Prévia do material em texto
NESTA EDIÇ ÃO Redação Isadora Oliveira Julio Fernandes de Jesus Luiz Scola Yuri Franco Seleção e Revisão Yuri Rafael Franco Editoria e Design Jennifer Santos https://www.instagram.com/iooliveira/ https://www.instagram.com/luizscola/ https://www.instagram.com/jf_fisio/ https://www.instagram.com/yurifranco/ A dor patelofemoral (DPF) atinge principalmente adultos jovens fisicamente ativos e tem como origem aspectos multifatoriais, com pacientes apresentando sintomas associados a dor como evitação, pensamentos catastróficos e baixo auto-eficácia. Um programa de exercícios para esse grupo de pacientes inclui mudanças positivas, em níveis centrais e periféricos. Quando os exercícios prescritos têm foco em diminuir a dor relacionada ao medo devemos utilizar mensagens positivas acerca do proposto. Além disso, a literatura recente mostrou que auto-eficácia e depressão são fortes fatores prognósticos para dor e disfunção em queixas crônicas músculo esqueléticas em geral, evidenciando que as intervenções baseadas na melhora da dor relacionada ao medo e aumento de atividade física devem ser parte das estratégias de auto-manejo. Por isso, o estudo que discutiremos hoje teve como objetivo estabelecer a viabilidade e aceitabilidade de conduzir um ensaio clínico randomizado que avalie a clínica e o custo-benefício e melhora dos níveis de atividade física de um programa de exercício de auto-manejo da carga para população com dor patelofemoral comparada com fisioterapia convencional. Em um estudo de viabilidade controlado, randomizado, pragmático e de métodos mistos, 60 participantes com DFP (57% mulheres; idade média de 29 anos) foram recrutados em uma clínica de fisioterapia em um hospital universitário do Reino Unido e alocados aleatoriamente para receber um programa de exercícios de auto-manejo com carga (n = 30) ou fisioterapia convencional (n = 30). O protocolo completo está no protocolo do estudo publicado previamente. Indicadores de viabilidade de processo, recursos e gestão foram coletados por meio de acompanhamento de questionários padronizados seis meses após o recrutamento e entrevistas semiestruturadas com 20 participantes e fisioterapeutas. Revista Fisio em Evidência 5 V I S ÃO G E R A L M E TO D O LO G I A Outubro | 2023 Adultos jovens fisicamente ativos A dor patelofemoral (DPF) atinge principalmente adultos jovens fisicamente ativos e tem como origem aspectos multifatoriais, com pacientes apresentando sintomas associados a dor como evitação, pensamentos catastróficos e baixo auto-eficácia. 6 Revista Fisio em Evidência Outubro | 2023 A taxa de recrutamento foi de cinco participantes por mês; a taxa de consentimento foi de 99%; a adesão às consultas de intervenção foi de 87%; a completude dos dados do questionário foi de 100%; e a adesão à aplicação da intervenção foi de 95%. Três diários de exercícios foram devolvidos aos seis meses (5%). Aos seis meses, foram devolvidos 25 cadernos de questionários (nove no grupo autogerido carregado, 16 no grupo de fisioterapia habitual), com uma taxa de retenção total de 42%. Aos seis meses, 56% (5/9) dos entrevistados no grupo autogerido com carga e 56% (9/16) no grupo de fisioterapia habitual foram classificados como “recuperados”. Ambos os grupos demonstraram melhorias na dor média (EVA), cinesiofobia, catastrofização da dor, autoeficácia geral e EQ-5D-5 L desde o início até seis meses. R E S U LTA D O S O estudo buscou estabelecer a viabilidade e aceitabilidade de conduzir um ensaio clínico randomizado para auto-manejo de pacientes com DPF. Os resultados deste estudo de viabilidade confirmam que é viável e aceitável fornecer um programa de exercícios de auto-manejo com carga para pacientes com DPF em um ambiente ambulatorial de fisioterapia. No entanto, entre as diferenças entre os grupos na perda de acompanhamento e a má conclusão do diário de exercícios significa que não temos certeza sobre alguns aspectos de viabilidade, principalmente em relação a aderência e engajamento do paciente ao tratamento, houve uma perda de 70% e isso deve ser trabalhado para um futuro ensaio clínico. P O N TO S F O RT E S E L I M I TAÇ Õ E S A etiologia específica da dor patelofemoral (DFP) permanece incerta. Historicamente, acreditava-se que movimentos anormais da patela ou má posição da patela causavam dor. Alguns pesquisadores sugeriram que movimentos descontrolados durante atividades funcionais poderiam explicar anormalidades na mecânica patelar e o desenvolvimento da PFP. Embora as perspectivas biomecânicas históricas sejam aceitas pela comunidade de pesquisa, a literatura não sustenta a hipótese de que o controle de movimento deficiente cause a DFP. Pessoas com DFP se movem de maneira diferente, o que pode sugerir que os padrões de movimento desempenham um papel crucial na DFP, embora não sejam um fator de risco para o seu início. Algumas intervenções para reabilitação da DFP são baseadas na ideia de que o controle de movimento pode trazer benefícios. Por exemplo, o fortalecimento dos músculos do quadril foi proposto como uma forma de melhorar o controle dos movimentos do fêmur e reduzir o valgo dinâmico do joelho; as órteses para os pés são aplicadas para reduzir o movimento excessivo de pronação do tornozelo, enquanto a fita patelar é aplicada para controlar a patela. Embora a reeducação do movimento não seja a recomendação principal para a reabilitação da DFP, os clínicos geralmente visam melhorar o controle do movimento durante a reabilitação. No entanto, ainda não está claro quais intervenções são eficazes para mudar os padrões de movimento em pessoas com DFP e qual abordagem é a melhor. Este estudo visa resumir a eficácia de intervenções para mudar o padrão de movimento durante tarefas funcionais em pessoas com DFP. Este estudo foi uma revisão sistemática com meta-análise, que avaliou a eficácia de intervenções destinadas a mudar os padrões de movimento em pessoas com dor patelofemoral. Os autores realizaram uma busca sistemática em várias bases de dados, incluindo estudos randomizados controlados que avaliaram intervenções para dor patelofemoral. As intervenções avaliadas foram aquelas destinadas a mudar os padrões de movimento em pessoas com dor patelofemoral. Os comparadores incluíram outras intervenções ou nenhum tratamento. Os desfechos avaliados foram dor, função e qualidade de vida. Os estudos incluídos foram ensaios controlados aleatorizados. Além disso, os estudos deveriam estar disponíveis em inglês, espanhol ou português e ter sido publicados até 31 de dezembro de 2020. V I S ÃO G E R A L M E TO D O LO G I A Revista Fisio em Evidência Outubro | 2023 8 https://fisioemortopedia.com.br/star-cursos/ 9 Revista Fisio em Evidência Outubro | 2023 Os principais achados deste estudo foram que as intervenções destinadas a mudar os padrões de movimento em pessoas com dor patelofemoral, como o treinamento de controle motor, o treinamento de força e o treinamento de flexibilidade, foram eficazes na redução da dor e na melhoria da função em comparação com nenhum tratamento ou placebo. Além disso, o treinamento de controle motor foi a intervenção mais eficaz na redução da dor e na melhoria da função em comparação com outras intervenções. No entanto, é importante notar que a qualidade da evidência foi geralmente baixa ou muito baixa, o que significa que os resultados devem ser interpretados com cautela. R E S U LTA D O S Uma limitação está relacionada à qualidade das evidências, que foi baixa ou muito baixa. Isso significa que os resultados devem ser interpretados com cautela. Outra limitação está relacionada aos métodos usados para analisar o movimento,que podem não fornecer uma descrição precisa do desempenho ou detectar mudanças de forma eficaz. Por fim, os autores não realizaram uma análise de subgrupo com base na gravidade ou duração da dor patelofemoral, o que poderia ter influenciado os resultados. P O N TO S F O RT E S E L I M I TAÇ Õ E S Revisão sistemática das diretrizes de prática clínica para manejo fisioterapêutico da dor femoropatelar As recomendações de diretrizes de alta qualidade podem entrar em conflito com o tratamento de rotina do fisioterapeuta da dor femoropatelar. Esta revisão gera orientação para os profissionais fornecerem tratamento baseado em evidências para a dor femoropatelar e aborda uma importante lacuna entre as evidências e a prática clínica no tratamento da dor femoropatelar. A referência desse estudo está na imagem e foi transformado em carrossel pelos queridos @iooliveira e @luizscola Para mais mais conteúdos como esse acesse o nosso Instagram https://www.instagram.com/fisioemortopedia/ FIC A A DIC A: PAR A LER https://www.instagram.com/fisioemortopedia/ https://www.instagram.com/p/CREa3CTs5up/?fbclid=IwAR1JtdxtfVw82uuuOUniyCcqeqp-BBWRh3LdDaHitwQzS2dC83dekl01AV4 A ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) causa alterações no controle sensório-motor e nas adaptações neuromusculares, uma vez que os mecanorreceptores nativos nesse ligamento são perdidos. Essas alterações, por sua vez; acarretam deturpações dos estímulos aferentes enviados para o sistema nervoso central e consequentemente discrepâncias (membro acometido versus assintomático) no recrutamento de músculos dos membros inferiores (como o quadríceps e os isquiotibiais) e adaptações de atividades da vida diária e, também, na prática de esportes. Além disso, essas características alteradas podem perdurar por longos períodos – independente da forma de tratamento (cirúrgico ou conservador) estabelecida – inclusive impondo a perduração dessas disfunções neuromusculares após atingir outros critérios (clínicos e funcionais) para retornar a prática esportiva, o que demonstra que os critérios para o retorno da prática de esportes, por vezes; não contemplam características e análises do controle neuromuscular na tomada dessa decisão. Sendo assim e com o intuito de gerar novas informações sobre a temática, este estudo avaliou as características de controle neuromuscular de indivíduos de ambos os sexos, após um ano da lesão do LCA e que foram tratados cirúrgica e conservadoramente. 11 V I S ÃO G E R A L Revista Fisio em Evidência Outubro | 2023 M E TO D O LO G I A Esse foi um estudo transversal que avaliou características do controle neuromuscular de sujeitos saudáveis e também de indivíduos que sofreram a lesão do LCA – tratados cirúrgica ou conservadoramente – e que já haviam recebido liberação para o retorno à prática esportiva (um ano pós-lesão/tratamento). Os participantes tinham idade entre 16 e 60 anos, eram fisicamente ativos e não tinham queixas e/ou limitações clínicas. Os participantes incluídos foram distribuídos em três grupos : › LCA-Intacto (saudáveis) – LCA-I (n=38); › LCA-reconstruído (cirurgicamente) – LCA-R (n=38); › LCA-conservador – LCA-C (n=26). Os desfechos avaliados foram: eletromiografia dos músculos vastos medial e lateral, bíceps femoral e semitendíneo durante o teste funcional de descida de degrau (descida de seis degraus consecutivos por 10 vezes) – foram ponderadas as fases de pré-ativação, descarga de peso e propulsão. E também, eletromiografia (dos mesmos músculos) e mensuração do reflexo de alongamento mediante a translação anterior artificial da tíbia (os participantes, em ortostatismo e com 30° de flexão de joelho receberam uma carga equalizada e controlada por um equipamento específico – que tracionava a tíbia anteriormente). 12 Revista Fisio em Evidência Outubro | 2023 No teste funcional da descida de escadas, foram detectadas diferenças significativas de controle neuromuscular somente para os homens, nas características eletromiográficas do bíceps femoral e apenas durante a fase de propulsão (p=0,001). Sendo que, os homens participantes dos grupos LCA-R e LCA-C apresentaram maior atividade quando comparados com o LCA-I (p=0,009 e 0,007, respectivamente). As avaliações do reflexo de alongamento mediante a translação anterior da tíbia, demonstraram diferenças (independente do sexo) dos dados eletromiográficos dos músculos vasto medial e bíceps femoral (p=0,013 e 0,035, respectivamente), entre os grupos de tratamento (LCA-R versus LCA-C) e na fase de pré-ativação. Entretanto e ao realizar a análise específica do sexo feminino, foi notado que a pré-ativação do vasto medial das participantes do grupo LCA-R foi maior quando comparado ao LCA-C (p=0,018) e menor, no LCA-C quando comparado ao LCA-I (p=0,034). Por outro lado, mas ainda sobre este mesmo desfecho; os homens do grupo LCA-R apresentaram maior pré-ativação do vasto medial e menor do bíceps femoral (p=0,025 e 0,003, respectivamente) quando comparados ao LCA-I. Os participantes do sexo masculino do grupo LCA-C também apresentaram menor pré-ativação de bíceps femoral em comparação com o LCA-I (p=0,019). A atividade reflexa dos grupos musculares testados (teste da translação anterior da tíbia) nas mulheres participantes, demonstraram diferenças (deficiências de ativação) durante a fase média do reflexo de latência, uma vez que foram detectadas alterações das características eletromiográficas do semitendíneo entre as participantes dos grupos LCA-R quando comparados com o LCA-I (p =0,015). Porém e durante a fase de resposta de latência longa, foram detectadas diferenças para o vasto medial das mulheres do grupo LCA-R quando comparados com os grupos LCA-C (p=0,015) e LCA-I (p =0,049). R E S U LTA D O S Esse estudo apresenta algumas limitações relevantes: › A amostra recrutada não contemplou o número de participantes mínimos e necessários estabelecidos no cálculo amostral prévio, o que pode reduzir o poder das análises estatísticas e consequentemente a relevância dos resultados e conclusões; › Os grupos se mostraram heterogêneos com respeito ao sexo (quantidades diferentes de homens e mulheres), realização dos tratamentos prévios (diferentes cirurgiões, técnicas cirúrgicas, tipos de enxertos e tratamentos/protocolo conservadores) e nível de prática de atividade física, o que pode influenciar diretamente em algumas características dos desfechos analisados e reduzir as validades interna e externa do estudo; › Realização de análises estatísticas com testes parcialmente adequados para os tipos de desfechos e característica de amostra, o que pode novamente comprometer os resultados e conclusões. L I M I TAÇ Õ E S Lesões de joelho sempre são preocupações que os pacientes tendem a aumentar sua gravidade devido, talvez, a todo o “marketing” negativo que é gerado sobre as condições dessa articulação. E ao se falar em lesões de joelho uma que sempre é vista e falada nos noticiários é a lesão meniscal, muitas vezes vista como um resultado secundário a lesões mais graves, como a ruptura do ligamento cruzado anterior. Porém, as lesões mais comuns que acometem essa estrutura são as lesões degenerativas que está inerente a qualquer população e não somente a população atlética. Talvez, por essa característica se faz necessário repensar a real necessidade de passar por procedimentos cirúrgicos como primeira escolha. Sendo assim, esse estudo ele traz esse comparativo de forma mais coerente trazendo os pontos de evolução clínica e critérios mais claros paraque possa tomar uma decisão mais concreta sobre esses casos de lesões degenerativas de menisco medial. 14 Uma pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados PubMed, EMBASE, Scopus e PEDro em maio de 2019 para identificar todos os ensaios clínicos randomizados (ECR) comparando a cirurgia artroscópica ao tratamento conservador de meniscos degenerados dolorosos, mas estáveis. A qualidade dos ECRs foi avaliada usando a Avaliação de Risco de Viés da Cochrane. V I S ÃO G E R A L M E TO D O LO G I A Revista Fisio em Evidência Outubro | 2023 Ao final de todo o processo de eligibilidade dos artigos encontrados nas buscas, ficaram para avaliação apenas dez estudos. Com isso, foi possível obter uma amostra total de 1525 pacientes com idade média de 54 anos. Todos os estudos tinham como intervenção a meniscectomia parcial do menisco medial associado a alguma intervenção controle, que em oito desses estudos foram exercícios. Sobre os desfechos de dor e função foi visto que não houve diferenças entre os estudos para esses desfechos, sendo as condutas conservadoras com resultados similares ao tratamento cirúrgico. Um ponto interessante para a discussão é que houve situações em que o paciente precisou evoluir do tratamento conservador para o cirúrgico em média essa troca aconteceu em cerca de 19 a 33% das amostras dos estudos adicionados a revisão. R E S U LTA D O S Ao falarmos de tratamento conservador, temos uma gama grande de intervenções, inclusive diferentes formas de abordagens de exercícios o que foi visto nessa revisão. L I M I TAÇ Õ E S REFERÊNCIAS Programa de exercícios auto-administrados para a dor patelofemoral Referência: Smith, B. E., et al. (2019). A loaded self-managed exercise programme for patellofemoral pain: a mixed methods feasibility study. BMC musculoskeletal disorders, 20(1),129. Eficácia das intervenções destinadas a mudar os padrões de movimento em pessoas com dor femoropatelar: uma revisão sistemática com meta-análise de rede Referência: Nunes, GS. et al. Effectiveness Of Interventions Aimed At Changing Movement Patterns In People With Patellofemoral Pain: A Systematic Review With Network Meta-Analysis. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy. doi: 10.2519/jospt.2023.11956 Controle neuromuscular durante descida de escada e translação anterior artificial da tíbia em homens e mulheres após 1 ano de ruptura ou reconstrução do ligamento cruzado anterior Referência: A.et al. Neuromuscular control in males and females 1 year after an anterior cruciate ligament rupture or reconstruction during stair descent and artificial tibial translation . Sci Rep. 2023 Sep 15;13(1):15316. doi: 10.1038/s41598-023-42491-6. Abordagem conservadora versus cirúrgica para lesões meniscais degenerativas: uma revisão sistemática de evidências clínicas Referência: Giuffrida A. et al. Conservative vs. surgical approach for degenerative meniscal injuries: a systematic review of clinical evidence. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2020 Mar;24(6):2874-2885.