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Farmacobotânica Aula 07: Morfologia externa e organização interna da folha Apresentação Como surgem as folhas? Por que elas são geralmente planas? As folhas têm nariz? As folhas são órgãos incríveis e vitais para as plantas. Além disso, são o principal recurso terapêutico usado na medicina popular e na �toterapia. Seu formato característico permite o desempenho de suas funções com primor, mesmo que para isso sejam necessárias adaptações. Ao analisar a estrutura interna das folhas, veremos que há tecidos especializados para múltiplas funções. As folhas surgem, inicialmente, do desenvolvimento da plúmula que se forma na germinação da semente. Posteriormente, conforme a planta se desenvolve, surgem a partir da gema apical do caule. O aspecto plano da maioria das folhas expõe uma grande superfície para captação de energia luminosa, utilizada na realização da fotossíntese permitindo a realização de trocas gasosas, por meio de estruturas especializadas denominadas estômatos. A complexa variedade de substâncias produzidas pelas folhas as caracteriza como uma fábrica de substâncias, muitas delas vitais para a adaptação da planta ao ambiente e com potenciais propriedades medicinais. Objetivos Relacionar os tecidos que originam a folha e promovem o seu desenvolvimento; Reconhecer os padrões de desenvolvimento foliar e suas adaptações; Reconhecer as importantes funções metabólicas da folha. Características gerais da folha A folha é uma expansão lateral e laminar do caule, com crescimento limitado. Constitui-se em um órgão vegetativo com importantes funções metabólicas, como: Diz-se que uma folha é completa quando apresenta: 1 Fotossíntese Responsável pela produção dos nutrientes necessários à sobrevivência do vegetal. 2 Respiração Responsável pelas trocas gasosas. 3 Transpiração Controla a circulação de água na planta e a temperatura. 4 Condução e distribuição da seiva Aos demais órgãos da planta. 5 Produção e o armazenamento de metabólitos utilizados para a defesa da planta e que, para nós, apresentam importância medicinal. O formato da folha é, em geral, adaptado para essas funções, de modo que sua superfície é grande e plana, e sua posição é perpendicular ao solo. Limbo Pecíolo Bainha Figura 1: Esquema de uma folha completa. (Fonte: Farmacobotânica, MOURA, R. B. , 2017). Atenção Folhas completas não são tão comuns. A bainha ocorre predominantemente nas monocotiledôneas, e os pecíolos são raros nesse grupo. Morfologia externa da folha A folha é uma expansão lateral e laminar do caule, com crescimento limitado. Constitui-se em um órgão vegetativo com importantes funções metabólicas, como: 1 Peciolada limbo + pecíolo presentes. 2 Invaginante limbo + bainha presentes. 3 Séssil apenas o limbo presente. Por ter forma laminar, o limbo apresenta duas faces: uma superior, também denominada adaxial ou ventral, e outra inferior, também chamada de abaxial ou dorsal. Ao longo da lâmina foliar, observam-se canais que percorrem toda a sua extensão. Esses canais constituem as nervuras, que são rami�cações dos vasos condutores. A lâmina foliar apresenta ainda margem ou bordo, ápice e base. As formas do limbo, do ápice, da base e da margem foliar podem variar enormemente entre os táxons, o que é determinado geneticamente e auxilia na identi�cação dos grupos vegetais. Figura 2: Regiões que formam o limbo. (Fonte: Farmacobotânica, MOURA, R. B. , 2017). Em resposta aos diferentes ambientes, a folha exibe expressivo polimor�smo, visível nas cores, nos tamanhos, formatos e nas texturas. Algumas variações na forma do limbo podem ser observadas a seguir: Figura 3: Nomenclatura das folhas em função da forma do limbo. (Fonte: Almeida & Almeida, 2018). O limbo pode ainda ser único, quando se diz que a folha é simples, ou recortado, quando a folha é chamada de composta ou pinada e recomposta ou bipinada. Há ainda diferentes padrões de disposição das folhas ao longo do caule, o que é chamado de �lotaxia. Comentário Todas essas diferenças são importantes e auxiliarão na identi�cação de drogas vegetais. Saiba mais Para saber mais sobre os nomes atribuídos a cada característica foliar, consulte o livro de Farmacobotânica, disponível na biblioteca da disciplina, e o livro digital Morfologia da folha de plantas com sementes. A consistência da folha também varia bastante em função da natureza dos tecidos que a compõe, do ambiente, do teor de água e de sua resistência; portanto, sua classi�cação é muito variável e bastante extensa. Apresentaremos aqui os três tipos mais característicos e que auxiliam na identi�cação de espécies. Membranáceas ou membranosas: são folhas �nas, pouco resistentes e �exíveis, como a maioria das hortaliças e uma in�nidade de espécies medicinais. Coriáceas: são rígidas, espessas e resistentes, como as folhas de Ficus e Clusia. Carnosas: Folhas de aspecto volumoso, pelo fato de armazenarem água: características típicas de suculentas. Figura 4: Folha membranácea de hortelã. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Figura 5: Folha coriácea de Clusia sp. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Folha carnosa de babosa. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Folha carnosa de saião. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Modi�cações foliares As inúmeras adaptações das plantas aos diferentes ambientes ocorrem ao longo dos anos, resultando em pequenas ou grandes transformações, aumentando, assim, as chances de sobrevivência. Algumas adaptações ocorrem na própria folha e não alteram a sua função fotossintetizante; porém, outras são resultado de um longo processo evolutivo, trazendo novas funções para a folha modi�cada. As adaptações são visíveis por toda a planta, mas muito mais expressivas nas folhas, em função das múltiplas funções por elas desempenhadas. Sépalas e pétalas javascript:void(0); Folhas modi�cadas em peças �orais estéreis, com função de proteção das peças reprodutoras, desde sua formação até a abertura da �or (antese). Além disso, atuam como "atrativos" de agentes polinizadores, em função de suas cores e seus odores (pétalas). As peças reprodutoras (gineceu e androceu) também são folhas modi�cadas, e serão vistas em detalhe na aula 8. Figura 7: Flor de azaleia mostrando as peças florais que são folhas modificadas. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Brácteas Folhas modi�cadas presentes na base das �ores ou de ramos �oríferos (in�orescências) as protegem ou, quando coloridas, assumem a função de atração de polinizadores, contribuindo consideravelmente para a perpetuação da espécie. Figura 8: Inflorescência de primavera, onde se vê brácteas coloridas e chamativas (seta preta) protegendo botões florais e flores (seta azul). (Fonte: Almeida & Almeida, 2018). Figura 9: inflorescência de lavanda, mostrando a bráctea que protege cada flor. Quando ainda em botão, a bráctea é lilás; quando a flor abre, a bráctea torna-se verde. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Reserva Folhas modi�cadas (catá�los) que armazenam água e reservas nutricionais; estão presentes nos bulbos. Há também folhas que se transformam em escamas, as quais protegem os bulbos contra dessecamento. Figura 10: Bulbo de cebola evidenciando as folhas transformadas em escamas (seta azul) e os catáfilos de reserva (setas pretas). (Fonte: Almeida & Almeida, 2018). Espinhos Os espinhos são folhas modi�cadas ou metamorfoseadas em estruturas pontiagudas, rígidas e, frequentemente, ligni�cadas, como nos citros e nas cactáceas. A presença de espinhos nas plantas, além de protegê-las, di�culta o acesso de predadores (cactáceas e euforbiáceas) e reduz a perda de água. Figura 11: Cylindropuntia spinosior, uma cactácea com folhas reduzidas a espinhos. (Fonte: Almeida & Almeida, 2018). Tricomas Os tricomas são anexos da epiderme e está presente nos órgãos aéreos. Eles atuam na defesa química e/ou física das plantas e, em função disso, são classi�cados em dois tipos: glandularese tectores. Tricomas glandulares: segundo Almeida e Almeida (2018), "destacam-se pela função de defesa química observada quando a espécie produz substâncias urticantes, como ocorre na urtiga ou em substâncias mucilaginosas, que, quando exsudadas, di�cultam a movimentação de predadores pela planta. Algumas espécies metabolizam repelentes, com diferentes odores e sabores, que, além de afastar os predadores pelo cheiro, podem afetar a palatabilidade da planta, tornando-as menos atrativas, como ocorre na citronela. Por outro lado, alguns tricomas excretam agradáveis aromas nas �ores, atraindo diversos polinizadores. No eucalipto, na menta, manjerona, lavanda, no manjericão e em uma in�nidade de outras espécies, esses tricomas são responsáveis pela produção de óleos essenciais comercialmente importantes, tanto na indústria farmacêutica como alimentícia". Figura 12: Tricomas glandulares observados no pinhão roxo (Jatropha gosypiifolia). (Fonte: Almeida & Almeida, 2018). A cobertura formada por tricomas ou acúleos na superfície das folhas é denominada indumento, que pode ocorrer em ambas as faces ou apenas em uma delas. De acordo com a quantidade e localização, o indumento é classi�cado em: Figura 13: O tom esbranquiçado da face abaxial das folhas de lavanda é causado pelos minúsculos tricomas secretores. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Tricomas tectores: são semelhantes a pelos, podendo ser uni ou pluricelulares, rami�cados ou não, e até mesmo possuir forma de escamas. Têm como funções: defesa contra herbívoros, ação re�ectante dos raios solares e isolamento térmico pela retenção de ar e umidade. Figura 14: Tricomas tectores (setas vermelhas) podem estar presentes em ambas as superfícies das folhas adaxial e/ou abaxial, bem como no pecíolo. (Fonte: Almeida & Almeida, 2018). Lanoso São abundantes, com aspecto de lã cobrindo toda superfície da folha. Piloso Quando o indumento é distribuído ao longo das nervuras. Espinescente Os tricomas são pontiagudos, semelhantes a pequenos espinhos Glabra Quando as folhas são totalmente desprovidas de tricomas. (Fonte: Almeida & Almeida, 2018). Fixação As folhas podem assumir diferentes formas, como molas, ventosas, garras ou ganchos, chamadas gavinhas, que auxiliam na �xação de plantas trepadeiras em suportes diversos. Segundo Raven (2014), as gavinhas podem se originar de caules, mas principalmente de folhas: "Os caules e as folhas podem passar por modi�cações e desempenhar funções muito diferentes daquelas comumente associadas a esses dois componentes do sistema caulinar. Uma das modi�cações mais comuns é a formação de gavinhas, que auxiliam no suporte. Algumas gavinhas são caules modi�cados. As gavinhas da videira (Vitis), por exemplo, são caules modi�cados que se enrolam em torno da estrutura de suporte. Na videira, algumas vezes, as gavinhas produzem pequenas folhas ou �ores. Nos partenocissos (Parthenocissus tricuspidata e Parthenocissus quinquefolia), as gavinhas são também caules modi�cados, que formam discos adesivos em suas extremidades. No entanto, a maioria das gavinhas são folhas modi�cadas" - RAVEN, 2014. Figura 16: Chuchuzeiro onde se observa a gavinha em primeiro plano. (Fonte: Adaptado de olhares.sapo). Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Estrutura anatômica de folha Assim como o caule e a raiz, a folha compreende três sistemas de tecidos: 1 Sistema dérmico Se origina da protoderme, constitui a epiderme e reveste toda a superfície foliar 2 Sistema fundamental Se origina do meristema fundamental e constitui o meso�lo da lâmina foliar e o córtex da nervura mediana e do pecíolo. 3 Sistema vascular Se origina do procâmbio e constitui os tecidos vasculares das nervuras. Pecíolo O pecíolo é a parte da folha cuja estrutura mais se aproxima do caule que lhe deu origem. Tal como no caule, observam-se no pecíolo epiderme, o córtex (muitas vezes contendo cordões de colênquima e, mais raramente, esclerênquima) e a endoderme, camada mais interna do córtex, envolvendo o sistema vascular, cuja camada mais externa é o periciclo. A camada mais externa do sistema vascular da folha (mais fácil de observar no pecíolo e nas nervuras de maior porte) é o periciclo. Lâmina foliar A epiderme é contínua e única em toda a extensão da folha. Nas diferentes folhas, o número de camadas que formam a epiderme pode variar (de uni a multisseriada). É possível que algumas plantas de ambiente árido apresentem hipoderme em uma das faces ou até mesmo nas duas, logo abaixo da epiderme. Dessa forma, dizemos que a epiderme é múltipla. Exemplo O abajeru (Chrysobalanus icaco) é uma planta medicinal de ambiente seco e alta salinidade, que apresenta uma epiderme unisseriada e duas a quatro camadas de hipoderme. A epiderme também apresenta diversidade na forma das células de revestimento, na sua estrutura, no tipo e na distribuição dos estômatos, na morfologia e no arranjo de tricomas, na ocorrência de células especializadas etc. Em controle de qualidade, a epiderme foliar é um tecido importante, por causa das variações nas combinações e nos tipos de todos os seus elementos. Atenção A técnica adequada para obtenção do material para o controle de qualidade é imprescindível para fornecer os elementos necessários para a análise: 1. Para observação e análise dos tipos de estômatos e das características das células de revestimento da epiderme foliar, ou de qualquer outro órgão, é preciso fazer cortes paradérmicos ou a dissociação de epiderme. 2. Para observar as estruturas da epiderme quanto à presença de hipoderme e ao número de camadas, células buliformes e cristais, é preciso fazer cortes transversais no órgão. O meso�lo compreende todos os tecidos situados entre a epiderme e o sistema vascular da folha. O parênquima, usualmente, está diferenciado em tecido fotossintetizante e, portanto, contém cloroplastos. Em muitas plantas, especialmente em eudicotiledôneas, dois tipos de parênquima podem constituir o meso�lo: paliçádico e esponjoso (ou lacunoso). O parênquima paliçádico encontra-se imediatamente abaixo da epiderme. Suas células são alongadas e em seção transversal à folha e possuem forma de barras dispostas em �leiras, que podem ser iguais em comprimento ou se tornam menores à medida que se aproximam do centro. O parênquima paliçádico, em geral, está voltado para a superfície adaxial da folha, enquanto o parênquima lacunoso está voltado para a face abaxial. Em xeró�tas, é comum a presença de parênquima paliçádico nas duas superfícies e o parênquima lacunoso entre eles, podendo também aparecer como um caráter xeromorfo em plantas do cerrado. Saiba mais A folha na qual o parênquima paliçádico aparece em um lado e o esponjoso no outro é chamada de dorsiventral, ou bifacial. Quando o parênquima paliçádico está nas duas superfícies, a folha é chamada de isobilateral, ou isolateral. Quando não se distinguem dois tipos de parênquima, tem-se uma folha com meso�lo uniforme, ou homogêneo. O sistema vascular nas monocotiledôneas, assim como em eudicotiledôneas e gimnospermas em estrutura primária, é formado, exclusivamente, de xilema e �oema primários. Ele se apresenta como �bras na maioria das monocotiledôneas e em grande parte das eudicotiledôneas. As terminações de nervura têm dupla função: Transportar água e solutos dissolvidos e absorver. Translocar os produtos da fotossíntese para outras partes da planta. As características do meso�lo são importantes no controle de qualidade. Os responsáveis por essa absorção são os elementos de tubo crivado. Nessas terminações, as células companheiras apresentam protoplasto denso e numerosos plasmodesmos em conexão com os elementos crivados. Além dessas células companheiras, existem as parenquimáticas, que, juntas, denominam-se células intermediárias, pois estabelecem comunicação entre o meso�lo e os elementos crivados na translocação dos metabólitos. Em várias eudicotiledôneas, essas células são denominadas células de transferência, especializadasem transporte a curta distância. Em angiospermas em geral, as terminações vasculares são formadas por traqueídeos curtos e elementos de tubo crivado estreitos, com células companheiras mais largas. A bainha do feixe vascular envolve as terminações, isolando o �oema e o xilema do contato com o ar que existe nos espaços intercelulares. (Fonte: Farmacobotânica, MOURA, R. B. , 2017). As células do tecido esponjoso variam muito na forma, podendo ser isodiamétricas ou alongadas em direção paralela à superfície da folha e apresentar, muitas vezes, projeções braciformes. Algumas plantas de ambiente com altas temperaturas possuem um tipo diferente de fotossíntese e um meso�lo característico, como é o caso do capim-limão, por exemplo. As células do meso�lo dispõem- se de maneira radiada em torno do feixe vascular, constituindo uma bainha celular cloro�lada, denominada estrutura kanz . Na região da nervura mediana ou das nervuras principais de uma folha palmada ou radiada, e no pecíolo, é comum a presença de colênquima no meso�lo, logo abaixo da epiderme. O tipo de colênquima variará de acordo com a espécie e pode ser um elemento de diagnóstico em um controle de qualidade. 1 Anatomia de plantas C3, C4 e CAM As plantas podem apresentar três tipos diferentes de processos fotossintéticos, que diferem no consumo de água, por grama de CO2 absorvido, no primeiro ácido formado na incorporação do carbono, no mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos e, evidentemente, na anatomia foliar. https://estacio.webaula.com.br/cursos/go0297/aula7.html Folhas de plantas C3 Geralmente, possuem meso�lo dorsiventral ou isobilateral, com parênquima paliçádico e lacunoso bem diferenciados. Podem possuir bainha do feixe parenquimática não cloro�lada ou esclerenquimática. Folhas de plantas C4 Em geral, possuem o meso�lo homogêneo, com as células do parênquima cloro�liano dispostas radialmente aos feixes vasculares. Feixes vasculares sempre envoltos em bainha parenquimática cloro�lada, denominada estrutura Kranz. Folhas de plantas CAM Normalmente, possuem parênquima aquífero compondo o parênquima cloro�liano e a bainha parenquimática não cloro�lada. Adaptações ao ambiente As folhas das angiospermas apresentam grande variação de estrutura, devido à disponibilidade ou não de água. Com base na sua necessidade de água e, por conseguinte, nas adaptações apresentadas, as plantas são comumente classi�cadas em: 1 Xeró�tas São adaptadas a ambientes com baixa disponibilidade hídrica, �cando longos períodos sem água. 2 Mesó�tas Necessitam de muita disponibilidade de água no solo e de alta umidade atmosférica. 3 Hidró�tas Crescem totalmente ou parcialmente na água, dependendo completamente desta. Dependendo do tipo de planta, as folhas apresentam características especí�cas: Clique nos botões para ver as informações. Geralmente são folhas pequenas e compactadas, com paredes celulares espessadas, especialmente a parede tangencial externa, e com cutícula bem desenvolvida, sendo comum a presença de cera; sistema vascular denso e número de estômatos aumentado, os quais, por vezes, apresentam-se em sulcos (aprofundados na epiderme), e parênquima paliçádico em quantidade maior que o esponjoso, ou apenas presença de paliçádico. As folhas de xeró�tas são, frequentemente, espessas e coriáceas, com grande quantidade de tricomas. O meso�lo apresenta-se bastante diferenciado, podendo haver mais de uma camada de parênquima paliçádico, e é comum o parênquima aquífero. As xeró�tas têm um sistema vascular bem desenvolvido e, às vezes, com grande quantidade de esclerênquima, tanto na forma de esclereídeos quanto na de fribroesclereídeos. É comum a presença de estômatos nas duas superfícies, com maior quantidade na face abaxial. Exemplos: abajeru (Chrysobalanus icaco), babosa (Aloe vera), saião (Kalanchoe brasiliensis). Caracteres xerofíticos Essas folhas geralmente apresentam redução dos tecidos vasculares e de sustentação. Nesse tipo de planta, o xilema encontra-se bastante reduzido. O meso�lo apresenta grandes espaços intercelulares. Nas folhas submersas e nas partes submersas de folhas �utuantes, a epiderme toma parte na absorção de nutrientes, pois apresenta paredes celulares e cutícula delgada. O meso�lo é reduzido a poucas camadas de células; os estômatos podem ser ausentes; e, usualmente, não há diferenciação de parênquima paliçádico e esponjoso. Em folhas �utuantes, os estômatos estão restritos à face adaxial. Quando as folhas são aéreas, os estômatos estão nas duas faces. Exemplos: vitória-régia (Victoria amazonica), chapéu-de-couro (Echinodorus machophyllus). Caracteres hidrofíticos Possuem as características mais comumente citadas para caracterizar a folha. Apresentam parênquima cloro�liano diferenciado em parênquima paliçádico e parênquima esponjoso, portanto são folhas dorsiventrais. Tem por característica interessante a predominância de estômatos na fase abaxial. Caracteres mesofíticos Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Funções da folha Fotossíntese Ocorre predominantemente no parênquima cloro�liano (paliçádico e lacunoso), onde se alojam os cloroplastos. É um processo físico-químico que permite transformar a energia luminosa, o dióxido de carbono e a água em energia química acumulada na forma de glicose e/ou outras moléculas orgânicas. Ao �nal do processo, O é liberado no ambiente. A entrada de CO e a saída de O e água são realizadas pelos estômatos. 2 2 2 Figura 18: Esquema representativo do processo de fotossíntese. (Fonte: Almeida e Almeida, 2018). Figura 19: Esquema evidenciando o corte transversal do limbo foliar e destacando sua composição. A liberação de oxigênio (O2) e absorção de gás carbônico (CO2) ocorrem quando a folha está realizando fotossíntese, sempre na presença de luz. (Fonte: Almeida e Almeida, 2018). Trocas gasosas De acordo com Almeida e Almeida (2018), ocorrem por meio dos estômatos, responsáveis por controlar a entrada e a saída dos gases atmosféricos através de uma fenda estomática, o ostíolo, que se abre quando exposto à luz e se fecha em sua ausência. A abertura e o fechamento dos estômatos também ocorrem em função da alteração da turgescência das células guardas, cujas paredes são mais espessas na região do ostíolo, determinando sua abertura quando essas estão túrgidas e seu fechamento quando murchas. Transpiração Ocorre por meio dos estômatos de forma variável, na dependência da abertura e do fechamento do ostíolo, evitando perdas excessivas e desnecessárias de vapor de água. Vale lembrar que a água do solo, absorvida pelas raízes, é transportada pelas células condutoras do xilema em direção ao caule até alcançar as folhas, onde são realizados os processos de fotossíntese e transpiração. Ainda segundo Almeida e Almeida (2018), em ambientes favoráveis, com excesso de umidade, a transpiração é lenta ou, muitas vezes, ausente. Por essa razão, as plantas podem exsudar pelas folhas, pela água e pelos sais na forma líquida por meio de poros denominados hidatódios. A esse processo dá-se o nome de gutação,que ocorre principalmente durante a noite, quando as temperaturas são mais baixas e a umidade relativa do ar é mais elevada. Figura 20: Esquema ilustrativo do processo de transpiração. (Fonte: Almeida e Almeida, 2018). Figura 21: Gutação observada por meio das gotas de água no bordo das folhas. (Fonte: Regina Moura e Iranilda Calado). Todas essas características e peculiaridades atribuídas às folhas as tornam peças-chave no metabolismo e, consequentemente, na produção de metabólitos secundários. As folhas são as partes mais amplamente usadas das plantas medicinais e, em função disso, seu uso é bastante passivo de equívocos e adulterações. É de vital importância, para garantir a qualidade e a segurança no uso de drogas vegetais, o conhecimento da morfologia externa e da anatomia das folhas, para uma autenticação segura. Saiba mais Para saber mais, leia o artigo: Controle de qualidade de drogas vegetais à base de Bauhiniafor�cata Link (Fabaceae). Disponível em: //www.scielo.br/pdf/rbfar/v18n2/21.pdf Folhas de importância medicinal A seguir, seguem alguns exemplos de folhas amplamente utilizadas e reconhecidas pela medicina popular: Beladona – Atropa belladona L. Apresenta propriedades sedativa e antiespasmódica. Inibe a atividade parassimpática. É usada na asma, coqueluche, cólicas intestinais e renais. Boldo – Pelmus boldus (Mol.) Lyons. Estimula a formação de bile, auxiliando nas funções digestivas. Utilizado nas dores abdominais e crises de fígado. Capim-limão – Cymbopogon citratus (DC) Staph. Usado como calmante, antitérmico, analgésico e carminativo (auxilia na eliminação de gases intestinais). Digital – Digitalis purpurea L. Possui ação inotrópica positiva, ou seja, aumenta a força de contração do coração, sendo utilizado na insu�ciência cardíaca congestiva. Espinheira-santa – Maytenus ilicifolia (Schrad) Planch. Tem propriedades antiúlcera, analgésica, antiespasmódica, antiácida, anti-in�amatória e cicatrizante. Muito utilizada em distúrbios gastrointestinais. Atividade 1. Em algumas espécies de plantas, é possível observar que a base da folha envolve o caule. Essa estrutura, encontrada principalmente em monocotiledôneas, recebe o nome de: a) Limbo. b) Pecíolo. c) Bainha. d) Estípula. e) Ramo. javascript:void(0); 2. As folhas podem sofrer uma série de adaptações para exercer grande variedade de funções. Um exemplo de uma típica adaptação da folha para ajudar na �xação da planta ao suporte são: a) Os espinhos. b) As gavinhas. c) Os acúleos. d) As brácteas. e) Os catafilos. 3. Considerando as características e descrições feitas do meso�lo, e sabendo da sua importância no controle de qualidade de droga vegetais e plantas medicinais à base de folhas, qual o tipo de corte histológico adequado para a análise completa das características do meso�lo? 4. O desenho abaixo representa um tipo de planta que, ao longo do processo evolutivo, sofreu a transformação das suas folhas em espinhos, tendo em vista condições ambientais e relacionamento com outros seres à sua volta. Essa modi�cação atendeu fundamentalmente às necessidades decorrentes dos fenômenos de: (Fonte: Vidal & Vidal, 2013). a) Circulação e parasitismo. b) Absorção e inquilinismo. c) Fixação e comensalismo. d) Excreção e mutualismo. e) Evaporação e predatismo. 5. (Brasil Escola, sem data) A seguir, está representada a anatomia de uma folha. Nela, é possível observar a presença de parênquima paliçádico somente abaixo da epiderme da face adaxial. (Fonte: brasilescola). a) Homogêneo. b) Dorsiventral. c) Lacunoso. d) Isolateral. e) Paliçádico. 6. (Brasil Escola, sem data) Alguns insetos sugadores alimentam-se de seiva elaborada pelas plantas, introduzindo seu aparelho bucal nas nervuras das folhas. Para a obtenção dessas substâncias, o tecido vegetal que deve ser atingido pelo aparelho bucal desses insetos é o: a) Parênquima. b) Xilema. c) Colênquima. d) Floema. e) Esclerênquima. 7. (Brasil Escola, sem data) A folha é um órgão vegetal responsável pelo processo de fotossíntese. Entretanto, ela também se relaciona com outras funções das plantas, tais como as trocas gasosas. Essa função é possível graças a estruturas denominadas. a) Cutículas. b) Tricomas. c) Estômatos. d) Acúleos. e) Ceras. 8. Maytenus ilicifolia, conhecida popularmente como espinheira-santa, é uma espécie medicinal cujas folhas constituem a droga vegetal descrita na Farmacopeia Brasileira. Suas características anatômicas permitem distingui-la das suas adulterantes em um controle de qualidade. Maytenus ilicifolia possui folhas com epidermes abaxial e adaxial unisseriadas, com cutícula espessa, meso�lo dorsiventral e feixe vascular concêntrico, envolto por bainha de �bras. Com base na descrição acima, observe a �gura a seguir, da anatomia de amostras de espinheira-santa, identi�cada no rótulo como Maytenus ilicifolia, recebidas por uma indústria de �toterápicos, e marque a opção correta sobre o laudo que o analista de controle de qualidade deve emitir: eab - epiderme abaxial / ead - epiderme adaxial / pl - parênquima lacunoso / pp - parênquima paliçádico. (Fonte: Rocha et al., 2004). a) Amostra aprovada, pois as características da epiderme e do mesofilo correspondem à descrição de Maytenus ilicifolia. b) Amostra aprovada, pois as características de epiderme e mesofilo correspondem à espécie Maytenus rigida, que também é uma espinheira-santa. c) Amostra reprovada, pois as características do mesofilo correspondem à Maytenus ilicifolia, mas as de epiderme não correspondem; logo, trata-se de outra espécie. d) Amostra reprovada, pois o mesofilo da amostra é homogêneo, enquanto o de Maytenus ilicifolia é dorsiventral, logo, é outra espécie. e) Amostra reprovada, pois a epiderme da amostra corresponde à de Maytenus ilicifolia, mas o mesofilo é isobilateral; logo, trata-se de outra espécie. Notas kanz1 kranz, em alemão = coroa. �lamento de tungstênio2 É montado entre dois �os de suporte rígidos que transportam corrente elétrica e será aquecido até a incandescência pelo �uxo de corrente da fonte de baixa voltagem, emitindo elétrons a uma taxa proporcional à temperatura do �lamento. Cibridismo3 É estar on e off o tempo todo. Somos seres ciber-hídridos, ou seja, temos uma constituição biológica, expandida por todas as interfaces tecnológicas que adquirimos, e, cada vez mais, estaremos replicados em todas essas plataformas. Nossos conteúdos, dados pessoais, fotos, vídeos, leituras, tudo o que faz parte da nossa vida está integrado nas interfaces que utilizamos, e não vivemos sem eles. Isso é ser cíbrido.Referências ALMEIDA, M. de; ALMEIDA C. V. de. Coleção Botânica 3. Morfologia da Folha de Plantas com Sementes. USP/ESALQ. Piracicaba. 111p. 2018. Disponível em: https://www.esalq.usp.br/biblioteca/pdf/morfologia_folha.pdf. Acesso em: 2 mar. 2020. ENGEL, I. C.; FERREIRA, R. A.; CECHINEL-FILHO, V.; MEYRE-SILVA, C. Controle de qualidade de drogas vegetais à base de Bauhinia for�cata Link (Fabaceae). Rev. Bras. Farmacognosia 18(2): 258-264, 2008. MENEZES, N. L. de; SILVA, D. da C.; PINNA, G. F. de A. M. de. Folha. In: APPEZZATO-DA-GLORIA, B.; CARMELLO GUERREIRO, S.M. (Eds.). Anatomia Vegetal. Cap. 12, 2. ed. rev. e atual. Viçosa: Ed. UFV, 2006, p. 303-325. MOURA, R. B. Farmacobotânica. Rio de Janeiro: SESES, 2017. RAVEN, P. H.; EICHHORN, S. E.; EVERT, R. F. Biologia vegetal. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. VIDAL, W. N.; VIDAL, M. R. R. Botânica Organogra�a: quadros sinópticos ilustrados de fanerógamas. 4. ed. Revista e ampliada. Viçosa: Editora UFV, 2004, 127 p. Próxima aula Caracterização morfológica da �or e do fruto; Origem e anatomia da �or e do fruto; Diversidade de �ores e frutos; Drogas vegetais javascript:void(0); Drogas vegetais. Explore mais Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. 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