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Economia; Direito e Legislação Defesa Comercial Enap, 2023 Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional Conteudista/s Amanda Athayde (Conteudista, 2023); Anderson Luiz Monteiro Cavalcante (Conteudista, 2023); Daniel Raphanelli (Conteudista, 2023); Luiz Oliveira (Conteudista, 2023); Newton Batista da Costa Junior (Conteudista, 2023); Paulo Destro (Conteudista, 2023); Paulo Henrique Neves (Conteudista, 2023); Vanessa Teixeira (Conteudista, 2023); Zahra Faheina Gadelha (Conteudista, 2023). Sumário Módulo 1: Conhecendo o que é Defesa Comercial .............................................. 9 Unidade 1: Teoria e Histórico da Defesa Comercial ............................................ 9 1.1 Notas Conceituais sobre Defesa Comercial ............................................................ 9 1.2 Histórico Internacional - Acordos na Era GATT e OMC ...................................... 17 1.3 Histórico Nacional sobre Defesa Comercial e Interesse Público: Legislações de 1995 e Modificações Posteriores .................................................................................. 17 1.4. Solução de Controvérsias da OMC ....................................................................... 21 1.5 Estrutura Governamental em Defesa Comercial ................................................ 23 Referências ..................................................................................................................... 24 Unidade 2: Apoio ao Exportador Brasileiro Investigado em Processos de Defesa Comercial no Exterior ............................................................................................ 26 2.1 Estrutura Governamental que Auxilia Exportadores Brasileiros em Investigações de Outros Países ............................................................................................................ 26 Referências ..................................................................................................................... 30 Módulo 2: Investigações Antidumping: Teoria e Prática ..................................31 Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Antidumping..............32 1.1 Legislação Internacional sobre Antidumping (Acordo Antidumping da OMC) 32 1.2 Legislação Nacional sobre Antidumping (Decreto 8.058/2013 e Portarias) ..... 33 Referências ..................................................................................................................... 36 Unidade 2: Aspectos Conceituais Gerais em Investigações Antidumping ......38 2.1 Produto Objeto e Produto Similar ........................................................................ 38 2.2 Conceito de Indústria Doméstica .......................................................................... 42 2.3 Análise das Importações ........................................................................................ 44 Referências ..................................................................................................................... 48 Unidade 3: Aspectos Conceituais Específicos sobre Dumping em Investigações Antidumping ........................................................................................................... 49 3.1 Valor Normal ............................................................................................................ 49 3.2 Preço de Exportação ............................................................................................... 50 3.3 Margem de Dumping .............................................................................................. 52 Referências ..................................................................................................................... 55 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 4: Aspectos Conceituais Específicos sobre Dano em Investigações Antidumping ........................................................................................................... 56 4.1 Conceito de Dano para Fins de Defesa Comercial ............................................... 56 4.2 Indicadores da Indústria Doméstica ..................................................................... 57 Referências ..................................................................................................................... 61 Unidade 5: Aspectos Conceituais Específicos sobre Causalidade em Investigações Antidumping ....................................................................................................................62 5.1 Impacto das Importações Objeto de Dumping na Indústria Doméstica: Nexo de Causalidade .................................................................................................................... 62 5.2 Outros Fatores de Dano .......................................................................................... 64 Referências ..................................................................................................................... 66 Unidade 6: Aspectos Conceituais Específicos sobre a Aplicação das Medidas Antidumping ........................................................................................................... 67 6.1 Medida Antidumping (Direitos Antidumping e Compromissos de Preço) ....... 67 6.2 Menor Direito (Lesser Duty) ..................................................................................... 68 Referências ..................................................................................................................... 71 Unidade 7: Aspectos Distintivos entre Investigações Originais e Revisões de Final de Período ..................................................................................................... 72 7.1 Aspectos Distintivos das Revisões de Final de Período ...................................... 72 7.2 Probabilidade de Continuação ou Retomada do Dumping ............................... 73 7.3 Probabilidade de Continuação ou Retomada do Dano ...................................... 75 7.4 Prorrogação ou não da Medida Antidumping ..................................................... 77 Referências ..................................................................................................................... 78 Módulo 3: Investigações de Subsídios e Medidas Compensatórias: Teoria e Prática ............................................................................................................... 79 Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias ..................................................................................................... 80 1.1 Legislação Internacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias) ............................................................ 80 1.2 Legislação Nacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Decreto 10.839/2021 e Portaria) ................................................................................................. 81 Referências ..................................................................................................................... 82 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5 Unidade 2: Aspectos Conceituais Específicos sobre Investigações de Subsídios .83 2.1 Conceito de Subsídios ............................................................................................ 83 2.2 Caracterização da Contribuição Financeira .......................................................... 85 2.3 Caracterização de Sustentação de Rendas ou Preços ......................................... 86 2.4 Formas de Concessão de Contribuições Financeiras ......................................... 87 2.5 Conceito de Órgão Público e de Confiança e Instrução a Entidades Privadas88 2.6 Caracterização do Benefício e o Conceito de Benchmark ................................... 90 2.7 Conceito de Especificidade .................................................................................... 91 2.8 Subsídios a Montante e Subsídios Indiretos ....................................................... 93 2.9 Conceito de Subsídios Recorrentes e Não Recorrentes .................................... 95 2.10 Apuração do Benefício – o Numerador e o Denominador do Cálculo .......... 96 Referências ..................................................................................................................... 99 Unidade 3: Aspectos Conceituais Específicos sobre a Aplicação das Medidas Compensatórias ................................................................................................... 100 3.1 Dos Direitos Compensatórios e dos Compromissos ........................................ 100 3.2 A Aplicação da Regra do Menor Direito (Lesser Duty) em CVD ....................... 102 3.3 Double Remedy (Duplo Remédio) ......................................................................... 103 3.4 Tipos de Revisão de Direitos Aplicados .............................................................. 104 Referências ................................................................................................................... 107 Unidade 4: Aspectos Específicos de Temas Atuais e dos Resultados de Disputas da OMC .................................................................................................................. 108 4.1 Subsídios Transnacionais ..................................................................................... 108 4.2 Discussões Trilaterais sobre Subsídios (UE, EUA e Japão) ................................ 109 Referências ................................................................................................................... 112 Módulo 4: Investigações de Salvaguardas: Teoria e Prática ...........................114 Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Salvaguardas ...........114 1.1 Legislação Internacional sobre Salvaguardas ................................................... 114 1.2 Legislação Nacional sobre Salvaguardas (Decreto 1.488/1995) ...................... 117 Referências ................................................................................................................... 118 Unidade 2: Condições para Aplicação de Salvaguarda Global ........................119 2.1 Das Condições de Aplicação das Medidas de Salvaguarda Global ................. 119 2.2 Evolução Não Prevista das Circunstâncias (Unforeseen Developments) ........... 121 2.3 Prejuízo Grave ou Ameaça de sua Ocorrência ................................................... 123 2.4 Causalidade ............................................................................................................ 124 Referências ................................................................................................................... 126 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 3: Aspectos Procedimentais sobre Salvaguardas Globais ...............127 3.1 Aspectos Procedimentais Mínimos Durante as Investigações de Salvaguardas Globais ...................................................................................................................... 127 3.2 Paralelismo entre Escopo da Investigação e da Aplicação da Medida de Salvaguarda Global ...................................................................................................... 128 3.3 Formas de Aplicação da Salvaguarda Global e Ajuste da Indústria Doméstica ....129 3.4 Limites Temporais de Vigência de uma Salvaguarda Global e Liberalização Progressiva ................................................................................................................... 131 3.5 Desdobramentos da Aplicação da Salvaguarda Global: Compensações e Retaliações (Suspensão de Concessões) ................................................................... 133 Referências ................................................................................................................... 135 Unidade 4: Especificidades sobre Salvaguardas Preferenciais .......................136 4.1 Salvaguardas em Acordos Preferenciais de Comércio ...................................... 136 4.2 Disposições sobre Salvaguardas Globais em Acordos Preferenciais de Comércio .137 4.3 Disposições sobre Salvaguardas Preferenciais em Acordos Preferenciais de Comércio ........................................................................................................................ 138 Referências ................................................................................................................... 140 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 7 Apresentação e Boas-vindas Olá! Seja muito bem-vindo(a) ao curso de Defesa Comercial! O Departamento de Defesa Comercial (DECOM) da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) oferecem esse curso a você com muita satisfação! Considerando a relevância econômica e jurídica dos temas de Defesa Comercial, identificou-se a necessidade da promoção de uma ação efetiva para a institucionalização da produção de conhecimento sistêmico e o aperfeiçoamento técnico daqueles interessados em atuar no campo da Defesa Comercial e Interesse Público. Esse esforço é necessário porque, apesar da crescente importância da atividade relacionada a Defesa Comercial e Interesse Público, bem como do largo arcabouço teórico e prático adquiridos ao longo da trajetória do DECOM/SECEX/SECINT/ME em seus anos de atuação, percebe-se ainda a necessidade de disseminar informações qualitativas sobre a atuação da autoridade investigadora, especialmente na figura de seus agentes públicos. Esses profissionais que atuam diretamente com a temática contribuíram ativamente para a construção deste material educativo, preparando novos profissionais para a atuação na área. Com isto é possível ressaltar que o aprendizado aqui proposto se baseia, também, na experiência adquirida de forma prática por estes agentes, no exercício de suas atividades enquanto investigadores, partindo o conteúdo aqui proposto da intenção de encontrar um pareamento adequado com a realidade da autoridade investigadora. O presente curso visa contribuir de forma enriquecedora àqueles interessados em atuar ou compreender de forma extensiva os mecanismos nacionais e internacionais, tanto práticos quanto teóricos, envolvidos no processo de investigação em Defesa Comercial e em Interesse Público. Para melhor aproveitamento de seus estudos, esta capacitação foi organizada em cinco módulos, com tópicos e subtópicos. Conhecendo o que é Defesa Comercial No primeiro módulo, Conhecendo o que é Defesa Comercial você será apresentado aos principais conceitos sobre o tema, ao histórico internacional e nacional da matéria, às noções preliminares sobre o Sistema de Solução de Controvérsias (SSC) da Organização Mundial do Comércio (OMC), à estrutura governamental de tomada de decisões sobre Defesa Comercial e à estrutura governamental de apoio ao exportador brasileiro investigado. 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Investigações Antidumping: Teoria e Prática No segundo módulo, Investigações Antidumping: Teoria e Prática, você identificará a legislação internacional e nacional sobre antidumping; conhecerá de forma introdutória os principais conceitos sobre investigações nessa área, além de alguns conceitos específicos sobre dumping, dano e nexo de causalidade; conhecerá os resultados possíveis de uma investigação e distinguirá as peculiaridades de investigações originais e revisões de final de período. Investigações de Subsídios e Medidas Compensatórias: Teoriae Prática No terceiro módulo, Investigações de Subsídios e Medidas Compensatórias: Teoria e Prática, você identificará a legislação internacional e nacional sobre subsídios e medidas compensatórias; conhecerá as bases conceituais relativas a investigações de subsídios e alguns conceitos específicos sobre os resultados de investigação; aprenderá sobre casos emblemáticos da jurisprudência da OMC; e se atualizará de temas atuais sobre subsídios e medidas compensatórias. Investigações de Salvaguardas: Teoria e Prática No quarto módulo, Investigações de Salvaguardas: Teoria e Prática, você identificará a legislação internacional e nacional sobre salvaguardas globais; conhecerá as bases materiais que as fundamentam; suas bases procedimentais; e, por fim, aprenderá sobre salvaguardas preferenciais. Desejamos a você uma excelente jornada de construção de conhecimento. Bons estudos! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 9 Módulo Conhecendo o que é Defesa Comercial 1 Todos nós de algum modo sabemos o que significa a palavra “defesa”, concorda? Alguns a compreendem de maneira mais profunda e técnica, enquanto outros dirão objetivamente que defender é se proteger de algo ou de alguém! Agora, pensando nesta palavra voltada às questões comerciais, o que ela representa? Este é o modulo introdutório do curso e tem como objetivo apresentar conceitos básicos para o início do trabalho em Defesa Comercial. Serão apresentados os históricos internacional e nacional da Defesa Comercial, as estruturas normativas em torno da temática e noções preliminares sobre o Sistema de Solução de Controvérsias (SSC) da Organização Mundial do Comércio (OMC). Além disso, serão listados os principais atores e as estruturas governamentais, no âmbito nacional, envolvidos no processo brasileiro de decisão sobre Defesa Comercial e Interesse Público. Por fim, a última temática desta etapa de estudos será a estrutura governamental de apoio ao exportador brasileiro investigado em processos de Defesa Comercial conduzidos por outros países. Vamos começar!? Unidade 1: Teoria e Histórico da Defesa Comercial Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você deve ser capaz de reconhecer os principais conceitos sobre Defesa Comercial e seu histórico internacional e nacional. 1.1 Notas Conceituais sobre Defesa Comercial 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Bem, você provavelmente já sabe que no comércio globalizado as condições de competitividade são acirradas. Isso pode ser considerado parte natural da economia de mercado que busca eficiência, entretanto, não são raras as vezes em que são adotadas, pelos agentes econômicos nacionais e estrangeiros, práticas desleais de comércio. Assim, sempre que comprovado que o comportamento de empresas ou de governos está distorcendo o comércio ou, ainda, que estejam ocorrendo surtos de importações decorrentes de situações imprevistas, a legislação multilateral adotada pelos membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) autoriza a utilização de determinadas medidas que tenham o efeito de compensar tais situações, desde que esteja comprovada a sua ligação com o dano ou o prejuízo à indústria doméstica do país importador. Para o início de sua aprendizagem em Defesa Comercial, alguns conceitos mais amplos e algumas definições precisam ser esclarecidas previamente, como você verá a seguir. Analise cada um deles com muita atenção, pois nortearão toda a sua aprendizagem, combinado? Para começar, veja o conceito de Defesa Comercial: Fonte: Freepik (2023). Defesa Comercial: Expressão que abarca os instrumentos que visam a resguardar a indústria nacional de práticas desleais de comércio (dumping e subsídios) com fins de assegurar uma competição justa entre produtores domésticos e estrangeiros, bem como resguardá- la em caso de surto de importações decorrente de evolução imprevista das circunstâncias (salvaguardas). Assim, a Defesa Comercial está baseada em três instrumentos distintos: direitos antidumping, medidas compensatórias e medidas de salvaguarda. A aplicação destes está fundamentada em acordos específicos da Organização Mundial do Comércio (OMC). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 11 Agora analise alguns conceitos de Defesa Comercial dando sequência ao que você acabou de aprender. Dumping O dumping é a prática de discriminação de preços em mercados diferentes. Em outras palavras e de forma simplificada, é a prática em que uma empresa exporta um produto a um preço inferior ao preço que pratica no mercado interno, ou seja, dentro do país em que está localizada. Veja este exemplo de dumping. Produtora brasileira de queijos denominada “Queijão” exportou nos últimos meses do ano 1.000 (mil) toneladas de queijo para Israel, cobrando US$ 1.200 pela tonelada de queijo. Entretanto, a mesma tonelada de queijo tem o preço de US$ 1.500 no mercado brasileiro. Após investigação que assegura comparação justa do produto vendido no mercado interno (produto similar doméstico) com o produto exportado (produto objeto da investigação), resta caracterizada a prática de dumping. Fonte:Freepik (2023). Margem de Dumping Diferença entre o valor normal e o preço de exportação praticado pela empresa investigada nas suas vendas ao Brasil. (MARGEM DE DUMPING = VALOR NORMAL - PREÇO DE EXPORTAÇÃO). Analise um exemplo hipotético. A empresa Vandelay Industries, localizada no Canadá, vende um tubo de aço no mercado canadense por US$ 100 e o exporta para o Brasil em condições comparáveis de comercialização (volume, estágio de comercialização, prazo de pagamento) por US$ 80. Nessas condições, considera-se que há prática de dumping e que a margem de dumping corresponde a US$ 20, pois a empresa está vendendo o mesmo produto para o Brasil por um valor 20 dólares mais barato. Fonte:Freepik (2023). 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Medidas Antidumping Caso a indústria doméstica de um país experimente dano em decorrência de importações de produtos realizadas a preço de dumping, podem ser aplicadas medidas antidumping que visam neutralizar os seus efeitos. Compreenda melhor este instrumento analisando situação hipotética. Suponhamos que o conjunto das indústrias brasileiras produtoras de aço está tendo prejuízos (caracterizando o dano) em decorrência de importações de aço originárias da Moldávia. Além disso, o aço é exportado daquele país para o Brasil por um preço abaixo do preço praticado para o mesmo tipo de aço em suas vendas internas na Moldávia. Fonte:Freepik (2023). Neste caso, podem ser aplicadas medidas antidumping, ou seja, será cobrada uma sobretaxa quando da internalização do aço da Moldávia no Brasil, calculada, em regra, para cada produtora/exportadora do país (direito antidumping), que visa neutralizar os efeitos do dumping (a exportação a preço abaixo do preço de venda para consumo interno na Moldávia). Estas medidas são aplicadas como resultado de investigação do Departamento de Defesa Comercial (DECOM) em que deverão ser caracterizados o dano, o dumping e o nexo causal entre ambos. Medidas Compensatórias As medidas compensatórias têm como objetivo compensar subsídio acionável concedido, direta ou indiretamente, no país exportador, para a produção, exportação ou transporte de qualquer produto cuja exportação cause dano à indústria doméstica do país importador. Quer ver um exemplo? Se o governo do país X, para incentivar suas empresas a exportarem mais, reembolsa a empresa exportadora do país X o montante de US$ 10,00 para cada par de tênis que ela exportar para o Brasil, fica configurada a concessão de subsídios acionáveis. Ainda, caso reste demonstrado que essas exportações de tênis do país X estão causando dano à indústria brasileira fabricante de tênis, então a autoridade investigadora poderá, após investigação minuciosa, recomendar a imposição de medida compensatória (sobretaxa)no valor de US$ 10,00 por par de tênis importado do país X. Fonte:Freepik (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 13 Subsídio Acionável Considera-se, de forma simplificada, que existe subsídio quando o produtor ou exportador recebe alguma ajuda financeira ou econômica do Estado (por exemplo: doação, empréstimo ou perdão de tributos devidos), que o beneficie na colocação de seus produtos no mercado externo, em condições que não teria não fosse o subsídio. Caso esse subsídio, oferecido diretamente pelo governo ou por meio de uma empresa privada direcionada pelo governo, seja de acesso limitado a uma empresa ou grupo de empresas/indústrias, poderá ser considerado acionável e, portanto, sujeito a medida compensatória. Fonte:Freepik (2023). Analise este exemplo para ajudar em sua compreensão acerca do conceito de subsídio. Ana e seu João são apicultores há bastante tempo, muito renomados no estado do Pará, e decidiram abrir a empresa Doce Mel. O Governo do Pará, objetivando estimular a produção de mel na região, importante fonte de renda para o estado, passou a pagar R$ 5,00 reais para cada litro de mel produzido, além de isentar o ICMS dessas operações. Dessa forma, a Doce Mel pôde aumentar sua produção e exportar seu produto a um preço mais barato do que normalmente venderia, melhorando a sua competitividade. Assim, considera-se que a empresa Doce Mel está recebendo um subsídio governamental. Os benefícios concedidos pelo Estado (R$5,00 por litro de mel + isenção ICMS) caracterizam-se como subsídios. Ademais, como esses privilégios ficaram restritos apenas aos produtores de mel, considera-se que o subsídio é específico, logo, acionável e passível de medida compensatória. 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Dano ou Prejuízo Grave Dano para fins de investigação de dumping ou subsídio: Dano material ou ameaça de dano material à indústria doméstica; atraso material na implantação da indústria doméstica. Dano para fins de investigação de salvaguarda: Prejuízo grave ou ameaça de prejuízo grave. Por prejuízo grave entende-se a deterioração geral significativa da situação de uma determinada indústria doméstica e por ameaça de prejuízo grave, situação de prejuízo grave claramente iminente. Nexo Causal: Conexão lógica que determina se o dano ou prejuízo grave enfrentado pela indústria doméstica pode ser atribuído às importações investigadas. Fonte:Freepik (2023). Medidas de Salvaguarda As medidas de salvaguarda têm como objetivo oferecer, temporariamente, proteção à indústria doméstica que esteja sofrendo prejuízo grave ou ameaça de prejuízo grave decorrente do aumento abrupto de importações, resultado de evolução imprevista das circunstâncias, com o intuito de que durante o período de vigência de tais medidas, a indústria doméstica se ajuste e possa competir com tais importações. Por exemplo, caso haja um surto de importações de determinado produto ao Brasil, o DECOM, após minuciosa investigação, poderá recomendar a aplicação de medida de salvaguarda, caso seja demonstrado que este surto causou prejuízo grave à indústria brasileira fabricante de produto similar. A medida de salvaguarda normalmente assumirá a forma de uma sobretaxa cobrada na importação, de restrições quantitativas às importações (quotas) ou da combinação de ambas (as chamadas quotas tarifárias). Você verá essas formas de aplicação com maiores detalhes no módulo sobre salvaguardas. Fonte:Freepik (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 15 Autoridade Investigadora Autoridade responsável pelo processo de investigação de Defesa Comercial. No Brasil, trata-se do Departamento de Defesa Comercial (DECOM) da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Investigação: Conjunto de ações tomadas pela autoridade investigadora a fim de confirmar ou descartar a aplicabilidade de medidas de Defesa Comercial em função de determinada prática desleal de comércio ou de surto de importações. Peticionária: Parte interessada que requer à autoridade investigadora, por meio de petição que contenha as informações necessárias, investigação no âmbito da Defesa Comercial – ou seja, de ocorrência de dumping, subsídios ou a fim de propor salvaguardas. Fonte:Freepik (2023). Indústria Doméstica Em investigações de Defesa Comercial, trata-se do conjunto de empresas responsável pela totalidade da produção nacional do produto similar ao investigado ou por parcela significativa da produção nacional. Por exemplo, na investigação sobre vidros automotivos, a indústria doméstica foi definida como sendo formada pelas empresas Pilkington, Saint-Gobain e AGC. Produto Objeto da Investigação: É aquele exportado para o Brasil, originário dos países nos quais se localizam os produtores ou exportadores investigados. Fonte:Freepik (2023). Produto Similar: O produto idêntico, igual sob todos os aspectos ao produto objeto da investigação, ou na sua ausência, outro produto que, embora não exatamente igual sob todos os aspectos, apresente características muito próximas às do produto objeto da investigação. Pode se referir ao produto comercializado no mercado interno do país investigado, nas exportações do país investigado para terceiros países, produzido e vendido pelos produtores nacionais no mercado interno do país que investiga; e importado das demais origens pelo país investigador. 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Elementos Fundamentais dos Instrumentos de Defesa Comercial. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). É muito importante realizar uma análise do histórico sobre Defesa Comercial, haja vista que os acordos que hoje em dia regulam a questão foram fruto de amplos debates entre os membros da OMC e do chamado GATT (sigla em inglês para Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio), como se verá a seguir. Para maiores informações sobre os conceitos de Defesa Comercial, recomenda-se: - A Seção 2 do Guia de Apoio ao Exportador Brasileiro Investigado em Processos de Defesa Comercial no Exterior, disponível aqui. Agora preste atenção! Direitos antidumping, medidas compensatórias e medidas de salvaguarda estão fundamentadas em acordos específicos da Organização Mundial do Comércio (OMC). E para cada uma das três práticas consideradas nos acordos, há um remédio adequado para sua reparação. Acompanhe! https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-externo-apoio-exportador Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 17 Acompanhe com atenção, na linha do tempo a seguir, um breve histórico nacional sobre Defesa Comercial: Os acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC) foram celebrados com o objetivo de diminuir as barreiras comerciais e assim promover o comércio internacional. As regras constitutivas do sistema multilateral de comércio se baseiam nos princípios de não discriminação e de transparência, com a imposição de limites sobre a gestão do comércio exterior pelos membros. Atualmente a OMC tem mais de 160 membros, sendo uma organização de ampla cobertura mundial. Os acordos preveem diversos mecanismos por meio dos quais os membros podem, temporariamente ou de forma permanente, desviar-se dos compromissos assumidos, sendo a Defesa Comercial uma “válvula de escape” que permitiu a liberalização ampla do comércio entre os membros. Para compreender a história do sistema multilateral de comércio, recomenda-se que você assista ao vídeo institucional da OMC sobre o tema, disponível em inglês aqui. 1.2 Histórico Internacional - Acordos na Era GATT e OMC 1.3 Histórico Nacional sobre Defesa Comercial e Interesse Público: Legislações de 1995 e Modificações Posteriores 1979 O Brasil tornou-se signatário dos Acordos Antidumping e de Subsídiose Medidas Compensatórias do GATT em abril de 1979, ao final da Rodada Tóquio, mas esses acordos só se tornaram parte integrante do arcabouço jurídico nacional em 19871. A implementação desses Códigos no Brasil foi retardada devido ao fato de estarem em vigor à época, no país, outros mecanismos de proteção 1_ Esses acordos só se tornaram parte integrante do arcabouço jurídico nacional em 1987, respectivamente pelos Decretos nº 93.941, de 19 de janeiro de 1987, publicado no Diário Oficial da União (DOU) de 02 de fevereiro de 1987, e nº 93.962, de 22 de janeiro de 1987, publicado no DOU de 23 de janeiro de 1987, aprovados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 20, em 5 de dezembro de 1986. https://www.youtube.com/watch?v=KRmUPHT2Vyo 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1987 1990 comercial, tais como os regimes especiais de importação e severos controles administrativos de importação. Com isso a produção doméstica se encontrava relativamente imune às práticas desleais de comércio. Ocorre que esses mecanismos de proteção comercial utilizados pelo Brasil à época, bem como os procedimentos administrativos a eles pertinentes, eram conflitantes com as normas do GATT e seu crescente uso se tornou fonte de desgaste permanente para o Brasil na sua atuação em foros internacionais. Em 1987, com a aprovação dos Códigos Antidumping e de Subsídios e Medidas Compensatórias do GATT o país passou a dispor de instrumentos de política comercial que a experiência internacional indicava serem adequados para a proteção à indústria doméstica contra as práticas desleais de comércio. Foi então determinado que caberia à antiga Comissão de Política Aduaneira (CPA), do Ministério da Fazenda, a condução das investigações e a aplicação dos direitos antidumping e medidas compensatórias. Apesar disso o recurso a esses mecanismos por parte da indústria brasileira tornou-se mais efetivo apenas a partir do início dos anos 90, com a abertura comercial e a extinção dos controles administrativos, a eliminação de diversos regimes especiais de importação e a adoção de um cronograma de desgravação tarifária. Em 1990, no início do governo Collor de Mello, efetuou-se uma ampla reforma da estrutura da Administração Pública Federal, tendo a gestão governamental do comércio exterior sido transferida para o Departamento de Comércio Exterior (DECEX), subordinado à Secretaria Nacional de Economia (SNE) do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento (MEFP). 1992 No governo Itamar Franco, por meio da Lei nº 8.490, de 19 de novembro de 1992 (BRASIL, 1992), foi criado o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo (MICT), ao qual estaria subordinada a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) que assumiu as funções anteriormente atribuídas ao DECEX/SNE/MEFP. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19 1994 1995 2001 Em 1994, o Congresso Brasileiro aprovou a Ata Final que Incorpora os Resultados da Rodada Uruguai de Negociações Multilaterais do GATT, incluindo os novos Acordos Antidumping, de Subsídios e Medidas Compensatórias e de Salvaguardas, bem como o Acordo de Marraquexe que criou a Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 1995, já no governo Fernando Henrique, com o objetivo de aumentar a capacitação técnica e operacional para a atuação governamental na aplicação das legislações antidumping, de subsídios e medidas compensatórias e de salvaguardas, foi criado, no âmbito da SECEX, o Departamento de Defesa Comercial (DECOM), como órgão especializado para a condução das investigações dessa espécie. Naquele mesmo ano foi aprovada a União Aduaneira no âmbito do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e adotada uma Tarifa Externa Comum (TEC) pelos 4 países que o integram. A competência para aplicação de medidas de Defesa Comercial, que inicialmente era comum aos Ministros da Indústria, Comércio e Turismo (posteriormente Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e da Fazenda, foi transferida, a partir de 2001, para a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). Dessa forma, com a promulgação da Lei 9.019/95, e com as alterações introduzidas pela Medida Provisória 2.158-35, de 24 de agosto de 2001, e pelo Decreto nº 4.732, de 10 de junho de 2003, ficaram estabelecidas as competências da CAMEX em termos de medidas de Defesa Comercial. 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2023 Ao longo dos anos, a estrutura administrativa e as legislações foram sendo atualizadas, de modo que em 2023 a legislação em vigor sobre Defesa Comercial e interesse público no Brasil é a seguinte: Legislação da Defesa Comercial e Interesse Público. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 21 Solução de Controvérsias da OMC. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Sobre a legislação em vigor, bem como sua evolução ao longo dos anos, recomenda-se a leitura do #SDCOMMecum aqui. 1.4. Solução de Controvérsias da OMC Para dar início a este assunto, analise a imagem abaixo e reflita um pouco sobre o que você vê! Analisou bem a imagem acima? O que ela te diz? Assim como nessa cena inusitada em que é possível perceber um problema comercial entre os envolvidos que precisa de uma resolução para que um deles não fique no prejuízo, alguns membros também precisam de soluções diplomáticas em seus conflitos comerciais. Por isso o Sistema de solução de controvérsias da OMC, de jurisdição exclusiva¹ e natureza compulsória, tem como objetivos e princípios: • Prover segurança e previsibilidade ao sistema de comércio multilateral, por meio de um arcabouço de normas que permita resolver disputas de maneira rápida, eficiente e objetiva; https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/copy2_of_SDCOMMECUM_VERSOFINAL.pdf 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • Preservar direitos e obrigações dos Estados-membros, ao prover um fórum que dê vazão às controvérsias entre membros e possibilitar, em último caso, compensações e contramedidas; • Interpretar regras e obrigações, padronizando o entendimento e impedir a ação unilateral dos membros que poderia levar a infindáveis retaliações. Esta evolução do sistema de solução de controvérsias ocorreu devido à preocupação dos negociadores da Rodada Uruguai, que queriam que este mecanismo tivesse maior efetividade em relação ao existente no âmbito do GATT, quando muitos países se sentiam desestimulados a se dedicar a uma ação dada a grande probabilidade de que esta fosse bloqueada pela outra parte. Segundo o renomado diplomata Victor Luiz do Prado, a eficácia do mecanismo previsto no Entendimento sobre Solução de Controvérsias – ESC (Dispute Settlement Understanding – DSU) se baseia em três características (PRADO, 2005). 1 Abrangência, termo que tem duplo significado dado que todos os acordos da OMC estão cobertos pelo mecanismo e que o ESC é o único mecanismo aceito para solução de controvérsias na OMC. 2 Exequibilidade, mais bem conhecida pelo termo em inglês enforcement, advinda da previsão que, em caso de descumprimento de decisão do Órgão de Solução de Controvérsias, o membro demandante poderá solicitar autorização para retaliar. 3 Automaticidade, consequência da regra do consenso negativo. Sob o consenso negativo, uma decisão só não seria aplicada caso todos os países- membros assim votassem. Como o país ganhador certamente vota a favor da aplicação da decisão, tal mudança dotou as decisões do Órgão de Solução de Controvérsias – OSS (Dispute Settlement Body – DSB) de uma aplicabilidade quase automática, equalizou o poder entre os países e terminou por incentivar o uso do sistema. Para ter uma visão geral do sistema de solução de controvérsias da OMC, recomenda-se o vídeo institucional da OMC, disponível em inglês aqui. https://www.youtube.com/watch?v=Mg-ZVIk0x-Q EnapFundação Escola Nacional de Administração Pública 23 Que tal ter uma visão atual sobre a chamada “paralisia” do órgão de solução de controvérsias da OMC? Ouça aqui o podcast do Women Inside Trade (WIT). 1.5 Estrutura Governamental em Defesa Comercial Nos termos do Decreto 11.340 de 1º de janeiro de 2023, que estruturou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e do Decreto nº10.044/2019 que instituiu a CAMEX, o processo de aplicação de uma medida de Defesa Comercial envolve basicamente as autoridades principais, conforme detalhado na imagem a seguir. Principais autoridades em Defesa Comercial no Brasil. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Até a próxima! https://anchor.fm/womeninsidetrade/episodes/WITcast---WTO-Dispute-Settlement---a-Holistic-Approach-Geneve-Trade-Week-Debate-ekntkd 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Decreto nº 11.427, de 2 de março de 2023. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e remaneja e transforma cargos em comissão e funções de confiança. Brasília, DF: Presidência da República, 2023a.Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023- 2026/2023/Decreto/D11427.htm#art6. Acesso em: 02 mai. 2023. BRASIL. Decreto nº 11.428, de 2 de março de 2023. Dispõe sobre a Câmara de Comércio Exterior - CAMEX. Brasília, DF: Presidência da República, 2023b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11428. htm. Acesso em: 22 jun. 2023. BRASIL. Lei nº 8.490, de 19 de novembro de 1992. Dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l8490.htm. Acesso em: 26 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico]. 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Secretaria de Comércio Exterior. Disponível em: https://www.gov.br/ produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior. Acesso em: 4 mai. 2023. FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2022. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. IRWIN, Douglas; MAVROIDIS, Petros C.; SYKES, Alan O. The Genesis of the GATT. Nova Iorque: Oxford University Press, 2006, p. 176. MATSUSHITA, Mitsuo; MAVROIDIS, Petros C.; SCHOENBAUM, Thomas J. The World Trade Organization: Law, Practice, and Policy. 2a Edição. Nova Iorque: Cambridge University Press, 2008, p. 9. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. A Handbook on the WTO Dispute Settlement System. Cambridge University Press, 2004, p. 2-9. Referências https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Decreto/D11427.htm#art6 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Decreto/D11427.htm#art6 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11428.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11428.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8490.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8490.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25 PRADO, Victor Luiz do. Mecanismo de Solução de Controvérsias: Fonte de Poder e de Problemas na OMC. In: THORSTENSEN, Vera; JANK, Marcos (Orgs.). O Brasil e os Grandes Temas do Comércio Internacional. São Paulo: Aduaneiras, 2005, pág. 265-266. STORYSET. [Banco de Ilustrações]. Freepik, Málaga, 2023. Disponível em: https:// www.freepik.com/. Acesso em: 21 mar. 2022. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Agreement on Implementation of Article VI of the General Agreement on Tariffs and Trade 1994. 2023a. Disponível em: https:// www.wto.org/english/docs_e/legal_e/19-adp_01_e.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Agreement on Safeguards. 2023b. Disponível em: https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/25-safeg_e.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Agreement on Subsidies and Countervailing Measures. 2023c. Disponível em: https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/24- scm_01_e.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Anti-dumping, subsidies, safeguards: contingencies, etc. 2023d. Disponível em: https://www.wto.org/english/thewto_e/ whatis_e/tif_e/agrm8_e.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. https://www.freepik.com/ https://www.freepik.com/ https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/19-adp_01_e.htm https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/19-adp_01_e.htm https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/24-scm_01_e.htm https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/24-scm_01_e.htm https://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/tif_e/agrm8_e.htm https://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/tif_e/agrm8_e.htm 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 2: Apoio ao Exportador Brasileiro Investigado em Processos de Defesa Comercial no Exterior Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você deve ser capaz de identificar a estrutura governamental de apoio ao exportador brasileiro investigado. 2.1 Estrutura Governamental que Auxilia Exportadores Brasileiros em Investigações de Outros Países No Brasil, o acompanhamento das investigações de Defesa Comercial iniciadas por outros países contra produtores brasileiros é realizado por três principais atores. Conheça-os com detalhes a seguir. O Departamento de Defesa Comercial (DECOM), por meio da Coordenação-Geral de Antidumping, Salvaguardas e Apoio ao Exportador (CGSA). O DECOM é a autoridade investigadora brasileira e também possui atribuição legal, conforme o inciso XII do art. 96 do Anexo I ao Decreto nº 9.745, de 2019, para acompanhar as investigações de Defesa Comercial iniciadas por terceiros países contra as exportações brasileiras e prestar assistência à defesa do exportador, em articulação com outros órgãos e entidades públicas e privadas (BRASIL, 2023). A ação do DECOM na defesa do exportador brasileiro investigado no exterior é eminentemente técnica e inclui, dentre outras atividades, a elaboração de manifestações a respeito das decisões de autoridades de Defesa Comercial estrangeiras. A Divisão de Defesa Comercial e Salvaguardas (DDF), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), sediada em Brasília. A DDF/MRE possui competência, nos termos da Portaria MRE nº 212, de 30 de abril de 2008, de acompanhar investigações em matéria de Defesa Comercial e salvaguardas iniciadas por autoridades estrangeiras contra exportadores brasileiros e de prestar o apoio necessário às empresas exportadoras brasileiras, em conjunto com a autoridade investigadora brasileira. Além disso, também cabe ao MRE,por meio da Divisão de Contenciosos Comerciais (DCCOM), atuar quando há suspeita de violação de regras no âmbito dos Acordos da OMC e uma solução negociada não é encontrada. Nesses casos a DCCOM detém a prerrogativa de conduzir contenciosos no Sistema de Solução Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27 de Controvérsias da OMC, com a colaboração técnica do DECOM. Ademais, a DDF/MRE centraliza e compartilha as comunicações com as embaixadas brasileiras que estiverem acompanhando casos de Defesa Comercial. As embaixadas e outras missões diplomáticas brasileiras no exterior, também subordinadas ao MRE, localizadas nos países das autoridades investigadoras estrangeiras. As embaixadas brasileiras também atuam no monitoramento das investigações, recebem e retransmitem as comunicações oficiais das autoridades, participam das audiências públicas representando o Governo Brasileiro e fazem gestões diretas junto às autoridades de Defesa Comercial estrangeiras. É de fundamental importância o papel realizado pelas embaixadas no sentido de acompanhar as atuações das autoridades de Defesa Comercial estrangeiras e de notificar a DDF/MRE e o DECOM com a máxima brevidade. Isso porque, tendo em vista os prazos das investigações previstos nos acordos e nas regulamentações locais de cada autoridade investigadora, a comunicação fluida e rápida entre os atores envolvidos auxilia para que as exportações brasileiras não sejam prejudicadas pela perda de prazos e ritos processuais. Observe no quadro um breve resumo do que você acabou de estudar acerca da estrutura governamental que auxilia exportadores brasileiros em investigações de outros países. Principais órgãos de apoio ao exportador brasileiro investigado. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A coordenação entre DECOM, DDF/MRE e embaixadas oferece suporte aos exportadores brasileiros potencialmente envolvidos em investigações de dumping, de subsídios e de salvaguardas realizadas por autoridade investigadora de Defesa Comercial estrangeira ou que se encontram sujeitos a medidas de Defesa Comercial decorrentes dessas investigações. Dentre as principais atividades de suporte desses entes, encontram-se as seguintes: • O compartilhamento imediato, por parte da DDF/MRE para o DECOM, das informações recebidas das embaixadas do Brasil no exterior acerca das investigações em curso contra exportações brasileiras. • A acreditação, pelas embaixadas brasileiras no exterior, do Governo Brasileiro como parte interessada nos processos de investigação contra exportações brasileiras. • A identificação, pelo DECOM, das empresas exportadoras brasileiras potencialmente afetadas pela investigação. • O contato, por parte do DECOM, com as empresas exportadoras brasileiras potencialmente afetadas pela investigação (por carta, e-mail e/ou ligação), com a notificação inicial a respeito dos prazos e das principais fases do processo de investigação iniciado, bem como a prestação de esclarecimentos acerca das regras multilaterais aplicáveis à investigação. • A sensibilização, pelo DECOM, das empresas exportadoras brasileiras sobre a importância de participarem ativamente dos processos em que são partes interessadas, submetendo respostas aos questionários e enviando as demais informações solicitadas pelo governo do país importador. • A disponibilização, pelo DECOM, de agenda para audiências com as partes interessadas que queiram esclarecer dúvidas. • A elaboração pelo DECOM de propostas de manifestações técnicas, que após revisão pela DDF/MRE, são submetidas documentalmente à autoridade investigadora de Defesa Comercial estrangeira, em nome do Governo Brasileiro. As manifestações se restringem a aspectos relacionados à legalidade e ao cumprimento de acordos multilaterais. • A participação presencial, pelo DECOM e/ou pela DDF/MRE e/ou pela embaixada, em audiências das investigações conduzidas pela autoridade de Defesa Comercial estrangeira. • A participação presencial, pelo DECOM, em verificações in loco nas empresas exportadoras brasileiras, quando solicitado por tais empresas. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 29 • A realização, pelo DECOM e/ou pela DDF/MRE e/ou pela embaixada, de consultas diretas com a autoridade de Defesa Comercial estrangeira no acompanhamento da investigação. • A realização, pela DDF/MRE e/ou pela embaixada, de gestões políticas em foros bilaterais, regionais e multilaterais, conforme o caso. • A realização, pelo DECOM e/ou pela DDF/MRE e/ou pela embaixada, de reuniões bilaterais técnicas presenciais ou a distância com a autoridade de Defesa Comercial estrangeira. • Em casos de investigação de subsídios acionáveis por autoridades estrangeiras, a coordenação, pelo DECOM e/ou pela DDF/MRE, da coleta de informações e consolidação das respostas de programas governamentais e políticas públicas brasileiras. Dessa forma, a coordenação entre DECOM, DDF/MRE e embaixadas resulta em atividades em duas principais frentes, conforme demonstrado a seguir. Que bom que você encerrou esta etapa de estudos! Chegou a hora de testar seus conhecimentos. Então, acesse o exercício avaliativo que está disponível no ambiente virtual. Bons estudos! 30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo [de] apoio ao exportador brasileiro investigado em processos de defesa comercial no exterior [recurso eletrônico]. Brasília, DF: SDCOM/ Ministério da Economia, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/arquivos/guias/guia-externo-apoio-exportador. Acesso em: 11 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços . Legislação geral. Brasília, DF [2022]. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral. Acesso em: 26 jun. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. Referências https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-externo-apoio-exportador https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-externo-apoio-exportador https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-externo-apoio-exportador https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdfhttps://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 31 Módulo Investigações Antidumping: Teoria e Prática 2 O Módulo 2 tem como principal objetivo apresentar os principais conceitos relacionados às investigações antidumping, sem a pretensão de exaurir o tema por completo. Ele foi dividido em 7 temas que apresentarão as legislações nacionais e internacionais vigentes sobre o assunto, além de abordar aspectos conceituais e metodológicos, tanto gerais quanto específicos, sobre os principais elementos de uma investigação de dumping e de uma revisão de final de período. Medida antidumping é o “remédio comercial”. Fonte: Freepik (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Para começar, não perca de vista que a medida antidumping é o “remédio comercial” mais aplicado pelos países membros da OMC. No Brasil, ela representa mais de 90% do universo de medidas de Defesa Comercial que são recomendadas para aplicação pela autoridade investigadora nacional, o DECOM. 32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Um dos “produtos” finais da Rodada Uruguai foi o Acordo sobre a Implementação do Artigo VI do GATT (Acordo Antidumping ou Anti-Dumping Agreement - ADA). O acordo buscou formalizar os meios para que os governos dos países membros da OMC pudessem reagir ao ao dumping, por meio da aplicação de medidas antidumping. Em termos gerais, o Acordo Antidumping da OMC é a base inicial que permite que os governos atuem contra o dumping quando houver dano à indústria doméstica concorrente do produto importado. Para tanto, o governo deve ser capaz de mostrar que ocorreu o dumping, calcular a extensão desse dumping (o quanto menor é o preço de exportação comparado ao preço do mercado interno do exportador, que é considerado o valor normal) e mostrar que o dumping está causando prejuízo à sua indústria doméstica ou ameaçando causá-lo. Analise as abas a seguir que tratam do cálculo do dumping. Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Antidumping Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você deve ser capaz de reconhecer o arcabouço normativo internacional e nacional sobre antidumping, objetivando uma maior compreensão a respeito da base legal que ampara uma investigação antidumping. 1.1 Legislação Internacional sobre Antidumping (Acordo Antidumping da OMC) Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33 O Artigo VI do GATT 1994 permite que os Membros tomem medidas contra o dumping e o Acordo Antidumping busca disciplinar as medidas permitidas pelo Artigo VI de forma consonante. Ambas as disciplinas permitem que os países ajam de uma maneira que normalmente violaria os princípios do GATT, tanto de previsibilidade (princípio da previsibilidade) de acesso a mercados, entre outros meios, pela consolidação dos compromissos tarifário (tariff binding), quanto de não discriminação entre parceiros comerciais (princípio da Nação Mais Favorecida – NMF), ao permitir a cobrança do direito antidumping em importação de produto específico, do país exportador específico, para trazer seu preço mais próximo do “valor normal” ou para remover o dano à indústria doméstica do país importador. A ata final que incorporou os resultados da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT da OMC, foi aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 30, de 15 de dezembro de 1994, e promulgada pelo Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Esse é o Decreto que incorpora o Acordo sobre a implementação do Artigo VI do GATT 1994 (Acordo Antidumping) ao ordenamento jurídico nacional. Leia agora com atenção as principais normativas sobre antidumping no Brasil. O texto do Acordo Antidumping pode ser encontrado aqui. Recomenda-se a leitura integral do Acordo Antidumping disponível aqui. A versão em português pode ser encontrada no Decreto Legislativo nº 30, de 15 de dezembro de 1994, promulgado pelo Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Aprofunde-se! 1.2 Legislação Nacional sobre Antidumping (Decreto 8.058/2013 e Portarias) https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/19-adp_01_e.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/copy2_of_SDCOMMECUM_VERSOFINAL.pdf 34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Lei n° 9.019, de 30 de março de 1995 Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013 Portaria SECEX nº 162, de 6 de janeiro de 2022 Decreto nº 9.745, de 9 de abril de 2019 A Lei n° 9.019, de 30 de março de 1995, prevê a forma de aplicação e de cobrança dos direitos antidumping provisórios e definitivos, bem como as competências para a apuração da margem de dumping, para a fixação e cobrança dos direitos e a suspensão de sua exigibilidade, para a celebração de compromisso de preços e em hipóteses de extensão de medidas antidumping em caso de constatação de práticas omissivas (BRASIL, 1995). Já o Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013, é o principal documento que regulamenta os procedimentos administrativos brasileiros relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping, detalhando prazos, metodologias e critérios de análise a serem seguidos durante tais procedimentos. Destaque-se que esse Decreto não apenas incorpora a normativa multilateral acordada em sede da OMC, mas também define exigências adicionais (conhecidas como regras “WTO Plus”) para as investigações antidumping brasileiras. O art. 39 do Decreto nº 8.058, de 2013, prevê que a “SECEX publicará ato por meio do qual tornará públicas as informações que deverão constar da petição, assim como o formato para sua apresentação” (BRASIL, 2013). Como você viu, o Decreto nº 8.058 prevê que a SECEX tornará públicas as informações e formato de apresentação da petição. Por essa razão, foi publicada a Portaria SECEX nº 162, de 6 de janeiro de 2022, que dispõe, entre outros elementos relacionados às investigações antidumping, sobre as informações necessárias para a elaboração de petições de investigações originais antidumping e de petições de revisões de final de período (BRASIL, 2022). O Decreto nº 9.745, de 9 de abril de 2019, alterado pelo Decreto nº 10.072, de 18 de outubro de 2019, e nº 10.044, de 4 de outubro de 2019, por sua vez, atribui de forma mais detalhada as competências relacionadas às investigações antidumping e o processo decisório delas decorrente (BRASIL, 2019). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 35 Parte A (Normas Gerais de Defesa Comercial)/ Parte B (Normas Específicas de Antidumping) A legislação em vigor sobre antidumping pode ser vista aqui por você. Recomenda-se a leitura do #SDCOMMecum. Fonte: Guia externo de investigações antidumping (2020) https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/copy2_of_SDCOMMECUM_VERSOFINAL.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf 36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping; e altera o Anexo II ao Decreto nº 7.096, de 4 de fevereiro de 2010, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em:http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Decreto nº 11.427, de 2 de março de 2023. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e remaneja e transforma cargos em comissão e funções de confiança. Brasília, DF: Presidência da República, 2023. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023- 2026/2023/Decreto/D11427.htm#art6. Acesso em: 05 mai. 2023. BRASIL. Lei nº 9.019, de 30 de março de 1995. Dispõe sobre a aplicação dos direitos previstos no Acordo Antidumping e no Acordo de Subsídios e Direitos Compensatórios, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1995. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9019.htm. Acesso em: 26 jun. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Portaria SECEX nº 162, de 6 de janeiro de 2022. Dispõe sobre as normas gerais utilizadas nos processos de defesa comercial previstos nos Decretos nº 1.488, de 11 de maio de 1995, nº 8.058, de 26 de julho de 2013, nº 9.107, de 26 de julho de 2017 e nº 10.839, de 18 de outubro de 2021, e nos acordos comerciais em vigor no Brasil [...]. Brasília, DF: ME, 2022a. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-secex-n-162-de-6-de- janeiro-de-2022-372413925. Acesso em: 11 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Legislação geral, Brasília, DF, [2022b]. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral. Acesso em: 26 jun. 2023. Referências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Decreto/D11427.htm#art6 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2023/Decreto/D11427.htm#art6 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9019.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-secex-n-162-de-6-de-janeiro-de-2022-372413925 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-secex-n-162-de-6-de-janeiro-de-2022-372413925 https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 37 BRASIL. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Legislação sobre antidumping. [Portal Gov.br]. 2022c. Disponível em: https:// www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio- exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/ legislacao-sobre-antidumping. Acesso em: 26 jun. 2023. FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2023. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Agreement on Implementation of Article VI of the General Agreement on Tariffs and Trade 1994. 2023. Disponível em: https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/19-adp_01_e.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Anti-dumping, subsidies, safeguards: contingencies, etc. 2023. Disponível em: https://www.wto.org/english/thewto_e/ whatis_e/tif_e/agrm8_e.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/tif_e/agrm8_e.htm https://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/tif_e/agrm8_e.htm 38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 2: Aspectos Conceituais Gerais em Investigações Antidumping Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade espera-se que você entenda alguns dos conceitos fundamentais relacionados às investigações antidumping, como o de produto objeto, produto similar, indústria doméstica, nacional, subnacional e fragmentada, além de entender como é realizada a análise das importações. 2.1 Produto Objeto e Produto Similar O objetivo desta unidade é apresentar de forma introdutória os conceitos de produto objeto da investigação, produto similar, indústria doméstica, nacional, subnacional e fragmentada, além de demonstrar como é realizada a análise das importações. O conceito de mercado brasileiro e consumo nacional aparente também será abordado para melhor compreensão da análise das importações. Siga firme nos estudos e vamos começar! Produto Objeto da investigação Daremos início aos estudos deste tema convidando você a ler com atenção o trecho desta matéria jornalística sobre “Produto objeto da investigação”. Acompanhe! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 39 Produto objeto. Fonte: Santos, Bianchini e Salles (2021). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Produto objeto de investigação. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Pode-se afirmar que o produto objeto da investigação, tendo como base sua análise, é aquele originário dos países nos quais se localizam os produtores ou exportadores investigados e exportado para o Brasil, englobando produtos idênticos ou que apresentem: • (A) características físicas ou composição química; • (B) características de mercado semelhantes, conforme disposição do art. 10 do Decreto nº 8.058, de 2013. 40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O produto objeto de revisão de final de período normalmente será igual ao produto objeto de uma investigação antidumping original. Contudo é possível que em determinados casos o escopo do produto objeto da revisão seja reduzido, o que pode ocorrer por vários motivos. • Uma possibilidade seria a de a própria indústria domésticaconsiderar que não há necessidade de manter o mesmo escopo da investigação original. • Outra possibilidade seria a de a autoridade investigadora concluir, inclusive ex officio (por obrigação legal da função), com base nos elementos de prova presentes nos autos, que a redução de escopo se justifica. Para encerrar este tema, saiba que sob nenhuma hipótese o escopo do produto objeto da revisão será aumentado, uma vez que isto equivaleria a estender a aplicação de uma medida antidumping para produtos que não foram analisados anteriormente. Nestes casos uma nova petição de início de investigação antidumping contendo estes produtos deve ser apresentada. Produto Similar Nos termos do art. 9º do Decreto nº 8.058, de 2013, é considerado similar o produto idêntico, igual sob todos os aspectos ao produto objeto da investigação ou, em sua ausência, outro produto que embora não exatamente igual sob todos os aspectos apresente características muito próximas às do produto que está sendo analisado. A similaridade será avaliada com base em critérios objetivos como matérias-primas; composição química; características físicas; normas e especificações técnicas; processo de produção; usos e aplicações; grau de substitutibilidade; canais de distribuição; ou outros critérios definidos na investigação. Assim, poderão ser considerados similares ao produto objeto da investigação: os produtos brasileiros considerados na análise do dano (confeccionados pela indústria doméstica) e na produção nacional (confeccionado pelos outros produtores nacionais), os produtos importados das demais origens não investigadas e os produtos considerados para fins de cálculo do valor normal (produto confeccionado pelo produtor/exportador da origem investigada vendido no mercado interno do país de origem ou exportado para terceiros países). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 41 Que tal analisar um exemplo? Em uma investigação de dumping em que se define que o produto investigado é o alho comum exportado da China para o Brasil, o produto similar ao importado seria: o alho comum produzido na indústria doméstica brasileira pelos outros produtores nacionais de alho comum; o alho comum importado de todas as origens, com exceção da China; e o alho comum vendido pelo produtor chinês, tanto em seu mercado interno quanto exportado para terceiros países que não o Brasil. Critérios para análise de similaridade. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A resolução CAMEX nº 51, de 23 de junho de 2016 – aplicou direitos antidumping definitivos às importações brasileiras de lona de PVC oriundas da China e da Coreia do Sul – disponível aqui. Avaliação de similaridade entre o produto objeto da investigação confeccionado pela empresa sul-coreana Starflex, a partir de PVC reciclado, e o produto similar nacional confeccionado com PVC convencional. Ler os itens: 2.1 Do produto objeto da investigação; 2.1.2 Do produto fabricado pela Starflex; 2.4.1 Das manifestações acerca dos produtos e da similaridade; 2.4.2 Dos comentários acerca das manifestações e 2.5 Da conclusão a respeito do produto e da similaridade. 2.2 Conceito de Indústria Doméstica Indústria Doméstica Já foi mencionado a você, durante o curso, o conceito de indústria doméstica. Agora é hora de se aprofundar! Nos termos do art. 34 do Decreto nº 8.058, de 2013, considera-se como indústria doméstica a totalidade dos produtores nacionais de produto similar doméstico ou, quando não for possível reunir a totalidade desses produtores e desde que devidamente justificado, o conjunto de produtores cuja produção conjunta constitua parcela significativa da produção nacional do produto similar doméstico. Nesse sentido, conforme previsto no art. 35 do citado Decreto, poderão ser excluídos do conceito de indústria doméstica: 1 os produtores domésticos associados ou relacionados aos produtores estrangeiros, aos exportadores ou aos importadores, somente nos casos em que houver suspeita de que este vínculo leva o produtor a agir diferentemente da forma como agiriam os produtores que não têm tal vínculo; e 2 os produtores cuja parcela das importações do produto alegadamente importado a preço de dumping for significativa em comparação com o total da produção própria do produto similar. Cumpre frisar que a exclusão dos produtores nacionais supracitados não é obrigatória” (BRASIL, 2013). http://www.camex.gov.br/resolucoes-camex-e-outros-normativos/58-resolucoes-da-camex/1650-resolucao-n-51-de-23-de-junho-de-2016 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 43 Acompanhe a seguir os detalhes conceituais do que será considerado indústria doméstica e o que pode ser excluído dessa categoria. Deve-se ressaltar que para que uma petição de investigação antidumping seja aceita pelo DECOM ela precisa ser apresentada pela indústria doméstica, ou em seu nome, nos termos do art. 37 do Decreto nº 8.058, de 2013 (BRASIL, 2013). Por essa razão, é essencial que produtores nacionais que ajam de forma distinta em razão de sua vinculação econômica possam ser excluídos do conceito de indústria doméstica, sem que essa exclusão afete seu grau de representatividade. Estão disponíveis aqui informações adicionais que você pode conhecer a respeito dos assuntos Indústria Nacional, Indústria Subnacional e Indústria Fragmentada. https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/QZQYIH59y6UhP2QU-1.%2520Leitura%2520Complementar_%2520Ind%25C3%25BAstria%2520Nacional%252C%2520Ind%25C3%25BAstria%2520Subnacional%2520e%2520Ind%25C3%25BAstria%2520Fragmentada.pdf 44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Resolução GECEX nº 193, de 28 de abril de 2021 – Prorrogou o direito antidumping definitivo, por um prazo de até 5 (cinco) anos, aplicado às importações brasileiras de tubos de plástico para coleta de sangue a vácuo originárias da China, dos Estados Unidos da América e do Reino Unido – disponível aqui. Trata-se de um exemplo de desconsideração de produtor doméstico do conceito de indústria doméstica em razão de associação com produtor/exportador estrangeiro. Ler os itens: 4. DA INDÚSTRIA DOMÉSTICA; 4.1 Das manifestações acerca da definição da indústria doméstica; e 4.2 Dos comentários do DECOM acerca das manifestações. 2.3 Análise das Importações Levando em consideração que a importação é uma alternativa de diversificação de fornecimento de insumos e matérias-primas, como funciona a análise das importações do produto objeto da investigação? Nos termos do §1º do art. 30 do Decreto nº 8.058, de 2013, o exame do volume das importações do produto objeto da investigação considerará se houve aumento significativo dessas importações, tanto em termos absolutos quanto em relação à produção ou ao consumo no Brasil, durante o período de investigação do dano (BRASIL, 2013). Cumpre frisar que as importações do produto objeto da investigação correspondem especificamente às importações do produto originárias dos países sujeitos à investigação. Na análise em termos absolutos, observa-se tanto o comportamento do volume quanto do valor das importações do produto. Isso é feito em relação às importações originárias dos países investigados; às originárias dos demais países e às importações totais do produto. Por exemplo, vamos considerar que a investigação seja contra a importação de canetas esferográficas da China. Esses comportamentos são analisados individualmente, bem como em comparação um com o outro, a fim de avaliar se houve aumento absoluto significativo das importações de canetas esferográficas da China; também se houve aumento da participação dessas importações nas importações totais de canetas esferográficas; e, por fim, se houve aumento dessas importações em relação às importações de canetas esferográficas provenientes das demais origens. https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-gecex-n-193-de-28-de-abril-de-2021-316882868Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 45 Por sua vez, na análise em termos relativos, avalia-se se houve aumento significativo das importações de canetas esferográficas da China em relação à produção e ao consumo no Brasil. Vale destacar que, caso haja consumo cativo, a análise relativa ao consumo no Brasil poderá ser dividida em duas, quais sejam: Dessa forma, é possível avaliadar a evolução do mercado brasileiro, do consumo nacional aparente (se houver consumo cativo) e da produção nacional de canetas esferográficas, separadamente, ao longo do período de investigação de dano. Assim como a evolução da participação das importações do produto objeto da investigação no mercado brasileiro, da participação das importações de canetas esferográficas da China no consumo nacional aparente e da relação dessas importações com a produção nacional no período supracitado. Para fins de apuração do mercado brasileiro, são considerados: • o volume total de vendas no mercado interno brasileiro de canetas esferográficas fabricadas pelas produtoras brasileiras; e • o volume das importações totais dessas canetas, independentemente de sua origem. 1 Análise em relação ao mercado brasileiro; e 2 Análise em relação ao consumo nacional aparente (mercado brasileiro + consumo cativo). É importante você saber que as revendas de produtos importados por produtores nacionais não são consideradas no volume total de vendas desses produtores no mercado interno brasileiro, uma vez que já estão incluídas no volume das importações totais do produto, evitando-se, assim, dupla contagem. 46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A mesma lógica se aplica ao consumo cativo na determinação do consumo nacional aparente, de modo que é considerado tanto o consumo cativo dos peticionários quanto o de outras empresas nacionais produtoras do produto similar, caso essas outras empresas tenham apresentado os dados necessários. Para fins de investigações de Defesa Comercial, o consumo nacional aparente do produto investigado no Brasil consiste em uma soma do mercado brasileiro desse produto com o volume total do produto similar fabricado no Brasil e destinado para consumo cativo. O consumo nacional aparente, portanto, pode ser maior que o mercado brasileiro, uma vez que também considera parte da demanda nacional que apenas pode ser suprida por produtos fabricados pelo próprio demandante (consumo cativo). Ou seja, o consumo nacional aparente também considera o produto similar de fabricação própria que, embora consumido no Brasil, não é destinado à venda no mercado interno brasileiro. Por essa razão o consumo nacional aparente pode incluir, por exemplo, o volume produzido de um produto similar que seja utilizado como matéria-prima ou insumo na fabricação de outros produtos pela própria empresa produtora nacional, sem emissão de nota fiscal de venda, ou que seja de fabricação própria entre plantas da mesma empresa. Destaque-se que o volume de vendas no mercado interno inclui tanto aquele referente às vendas do produto similar de fabricação própria das empresas que apresentaram a petição quanto aquele referente às vendas do produto similar de fabricação própria de outras empresas produtoras nacionais. Consumo nacional aparente. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Você encontra aqui um material complementar que foi preparado para que veja como são obtidos os dados referentes às importações do produto objeto da investigação e do produto similar estrangeiro. https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/lvF-MnBGLov4mm9S-2.%2520Leitura%2520Complementar_%2520An%25C3%25A1lise%2520das%2520importa%25C3%25A7%25C3%25B5es.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 47 A Resolução GECEX nº 286, de 21 de dezembro de 2021 – aplicou direito antidumping definitivo, por um prazo de até 5 (cinco) anos, às importações brasileiras de anidrido ftálico originárias da Rússia e de Israel – disponível aqui. Nele foi feita a análise das importações, do mercado brasileiro e do consumo nacional aparente de anidrido ftálico. Ler o item: 5. Das importações e do mercado brasileiro e do consumo nacional aparente. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-gecex-n-286-de-21-de-dezembro-de-2021-369377010 48Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping; e altera o Anexo II ao Decreto nº 7.096, de 4 de fevereiro de 2010, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Receita Federal do Brasil. NCM. [Portal Gov.br]. 2021. Disponível em: https:// www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/classificacao- fiscal-de-mercadorias/ncm. Acesso em: 12 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Legislação geral, Brasília, DF, [2022]a. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral. Acesso em: 26 jun. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Legislação sobre antidumping.Brasília, DF, [2022]b. Disponível em: https://www.gov.br/ produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa- comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre- antidumping. Acesso em: 26 jun. 2023. SANTOS, I. B.; BIANCHINI, L. M.; SALLES, L. E. Brasil inicia investigação antidumping sobre soda cáustica líquida importada dos Estados Unidos da América. Azevedo Sette Advogados, [s. l.], 2021. Disponível em: https://www.azevedosette.com.br/noticias/pt/ brasil-inicia-investigacao-antidumping-sobre-soda-caustica-liquida-importada-dos- estados-unidos-da-america/6119. Acesso em: 13 jul. 2023. Referências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/classificacao-fiscal-de-mercadorias/ncm https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/classificacao-fiscal-de-mercadorias/ncm https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/aduana-e-comercio-exterior/classificacao-fiscal-de-mercadorias/ncm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geralhttps://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-geral https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/legislacao-roteiros-e-questionarios/legislacao-sobre-antidumping https://www.azevedosette.com.br/noticias/pt/brasil-inicia-investigacao-antidumping-sobre-soda-caustica-liquida-importada-dos-estados-unidos-da-america/6119 https://www.azevedosette.com.br/noticias/pt/brasil-inicia-investigacao-antidumping-sobre-soda-caustica-liquida-importada-dos-estados-unidos-da-america/6119 https://www.azevedosette.com.br/noticias/pt/brasil-inicia-investigacao-antidumping-sobre-soda-caustica-liquida-importada-dos-estados-unidos-da-america/6119 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 49 Unidade 3: Aspectos Conceituais Específicos sobre Dumping em Investigações Antidumping Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você estará apto(a) a entender os dois pilares envolvidos no conceito de dumping (valor normal e preço de exportação), bem como entender de forma abrangente a apuração da margem de dumping. Esses três elementos são necessários para que se confirme a prática de dumping e se tenha um panorama de eventual medida antidumping a ser recomendada em uma investigação. Nos termos dos arts. 8, 12 e 22 do Decreto nº 8.058, de 2013, o termo “valor normal” refere-se ao preço do produto similar, em operações comerciais normais e em “quantidade suficiente”, destinado ao consumo no mercado interno do país exportador, normalmente no termo de venda ex fabrica (BRASIL, 2013). No entanto, conforme previsto no art. 14 deste decreto, caso não existam vendas do produto similar em operações comerciais normais no mercado interno do país exportador, ou quando em razão de condições especiais de mercado ou de baixo volume de vendas do produto similar no mercado interno do país exportador não for possível comparação adequada com o preço de exportação, o valor normal será apurado com base no: 3.1 Valor Normal 1 preço de exportação do produto similar para terceiro país apropriado, desde que esse preço seja representativo; 2 valor construído, que consistirá no custo de produção no país de origem declarado, acrescido de razoável montante a título de: a) despesas gerais; b) despesas administrativas; c) despesas de comercialização; d) despesas financeiras; e e) lucro” (BRASIL, 2013). 50Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Verifica-se, portanto, que, sempre que possível, o valor normal deve ser determinado com base nas vendas do produto similar no mercado interno do país exportador. Somente na impossibilidade de utilização das vendas do produto similar no mercado interno é que se pode recorrer aos métodos relativos à exportação para terceiro país e à construção a partir do custo de produção do exportador, não havendo, entre essas duas alternativas, uma preferência por um ou outro método.. Destaque-se que não há hierarquia entre as metodologias quando da apuração do valor normal para fins de início da investigação. Via de regra, o preço de exportação em investigações antidumping corresponde ao preço de venda do produto exportado do país investigado ao país importador, em condições comparáveis ao valor normal apurado. Entretanto, assim como ocorre na determinação do valor normal, pode acontecer de o preço de exportação não existir ou não ser confiável, por razão de associação, de relacionamento ou de acordo compensatório entre as partes. Para garantir que o preço de exportação a ser utilizado na apuração da margem de dumping seja confiável, deve-se sempre buscar identificar o preço pago ou a pagar por comprador independente, o qual será posteriormente ajustado a fim de se tornar comparável ao valor normal apurado. Para que se chegue a um preço de exportação comparável com o valor normal, poderão ser realizados ajustes relacionados a diferenças que afetem a comparação de preços, tais como: Como deve ser apurado o valor normal. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 3.2 Preço de Exportação Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 51 1 nas condições e nos termos de vendas (como descontos oferecidos em casos de compras volumosas ou preços mais baixos praticados no caso de venda entre empresas associadas); 2 na tributação; 3 nos níveis de comércio; 5 nas características físicas; e 4 nas quantidades; 6 outras quaisquer que comprovadamente afetem a comparação de preços (BRASIL, 2013, art. 22, §2º). A definição e a escolha da metodologia a ser utilizada na apuração do preço de exportação em investigações antidumping levarão em consideração: •se o produtor é o exportador do produto objeto da investigação; • se o produtor e o exportador do produto em questão, embora distintos, são ou não relacionados; e • se há preço de exportação e se este é confiável em situações de associação, relacionamento ou acordo compensatório entre o produtor ou exportador estrangeiro e o importador ou uma terceira parte. O preço de exportação nas investigações antidumping é disciplinado pelos arts. 18 a 21 do Decreto nº 8.058, de 2013 (BRASIL, 2013). Veja mais sobre isso na imagem abaixo. 52Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Preço de exportação. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 3.3 Margem de Dumping Nos termos do art. 25 do Decreto nº 8.058 (BRASIL, 2013), a margem de dumping constitui a diferença entre o valor normal e o preço de exportação. Ademais, conforme disposto no art. 26 do Decreto nº 8.058, de 2013 (BRASIL, 2013), para o cálculo da margem de dumping podem ser utilizados, em princípio, dois principais métodos: Margem de dumping. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 1 a diferença entre o valor normal e o preço de exportação para cada transação (“T-T”); ou 2 a diferença entre o valor normal médio ponderado e o preço de exportação médio ponderado de todas as transações comparáveis (“W-W”). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 53 Métodos de apuração da margem de dumping. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). O Acordo Antidumping prevê ainda a possibilidade de utilização de um terceiro método de comparação entre o preço de exportação e o valor normal. Conforme o §2º do art. 26 do Decreto no 8.058, de 2013, a margem de dumping poderá ser apurada por meio da comparação entre um valor normal estabelecido por meio de média ponderada e preços individuais de exportação (“W-T”), “caso determinada a existência de um padrão de preços de exportação que difira significativamente entre diferentes compradores, regiões ou períodos de tempo e caso seja apresentada explicação sobre a razão pela qual tais diferenças não podem ser adequadamente consideradas por meio da adoção das metodologias W-W e T-T. Para que a comparação entre o valor normal e o preço de exportação seja justa é necessário que ambos estejam no mesmo nível de comércio e que sejam relativos a vendas realizadas tão simultaneamente quanto possível. Ademais, diferenças na tributação, nos níveisde comércio, nas quantidades, nas características físicas, nas condições e nos termos de venda, assim como quaisquer outras que afetem a comparação de preços, devem ser consideradas e, na medida do possível, eliminadas por meio de ajustes conforme disposto no §2º do art. 22 do Decreto nº 8.058 (BRASIL, 2013). A fim de manter a transparência e a uniformização de suas práticas, o DECOM busca sempre apresentar em suas determinações descrições detalhadas das metodologias de cálculo adotadas. Além disso, a atuação conjunta da Subsecretaria com outros órgãos do governo junto ao Órgão de Solução de Controvérsias da OMC demonstra seu compromisso com a atualização constante das metodologias adotadas, a fim de manter a coerência e a legalidade de suas decisões. Veja aqui outras informações importantes sobre valor normal, preço de exportação e margem de dumping. Exemplos e mais informações sobre a determinação de dumping podem ser encontradas aqui no Guia do Cálculo da Margem de Dumping em Investigações Antidumping no Brasil. https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/a5NG6WTWzBVlMFrI-3.%2520Leitura%2520Complementar_%2520Valor%2520Normal%252C%2520Pre%25C3%25A7o%2520de%2520Exporta%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520e%2520Margem%2520de%2520Dumping.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-de-calculo-de-margem-de-dumping 54Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 55 BRASIL. Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping; e altera o Anexo II ao Decreto nº 7.096, de 4 de fevereiro de 2010, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 2ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade- e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). United States — Use of Zeroing in Anti- Dumping Measures Involving Products from Korea. 2011. Disponível em: https:// www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds402_e.htm. Acesso em: 13 jan. 2023. Referências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds402_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds402_e.htm 56Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 4: Aspectos Conceituais Específicos sobre Dano em Investigações Antidumping Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você conseguirá avaliar de forma clara o desempenho da indústria doméstica por intermédio da análise dos indicadores utilizados na avaliação do dano causado pelas importações objeto de dumping. A determinação de dano é baseada em elementos de prova que incluem, entre outros fatores, o impacto das importações a preço de dumping sobre a indústria doméstica. 4.1 Conceito de Dano para Fins de Defesa Comercial Para fins de investigações antidumping, dano será considerado como: De acordo com o art. 30 do Decreto nº 8.058, de 2013, a determinação de dano material à indústria doméstica será baseada em elementos de prova e incluirá o exame objetivo dos seguintes aspectos: Para fins de início de uma investigação antidumping original, a análise quanto à existência de dano material será feita pelo DECOM com base nas informações trazidas pela indústria doméstica na petição e nos dados de importação do produto investigado fornecidos pela Secretaria Especial da Receita Federal. 1 dano material à indústria doméstica; 1 Volume das importações objeto de dumping; 2 ameaça de dano material à indústria doméstica; ou 2 Efeito das importações objeto de dumping sobre os preços do produto similar no mercado brasileiro; e 3 atraso material à implantação da indústria doméstica. 3 Consequente impacto de tais importações sobre a indústria doméstica” (BRASIL, 2013). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 57 Uma vez iniciada a investigação, o DECOM realizará verificações in loco nas empresas peticionárias e enviará questionários a outros produtores nacionais do produto similar cujos dados não foram apresentados na petição. As respostas desses outros produtores também poderão ser sujeitas a procedimento de verificação in loco. As determinações preliminares e finais do DECOM quanto à existência de dano material serão, então, elaboradas com base nos dados contidos na petição, nos resultados das verificações in loco na indústria doméstica, nas respostas aos questionários submetidas por outros produtores nacionais e em outras informações fornecidas pelas partes interessadas. Nesse sentido, no decorrer do procedimento administrativo podem ocorrer alterações quanto à determinação de dano material apresentada no início da investigação. 4.2 Indicadores da Indústria Doméstica O exame do impacto das importações objeto de dumping sobre a indústria doméstica incluirá avaliação de todos os fatores e índices econômicos pertinentes relacionados com a situação da referida indústria. Isso inclui queda real ou potencial das vendas, dos lucros, da produção, da participação no mercado, da produtividade, do retorno sobre os investimentos e do grau de utilização da capacidade instalada. Indicadores da indústria doméstica. Elaboração: CEPED/UFSC (2022). 58Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Além disso, serão considerados os efeitos negativos reais ou potenciais sobre o fluxo de caixa, estoques, emprego, salários, crescimento da indústria doméstica e capacidade de captar recursos ou investimentos. Ainda serão avaliados fatores que afetem os preços domésticos, incluindo o custo de produção, a relação preço/custo e a amplitude ou magnitude da margem de dumping. O exame do impacto das importações objeto de dumping sobre a indústria doméstica avalia todos os fatores relacionados com a situação da indústria doméstica, inclusive: Cumpre esclarecer que o DECOM analisa a evolução de cada um dos indicadores citados ao longo dos cinco subperíodos de investigação de dano e que nenhum dos fatores ou índices econômicos, isoladamente ou em conjunto, será necessariamente capaz de conduzir a conclusão decisiva. Todos os indicadores são analisados com base nos dados fornecidos pela peticionária e verificados in loco pelo DECOM, de modo que podem sofrer alterações ao longo da investigação. Registre-se que a análise da magnitude da margem de dumping considera também informaçõesapresentadas por outras partes interessadas após o início da investigação, por meio de suas respostas aos questionários enviados pelo DECOM. Fonte: Brasil (2022). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 59 O DECOM analisa todos os indicadores previstos no §3º do art. 30 do Decreto nº 8.058 (BRASIL, 2013), tanto em termos de volume (se houve queda real ou potencial no volume de vendas, alterações na participação da indústria doméstica no mercado, queda no volume de produção, aumento dos estoques, etc.), quanto em termos financeiros (queda real ou potencial da receita líquida, dos lucros, do retorno sobre o investimento, etc.). Acompanhe a seguir a análise de dano nos pareceres do DECOM: Além da análise em relação aos indicadores da indústria doméstica, o efeito das importações objeto de dumping deve também ser observado em relação aos preços da indústria doméstica sob três aspectos: 1 existência de subcotação significativa do preço das importações objeto de dumping em relação ao preço do produto similar no Brasil; 2 existência de depressão significativa do preço do produto similar no Brasil, e; 3 existência de supressão significativa de aumento do preço do produto similar no Brasil que teria ocorrido na ausência das importações objeto de dumping. Fonte: Brasil (2022). 60Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Análise de Efeitos sobre o Preço Para fazer a análise de dano, verifica-se a existência de subcotação do preço das importações objeto de dumping em relação ao preço do produto similar no Brasil, quando o preço interno do produto objeto da investigação (vamos considerar US$ 900,00/t neste exemplo) é inferior ao preço do produto similar brasileiro (US$ 1.000,00/t, por exemplo). Neste caso, observa-se subcotação de US$ 100,00/t ou 10%. Ainda no campo da análise de dano, verifica-se a existência de depressão de preços quando o preço das importações do produto objeto da investigação tem o efeito de rebaixar significativamente o preço do produto similar brasileiro. Neste caso, analisa-se se o produto importado exerceu pressão sobre o preço da indústria doméstica ao longo dos períodos analisados, fazendo com que o mesmo diminua. Por exemplo, em decorrência da pressão exercida pelo produto importado a indústria doméstica praticava o preço de US$ 1.000,00/t durante um período específico e passou a praticar o preço de US$ 900,00/t. Também para a determinação de dano verifica-se a existência de supressão de preços quando o preço das importações do produto objeto da investigação tem o efeito de impedir, de forma relevante, um aumento de preços devido a aumento de custos, que poderia ter ocorrido na ausência de tais importações. Neste caso, analisa-se se o produto importado exerceu pressão sobre o preço da indústria doméstica ao longo dos períodos analisados, fazendo com que a indústria doméstica não ajustasse seu preço mesmo diante de aumento do custo de produção do similar nacional ou ajustasse esse preço em proporção inferior ao aumento verificado no custo de produção. Por exemplo, suponha que em decorrência da pressão exercida pelo produto importado a indústria doméstica praticou o preço de US$ 1.000,00/t em um período específico, sendo que houve aumento no custo de produção em cerca de US$ 300/t nesse mesmo período. Resolução Camex nº 46, de 3 de julho de 2014 – aplicou direito antidumping definitivo, por um prazo de até 5 (cinco) anos, às importações brasileiras de vidros para uso em eletrodomésticos da linha fria, originárias da República Popular da China – disponível aqui. Nela você encontra um exemplo de análise dos indicadores de dano da indústria doméstica. Ler o item: 6. Da determinação de dano à indústria doméstica. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=04/07/2014&jornal=1&pagina=7&totalArquivos=276 Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 61 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. Referências https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf 62Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 5: Aspectos Conceituais Específicos sobre Causalidade em Investigações Antidumping Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você conseguirá reconhecer de forma mais detalhada conceitos específicos em investigações antidumping, tal como a análise de nexo causal que deve ser estabelecida entre o dano enfrentado pela indústria doméstica e as importações investigadas a preço de dumping. 5.1 Impacto das Importações Objeto de Dumping na Indústria Doméstica: Nexo de Causalidade O nexo de causalidade consiste na demonstração de que, por meio dos efeitos do dumping, as importações que foram objeto de dumping contribuíram significativamente para um dano experimentado pela indústria doméstica, ainda que não sejam o único fator causador desse dano. Assim, durante a análise do nexo causal é necessário separar e distinguir os efeitos das importações objeto de dumping e os efeitos de possíveis outras causas de dano à indústria doméstica. Demonstração do nexo de causalidade. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 63 O impacto das importações objeto de dumping na indústria doméstica é avaliado em relação aos indicadores de dano, bem como pelo efeito que essas importações causam sobre o preço da indústria doméstica. Para que uma medida antidumping possa ser aplicada é necessário comprovar não somente a existência de dumping e de dano à indústria doméstica, mas também de nexo causal entre esses dois fatores. Assim, conforme disposto no art. 32 do Decreto nº 8.058, de 2013, é necessário demonstrar que, por meio dos efeitos do dumping, essas importações contribuíram significativamente para o dano experimentado pela indústria doméstica, mesmo que não sejam a única causa desse dano (BRASIL, 2013). A demonstração desse nexo de causalidade deve basear-se no exame dos elementos de prova pertinentes que sejam apresentados (a favor da existência de nexo causal) bem como no exame de outros fatores conhecidos, além das importações objeto de dumping que possam estar simultaneamente causando dano à indústria doméstica. Conheça mais detalhes sobre a análise de causalidade. Fonte: Brasil (2022). 64Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Caso haja dano provocado por motivos alheios às importações objeto de dumping este não poderá ser atribuído a estas importações e, a depender de sua magnitude, poderá não ser recomendada a aplicação de medidas antidumping. Deve-se, assim, separar e distinguir os efeitos das importações objeto de dumping e os efeitos de possíveis outras causas de dano à indústria doméstica. Outras possíveis causas são aquelas especificamente trazidas à atenção do DECOM pelas partes interessadas, desde que acompanhadas da devidajustificativa e dos elementos de prova pertinentes, e eventuais outras causas conhecidas pelo DECOM. Exemplos de outros fatores que podem ser relevantes para a análise de causalidade estão apresentados na sequência: 5.2 Outros Fatores de Dano 1 o volume e o preço de importações não objeto de dumping; 5 a concorrência entre produtores domésticos e estrangeiros; 2 o impacto de eventuais processos de liberalização das importações sobre os preços domésticos; 6 o progresso tecnológico; 9 o consumo cativo; e 3 a contração na demanda ou mudanças nos padrões de consumo; 7 o desempenho exportador; 10 as importações ou a revenda do produto importado pela indústria doméstica. 4 as práticas restritivas ao comércio de produtores domésticos e estrangeiros;. 8 a produtividade da indústria doméstica; Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 65 Circular Secex nº 60, de 9 de setembro de 2021 – tornou pública a determinação preliminar de investigação para averiguar a existência de dumping nas exportações dos EUA para o Brasil de soda cáustica líquida, classificadas no subitem 2815.12.00 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL – (NCM), e de dano à indústria doméstica decorrente de tal prática – disponível aqui. Ela registra uma análise preliminar para averiguar se o dano sofrido pela indústria doméstica foi causado pelas importações investigadas a preço de dumping. Ler o item: 7. Da causalidade. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! https://in.gov.br/en/web/dou/-/circular-n-60-de-9-de-setembro-de-2021-343834617 66Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping; e altera o Anexo II ao Decreto nº 7.096, de 4 de fevereiro de 2010, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. Referências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 67 Unidade 6: Aspectos Conceituais Específicos sobre a Aplicação das Medidas Antidumping Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você conseguirá reconhecer de forma mais detalhada conceitos específicos em investigações antidumping, como as formas de aplicação dessas medidas (direitos antidumping e os compromissos de preço). 6.1 Medida Antidumping (Direitos Antidumping e Compromissos de Preço) Há dois tipos de medidas antidumping: 1 os direitos antidumping; e 2 os compromissos de preço. 1 Os direitos antidumping consistem na incidência de sobretaxa sobre as importações do produto para o qual foram aplicadas medidas dessa natureza, em valor igual ou inferior à margem de dumping apurada. O montante em dinheiro a ser recolhido a título de direito antidumping pode ser definido pelo estabelecimento de alíquota que pode ser ad valorem ou específica O direito antidumping aplicado em forma de alíquota ad valorem consiste em percentual aplicado sobre o valor aduaneiro da mercadoria, em base Cost, Insurance and Freight (CIF). Por sua vez, o direito antidumping aplicado em forma de alíquota específica é fixado em moeda estrangeira e convertida em moeda nacional. Nesse caso, o valor a ser recolhido costuma ser definido por unidade de medida, podendo ser apurado, por exemplo, por tonelada ou por quilo. Finalmente, nos termos do §4 º do art. 78 do Decreto n º 8.058, de 2013, o direito antidumping pode ser definido como uma conjugação de alíquotas ad valorem e específicas (BRASIL, 2013). Por outro lado, os compromissos de preços são acordos voluntários assumidos pelo produtor ou exportador estrangeiro, no qual este se compromete a revisar seus preços de exportação com o intuito de evitar a cobrança de direito antidumping. São celebrados perante o DECOM e submetidos à homologação do Gecex. 2 Medida antidumping. Fonte: Freepik (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 68Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Agora, veja os tipos de alíquota de direito antidumping. No Brasil, os direitos antidumping (medida que pode ser aplicada ao fim de uma investigação) devem ser inferiores à margem de dumping apurada a partir das informações de valor normal e preço de exportação do produtor/exportador estrangeiro sempre que um montante inferior a tal margem for suficiente para eliminar o dano à indústria doméstica causado pelas importações objeto de dumping, nos termos do caput do art. 78 do Decreto nº 8.058, de 2013 (BRASIL, 2013). Essa disposição é conhecida como “regra do menor direito”, ou “lesser duty rule”, e consiste em disposição WTO Plus, compromisso adicional aos assumidos no âmbito da OMC. O art. 9.1 do Acordo Antidumping apenas recomenda que o direito antidumping, quando adequado para eliminar o dano à indústria doméstica, seja inferior à margem, já o Decreto nº 8.058, determina a aplicação do menor direito em todos os casos e enumera as situações em que a referida regra não será aplicada (BRASIL, 2013). Veja aqui informações complementares acerca dos direitos antidumping e compromissos de preço. Não deixe de ler esse material complementar sobre o tema, ok? Depois siga firme nos estudos! 6.2 Menor Direito (Lesser Duty) Fonte: Brasil (2022). https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/4-lMSUz40bf0NIpS-4.%2520Leitura%2520Complementar_%2520Medida%2520Antidumping%2520(Direitos%2520Antidumping%2520e%2520Compromissos%2520de%2520Pre%25C3%25A7o).pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 69 Nesse sentido, ao se aplicar o remédio de Defesa Comercial em uma dose menor para as empresas cooperantes, o Governo Brasileiro incentiva a cooperação dos exportadores investigados nos processos de dumping, aplicando ao final da investigação uma medida que tem tão somente a finalidade de restabelecer as condições de comércio justo (livre dos efeitos danosos do dumping que foram encontrados), mantém o mercado brasileiro exposto à concorrência internacional e mitiga preocupações sobre eventuais elevações de preços por parte da indústria doméstica brasileira. Ressalve-se que o direito antidumping a ser aplicado corresponderá necessariamente à margem de dumping para os produtores ou exportadores cuja margem foi apurada com base na melhor informação disponível. Ou seja, para aquelas partes interessadas que não colaboraram com a investigação, ou que não apresentaram adequadamentesuas informações e documentos, não é possível realizar o cálculo do menor direito, nos termos do art. 78, §3º, I, do Decreto nº 8.058, de 2013. Esse montante é calculado em duas etapas. Destaque-se que a subcotação tratada neste tópico não se confunde com a definida no inciso I do §2º do art. 30 do Decreto nº 8.058, de 2013, utilizada para fins de análise de dano. Para fins de dano a subcotação é analisada para o conjunto das importações investigadas, já para fins de menor direito a subcotação é calculada individualmente para cada produtor/exportador selecionado para responder ao questionário enviado e que cooperou com a investigação. 1 Cálculo da subcotação observada nas exportações da empresa para o Brasil no período de investigação de dumping. 2 Comparação entre a subcotação e a margem de dumping apurada para a referida empresa (BRASIL, 2013). 70Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Conforme você vê na figura anterior, caso a subcotação com o exemplo de US$ 200,00/t seja inferior à margem de dumping individual, que no exemplo é de US$ 300,00/t, considera-se que para este produtor/exportador, este montante inferior é suficiente para neutralizar o dano e, consequentemente, seu direito antidumping definitivo será apurado com base na subcotação, resultando em um menor direito/ lesser duty com o exemplo de US$ 200,00/t. Para os casos em que a subcotação é superior à margem de dumping individual, o montante do direito antidumping será baseado na margem de dumping apurada para este produtor/exportador. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! Margem de dumping. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 71 BRASIL. Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping; e altera o Anexo II ao Decreto nº 7.096, de 4 de fevereiro de 2010, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2023. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. Referências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.freepik.com/ 72Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 7: Aspectos Distintivos entre Investigações Originais e Revisões de Final de Período Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você conseguirá reconhecer de forma mais detalhada os aspectos que distinguem uma investigação original de uma revisão de final de período. 7.1 Aspectos Distintivos das Revisões de Final de Período Em uma investigação antidumping original, é analisada a existência de dumping, dano e nexo de causalidade entre ambos. Já em uma revisão de final de período é averiguado se a extinção do direito antidumping muito provavelmente levaria à continuação ou à retomada do dumping e do dano dele decorrente. Leia mais acerca da diferença da análise conduzida em investigações originais e em revisões de final de período. Fonte: Brasil (2022). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 73 O produto objeto de revisão de final de período normalmente será igual ao produto objeto de uma investigação antidumping original. Contudo, é possível que em determinados casos o escopo do produto objeto da revisão seja reduzido, o que pode ocorrer por vários motivos. Uma possibilidade seria a de a própria indústria doméstica considerar que não há necessidade de manter o mesmo escopo da investigação original. Outro motivo seria se a autoridade investigadora concluisse, inclusive ex officio com base nos elementos de prova presentes nos autos, que a redução de escopo se justifica. Sob nenhuma hipótese o escopo do produto objeto da revisão será aumentado, uma vez que isto equivaleria a estender a aplicação de uma medida antidumping para produtos que não foram analisados anteriormente. Nestes casos uma nova petição de início de investigação antidumping contendo estes produtos deve ser elaborada. Em uma revisão de final de período apenas é necessário, consoante o art. 107 do Decreto nº 8.058, de 2013, avaliar a probabilidade de continuação ou retomada do dumping caso a medida seja extinta (BRASIL, 2013). Neste contexto, na hipótese de ter havido exportações para o Brasil em quantidades representativas, do país ao qual se aplica a medida antidumping, no período sob revisão, a prática brasileira é apurar a margem de dumping apesar de tal apuração não ser uma obrigação decorrente do Acordo Antidumping. Nesta apuração será realizado o cálculo, no que couber, de modo similar ao realizado em uma investigação original. Nos casos de não ter havido exportações do país ao qual se aplica a medida antidumping ou de ter havido apenas exportações em quantidades não representativas durante o período de revisão, portanto casos em que há possibilidade de retomada de dumping, não será calculada margem de dumping. Em tais casos será avaliada pelo DECOM a probabilidade de retomada do dumping, comparando-se o valor normal médio internalizado no mercado brasileiro com uma dentre duas alternativas, a primeira é o preço médio de venda do produto similar doméstico no mercado brasileiro e a outra é o preço de exportação médio de outros fornecedores estrangeiros para o mercado brasileiro em transações feitas em quantidades representativas. Continuação do Dumping Caso em que houve exportações da origem investigada durante a vigência da medida. Avalia-se, então, se houve prática de dumping durante o período da revisão. 7.2 Probabilidade de Continuação ou Retomada do Dumping 74Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Conforme disposto no art. 107 do Decreto nº 8.058, de 2013, a determinação de que a extinção do direito levaria muito provavelmente à continuação ou à retomada do dumping deverá basear-se no exame objetivo de todos os fatores relevantes, incluindo aqueles elencados no art. 103 do mesmo decreto: • existência de dumping durante a vigência da medida; • desempenho do produtor ou exportador no tocante à produção, utilização da capacidade instalada, custos, volume de vendas, preços, exportações e lucros; • alterações nas condições de mercado, tanto do país exportador quanto em outros países, incluindo alterações na oferta e na demanda pelo produto, nos preços e na participação do produtor ou exportador no mercado do país exportador;e • aplicação de medidas de Defesa Comercial sobre o produto similar por outros países e a consequente possibilidade de desvio de comércio para o Brasil. Considere atentamente os critérios avaliados nas analises de probabilidade ou retomada do dumping na imagem a seguir: Retomada do Dumping Nesse caso é avaliado se, caso a medida fosse extinta, haveria a probabilidade de as exportações voltarem e de serem praticadas a preços de dumping. Critérios de probabilidade ou retomada de dumping. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 75 Na hipótese de durante o período de revisão não ter havido exportações do país ao qual se aplica a medida antidumping ou de ter havido apenas exportações em quantidades não representativas , a probabilidade de retomada do dumping será determinada com base na comparação entre o valor normal médio internalizado no mercado brasileiro e: ou o preço médio de venda apurado para o período de revisão do produto similar doméstico no mercado brasileiro; ou o preço de exportação médio apurado para o período de revisão de outros fornecedores estrangeiros para o mercado brasileiro em transações feitas em quantidades representativas. Caso o valor normal internalizado seja superior ao preço utilizado como parâmetro, considera-se que há possibilidade de retomada do dumping, dado que o produtor/ exportador teria que praticar preço de exportação para o Brasil inferior ao valor normal para competir no mercado brasileiro. Nas revisões de final de período, o DECOM deve avaliar se a extinção do direito antidumping levaria muito provavelmente à continuação ou à retomada do dumping e do dano dele decorrente. Assim, em revisões de final de período não é necessária a constatação de dano material à indústria doméstica, mas sim a determinação da probabilidade de continuação ou retomada do dano, no caso de extinção do direito antidumping. A determinação de que a extinção do direito levará muito provavelmente à continuação ou à retomada do dano deverá basear-se no exame objetivo de todos os fatores relevantes, incluindo os elencados no art. 104 do Decreto nº 8.058, de 2013, quais sejam: 7.3 Probabilidade de Continuação ou Retomada do Dano 1 "a situação da indústria doméstica durante a vigência definitiva do direito; 2 o volume das importações do produto objeto da medida durante sua vigência e a provável tendência de comportamento dessas importações, em termos absolutos e relativos à produção ou ao consumo do produto similar no mercado interno brasileiro; 3 o preço provável das importações objeto de dumping e o seu provável efeito sobre os preços do produto similar no mercado interno brasileiro; 4 o impacto provável das importações objeto de dumping sobre a indústria doméstica, avaliado com base em todos os fatores e índices econômicos pertinentes definidos no § 2º e no § 3 º do art. 30 do citado decreto; . 76Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 5 alterações nas condições de mercado no país exportador, no Brasil ou em terceiros mercados, incluindo alterações na oferta e na demanda do produto similar, em razão, por exemplo, da imposição de medidas de Defesa Comercial por outros países; e 6 o efeito provável de outros fatores que não as importações objeto de dumping sobre a indústria doméstica, tais como: a) volume e preço de importações não sujeitas ao direito antidumping; b) impacto de eventuais processos de liberalização das importações sobre os preços domésticos; c) contração na demanda ou mudanças nos padrões de consumo; d) práticas restritivas ao comércio de produtores domésticos e estrangeiros e a concorrência entre eles; e) progresso tecnológico; f) desempenho exportador; g) produtividade da indústria doméstica; h) consumo cativo; e i) importações ou revenda do produto importado pela indústria doméstica” (BRASIL, 2013). Verifica-se, portanto, a existência de critérios relacionados à análise de como a indústria doméstica e as importações sujeitas à medida antidumping se comportaram durante a vigência dessa medida, bem como de elementos referentes ao comportamento provável dessa indústria e dessas importações após a revisão. Confira aqui mais informações que tratam da probabilidade de continuação ou retomada do dano. https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/28sKSsj8lRtltw7P-5.%2520Leitura%2520Complementa_%2520Probabilidade%2520de%2520Continua%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520ou%2520Retomada%2520do%2520Dano.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 77 7.4 Prorrogação ou não da Medida Antidumping Ao final da revisão de final de período, o DECOM emitirá uma recomendação acerca do direito a ser aplicado e é importante se atentar para o fato de que os direitos recomendados não correspondem necessariamente à margem de dumping nem aos resultados das comparações mencionadas acima. O montante do direito poderá ser alterado (majorado ou reduzido) ou mantido em uma revisão de final de período, em regra, conforme imagem abaixo. Cenários possíveis em relação aos direitos antidumping prorrogados em revisões de final de período. Fonte: autoria própria. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Para maiores detalhes sobre as hipóteses de majoração, prorrogação em igual montante ou redução de direitos em revisões de final de período, recomenda-se a análise da apresentação disponível aqui. Que bom que você encerrou esta etapa de estudos! Chegou a hora de testar seus conhecimentos. Então, acesse o exercício avaliativo que está disponível no ambiente virtual. Boa sorte! https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/apresentacoes-e-palestras/PortariaSECEXReduodeDireitosapsconsultapblica.pdf 78Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação e à aplicação de medidas antidumping; e altera o Anexo II ao Decreto nº 7.096, de 4 de fevereiro de 2010, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. Referências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d8058.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 79 Módulo Investigações de Subsídios e Medidas Compensatórias: Teoria e Prática 3 Este módulo tem como objetivo apresentar os principais conceitos relacionados às investigações antissubsídios e as medidas compensatóriasaplicadas como resultado de tais investigações, sem a pretensão de exaurir o tema por completo. Ele foi dividido em 4 unidades que apresentarão as legislações nacionais e internacionais vigentes sobre o assunto, além de abordar aspectos conceituais e metodológicos, tanto gerais quanto específicos, sobre os principais elementos de uma investigação de subsídios e a aplicação de uma medida compensatória. As medidas compensatórias têm como objetivo compensar subsídio concedido, direta ou indiretamente, no país exportador, para a fabricação, produção, exportação ou transporte de qualquer produto cuja exportação cause dano à indústria doméstica do país importador. Por exemplo, se o governo da Moldávia dá à empresa Vandelay Industries, produtora de tênis, 10 dólares por cada unidade de um produto exportado, tal incentivo poderá ser investigado pelo Brasil. Ao final de tal investigação poderá ser aplicada uma medida compensatória, a ser cobrada na entrada do produto no Brasil que equalize tal incentivo de modo a que ele não cause dano à indústria doméstica brasileira, por exemplo, cobrando 10 dólares a mais para cada par de tênis. No Brasil, as medidas compensatórias representam menos de 10% do universo de medidas de Defesa Comercial que são recomendadas para aplicação pela autoridade investigadora nacional, o DECOM. 80Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A principal legislação multilateral sobre o tema é o Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (ASMC), que também foi um dos documentos negociados e incorporados à ata final da Rodada Uruguai que criou a OMC. Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você deve ser capaz de reconhecer de forma mais detalhada a legislação internacional e nacional sobre subsídios e medidas compensatórias, bem como seu contexto de utilização. 1.1 Legislação Internacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias) Em linhas gerais, a Rodada Uruguai foi uma rodada de negociações entre países em que foi assinado o que se conhece como Ata Final, que incorpora os resultados da Rodada Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais. No Brasil, a ata final da Rodada Uruguai foi aprovada pelo Decreto Legislativo nº 30, de 15 de dezembro de 1994, e promulgada pelo Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. Quer entender o Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, assista aqui a este vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=jZkBrwOtlBY Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 81 1.2 Legislação Nacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Decreto 10.839/2021 e Portaria) No âmbito nacional, o principal documento sobre subsídios e medidas compensatórias é o Decreto nº 10.839, de 18 de outubro de 2021, que entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2022. Este decreto regulamenta os procedimentos administrativos brasileiros relativos à investigação de subsídios e à aplicação de medidas compensatórias, detalhando prazos e critérios de análise a serem seguidos durante tais procedimentos. Tendo em vista a atualização do decreto brasileiro sobre o tema de subsídios e medidas compensatórias, o Governo Federal Brasileiro também atualizou as informações necessárias para regulamentar procedimentos, estabelecer roteiros de petição e detalhar metodologias de cálculo por meio da publicação da Portaria Secex nº 172, de 14 de fevereiro de 2022. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! A legislação em vigor sobre subsídios e medidas compensatórias pode ser encontrada em #SDCOMMecum disponível aqui. Para entender melhor as mudanças realizadas em 2021 e em 2022 no Decreto de Subsídios e Medidas Compensatórias, bem como na nova Portaria SECEX sobre o tema, recomenda-se aqui uma análise a ser lida sobre as apresentações do DECOM. https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/copy2_of_SDCOMMECUM_VERSOFINAL.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/apresentacoes-e-palestras/20211123ApresentacaoNormativaSubsidiosDecretoePortaria.pdf 82Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Decreto nº 10.839, de 18 de outubro de 2021. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação de existência de subsídios e à aplicação de medidas compensatórias. Brasília, DF: Presidência da República, 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/decreto/d10839.htm. Acesso em: 17 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2022. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). Agreement on Subsidies and Countervailing Measures. 2023. Disponível em: https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/24- scm_01_e.htm. Acesso em: 10 jan. 2023. Referências https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/24-scm_01_e.htm https://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/24-scm_01_e.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 83 Unidade 2: Aspectos Conceituais Específicos sobre Investigações de Subsídios Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você deve ser capaz de reconhecer de forma mais detalhada todos os aspectos conceituais sobre investigações de subsídios, como contribuição financeira, sustentação de rendas ou preços, concessão de contribuições financeiras, conceito de órgão público no contexto de confiança e instrução a entidades privadas, definições de benefício e benchmark, a ideia de especificidade adotada nas investigações, subsídios a montante e indiretos, subsídios recorrentes e não recorrentes e apuração do benefício. 2.1 Conceito de Subsídios O conceito de subsídios é trazido logo no 1º artigo do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, e diz respeito aos tipos de vantagem que um governo pode conceder, direta ou indiretamente. SUBSÍDIO Conceito de Subsídios. Fonte: Freepik (2022). 84Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Ele é assim definido no artigo 9º do Decreto nº 10.839, de 2021: “Art. 9º. Para fins do disposto neste Decreto, considera-se a existência de subsídio quando um benefício é conferido em função de: I - existir contribuição financeira por governo ou órgão público, no território do país exportador, doravante governo, nos casos em que: a) a prática do governo implique a transferência direta de fundos (doações, empréstimos, aportes de capital, entre outros) ou potenciais transferências diretas de fundos ou de obrigações (garantias de empréstimos, entre outros); b) as receitas públicas devidas (incentivos fiscais, entreoutros) sejam perdoadas ou deixem de ser recolhidas, não sendo consideradas como subsídios as isenções, em favor dos produtos destinados à exportação, de impostos ou de taxas habitualmente aplicados ao produto similar quando destinados ao consumo interno, nem a devolução ou a remissão de tais impostos ou taxas, desde que o valor não exceda os totais devidos, de acordo com o Artigo XVI do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio, de que trata o Decreto nº 93.962, de 22 de janeiro de 1987, e os Anexos I ao III ao Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias da Organização Mundial do Comércio; c) o governo forneça bens ou serviços além daqueles destinados à infraestrutura geral ou adquira bens; d) o governo faça pagamentos a mecanismo de financiamento para provimento de contribuição financeira, ou instrua ou confie a entidade privada o provimento de contribuição financeira mediante o desempenho da entidade de uma ou mais das hipóteses a que se referem as alíneas “a” a “c”, as quais seriam normalmente incumbência do governo, e a prática não difira, de modo significativo, das práticas habitualmente seguidas pelos governos; ou II - existir, no país exportador, qualquer forma de sustentação de renda ou de preços que, direta ou indiretamente, contribua para aumentar exportações ou reduzir importações de qualquer produto” (BRASIL, 2021). Assim, a caracterização de uma prática como subsídio depende de três elementos, conforme figura a seguir. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 85 Elementos Fundamentais dos Instrumentos de Defesa Comercial. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Nos tópicos a seguir serão detalhados conceitos relacionados à caracterização da contribuição financeira de uma entidade como governo ou órgão público e do benefício. A contribuição financeira pode se dar em um dos quatro tipos elencados na descrição e nos exemplos do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias. Acompanhe! 2.2 Caracterização da Contribuição Financeira TIPOS DE CONTRIBUIÇÃO DESCRIÇÃO E EXEMPLOS 1- Transferência direta de fundos ou potenciais transferências diretas de fundos ou de obrigações (garantias de empréstimos, entre outros) Doações, empréstimos, aportes de capital. 2- Receitas públicas devidas que sejam perdoadas ou deixem de ser recolhidas Determinado governo deixa de cobrar um tributo que normalmente é devido. Por exemplo, se o governo do país N deixar de cobrar o IVA que normalmente seria cobrado em vendas. 86Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O conceito de sustentação de rendas ou preços não está definido no Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias ou no GATT, tampouco nos casos analisados no âmbito do Órgão de Solução de Controvérsias em que a questão poderia ser tangenciada. Pouco foi esclarecido, por exemplo, no caso DS414 – China – countervailing and anti-dumping duties on grain oriented flat-rolled electrical steel from the United States – GOES. Trata-se, talvez por tais motivos, de hipótese raramente investigada. Isto posto, resta claro que a análise sobre o enquadramento de um programa como sustentação de rendas ou preços não pode ser uma análise de efeitos, pois, caso fosse assim, todo e qualquer subsídio poderia ter, teoricamente, a possibilidade de ser enquadrado como sustentação de rendas ou preços. Assim, a análise da autoridade deve ser centrada na natureza da ação governamental. Por exemplo, se o governo diretamente intervém no mercado para fixar preços em um determinado nível poderá se avaliar se a prática se enquadraria em um subsídios por meio de uma sustentação de preços. 2.3 Caracterização de Sustentação de Rendas ou Preços 3- Fornecimento ou aquisição de bens ou serviços, além daqueles destinados à infraestrutura geral ou aquisição de bens Construção de um porto ou estrada, de modo que não seja considerada infraestrutura geral, ou fornecimento/aquisição de itens de determinada empresa a preços que não são os de mercado. 4- O governo faça pagamentos a mecanismo de financiamento para provimento de contribuição financeira Mecanismo de financiamento em que a fonte dos recursos seja governamental. Sobre o caso China - GOES mencionado, segue o acesso aqui à decisão do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC, em especial os parágrafos 7.78 – 7.88. https://docs.wto.org/dol2fe/Pages/SS/directdoc.aspx?filename=Q:/WT/DS/414R.pdf&Open=True Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 87 Os temas que serão apresentados agora abordam questões fundamentais sobre investigações antissubsídios – as formas de concessão de contribuições financeiras diretas e indiretas. As contribuições financeiras referidas no Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias, conforme estudos anteriores, devem ser diretamente ou indiretamente concedidas por um governo ou órgão público. Concessão de contribuições financeiras - diretas Nas contribuições feitas diretamente por um governo se inclui o governo “em sentido amplo”, conforme denominação do Órgão de Apelação no caso DS379 – US – Anti-Dumping and Countervailing Duties (China), o que inclui o governo “em sentido estrito”, mas também “qualquer órgão público”. Sendo governo “em sentido estrito” aquele pertencente ao que se considera administração direta, considera-se também como governo o que se enquadra no conceito de órgão público, que será abordado no subtópico a seguir. Analise um exemplo hipotético de como essa contribuição poderá ocorrer na prática. Se o governo do país fictício Bordúria constrói um porto especificamente para que a empresa Vandelay Industries possa exportar seus produtos, trata-se de construção de infraestrutura não geral. Nesse caso, investigação do DECOM poderá determinar o montante da vantagem recebida pela Vandelay Industries oriunda dessa construção. Concessão de contribuições financeiras - indiretas Já a contribuição de modo indireto ocorre quando o governo “instrui ou confia” uma entidade privada a desempenhar uma das contribuições financeiras já listadas. Neste contexto, considera-se que atos de governo instruem uma entidade em situações em que o governo exerce sua autoridade sobre uma entidade privada. Deste modo, “instrução ou confiança” ocorre quando o governo outorga responsabilidade a uma entidade privada e utiliza essa entidade privada para efetuar indiretamente um dos tipos de contribuição financeira. Temos, como exemplo, o governo da fictícia Bordúria confiando ou instruindo o banco estatal Borduria Construction Bank a fornecer um empréstimo à Vandelay Industries cobrando taxas menores do que as de mercado. Neste caso, o DECOM poderá examinar se esse subsídio é acionável (passível de cobrança de direitos compensatórios). 2.4 Formas de Concessão de Contribuições Financeiras 88Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Ao examinar se o governo instrui uma entidade privada para realizar suas funções, são normalmente considerados, dentre outros, os atos de comando e outros modos formais e informais por meio dos quais governos podem exercer autoridade sobre uma entidade privada para desempenhar suas funções. Já ao examinar se o governo confia suas funções à entidade privada, são normalmente considerados, dentre outros, os atos de delegação e outros modos formais e informais por meio dos quais governos podem outorgar responsabilidade a uma entidade privada para desempenhar funções que normalmente seriam incumbência do Estado. Salienta-se, ainda, que os atos de governo de instruir ou confiar podem envolver alguma forma de ameaça, coação, indução, acordo, negociação, barganha ou outras ações que comprovem a influência governamental. O artigo 1º do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias deixa claro que a contribuição financeira deve ser oferecida pelo “governo ou órgão público” (OMC, 1994). Neste contexto, o conceito de “órgão público” não é explicitado no Acordosobre Subsídios e Medidas Compensatórias, tendo sido mais bem desenvolvido na jurisprudência da OMC, em especial no caso US – Anti-Dumping and Countervailing Duties (DS 379). Trata-se de um conceito de especial importância, ante a miríade de empresas estatais (State-Owned enterprises – SOEs) e bancos públicos que podem estar ou não envolvidas na concessão de subsídios. A caracterização de uma autoridade outorgante como órgão público depende de vários fatores, construídos na jurisprudência da OMC, e que se relacionam às características da autoridade outorgante e à sua relação com o governo. Estas caracterizações incluem objetivos, funções desempenhadas e suas estruturas societárias e gerenciais, com base nos seguintes elementos: Sobre o caso US – Anti-Dumping and Countervailing Duties (China) mencionado, veja aqui às decisões do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC. Em especial o parágrafo 10.53 do relatório do Painel e o parágrafo 450 do relatório do órgão de apelação. 2.5 Conceito de Órgão Público e de Confiança e Instrução a Entidades Privadas https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds379_e.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 89 • participação acionária do governo na autoridade outorgante; • capacidade do governo de indicar diretores e/ou outros membros gerenciais; • direito ou a prerrogativa do governo de revisar resultados financeiros e/ou comerciais da autoridade outorgante; • direito ou a prerrogativa do governo de determinar os objetivos da autoridade outorgante; • influência do governo nas decisões comerciais e/ou de investimentos da autoridade outorgante; • qualquer instrumento ou registro que demonstre concessão ou delegação de autoridade governamental para a autoridade outorgante, bem como evidências de que a autoridade outorgante está autorizada a agir em nome do governo ou representando-o; • contribuição da autoridade outorgante para a consecução de objetivos de políticas públicas ou de interesses governamentais; e • quaisquer outras evidências de controle ou influência governamental sobre a autoridade outorgante, inclusive evidências de que a entidade não age da forma como empresas ou agentes privados normalmente agiriam representando os interesses econômicos de seus sócios ou acionistas. Deste modo, não é somente pelo fato de uma empresa ser de posse do governo que qualquer ação dela será considerada como do governo para os fins de investigações antissubsídios. É preciso que a ação da empresa seja contrária aos interesses comerciais de uma empresa normal. Um banco estatal, se comprovado que em determinadas operações age em condições de mercado (ou seja, conforme agiria um banco comercial qualquer), não seria considerado um órgão público para os fins de investigações antissubsídios. Entretanto, quando este mesmo banco propõe um financiamento a taxas reduzidas e que destoam do cobrado no mercado, pode-se argumentar seu enquadramento a depender do material probatório levantado. 90Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública No caso de um alegado empréstimo governamental subsidiado, só haverá benefício caso a autoridade investigadora comprove que a taxa de juros cobrada no empréstimo por determinado banco era menor do que seria normalmente cobrado no mercado (que é considerado o benchmark nesta comparação). Por outro lado, quando se trata de uma doação de recursos não é necessário se estabelecer um benchmark, pois o montante recebido com a doação já constitui, em sua integralidade, a vantagem a ser considerada no cálculo. 2.6 Caracterização do Benefício e o Conceito de Benchmark O benefício é a vantagem obtida pela empresa que o recebeu. Já foi decidido pelo órgão de apelação no âmbito do caso Canada – Aircraft que o benefício não pode ser em abstrato, deve ter sido concretamente percebido pelo beneficiário. Assim, para apurar a existência do benefício, o DECOM normalmente examinará se a contribuição financeira representou uma vantagem ao destinatário, de modo que o destinatário obtenha situação ou condição melhor do que de outra forma teria sem a contribuição financeira ou se tivesse que recorrer ao mercado para obtê-la. Na caracterização do benefício para vários tipos de subsídios, é essencial o conceito de benchmark, que são referências de mercado adequadas. Ele é utilizado para aferir se, na comparação entre a contribuição financeira e o benchmark, o destinatário obteve um benefício ou vantagem. Benefício e benchmark. Fonte: Freepik (2022) Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 91 Para identificar o benchmark adequado, quando aplicável, o Departamento de Defesa Comercial analisará a prática habitual de mercado para determinação do benefício, considerando o momento em que foi realizada a operação, com base em expectativas de custos e retornos ex ante. Na ausência de benchmark adequado no país exportador, a autoridade pode ainda recorrer a benchmark externo (por exemplo, empréstimos em moedas estrangeiras), desde que se trate de benchmark razoável que permita uma comparação adequada. Na escolha do benchmark podem ser rejeitados preços privados domésticos no país exportador caso tais preços sejam distorcidos em função da participação predominante do governo como fornecedor no mercado. Ademais, na hipótese de contribuição financeira advinda de receitas públicas devidas perdoadas ou não recolhidas, caso necessária a identificação de benchmark para tributos diretos, será levado em consideração o tratamento tributário concedido a contribuintes em situação comparável para definição do benchmark. Isso será feito de acordo com os princípios internos do regime tributário do país investigado, de modo a identificar se o tratamento conferido à empresa investigada se configura como uma exceção às regras gerais de tributação. Existindo uma contribuição financeira feita por governo ou órgão público que traga um benefício à determinada empresa, há ainda um elemento essencial – a especificidade –, trazido no artigo 2º do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias e no art. 10 do Decreto nº 10.839, de 2021 que afirma: a especificidade não é um elemento constituinte de um subsídio, mas é uma condição necessária para que os subsídios sejam submetidos às disciplinas do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias. Deste modo, subsídios não específicos não podem ser contestados na OMC, nem a eles podem ser aplicadas medidas compensatórias. A especificidade se relaciona com a amplitude da disponibilidade de um determinado subsídio. Subsídios horizontalmente disponíveis a todas as empresas de um determinado país não são, a priori, considerados específicos. Acompanhe a seguir outros tipos de subsídios: 2.7 Conceito de Especificidade 92Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Subsídios Específicos “de direito” Existem os subsídios específicos “de direito”, nos quais por Lei há a destinação a determinadas empresas ou indústrias. Por exemplo, se determinada lei cria um subsídio destinado ao setor siderúrgico. Subsídios Específicos “de fato” Há ainda os subsídios específicos “de fato”, em que o modo como o governo exerce sua discricionariedade evidencia a limitação a determinadas empresas ou indústrias. Por exemplo, caso não haja nenhuma lei que limite determinada isenção fiscal a empresas ou indústrias, mas na prática o governo, só defira o pedido de tal isenção a determinadas empresas ou indústrias, haveria a caracterização da especificidade “de fato”. Subsídio Específico Regional Cita-se, ainda, o subsídio que é específico por ser regional – limitado a determinadas empresas localizadas dentro de região geográfica situada na jurisdição da autoridade outorgante. Por exemplo, se um governo estadual concede um subsídio a todas as empresas que estejam dentro dele, não haveria especificidade, mas se o Governo Federal concedero mesmo subsídio a todas as empresas dentro daquele estado, haveria a especificidade, pois trata-se de uma sub-região dentro da jurisdição da autoridade outorgante. Subsídios com Especificidade Presumida por Proibição Por fim há, nos termos do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias e do Decreto nº 10.839, de 2021, determinados subsídios que são considerados presumidamente específicos (subsídios com especificidade presumida por proibição), que são aqueles vinculados, de fato ou de direito, ao desempenho exportador, ou aqueles vinculados, de fato ou de direito, ao uso preferencial de produtos domésticos em detrimento de produtos estrangeiros. Tal presunção ocorre independentemente de qualquer outra análise, ou seja, mesmo um subsídio horizontalmente disponível será específico caso seja proibido. Em resumo, na avaliação por parte da autoridade investigadora acerca de um subsídio acionável, devem ser caracterizados não apenas os três elementos já vistos (contribuição financeira, benefício e a presença de um governo ou órgão público), mas também a especificidade: Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 93 Elementos para caracterização de um subsídio. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 2.8 Subsídios a Montante e Subsídios Indiretos Subsídios a montante são aqueles conferidos aos insumos utilizados na fabricação ou na produção do produto subsidiado investigado no país exportador. Por tal motivo, são também chamados de subsídios indiretos. Jusante e Montante. Fonte: Portal Diferença (2023). Tal nome vem da imagem que se tem de um rio, onde a montante é o que vem para trás. Ou seja, considerando nosso produto investigado, os subsídios a montante são aqueles que vêm em etapas anteriores da produção. Assim como em um rio, onde o que vem nas etapas anteriores, até chegar à nascente, está a montante. 94Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Esse tipo de subsídio deve conferir benefício ao produto subsidiado investigado, configurando subsídio indiretamente concedido, conforme previsto no caput do art. 2º do Decreto nº 10.839, de 2021 (BRASIL, 2021). Dessa forma, subsídios a montante serão entendidos como subsídios acionáveis (art. 108 da Portaria SECEX nº 172, de 14 de fevereiro de 2022) se: • Forem concedidos direta ou indiretamente pelo governo do país investigado; • Confiram benefício aos insumos do produto; • Tenham efeito significativo no custo, representando mais de 1% do custo do produto final (BRASIL, 2022). Segundo a prática da autoridade investigadora brasileira, somente serão investigados subsídios a montante que tenham efeito significativo no custo de produção ou de fabricação do produto subsidiado investigado. Será considerado que um subsídio a montante tenha efeitos significativos quando o valor ad valorem do subsídio ao insumo multiplicado pelo percentual do custo deste insumo corresponder a percentual de no mínimo 1% do custo de fabricação ou de produção, não incluídas nesse cálculo as despesas gerais, administrativas, de comercialização e outras despesas operacionais. Ressalte-se, ainda, que para investigar um subsídio a montante, a autoridade deve estabelecer que há o repasse do subsídio do insumo ao produto investigado. Ou seja, o simples fato de que uma empresa fornecedora de insumos receber subsídios não permite automaticamente concluir que o produto final investigado foi beneficiado pelo subsídio. A fim de avaliar se há subsídio, a autoridade deverá comprovar, por exemplo, que o preço pago pela empresa investigada ao insumo advindo da empresa que recebeu o subsídio é menor do que o preço de benchmark livre de subsídios. Para produzir aço inoxidável, a principal matéria prima é o minério de níquel. Assim, um subsídio ao minério de níquel é considerado um subsídio à montante quando se considera o produto final aço inoxidável. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 95 Somente se tal comparação evidenciar que, devido aos subsídios, o insumo foi comprado a preços diferentes dos de mercado, pode o subsídio a montante ser investigado. A exceção a tal regra foi estabelecida na jurisprudência da OMC nos casos DS257 – US – Softwood Lumber IV e DS256 – US – Softwood Lumber III, e indica que quando há empresas fornecedoras relacionadas à investigada pode ser presumido o repasse dos subsídios recebidos aos insumos. Na apuração do montante de subsídios é imprescindível avaliar-se o efeito do subsídio no tempo, pois tal avaliação determinará se um subsídio recebido tem ou não efeito no período investigado. Neste contexto existem os subsídios recorrentes e não recorrentes, definidos no art. 18 do Decreto nº 10.839, de 2021, sendo que o cálculo do montante a ser compensado para cada um desses dois tipos é diferente. Subsídios Recorrentes São relacionados à produção ou venda corrente e seus efeitos são observados imediatamente. Por esse motivo, o montante do subsídio é atribuído integralmente ao momento em que a empresa investigada aufere o benefício, sendo que subsídios recorrentes concedidos antes do período de investigação não são considerados. Por exemplo, se determinada empresa K deixa de recolher $ 1.000.000 em impostos devidos na aquisição de matéria-prima, será considerado apenas o benefício recebido naquele ano investigado, por se considerar que os efeitos daquele subsídio são observados imediatamente (BRASIL, 2021, art. 18). Subsídios Não Recorrentes São aqueles concedidos excepcionalmente ou com frequência irregular, geralmente relacionado à aquisição de ativos fixos. Assim, seus efeitos são relacionados à produção ou à venda futura e se prolongam por período maior do que aquele em que o benefício é conferido. O montante de tal tipo de subsídio é alocado ao longo dos períodos em que se observam os benefícios, sendo que, para tal, geralmente se utiliza a vida útil média de ativos observada no setor investigado. Para maiores detalhes sobre os precedentes do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC mencionados, acessar aqui: DS257 – US – Softwood Lumber IV () e DS256 – US – Softwood Lumber III aqui. 2.9 Conceito de Subsídios Recorrentes e Não Recorrentes https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds257_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds236_e.htm 96Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Na apuração do subsídio, quando este não for concedido diretamente em valor fixo por unidade do produto (por exemplo $ 2 para cada venda realizada), faz-se necessário determinar o numerador e o denominador para se apurar o subsídio recebido por unidade do produto. Numerador O numerador é o montante do benefício recebido, sendo apenas deduzidos eventuais gastos necessários para ter direito ao subsídio (por exemplo, custos de formulários, taxas etc.) e tributos que incidem sobre a exportação do produto ao Brasil. Denominador Já o denominador se relaciona às operações que são diretamente afetadas pelo subsídio. Em subsídios relacionados à exportação, será o volume exportado durante o período de investigação. Por exemplo, se há determinado subsídio que só é percebido em exportações para a América Latina, o denominador será o volume exportado para a América Latina. Se o subsídio não for relacionado à exportação, deve ser considerado o volume total de vendas (vendas internas e de exportação) durante o período de investigação. Por exemplo, se o subsídio recebido for uma doação de determinado montante de capital que beneficia toda a empresa, deve tal montante ser dividido por todas as vendas da empresa (as vendas totais serão o denominador). Tem-se ainda que se a concessão for limitada a um determinado produto, o denominador deve refletir apenas a venda desse produto. Por exemplo, na apuração de determinado montante de subsídio que somente é concedido ao produto X, a autoridade deve considerar no denominador somente as vendas daquele produto.Por exemplo, se a empresa K deixa de recolher os mesmos $ 1.000.000 da situação anterior, mas que eram devidos na aquisição de máquinas fabris, será considerado que o efeito daquele subsídio se dilui no tempo, e por isso o benefício de $ 1.000.000 será alocado pelo número de anos da vida útil média dos ativos, e apenas o montante relativo ao ano da investigação poderá ser eventualmente considerado no cálculo do direito compensatório (BRASIL, 2021, art. 18). 2.10 Apuração do Benefício – o Numerador e o Denominador do Cálculo Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 97 Se o subsídio for relacionado aos insumos, deve ser efetuado cálculo que considere proporcionalmente as operações subsidiadas. Por exemplo, se para determinado produto que utiliza o minério de ferro 60% das operações de compra de insumo são subsidiadas. O montante de subsídios será apurado com base apenas nas operações subsidiadas. Contudo, o subsídio por unidade de minério de ferro será encontrado pela razão “montante de subsídios/minério de ferro total utilizado”, diluindo, portanto, o montante de subsídios. Para o produto final (aço, por exemplo), será usado um montante de subsídio com base nessa razão, sendo o denominador o volume total de minério de ferro. Os cálculos podem ser realizados a depender do tipo de subsídio objeto da investigação. A Portaria Secex nº 172, de 14 de fevereiro de 2022, apresenta detalhamento do cálculo para os tipos mais frequentes de subsídios: Detalhamento do cálculo. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Resolução CAMEX nº 34/2018 – aplica medida compensatória definitiva, por um prazo de até 5 (cinco) anos, às importações brasileiras de produtos laminados planos, de aço ligado ou não ligado, de largura igual ou superior a 600 mm, laminados a quente, em chapas (não enrolados) de espessura inferior a 4,75 mm, ou em bobinas (em rolos) de qualquer espessura, originárias da República Popular da China, e suspende sua aplicação em razão de interesse público – disponível aqui. Ler em especial a partir da página 13 do DOU, seção 4.3.6 – dos programas acionáveis que beneficiaram as empresas cooperantes. Nessa investigação foram calculados direitos compensatórios para vários tipos de programas que frequentemente são encontrados em investigações, como os empréstimos preferenciais e programas de fornecimento de bens e serviços. https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=21/05/2018&jornal=600&pagina=1&totalArquivos=66 98Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 99 BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Portaria SECEX nº 172, de 14 de fevereiro de 2022. Dispõe sobre as informações necessárias para a elaboração de petições relativas a investigações originais, revisões e outros procedimentos previstos [...]. Brasília, DF: ME, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-secex/2022/ portaria-secex-172_2022.pdf/view. Acesso em: 26 jun. 2022. BRASIL. Decreto nº 10.839, de 18 de outubro de 2021. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação de existência de subsídios e à aplicação de medidas compensatórias. Brasília, DF: Presidência da República, 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/decreto/d10839.htm. Acesso em: 17 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. DIFERENÇA. Jusante e montante. 2023. Disponível em: https://www.diferenca.com/ jusante-e-montante/. Acesso em: 17 jan. 2023. FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2022. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC). Acordo sobre subsídios e medidas compensatórias. Marraquexe: GATT, 1994. Disponível em: https://www. gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa- comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_ cvd.pdf. Acesso em: 17 jan. 2023. Referências https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-secex/2022/portaria-secex-172_2022.pdf/view https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-secex/2022/portaria-secex-172_2022.pdf/view https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-secex/2022/portaria-secex-172_2022.pdf/view https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.diferenca.com/jusante-e-montante/ https://www.diferenca.com/jusante-e-montante/ https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf 100Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 3: Aspectos Conceituais Específicos sobre a Aplicação das Medidas Compensatórias Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você deve ser capaz de reconhecer de forma mais detalhada a aplicação de uma medida compensatória. Nesta unidade serão apresentados aspectos conceituais sobre a aplicação das medidas compensatórias. Inicialmente será feita a distinção entre os direitos compensatórios e os compromissos, em seguida será explicada a regra do menor direito (lesser duty) e sua aplicação em CVD. Será também explicado um importante conceito na aplicação das medidas compensatórias que é conhecido como duplo remédio. Por fim, serão apresentados os tipos de revisão de direitos aplicados. Nos termos do art. 3º do Decreto nº 10.839, de 2021, compete à Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) decidir sobre a aplicação de medidas compensatórias, de acordo com as recomendações contidas em parecer do DECOM. 3.1 Dos Direitos Compensatórios e dos Compromissos CAMEX. Fonte: Freepik (2022) Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 101 Neste contexto, caso o DECOM decida pela existência de subsídios, de dano à indústria doméstica e de nexo de causalidade entre ambos, poderá o DECOM recomendar a aplicação de direitos compensatórios. Entretanto, nos termos do art. 63do Decreto nº 10.839, de 2021, a investigação poderá ser suspensa sem a aplicação de medidas compensatórias provisórias ou direitos definitivos, caso ao DECOM e a CAMEX considerem eventual compromisso proposto como satisfatório para eliminar o dano à indústria doméstica, causado pelas importações do produto objeto da investigação (BRASIL, 2021). A seguir será explicado em maiores detalhes o funcionamento destes dois instrumentos. Dos Direitos Compensatórios Existem os direitos compensatórios provisórios e os direitos compensatórios definitivos, sendo o primeiro, também conhecido como medidas compensatórias provisórias, aplicados no âmbito de uma determinação preliminar positiva de existência de subsídios, de dano à indústria doméstica e de nexo de causalidade entre ambos, sendo também necessário, consoante inciso III do art. 62 do Decreto nº 10.839, de 2021, que a Câmara de Comércio Exterior julgue que as medidas compensatórias provisórias são necessárias para impedir que ocorra dano durante a investigação (BRASIL, 2021). Uma diferença importante entre as investigações antissubsídios e antidumping é que o direito compensatório provisório não é recolhido como o direito antidumping provisório, mas sim são prestadas garantias por depósito em espécie ou por fiança bancária. O direito compensatório provisório não pode ser exigido por mais de quatro meses (BRASIL, 2021, § 7º do art. 62). Com relação aos direitos compensatórios definitivos, também conhecidos simplesmente como “direitos compensatórios”, são considerados como o montante em dinheiro igual ou inferior ao montante de subsídios apurado – a hipótese de direito compensatório inferior ao montante de subsídios calculado é conhecida como menor direito, e será analisada mais adiante. Dos Compromissos Os compromissos são regulados na Seção VI do Capítulo VI do Decreto nº 10.839, de 2021 (BRASIL, 2021), e consistem em uma hipótese que permite que uma investigação antissubsídios seja suspensa sem a aplicação de medidas compensatórias provisórias ou direitos definitivos. Em comparação com o “compromisso de preços” existente em investigações antidumping, o compromisso no âmbito de investigações antissubsídios apresenta uma diferença importante, que consiste no fato de tanto o governo do país exportador quanto o próprio produtor ou exportador investigado poderem propor compromissos. No compromisso oferecido pelo governo do país exportador, deve ser o DECOM 102Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública convencida de que o governo eliminará ou limitará o subsídio de modo a eliminar o dano à indústria doméstica. O compromisso oferecido por produtores ou exportadores deve conter o compromisso de voluntariamente revisarem os preços também de modo a eliminar o dano à indústria doméstica. O direito compensatório definitivo pode ser aplicado em montante igual ou inferior ao montante de subsídios apurado. Como dito, a hipótese em que se aplica um direito compensatório inferior ao calculado é conhecida como menor direito (lesser duty, em inglês). Em linha com as autoridades investigadoras mais atuantes do mundo, e ao contrário do que ocorre em investigações antidumping, a aplicação do menor direito é meramente opcional em investigações antissubsídios, sendo a aplicação ou não do menor direito um elemento a ser avaliado no âmbito da investigação. O § 2º do art. 74 prevê ainda algumas situações em que a aplicação do menor direito é vedada: Quer saber um pouco mais sobre Direitos Compensatórios e Compromissos? Acesse aqui um material complementar do tema. 3.2 A Aplicação da Regra do Menor Direito (Lesser Duty) em CVD “I - produtores ou exportadores cujo montante de subsídios tenha sido calculado com base na melhor informação disponível ou cujo direito compensatório seja aplicado nos termos do disposto no art. 76; II - redeterminações positivas relativas ao disposto no inciso II do caput do art. 150; e III - revisões: a) por alteração das circunstâncias que envolvam apenas o cálculo do montante de subsídio; b) aceleradas; ou c) anticircunvenção, sempre que o direito compensatório em vigor tenha sido aplicado com base no montante de subsídio” (BRASIL, 2021, art. 74). https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/T0tuLadWHlyXX96Z-6.%2520Leitura%2520Complementar_%2520Dos%2520Direitos%2520Compensat%25C3%25B3rios%2520e%2520dos%2520Compromissos.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 103 3.3 Double Remedy (Duplo Remédio) A vedação ao chamado duplo remédio (conforme denominado no caso DS379 - United States — Definitive Anti-Dumping and Countervailing Duties on Certain Products from China) é tão importante que é prevista no § 2º do art. 1º do Decreto nº 8.058, de 2013, no Parágrafo 5 do Artigo VI do GATT/47 e no § 2º do art. 2º do Decreto nº 10.839, de 2021: “§ 2º Nenhum produto importado poderá estar sujeito, simultaneamente, à medida antidumping e à medida compensatória para neutralizar a mesma situação de dumping ou de subsídios à exportação” (BRASIL, 2021, art. 2º). Assim, na aplicação de direitos compensatórios deve ser considerada a existência de direitos antidumping, para que um remédio à mesma situação não seja aplicado duas vezes. Considerando um exemplo em que o preço de exportação seja igual a $ 10, e o valor normal seja igual a $ 20, teremos um direito antidumping equivalente a $ 10. Neste mesmo exemplo, a existência de um subsídio à produção (também conhecido como subsídio doméstico) não será capturada no direito antidumping, pois considera- se que subsídios domésticos diminuem igualmente tanto o preço de exportação, quanto o valor normal, por afetarem a empresa como um todo. Assim, para os subsídios à produção, a vedação ao duplo remédio não se aplica – como se verifica neste gráfico, eventual direito antidumping não capturará tal subsídio doméstico. Subsídio doméstico/à produção. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds379_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds379_e.htm 104Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Por outro lado, subsídios à exportação apenas reduzem o preço de exportação, e por isso são capturados no direito antidumping. Assim se, por exemplo, tivermos o subsídio à exportação igual a $ 4, os $ 10 de antidumping calculados já o incluem, conforme demonstrado no gráfico. Assim, caso seja aplicado um direito antidumping de $ 10 e um direito compensatório de $ 4, teremos aplicado $ 4 em excesso. Por isso deve-se, na hora da aplicação, ou reduzir o direito antidumping para $ 6 e aplicar $ 4 de direitos compensatórios, ou reduzir o direito compensatório para $ 0 e aplicar $ 10 de direitos antidumping. Há, ainda neste contexto, a problemática que surge quando da aplicação concomitante de direitos antidumping e de direitos compensatórios em países de economia que não é de mercado, o que é conhecido como pass-through. Entretanto, por se tratar de tema avançado, não será analisado neste curso. Subsídio à exportação. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Clique aqui para maiores detalhes sobre o precedente do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC sobre double remedy. 3.4 Tipos de Revisão de Direitos Aplicados Os direitos compensatórios aplicados podem ser revisados por diferentes motivos, conforme tabela abaixo: https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds379_e.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 105 TIPO DE REVISÃO BASE LEGAL - DECRETO Nº 10.839, DE 2021 DESCRIÇÃO Revisão por alteração das circunstâncias Subseção I da Seção II do Capítulo IX Decorrido no mínimo 1 ano, apura a existência de alteração significativa e duradoura que justifique a extinção ou alteração do direito em vigor. Revisão de final de período Subseção II da Seção II do Capítulo IX Decorridos 5 anos, avaliaa prorrogação do direito por igual período. Revisão acelerada Subseção I da Seção III do Capítulo IX Revisão do direito em vigor para produtor/exportador não individualmente investigado. Revisão anticircunvenção Subseção II da Seção III do Capítulo IX Investigação de práticas elisivas que frustrem medidas compensatórias aplicadas. Restituição Subseção III da Seção III do Capítulo IX Restituição de direitos recolhidos, se o montante de subsídios apurado para o período de revisão for inferior ao direito vigente. Avaliação de escopo Seção I do Capítulo X Apura se um certo produto está sujeito à medida compensatória em vigor. Redeterminação Seção II do Capítulo X Determina se a medida compensatória aplicada teve sua eficácia comprometida. Direitos compensatórios revisados. Fonte: Brasil (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 106Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Desta forma, nota-se que há várias possibilidades de revisão de direitos compensatórios, sendo importante ressaltar que ao contrário de investigações antidumping somente pode haver alteração de direito compensatório por meio de uma revisão por alteração das circunstâncias. Em uma revisão de final de período de direito compensatório, o direito apenas poderá ser prorrogado no mesmo montante ou retirado. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 107 BRASIL. Decreto nº 10.839, de 18 de outubro de 2021. Regulamenta os procedimentos administrativos relativos à investigação de existência de subsídios e à aplicação de medidas compensatórias. Brasília, DF: Presidência da República, 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/decreto/d10839.htm. Acesso em: 17 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2022. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC). Acordo sobre subsídios e medidas compensatórias. Marraquexe: GATT, 1994. Disponível em: https://www. gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa- comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_ cvd.pdf. Acesso em: 17 jan. 2023. Referências https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf 108Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 4: Aspectos Específicos de Temas Atuais e dos Resultados de Disputas da OMC Objetivo de aprendizagem A unidade 4 tratará de aspectos específicos dos resultados das disputas levadas para a OMC. Ao final desta fase de estudos, você deve ser capaz de estar a par de temas atualmente em voga no âmbito da OMC. 4.1 Subsídios Transnacionais Um tema que tem surgido nos últimos anos na seara de subsídios e medidas compensatórias diz respeito a subsídios transnacionais (transnational subsidies ou cross-border subsidies). O que seriam esses subsídios? Pode-se definir como subsídios transnacionais aqueles subsídios concedidos por um país a empresas localizadas em território de outro país. Um dos pontos de discussão é se as regras do atual ASMC poderiam ser utilizadas para investigar países que concedem tais subsídios e eventualmente aplicar medidas compensatórias contra eles. O Artigo 1 do ASMC diz que “Para os fins deste Acordo, considerar-se-á a ocorrência de subsídio quando houver contribuição financeira por um governo ou órgão público no interior do território de um Membro (denominado a partir daqui 'governo').” (OMC, 1994) A interpretação do trecho em destaque tem sido amplamente discutida nas esferas acadêmicas e técnicas pelo mundo afora. A OMC ainda não se pronunciou oficialmente a respeito. Mesmo assim, a União Europeia entende que o ASMC dá a possibilidade de investigação de subsídios transnacionais e já iniciou três grandes investigações de subsídios (casos de laminados a quente de aço inoxidável contra Indonésia e China e duas investigações sobre diferentes produtos de fibras de vidro contra Egito e China) para analisar esses subsídios. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 109 No primeiro caso, a peticionária retirou o pedido de investigação, e esta foi encerrada pela autoridade investigadora do bloco europeu. Já nos casos de produtos de fibra de vidro, a UE aplicou medidas compensatórias contra a importação de fibras de vidros originárias do Egito. Considerando o desenvolvimento da economia mundial nos últimos tempos e o surgimento de novos desafios no comércio internacional, os EUA, UE e Japão têm defendido a readequação das regras da OMC, em especial no que diz respeito às regras do ASMC. Para estes países, as regras atuais não são mais suficientes para combater práticas consideradas desleais pela organização. Que tal saber aqui um pouco mais sobre as medidas compensatórias contra a importação de fibras de vidros originárias do Egito? Para maiores detalhes sobre documentos que tratam sobre subsídios transnacionais, recomenda-se a leitura abaixo: 1- EU White Paper on levelling the playing field as regards foreign subsidies 2021. Veja aqui. 2- UE – Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho sobre subsídios estrangeiros que distorcem o mercado interno. Veja aqui. 3- UE – Caso de fibra de vidro de filamento contínuo (GFR) originária do Egito. Veja aqui. 4- UE – Caso de determinados têxteis tecidos e/ou agulhados em fibra de vidro originários da República Popular da China e do Egito. Veja aqui. 5- UE – Caso chapas e rolos de aço inoxidável laminados a quente originários da República Popular da China e da Indonésia. Veja aqui. 4.2 Discussões Trilaterais sobre Subsídios (UE, EUA e Japão) https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/6C1Ta-UQzkXj_pS4-7.%2520Leitura%2520Complementar_%2520Subs%25C3%25ADdios%2520Transnacionais.pdf https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/ALL/?uri=COM:2020:253:FIN https://ec.europa.eu/competition-policy/system/files/2021-06/foreign_subsidies_proposal_for_regulation.pdf https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32020R0870&from=EN https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32020R0776&from=ENhttps://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32020D1653&from=EN 110Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Discussões Trilaterais sobre Subsídios (UE, EUA e Japão). Fonte: Freepik (2022) Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Uma das propostas é aumentar o número de subsídios considerados proibidos pelo ASMC. Conforme o conceito de especificidade, hoje em dia o ASMC proíbe expressamente apenas 2 tipos de subsídios: De acordo com esses três atores do cenário internacional, novos subsídios proibidos deveriam ser incluídos no ASMC, tais como: 1 aqueles vinculados ao desempenho exportador; e 2 aqueles vinculados ao uso preferencial de produtos domésticos em detrimento de produtos estrangeiros. subsídios a empresas insolventes sem plano de plano de reestruturação concreto; subsídios a empresas incapazes de obter financiamento de longo prazo de fontes privadas independentes relacionadas a setores/indústrias com excesso de capacidade; subsídios que representam garantias ilimitadas e perdão de certas dívidas. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111 As discussões trilaterais entre EUA, EU e Japão também têm se estendido à inversão do ônus da prova em casos de subsídios de grande monta. Outro tema abordado pelo grupo diz respeito a subsídios que contribuem para o excesso de capacidade. Até o momento, tais discussões ainda permanecem em caráter exploratório por parte desses atores, não tendo havido criação de grupo de trabalho formal na OMC nem discussões multilaterais oficiais a respeito. Por fim, cumpre ressaltar que o Brasil não se pronunciou oficialmente a respeito das discussões mas, como de praxe, acompanha atentamente os debates sobre o tema. Que bom que você encerrou esta etapa de estudos! Chegou a hora de testar seus conhecimentos. Então, acesse o exercício avaliativo que está disponível no ambiente virtual. Boa sorte! 112Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. EUROPEAN UNION. European Commission. White Paper on levelling the playing field as regards foreign subsidies. Brussels: EC, 2020. Disponível em: https://eur-lex. europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52020DC0253&from=EN. Acesso em: 18 jan. 2023. GERSTEL, Dylan; CAPORAL, Jack. Trade Trilateral Targets China's Industrial Subsidies. [Center for Strategic & International Studies]. 2020. Disponível em: https:// www.csis.org/analysis/trade-trilateral-targets-chinas-industrial-subsidies. Acesso em: 18 jan. 2023. OFFICE OF THE UNITED STATES TRADE REPRESENTATIVE (USTR). Joint Statement by the United States, European Union and Japan at MC11. 2017. Disponível em: https://ustr.gov/about-us/policy-offices/press-office/press-releases/2017/december/ joint-statement-united-states. Acesso em: 18 jan. 2023. OFFICE OF THE UNITED STATES TRADE REPRESENTATIVE (USTR). Joint Statement of the Trilateral Meeting of the Trade Ministers of Japan, the United States and the European Union. 2020. Disponível em: https://ustr.gov/about-us/policy-offices/ press-office/press-releases/2020/january/joint-statement-trilateral-meeting-trade- ministers-japan-united-states-and-european-union. Acesso em: 18 jan. 2023. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC). Acordo sobre subsídios e medidas compensatórias. Marraquexe: GATT, 1994. Disponível em: https://www. gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa- comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_ cvd.pdf. Acesso em: 17 jan. 2023. RINALDI, Caio. UE, EUA e Japão se comprometem a combater subsídios industriais na OMC. [Valor Econômico], 14, janeiro. 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/ mundo/noticia/2020/01/14/ue-eua-e-japao-se-comprometem-a-combater-subsidios- industriais-na-omc.ghtml. Acesso em: 18 jan. 2023. Referências https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52020DC0253&from=EN https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52020DC0253&from=EN https://www.csis.org/analysis/trade-trilateral-targets-chinas-industrial-subsidies https://www.csis.org/analysis/trade-trilateral-targets-chinas-industrial-subsidies https://ustr.gov/about-us/policy-offices/press-office/press-releases/2017/december/joint-statement-united-states https://ustr.gov/about-us/policy-offices/press-office/press-releases/2017/december/joint-statement-united-states https://ustr.gov/about-us/policy-offices/press-office/press-releases/2020/january/joint-statement-trilateral-meeting-trade-ministers-japan-united-states-and-european-union https://ustr.gov/about-us/policy-offices/press-office/press-releases/2020/january/joint-statement-trilateral-meeting-trade-ministers-japan-united-states-and-european-union https://ustr.gov/about-us/policy-offices/press-office/press-releases/2020/january/joint-statement-trilateral-meeting-trade-ministers-japan-united-states-and-european-union https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_cvd.pdf https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/01/14/ue-eua-e-japao-se-comprometem-a-combater-subsidios-industriais-na-omc.ghtml https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/01/14/ue-eua-e-japao-se-comprometem-a-combater-subsidios-industriais-na-omc.ghtml https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/01/14/ue-eua-e-japao-se-comprometem-a-combater-subsidios-industriais-na-omc.ghtml Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 113 UNIÃO EUROPEIA. Comissão Europeia. Decisão de execução (UE) 2020/1653 da Comissão de 6 de novembro de 2020. Bruxelas: Jornal Oficial da União Europeia, 2020a. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/ PDF/?uri=CELEX:32020D1653&from=EN. Acesso em: 18 jan. 2023. UNIÃO EUROPEIA. Comissão Europeia. Regulamento de execução (UE) 2020/870 da comissão de 24 de junho de 2020. Bruxelas: Jornal Oficial da União Europeia, 2020b. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/ PDF/?uri=CELEX:32020D1653&from=EN. Acesso em: 18 jan. 2023. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32020D1653&from=EN https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32020D1653&from=EN https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32020D1653&from=EN https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32020D1653&from=EN114Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Módulo Investigações de Salvaguardas: Teoria e Prática4 Neste módulo 4 serão abordados elementos teóricos e práticos relacionados a investigações para aplicação de medidas de salvaguardas, sem a pretensão de exaurir o tema por completo. Esta unidade tem como objetivo apresentar uma visão geral das disciplinas e condições previstas nos Acordos da Organização Mundial de Comércio (OMC) que diz respeito à aplicação de medidas de salvaguarda, bem como apresentar os regulamentos brasileiros que disciplinam os procedimentos administrativos relativos à aplicação dessas medidas. Uma medida de salvaguarda é uma restrição temporária de importações usada para proteger uma indústria doméstica de bens similares ou diretamente concorrentes prejudicada pela concorrência estrangeira. Sob o sistema GATT/OMC, quando os países negociam concessões tarifárias recíprocas, eles se comprometem com tarifas máximas "vinculantes". Esses compromissos restringem, em grande medida, a autoridade de um formulador de políticas domésticas de aumentar unilateralmente suas tarifas em alguma data posterior. Dessa forma, as salvaguardas funcionam como “válvulas de escape” que permitem aumentos além da tarifa máxima consolidada, ou outras formas de proteção. Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Salvaguardas Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, espera-se que você identifique a legislação internacional e nacional sobre salvaguardas. 1.1 Legislação Internacional sobre Salvaguardas Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 115 A existência de mecanismos de salvaguarda pode, então, ser justificada como medida de emergência com o objetivo de prevenir ou remediar os impactos negativos nas indústrias nacionais decorrentes de um surto de importações resultante da liberalização comercial. Essas medidas podem, assim, restringir temporariamente as importações de um produto específico. São admissíveis apenas para corrigir prejuízos graves, causados ou ameaçados, à indústria nacional de um produto similar ou diretamente concorrente. As medidas de salvaguarda fornecem uma forma temporária de proteção nesses casos. No nível multilateral, o Artigo XIX do GATT e o Acordo sobre Salvaguardas fornecem a estrutura legal que rege o uso de medidas de salvaguarda entre os membros da OMC, sujeito a critérios que regem, entre outros, as condições para a aplicação de uma medida de salvaguarda, procedimentos de investigação, determinação de dano, duração e revisão das medidas e a flexibilidade a serem oferecidas aos membros que representam países em desenvolvimento. Disposições sobre salvaguardas foram incorporadas pela primeira vez no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade – GATT) em 1947 através do Artigo XIX, que tratava de ações emergenciais sobre importações de produtos específicos. As disposições gerais sobre salvaguardas contidas no Artigo XIX do GATT 1947 (incorporado ao GATT 1994 por força de seu Artigo 1(a)) foram esclarecidas e reforçadas pelo Acordo sobre Salvaguardas adotado durante a Rodada Uruguai. O Acordo sobre Salvaguardas estabelece regras mais detalhadas para a aplicação de medidas de salvaguarda (ou seja, as medidas previstas no Artigo XIX). Alguma clareza sobre a relação entre o Artigo XIX do GATT 1994 e o Acordo sobre Salvaguardas é fornecida nos Artigos 1 e 11.1(a) do Acordo sobre Salvaguardas (OMC, 1994). Assim, qualquer medida de salvaguarda imposta após a entrada em vigor dos Acordos da OMC deve cumprir as disposições tanto do Acordo sobre Salvaguardas quanto do Artigo XIX do GATT 1994, conforme já esclarecido pelo Órgão de Apelação em Korea – Dairy (WTO, 2000). O Acordo sobre Salvaguardas não derrogou o texto do Artigo XIX do GATT 1947, incorporado ao texto do GATT 1994 ao final da Rodada. 116Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Nesse sentido, além das condições previstas no Acordo sobre Salvaguardas, o Artigo XIX do GATT 1994 estabelece que o aumento das importações deve ocorrer como resultado de evolução imprevista das circunstâncias (“unforeseen developments”) e do efeito das obrigações contraídas por um Membro sob o GATT 1994, incluindo concessões tarifárias. Analise a seguir o texto de cada dispositivo que autoriza a aplicação da medida de salvaguarda, para que se possa diferenciá-los. Comparação entre o texto do Artigo XIX:1(a) do GATT 1994 e o Artigo 2.1 do Acordo sobre Salvaguardas ARTIGO XIX:1(A) DO GATT 1994 ARTIGO 2.1 DO ACORDO SOBRE SALVAGUARDAS Se, em consequência da evolução imprevista das circunstâncias e por efeito dos compromissos que uma Parte Contratante tenha contraído em virtude do presente Acordo, compreendidas as concessões tarifárias, um produto for importado no território da referida Parte Contratante em quantidade por tal forma acrescida e em tais condições que cause ou ameace causar um prejuízo grave aos produtores nacionais de produtos similares ou diretamente concorrentes, será facultado a essa Parte Contratante, na medida e durante o tempo que forem necessários para prevenir ou reparar esse prejuízo, suspender, no todo ou em parte, o compromisso assumido em relação a esse produto, ou retirar ou modificar a concessão. Um membro só poderá aplicar uma medida de salvaguarda a um produto após haver determinado, de conformidade com as disposições enunciadas abaixo, que as importações daquele produto em seu território tenham aumentado em quantidades tais, seja em termos absolutos, seja em proporção à produção nacional, e ocorram em condições tais que causam ou ameaçam causar prejuízo grave ao setor nacional que produz bens similares ou diretamente concorrentes. Cumpre ressaltar que além do uso de medidas de salvaguarda ser regulamentado em acordos multilaterais de comércio (ou seja, no âmbito da OMC), pode estar presente também em acordos regionais e bilaterais. Para maiores detalhes sobre a controvérsia Korea - Dairy mencionada na unidade, acesse aqui. https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds98_e.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 117 1.2 Legislação Nacional sobre Salvaguardas (Decreto 1.488/1995) O marco legal que regulamenta os procedimentos administrativos e estabelece as condições sob as quais as ações de salvaguarda podem ser implementadas no Brasil é o Decreto nº 1.488, de 11 de maio de 1995 (BRASIL, 1995). Por sua vez, a Portaria SECEX nº 169, de 25 de janeiro de 2022, consolidou normas específicas dos procedimentos administrativos relativos à aplicação de medidas de salvaguarda previstos pelo Decreto nº 1.488, de 11 de maio de 1995, até então amparadas nas Circulares SECEX nº 19 de 02 de abril de 1996 e nº 59, de 28 de novembro de 2001. Dessa forma, o roteiro com informações necessárias para petições, que se encontrava na Circular SECEX nº 19/1996, consta atualmente do Anexo Único da Portaria SECEX nº 169/2022. Menciona-se, ainda, a possibilidade prevista no Decreto nº 2.667, de 10 de julho de 1998, de que o Mercosul pode aplicar salvaguardas como entidade única (BRASIL, 1998), apesar de tal possibilidade nunca ter sido utilizada, em virtude da ausência de internalização pela Argentina. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! Normas específicas de salvaguardas. Fonte: Freepik (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Sobre a legislação em vigor acerca de salvaguardas, recomenda-se aqui a leitura do #SDCOMMecum. https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/copy2_of_SDCOMMECUM_VERSOFINAL.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/copy2_of_SDCOMMECUM_VERSOFINAL.pdf118Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública BRASIL. Decreto nº 1.488, de 11 de maio de 1995. Regulamenta as normas que disciplinam os procedimentos administrativos relativos à aplicação de medidas de salvaguarda. Brasília, DF: Presidência da República, 1995. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1995/d1488.htm. Acesso em: 18 jan. 2023. BRASIL. Decreto nº 2.667, de 10 de julho de 1998. Dispõe sobre a execução do Décimo Nono Protocolo Adicional ao Acordo de Complementação Econômica n º 18, entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, de 17 de dezembro de 1997. Brasília, DF: Presidência da República, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/D2667.htm. Acesso em: 18 jan. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Secretaria de Comércio Exterior. Subsecretaria de Defesa Comercial e Interesse Público. Guia externo de investigações antidumping [recurso eletrônico] 3ª ed. Brasília, DF: SDCOM, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/ assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/ guia-ad-consolidado-final.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023. FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2022. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC). Acordo sobre salvaguardas. Marraquexe: GATT, 1994. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf. Acesso em: 18 jan. 2023. PERES, Ana Carolina Meneghetti. Salvaguardas no Sistema multilateral de comércio. In: HEES, F.; Valle, M. (Org.). Dumping, subsídios e salvaguardas: revisitando aspectos técnicos dos instrumentos de defesa comercial. 1ª ed. São Paulo: Editora Singular, 2012, v. 1. p. 171-200. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). DS98: Korea — Definitive Safeguard Measure on Imports of Certain Dairy Products. 2000. Disponível em: https://www.wto.org/ english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds98_e.htm. Acesso em: 18 jan. 2023. Referências https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1995/d1488.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1995/d1488.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2667.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2667.htm https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/guias/guia-ad-consolidado-final.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds98_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds98_e.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 119 Unidade 2: Condições para Aplicação de Salvaguarda Global Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade, você estará apto(a) a reconhecer os aspectos materiais sobre investigações de salvaguardas globais. 2.1 Das Condições de Aplicação das Medidas de Salvaguarda Global A investigação deve satisfazer alguns requisitos de ordem material, nela devendo-se demonstrar que ocorre um aumento das importações e que este aumento é responsável pelo prejuízo grave que atinge ou ameaça atingir a indústria nacional do país importador. Como ensina Leite (2021), em razão do pronunciamento do Órgão de Solução de Controvérsias, para que uma medida de salvaguarda esteja em conformidade com as regras multilaterais de comércio, ela deve cumprir tanto as disposições do Acordo de Salvaguardas quanto as do art. XIX do GATT 1994. Salvaguardas comerciais em Defesa Comercial. Fonte: Leite (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). 120Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O Acordo sobre Salvaguardas, em seu Artigo 2.1, apresenta apenas três elementos necessários para a aplicação da medida de salvaguarda: Uma medida de salvaguarda só poderá ser aplicada a um produto quando um membro houver determinado que as importações daquele produto em seu território tenham aumentado em quantidades tais – seja em termos absolutos, seja em proporção à produção nacional – e ocorram em condições tais que causam ou ameaçam causar prejuízo grave ao setor nacional que produz bens similares ou diretamente concorrentes. O Órgão de Apelação, no caso DS121: Argentina – Footwear, concluiu, com respeito ao requisito de aumento das importações, que a determinação a respeito de “importações ‘em tais quantidades aumentadas’” não deve ser meramente matemática ou técnica. Ou seja, não basta uma investigação mostrar simplesmente que as importações do produto neste ano foram superiores às do ano passado – ou de cinco anos atrás. O Órgão de Apelação, na mesma disputa, também concordou com o Painel no sentido de que era necessário considerar as tendências intervenientes ao longo do período de investigação, ao invés de apenas comparar os pontos finais. 1 o aumento significativo das importações; 2 o prejuízo grave ou a ameaça de sua ocorrência; e 3 nexo de causalidade entre esses elementos (OMC, 1994). Em vez disso, "deve haver 'quantidades aumentadas' que causem ou ameacem causar sérios prejuízos à indústria doméstica para cumprir esse requisito de aplicação de uma medida de salvaguarda. E essa redação tanto no Artigo 2.1 do Acordo sobre Salvaguardas quanto no XIX:1(a) do GATT 1994, exige que o aumento nas importações tenha sido recente o suficiente, repentino o suficiente, acentuado o suficiente e significativo o suficiente, tanto quantitativa quanto qualitativamente, para causar ou ameaçar causar 'prejuízo grave'." (WTO, 1999). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 121 O texto do Acordo de Salvaguardas estabelece que as salvaguardas podem ser utilizadas quando houver um aumento nas importações, seja absoluto ou relativo à produção doméstica, que esteja causando ou ameace causar prejuízo à indústria doméstica produtora do produto similar ou diretamente concorrente com importado. No entanto, vários relatórios de Órgãos de Apelação da OMC deixaram claro outro requisito para salvaguardas que estava presente no Artigo XIX, mas que foi essencialmente ignorado entre 1947 e 1999. Este estabelece que as salvaguardas podem ser usadas apenas em resposta a "desenvolvimentos imprevistos". “[o Artigo XIX:1(a) do GATT 1994 e o Artigo 2.1 [do Acordo sobre Salvaguardas (“SA”)] não falam apenas de um 'aumento' nas importações. Em vez disso, contêm requisitos específicos no que diz respeito à natureza quantitativa e qualitativa do aumento das importações do produto em causa. Tanto o Artigo XIX:1(a) do GATT 1994 quanto o Artigo 2.1 do SA exigem que um produto esteja sendo importado para o território do membro em questão em quantidades tão elevadas (absolutas ou relativas à produção doméstica) que causem ou ameacem danos graves. Assim, não basta qualquer aumento nas importações. Em vez disso, a conclusão do Órgão de Apelação em Argentina - Footwear (EC) Safeguard foi, portanto, a de que o aumentodeve ser suficientemente recente, repentino, acentuado e significativo, tanto quantitativa quanto qualitativamente, para causar ou ameaçar causar prejuízo grave” (THORSTENSEN; OLIVEIRA, 2013). Para maiores detalhes sobre os precedentes da OMC, acesse aqui. 2.2 Evolução Não Prevista das Circunstâncias (Unforeseen Developments) Posteriormente, como ensinam Thorstensen e Oliveira, o Painel em US - Wheat Gluten, ecoando as conclusões do Órgão de Apelação em Argentina - Footwear, interpretou a frase “em tais quantidades aumentadas” da seguinte forma: https://ccgi.fgv.br/sites/ccgi.fgv.br/files/file/Publicacoes/12%20Acordo%20sobre%20Salvaguardas.pdf 122Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Mas, o que isso quer dizer? O Artigo XIX:1(a) do GATT estabelece que um membro da OMC pode impor uma medida de salvaguarda se, como resultado de acontecimentos imprevistos e do efeito de obrigações contraídas no âmbito daquele Acordo, incluindo concessões tarifárias, um produto for importado em quantidades e sob condições tais que cause ou ameace causar prejuízo grave aos produtores nacionais de produtos similares ou diretamente concorrentes (GATT, 1947). Nos casos Korea – Dairy e Argentina – Footwear, o Órgão de Apelação reverteu a decisão dos painéis e esclareceu que a evolução imprevista das circunstâncias (“unforeseen developments”) deve ser interpretada como a ocorrência de acontecimentos novos após a negociação da concessão tarifária relevante, os quais não seria razoável supor que poderiam ser previstos pelos negociadores do país que fez a concessão ao tempo em que a negociação foi feita. Piérola (2014) nota que o GATT 1994 põe especial ênfase às concessões tarifárias no rol de compromissos assumidos, sendo os compromissos o marco de comparação para estabelecimento das expectativas dos países relacionadas à evolução futuras das importações. Em termos de cumprimento das condições para a aplicação de uma salvaguarda, o membro deveria demonstrar que os acordos pactuados na negociação (em especial a concessão tarifária), associados a um evento não previsto, levaram a um aumento das importações e este, por sua vez, causou ou ameaça causar prejuízo grave. Condições de aplicação das salvaguardas — artigo XIX do GATT 1994. Fonte: Leite (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). Para maiores detalhes sobre os precedentes da OMC sobre o tema, acesse: • Korea – Dairy aqui. • Argentina – Footwear aqui. • US – Wheat Gluten aqui. https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds98_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds121_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds166_e.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 123 Considerando-se que medidas de salvaguardas devem ser adotadas em situações de emergência, o padrão de dano é mais elevado que aquele a ser adotado ao analisar uma medida antidumping ou medida compensatória. De acordo com o artigo XIX do GATT, os membros estão autorizados a aplicar uma salvaguarda global se um produto estiver sendo importado "em quantidades tão elevadas e sob tais condições que causem ou ameacem prejuízos graves" (GATT, 1947) a produtores domésticos de produtos similares ou diretamente concorrentes. Na avaliação do estado da indústria doméstica, o artigo 4.2(a) determina quais são os critérios que devem ser examinados para se determinar se o aumento das importações tem causado ou ameaça causar prejuízo grave. Há uma lista mínima de fatores que precisam ser analisados pela autoridade investigadora quando de sua determinação sobre a existência de prejuízo grave ou de sua ameaça. O Acordo sobre Salvaguardas determina que as autoridades competentes avaliem todos os fatores relevantes de caráter objetivo e quantificável que tenham relação com a situação daquela indústria, especialmente: • o ritmo de crescimento das importações do produto considerado; • crescimento em volume, em termos absolutos e relativos; • a parcela do mercado interno absorvida pelas importações em acréscimo; • as alterações no nível de vendas; • a produção; 2.3 Prejuízo Grave ou Ameaça de sua Ocorrência O Acordo sobre Salvaguardas define, em seu artigo 4.1, “prejuízo grave” com a deterioração geral significativa da situação de uma indústria doméstica, e a “ameaça de prejuízo grave” como o prejuízo grave que seja claramente iminente (OMC, 1994). Para a determinação da existência de prejuízo grave ou de ameaça de prejuízo grave, a autoridade deve se basear em fatos e não simplesmente em alegações, conjecturas ou possibilidades remotas, e conduzir uma análise objetiva. 124Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública • a produtividade; • a utilização da capacidade; • os lucros e perdas; e • o nível de emprego. De acordo com Leite (2022), apesar de o grau de severidade exigido pelo Acordo sobre Salvaguardas para determinar a deterioração da situação da indústria doméstica ser superior àquele exigido pelo Acordo Antidumping, uma vez que as salvaguardas são aplicadas em situação de comércio leal, paradoxalmente, o Acordo sobre Salvaguardas exige uma avaliação menos detalhada do estado da indústria, uma vez que diversos indicadores para avaliação de dano presentes no Acordo Antidumping não estão presentes no Acordo sobre Salvaguardas. 2.4 Causalidade Não basta que se comprove ter havido aumento das importações em razão da evolução imprevista das circunstâncias e dos compromissos assumidos no âmbito do GATT e que, paralelamente, a indústria nacional esteja sofrendo, ou ameaçada de sofrer, um prejuízo grave. É fundamental que as autoridades competentes pela investigação demonstrem que esse prejuízo está ocorrendo em virtude do aumento das importações, conforme as disposições do Artigo 4.2(b) do Acordo. Causalidade. Fonte: Freepik (2022). Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 125 Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! Segundo a jurisprudência da OMC, isso não quer dizer que as importações devam ser o único fator causal presente em uma situação de prejuízo grave. Pode haver múltiplos fatores presentes em uma situação de prejuízo grave a uma indústria nacional. No entanto, o aumento das importações deve ser suficiente, por si só, para causar um prejuízo que atinja o nível de prejuízo grave estipulado pelo Acordo sobre Salvaguardas. O Artigo 4.2(b), por sua vez, declara expressamente que o prejuízo causado à indústria doméstica por outros fatores que não o aumento das importações “não deve ser atribuído ao aumento das importações” (OMC, 1994). Em uma situação em que vários fatores estão causando prejuízo “ao mesmo tempo”, uma determinação final sobre os efeitos prejudiciais causados pelo aumento das importações só pode ser feita se os efeitos prejudiciais causados por todos os diferentes fatores causais forem distinguidos e separados. Para maiores detalhes sobre os precedentes do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC acesse: S-Wheat Gluten aqui. US Lamb aqui. https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds166_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds177_e.htm 126Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2022. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. GATT. Acordo geral sobre tarifas aduaneiras e comércio 1947. Genebra: GATT, 1947. LEITE, Victor. Salvaguardas comerciais em defesa comercial: uma mudança no perfil de aplicação? 2022. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2022. Disponível em: https://repositorio. unb.br/handle/10482/44112. Acesso em: 18 jan. 2023. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC). Acordo sobre salvaguardas. Marraquexe: GATT, 1994. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf. Acesso em: 18 jan. 2023. PIÉROLA, Fernando. The Challenge of Safeguards in the WTO. In: The Challenge of Safeguards in the WTO. Cambridge: Cambridge University Press, 2014 . THORSTENSEN, Vera; OLIVEIRA, Luciana M. de. (Coordenadoras). Releitura dos acordos da OMC: como interpretados pelo Órgão de Apelação. São Paulo: VT Assessoria Consultoria e Treinamento, 2013. 3500 p. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). DS121: Argentina — Safeguard Measures on Imports of Footwear. 2000. Disponível em: https://www.wto.org/english/tratop_e/ dispu_e/cases_e/ds121_e.htm. Acesso em: 18 jan. 2023. Referências https://repositorio.unb.br/handle/10482/44112 https://repositorio.unb.br/handle/10482/44112 https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds121_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds121_e.htm Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 127 Unidade 3: Aspectos Procedimentais sobre Salvaguardas Globais Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você estará apto(a) a compreender os aspectos procedimentais sobre investigações de salvaguardas globais. O Acordo sobre Salvaguardas foi negociado em grande parte porque as Partes Contratantes do GATT vinham aplicando cada vez mais uma variedade de medidas da chamada "área cinzenta" (como restrições voluntárias bilaterais à exportação e acordos de preços mínimos) para limitar as importações de certos produtos. Essas medidas não eram impostas de acordo com as regras previstas pelo artigo XIX e, portanto, não estavam sujeitas à disciplina multilateral por meio do GATT. O Acordo passou a proibir claramente tais medidas e a apresentar disposições específicas para eliminar aquelas que estavam valendo no momento em que o Acordo da OMC entrou em vigor. 3.1 Aspectos Procedimentais Mínimos Durante as Investigações de Salvaguardas Globais O Acordo sobre Salvaguardas da OMC estabelece procedimentos claros para a aplicação de medidas de salvaguarda. O parágrafo 1º do artigo 3º do Acordo sobre Salvaguardas estipula que um membro pode aplicar uma medida de salvaguarda somente após uma investigação por suas autoridades competentes, de acordo com procedimentos previamente estabelecidos e tornados públicos em consonância com o artigo X do GATT 1994 (OMC, 1994). 128Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Novas medidas de salvaguarda só podem ser aplicadas após uma investigação conduzida pelas autoridades competentes de acordo com procedimentos previamente publicados. Embora o Acordo não contenha requisitos procedimentais detalhados, ele exige um aviso público razoável da investigação e que as partes interessadas (importadores, exportadores, produtores etc.) tenham a oportunidade de apresentar suas opiniões e responder às opiniões de outros. Entre os tópicos sobre os quais as partes devem ter a faculdade de opinar está se uma medida de salvaguarda seria ou não de interesse público. As autoridades competentes são obrigadas a publicar um relatório apresentando e explicando suas conclusões sobre todas as questões pertinentes, incluindo uma demonstração da relevância dos fatores examinados. Uma investigação de salvaguarda envolve várias etapas, a primeira delas é o início de uma investigação de salvaguarda. Em princípio, a investigação é iniciada após o recebimento de um pedido dos produtores nacionais para a imposição de medidas de salvaguarda. No entanto, uma investigação de salvaguarda também pode ser iniciada pelas autoridades investigadoras. Em Argentina - Footwear, o Órgão de Apelação manteve o raciocínio do Painel de que há um "paralelismo implícito entre o escopo de uma investigação de salvaguarda e o escopo da aplicação de medidas de salvaguarda" (WTO, 2000). Assim, se os volumes de importações de todas as origens forem considerados para mensuração do prejuízo grave da indústria doméstica durante a investigação, a medida de salvaguarda deve ser aplicada às importações de todas as origens, incluindo parceiros de acordos de livre comércio. A razão do uso do paralelismo é impedir a aplicação de uma medida de salvaguarda a determinados países, quando o impacto negativo à indústria doméstica for atribuível às importações que estarão isentas da medida. Pontua-se, nesse contexto, que importações de países excluídos do escopo da medida por pertencerem a uma mesma área de livre comércio ou união aduaneira do membro importador devem ser analisadas como outro fator de prejuízo grave, no âmbito da análise de não atribuição, conforme relatório do Órgão de Apelação no caso US - Steel Safeguards (§§ 450 a 452). O Órgão de Apelação forneceu mais orientações em US - Wheat Gluten ao decidir que se houvesse alguma lacuna entre as importações cobertas pela investigação e as importações abrangidas pelo escopo da medida (ou seja, importações de parceiros da área de livre comércio incluídas na investigação, mas excluídas da aplicação da 3.2 Paralelismo entre Escopo da Investigação e da Aplicação da Medida de Salvaguarda Global Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 129 3.3 Formas de Aplicação da Salvaguarda Global e Ajuste da Indústria Doméstica uma salvaguarda global), tal só poderá ser justificado se as autoridades competentes "estabelecerem explicitamente" que as importações provenientes de fontes abrangidas pela medida satisfazem as condições para a aplicação da medida de salvaguarda. Importante ressaltar que o princípio do paralelismo não se aplica à exclusão de países em desenvolvimento do escopo da medida, com base no artigo 9.1 do Acordo. Ou seja, não ainda que esses países sejam excluídos do alcance da medida, suas importações não devem ser excluídas na análise de aumento das importações e prejuízo grave nem constituir um outro fator de prejuízo grave para fins de não atribuição. Relatório do Painel no caso Dominican Republic - Safeguard Measures (§§ 7.377 e 7.385 a 7.386). Conforme artigo 5.1 do Acordo sobre Salvaguardas, o membro deve escolher a medida mais apropriada ao atingimento dos seus objetivos de se salvaguardar em face das importações. Medidas de salvaguarda definitivas mais frequentemente tomam a forma de direito adicional sobre a tarifa de importação que incide sobre tal produto, por alíquota ad valorem, específica, uma combinação de ambas ou restrições quantitativas, com estabelecimento de um limite (quotas) à quantidade de produtos importados, representando uma limitação direta de acesso ao mercado importador. Para maiores detalhes sobre os precedentes da OMC sobre o tema, acesse: • Argentina – Footwear aqui. • Dominican Republic - Safeguard Measures aqui • US – Wheat Gluten aqui. Formas de aplicação de salvaguarda global. Elaboração: CEPED/UFSC (2023). https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds121_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds417_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds166_e.htm 130Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O artigo 5 do Acordo sobre Salvaguardas disciplina ainda que salvaguardas somente serão aplicadas na proporção necessária para prevenir ou remediar prejuízo grave e facilitar o ajustamento da indústria doméstica. O ajustamento é elemento decorrente da temporariedade da permissão dos acordos multilateraispara aplicação de uma salvaguarda. As medidas de salvaguarda possuem prazo máximo de vigência, de forma que os compromissos de ajustamento se coadunam com a responsabilidade pela limitação à livre concorrência. A indústria doméstica poderá ser temporariamente protegida, em desfavor da livre concorrência, sendo ainda possível que seja apresentado um plano de ajuste que sirva ao aumento de produtividade e de eficiência do setor protegido, para que a indústria se torne capaz de se sustentar em um ambiente de livre concorrência. As salvaguardas são um instrumento de proteção da indústria doméstica que objetivam um aprimoramento da indústria nacional. Consiste não apenas em um período em que as condições de concorrência são modificadas em favor da indústria nacional para permitir sua recuperação, mas um período de verdadeira preparação dessa indústria para que conquiste uma dinamização estrutural que permita sua inserção num ambiente de livre concorrência. Destaque-se que medidas de salvaguarda provisórias, especificamente, deverão necessariamente ser adotadas sob a forma de elevação tarifária. Quando da aplicação pelo Brasil da medida de salvaguarda ao coco seco, por exemplo, exigiu-se a apresentação de um plano de ajuste que consistiu na recuperação e na renovação de coqueirais, implicando aumento de produtividade, e a capacitação em tecnologia da produção e gerência de produtores, trabalhadores rurais e profissionais que prestavam assistência técnica ao agronegócio do coco. Para avaliar o plano de ajuste, foi constituído um grupo de trabalho interministerial, responsável por analisar o plano do ponto de vista técnico e econômico. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 131 A limitação temporal de vigência de uma medida de salvaguarda é uma inovação do Acordo sobre Salvaguardas com relação ao sistema previsto no GATT 1947, cujo propósito é estruturar o ajustamento à proteção à indústria doméstica. Dessa forma, o artigo 5 do Acordo sobre Salvaguardas prevê que as medidas devem ser aplicadas na proporção necessária para prevenir ou remediar prejuízo grave e deve buscar facilitar o ajustamento. As medidas possuem caráter temporário e objetivam que a indústria doméstica adquira ou recupere as condições de exposição ao ambiente de concorrência internacional. 3.4 Limites Temporais de Vigência de uma Salvaguarda Global e Liberalização Progressiva Indústria doméstica. Fonte: Freepik (2022). As medidas possuem o propósito de proteger a indústria doméstica mediante a redução do ritmo de liberalização comercial e de facilitar o ajuste da indústria. Para refletir o caráter temporário da salvaguarda, vários são os dispositivos que buscam implementar as limitações de duração da medida e que buscam garantir a reexposição do mercado do país importador ao comércio internacional. 132Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A duração de uma medida de salvaguarda é de até quatro anos (prorrogáveis no máximo por mais seis anos), sendo sua aplicação progressivamente liberalizada a partir do fim do primeiro ano e condicionada a um compromisso de adoção de política de ajuste por parte da indústria doméstica. O período total de aplicação das salvaguardas, incluindo o período de aplicação de qualquer medida provisória, não deve exceder oito anos, salvo no caso de o país importador ser considerado em desenvolvimento, situação na qual a duração total poderá alcançar até dez anos. Destaca-se que, para ocorrer a prorrogação, além de se determinar que a medida continua a ser necessária, deve-se fazer prova do ajustamento (OMC, 1994, artigo 7.2). Para as salvaguardas em que o prazo de duração for superior a um ano, deve-se ainda estipular um cronograma de liberalização progressiva, segundo o art. 7.4 do Acordo (OMC, 1994). O artigo 7.4 determinou a liberalização progressiva das medidas, de maneira que salvaguardas que duram mais de 1 ano devem ser liberalizadas a intervalos regulares. Quando a medida exceder 3 anos, é necessária uma revisão de meio de período para considerar se a medida pode ser suspensa ou se o ritmo de liberalização pode ser acelerado, além de os demais Membros serem autorizados a exercer seus direitos de compensação e retaliação, nos termos do artigo 8.3 (OMC, 1994). Por sua vez, para medida de salvaguarda aplicada na forma de restrição quantitativa, o art. 5.1 estabelece que tal medida não poderá reduzir a quantidade das importações abaixo do nível médio verificado nos últimos três anos representativos para os quais estejam disponíveis estatísticas (OMC, 1994). Em casos críticos, uma medida de salvaguardas provisória pode ser aplicada nos termos do artigo 6, com base em uma determinação preliminar de prejuízo grave (OMC, 1994). A duração dessa medida provisória é limitada a 200 dias e sua forma deverá ser necessariamente a de elevação tarifária. Veja mais aqui acerca do que tratam o art 7.3 e o 7.5 do Acordo sobre Salvaguardas. https://articulateusercontent.com/rise/courses/Gy93YxPB3HXgNbJFjvbi1IJKx8YmVZy2/WNw6Y87vxMr9UC31-8.%2520Leitura%2520Complementar_%2520Limites%2520Temporais%2520de%2520Vig%25C3%25AAncia%2520de%2520uma%2520Salvaguarda%2520Global%2520e%2520Liberaliza%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520Progressiva.pdf Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 133 3.5 Desdobramentos da Aplicação da Salvaguarda Global: Compensações e Retaliações (Suspensão de Concessões) Desdobramentos da aplicação da salvaguarda. Fonte: Leite (2022). Elaboração: CEPED/UFSC (2023). As medidas de salvaguarda implicam a suspensão ou a modificação de concessões ofertadas pelos membros da OMC quando das negociações para o estabelecimento da organização. Quando se avalia o efeito da aplicação da medida de salvaguarda nos fluxos bilaterais entre o país importador (aplicador da salvaguarda) e os países exportadores, observa-se uma diminuição do fluxo comercial em desfavor dos países exportadores. Os mecanismos do Acordo sobre Salvaguardas buscam restabelecer o equilíbrio seja por meio da oferta de novas concessões pelo país aplicador da salvaguarda aos países afetados (compensações), seja pela suspensão de concessões ou outras obrigações assumidas no âmbito do GATT pelos países afetados ao país que aplicou a salvaguarda (retaliações). Segundo o artigo 8.1 do Acordo sobre Salvaguardas, o membro que propuser aplicar ou prorrogar uma medida de salvaguarda deve procurar manter um nível de concessões e de outras obrigações substancialmente equivalentes ao existente nos termos do GATT 1994 entre ele e os membros afetados pela medida. Caso não seja possível alcançar uma forma mutuamente acordada para determinar as compensações ao país afetado, este poderá exercer o direito de suspender concessões ao membro que aplicou a salvaguarda (retaliações). Sobre as compensações, uma vez que a salvaguarda visa a limitar fluxo de comércio não eivado por prática desleal, o Acordo sobre Salvaguardas dispõe que o membro que se proponha a aplicar ou estender uma medida dessa natureza deve oferecer compensações aos membros por ela afetados, equivalentes às concessões que foram suspensas como efeito da salvaguarda. Para tanto, anteriormente à sua aplicação ou prorrogação, o país importador deve oferecer oportunidades adequadas para consultas com os membros afetados. 134Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Acerca das retaliações, caso o país importador e os membros afetados pela medida não alcancem um acordo num prazo de 30 dias, durantes as consultas prévias, esses membros poderão retaliar o país importador, por meio da suspensão de concessões ou outras obrigações assumidas por meio do GATT, em nível equivalente à medida de salvaguarda aplicada. No entanto, algumas regras devem ser observadas. Primeiramente, o membro afetado deverá notificar o Conselho para o Comércio de Bens da OMC e, apenas após 30 dias do recebimento dessa notificação, poderá ter início a retaliação(desde que o Conselho não desaprove a retaliação notificada). Além disso, a retaliação deve ser iniciada em até 90 dias após a imposição da medida de salvaguarda. Por fim, como exceção à última regra mencionada, tem-se que, caso a medida de salvaguarda tenha sido aplicada como resultado de um aumento absoluto das importações e em conformidade com o Acordo sobre Salvaguardas, o direito de retaliação somente poderá ser exercido após três anos de aplicação da medida. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 135 FREEPIK COMPANY. [Banco de Imagens]. Freepik, Málaga, 2022. Disponível em: https://www.freepik.com/. Acesso em: 27 out. 2022. GADELHA, Zahra Faheina; LEITE, Victor de Oliveira. Salvaguardas como medida de proteção e exposição à concorrência: do interesse público na defesa comercial e na defesa da concorrência. In: ATHAYDE, Amanda et al. (orgs.). Novas fronteiras na interface entre Comércio Internacional e Defesa da Concorrência. V. I. Brasília, DF: UnB, 2018. LEITE, Victor. Salvaguardas comerciais em defesa comercial: uma mudança no perfil de aplicação? 2022. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2022. Disponível em: https://repositorio. unb.br/handle/10482/44112. Acesso em: 18 jan. 2023. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC). Acordo sobre salvaguardas. Marraquexe: GATT, 1994. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf. Acesso em: 18 jan. 2023. WORLD TRADE ORGANIZATION (WTO). DS121: Argentina — Safeguard Measures on Imports of Footwear. 2000. Disponível em: https://www.wto.org/english/tratop_e/ dispu_e/cases_e/ds121_e.htm. Acesso em: 18 jan. 2023. Referências https://repositorio.unb.br/handle/10482/44112 https://repositorio.unb.br/handle/10482/44112 https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds121_e.htm https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds121_e.htm 136Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Unidade 4: Especificidades sobre Salvaguardas Preferenciais Objetivo de aprendizagem Ao final desta unidade você estará apto(a) a reconhecer as disciplinas referentes a salvaguardas preferenciais. 4.1 Salvaguardas em Acordos Preferenciais de Comércio Em princípio, uma medida de salvaguarda global deve ser aplicada de forma não discriminatória, uma vez que o artigo 2.2 do Acordo sobre Salvaguardas esclarece ainda que "as medidas de salvaguarda devem ser aplicadas a um produto importado, independentemente de sua origem" (OMC, 1994). As medidas de salvaguarda globais são específicas com relação ao produto e precisam ser aplicadas em base erga omnes portanto, sem distinção entre os países membros da OMC. Acerca dos acordos preferenciais de comércio, o artigo § 8 do Artigo XXIV do GATT, ao caracterizar áreas de livre comércio e uniões aduaneiras, menciona quais restrições poderiam ser mantidas no comércio interno, dentre as quais não se incluem as medidas de salvaguarda. Em virtude disso, alguns países, ao aplicarem medidas, excluem os parceiros que fazem parte da mesma área de livre comércio ou união aduaneira, sendo que o DSB nunca se posicionou acerca de tal comportamento. Destaca-se que a nota de rodapé 1 do Acordo sobre Salvaguardas não traz solução sobre a interpretação conjunta desses dispositivos: "nada neste Acordo prejudica a interpretação da relação entre o Artigo XIX e o parágrafo 8 do Artigo XXIV do GATT 1994 " (tradução nossa). Neste contexto, as disposições de salvaguarda contidas em acordos preferenciais de comércio preveem tratamento discriminatório em dois casos: 1 ao impor ações de salvaguarda apenas a parceiros comerciais; e 2 ao excluir países parceiros das ações globais de salvaguarda. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 137 A maioria dos acordos de livre comércio – ALCs (Free Trade Agreements – FTAs) celebrados nos últimos anos oferece mecanismos de salvaguarda, uma vez que as salvaguardas bilaterais representam mecanismos para lidar com os efeitos das iniciativas de liberalização comercial sob o acordo aplicável, agindo como uma forma de seguro contra uma mudança inesperada no ambiente econômico, uma vez que mitiga as consequências adversas de um aumento inesperado das importações. As salvaguardas bilaterais compartilham os mesmos ou similares fundamentos para a invocação do mecanismo de salvaguarda global, mas apenas abordam os efeitos de preferenciais de livre comércio bilaterais ou regionais e são, portanto, aplicáveis apenas entre as partes contratantes de tais acordos. Embora existam algumas diferenças sistemáticas entre as salvaguardas bilaterais ou regionais e globais, disposições semelhantes às encontradas no direito da OMC estão incluídas nos acordos comerciais. Muitos dos acordos incluem exatamente as disposições do Acordo da OMC sobre Salvaguardas, enquanto vários outros fazem referência direta ao procedimento e às obrigações contidas nas regras da OMC. 4.2 Disposições sobre Salvaguardas Globais em Acordos Preferenciais de Comércio Vários acordos de livre comércio, particularmente aqueles anteriores à OMC, contêm uma cláusula geral de salvaguardas que não faz distinção clara entre as regras aplicáveis às salvaguardas globais e aquelas que se aplicam com efeito exclusivamente entre as partes do acordo. Especificamente no caso de acordos de livre comércio ou que prevejam um nível maior de integração (como a formação de união aduaneira), é comum que se preveja que as importações do parceiro podem ser excluídas de uma ação de salvaguarda global, o que é sujeito a certos critérios. Na maioria dos casos a condição para a exclusão do(s) parceiro(s) é "se tais importações não forem uma causa substancial de lesão grave ou ameaça de lesão". Outros acordos de livre comércio estabelecem que as importações do parceiro devem ser excluídas de uma ação de salvaguarda global, se determinados critérios forem atendidos. A formulação encontrada com mais frequência é "a menos que tais importações representem uma 'parte substancial' do total de importações" e tais importações "contribuam de maneira importante para o prejuízo grave ou ameaça de prejuízo grave". 138Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 4.3 Disposições sobre Salvaguardas Preferenciais em Acordos Preferenciais de Comércio A salvaguarda bilateral é aplicada no âmbito de um acordo comercial e suas disposições estão contidas, em geral, em seção específica sobre o assunto em cada acordo, caso haja a previsão de aplicação. Nesse sentido, a medida poderá ser aplicada após a constatação de um aumento das importações de produtos objeto de preferência tarifária, originários de país signatário do acordo, quando tais importações tenham causado ou ameacem causar prejuízo grave à indústria doméstica do país importador. A aplicação de salvaguarda bilateral costuma se dar de duas formas. A primeira delas diz respeito ao congelamento do cronograma de desgravação para determinado produto objeto do acordo comercial. Por exemplo, se até o momento da aplicação da medida o bem desfruta de uma preferência tarifária de 50% sobre a tarifabase do acordo, essa preferência é mantida, não se avançando com a desgravação prevista no acordo até que se extinga o período de aplicação da salvaguarda. A outra forma usual de aplicação de salvaguarda bilateral se dá por meio do aumento do imposto de importação até o teto da tarifa-base acordada para o bem em questão. Retrocede-se, portanto, no cronograma de desgravação, à situação anterior à concessão da preferência tarifária. Em ambos os casos, após o fim da medida, a preferência tarifária que o bem irá desfrutar passa ao patamar previsto no cronograma normal de desgravação acordado. O período para a aplicação de uma salvaguarda bilateral costuma ser delimitado pelo lapso temporal entre a desgravação tarifária completa do bem e o período de transição. Existem acordos que, no entanto, não especificam um período máximo para aplicação de salvaguardas bilaterais. Para esses casos, a aplicação de salvaguarda bilateral pode ocorrer a qualquer tempo. A questão de saber se os parceiros dos acordos de livre comércio (ou outras formas mais aprofundadas de integração) devem ser excluídos da aplicação de uma medida de salvaguarda, uma vez que o artigo XIX (ação de emergência) não está incluído na lista de exceções entre colchetes contida no artigo XXIV, atraiu a atenção de vários juristas, mas não foi resolvida na OMC. Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 139 Para conhecer as disposições dos Acordos de Livre Comércio com cláusulas de salvaguarda preferencial, acesse aqui o material e analise cada um dos acordos especificamente, dado que as regras podem alterar a depender de cada negociação e cada acordo. Você chegou ao final desta unidade de estudo. Caso ainda tenha dúvidas, reveja o conteúdo e se aprofunde nos temas propostos. Siga firme nos estudos! https://www.gov.br/siscomex/pt-br/acordos-comerciais/acordos-comerciais 140Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC). Acordo sobre salvaguardas. Marraquexe: GATT, 1994. Disponível em: https://www.gov.br/produtividade-e- comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse- publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf. Acesso em: 18 jan. 2023. VILJOEN, Willemien. Comparing Safeguard Measures in Recent Regional and Bilateral Trade Agreements. Geneva: International Centre for Trade and Sustainable Development, 2016. Referências https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf https://www.gov.br/produtividade-e-comercio-exterior/pt-br/assuntos/comercio-exterior/defesa-comercial-e-interesse-publico/arquivos/legislacao-roteiros-e-questionarios/acordo_sg.pdf Unidade 1: Teoria e Histórico da Defesa Comercial 1.1 Notas Conceituais sobre Defesa Comercial Referências Referências 1.2 Histórico Internacional - Acordos na Era GATT e OMC 1.3 Histórico Nacional sobre Defesa Comercial e Interesse Público: Legislações de 1995 e Modificações Posteriores 1.4. Solução de Controvérsias da OMC 1.5 Estrutura Governamental em Defesa Comercial Unidade 2: Apoio ao Exportador Brasileiro Investigado em Processos de Defesa Comercial no Exterior 2.1 Estrutura Governamental que Auxilia Exportadores Brasileiros em Investigações de Outros Países Investigações Antidumping: Teoria e Prática Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Antidumping 1.1 Legislação Internacional sobre Antidumping (Acordo Antidumping da OMC) 1.2 Legislação Nacional sobre Antidumping (Decreto 8.058/2013 e Portarias) Referências Unidade 2: Aspectos Conceituais Gerais em Investigações Antidumping 2.1 Produto Objeto e Produto Similar 2.2 Conceito de Indústria Doméstica 2.3 Análise das Importações Referências Unidade 3: Aspectos Conceituais Específicos sobre Dumping em Investigações Antidumping 3.1 Valor Normal 3.2 Preço de Exportação 3.3 Margem de Dumping Referências Unidade 4: Aspectos Conceituais Específicos sobre Dano em Investigações Antidumping 4.1 Conceito de Dano para Fins de Defesa Comercial 4.2 Indicadores da Indústria Doméstica Referências Unidade 5: Aspectos Conceituais Específicos sobre Causalidade em Investigações Antidumping 5.1 Impacto das Importações Objeto de Dumping na Indústria Doméstica: Nexo de Causalidade 5.2 Outros Fatores de Dano Referências Unidade 6: Aspectos Conceituais Específicos sobre a Aplicação das Medidas Antidumping 6.1 Medida Antidumping (Direitos Antidumping e Compromissos de Preço) 6.2 Menor Direito (Lesser Duty) Referências Unidade 7: Aspectos Distintivos entre Investigações Originais e Revisões de Final de Período 7.1 Aspectos Distintivos das Revisões de Final de Período 7.2 Probabilidade de Continuação ou Retomada do Dumping 7.3 Probabilidade de Continuação ou Retomada do Dano 7.4 Prorrogação ou não da Medida Antidumping Referências Investigações de Subsídios e Medidas Compensatórias: Teoria e Prática Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias 1.1 Legislação Internacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias) 1.2 Legislação Nacional sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Decreto 10.839/2021 e Portaria) Referências Unidade 2: Aspectos Conceituais Específicos sobre Investigações de Subsídios 2.1 Conceito de Subsídios 2.2 Caracterização da Contribuição Financeira 2.3 Caracterização de Sustentação de Rendas ou Preços 2.4 Formas de Concessão de Contribuições Financeiras 2.5 Conceito de Órgão Público e de Confiança e Instrução a Entidades Privadas 2.6 Caracterização do Benefício e o Conceito de Benchmark 2.7 Conceito de Especificidade 2.8 Subsídios a Montante e Subsídios Indiretos 2.9 Conceito de Subsídios Recorrentes e Não Recorrentes 2.10 Apuração do Benefício – o Numerador e o Denominador do Cálculo Referências Unidade 3: Aspectos Conceituais Específicos sobre a Aplicação das Medidas Compensatórias 3.1 Dos Direitos Compensatórios e dos Compromissos 3.2 A Aplicação da Regra do Menor Direito (Lesser Duty) em CVD 3.3 Double Remedy (Duplo Remédio) 3.4 Tipos de Revisão de Direitos Aplicados Referências Unidade 4: Aspectos Específicos de Temas Atuais e dos Resultados de Disputas da OMC 4.1 Subsídios Transnacionais 4.2 Discussões Trilaterais sobre Subsídios (UE, EUA e Japão) Referências Unidade 1: Legislação Internacional e Nacional sobre Salvaguardas 1.1 Legislação Internacional sobre Salvaguardas Unidade 4: Especificidades sobre Salvaguardas Preferenciais 4.1 Salvaguardas em Acordos Preferenciais de Comércio 4.2 Disposições sobre Salvaguardas Globais em Acordos Preferenciais de Comércio 4.3 Disposições sobre Salvaguardas Preferenciais em Acordos Preferenciais de Comércio Referências Unidade 3: Aspectos Procedimentais sobre Salvaguardas Globais 3.1 Aspectos Procedimentais Mínimos Durante as Investigações de Salvaguardas Globais 3.2 Paralelismo entre Escopo da Investigação e da Aplicação da Medida de Salvaguarda Global 3.3 Formas de Aplicação da Salvaguarda Global e Ajuste da Indústria Doméstica 3.4 Limites Temporais de Vigência de uma Salvaguarda Global e Liberalização Progressiva 3.5 Desdobramentos da Aplicação da Salvaguarda Global: Compensações e Retaliações (Suspensão de Concessões) Referências Unidade 2: Condições para Aplicação de Salvaguarda Global 2.1 Das Condições de Aplicação das Medidas de Salvaguarda Global 2.2 Evolução Não Prevista das Circunstâncias (Unforeseen Developments) 2.3 Prejuízo Grave ou Ameaça de sua Ocorrência 2.4 Causalidade Referências 1.2 Legislação Nacional sobreSalvaguardas (Decreto 1.488/1995) Referências