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História - Livro 4-127-129

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duas superpotências, resultando nos primeiros entendi
mentos para a limitação de armamentos
Esse clima perdurou até o início da década de 1960,
embora acompanhado por claras manifestações de que a
rivalidade não havia sido superada, estando apenas em um
momento menos agudo. Prova disso é a disputa tecnológica
entre as duas superpotências, que teve na corrida espacial
sua grande vitrine Nesse setor, a primeira grande vitória foi
da União Soviética, que colocou o primeiro satélite espacial, o
Sputnik, em órbita ao redor do planeta, em 1957, e realizou
o primeiro voo espacial tripulado, em 1961, com Yuri Gagarin
Fig. 15 O satélite Sputnik.
Entretanto, os soviéticos viam-se às voltas com con-
testações ao seu poderio dentro de seu próprio bloco. Um
exemplo foi a Iugoslávia, sob o governo de Josip Broz (Tito).
O país, embora comunista, recusara-se a aderir ao Pacto de
Varsóvia e a aceitar a tutela soviética. Na Hungria, em 1956,
assumiu o poder Imre Nagy. Questionando a submissão do
país à União Soviética, Nagy defendia a retirada da Hungria
do Pacto de Varsóvia e a adoção de uma política econômica
mais aberta, que resultasse em maior produção de bens
de consumo e na melhoria das condições materiais de vida
da população. Em novembro de 1956, tropas do Pacto de
Varsóvia invadiram a Hungria, promovendo um massacre
que resultou na morte de centenas de húngaros. Imre Nagy
foi derrubado, tendo sido colocado no poder Janos Kadar,
reconduzindo-se, assim, a Hungria à órbita soviética.
Fig. 16 Tanque soviético em Budapeste, Hungria, em 1956, e a população mos-
trando resistência à intervenção.
A descolonização afro-asiática
Um dos efeitos mais claros do final da Segunda Guerra
Mundial e do advento da Guerra Fria foi o processo de
descolonização da África e da Ásia Entre 1950 e 1960,
mais de quarenta países desses continentes conseguiram
a independência em função do crescimento das ideias na-
cionalistas, do enfraquecimento da França e da Inglaterra,
até então as principais potências coloniais, e também do
apoio da União Soviética, que via nesses novos países
independentes um espaço de crescimento internacional.
Esse grande movimento de ideias anti-imperialis-
tas integrava também líderes africanos, como Léopold
Senghor, Aimé Césaire e David Dion, que tinham lançado
um movimento de ideias conhecido como negritude, o qual
proclamava a consciência do “eu negro”. Joseph Ki Zer
bo, historiador da República de Alto Volta, afirma: “um dos
aspectos fundamentais da negritude é a afirmação de si,
após a longa noite de alienação, como aquele que sai de
um pesadelo e apalpa o corpo todo para se reconhecer a
si próprio, como o prisioneiro libertado que exclama bem
alto: ‘estou livre!’, embora ninguém lhe pergunte nada.” Sob
a iniciativa do estadunidense William Edward Du Bois e do
advogado de Trindade e Tobago Henry Sylvester Williams,
o pan africanismo promoveu uma campanha pela unidade
e pela autonomia da África, a qual, apesar de muito criti-
cada, preparou o terreno para a eclosão do nacionalismo
negro. A independência de tais países foi conduzida nos
moldes ocidentais: por uma elite modernista, educada nas
universidades europeias, e por meio da formação de par-
tidos políticos. Sendo assim, o nacionalismo veiculado por
esses partidos não representava as aspirações de um povo
oprimido e humilhado.
Os processos de independência se deram de várias
formas Em alguns casos, a independência foi negociada
com as antigas metrópoles, as quais, sob o risco de verem
sua influência totalmente eliminada nesses países, opta-
ram por conceder o poder às elites locais. Outra forma foi
a guerra aberta, na qual as colônias tiveram necessaria-
mente que buscar apoio militar internacional contra suas
metrópoles. Na maioria dos casos em que a independência
foi obtida por meio de uma guerra, essas novas nações
independentes tiveram na União Soviética uma aliada ou
ao menos uma referência, adotando regimes socialistas.
A independência dessas nações gerou profundas trans-
formações na ordem internacional Era um grupo imenso
de países recém-independentes, com todas as resistências
possíveis ao colonialismo e à dependência internacional,
resultantes de sua própria história. Assim, a supremacia
dos Estados Unidos e da União Soviética foi colocada em
xeque pela postura de boa parte desses países buscar
uma solução que não passasse pela tutela de qualquer
superpotência. Essa postura cristalizou-se na Conferência
de Bandung, na Indonésia, em 1955, na qual vinte e nove
nações recém independentes reuniram se para debater
seus problemas gerais Essa conferência foi pautada pelo
anticolonialismo e pelo combate ao racismo e ao Imperialis
mo Econômico, firmando um novo conceito na geopolítica
mundial: o Terceiro Mundo, composto de nações pobres
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que não se alinhavam ao lado soviético ou aos Estados Uni
dos. É interessante frisar que, nessa conferência, estiveram
ausentes não apenas as superpotências, mas também na-
ções europeias e mesmo da América Latina, a qual, mesmo
sendo uma região pobre, estava sob direta influência do
capitalismo estadunidense.
Fig 17 Reunião na Conferência de Bandung, em 1955
Embora não tenha apresentado uma proposta concreta
para eliminar as mazelas do chamado Terceiro Mundo (a
dependência econômica, o subdesenvolvimento e a po-
breza), a Conferência de Bandung era um sintoma claro de
uma nova realidade mundial, marcada pela emergência
de países com sérias contradições internas, que o conflito
entre Estados Unidos e União Soviética não seria capaz
de resolver.
Seria inviável analisar todos os movimentos de inde-
pendência que assinalaram o pós-Segunda Guerra Mundial.
Assim, limitaremos nossa análise aos principais desses mo-
vimentos, levando-se em consideração sobretudo o quanto
eles alteraram a ordem mundial.
Índia
Desde o século XIX, a Índia era um palco de reações
contra o domínio colonial inglês Às ações inglesas no sen-
tido de ampliar sua presença na região, inclusive coroando
a Rainha Vitória como imperatriz da Índia, correspondeu um
sentimento antibritânico crescente, que levou à fundação
do Partido do Congresso (ou Congresso Nacional Indiano),
em 1885.
Entretanto, nesse momento, as divergências étnicas
e religiosas entre a população indiana, que iriam impe
dir a unidade do país após a independência, já se faziam
presentes. Considerando que o Partido do Congresso
representava a maioria hindu da população, em 1906, foi
fundada a Liga Muçulmana, que representava a população
islâmica.
Já nesse momento destacava-se a figura de Mahatma
Gandhi. Direcionando sua luta a partir do que ele chamava
de não violência e de desobediência civil, Gandhi passou a
liderar um boicote aos manufaturados ingleses, defendendo
o uso, pela população, de tecidos rústicos de fabricação in
diana, como forma de atingir os interesses britânicos. Preso
várias vezes, Gandhi teve sua liderança reforçada a partir
da década de 1920, quando passou a comandar o boicote
ao sal, produto monopolizado por companhias inglesas.
Fig. 18 Gandhi (ao centro, sem camisa) e outros manifestantes durante a Marcha
do Sal, em 1930.
O enfraquecimento inglês após a Segunda Guerra tor
nou impossível a manutenção do domínio sobre o país;
assim, a Inglaterra adotou a política de conceder uma inde-
pendência gradual à Índia, culminando com a formalização
definitiva em 1947
Contudo, as rivalidades étnicas e religiosas já pre-
sentes ampliaram-se com a edificação do novo Estado
independente. Assim, a população muçulmana passou a
se concentrar no norte do país, dando origem ao Paquistão,
sob o governo de Ali Jinnah. A maioria hindu criou a União
Indiana, sob governo de Jawaharlal Nehru. A população
budista recusou a supremacia hindu e concentrou-se na
ilha do Ceilão, onde, em 1948, surgiu o terceiro Estado au-
tônomo da região, o Sri Lanka.
Essa divisão atestou uma das maiores chagas que en-
frentariam as novas naçõesindependentes. Os conflitos
étnico-religiosos, até então ocultos sob o manto da violenta
dominação internacional, vieram à tona quando da edificação
dos novos Estados, ainda frágeis e sem condições de acomo
dar a gama de diversidades interna. Na Índia, esses conflitos
ampliaram-se, gerando cerca de um milhão de mortes. Foi
inclusive em uma manifestação desse conflito que Gandhi foi
assassinado, em 1948, por um fanático hindu, descontente
com sua política conciliatória em relação aos muçulmanos.
A independência da Índia não solucionou, portanto, as
condições inerentes ao colonialismo e as próprias caracte
rísticas da Índia, ou seja: a miséria, as desigualdades sociais
profundas, agravadas pelo rígido sistema de castas, e os
conflitos étnicos e religiosos. Ao contrário, o clima de extre-
mismo ampliou-se, ao mesmo tempo que as contradições
de sua estrutura interna convergem para uma situação na
qual o país é hoje um polo de desenvolvimento tecnológico
em áreas como a informática e a indústria aeroespacial Por
outro lado, conta com uma das populações mais miseráveis
do mundo. Embora não consiga lidar com as contradições
internas, a Índia desenvolve, desde 1974, um programa
nuclear que possibilitou a fabricação da bomba atômica.
Sintomaticamente, nessa mesma década de 1970, a
região era palco da guerra de independência do Paquistão
Oriental, dando origem à República de Bangladesh, em um
conflito no qual a reação do Paquistão Ocidental provocou
um dos maiores genocídios do século XX.
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HISTÓRIA Capítulo 11 A Segunda Guerra Mundial e o mundo pós-guerra128
Ainda hoje, os conflitos étnicos e religiosos ameaçam a
unidade do país e a estabilidade política As lutas do funda-
mentalismo hinduísta em oposição ao islamismo provocaram
os assassinatos da primeira-ministra Indira Gandhi, em 1984,
e de seu filho Rajiv Gandhi, em 1991, ambos mortos por
terroristas sikhs (hindus da região norte do país). Crescem
também os atentados terroristas e a luta pela independência
da minoria tâmil (hindus) no Sri Lanka, gerando um conflito
responsável pela morte de mais de 50 mil pessoas.
Sudeste Asiático
A região, pela proximidade com a China (que era um
país socialista desde 1949), concentrou um interesse funda-
mental das superpotências, que se manifestou basicamente
na Indonésia e na Indochina, que hoje compreende o Viet-
nã, o Camboja e o Laos
Na Indonésia, região que compreende as ilhas de Java
e Sumatra e que estava sob domínio da Holanda desde o
século XVII, a independência foi formalizada em 1949, com
o governo do país recém-independente entregue ao gene-
ral Ahmed Sukharno. Aproximando-se da China, Sukharno
instalou um governo autoritário internamente, ao mesmo
tempo que, externamente, buscava firmar uma posição de
liderança junto aos países pobres que acabavam de sair
do colonialismo. Foi durante seu governo que se realizou
a Conferência de Bandung.
A proximidade de Sukharno em relação ao governo
chinês provocou a reação ocidental, temerosa quanto ao
“perigo vermelho” na região, representado pela China,
pelo Vietnã e pelo Camboja. Foi com apoio ocidental que
o general Suharto tomou o poder em 1965, criando um
regime de aproximação com o Ocidente e de abertura aos
investimentos dos países capitalistas, ao mesmo tempo que
impunha uma violenta repressão interna e adotava uma
política expansionista, cristalizada na anexação do Timor
Leste, antiga colônia portuguesa.
A Indochina, região sob domínio francês desde o
século XIX, era palco, desde a década de 1930, de uma
luta anticolonialista, liderada por Ho Chi Minh, fundador da
Frente de Libertação do Vietnã e de seu braço armado, o
Viet Minh. Entretanto, em 1941, com a rendição da França
perante o Eixo, a região passou para o domínio japonês,
que instalou um governo de fachada nas mãos do impera-
dor Bao Dai. Assim, a luta do Viet Minh passou a ser contra
o domínio japonês até o ano de 1945, quando o Japão
rendeu-se aos aliados ao final da Segunda Guerra Mundial
A rendição japonesa promoveu a retomada do domí
nio da região pela França. Bao Dai, que havia servido aos
franceses e depois aos japoneses, tornou-se novamen-
te um títere dos franceses. Com isso, a luta do Viet Minh
voltou a ter a presença francesa como alvo. Diante do ris
co de queda da França em uma região já convulsionada
pela Revolução Chinesa e pela ascensão de Sukharno na
Indonésia, a Indochina passou a atrair a preocupação do
governo dos Estados Unidos. Foram inúmeras as propostas
de intervenção militar estadunidense na região naquele
momento, até mesmo com a possibilidade de utilização de
uma bomba atômica, então vista como a grande arma para
vencer a Guerra Fria, para acabar com a luta do Viet Minh
Em 1953, os franceses acabaram sendo derrotados na
batalha de Dien Bien Phu, confirmando sua saída da Indo-
china Para negociar a paz, o governo francês convocou a
Conferência de Genebra, em 1954. Formalmente, o objetivo
dessa conferência era o de reconhecer a independência do
Vietnã e também do Laos e do Camboja, além de formalizar
a instalação de novos governos naqueles países.
Entretanto, a posição dos Estados Unidos, que viam
o risco representado pelo crescimento do comunismo na
região, foi decisiva para que se frustrasse a independência
efetiva desses países. Assim, os estadunidenses propuse-
ram que o Vietnã fosse dividido em duas partes, com base
no paralelo 17° N A porção ao norte, onde o Viet Minh era
mais forte, ficaria sob controle de Ho Chi Minh, tendo Ha-
nói como capital No sul, com capital em Saigon, Bao Dai
permaneceria no poder, com um governo pró-Ocidente O
acordo previa a realização de eleições em 1956, com um
candidato indicado pelo governo do norte e outro pelo do
sul, de modo que quem ganhasse a eleição unificaria o país
Tal eleição, entretanto, jamais foi realizada, motivando a
reação do governo do Vietnã do Norte, o que provocou
a Guerra do Vietnã
No Camboja, a Conferência de Genebra reconheceu a
independência do país como um regime monárquico, tendo
à frente do governo o príncipe Sihanouk Sua aproximação
com a China comunista provocou um golpe, apoiado pelo
governo dos Estados Unidos em 1970, quando Sihanouk
foi derrubado e o general Lon Nol assumiu o poder A rea-
ção que se seguiu ao golpe teve no Khmer Vermelho, um
grupo de guerrilheiros comunistas apoiado pela China, sua
principal expressão Em 1975, o Khmer Vermelho liderado
por Pol Pot, tomou o poder do país
Pot instalou no país uma ditadura sanguinária, carac-
terizada pela violentíssima repressão a todos os focos de
oposição ao regime, gerando uma matança sem preceden-
tes em toda a região. Em cerca de cinco anos, a violência do
regime reduziu a população do país à metade, ao mesmo
tempo que o governo impunha um processo de socializa-
ção forçada e de adoção de uma política de ruralização,
priorizando a agricultura como praticamente a única ativi-
dade econômica no país Com a transferência forçada da
população para o campo, a capital do país, Phnom Penh,
passou a contar com cerca de 20 mil habitantes apenas.
Fig. 19 Ossário com crânios de
vítimas do Khmer Vermelho.
Títere: sem vontade própria; fantoche.
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