites agudas é provocada por vírus e não necessita de terapia específica (à exceção da angina herpética em pacientes imunossuprimidos; para os quais, prescreve-se Aciclovir endovenoso). A antibioticoterapia deve ser utilizada na angina estreptocócica por vários motivos (um deles, é o fato de que esta medida previne a febre reumática e o surgimento de complicações supurativas; embora não previna a glomerulonefrite aguda pós- estreptocócica). A Penicilina Benzatina é a droga de escolha para este caso. Outros antibióticos também podem ser utilizados em caso de culturas específicas. De uma forma geral, recomenda-se evitar sulfas, tetraciclinas e cloranfenicol. Fora estes, temos: Penicilina G Benzatina (Benzetacil®) dose única Vantagens: dose única de administração; droga de baixo custo; evita complicações da estreptococcia. Desvantagens: via e aplicação dolorosa; risco com relação a choque anafilático (ver OBS3) Amoxacilina 7 a 10 dias Amoxacilina- Clavulanato 7 a 10 dias Cefalosporinas 2ª geração Cefuroxima 5 dias Macrolídeos - em alergia aos β- lactâmicos Azitromicina – por 7 dias Claritromicina – por 7 dias OBS3: O teste de sensibilidade alérgica ao Benzetacil® não se faz necessário, uma vez que uma boa anamense com histórico familiar e medicamentoso bastaria para evitar reações anafilactóides. No eventual caso de um processo de choque anafilático, podemos proceder com o uso de Adrenalina subcutânea e Dexametasona (Decadron®). FARINGOAMIDALITES RECORRENTES A microbiologia que está relacionada com as faringoamigdalites recorrentes é semelhante a das agudas, e inclui: Streptococo spp, H. influenzae e S. aureus. Contudo, por vezes, existe uma etiologia polimicrobiana envolvida e, em boa parte das infecções, existem bactérias produtoras de β-lactamase (resistentes à penicilina). Portanto, na ocasião de faringoamigdalites recorrentes, devemos optar pelos seguintes antibióticos: Amoxacilina- clavulanato 7 a 10 dias Cefalosporinas de 2ª e 3ª geração por 7 a 10 dias (Cefaclor, Cefprozil, Cefpodoxima, Cefuroxima) Macrolídeo para alérgicos: optar por Claritromicina. OBS4: A amigdalectomia consiste na retirada das amígdalas. Um número aumentado de infecções de garganta (tonsilites de repetição) não é uma indicação consistente para a ressecção das amígdalas. Diferentemente disso, a periodicidade das exacerbações poderia indicar a amigdalectomia: (1) sete crises ou mais no último ano; (2) cinco episódios anuais nos últimos dois anos; (3) três ou mais episódios nos últimos três anos. A obstrução do trato aerodigestivo (que pode levar a apnéia obstrutiva do sono) é a única indicação absoluta para tonsilectomia. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 25 z Este grupo de doenças é caracterizado pela presença de lesões aftóides, vesiculosas e/ou ulceradas. São as lesões mais comuns da cavidade oral, sendo as aftas comuns as principais representes deste grupo. As lesões podem ocupar tanto as gengivas como a mucosa oral. Quanto às estomatites, podemos destacar os seguintes grupos: Estomatite aftosa: a gengivoestomatite aftosa tem etiologia desconhecida, mas pode estar relacionada com microtrauma oral por mordedura da mucosa e que infecciona, formando tais lesões. É caracterizada por úlceras rasas, eritematosas, únicas ou múltiplas, e recorrentes. Seu tratamento é desnecessário, uma vez que é auto-limitada e de etiologia não muito clara, recomendando-se apenas uma higiene oral adequada e o uso de sintomáticos (anestésicos). Estomatite herpética: a estomatite herpética se manifesta a partir do primeiro contato com o vírus que, geralmente, ocorre na infância, entre 3 a 5 anos de idade. 80% das infecções é por Herpes simplex tipo 1 (HSV1) e 20% do tipo 2 (HSV2), com período de incubação entre 2-7 dias, sendo a maior parte delas na forma subclínica e, apenas 1%, se manifestando de forma aguda. A estomatite pelo vírus do herpes é caracterizada por lesões vesiculares, dolorosas, com hiperemia e edema. Pode se manifestar tanto na mucosa labial como na oral. O quadro é auto-limitado, mas o uso de antivirais (como o Aciclovir®) pode ser uma opção. Existem crianças que apresentam queda do estado geral e perda do apetite e, para elas, pode ser necessária a internação. Muitas vezes, esta patologia cursa com queda associada da imunidade e a criança pode desenvolver infecções secundárias. Herpangina: é uma doença virótica característica do final da infância, de localização mucosa do palato e na orofaringe, apresenta-se com características sazonais (mais comum no verão). É causada pelo vírus Coxsackie A e ocorre em surtos esporádicos. As manifestações clínicas são moderadas e de curta duração, começando com dor de garganta, febre baixa, cefaléia, vômitos e dor abdominal. As lesões clínicas predominantes aparecem na boca, manifestando com múltiplas vesículas pequenas e ovóides de base eritematosa localizadas, principalmente, na região posterior da cavidade oral: região tonsilar, palato mole, palato duro e orofaringe. O paciente apresenta ainda bolhas ou exantemas nas mãos e nos pés. Trata- se de um quadro mais leve, com menos dor. O tratamento é paliativo e de suporte, sendo recomendado repouso, aspirinas e líquidos. A xilocaína viscosa ou o benadril podem ser úteis no controle do desconforto. Monilíase (Candidíase): lesões orais fúngicas que se manifestam, principalmente, em pacientes imunossuprimidos, internados em UTI ou portadores de HIV. Caracterizam-se por lesões disseminadas na cavidade oral. Os principais tipos de afeções que envolvem o aparelho auditivo externo são: Herpes Zoster de Orelha: caracteriza-se por lesões vésico-bolhosas no pavilhião auditivo que surgem como lesões recorrentes do quadro de varicela. O vírus, previamente incubado em gânglios nervosos de nervos sensitivos, forma as lesões na ocasião de estresse ou alteração na imunidade. Embora a lesão tenha um aspecto agressivo, o que é mais importante é a dor que ela causa no dermátomo nervoso. A dor chega a ser tão grande que pode ser necessário o uso de antidepressivos tricíclicos (como a Amitriptilina) associado ao Aciclovir. Otomicoses: o acometimento fúngico do pavilhão auditivo pode ser causado pela candidíase e pela aspergilose. Ambas acometem mais a região do conduto auditivo externo e membrana timpânica. A má higiene da orelha associada a um processo precário de enxugá-la, predispõe ao quadro. Neste caso, faz-se importante a realização de uma cultura para identificação do tipo de otomicose. Otite externa aguda: pode serdifusa ou localizada (furunculose), sendo o S. aureus o principal agente envolvido. Pode estar associada com secreção sanguinolenta. A maioria dos pacientes com más condições de higiene (comum em crianças) pode levar ao quadro de otite externa crônica que, eventualmente, pode culminar na formação de uma lesão granulomatosa. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 26 O tratamento na vigência das otites externas caracteriza-se, essencialmente, pelo uso tópico com antibióticos, analgésicos ou corticóides. Antibioticoterapia sistêmica deve ser utilizada quando houver celulite associada. A otite média aguda (OMA) é uma das doenças mais frequentes na criança, resultando em mais de 25 milhões de prescrições de antibióticos/ano nos EUA. Este fato contribui para aumentar a pressão seletiva em patógenos respiratórios, aumentando a resistência aos antibióticos. Até os 3 anos de idade, mais que 2/3 das crianças têm 1 ou mais episódios de otite média. Os principais fatores de risco para OMA são: Idade: crianças menores que 2 anos apresentam maior risco devido à imaturidade imunológica e à própria anatomia da trompa de Eustáquio (que é mais curta e horizontal nesta faixa etária, prejudicando os seus mecanismos antirrefluxo e de drenagem da orelha média). Sexo: meninos são um pouco mais afetados. Raça: trabalhos mostram preponderância na raça branca. Perfil socioeconômico: a pobreza é considerada um dos principais fatores de risco, na medida em que favorece aglomerações, higiene inadequada, menor acesso ao sistema de saúde. Aleitamento artificial: o aleitamento materno reduz os casos de OMA. Tabagismo passivo Anomalias congênitas: fenda palatina e síndrome de Down. OBS5: Os pediatras costumam referir três situações que fazem com que os pais busquem a consulta médica de madrugada, geralmente: a otite média aguda, cólica e a presença de corpos estranhos, que deve ser retirado com uma pinça ou, se não for possível, imobilizado. A dor da cólica caracteriza-se como uma dor intermitente, com períodos curtos de melhora e piora; já o quadro de otite caracteriza-se por uma dor intensa e contínua. A cólica, entretanto, pode estar relacionada com a doença do refluxo e que também pode desencadear uma otite. OBS6: A otite média recorrente é caracterizada por 3 episódios em 6 meses. Esta recidiva também é um aspecto epidemiológico frequente na doença entre crianças pequenas, estimando-se que até 50% terão mais de um episódio. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 27 PATOGENIA A maioria dos episódios são complicações de infecções do trato respiratório superior relacionadas com alterações anatômicas das vias auditivas e respiratórias. A base fisiopatológica é a disfunção da trompa de Eustáquio. A obstrução da tuba de Eustáquio impede a ventilação do ouvido medo e o equilíbrio de pressões, criando um vácuo com pressão negativa nesta câmara, que resulta em acúmulo de fluido e secreção no ouvido médio. O muco acumula-se no ouvido médio, agora em um espaço totalmente fechado. A infecção viral da tuba também pode contribuir diretamente para a formação deste muco. Episódios intermitentes de aspiração, refluxo gastroesofágico ou insuflação da tuba podem laçar as bactérias colonizadoras da nasofaringe na cavidade do ouvido médio. O acúmulo de pus no ouvido médio funciona como um “abscesso”, provocando abaulamento da membrana timpânica, que cursa com otalgia intensa. Se a OMA não for tratada, após alguns dias, a tendência é que o pus no ouvido médio encontre uma via de saída (autodrenagem) através de uma pequena perfuração na membrana timpânica. Nesse momento, a otalgia melhora e a criança elimina a secreção purulenta pelo ouvido (otorréia). ETIOLOGIA Cerca de 90% das OMA ficam sem agente identificado. Os vírus foram isolados em apenas 25% dos fluidos de ouvido médio de crianças com OMA. Os agentes etiológicos mais frequentemente identificados nos casos de OMA são: S. pneumoniae ou pneumococos (30 – 50%); H. influenza não tipável (25 – 30%); Estreptococos do grupo A (8%); M. catarrhalis (3%); S. aureus (2%); Outras bactérias, como o M.pneumoniae, respondem por 21%. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Por definição clínica, a OMA caracteriza-se por: Fluido no ouvido médio, febre (embora 50% dos casos cursa sem febre) Dor (otalgia) ou irritabilidade, associada a dificuldade para dormir e choro intenso Hipoacusia flutuante Membrana timpânica opaca e com mobilidade limitada, perda do reflexo da luz; ela pode estar abaulada ou retraída, geralmente com hiperemia circundando sua inserção Dor intensa e contínua que se encerra rapidamente com a drenagem da secreção TRATAMENTO O tratamento consiste em analgesia (que pode ser feita com Paracetamol, Dipirona ou Ibuprofeno) e antibioticoterapia: Antibióticos de primeira linha: Amoxacilina 10 a 14 dias Bactrim 10 a 14 dias Antibióticos segunda linha (para os alérgicos) Macrolídeos 5 dias Em caso de falência de tratamento: Cefalosporinas 2ªgeração Amoxacilina- clavulanato No caso das otites médias recorrentes (ver OBS6), geralmente estão envolvidas bactérias produtoras de β- lactamases, como a H.influenzae e a M. catarrhalis. Desta forma, o tratamento deve ser o mesmo instituído para os casos de falência da terapêutica para a OMS: Cefalosporinas de 2ª geração 14 a 21 dias Amoxacilina-clavulanato 14 a 21 dias M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 28 As sinusites (ou rinossinuistes, termo que pode ser igualmente empregado uma vez que as mucosas do nariz e seios paranasais são contíguas e centrífugas embriológicas, e respondem de forma similar à terapia clínica) respondem por significa inflamação nos seios paranasais. Geralmente é consequência de afecções nasais que avançam por continuidade, pois a mucosa sinusal é continuação da mucosa nasal (rinossinusite). A doença dos seios paranasais acomete os principais seios da face, que inclui: Maxilar, Etmoidal, Esfenoidal e Frontal. Podem ser causadas por agentes infecciosos (como vírus, bactérias e fungos), mecanismos alérgicos ou por ambos ao mesmo tempo (rinossinusopatia infecto-alérgica). CLASSIFICAÇÃO Aguda: duração dos sintomas até 4 semanas Sub-aguda: duração dos sintomas de 4 a 12 semanas Crônica: duração dos sintomas por mais de 12 semanas SUB-CLASSIFICAÇÃO Recorrente: mais de 3 episódios agudos por ano Crônica agudizada: sintomas por mais de 12 semanas com episódios de agudização Complicada: complicação local ou sistêmica em qualquer fase FATORES ENVOLVIDOS NO SURGIMENTO DA RINOSSINUSITE Óstio de drenagem: a falta de permeabilidade dos seios nasais é o fator mais importante. Anormalidade anatômicas, desvio do septo nasal ou edema da mucosa → estagnação de secreção → aumento bacteriano, diminuição de O2 e alterações no pH da mucosa sinusal. Redução da função muco ciliar: a frequência dos movimentos ciliares se reduz de 700 mov/min para 300 mov/mi. Consistência das secreções sinusais: o muco mais espesso não pode ser eliminado dos seios paranasais, se tornando meio de cultura para crescimento bacteriano. FATORES PREDISPONENTES As crianças têm mais Rinossinusites que os adultos, porque possuem estruturas anatômicas muito pequenas,maior freqüência de infecções virais, estão mais expostas aos alérgenos caseiros e agentes irritantes e, ainda, porque seu complexo óstio-meatal é longo, fino e facilmente obstruível. Alergia naso-sinusal Infecções regionais (adenoideanas e odontológicas) Escolinhas e creches na infância Mergulhos (piscina) Alterações anatômicas: desvio de septo nasal, hipertrofia de cornetos, concha bolhosa e alteração na drenagem etmoidal Corpos estranhos nasais Hipertrofia de adenóidesFatores ambientais (residência, locais insalubres, variações de temperatura e viagens de avião) Tabagismo Iatrogênicos (Medicação tópica nasal, sondas nasogástricas, tubos nasotraqueais e tamponamentos nasais oclusivos) Imunodeficiências Procedimentos odontológicos Barotrauma Traumatismos faciais Tumores nasais (polipose) Doenças sistêmicas (mucoviscidose e Kartagener) M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 29 SINTOMATOLOGIA Ao contrário da criança maior e do adolescente, a criança menor (< 5 anos) não manifesta dor facial, cefaléia, edema e sensibilidade à percussão da face. As manifestações mais comuns de rinossinusites na infância são tosse e secreção nasal, ou seja, um “resfriado que demora a passar”, que dura mais de 10 – 14 dias. A tosse é o principal sintoma de sinusite na infância e ocorre durante o dia e piora quando a criança encontra-se em posição supina. A secreção pode ser clara ou purulenta. De um modo geral, podemos destacar uma sintomatologia para as sinusites agudas e crônicas (*). Cefaléia →pressão facial* Dor na arcada dentária superior Obstrução nasal* Secreção nasal e faríngea* Voz anasalada* Mau hálito – redução do olfato* Febre – fadiga Tosse – irritação de garganta – disfonia* Manifestações auditivas: – ouvido entupido*; tonturas; otalgias Concluímos que, pelas manifestações clínicas pouco específicas na maioria das crianças, uma rinossinusite apresenta sinais e sintomas muito semelhantes a qualquer infecção viral de vias aéreas superiores, diferenciando-se destas principalmente pela duração do quadro. Desta forma, o paciente deve ser obrigado a pensar na existência de sinusite de etiologia bacteriana quando uma infecção de via aérea superior não melhorar e, eventualmente, piorar cerca de 10 dias após seu início. EXAME FÍSICO Os seguintes sinais podem ser perceptíveis à ectoscopia da cavidade nasal: Hiperemia nasal (cornetos e septo) Hipertrofia de cornetos Secreção nasal purulenta Secreção pós-nasal (orofaringe purulenta) * Dor a palpação e percussão dos seios da face EXAMES COMPLEMENTARES De uma forma geral, a utilização de exames complementares deve ser bem avaliada e sua solicitação criteriosa, uma vez que a clínica é soberana. Podemos lançar mão das seguintes ferramentas: Radiografia dos seios da face e cavum (utilidade relativa: resfriado, gripe, choro, rinite alérgica); tem baixa sensibilidade e especificidade. Endoscopia nasal Tomografia computadorizada: Na aguda – quando não evolui adequadamente ou suspeita de complicações oculares e neurológicas; Na crônica: na tentativa de buscar fatores locais predisponentes (pólipos, obstruções, etc.) Ressonância magnética nuclear: para realizar diagnóstico diferencial com tumores. Corte coronal de tomografia mostrando sinusite maxilar crônica à direita. Corte axial de tomografia mostrando sinusite etmoidal à direita. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 30 Corte coronal de tomografia mostrando opacidade (velamento) completa do seio maxilar esquerdo. TRATAMENTO O tratamento das rinussinusites tem o seguinte objetivo: Permitir e favorecer boa drenagem e ventilação dos seios paranasais Controlar processos alérgicos Utilizar antibioticoterapia adequada e por tempo útil Estudos mostram que a microbiologia por trás das sinusites agudas envolve os vírus (em apena 20 a 30%) e bacterianas, que inclui: S.pneumoniae (20-40%); H. influenzae (20-35%); M. catarrhalis (2-10%). Os principais agentes causadores das sinusites subagudas prolongadas e crônicas são S. aureus (5%) e anaeróbios (5%). A presença de múltiplos microorganismos é bem mais comum na rinossinusite crônica do que na aguda. A incidência de bactérias resistentes à β-lactamase se aproxima de 50% nos casos crônicos. Por esta razão, o tratamento das rinussinusites agudas consiste em: Antibióticos de primeira linha: Amoxacilina 500 mg 8/8 h 10-14 dias Bactrim 12/12 h 10-14 dias Antibióticos de segunda linha ( alérgicos ou intolerantes): Doxiciclina 100 mg 12/12 h 10-14 dias Macrolídeos por 3- 5 dias Cefuroxima 500mg 12/12 h 10 dias Caso de falência de tratamento: Amoxacilina- clavulanato 10- 21 dias Fluoroquinolonas respiratórias 10- 21 dias As rinussinusites recorrentes são, na maioria das vezes, causadas pelos mesmos germes, sendo, portanto, uma condição nosológica relacionada com características próprias do paciente. Podemos, desta forma, realizar os mesmos esquemas antibióticos e, de preferência, adicionar corticóides nasais, principalmente para os casos alérgicos. Algumas considerações devem ser feitas com relação às medicações suplementares, tais como: Vasoconstritor nasal tópico: existem certos receios mediante a prescrição de descongestionantes nasais tópicos para pacientes pediátricos, principalmente no que diz respeito àqueles a base de nafazolina (como o Neosoro® e o Sorine®) devido ao risco eminente de arritmias cardíacas. O uso deve ser restrito para crianças acima de 12 anos. Vasoconstritor nasal sistêmico Antiinflamatórios Antihistamínico sistêmico e tópico (cromoglicato, azelastina): devido a seus efeitos anticolinérgicos, promovem um espessamento da secreção e não devem ser utilizados, a não ser em casos de rinite alérgica associada. Corticóide sistêmico Corticóide nasal: o spray nasal de corticóide reduz o edema de mucosa em pacientes atópicos e naqueles com sinusite crônica. Analgésicos Solução salina isotônica ou hipertônica Metronidazol (para cobrir germes anaeróbios) M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a Página 31 O tempo do tratamento dura, aproximadamente, 20 dias ou até que haja desaparecimento dos sinais e sintomas (pois pode haver edema persiste, demorando mais para regredir). Na sinusite subaguda e crônica, devido à elevada incidência de microrganismos produtores de β-lactamase, a amoxicilina isolada não é recomendada. Geralmente, prescreve-se Amoxicilina-Clavulonato. A duração do tratamento deve ser de pelo menos 4 semanas. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES Celulite periorbitária: é uma complicações preocupante, na qual a infecção se alastra do seio etmoidal (sinusite etmoidal) para o tecido cutâneo periorbitário. A criança de apresenta com edema importante e sinais de flogose na região palpebral e periorbital, além de febre e queda do estado geral. Está indicada a internação hospitalar e antibioticoterapia venosa (Cefuroxima venosa, Ceftriaxona, Amoxiciclina, Amoxicilina-clavulanato). Celulite orbitária: outra complicação bastante grave e temida da sinusite etmoidal. Se não tratada de forma adequada, leva rapidamente à perda visual com e/ou infecções do SNC. O pacinete se apresenta com sinais flogísticos periorbitários acrescidos de proptose e ofltamoplegia. Conduta: internação hospitalar imediata e antibioticoterapia venosa (igual a anterior). A drenagem do seio etmoidal pode ser indicada. Otite média aguda secretora (OMAS) Broncopneumonias Ativação de asma brônquica Neurológicas: osteomielites, meningite, abscesso cerebral e tromboflebite do seio cavernoso. Como foi explicado no início do capítulo, as infecções das vias aéreas intermediárias – compostas, basicamente, por laringe, epiglote e traquéia – podem ser incluídas no estudo das IVAS. A epiglotite, laringotraqueobronquite e laringite espasmódica aguda são termos que se aplicam às doenças da laringe; estas desordens têm como características clínicas comum o estridor inspiratório e graus variados de dispnéia e tiragem. Com exceção da epiglotite, as obstruções infecciosas das vias aéreas intermediárias são causadas principalmente por agentes virais. LARINGITE A laringite (ou laringotraqueobronquiteou crupe) está relacionada com infecções viróticas promovidas pelos vírus Parainfluenza (tipos 1 e 2) em pelo menos 75% dos casos. No restante dos casos, a doença é causada por outros vitus, como: Influenza; Sincicial Respiratório; Adenovirus. Clinicamente, a laringite caracteriza-se por rouquidão e tosse (com ou sem sintomas de obstrução alta). A laringite estridulosa, por sua vez, é uma afecção que se caracteriza por laringite afebril, não-inflamatória, obstrução leve ou moderada, estridor respiratório evidente, sem comprometimento do estado geral Por ser um quadro viral ou alérgico, o tratamento é conservador. O uso de vapor quente ou frio frequentemente interrompe o espasmo laríngeo e a dificuldade respiratória em questão de minutos. Depois que o espasmo laríngeo cessa, pode-se evitar sua recorrência pelo uso de umidificação quente ou fria próximo à camada da criança nos dois a três dias seguintes. O curso e a evolução da doença é favorável, diferentemente da epiglotite. EPIGLOTITE A epiglotite consiste em uma infecção grave, caracterizando uma emergência respiratória. Embora o Haemophilus influenza tipo b tenha sido a causa habitual da epiglotite aguda na era pré-vacinal, o Streptococcus pyogenes, o S. pneumoniae e o S. aureus hoje são comumente encontrados. Esta doença representa a forma mais grave de obstrução inflamatória aguda das vias aéreas superiores ou intermediárias. O quadro é caracterizado por uma obstrução alta grave de instalação abrupta, com insuficiência respiratória precoce e comprometimento do estado geral (prostração, febre alta, ausência de tosse, ansiedade extrema). Seu curso é fulminante se não for identificado precocemente. Em questão de horas, a epiglotite pode evoluir para obstrução completa da via aérea e morte, a menos que o tratamento adequado seja instituído. O padrão-ouro para diagnóstico de epiglotite é a visualização de uma epiglote vermelho-cereja, grande e edematosa, por exame direito (laringoscopia) – contudo, o exame direito deve ser evitado. A radiografia pode vir a ser útil para afastar pneumonia. Cerca de 90% exigirá intubação ou traqueostomia (principalmente na presença de cianose, agitação e letargia). A internação do paciente em UTI pediátrica pode ser é fundamental. Como a maioria dos pacientes tem bacteremia, deve-se instituir antibioticoterapia parenteral, sendo mais utilizados a Ceftriaxona ou a Cefotaxima por 10-14 dias, a Ampicilina-Sulbactam ou a Amoxicilina-Clavulonato. M ed ic in a liv re , v en da p ro ib id a, tw itt er @ Li vr em ed ic in a