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Desenho Universal Patrícia Barbosa Acioli Novaes DESENHO UNIVERSAL Desenho Universal © by Ser Educacional Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Imagens e Ícones: ©Shutterstock, ©Freepik, ©Unsplash. Diretor de EAD: Enzo Moreira. Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato. Coordenadora de projetos EAD: Jennifer dos Santos Sousa. Equipe de Designers Instrucionais: Carlos Mello; Gabriela Falcão; Isis Oliveira; José Felipe Soares; Márcia Gouveia; Mariana Fernandes; Mônica Oliveira; Nomager Sousa. Equipe de Revisores: Maria Gabriela Pedrosa. Equipe de Designers gráficos: Bruna Helena Ferreira; Danielle Almeida; Jonas Fragoso; Lucas Amaral, Sabrina Guimarães, Sérgio Ramos e Rafael Carvalho. Ilustrador: João Henrique Martins. NOVAES, Patrícia Barbosa Acioli. Desenho Universal: Recife: Grupo Ser Educacional - 2023. 113 p.: pdf ISBN: 978-65-994722-2-0 1. Desenho 2. Projeto 3. Acessibilidade. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com Iconografia Estes ícones irão aparecer ao longo de sua leitura: ACESSE Links que complementam o contéudo. OBJETIVO Descrição do conteúdo abordado. IMPORTANTE Informações importantes que merecem atenção. OBSERVAÇÃO Nota sobre uma informação. PALAVRAS DO PROFESSOR/AUTOR Nota pessoal e particular do autor. PODCAST Recomendação de podcasts. REFLITA Convite a reflexão sobre um determinado texto. RESUMINDO Um resumo sobre o que foi visto no conteúdo. SAIBA MAIS Informações extras sobre o conteúdo. SINTETIZANDO Uma síntese sobre o conteúdo estudado. VOCÊ SABIA? Informações complementares. ASSISTA Recomendação de vídeos e videoaulas. ATENÇÃO Informações importantes que merecem maior atenção. CURIOSIDADES Informações interessantes e relevantes. CONTEXTUALIZANDO Contextualização sobre o tema abordado. DEFINIÇÃO Definição sobre o tema abordado. DICA Dicas interessantes sobre o tema abordado. EXEMPLIFICANDO Exemplos e explicações para melhor absorção do tema. EXEMPLO Exemplos sobre o tema abordado. FIQUE DE OLHO Informações que merecem relevância. SUMÁRIO UNIDADE 1 Desenho universal e acessibilidade � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11 Um novo paradigma � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11 Marcos legais sobre acessibilidade no Brasil � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 13 Conceitos e definições � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 17 Acessibilidade � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �17 Definições segundo a NBR 9050 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �21 Design focado no usuário � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 25 Princípios do universal design e suas aplicações � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 26 UNIDADE 2 Acessibilidade e espaços públicos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 35 O espaço público: considerações e definições � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 35 Rota acessível � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 37 Mobilidade urbana e acessibilidade � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 39 Transporte público � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 40 ABNT NBR 9050 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 43 Calçadas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 44 Travessias de pedestres � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 48 Mobiliário urbano � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �51 Equipamentos urbanos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 53 Patrimônio histórico e acessibilidade � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 53 NBR 9050:20 e equipamentos urbanos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 56 UNIDADE 3 Acessibilidade nas edificações � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 61 Tecnologias assistivas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 66 Conceitos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 66 Tecnologias assistivas em projetos de arquitetura � � � � � � � � � � � � � � � � � 67 Plataformas de elevação � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 68 Rampas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 70 Pisos táteis � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 72 Mapas acessíveis � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 73 Acessibilidade, estética e improvisos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 75 UNIDADE 4 Acessibilidade em áreas de lazer � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �85 Acessibilidade em piscinas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 86 Acessibilidade em praias � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 90 Acessibilidade nos esportes � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 90 Acessibilidade em locais de hospedagem � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 94 Acessibilidade em residências � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 98 Referências � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 104 Apresentação Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina Desenho Universal, que trata de um tema de grande importância para a sociedade: a inclusão so- cial. Abordaremos temas relevantes como acessibilidade em espaços públicos, em edificações, em áreas de lazer e esportes, e acessibili- dade em locais de hospedagem/residências. Para começar, vamos apresentar o contexto em que surge o termo Universal Design, para que você conheça e entenda o que podemos chamar de novo para- digma, conhecendo também marcos legais sobre acessibilidade no Brasil, alguns conceitos e definições importantes. Por fim, veremos os princípios do Desenho Universal e suas possíveis aplicações. Preparado(a) para iniciar essa jornada? Vamos lá! Autoria Patrícia Barbosa Acioli Novaes A professora Patrícia Acioli é Mestra em Ergonomia pela Universi- dade Federal de Pernambuco, sob a linha de pesquisa Ergonomia e Usabilidade do Ambiente Construído (2020), possui mais duas pós- -graduações, entre elas MBA em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (2016). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Fa- culdade de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (2001), atua na área de projetos de arquitetura, interiores e acessibilidade, além do trabalho dedicado à docência. Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/1643993872203517 UN ID AD E 1 Objetivos ◼ Conhecer o contexto do surgimento do termo universal design. ◼ Entender alguns conceitos e definições referentes ao tema. ◼ Estudar os princípios do desenho universal e suas aplicações. 10 Introdução Um dos maiores desafios para os arquitetos e designers nas últimas décadas do século XX foi a necessidade de projetar considerandotodas as pessoas, entendendo o tema da inclusão social como uma priori- dade projetual. Podemos dizer que esse período impulsionou estudos, pesquisas e propostas de soluções inclusivas na área de projetos. Neste material, você irá conhecer um pouco mais sobre o con- texto em que surge o termo universal design, conhecendo, ainda, os principais marcos legais que tratam do tema da acessibilidade no Bra- sil. Você vai compreender como, ao longo do tempo, o olhar para in- clusão foi sendo ampliado, e em seguida vamos nos aprofundar nesse tema tão importante, conhecendo conceitos e definições. Por fim, você vai conhecer os princípios do desenho universal e suas aplicações. Vamos começar nossos estudos? 11 Desenho universal e acessibilidade Um novo paradigma Quando pensamos em qualidade de vida, em uma sociedade de- senvolvida, produtiva e justa, não há como não pensar em inclusão social. Incluir é possibilitar a participação de todos na construção de um mundo mais justo, pautado na equiparação de oportunida- des, onde pessoas com deficiência podem exercer sua cidadania, vivendo de forma produtiva e participativa. A conscientização mundial sobre os direitos de cidadania das pessoas com algum tipo de deficiência foi ampliada após o final da Segunda Guerra Mundial, principalmente após os anos 1960, tra- zendo à tona as discussões sobre a participação irrestrita das pes- soas com deficiência em todos os aspectos da vida social. Nesse contexto de conscientização mundial, a década de 1980 passa a ser considerada como a década da pessoa com deficiência, pois nesse período várias ações foram implementadas no cenário mun- dial, o que contribuiu para a consolidação de um novo paradigma. O ano de 1981 foi adotado pela ONU como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, dando início à disseminação de princípios para a construção de sociedades inclusivas (BRASIL, 1981). Em 1982, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência, com a finalidade de “promover medidas eficazes para a prevenção da deficiência e para a reabilitação e a realização dos objetivos de ‘igualdade’ e ‘participação plena’” das pessoas com deficiência na sociedade, buscando “oportunidades iguais às de toda a população e uma participação equitativa na melhoria das condições de vida re- sultante do desenvolvimento social e econômico” (BRASIL, 1982). Para Miker Oliver (1983), é a partir desse período que aquilo que ele chama de modelo social da deficiência se destaca como pa- radigma, transferindo o problema da deficiência de cada indivíduo para as barreiras presentes nos espaços. 12 Nesse sentido, surge o termo universal design (desenho uni- versal), que, segundo Souza (2021), foi utilizado pela primeira vez em 1985, pelo arquiteto americano Ronald L. Mace (1941-1998). De acordo com as autoras Carletto e Cambiaghi (2016, p. 12), “Mace acreditava que esse era o surgimento não de uma nova ciência ou estilo, mas a percepção da necessidade de aproximarmos as coisas que projetamos e produzimos, tornando-as utilizáveis por todas as pessoas”. Em 1998, Mace elaborou o livro The universal design file, junto com profissionais de diversas áreas do planejamento como arquite- tura, design e engenharia da Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos (SOUZA, 2021). É nessa publicação que Mace estabelece sete princípios es- senciais para o planejamento de produtos e ambientes (SOUZA, 2021), que hoje conhecemos como os sete princípios do desenho universal. Ao longo do tempo, percebemos que esses princípios vão além do planejamento de produtos e ambientes, eles representam princípios de igualdade entre pessoas em sua diversidade. Para Dorneles, Zampieri e Bins Ely (2014), o desenho uni- versal deve, se possível, passar despercebido. Mas como seria pro- por acessibilidade arquitetônica e passar despercebido? Esse é um grande desafio para arquitetos e designers e devemos entender que o objetivo é não segregar, não estigmatizar as pessoas que farão uso do recurso de acessibilidade proposto. O Desenho Universal vem assumindo uma importância nos últimos anos que o coloca como um paradigma cujo objetivo seria uma integração do design com as áreas de arquitetura, urbanis- mo, ergonomia, sistemas de controle ambiental, tecnologia da informação, entre outras (FREGOLENTE, 2008 apud NOVAES, 2020, p. 58). Dessa forma, podemos dizer que o Desenho Universal deve fazer parte do dia a dia do profissional de projeto, seja por buscar atender às demandas do mercado por projetos cada vez mais inclu- sivos, seja simplesmente pela necessidade de atendimento às nor- mas, pois estas têm caráter obrigatório. 13 Profissionais de projeto devem estar atualizados em relação às normas; são elas que documentam a evolução no modo como pensamos enquanto sociedade. Para entender um pouco mais, ve- remos a seguir uma breve exposição de dados sobre os marcos legais que tratam do tema da inclusão no Brasil. Marcos legais sobre acessibilidade no Brasil Uma década antes da Constituição Federal Brasileira de 1988 ter sido promulgada, a Emenda Constitucional nº 12, de 17 de outubro 1978, já abordava o tema da acessibilidade. O texto original fazia referência apenas ao acesso principal dos edifí- cios e logradouros. Como vimos anteriormente, a década de 1980 passa a ser considerada como a década da pessoa com deficiência. Nesse período, mais ações voltadas ao tema da inclusão social foram acontecendo, em forma de leis e normas, em todo o mundo. No Brasil, podemos destacar alguns marcos legais dessa época, con- forme a Figura 1, a seguir: Figura 1 – Resumo dos principais marcos legais sobre Acessibilidade no Brasil entre os anos 1980 e 1999 Fonte: Novaes (2020) - Adaptado 14 No ano de 1985, a primeira versão da ABNT NBR 9050 foi publicada sob o título “Adequação das Edificações e do Mobiliário à Pessoa Deficiente”, trazendo uma série de recomendações para acessibilidade física, o que muitos acreditam ter sido o primeiro ato realmente concreto para a promoção da acessibilidade espacial no Brasil (MORAES, 2007 apud NOVAES, 2020, p. 45). Com a Constituição de 1988, o tema da acessibilidade ganha maior visibilidade e um ano depois a Lei nº 7.853/89 é sancionada, dispondo sobre o apoio às pessoas com deficiência e sua integração social, assegurando o pleno exercício de seus direitos individuais e sociais (BRASIL, 1989). A década de 1990 também foi marcante no que diz respeito às Leis e normas sobre o tema da inclusão social. No Brasil, além da revisão da NBR 9050 em 1994, ampliando a abrangência da norma, podemos destacar como um dos mais importantes mar- cos legais nacionais a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) nº 9.394/96, sobre Educação Especial. É preciso pensar que o tema da inclusão social só pode evoluir se começarmos a tratar desse assunto nas escolas, no dia a dia da comunidade escolar. Em 1999, foi publicada a Portaria nº 1.679/99, que “dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de defi- ciências, para instruir os processos de autorização e de reconhe- cimento de cursos, e de credenciamento de instituições” (BRASIL, 1999), constituindo um marco para o acesso das pessoas com defi- ciência no ensino superior, o que trouxe muitos desafios no sentido de adaptar a estrutura física das universidades. Em momento pos- terior, a preocupação passa a ser a permanência dessas pessoas nas instituições de ensino superior e, a partir do incentivo do Ministé- rio da Educação por meio de programas específicos, foram criados, alguns anos depois, os núcleos de acessibilidade nas universidades para lidar com tais desafios. Outros marcos importantes para a legislação brasileira acon- teceram a partir do ano 2000, conforme a Figura 2: 15 Figura 2 – Resumo dos principais marcos legais sobre Acessibilidade no Brasil entre os anos 2000 e 2019 Fonte: Novaes (2020) - AdaptadoA Lei federal nº 10.048, tratando de atendimento prioritário à pessoa com deficiência, e a Lei nº 10.098 com foco na promoção da acessibilidade a partir da eliminação de barreiras, foram sanciona- das no ano 2000. Em 2001, a Lei nº 10.172 é sancionada, aprovando o Plano Na- cional de Educação, que insere o tema da inclusão social entre suas diretrizes, objetivos e metas. Um marco de grande destaque é o Decreto nº 5.296/2004, pois ele regulamenta as Leis nº. 10.048/2000 e nº. 10.098/2000. Esse decreto apresenta a definição de acessibilidade como: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comuni- cação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2004). 16 Ainda no ano de 2004, foi feita no Brasil a segunda revisão da ABNT NBR 9050. A nova versão da norma trouxe novos conceitos e parâmetros técnicos para a prática projetual, apresentando infor- mações essenciais para o desenvolvimento de projetos inclusivos. Segundo Martins e Baptista (2011), a NBR 9050 na versão de 2004 já seria, naquela época, uma das normas mais ilustradas e atuais do mundo sobre acessibilidade. Em nove de julho de 2008, o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 186, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), bem como seu Protocolo Facultativo (SECRETARIA NACIONAL DOS DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, 2010), assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Esse documen- to obteve a equivalência de uma emenda constitucional e no ano de 2009 foi promulgado através do Decreto nº 6.949. Em 2012, foi sancionada a Lei nº 12.711/2012, que trata da Lei de cotas para ingresso em universidades públicas, incluindo can- didatos com algum tipo de deficiência. Só em 2015 foi criada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei de nº 13.146, totalmente embasada no Decreto nº. 6.949. Com o passar dos anos, podemos perceber que as leis e nor- mas vêm ampliando o conceito de acessibilidade. Um exemplo disso e também um dos mais importantes condicionantes legais é justa- mente um dos nossos objetos de estudo neste material, a NBR 9050, que passou por várias revisões, sendo as últimas em 2015 e em 2020. A cada nova versão ela contempla novos detalhes, incluindo outros perfis de deficiência ou mobilidade reduzida em suas recomenda- ções, como por exemplo a pessoa obesa e a pessoa ostomizada, na revisão de 2015. Outras normas técnicas que tratam especificamente de al- gum item constante na NBR 9050 surgiram, como é o caso da NBR 16537 do ano de 2016, tratando apenas de diretrizes para aplicação dos pisos táteis. 17 Lembre-se sempre de que a acessibilidade favorece a equiparação de oportunidades e, dessa forma, contribui também com o desen- volvimento das pessoas na formação de uma sociedade mais justa. Conceitos e definições Acessibilidade O que vimos até agora sobre os marcos legais da acessibilidade no Brasil reforça a ideia de uma evolução no modo de pensar da socie- dade, além de contribuir com a percepção do conceito de acessibi- lidade a partir da evolução de leis e normas, como um conceito que vem sendo ampliado ao longo dos anos, um conceito em construção. É com base nessa percepção como um conceito em construção que podemos pensar em acessibilidade associando seu conceito a aborda- gens diversas, visando a encontrar caminhos diferentes para atender às demandas das pessoas. A adoção, por exemplo, de uma abordagem ergonômica sobre o tema da acessibilidade é sempre interessante. A Associação Internacional de Ergonomia (IEA, 2010) define Ergo- nomia como uma “disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre seres humanos e outros elementos de um siste- ma”. A Ergonomia do Ambiente Construído (EAC) é considerada por muitos autores uma vertente do campo da ergonomia, em que o que IMPORTANTE SAIBA MAIS 18 chamamos de sistema é o espaço construído, o espaço arquitetônico, e o que se estuda são as interações entre os seres humanos e esse es- paço, buscando a adequação deste último aos seus usuários. A acessibilidade é um tema que está inserido na Ergonomia do Am- biente Construído. Existem muitos métodos e técnicas específicas da EAC que tomam o ser humano como elemento central de todo processo projetual, considerando tanto suas habilidades, quanto suas limitações e, por isso, a abordagem ergonômica pode ser tão usual, eficiente e interessante quando tratamos de acessibilidade e desenho universal. Se ficou curioso(a) quanto aos métodos e técnicas específicas da Ergonomia do Ambiente Construído, você pode se aprofundar um pouco mais pesquisando sobre a Metodologia Ergonômica para o Ambiente Construído (MEAC) em artigos e livros. Caso queira conhecer ainda mais sobre o tema, outra sugestão é a leitura do livro “A MEAC DE VILMA VILLAROUCO: Metodologia Er- gonômica para o Ambiente Construído”, dos autores: Nicole Ferrer, Thaisa Sampaio Sarmento e Marie Monique Paiva, publicado pela Editora CRV em 2022. Sobre acessibilidade espacial, Dischinger, Bins Ely e Borges (2009) ressaltam que o termo significa bem mais do que chegar ou entrar em um estabelecimento. As autoras apontam a importância de considerarmos a necessidade das pessoas de se situarem e se orientarem no espaço, compreendendo não só onde estão, mas o que acontece nesse espaço, podendo, de forma intuitiva, encontrar os diversos caminhos e ambientes sem que precisem procurar ajuda ou fazer perguntas. Os autores afirmam que: DICA 19 Um lugar acessível deve permitir, através da maneira como está construído e das carac- terísticas de seu mobiliário, que todos pos- sam participar das atividades existentes e que utilizem os espaços e equipamentos com igualdade e independência na medida de suas possibilidades (DISCHINGER; BINS ELY; BOR- GES; 2009, p. 23). Segundo Mont’Alvão (2011), espaços que não oferecem con- dições favoráveis para o uso de cadeira de rodas, ou que não pos- suem apoios para utilização de determinado tipo de equipamento podem representar o que a autora chama de “má acessibilidade”. Para essa autora, não é aceitável estudar o ambiente considerando apenas as variáveis físicas. Assim, podemos dizer que a acessibili- dade deve ser pensada desde o início do desenvolvimento de proje- tos, considerando o ser humano como elemento central de todo e qualquer projeto. Com tudo o que temos estudado, podemos concluir que os espaços planejados por profissionais qualificados podem sim con- tribuir de forma a facilitar o desenvolvimento das atividades huma- nas, ao mesmo tempo em que pode acontecer o contrário: o espaço pode dificultar o desenvolvimento dessas atividades por não haver acessibilidade e, dependendo das barreiras que existam em cada lugar, as pessoas podem não apenas encontrar dificuldades, como podem chegar até mesmo a correr algum tipo de risco. Uma pessoa cega, por exemplo, consegue percorrer locais amplos com guias de balizamento e/ou pisos táteis, instalados ade- quadamente conforme a NBR 16537/16, sentindo-se totalmente orientada. Ao mesmo tempo, sem esses itens da norma, ou seja, sem a sinalização tátil, qualquer percurso pode tornar-se difícil e peri- goso para essa pessoa. É preciso garantir a orientação e a segurança de todos os usuários dos espaços que projetamos. Segundo Dischinger, Bins Ely e Borges (2009), uma pessoa tanto pode ter suas dificuldades agravadas por características dos lugares, como pode tê-las amenizadas diante de soluções de aces- sibilidade para os mesmos lugares. As autoras apontam quatro 20 aspectos a considerar, visando a garantir a acessibilidade dos luga- res: orientação espacial, deslocamento, uso e comunicação. Para Juncà Ubierna et al (2006 apud NOVAES, 2020, p. 44), a acessibilidade é uma característicada edi- ficação, do urbanismo, dos transportes e dos sistemas de comunicação sensorial. De acordo com os autores, a acessibilidade integral su- gere uma espécie de cadeia de acessibilidade, onde tudo está conectado. Diante de tudo o que vimos até agora, é perceptível que os processos de concepção e desenvolvimento de projetos de arquite- tura inclusiva seguem necessitando de uma visão para acessibilida- de cada vez mais ampla, seja por parte dos profissionais envolvidos em cada etapa, como também de uma participação mais efetiva das pessoas com deficiência nesses processos (NOVAES, 2020). Quando falamos em ir além da norma, pois o atendimento à norma é básico e obrigatório, lembre-se sempre de que, para tra- balhar com projetos de arquitetura e design que contemplam aces- sibilidade, o desenho universal é uma ferramenta fundamental que contribuirá não somente com o projeto em si, mas na ampliação da visão, do olhar para acessibilidade, em cada um que esteja envolvido no processo de projeto, desde os primeiros croquis, até a execução da obra. Você já pensou como seriam as cidades se todos os profissionais en- volvidos nos projetos das vias, calçadas, construções e áreas livres do espaço público estivessem de fato comprometidos com o tema da acessibilidade? Parece um pouco óbvio, inclusive pela obrigatorie- dade de algumas normas, mas infelizmente a realidade que encon- tramos muitas vezes ainda é a da exclusão. Por que será? REFLITA 21 Definições segundo a NBR 9050 A primeira versão da NBR 9050 surgiu em 1985, mesmo ano em que o termo universal design foi utilizado pela primeira vez. Essa nor- ma “estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio ur- bano e rural, e de edificações às condições de acessibilidade” (AS- SOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 1), visando a “proporcionar a utilização de maneira autônoma, independente e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos à maior quantidade possível de pessoas, independente- mente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 1). A NBR 9050 apresenta diversos termos e definições que são muito utilizados na área de projetos. Vamos conhecer alguns deles? Acessibilidade: “Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliá- rios, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 2). Acessível: “Espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, trans- portes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tec- nologias ou elemento que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 2). Adaptado: “Espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento cujas características originais foram alteradas posteriormente para 22 serem acessíveis” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI- CAS, 2020, p. 3). Adequado: “Espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento cujas características foram originalmente planejadas para serem acessíveis” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 3). Guia de balizamento: “Elemento edificado ou instalado junto aos limites laterais das su- perfícies de piso, destinado a definir claramente os limites da área de circulação de pedestres” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 4). Ajuda técnica: “Produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcio- nalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida, visando a sua autonomia, in- dependência, qualidade de vida e inclusão social” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 3). Também pode ser usado o termo “tecnologia assistiva”. Área de aproximação: “Espaço sem obstáculos, destinado a garantir manobra, desloca- mento e aproximação de todas as pessoas, para utilização de mo- biliário ou elemento com autonomia e segurança” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 3). Área de circulação: “Espaço livre de obstáculos, destinado ao uso de todas as pessoas” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 3). Área de descanso: “Área adjacente e interligada às áreas de circulação interna ou ex- terna às edificações, destinada a usuários que necessitem de paradas temporárias para posterior continuação do trajeto” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 3). 23 Área de transferência: “Espaço livre de obstáculos, correspondente no mínimo a um mó- dulo de referência, a ser utilizado para transferência por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida, observando as áreas de circula- ção e manobra” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 3). Calçada rebaixada: “Rampa construída ou implantada na calçada, destinada a promo- ver a concordância de nível entre estes e o leito carroçável” (ASSO- CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 4). Contraste: “Diferença perceptível visual, tátil ou sonora” (ASSOCIAÇÃO BRA- SILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 4). Sobre a questão do contraste, é importante pensarmos nas pessoas com baixa visão. Definir contrastes no projeto, chamando atenção para desníveis, como é o caso dos degraus de uma escada, é um exemplo. Lembre-se do quanto é importante que um projeto garan- ta a segurança de todos os usuários do espaço projetado. Faixa elevada: “Elevação do nível do leito carroçável composto de área plana ele- vada, sinalizada com faixa para travessia de pedestres e rampa de transposição para veículos, destinada a nivelar o leito carroçável às calçadas em ambos os lados da via” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 4). Piso tátil: “Piso caracterizado por textura e cor contrastantes em relação ao piso adjacente, destinado a constituir alerta ou linha-guia, EXEMPLO 24 servindo de orientação, principalmente, às pessoas com deficiên- cia visual ou baixa visão. São de dois tipos: piso tátil de alerta e piso tátil direcional” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI- CAS, 2020, p. 5). Rota acessível: “Trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecte os am- bientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser utilizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas, in- clusive aquelas com deficiência e mobilidade reduzida. A rota aces- sível pode incorporar estacionamentos, calçadas rebaixadas, faixas de travessia de pedestres, pisos, corredores, escadas e rampas, entre outros” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 5). Desenho universal: “Concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a se- rem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adap- tação ou projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 4). O conceito de desenho universal tem como pressupostos os sete princípios definidos por Mace, que veremos nos próxi- mos tópicos. O Decreto nº 9.296, de 1º de março de 2018 regulamentou o art. 45 da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 que torna obrigatória a ob- servância da norma ABNT NBR 9050 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos (BRASIL, 2018). Assim, a norma passa a ter força de Lei, tendo caráter obrigatório. DICA 25 Design focado no usuário Segundo a NBR 9050/2020, o desenho universal Propõe uma arquitetura e um design mais cen- trados no ser humano e na sua diversidade. Estabelece critérios para queedificações, am- bientes internos, urbanos e produtos atendam a um maior número de usuários, independente- mente de suas características físicas, habilida- des e faixa etária, favorecendo a biodiversidade humana e proporcionando uma melhor ergo- nomia para todos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 138). Você já parou para pensar que as normas são o mínimo a ser seguido em um projeto? O profissional que pretende produzir projetos inclusivos deve pensar em ir além das normas! Um ca- minho possível é a pesquisa sobre o tema da acessibilidade e do desenho universal sob uma perspectiva ergonômica, como ex- plica o texto abaixo: O que se percebe é que as normas não con- templam todos os perfis de pessoas e, por isso, a importância do conhecimento dos espaços e das necessidades individuais dos seus usuários para que um projeto possa es- tar realmente adequado e a ergonomia do ambiente construído é determinante neste processo. É através das metodologias ergo- nômicas (...) que os profissionais de proje- to podem compreender essas necessidades (NOVAES, 2020, p. 186). IMPORTANTE 26 Um projeto considerado universal deve ser concebido de acordo com as necessidades espaciais de todos os usuários do lu- gar, tendo como base os sete princípios idealizados por Ronald Mace (CONNELL et al, 1997 apud DORNELES; ZAMPIERI; BINS ELY, 2014), que você vai conhecer a seguir. Princípios do universal design e suas aplicações No livro The universal design file, Ronald Mace estabelece sete princípios para o planejamento de produtos e ambientes. Esses princípios dizem respeito a algumas exigências que precisam ser seguidas em projetos para garantir que a usabilidade do produ- to ou ambiente seja estendida a usuários em condições diversas (SOUZA, 2021). Ao longo dos anos, os sete princípios do desenho universal foram incorporados à prática de planejamentos e obras, passando a fazer parte do dia a dia dos profissionais de projeto. Esses princípios estão descritos na NBR 9050/2020, da se- guinte forma: 1. Uso equitativo: “é a característica do ambiente ou elemento espacial que faz com que ele possa ser usado por diversas pessoas, independentemente de idade ou habilidade. Para ter o uso equitativo deve-se: propiciar o mesmo significado de uso para todos; eliminar uma possível segregação e es- tigmatização; promover o uso com privacidade, segurança e conforto, sem deixar de ser um ambiente atraente ao usuá- rio” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 138). Exemplo de aplicação: “Portas com sensores que se abrem automaticamente, sem exigir força física ou alcance das mãos de usuários de alturas variadas” (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2016, p. 12). 27 2. Uso flexível: “é a característica que faz com que o ambiente ou elemento espacial atenda a uma grande parte das prefe- rências e habilidades das pessoas. Para tal, devem-se oferecer diferentes maneiras de uso, possibilitar o uso para destros e canhotos, facilitar a precisão e destreza do usuário e possibi- litar o uso de pessoas com diferentes tempos de reação a es- tímulos” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 138). Exemplo de aplicação: “Tesoura que se adapta a destros e ca- nhotos” (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2016, p. 13). 3. Uso simples e intuitivo: “é a característica do ambiente ou elemento espacial que possibilita que seu uso seja de fácil compreensão, dispensando, para tal, experiência, conheci- mento, habilidades linguísticas ou grande nível de concen- tração por parte das pessoas” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 138). Exemplo de aplicação: Sinalização para sanitários feminino e masculino. 4. Informação de fácil percepção: “essa característica do am- biente ou elemento espacial faz com que seja redundante e legível quanto a apresentações de informações vitais. Essas informações devem se apresentar em diferentes modos (vi- suais, verbais, táteis), fazendo com que a legibilidade da in- formação seja maximizada, sendo percebida por pessoas com diferentes habilidades (cegos, surdos, analfabetos, entre ou- tros)” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 138). Exemplo de aplicação: “Utilizar diferente maneiras de comu- nicar uma informação, tais como símbolos e letras em rele- vo, braille e sinalização auditiva” (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2016, p. 14). 28 5. Tolerância ao erro: “é uma característica que possibilita que se minimizem os riscos e consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais na utilização do ambiente ou elemento espacial. Para tal, devem-se agrupar os elementos que apresentam risco, isolando-os ou eliminando-os, em- pregar avisos de risco ou erro, fornecer opções de minimizar as falhas e evitar ações inconscientes em tarefas que requei- ram vigilância” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC- NICAS, 2020, p. 138). Exemplo de aplicação: “Elevadores com sensores em di- versas alturas que permitam às pessoas entrarem sem riscos de a porta ser fechada no meio do procedimento e escadas e rampas com corrimão” (CARLETTO; CAM- BIAGHI, 2016, p. 15). 6. Baixo esforço físico: “nesse princípio, o ambiente ou elemen- to espacial deve oferecer condições de ser usado de maneira eficiente e confortável, com o mínimo de fadiga muscular do usuário. Para alcançar esse princípio deve-se: possibilitar que os usuários mantenham o corpo em posição neutra, usar força de operação razoável, minimizar ações repetidas e minimizar a sustentação do esforço físico” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 138). Exemplo de aplicação: “Maçanetas tipo alavanca, que são de fácil utilização, podendo ser acionada até com o cotovelo. Esse tipo de equipamento facilita a abertura de portas no caso de incêndios, não sendo necessário girar a mão” (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2016, p. 16). 7. Dimensão e espaço para aproximação e uso: “essa carac- terística diz que o ambiente ou elemento espacial deve ter dimensão e espaço apropriado para aproximação, alcan- ce, manipulação e uso, independentemente de tamanho de corpo, postura e mobilidade do usuário. Desta forma, de- ve-se: implantar sinalização em elementos importantes e 29 tornar confortavelmente alcançáveis todos os componen- tes para usuários sentados ou em pé, acomodar variações de mãos e empunhadura e, por último, implantar espaços adequados para uso de tecnologias assistivas ou assistentes pessoais” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI- CAS, 2020, p. 139). Exemplo de aplicação: “Poltronas para obesos em cinemas e teatros” (CARLETTO; CAMBIAGHI, 2016, p. 17). Para Martins (2018), integrar o conceito que conhecemos de acessibilidade com os princípios do universal design e o uso das tecnologias assistivas pode viabilizar projetos realmente inclusivos (como podemos ver na Figura 3, a seguir) desde sua concepção, contribuindo com o processo de planejamento e na definição de rotas acessíveis, contemplando todos os usuários do espaço arquitetônico. Figura 3 – Síntese do projeto inclusivo Fonte: Martins (2018) - Adaptado Projeto Inclusivo Acessibilidade Design Universal Tecnologias Assistivas 30 Para Kowaltowski (2011), a acessibilidade e o desenho uni- versal representam requisitos fundamentais na vivência de um in- divíduo em um ambiente, seja ele público ou privado. Agora, vamos fixar o aprendizado quanto ao assunto que aca- bamos de ver, observando o infográfico a seguir, que contém um re- sumo dos sete princípios do desenho universal. Figura 4 – Princípios do desenho universal Fonte: Novaes (2020) - Adaptado Princípios do desenho universal Uso flexível Dimensão e espaço para aproximação e uso Uso equitativo Uso simples intuitivo Baixo esforço físico Informação de fácil percepção Tolerância ao erro 31 Caro(a) aluno(a), Iniciamos nossos estudos contextualizando o surgimento do ter- mo Universal Design, conhecendo sua origem e seu autor e trazendo, ainda, um panorama evolutivo do pensamento inclusivo a partir da análise dos marcos legais sobreo tema da acessibilidade no Brasil ao longo dos anos. Vimos também conceitos e definições importantes, alguns à luz da NBR 9050/20, termos muito utilizados no dia a dia do profissional de projeto, seja arquiteto, engenheiro ou designer. Neste material, você pôde conhecer o desenho universal, perceber sua importância enquanto paradigma da atualidade, aprofundar-se nesse assunto a partir da compreensão dos sete princípios do dese- nho universal e suas aplicações, com exemplos diversos, que fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas. Bons estudos e até a próxima! SINTETIZANDO UN ID AD E 2 Objetivos ◼ Compreender a importância da acessibilidade em espaços públicos. ◼ Conhecer o que aborda a NBR 9050:20 sobre esse assunto. 34 Introdução Olá, aluno(a)! Nesta parte do nosso material, vamos focar no tema da acessibi- lidade em espaços públicos, com base em tudo o que estudamos sobre Desenho Universal, buscando aprofundar conhecimentos sobre o as- sunto e contribuir para que você amplie seu olhar para a acessibilidade. Conheceremos algumas definições, falaremos sobre a impor- tância da acessibilidade e abordaremos a questão da mobilidade ur- bana numa visão integral. Além disso, veremos também o que orienta a NBR 9050 sobre calçadas, travessias de pedestres, mobiliário ur- bano e equipamentos urbanos. Anteriormente, vimos o contexto do surgimento do termo Universal Design, assim como estudamos mar- cos legais, conceitos, definições importantes e possíveis aplicações. Agora é hora de aprofundar conhecimentos e ampliar cada vez mais nosso olhar para a inclusão social. Vamos? 35 Acessibilidade e espaços públicos Promover a acessibilidade física em espaços públicos é garantir à sociedade a possibilidade de vivenciar democraticamente esses es- paços. A essa altura, você já sabe que a acessibilidade física do am- biente construído vem sendo trabalhada há algum tempo no Brasil, impulsionada pelos marcos legais sobre esse assunto. No entanto, o que pode ser observado é que este tema se encontra em diferentes situações nas diversas cidades brasileiras. Segundo Montenegro, Santiago e Sousa (2009), observa-se uma transformação nas cidades a partir da década de 1990, quando alguns projetos iniciam a incorporação de elementos acessíveis, e os movimentos e associações de pais, amigos e pessoas com defi- ciência trabalham no sentido de garantir a todos o direito de ir e vir, contribuindo na realização de atividades cotidianas das pessoas, as- segurando o direito à saúde, à educação, à cultura e ao lazer. O espaço público: considerações e definições São muitas as abordagens, por diversos autores, sobre o conceito de espaço público, o que dificulta uma definição exata. De modo geral, podemos considerar que o espaço público é um lugar de uso comum a todos e que pertence ao coletivo. O autor Jordi Borja (2003) aponta o espaço público como um conceito próprio do urbanismo que às vezes se confunde de forma equivocada com espaços verdes, equipamentos ou sistema viário, mas que também é utilizado na filosofia política como um lugar de representação e de expressão do coletivo. Hannah Arendt (2007) aborda o espaço público como o espaço político, onde as pessoas se encontram, considerando uma comuni- dade politicamente organizada, representada, em contraposição ao que seria o espaço privado do ocultamento. Em sua abordagem, o termo “público” é primeiramente um fenômeno que faz referência a tudo aquilo quem vem a público, possibilitando que seja visto e ouvido. Em segundo lugar, este termo pode simplesmente significar o próprio mundo (ARENDT, 2007). 36 Segundo Narciso (2009, p. 272), numa “perspectiva territo- rial e tecnicista, o espaço público é, à partida, um espaço físico; o da rua, da praça, do comércio e das trocas”. Borja (2003) fala em um espaço público não residual (como espaços entre fachadas e ruas ou os vazios considerados públicos por questões jurídicas), sugerindo um espaço cidadão. Para Serpa (2004), se o adjetivo “público” diz respeito a uma acessibilidade generalizada e irrestrita, um espaço acessível a todos deve significar, por outro lado, algo mais do que o simples acesso físico a espaços “abertos” de uso coletivo. Duarte e Cohen (2005) ressaltam que o espaço público tem uma função estratégica na democratização e na distribuição das oportunidades para todos. As autoras sustentam que: O espaço público só poderá exercer sua fun- ção social, de forma plena, quando for possuí- do, quando existir como algo fundamental e quando for, acima de tudo, utilizado por todos os segmentos que compõem a sociedade bra- sileira, inclusive pelas PCDs, na realização das suas múltiplas atividades diárias (DUARTE; COHEN, 2005, p. 9). Quando tratamos do tema da acessibilidade, não podemos deixar de mencionar uma espécie de cadeia de acessibilidade. Se- gundo Juncà Ubierna et al (2006), acessibilidade é uma caracte- rística do urbanismo, da edificação, dos transportes e dos sistemas de comunicação sensorial, permitindo a qualquer pessoa sua livre utilização, independentemente de sua condição física, psíquica ou sensorial. De acordo com esses autores, a acessibilidade integral pressupõe a resolução dessa cadeia de acessibilidade. Para sanar questões de acessibilidade, o espaço público não deve ser pensado de forma isolada; o conceito de rota acessível precisa fazer parte do processo de projeto, colaborando com a observação do todo, em um contexto integral, conectando pes- soas e lugares. 37 Assim, podemos afirmar que o espaço público deve ser projetado para que todas as pessoas possam vivenciá-lo e para isso o Desenho Universal tem papel fundamental como ferramenta ativa na atuação de profissionais do planejamento, design e arquitetura. Rota acessível De acordo com Novaes (2020, p. 51): Assegurar o acesso do maior número possível de pessoas aos mais diversos lugares é permitir que toda a sociedade possa usufruir dos espaços construídos de uma maneira justa, sejam estes espaços públicos ou privados, utilizados e vi- venciados de uma forma homogênea. Para isso, os espaços precisam estar integrados, sobretu- do conectados, para que a circulação de pessoas aconteça da forma mais fluida possível. Figura 1 – Pessoa com deficiência visual em travessia de pedestre com alarme sonoro Fonte: @studio4rt no Freepik. IMPORTANTE 38 Para aprofundar estudos sobre acessibilidade em um espaço público, é importante entender que este deve ser planejado de forma que contribua com a fluidez nas conexões entre pessoas e lugares, exteriores e interiores (conforme esquematizado na Figura 2, a se- guir), devendo contemplar em sua essência a definição de uma rota acessível (RA), cujo conceito corresponde a: Trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecte os ambientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser uti- lizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência e mobilidade reduzida. A rota acessível pode incorporar estacionamentos, calçadas rebai- xadas, faixas de travessia de pedestres, pisos, corredores, escadas e rampas, entre outros (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC- NICAS, 2020, p. 5). Figura 2 – Desenho esquemático de rota acessível, segundo definição da ABNT NBR 9050:15 Fonte: (NOVAES, 2020) adaptado. Em um espaço público existente, segundo Novaes (2020), a definição de uma rota acessível deve começar com uma análise pré- via das condições de acessibilidade do local, com foco na otimiza- ção do percurso dos usuários. Para esta análise, “os profissionais de projeto costumam utilizar, na prática, a elaboração de laudo técni- co como ferramenta metodológica para a elaboração de projetos” (NOVAES, 2020, p. 52). Rota Acessível Trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado Exterior Calçados Estacionamentos Faixas de pedestres Rampas de acesso Mobiliário urbano Outros Corredores Escadas Plataformas Elevadores Portas Mobiliário Outros Interior39 Laudos de acessibilidade, de acordo com Klein et al (2018), são documentos feitos a partir de visitas técnicas, nas quais cada item de norma é analisado, atestando se o lugar é ou não acessível de acordo com a legislação. Esses documentos auxiliam na identificação de problemas numa edificação, mas para a definição de uma rota acessível é necessário que haja uma compreensão ampla do espaço em questão, como também das demandas dos usuários. Como você deve lembrar, a Ergonomia do Ambiente Construído (EAC) pode contribuir na compreensão da interface entre indivíduo e espaço público, o que pode cola- borar para a identificação de uma rota a ser transformada em rota acessível. De acordo com Lucena et al (2010), a escolha das rotas a se- rem transformadas em acessíveis deve estar baseada no estudo dos percursos já realizados pelos usuários do espaço existente. Assim, entendemos de forma simples que a análise de um lugar a partir da observação desses trajetos realizados pelos seus usuários no dia a dia, assim como a própria análise do projeto arquitetônico através de plantas, podem contribuir na definição de quais seriam as rotas importantes a se tornarem acessíveis. Podemos dizer que um projeto de arquitetura que apresenta a acessibilidade em sua concepção também está sujeito a esse tipo de análise numa avaliação pós-ocupação (APO), em que a observância do ambiente em uso é fundamental para identificar não apenas itens de norma em conformidade ou não, mas a fluidez necessária que deve ser característica de rotas acessíveis. Mobilidade urbana e acessibilidade Vimos no início deste material a definição de Borja (2003) sobre o espaço público como um conceito que às vezes se confunde com es- paços verdes, equipamentos ou sistema viário. De qualquer forma, o tema do trânsito e da mobilidade urbana faz parte do contexto que estamos estudando. 40 Para Araújo et al. (2011, p. 575), O trânsito é uma disputa pelo espaço físico que reflete uma disputa pelo tempo e pelo acesso aos equipamentos urbanos. É uma negociação permanente, coletiva e conflituosa do espaço, pois no trânsito, surgem conflitos de interesse de um grupo social contra outro. Enquanto o trânsito é uma espécie de disputa segundo alguns autores, a mobilidade pode ser considerada uma aspiração: A mobilidade é um componente da qualida- de de vida aspirada pelos habitantes de uma cidade. Não há como considerar determinada região habitacional como de alto nível se a mo- bilidade não estiver presente (CARDOSO, 2008 apud ARAÚJO et al. 2011, p. 575). Para utilizar um determinado espaço público, o usuário vem de algum lugar. Que trajeto percorre até chegar? Utiliza que tipo de transporte? Como conectar os meios de transporte aos lugares, às pessoas, garantindo a fluidez de toda essa trama inserida no con- texto da cidade? Transporte público A Lei 13.146/15, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, determina a acessibilidade em paradas de ônibus e ter- minais, reforça que as empresas prestadoras de serviços de trans- porte tenham veículos com acessibilidade, trata da quantidade de vagas acessíveis em estacionamentos, define um percentual de 10% da frota em empresas de táxi que deve ser composto por veículos adaptados, entre outras definições (BRASIL, 2015). REFLITA 41 Na imagem a seguir, temos um exemplo de acesso a um ôni- bus por uma pessoa que utiliza cadeira de rodas. Nesse caso, o piso do local da parada do ônibus não está no mesmo nível do piso do veículo, então a solução utilizada foi o recurso da adaptação no acesso ao veículo por meio de uma pequena rampa. Figura 3 – Acesso ao ônibus com rampa para vencer nível do piso e sinalização ao lado da porta indicando tratar-se de veículo adaptado. Fonte: Freepik Existem casos em que as paradas de ônibus são planejadas no mes- mo nível de piso desses veículos, como nas “estações tubo” na ci- dade de Curitiba. Para acessar essas estações o usuário utiliza uma plataforma de elevação. SAIBA MAIS 42 Sobre os táxis adaptados, é importante ressaltar que estes são veículos adaptados de forma a garantir a autonomia e segurança das PcD, considerando, inclusive, que um indivíduo que utiliza cadeira de rodas, por exemplo, não precisa sair de sua cadeira, podendo acessar o táxi por meio de algum dispositivo de acessibilidade como rampa ou plataforma de elevação, conforme o exemplo na imagem a seguir: Figura 4 – Táxi adaptado Fonte: Freepik Uma alternativa interessante quando tratamos de mobilidade e acessibilidade para pessoas com deficiência física é uma espécie de adaptação na parte frontal da cadeira de rodas, similar a um guidão, como na foto a seguir. Figura 5 – Cadeira de rodas motorizada adaptada Fonte: Freepik 43 O capítulo X da Lei nº 13.146/15 trata exclusivamente do direito da pessoa com deficiência ao transporte e à mobilidade. Segundo o Art. 46 do Estatuto da Pessoa com deficiência: O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilida- de reduzida será assegurado em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, por meio de identificação e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras ao seu acesso (BRA- SIL, 2015). Caberá ao profissional de projeto conhecer os recursos de acessibilidade possíveis para então propor soluções de projeto como paradas de ônibus, estações de trem e metrô, estacionamentos, cal- çadas, travessias de pedestres, entre outros elementos que compões o ambiente urbano, de modo que impactem na mobilidade de forma positiva, priorizando a qualidade de vida de todos. Figura 6 – Cenário urbano acessível com travessia de pedestres, calçada, avenida, áreas verdes etc. Fonte: @macrovector no Freepik ABNT NBR 9050 São muitas as normas da ABNT que tratam de acessibilidade. A prin- cipal norma para orientar na concepção de projetos é a NBR 9050, 44 cuja última atualização aconteceu no ano de 2020. Ela trata de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, apresentando conceitos e diretrizes de projeto de forma bastante ilustrada. A ABNT NBR 9050:2020 equivale ao conjunto composto pela versão ABNT NBR 9050:2015 e Emenda 1, que data de 03/08/2020, substituindo, dessa forma, a ABNT NBR 9050:2015. Calçadas De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a calçada é a “parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao trânsito de pedes- tres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinali- zação, vegetação e outros fins” (BRASIL, 2008, p. 55). A importância das calçadas se dá não apenas pelo trânsito exclu- sivo de pedestres, garantindo sua segurança em relação aos veículos, mas o fato de dar acesso às edificações e, de uma maneira integrada, co- nectar o usuário ao mobiliário urbano e demais equipamentos urbanos. Para que essas conexões através das calçadas funcionem de forma inclusiva, é necessário que estejam inseridas em um contexto de ro- tas acessíveis, como vimos anteriormente. Segundo a NBR 9050 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020), as calçadas e vias exclusivas de pedestres devem garantir uma faixa livre (passeio) para a circulação de pedestres sem degraus. Segundo o CTB, o passeio constitui “parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou IMPORTANTE 45 elemento físico separador, livre de interferências, destinada à cir- culação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas” (BRASIL, 2008, p. 56). Observe as faixas de uso da calçada na Figura 7, a seguir: Figura 7 – Faixas de uso da calçada com base na NBR 9050/20 Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2020) - Adaptado Segundo a NBR 9050:20 a calçada pode ser dividida em três fai- xas de uso, definidas da seguinte forma, conforme consta na norma: a. faixa de serviço: serve para acomodar o mobiliário, os canteiros, as árvores e os postes de iluminação ou sinalização.Nas calçadas a serem construídas, recomen- da-se reservar uma faixa de serviço com largura mínima de 0,70 m; b. faixa livre ou passeio: destina-se exclu- sivamente à circulação de pedestres, deve ser livre de qualquer obstáculo, ter incli- nação transversal até 3 %, ser contínua entre lotes e ter no mínimo 1,20 m de lar- gura e 2,10 m de altura livre; 46 c. faixa de acesso: consiste no espaço de pas- sagem da área pública para o lote. Esta faixa é possível apenas em calçadas com largura superior a 2,00 m. Serve para acomodar a rampa de acesso aos lotes lindeiros sob au- torização do município para edificações já construídas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 74). A norma ainda orienta quanto ao acesso de veículos ao lote, obras sobre o passeio e o dimensionamento das faixas livres em função do fluxo de pedestres. Quanto aos materiais de revestimento e acabamento, estes “devem ter superfície regular, firme, estável, não trepidante para dispositivos com rodas e antiderrapante, sob qualquer condição (seco ou molhado)” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC- NICAS, 2020, p. 53). Infelizmente, ainda encontramos muitos exemplos de calça- das com revestimento inadequado ou em estado precário de conser- vação, além de desníveis inapropriados e em desconformidade com as normas, como nos exemplos a seguir. Figura 8 – Calçada com desníveis em Ipojuca/PE Fonte: Registro da autora (2022) 47 Figura 9 – Calçada estreita, com menos de 50 cm, em Jaboatão dos Guararapes/PE Fonte: Registro da autora (2022) Figura 10 – Metralha ocupando a calçada em Jaboatão dos Guararapes/PE Fonte: Registro da autora (2022) 48 Figura 11 – Calçada em estado precário de conservação, com desníveis e presença de vegetação em Jaboatão dos Guararapes/PE Fonte: Registro da autora (2022) Travessias de pedestres De acordo com a NBR 9050: As travessias de pedestres nas vias públicas, nas vias de áreas internas de edificações ou em espaços de uso coletivo e privativo, com circu- lação de veículos, devem ser acessíveis das se- guintes formas: com redução de percurso, com faixa elevada ou com rebaixamento de calçada (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC- NICAS, 2020, p. 78). Já a definição da localização das travessias de pedestres nas vias públicas, seja no meio de quadra, próximo às esquinas ou nas esquinas, fica sob responsabilidade do município. 49 Nas imagens a seguir, veremos exemplos de redução de per- curso na travessia de pedestres e rebaixamentos de calçada: Figura 12 – Exemplo de redução de percurso de travessia (travessia elevada) com base na NBR 9050/20 Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2020) – Adaptado Figura 13 – Rebaixamento de calçada com base na NBR 9050/20 Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2020) – Adaptado 50 Figura 14 – Exemplo de rebaixamento de calçada entre canteiros, com base na NBR 9050/20 Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2020) – Adaptado A norma orienta que: Em calçadas estreitas onde a largura do passeio não for suficiente para acomodar o rebaixamen- to e a faixa livre com largura de, no mínimo, 1,20m, pode ser feito o rebaixamento de rampas laterais com inclinação de até 5 %, ou ser adota- da, a critério do órgão de trânsito do município, faixa elevada de travessia, ou ainda redução do percurso de travessia (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 80). Figura 15 – Exemplo de rebaixamento de calçada estreita com base na NBR 9050/20 Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2020) – Adaptado 51 Segundo Montenegro, Santiago e Sousa (2009), não deverão ser instalados, no espaço destinado à faixa de pedestres, itens de dre- nagem, como caixa coletora de água pluvial, grade ou boca de lobo. As travessias de pedestre elevadas tanto têm a função de eliminar barreiras físicas do percurso do pedestre quanto de reduzir a velo- cidade dos veículos. É importante estar atento a todos os detalhes definidos pela norma, como os pisos táteis que devem conduzir a pessoa com deficiência visual até a travessia. Mobiliário urbano A definição de mobiliário, segundo a NBR 9050:20, é: Conjunto de objetos existentes nas vias e nos es- paços públicos, superpostos ou adicionados aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses ele- mentos, como semáforos, postes de sinalização e similares, terminais e pontos de acesso coleti- vo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quais- quer outros de natureza análoga (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 5). Por seu uso público, é determinante que todo mobiliário ur- bano seja projetado com base nos princípios do Desenho Universal. Segundo a NBR 9050:20: Par a ser considerado acessível, o mobiliário urbano deve: a. proporcionar ao usuário segurança e au- tonomia de uso; SAIBA MAIS 52 b. assegurar dimensão e espaço apropriado para aproximação, alcance, manipulação e uso, postura e mobilidade do usuário; c. ser projetado de modo a não se constituir em obstáculo suspenso; d. ser projetado de modo a não possuir can- tos vivos, arestas ou quaisquer outras sa- liências cortantes ou perfurantes; e. estar localizado junto a uma rota acessível; f. estar localizado fora da faixa livre para circulação de pedestre; g. ser sinalizado conforme [a ABNT NBR 16537] (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 112-113). Além dessas condições gerais para que um mobiliário urbano seja considerado acessível, a norma aponta ainda algumas situações específicas, definindo padrões de dimensionamento e especifica- ções para pontos de embarque e desembarque de transporte públi- co, semáforo de pedestre, telefones públicos, cabinas telefônicas, bebedouros, lixeiras e contentores para reciclados, cabinas de sani- tários públicos, ornamentação da paisagem e ambientação urbana (vegetação) e, por fim, os assentos públicos. É recomendado que profissionais de projeto estejam sempre alinhados ao que diz a NBR 9050, por isso é importante que você fi- que atento a alguns exemplos de mobiliário urbano, como telefones públicos e mesas. As mesas são um mobiliário urbano muito comum em equipamentos como praças e parques. Nesses equipamentos, pelo menos 5% (com no mínimo uma) do total das mesas desti- nadas a jogos ou refeições devem atender as orientações quanto às medidas conforme a norma. A NBR 9050/20 também reco- menda que, pelo menos, outros 10% do total de mesas sejam adaptáveis para acessibilidade. 53 EXEMPLO Vale a pena lembrar que as mesas, assim como outros mo- biliários urbanos acessíveis, devem ser facilmente identificadas e localizadas dentro de uma rota acessível. Vamos conhecer a seguir um exemplo real de mobiliário urbano con- cebido com base nos princípios do Desenho Universal, atendendo as normas nacionais de acessibilidade vigentes na época. O projeto de be- bedouro público foi vencedor em vários concursos e é de autoria de Bru- no Spanevello, sob orientação da professora Fabiane Vieira Romano. Trata-se de um bebedouro público com saídas de água em altura média (conforme NBR 9050/2004 da ABNT), atendendo sem distinção uma grande parte da população, considerando crianças, adultos, idosos, pessoas em cadeira de rodas e pessoas com baixa estatura, oferecendo ainda a possibilidade de encher copos e garrafas (PET de até 3,3 litros). O projeto conquistou 7 prêmios, sendo 5 de design, 1 pela qualidade como trabalho acadêmico e 1 em um concurso de empreendedorismo. Equipamentos urbanos São considerados equipamentos urbanos “todos os bens públicos e privados, de utilidade pública, destinados à prestação de serviços ne- cessários ao funcionamento da cidade, em espaços públicos e priva- dos” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020, p. 4). A norma recomenda que equipamentos urbanos atendam aos princípios do desenho universal. Patrimônio históricoe acessibilidade Sítios e exemplares arquitetônicos considerados como patrimônio histórico e cultural, em geral, possuem papel de destaque no que 54 diz respeito à imagem e à identidade do lugar onde estão inseridos, sendo, inclusive, regidos por legislação específica com finalidade de salvaguardá-los, o que muitas vezes pode gerar contradições quando essas legislações são confrontadas com as normas de acessibilidade. Segundo a NBR 9050: Todos os projetos de adaptação para acessi- bilidade de bens tombados devem obedecer às condições descritas nesta Norma, com- patibilizando soluções com os critérios esta- belecidos por órgãos legisladores, e sempre garantindo os conceitos de acessibilidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC- NICAS, 2020, p. 121). A norma diz, ainda, que: No caso de sítios, áreas ou elementos consi- derados inacessíveis ou com visitação res- trita, deve-se garantir o acesso por meio de informação visual, auditiva ou tátil das áreas ou dos elementos cuja adaptação seja impraticável, com divulgação das condi- ções de acessibilidade do bem patrimonial informadas com antecedência ao visitante e vinculadas a todo material publicitário (AS- SOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI- CAS, 2020, p. 121). No Brasil, um exemplo de equipamento urbano interessante que buscou a acessibilidade é o Museu JK, localizado em Brasília, capital do Brasil. Foi inaugurado em 12 de setembro de 1981, com projeto original assinado por Oscar Niemeyer, e o edifício é tombado con- forme Decreto nº 9.411, de 20/04/1986 (BRASIL, 1986). EXEMPLO 55 Segundo entrevista que a equipe do projeto de acessibilidade con- cedeu ao site Archdaily, a ideia de tornar o museu acessível a todos os seus visitantes foi uma das premissas do projeto. De acordo com a equipe: O trabalho em parceria com a empresa Collecta, da museóloga Auta Rogas Bar- reto, desenvolveu essas premissas atra- vés da proposição de intervenções sutis no Memorial, tombado em 1991. Como forma de modernizar os meios exposi- tivos do conteúdo do acervo, a equipe da Cité pesquisou dispositivos tecnológicos de última geração para complementar os expositores existentes. E, ao mesmo tem- po, para receber o público com conforto, segurança e acessibilidade, foram proje- tados painéis de vidro com a projeção de vídeos munidos de legendas, maquetes táteis, entre outros novos expositores. Uma das principais preocupações foi pro- por inserções discretas com o objetivo de manter o ambiente tombado inalterado (ARCHDAILY BRASIL, 2016). Já fora do Brasil, um exemplo de lugar que buscou tornar acessível o seu centro histórico foi Veneza, na Itália. Suas pontes têm recebido uma atenção especial, buscando tornar mais seguros esses percur- sos históricos que atraem tantos turistas. EXEMPLO 56 NBR 9050:20 e equipamentos urbanos A NBR 9050:20 traz uma série de diretrizes para contribuir com a elaboração de projetos de equipamentos urbanos diversos. Além da atenção aos bens tombados como vimos anteriormente, constam na norma orientações, especificações e referências dimensionais para vários tipos de equipamentos urbanos. Os equipamentos urbanos abordados pela NBR 9050:20 (ASSO- CIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020) são os seguintes: • Cinemas, teatros, auditórios e similares • Plateia, palco e bastidores – Circulação • Sistemas auxiliares de comunicação • Camarins • Locais de exposições • Restaurantes, refeitórios, bares e similares • Locais de hospedagem • Serviços de saúde • Locais de esporte, lazer e turismo • Piscinas • Parques, praças e locais turísticos • Praias • Escolas • Bibliotecas e centros de leitura • Locais de comércio • Estabelecimento bancário • Atendimento ao público • Delegacias e penitenciárias Garantir o acesso do maior número possível de pessoas aos equipamentos urbanos, como edifícios tombados, estabelecimentos 57 de saúde ou mesmo escolas, é de imensa importância. Para alcançar esse objetivo por meio de projeto e planejamento, é recomendável que o Desenho Universal seja uma premissa, através da aplicação dos seus princípios fundamentais. Caro(a) aluno(a), Neste material, focamos nos estudos sobre acessibilidade em es- paços públicos. Iniciamos trazendo algumas reflexões de autores diversos sobre a definição de espaço público, descobrindo a impor- tância de conhecer as muitas abordagens sobre esse assunto, com- preendendo o quanto é intrínseca a relação entre o espaço público e o espaço inclusivo, percebendo a necessidade de tratar do tema da acessibilidade da forma mais global possível, numa visão integral, como uma cadeia de acessibilidade. As rotas acessíveis tiveram destaque neste material, no qual pude- mos expor a importância de pensar as rotas de forma a garantir a fluidez dos percursos, entendendo as relações existentes entre os espaços externos e internos, conectados por esses percursos que precisam ser acessíveis a todos. Inserida nessa visão integral, abordamos a questão da mobilidade urbana, apresentando a diferença entre trânsito e mobilidade, pas- sando pelo tema do transporte público, em que conhecemos alguns exemplos de adaptações para a acessibilidade. Vimos informações quanto ao que orienta a NBR 9050:20, para que você se aproxime do tema, entendendo o que encontrará na nor- ma, o nível de exigências e detalhes dela. Destacamos, no final deste material, as calçadas, as travessias de pedestres e o mobiliário ur- bano, permeando a temática dos equipamentos urbanos e ressal- tando a questão da acessibilidade em bens tombados, sempre com base nas orientações da NBR 9050:20. Bons estudos e até a próxima! SINTETIZANDO UN ID AD E 3 Objetivos ◼ Descobrir mais sobre o tema da acessibilidade, focando em edificações; ◼ Entender mais sobre normas que tratam do tema; ◼ Conhecer mais alguns conceitos e entender o que são tecno- logias assistivas; ◼ Ver exemplos de projetos de edificações considerados inclusivos. 60 Introdução Olá, aluno(a)! A acessibilidade nas edificações é um tema que está sem- pre se adaptando às mudanças nas normas, às novas demandas das pessoas, novos hábitos e costumes. É necessário conhecer soluções possíveis para demandas específicas, a partir do conhecimento das tecnologias assistivas, da compreensão de sua importância e de onde buscar informações sobre normatização e padrões de uso para cada solução de acessibilidade. Neste material, abordaremos algumas normas e Leis. Fala- remos também de questões que ainda são comuns nos dias de hoje, como os possíveis improvisos tentando solucionar problemas de acesso a alguns lugares, sem um projeto especializado de profissio- nal qualificado. Por fim, abordaremos questões estéticas e plásticas em proje- tos, um pouco sobre edificações institucionais, habitações e lugares turísticos, mantendo o foco no usuário sempre, e tendo como pre- missa a acessibilidade integral. Vamos nessa? 61 Acessibilidade nas edificações Os projetos de arquitetura buscam soluções para atender as demandas do cliente ao mesmo tempo em que atendem as Leis e normas. Dessa forma, todo projeto deveria ser inclusivo, tendo em vista as Leis e normas que tratam da acessibilidade como condição obrigatória. O acesso principal de uma edificação é o local de entrada que possui maior fluxo de pessoas, ou fluxo predominante. Em algumas construções mais antigas, o acesso principal é na verdade o único acesso existente. Como exemplo, podemos citar construções em áreas históricas, como sobrados geminados e casas de porta e janela sem afastamentos laterais. Como você já deve saber, o tema da acessibilidade come- çou a receber uma maior atenção na década de 1980, mesma década da primeira versão da NBR 9050 e da Constituição Bra- sileira de 1988, que deram início às normatizações sobre aces- sibilidade no Brasil. Durante muito tempo, a preocupação com a acessibilidade esteve mais voltada para o acesso principal dos edifícios, sendo ana- lisada de formaisolada, não contemplando uma visão ampla que in- cluísse rotas acessíveis e ambientes externos e internos conectados. Nos dias de hoje, os profissionais de projeto precisam con- siderar que todo acesso principal de uma edificação deve ser aces- sível, mas como parte de um todo acessível, buscando atender as necessidades e demandas de todos os usuários, numa visão inte- gral envolvendo toda a edificação e seu entorno. Em edifícios escolares, por exemplo, a acessibilidade deve contemplar uma rota acessível que começa nas proximidades da escola, nas paradas de ônibus, na travessia de pedestres que contri- bui para o acesso dos alunos em segurança à escola. A acessibilidade passa pelo acesso principal, que, em caso de desnível, deveria ofere- cer preferencialmente ao menos duas formas de acesso: uma rampa acessível e uma escada. Segundo a NBR 9050/20, “quando houver degraus ou esca- das em rotas acessíveis, estes devem estar associados a rampas ou 62 EXEMPLO equipamentos eletromecânicos de transporte vertical. Deve-se dar preferência à rampa” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC- NICAS, 2020, p. 59). Seguindo com o exemplo do edifício escolar, após o acesso principal, rotas acessíveis devem orientar os usuários aos setores da escola, mas indo muito além de acessos principais e rotas. A aces- sibilidade deve estar também na sala de aula, desde a acessibilidade física até a preocupação com o acesso a recursos pedagógicos que contribuam para o aprendizado dos alunos em sua diversidade. As rotas acessíveis devem fazer parte de projetos de arqui- tetura e design de modo geral. Devem fazer parte de projetos esco- lares, como mencionado acima; de projetos comerciais como lojas, restaurantes e bares; de projetos para clínicas, consultórios, hospi- tais; de projetos para locais turísticos, locais de hospedagem, sho- pping centers, salões de beleza e academias, entre tantos outros. Nessas rotas, a sinalização tátil nos pisos deve ser utilizada conforme recomenda a ABNT NBR 16537/16. Os pisos táteis, assim como os relevos táteis aplicados diretamente no piso e os contrastes visuais da sinalização tátil no piso, possuem recomendações espe- cíficas que devem ser aplicadas não somente em espaços públicos e calçadas, mas também em projetos de edificações (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016). Como exemplo das recomendações da NBR 16537/16, podemos citar o item 7.0, que trata especificamente de sinalização tátil direcional no piso. A norma aborda diversas situações de uso, como mudança de direção, encontro de três faixas direcionais ortogonais, encontro de três faixas direcionais angulares, direcionamento para escadas e rampas, direcionamento para equipamentos de circulação, equipa- mentos de autoatendimento ou áreas de atendimento, entre outros (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016). 63 Sobre a aplicação de pisos táteis em rotas com direcionamento para áreas de atendimento, por exemplo, a norma define que “deve ha- ver pelo menos 1,00 m de distância entre a sinalização tátil de dire- cionamento e as paredes, os pilares ou outros objetos, contando-se 1,00 m desde a borda da sinalização tátil” (ASSOCIAÇÃO BRASILEI- RA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016, p. 33). Além disso, estabelece que: na sinalização tátil junto aos balcões de atendi- mento, bancos ou locais onde haja aproximação ou permanência de pessoas, a distância da sina- lização tátil de direcionamento deve ser maior ou igual a 1,20 m, sendo recomendável distância mínima de 1,50 m (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016, p. 33). Figura 1 – Distância mínima entre a sinalização tátil direcional e locais de permanência de pessoas * Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2016 – Adaptado Sabemos que é preciso assegurar a acessibilidade nos mais diver- sos lugares e ao maior número de pessoas, permitindo a toda a socie- dade utilizar e vivenciar os espaços, sejam públicos, sejam privados, de forma justa e homogênea. Para tal, é necessário que esses espaços es- tejam integrados e conectados, garantindo que a circulação de pessoas, todas elas, ocorra da maneira mais natural possível (NOVAES, 2020). Caro(a) aluno(a), para uma melhor visualização da figura, sugerimos que acesse o material disponível no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). 64 É importante destacar também o caso dos projetos de resi- dências. Sancionada em 2015, a Lei Brasileira de Inclusão da Pes- soa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), em seu artigo 58, prevê que as edificações de uso privado multifamiliar devem atender à premissa da acessibilidade (BRASIL, 2015). Três anos depois da lei ser sancionada, foi editado o Decreto nº 9.451, de 26 de julho de 2018, que regulamenta o disposto no Art. 58 e estabelece requisitos para acessibilidade em Unidades Autôno- mas (áreas privadas), definidos em conformidade com os prin- cípios do Desenho Universal, entrando em vigor apenas em 2020 (BRASIL, 2018). O decreto nº 9.451, em seu Art. 3º, determina que os em- preendimentos de edificação de uso privado multifamiliar deve- rão ser projetados com unidades adaptáveis, definidas por este decreto como: Unidade autônoma de edificação de uso pri- vado multifamiliar cujas características cons- trutivas permitam a sua adaptação, a partir de alterações de layout, dimensões internas ou quantidade de ambientes, sem que sejam afe- tadas a estrutura da edificação e as instalações prediais (BRASIL, 2018). Os prédios residenciais devem ter área social em conformida- de com a NBR 9050/20 e as unidades habitacionais devem permitir possíveis adaptações, de acordo com as necessidades de cada mora- dor. Isso repercute no dimensionamento dos espaços que vêm sen- do produzidos por esse tipo de construção, configurando ambientes cada vez menores, em especial as áreas molhadas. Os projetos de casas isoladas não estão enquadrados nesse decreto, não necessitando atender as suas diretrizes. Mas, ao pensar em um projeto para uma residência, o arquiteto precisa pensar que essa edificação será a morada daquele cliente possivelmente por um longo prazo. Dessa forma, é importante pensar no envelhecimento dos moradores, pensar em possíveis mudanças na vida das pessoas e permitir fáceis adaptações considerando uma planta base limpa e com dimensionamento adequado. 65 Pessoas com mobilidade reduzida são, por exemplo, idosos, gestan- tes, pessoas que sofreram algum tipo de acidente e necessitam tem- porariamente do uso de muletas, pessoas que passaram por algum tipo de cirurgia e passaram a ter dificuldades no exercício de tarefas do dia a dia etc. Você já parou para pensar que todos nós podemos passar por situações desse tipo? Como você faria a adaptação em sua residência, caso necessitasse passar um período utilizando alguma tecnologia assistiva como cadeira de rodas ou muletas? No que diz respeito às residências, é importante considerar também, além das casas isoladas e dos edifícios multifamiliares, as habitações populares. É muito comum que habitações populares se- jam projetadas com espaços muito pequenos, no limite das dimen- sões mínimas permitidas pela legislação. Diante dos desafios quanto à questão de dimensionamentos, surge o questionamento: como conciliar questões de acessibilidade com esse tipo de construção? É determinante que sejam contemplados os itens de norma, especialmente no modo de ver o projeto de habitação social como um todo, considerando a acessibilidade integral, levando em consi- deração as conexões entre espaços, tanto externos quanto internos, os usuários e os meios de transporte. Tudo deve estar conectado. Você sabia que existem publicações que abordam o desenho universal ao mesmo tempo em que tratam do tema da habitação de interesse social? Pois é! O Governo do Estado de São Paulo lançou em 2010 o livro "Di- retrizes do Desenho Universal na Habitação de Interesse Social no REFLITA CURIOSIDADE 66 Estado de São Paulo". Um assunto muito importante, não é?