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1 ANÁLISE DE DADOS EM SEGURANÇA 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS...........................................................................6 3. A ATUAL INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA ....................................... 7 3.1 ANÁLISE CRIMINAL...... ............................................................................................ 10 3.2 INTELIGÊNCIA POLICIAL..................... ......................................................................11 4. ANÁLISE DE DADOS EM SEGURANÇA...........................................................15 4.1 CONCEITO.................................................................................................................................15 4.2 DADOS E PROGRAMAS DE PREVENÇÃO..............................................................................16 4.3 A ESCASSEZ..............................................................................................................................18 4.4 INFORMAÇÕES..........................................................................................................................21 4.5 INCORPORANDO DIMENSÕES.................................................................................................22 5. DA SEGURANÇA PÚBLICA..................................................................................24 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 31 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 1. INTRODUÇÃO A Análise Criminal (AC) é um recurso aplicado na produção de conhecimento policial no contexto da atividade de Inteligência de Segurança Pública (ISP). Com a utilização da AC, é possível identificar, avaliar e acompanhar sistematicamente o fenômeno da criminalidade de massa. A AC tem a finalidade precípua de instrumentar os operadores da segurança pública, servindo de suporte administrativo, tático e estratégico para as atividades de previsão, prevenção e repressão do crime e da violência. A ISP tem sido apontada ultimamente no Brasil como um instrumento essencial para o enfrentamento do problema da criminalidade crescente que o País atravessa. É comum a referência, tanto entre os operadores políticos quanto da Segurança Pública, que “o problema da criminalidade e da violência deva ser combatido com o suporte das ações de Inteligência Policial”. Mas, afinal, o que é Inteligência? Segundo disciplinado na Lei nº 9.883, (BRASIL, 1999), Inteligência é “a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado”. A mesma lei, na busca de proporcionar o necessário suporte para a atividade que ela define, instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), juntamente com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). É na esteira da Lei nº 9.883 que nasce o Decreto nº 3.695 (BRASIL, 2000), norma que institui o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) no âmbito do Sisbin. Mais recentemente, o Decreto nº 4.376 (BRASIL, 2002), regulamentou o Sisbin, em que está inserido o SISP. Além da recente legislação referente à ISP, podem ser também verificadas iniciativas da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da 5 Justiça (MJ), no sentido da constituição, formação e integração de bases agregadas de dados nacionais sobre a criminalidade. Vale citar a criação, em 1995, por meio de decreto datado de 26 de setembro daquele ano, do “Programa de Integração das Informações Criminais”, constituído pelos Cadastros Nacionais e Estaduais de Informações Criminais, de Mandados de Prisão, de Armas de Fogo e de Veículos Furtados e Roubados, peça normativa complementada e regulamentado em portaria de 7 de dezembro de 1995 do ministro da Justiça. Tal Programa deu origem ao atual Sistema Nacional de Integração de Informações em Justiça e Segurança Pública, conhecido como Infoseg: “O INFOSEG (Sistema Nacional de Integração de Informações em Justiça e Segurança Pública) é um sistema de uso restrito dos órgãos que compõem a área da justiça e da segurança pública, tendo como escopo integrar todos os bancos de dados existentes no país, com o objetivo de facilitar a atuação das polícias brasileiras na identificação de pessoas que estejam com pendências criminais junto à justiça.” Dentro desse contexto, inserem-se hoje algumas instituições policiais, tanto judiciárias quanto ostensivas. A exemplo, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), que possui atualmente um moderno sistema de gerenciamento de dados relacionados aos atendimentos realizados pela instituição, incluindo ocorrências policiais, com os dados respectivos passando a estar consolidados no chamado Sistema de Controle de Ocorrências Policiais (SISCOP). A PMDF possui um Centro de Informação e de Administração de Dados (CIAD), unidade de assessoria ao comando da instituição, tendo como atividade primordial gerenciar dados operacionais, os do SISCOP inclusive, através da aplicação de modernos instrumentos da Tecnologia da Informação (TI) . Também a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) possui um sistema informatizado de gerenciamento de dados criminais (Sistema MILLENIUM) de grande abrangência e detalhamento. Gottlieb (1998, p.13), conhecido internacionalmente por suas atividades de treinamento técnico-profissional em segurança púbica, mais especificamente em AC, é membro do Alpha Group Center 6 da Califórnia, Estados Unidos da América (EUA) . Ele define a AC da seguinte maneira: “A Análise Criminal é um conjunto de processos sistemáticos direcionados para o provimento de informação oportuna e pertinente sobre os padrões do crime e suas correlações de tendências, de modo a apoiar as áreas operacional e administrativa no planejamento e distribuição de recursos para prevenção e supressão das atividades criminais (GOTTLIEB, 2002. p.13).” Dentro da ISP, a AC representa hoje uma ferramenta capaz de contribuir para a identificação, o acompanhamento e a avaliação de fenômenos criminais, com o propósito de instrumentar o processo decisório dos gestores e operadores diretos da segurança pública. Uma outra instituição policial que já se beneficia da AC é a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG).Aquela instituição implementou o Projeto MAPA na cidade de Belo Horizonte, iniciativa desenvolvida em cooperação com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): “O projeto MAPA consistiu na utilização intensiva de informações oriundas dos atendimentos de ocorrências policiais registradas pela PMMG, com o fito de instrumentar o planejamento operacional e o desenvolvimento decorrente de programas e projetos de controle da criminalidade. Ele desdobrou-se em duas etapas: a primeira com a organização das bases de dados, de modo que elas pudessem ser utilizadas de forma georeferenciada por analistas devidamente treinados. Numa segunda fase foi expandida a população de usuários de tal sistema de estatística e georeferenciamento, alcançando o nível dos operadores diretos do policiamento ostensivo, mediante o treinamento dos gestores tático-operacionais no âmbito das companhias de policiamento. “ Para a realização da AC existem hoje diversas ferramentas de TI, utilizáveis para coleta, busca, análise e gerenciamento de dados e informações criminais. Com essa finalidade, estão atualmente disponíveis aplicativos computacionais, tanto gerais quanto específicos. Tais aplicativos permitem a realização de pesquisas em grandes bases de dados, ensejando a produção de análises com a utilização de funções estatísticas 7 computadorizadas. Na atualidade, porém, tais possibilidades foram ainda mais ampliadas com o advento dos chamados Sistemas de Informações Geográficas (SIG) ou Geografic Information Sistems (GIS). Com eles, os produtos da AC passaram a poder ser apresentados visualmente em mapas, gráficos digitais e mesmo animações, algumas vezes incorporando dados adicionais quase que imediatamente após seu registro, quando de novas ocorrências policiais. O governo do Estado do Rio de Janeiro vem desenvolvendo projeto que visa a implementar o emprego da AC com TI para melhor orientar a ação policial: Saber onde os crimes acontecem, de que forma e por quem. Isso é o que um sistema que envolve geotecnologias e que está sendo implantado pela Segurança Pública do Rio de Janeiro está fazendo. O principal objetivo é identificar relações entre variáveis como método, data-hora, local e instrumentos utilizados por criminosos, entre outras possibilidades, para se chegar à descoberta e prisão dos autores de delitos. Instituições policiais de países desenvolvidos utilizam sistemas que integram dados e informações oriundos dos diversos órgãos da segurança pública, Poder Judiciário e sistema prisional. É o caso do National Crime Information Center (NCIC) (Centro Nacional de Informação Criminal) gerenciado pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) dos EUA. E é esse também o caso do National Criminal Intelligence Service (NCIS) do Reino Unido . 8 2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS É bastante antiga a percepção da necessidade de informações para uma melhor tomada de decisão. Sun Tzu (1983), autor do clássico A Arte da Guerra, obra elaborada por volta de 500 anos antes de Cristo, já abordava a necessidade do emprego da Inteligência: Os espiões são os elementos mais importantes de uma guerra [...] Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas [...] Dessa maneira, apenas o governante esclarecido e o general criterioso usarão as mais dotadas Inteligências do exército para fins de Inteligência, obtendo, dessa forma, grandes resultados. A Bíblia Sagrada, em seu Antigo Testamento, também faz referência à necessidade de informações para a tomada de decisão. As escrituras apontam que Moisés, no episódio em que espiões foram enviados à terra de Canaã (Bíblia Sagrada, Livro dos Números – Cap.13, Versículos 17-20), assim apontou instruções àqueles que poderiam ser hoje considerados doze “agentes de Inteligência”: Tomem este caminho, e subam a montanha, e vejam qual é a terra; e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, poucos ou muitos; e vejam o lugar onde eles vivem, se é bom ou mau, e em que cidades eles moram, se fortificadas ou não; e como é a terra, se acidentada ou plana, se há florestas ou não. A necessidade de informação para a tomada de decisão surgiu quando o homem primitivo passou a viver em grupos e disputar recursos e territórios com facções rivais. A necessidade de sobrevivência os levaria aos seguintes questionamentos acerca de tais grupos rivais: se a área por eles dominada era farta em alimentos; se eram seguras suas cavernas; 9 se eram muitos ou poucos; se eram fortes ou fracos; se eram hábeis no emprego de armas; e se era possível vencê-los. 10 3. A ATUAL INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA Figura 1 Brenda Paula, 2020 O mundo atual não é tão diferente daquele dos tempos de Sun Tzu. Persiste a necessidade da informação para a tomada de decisão. A informação permanece como um recurso estratégico, já que segue sendo utilizada em várias áreas de aplicação contemporâneas. É esse o caso da Inteligência Competitiva, hoje intensamente aplicada e estudada no mundo empresarial. Matriz principal de todas as outras, é a Inteligência de Estado classicamente utilizada no trato de grandes questões político-estratégicas de interesse dos Estados Nacionais. Necessário, entretanto, fazer a distinção entre Inteligência e Informação. Para Lowental (2003, p. 8), um aspecto básico que diferencia as duas expressões é que a Inteligência seria a informação elaborada para suprir as necessidades dos tomadores de decisão, enquanto a informação seria tudo aquilo passível de ser conhecido: Para muitas pessoas, Inteligência parece pouco diferente de informação, exceto que ela é provavelmente secreta. Todavia, é importante distinguir as duas. Informação é tudo que possa ser conhecido, indiferentemente de como ela tenha sido descoberta. Inteligência refere-se à informação que reúne as necessidades indicadas ou compreendidas pelos tomadores de decisão e foram coletadas, refinadas e estreitadas para ir ao encontro daquelas 11 necessidades. Tarapanoff (2001, p. 45), numa abordagem organizacional da Atividade de Inteligência (AI), defende que a Inteligência Empresarial é um processo que emprega um conjunto de ferramentas para gestar a informação com vistas ao planejamento, administração estratégica e tomada de decisão da organização. Para a autora, a Inteligência é um processo sistemático que transforma pedaços esparsos de dados em informação útil para a tomada de decisão. No âmbito da segurança pública, a atividade de Inteligência é decorrência do disposto em legislação específica, conforme se adiantou ao início do presente artigo. A legislação federal, ainda que não definindo de forma direta o que seja Inteligência de Segurança Pública (ela o faz em relação à atividade de Inteligência como um todo, particularmente a Inteligência de Estado), baliza genericamente todas as outras modalidades de Inteligência. Recordando, o artigo 2º do Decreto nº 4.376 (BRASIL, 2002), assim posiciona a atividade de Inteligência: Entende-se como Inteligência a atividade de obtenção e análise de dados e informações e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. Já o parágrafo 3º do Art. 2º do Decreto nº 3.695 (BRASIL, 2000), tratando de Inteligência de segurança pública, dispõe sobre o tema da seguinte maneira: Cabe aos integrantes do Subsistema, no âmbito de suas competências, identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de segurançapública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. A Senasp, numa clara alusão ao texto legal citado, define a ISP como atividade sistemática de produção de conhecimentos de interesse policial, apoiando as atividades de prevenção e repressão dos fenômenos criminais: [A ISP] é o exercício sistemático de ações especializadas para identificação, 12 acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de segurança pública, bem como para a obtenção, produção e salvaguarda de conhecimentos, informações e dados que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. Gottlieb (1994, p.11), adota a seguinte tipologia de classificação da ISP de acordo com quatro espécies de análise: Análise Criminal (AC), Análise de Inteligência (AnIntel), Análise Operacional (AnOp) e Análise Investigativa (AnInv). Entre os quatro tipos de análise citados, verifica-se que a AC corresponde ao tipo de análise em que é procedido o estudo de fenômenos criminais objetivando um melhor direcionamento da gestão da segurança pública. A AC é, portanto e essencialmente, o tipo de análise capaz de indicar a incidência de ocorrências da chamada “desordem” e de tipos penais (crimes e contravenções) em sua distribuição espaço-temporal, incluindo os locais de sua maior incidência espacial e/ou temporal (hot spots ou pontos quentes). Assim, a AC pode fornecer subsídios para orientar diferentes ações, abrangendo o interesse estratégico e táticooperacional das diversas áreas de atuação dos agentes da segurança pública, agentes de trânsito, bombeiros militares, guardas municipais e policiais em geral. Dantas (2002, p.1) cita que, segundo William Bieck, a AC deva ser executada em benefício da ISP: A análise criminal inclui a identificação de parâmetros temporais e geográficos do crime, proporcionando indicações que poderão contribuir para seu esclarecimento, incluindo a identificação de delinqüentes eventuais e contumazes e a reunião de informações em prol da Inteligência Policial. 3.1 ANÁLISE CRIMINAL É um processo analítico e sistemático de produção de conhecimento, orientado segundo os princípios da pertinência e da oportunidade, sendo realizado a partir do estabelecimento de correlações entre conjuntos de fatos delituosos ocorridos (ocorrências policiais) e os padrões e tendências da "história" da criminalidade de um 13 determinado local ou região. A análise criminal serve o propósito de apoiar a área operacional e da gestão administrativa das organizações policiais, orientando o planejamento e emprego de recursos humanos e materiais no sentido da prevenção e repressão do fenômeno da criminalidade e da violência. A análise criminal contribui de maneira objetiva para as atividades de investigação, prisão de delinqüentes, esclarecimento de crimes e, obviamente, prevenção criminal. Ainda são poucos os autores brasileiros que tratam da AC. Já nos paises anglo-saxônicos, incluindo Austrália, Canadá, EUA e Reino Unido, são inúmeras as produções científicas na área. Dantas (2003, p. 1) defende que: A “atividade policial guiada pela Inteligência” (Intelligenceled policing) é um termo que muito recentemente começou a ser usado no Canadá e Estados Unidos da América (EUA). Função até mesmo dessa novidade de uso, a expressão ainda não tem uma definição única plasmada pelo consenso geral. É de entendimento comum, entretanto, que a “atividade policial guiada pela Inteligência” inclua, fundamentalmente, a coleta e análise de informação para elaboração de um produto final — conhecimento — criado para instrumentar o processo decisório da gestão policial, tanto através da análise criminal tática quanto estratégica. Pereira (2003, p.1) ressalta a importância da AC na busca do controle da criminalidade: A análise tendencial da criminalidade, baseada em dados estatísticos, amostragens, gráficos, tabelas, pesquisas, cruzamento de informações [...] é da maior importância para compreender o fenômeno social do crime e, sob a visão técnico-policial, prever ocorrências futuras e planejar ações com maiores probabilidades de êxito no controle da criminalidade. O que vem então a ser a AC? Respondendo tal questionamento, Furtado (2002, p. 171) aponta que, na visão de Dantas, a Análise Criminal é um processo analítico e sistemático de produção de conhecimento que se realiza a partir do estabelecimento de correlações entre fatos delituosos ocorridos e os padrões de tendência da “história” da criminalidade de um determinado local ou região. 14 Já para Peterson (1994, p.1), “Análise Criminal é a particular aplicação de métodos analíticos em dados coletados, para fins de investigação criminal ou pesquisa criminal”. Gottlieb (Apud Dantas; Souza, 2004) explica a AC da seguinte maneira: Análise criminal é um conjunto de processos sistemáticos direcionados para o provimento de informação oportuna e pertinente sobre os padrões do crime e suas correlações de tendências, de modo a apoiar as áreas operacional e administrativa no planejamento e distribuição de recursos para prevenção e supressão de atividades criminosas. A Análise Criminal é, portanto, um processo sistemático de exame da tendência histórica de incidência da criminalidade, realizado com base nos registros de atendimentos de ocorrências policiais em determinada área geográfica e série histórica, com vistas a assessorar a tomada de decisão no sentido de melhor alocar os recursos humanos e materiais das instituições policiais. 3.2 INTELIGÊNCIA POLICIAL A inteligência policial é voltada para questões táticas de repressão e investigação de ilícitos e grupos infratores. Essa inteligência está a cargo das polícias estaduais, civis e militares, e da polícia federal. É por meio desse tipo de atividade que se podem levantar indícios e tipologias que auxiliam o trabalho da polícia judiciária e do Ministério Público. No combate ao crime organizado, é muito mais com atividades de inteligência do que com grandes operações ostensivas que se consegue identificar esquemas ilícitos e desbaratar quadrilhas. Quem deve desenvolver a inteligência policial, naturalmente, são as polícias civis e militares estaduais e a polícia federal, não cabendo esse tipo de atividades a órgãos como a ABIN ou aos setores de inteligência fiscal. Entretanto, quando se faz referência às atividades das organizações criminosas, a simples inteligência policial torna-se efêmera e de pouca utilidade para a garantia de segurança pública, se não for combinada com a inteligência governamental. 15 Quem deve desenvolver a inteligência policial, naturalmente, são as polícias civis e militares estaduais e a polícia federal, não cabendo esse tipo de atividades a órgãos como a ABIN ou aos setores de inteligência fiscal. Entretanto, quando se faz referência às atividades das organizações criminosas, a simples inteligência policial torna-se efêmera e de pouca utilidade para a garantia de segurança pública, se não for combinada com a inteligência governamental. Há diversas divisões, como numerosas são as atividades governamentais. As historicamente mais importantes são a inteligência de Estado e a Inteligência Militar, vez que, todas as outras ramificações originaram-se destas. A Inteligência de Estado é aquela que visa assessorar a tomada de decisão no mais alto nível de um Estado. Sua importância é tamanha que a lei 9.883/99, que institui o SISBIN, em seu art. 1º, determina que a finalidade do Sistema é “fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional”. Ou seja, o SISBIN tem como objetivo principal realizar inteligência de Estado. Está subdividida, ainda, em Inteligência Externa e Inteligência Doméstica, conforme tenha comoobjeto de estudo fatos referentes a ordem internacional ou aos acontecimentos internos de seu país, respectivamente. Já a inteligência Militar é aquela que se destina a subsidiar o processo decisório da Forças Armadas, em tempo de paz ou de guerra. Em tempo de paz, visa estabelecer hipóteses de emprego, dentre outras coisas. Já em combate, tem como principal objetivo identificar o plano de batalha inimigo, em todos os seus níveis. Ao lado destas divisões tradicionais, em razão do aumento da complexidade da atividade estatal, surgiram diversas outras ramificações, como as citadas abaixo: - Inteligência de Segurança Pública, executada pelos órgãos de segurança pública. Neste ponto, a categorização ora apresentada difere da apresentada acima, pois se preferiu, neste momento, citar a tipologia prevista na Doutrina Nacional de Inteligência de segurança Pública, pelas razões abaixo expostas; - Inteligência Financeira, de grande importância nos dias atuais, destina-se, principalmente a acompanhar o sistema financeiro e identificar movimentações 16 anômalas, para, então, após análise, comunicar sua ocorrência aos órgãos de enfretamento ao delito de ocultação de bens e capitais. No Brasil, é executada pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF), criado pela lei 9.613, de 03 de março de 1998; - Inteligência Fiscal, que é de responsabilidade dos agentes tributários e objetiva assessorar os tomadores de decisão destes órgãos na melhor forma de emprego de seus meios, dentre outros fins. A lista acima não é exaustiva. Trata-se, tão somente, uma busca de exemplos para permitir que se verifique a complexidade e a diversidade de assuntos sobre os quais se debruça a atividade de inteligência. Dentre as categorias acima referidas, este trabalho concentrar-se-á na Inteligência Criminal ou de Segurança Pública. A área de Segurança Pública é uma daquelas em que o uso sistemático da atividade de inteligência tem possibilidade de aumentar exponencialmente os resultados obtidos. Isto é tanto verdade, que o decreto 3.695, de 21 de dezembro de 2000, criou o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SSISP), que foi regulamentado pela Resolução nº 01, de 15 de julho de 2009. O referido decreto afirma, em seu art. 1°, que a finalidade do SSISP é “coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões neste campo.” Com a finalidade de dar respaldo teórico às ações do SSISP, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), órgão central do subsistema, publicou, através da Portaria do Ministro da Justiça nº 22, de 22 de julho de 2009, a Doutrina Nacional de Segurança Pública (DNISP), elaborada por policiais, agentes de inteligência e acadêmicos da área. Para a DNISP: 17 “ à atividade de inteligência de Segurança Pública é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, basicamente orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os governos federal e estaduais a tomada de decisões, para o planejamento e à execução de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública.” No entanto, o conceito de inteligência de segurança pública é mais abrangente que o de inteligência policial, uma vez que abarca outros órgãos não necessariamente policiais, como Corpos de Bombeiros Militares, vez que estes são órgãos de Segurança Pública, conforme previsto no art. 144 da Constituição Federal. Após estas necessárias considerações, analisar-se-á alguns conceitos de inteligência policial. Para o Celso Ferro (apud Magalhães, 2004), inteligência policial é: (...) a atividade que objetiva a obtenção, análise e produção de conhecimentos de interesse da segurança pública no território nacional, sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência da criminalidade, atuação de organizações criminosas, controle de delitos sociais, assessorando as ações de polícia judiciária e ostensiva por intermédio da análise, compartilhamento e difusão de informações. Já conforme o Manual de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal - Volume I, inteligência policial é: (...) é a atividade de produção e proteção de conhecimentos, exercida por órgão policial, por meio do uso de metodologia própria e de técnicas acessórias, com a finalidade de apoiar o processo decisório deste órgão, quando atuando no nível de assessoramento, ou ainda, de subsidiar a produção de provas penais, quando for necessário o emprego de suas técnicas e metodologias próprias, atuando, neste caso, no nível operacional. (p. 8). Da análise dos dois conceitos acima expostos, ressalta-se dois pontos principais, e que diferenciam esta categoria específica da atividade de inteligência das demais: a primeira, como observa Celso Ferro, a inteligência policial tem como fim 18 assessorar às atividades de polícia judiciária e de polícia ostensiva; e a segunda, como verificamos na definição do DPF, é que deve ser exercida por órgão policial. Assim, a inteligência policial tem seu objeto, qual seja, a produção de conhecimentos de interesse da atividade policial e os órgãos que a executam, os órgãos de inteligência das polícias, muito bem delimitados. No entanto, ponto que merece destaque, como bem lembrado no conceito do Departamento de Polícia Federal, é o caráter duplo da atividade de inteligência policial, entendido como a necessidade de um órgão de inteligência policial, ao mesmo tempo em que produz conhecimentos para assessorar o processo decisório, deve, ainda que de forma subsidiária, também atuar em investigações criminais, desde que atendidos determinados requisitos. É esta característica que torna a atividade de inteligência policial, especialmente aquela executada por Polícias Judiciárias tão peculiar, quando comparada às diversas categorias acima referidas. 19 4. ANÁLISE DE DADOS EM SEGURANÇA 4.1 CONCEITO A análise de segurança da informação abrange o processo de proteger um grupo de dados, com o intuito de conservar o valor que tem para uma instituição ou pessoa. Os elementos fundamentais pesquisados durante a análise de segurança da informação são: autenticidade, integridade, confidencialidade e disponibilidade. O assunto não está relacionado apenas aos sistemas de informática, dados eletrônicos ou métodos de armazenamento de arquivos. O tema tem ligação com todas as áreas de proteção de documentos confidenciais e privados. Portanto, é importantíssimo fazer a análise de segurança da informação nos mais variados campos: Sistema bancário: se apresentar problemas, pode ficar vulnerável e se invadido por hackers (indivíduo com habilidade avançada em acessar informações de outras pessoas nos meios eletrônicos) que podem descobrir logins e senhas de usuários no sistema de bancos e roubar dinheiro; Sistema de Saúde: aplicados em hospitais, laboratórios e consultórios médicos, no caso de invasão neste setor as informações particulares, financeiras e clínicas de pacientes e funcionários podem ser descobertas, o que gera prejuízos e abala a confiabilidade de instituições da área; Sistema Governamental: invasão nos dados secretos do governo, ocasiona riscos para a segurança do país e para os povos; Sistema de Telefonia e TV a cabo: o acesso sem autorização neste setor, causa prejuízos para as empresas de telecomunicações, porque usuários podem achar brechas no sistema e utilizar o sinal de internet e televisão sem pagar nada por isso e ainda danificar o desempenho da rede de conexão. 20Então, a análise de segurança da informação se torna essencial, para trazer mais segurança e proteção aos sistemas dos mais variados serviços que trabalham com dados e informações sigilosas, que precisam de autorização para ser acessados. 4.2 Dados e programas de prevenção Não há estudo exploratório ou revisão de literatura sobre criminalidade, violência e políticas de controle na América Latina que não comece ou termine enfatizando as inúmeras deficiências nas bases de informações sobre criminalidade e violência. Essa é uma situação grave que compromete seriamente os estudos realizados, e as políticas, programas e projetos de segurança desenhados com base neste conhecimento. O desafio que enfrentamos hoje em estudos criminológicos na América Latina diz respeito justamente às bases de informações necessárias para que se possa avançar no alcance das proposições empíricas, bem como efetuar testes de teoria mais sofisticados. Sem esse conhecimento não temos ação efetiva e conseqüente. As implicações dessa situação para o desenho e avaliação de políticas de segurança são óbvias. Políticas na área da criminalidade e justiça, na América Latina, são efetuadas em vôo cego, sem instrumentos e com orientação puramente impressionista. Como conseqüência, temos uma situação de incremento acentuado das taxas de criminalidade, do aumento do medo e da percepção de risco das populações nos grandes centros urbanos. O ceticismo e descrença diante da aparente impossibilidade de se obter resultados estão “naturalizando” os fenômenos da criminalidade e violência, como se estivéssemos inevitavelmente destinados a conviver com o medo e a insegurança. Podemos dizer, sem dúvida nenhuma, que dentre as diversas causas de crime hoje na América Latina, destaca-se a nossa ignorância sobre a matéria. No que diz respeito ao impacto específico de políticas e programas sociais, esta situação é ainda mais obscura, pois a necessidades de tais projetos são tão urgentes que, quaisquer que sejam os resultados alcançados, independente das implicações para o problema da delinqüência, considera-se como bem sucedido. Não há uma avaliação dos custos destes programas frente aos resultados alcançados, ou 21 tampouco da efetividade deles. Qual o impacto efetivo deles nas taxas de violência e criminalidade? Que aspectos funcionaram melhor? Qual o lapso de tempo necessário para que se produzam efeitos? Que tipos de combinações são necessários para a produção de resultados promissores? Como evitar gastos desnecessários com abordagens que na realidade são inúteis, embora bem intencionadas? A análise dessas questões é cada vez mais necessária, dada a freqüente escassez de recursos que nossos governos nos mais diversos níveis tendem a enfrentar, e o natural interesse em identificar e reorientar políticas de prevenção de crime a partir de decisões baseadas em modelos de custo e benefício. 4.3 A escassez de informação nas bases de dados sobre criminalidade e violência Relatório recente do Banco Mundial que tratou dos impactos que a violência e a criminalidade têm tido para o desenvolvimento sustentado e combate da pobreza nas América Latina ressalta que o problema mais imediato é que os “dados são grosseiramente inadequados. As razões incluem problemas graves de sub-registro de vítimas, falta de levantamentos sistemáticos de dados, e deficiências das agências de estatísticas em reportar o crime e a violência. Assim, a primeira prioridade na agenda emergente para tratar do problema na região é a necessidade de se incrementar a base de conhecimento sobra a natureza, extensão, e evolução desta patologia”. A sugestão dada pelo autor é claramente inusitada: a prioridade da agenda está não nos resultados a serem buscados, mas em construir e delinear sistemas que ajudem, antes de qualquer coisa, ter uma percepção mínima acerca do que está ocorrendo. Da mesma maneira, e seguindo a mesma ordem de preocupações ao referir- se ao problema da violência e criminalidade na Colômbia, (RUBIO, 1998), destaca que para falarmos de “crime, violência e insegurança, um aspecto recorrente é a incerteza acerca do que realmente está ocorrendo. O diagnóstico deste fenômeno e o desenho de políticas pertinentes enfrentam desde o princípio os problemas da medição e observação, cujas gravidades parecem ser proporcionais aos níveis de 22 violência”. (RUBIO, 1998b: 2). Diante dessa ausência, a tendência tem sido utilizar os dados de homicídio coletados usualmente pelos sistemas de informação de saúde. Os homicídios, nas suas mais diversas modalidades, tornam-se o indicador para compararmos cidades, regiões e países, seja para efeitos de análise, seja para efeitos de alocação de recursos. Contudo, a utilização dos homicídios como parâmetro comparativo sobre a violência também acarreta crítica acerca da sua validade. Assim, o BID (nota técnica 2) alerta para três tipos de problemas que podem surgir: (a) mesmo que os homicídios tendam a ter menos problemas de sub-registro, ainda assim eles persistem, além de graves problemas de inconsistências entre diferentes tipos de fontes; (b) muitas formas graves de violência nem sempre terminam em homicídios como, por exemplo, a violência doméstica ou as diversas formas de agressão interpessoal; (c) quando se utiliza o homicídio como principal medida de violência, tende- se a subestimar outras formas tais como a violência física e a intimidação. Na verdade, poderíamos argumentar que o problema mais grave em relação às taxas de homicídio seja que ele tem um padrão de comportamento bastante específico, e distinto do que ocorre com outros tipos de delitos que afligem dramaticamente a população tais como as diversas modalidades de crimes contra o patrimônio. Estudos recentes mostram como a dinâmica espacial e temporal dos homicídios é bastante distinta do que ocorre com outros tipos de crime (BEATO, 2000). Homicídios ocorrem mais nas regiões pobres de uma cidade, estado ou país, ao passo que os delitos contra a propriedade ocorrem mais nas regiões ricas. Para efeitos de elaboração de programas de controle e prevenção, esta qualificação é necessária, dado que existem sérios problemas de sub-registros em relação aos 23 crimes contra o patrimônio. Daí alguns estudiosos e policy makers adotarem a taxa de homicídio como indicador de criminalidade em uma cidade, região, país, ou até mesmo como comparação entre países . Isto se deve ao fato de que esta é uma modalidade de crime em que o sub- registro, ou problemas legais de classificação são menores. No entanto, isto nem sempre é verdadeiro, pois algumas avaliações de sistemas de informação mostram como os dados de saúde tendem a ser mais reportados em cidade e regiões que contam com sistema de coleta em organizações mais bem estruturadas. Isto em geral ocorre nas cidades pólos de cada região (CASTRO, ASSUNÇÃO E OTTONI, 2002). Por outro lado, taxas de homicídio podem ser indicadores agregados que terminam ocultando uma série de fenômenos distintos que podem ser do interesse do planejador em conhecer. Podemos ter a mesma taxa de homicídios em duas cidades e, no entanto, distribuições serem completamente diferentes (LYNCH, 1995). No ano de 1996, a região metropolitana do Rio de janeiro, segundo o SIM – Sistema de Informações de Mortalidade, teve uma taxa de homicídio de 59,35 homicídios por cem mil habitantes. A região metropolitana de São Paulo também teve um taxa parecida de 55,58. No entanto, as similaridades entre as taxas ocultam importantes diferenças. No Rio de janeiro, a taxa de morte por homicídios entre os jovens entre 15 e 29 anos é 34% maior do que as taxas no mesmo grupo de idade em São Paulo. Além disso, as mortes por armas de fogo representaram 87% das mortes por homicídios no Rio de Janeiro, ao passo que em São Paulo elasrepresentaram 47% (BATITTUCI, 1999). Estes números nos indicam que, embora as taxas sejam parecidas, do ponto de vista de sua composição, elas são bastante diferentes. Finalmente, existe a discussão acerca da agregação de coisas diferentes sob o mesmo rótulo de homicídio. Tomarmos as definições oficiais da ocorrência de homicídios nos leva à falsa idéia de que todos eles têm uma mesma motivação. 24 Uma forma de compreendermos a diversidade de tipos poderia ser tratá-los com base no relacionamento entre o agressor e a vítima (PARKER & SMITH, 1979. SMITH & PARKER, 1980. PARKER, 1989). Nessa perspectiva, foram classificados quatro tipos de homicídio: (a) homicídio não primário resultante de roubo; (b) homicídio não primário como resultado de outros crimes; (c) homicídio primário entre pessoas não íntimas tais como amigos e; (d) homicídios primários entre pessoas íntimas tais como familiares. Apenas o homicídio primário, isto é, aquele que ocorre entre pessoas que têm um prévio relacionamento, correlaciona-se com indicadores socioeconômicos de desenvolvimento. Os homicídios não-primários, vinculados a casos de assalto ou roubo, tendem a seguir o mesmo padrão de outros delitos contra a propriedade. Toda a digressão acima não nos deve conduzir à falsa idéia de que os homicídios não são indicadores extremamente importantes da situação de violência e criminalidade e determinados locais. Pelo contrário, o que está sendo discutido é a extrema diversidade de fenômenos que existe em apenas um delito. Isto nos sugere fortemente a necessidade de se compreender todas estas nuances para a elaboração de programas que sejam eficazes. Compreender a distribuição de homicídios que ocorrem vinculados a razões de ordem utilitária tais como o latrocínio , ou homicídios resultantes de uma dinâmica doméstica de conflitos e agressões. 4.4 Informações e programas de prevenção A tendência recente na América Latina tem sido a de incorporar crescentemente componentes de prevenção social e situacional de crimes na agenda das políticas públicas de segurança. Isto não ocorre por acaso, pois eles são mais eficazes, com resultados mais duradouros e muito mais baratos do que as estratégias de repressão adotadas tradicionalmente. Isto é corroborado em estudo realizado pela Rand Corporation, no qual analisou-se o impacto de diferentes estratégias para prevenção de crimes através de programas de intervenção comparada à introdução de legislação dura. Os programas de intervenção incluíam 25 (a) visitas a lares por assistente logo após o nascimento das crianças durante até os seis anos de vida; (b) Treinamento e terapia para famílias que tivessem crianças que houvessem demonstrado comportamento agressivo na escola, ou que estivessem em vias de serem expulsos dela; (c) quatro anos de incentivo monetário para induzir garotos carentes a se graduarem; (d) monitoramento e supervisão de jovens secundaristas que tenham exibido comportamento delinqüente. Estes programas foram comparados ao impacto que a introdução da lei dos “Three Strikes”5 teve sobre as taxas de crime na Califórnia. A comparação favorece amplamente os programas de intervenção e, em especial, os de incentivo monetário na forma de uma “bolsa escola”. Cidades colombianas como Bogotá e Cali também vêm adotando com bastante sucesso programas de prevenção envolvendo jovens, reforma da justiça e das organizações policiais, além de projetos de reurbanização. O programa “Seguridad Y Convivencia Ciudadana” articulou simultaneamente programas na área de justiça e polícia envolvendo desenvolvimento tecnológico de comunicação e bases de dados para a polícia, além da provisão de equipamentos. Além disso, projetos voltados para grupos vulneráveis e de recuperação de espaços públicos foram implementados, além de fortalecimento do sistema de justiça e reforma das instituições policiais através de programas de treinamento e equipamentos. 4.5 Incorporando dimensões espaço-temporais: o uso de geoarquivos Uma das ferramentas mais importantes para a análise criminal são os mapas. Esta é uma área que avançou bastante nos últimos anos, em virtude do desenvolvimento da informática, que tornou possível a utilização de mapas eletrônicos e dos sistemas geográficos de informação eletronicamente disponíveis. A utilização de mapas para a análise de dados de diferentes naturezas já 26 possui uma longa tradição. A simples visualização dos dados no espaço permitiu identificar que eles estavam ocorrendo ao redor de alguns poços de água contaminados pelo vibrião. O segundo mapa ilustra casos de crimes contra a pessoa e contra o patrimônio em regiões da França. Tal como ainda ocorre em nossos dias, esta distribuição era distinta quando levamos em contas variáveis de desenvolvimento socioeconômicas. O mapa nos dá uma informação bastante conhecido de todos: a distribuição da população mundial. Sua visualização, entretanto, nos fornece uma imagem muito mais eloqüente do que a informação através de tabelas. Diversos tipos de informação podem vir a compor um banco de dados que possa subsidiar programas de prevenção. Sua origem, conforme vimos, pode estar nas mais diversas organizações e locais. Como regra, deveríamos tentar obter informações que fossem pertinentes aos problemas com os quais estamos lidando Figura 2. Polícia Federal,2020 27 5. DA SEGURANÇA PÚBLICA Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. […] § 7º – A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. A Lei 5010/66, que organiza a Justiça Federal de primeira instância, em seu 28 art. 65, determina que a polícia judiciária federal será exercida pelo Departamento de Polícia Federal, observando-se o Código de Processo Penal. Inserida na estrutura organizacional do Ministério da Justiça como Departamento de Polícia Federal, as competências da Polícia Federal estão regulamentas no seu Regimento Interno, instituído pela Portaria nº 2.877, de 30/12/2011: Art. 1º O Departamento de Polícia Federal – DPF, órgão permanente, específico singular, organizado e mantido pela União, e estruturado em carreira, com autonomia orçamentária, administrativa e financeira, diretamente subordinado ao Ministro de Estado da Justiça, tem por finalidade exercer, em todo o território nacional, as atribuições previstas no § 1º do art. 144 da Constituição Federal , no § 7º do art. 27 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e, especificamente: I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses daUnião ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, bem assim outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho de bens e valores, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União; V – coibir a turbação e o esbulho possessório dos bens e dos prédios da União e das entidades integrantes da administração pública federal, sem prejuízo da manutenção da ordem pública pelas Polícias Militares dos Estados; VI – acompanhar e instaurar inquéritos relacionados aos conflitos agrários ou fundiários e os deles decorrentes, quando se tratar de crime de competência federal, bem assim prevenir e reprimir esses crimes. Em virtude de estar incumbida, com exclusividade, da função de polícia judiciária da União, compete a Polícia Federal a investigação dos crimes e o auxílio ao Poder Judiciário União (Justiça Federal, Eleitoral e do Trabalho) no cumprimento 29 de suas competências, conforme Constituição Federal, art.109: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: V – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; X – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o “exequatur”, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI – a disputa sobre direitos indígenas. Além das competências constitucionais atribuídas à Polícia Federal que encerram, indubitavelmente, funções policiais típicas, podemos assinalar que à Polícia Federal foram conferidas, por força de legislação infraconstitucional, várias atividades policiais atípicas. Assim, podemos dizer que a Polícia Federal exerce funções de polícia típicas e atípicas, conforme são distribuídas as atribuições constitucionais e infraconstitucionais. 30 Assim, são funções de polícia típicas as atribuições de polícia judiciária, de polícia administrativa e de polícia de soberania, atribuídas pela Constituição Federal à Polícia Federal, sendo funções atípicas, as decorrentes do exercício do poder de polícia (controle de armas, controle de segurança privada, controle de precursores químicos e controle de identificação criminal e civil e da Estatística criminal) definidas em legislações espaças. Figura 3 Polícia Federal. 2020 Como vimos, a Constituição Federal, dispõe sobre a função da polícia judiciária pela polícia civil (nos Estados) e pela Polícia Federal, no âmbito federal, e a função de polícia administrativa ou de segurança, para as polícias militares (nos Estados) e Polícias Federal, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Ferroviária Federal no âmbito da União. Para os Estados Membros, estabeleceu a Constituição Federal que as polícias civis exercessem (apenas) as funções de “polícia judiciária” (§ 4º, art. 144, CF), e para as funções de “polícia administrativa”, preventiva ou ostensiva, determinou que fossem exercidas pelas polícias militares. Nessas condições, ambas atuam de forma isolada tendo como único contato o momento da apresentação, pelos policiais militares, dos presos em flagrante nas delegacias da Polícia Civil para as providências de polícia judiciária cabíveis, 31 condição que prejudica a investigação de crimes, tendo em vista que o agente de investigação não participou da apuração dos atos iniciais da conduta delitiva. 32 CONCLUSÃO Em linhas gerais, podemos afirmar que a divulgação de dados através das reuniões dos Conselhos Comunitários esbarra em diversas questões importantes. A primeira delas é a lógica do segredo que ainda distancia a sociedade das organizações policiais. Desse modo, a interação entre elas se dá de forma complexa e com reservas de ambos os lados. A outra questão relevante diz respeito à produção dos dados, geralmente através dos registros das delegacias policiais. Esses dados possibilitam uma visualização parcial dos crimes que afligem a sociedade, mas um conjunto imenso de dados referentes aos acionamentos da polícia militar não é sistematizado. A análise desse conjunto de informações poderia permitir o desenvolvimento de políticas públicas em diversas áreas, contribuindo, assim, para adoção de medidas de prevenção aos crimes e a melhoria da qualidade de vida da população. Os dados disponíveis para a área de segurança pública devem ter um duplo referencial: a sua disponibilidade e a sua usabilidade pelo público. Em relação à disponibilidade temos encontrado iniciativas importantes nas polícias estaduais, não havendo o mesmo esforço nas polícias federais. Já em relação ao uso, julgamos importante o desenvolvimento de modelos distintos para os diversos públicos, como os pesquisadores do tema, os gestores públicos das diversas áreas e os cidadãos em geral. Finalmente, apresentamos os Conselhos Comunitários de Segurança como um instrumento que pode ajudar a transformar a lógica do segredo através da cobrança sistemática de transparência das informações sobre as medidas adotadas pelas organizações policiais. O processo de institucionalização desses conselhos pode ser considerado um aprendizado social . Assim, as idéias de controle e definição de prioridades poderão ser vistas como aliadas na melhoria e no aumento da efetividade da ação policial. Com a execução da AC, as instituições de segurança pública estarão melhor assessoradas no processo de tomada de decisões para emprego do policiamento 33 ostensivo e judiciário, ficando também mais preparadas para atender às necessidades do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, conforme especificado no parágrafo 3º do Art. 2º do Decreto nº 3.695 (Brasil, 2000): Cabe aos integrantes do Subsistema, no âmbito de suas competências, identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. Tendo sido o Sisp criado no âmbito do Sisbin, o produto da AC beneficiará também a Abin. Para tanto, há a necessidade de integração e compartilhamento de dados e informações entre todas as instituições que compõem o Sisbin e o SISP. A AC constitui um meio capaz de indicar locais de maior incidência de crimes, valendo-se da determinação da tendência histórica dos fenômenos criminais em uma determinada área, levantando os fatores que contribuem para tal incidência, o que conduz a uma melhor tomada de decisão para prevenção e repressão do crime e da violência. De acordo com Pereira (2003, p.7), o emprego sistemático da AC permite: a) Identificar a existência, surgimento e evolução de padrões e tendências dos crimes; b) identificar as áreas com maior incidênciade determinadas categorias de crimes; c) subsidiar o planejamento do policiamento ostensivo; d) melhorar uso dos recursos operacionais disponíveis; e) diminuir custos e positivar a relação custo-benefício; f) avaliar o desempenho dos policiais em todos os níveis corrigindo os erros e os rumos das ações; e g) promover a eficácia da ação policial. Para Dantas, Souza e Gottlieb, a AC deve ser executada no contexto 34 Atividade de Inteligência visto ser a área de Inteligência a encarregada de assessorar as autoridades com conhecimentos oportunos e essenciais ao processo de tomada de decisões. Em suma, face à grande quantidade de dados referentes aos atendimentos e ocorrências policiais, torna-se humanamente impossível fazer inferências sobre um vasto amontoado de registros, sem a possibilidade de recorrer ao uso de ferramentas tecnológicas. Assim, são ferramentas essenciais ao analista criminal: planilhas eletrônicas, acesso eletrônico aos diversos bancos de dados, gerenciadores de banco de dados e conexão à rede mundial de computadores (Internet). Também é necessária a capacitação para uso de tais ferramentas, bem como a satisfação aos pré-requisitos de integração e interoperabilidade nos níveis federal, estadual e municipal. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000. Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 22 dez. 2000. Disponível em: . Acesso em 30 out. 2004. _______. Decreto nº 4.376, de 13 de setembro de 2002. Dispõe sobre a organização e o funcionamento do sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 set. 2002. Disponível em: . Acesso em: 30 out. 2004. _______ . Novos rumos da inteligência policial. Paper elaborado em: 2003. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2004. _______; SOUZA, Nelson Gonçalves de. As bases introdutórias da análise criminal na inteligência policial. [S.l.]: Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), 2004. Disponível em: . Acesso em: 20 out. 2004. FERREIRA, Bilmar Angelis de Almeida. 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