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134 Unidade IV Unidade IV 7 GESTÃO DE PROCESSOS E GESTÃO DE PROJETOS 7.1 Processos: conceitos e aplicações Todo trabalho executado faz parte de algum regime organizacional. De forma geral, podemos afirmar que não há produto ou serviço oferecido que não seja parte de um processo empresarial, e a sua conceituação comporta ampla gama de conceitos que foram evoluindo com o desenvolvimento da gestão de processos e a compreensão de cada estudioso do assunto. Vejamos as principais definições de processo: • Conjunto de atividades sequenciais que apresentam uma relação lógica e interna com a finalidade de atender e suplantar as necessidades e expectativas dos clientes nos planos interno e externo (OLIVEIRA, 2009). • Processo é qualquer atividade que recebe uma entrada (input), agrega-lhe valor e gera uma saída (output) para um cliente interno ou externo e faz uso dos recursos da organização para gerar resultados concretos (HARRINGTON, 1997). • Ordenação das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com começo e fim limitados e caracterizados por entradas (input) e saídas (output) identificadas (ARAUJO, 2011). • Processo pode ser definido como qualquer atividade, ou um conjunto de atividades, que toma um input, adiciona valor por meio de uma transformação e fornece um output, tanto para um cliente interno como para um externo, e visa adicionar valor ao produto ou serviço, fazendo com que o todo produzido represente algo maior do que a soma das partes (GONÇALVES, 2002). Compilando as conceituações, podemos definir que um processo consiste em um conjunto de atividades executadas sequencialmente que apresentam relação lógica entre si e adicionam valor aos insumos por meio das entradas (inputs) do processo, criando um resultado, sob a forma de produtos, serviços ou informações – denominadas saídas (outputs) – destinado a satisfazer às necessidades dos clientes internos e externos. Insumo Input Entrada Produto Output Saída Processo Feedback Figura 16 - Representação de sistema 135 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Dessa forma, podemos afirmar que os processos pressupõem transformações que ocorrem entre as entradas e as saídas por meio do trabalho realizado na organização, determinado pelas atividades e tarefas específicas, claramente definidas em termos de responsabilidades e atribuições, e que justificam a existência das organizações em um sistema de mercado concorrencial. O entendimento de processo como um fluxo de trabalho contínuo com entradas e saídas bem definidas foi desenvolvido a partir da engenharia, e podemos elencar como entradas bens materiais, informações e conhecimentos, como energia, mão de obra, água, fios, pneus, madeiras, tintas, tecidos e alimentos, além da ampla gama de matérias-primas físicas ou de serviços (GONÇALVES, 2000). O termo produto pode incluir mercadorias, serviços, soluções, ferramentas, materiais, equipamentos, informações ou uma combinação entre estes, e a utilização do conceito de processos leva ao desenvolvimento da função de “dono do processo”, cujas atribuições principais são: garantir o seu andamento eficiente e facilitar o relacionamento com outros processos dentro dos resultados previstos. Observação A área de produção desempenha um papel central na gestão de processos, pois é o setor que tem a responsabilidade de transformar insumos e matérias-primas em produtos e serviços que atendam às necessidades dos clientes conforme as especificações solicitadas. O processo de produção, por sua vez, é dividido em fases que vão desde a fabricação até o processo de embalagem e é definido em função das características dos equipamentos, máquinas e produtos fabricados, que podem ser classificados em quatro grupos principais: • produção contínua; • produção repetitiva em massa; • produção repetitiva em lotes; • produção sob encomenda. Além dos processos produtivos, as organizações possuem outros que compõem a gestão administrativa total que podemos apresentar, conforme a seguir. 136 Unidade IV Quadro 9 – Processos empresariais Processos gerais Processos específicos Administração Definição de visão, desenvolvimento de liderança, projeção econômica e gestão de contas. Manufatura Gestão da qualidade, planejamento da produção, controle de estoque, suprimento e distribuição física. Marketing Definição de preço, novos produtos, gestão de canal, propaganda e pesquisa de mercado. Financeiro Orçamento empresarial, gestão de crédito e cobrança, análise de investimentos, fontes de financiamento, gestão de caixa e desempenho organizacional. Suporte ao cliente Atendimento e suporte, gestão de garantia, troca, reparo e pesquisa de satisfação. Tecnologia Gestão de projetos, novas tecnologias, desenvolvimento de aplicativos e softwares de suporte a clientes, gestão e operação. Comercial Marketing direto, gestão de pedidos e clientes, controle de equipe de vendas, definição de preços e condições de pagamento. Adaptado de: Keen (1997, p. 32). Processos de serviços Os processos utilizados nas organizações que vendem ou prestam serviços nem sempre são materiais, como faculdades, colégios, transportes, salões de beleza e hospitais. Na produção de serviços, o conceito de processo é fundamental, uma vez que a sequência de atividades nem sempre é visível para o cliente nem para as pessoas que a realizam (GONÇALVES, 2000). Os processos das empresas que atuam na prestação de serviços apresentam diferenças em relação aqueles das empresas industriais, entre elas, podemos apontar: • Tangibilidade: os produtos são tangíveis e possuem dimensões físicas; os serviços são intangíveis. • Estocagem: os serviços não podem ser estocados, ao contrário dos produtos físicos. A prestação de serviços ou a oferta vinculada entre produtos/serviços tem como consequência a necessidade de as organizações ajustarem seus processos produtivos ao mercado e apresentarem grandes diferenças, como nos serviços profissionais (processos com estreito contato com os clientes, preços individualizados, prazos flexíveis e elevada necessidade de funcionários qualificados no atendimento). Na prestação de serviços, fatores que afetam a percepção dos clientes precisam ser considerados, tais como a limpeza dos ambientes, decoração, apresentação pessoal, rapidez no atendimento, facilidade de acesso, estacionamento e condições de pagamento. 137 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Saiba mais Conheça mais sobre conteúdos atuais de gestão de processos acessando o site www.fnq.org.br, da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). Lá você encontrará informações sobre as melhores práticas empresariais sobre o tema. A demanda por serviços na economia moderna é ampla e vai desde a prestação de serviços de entrega e logística, passando por produtos financeiros, até a utilização de serviços digitais integrados à internet. Ela faz com que os processos organizacionais precisem ajustar-se à realidade. Quadro 10 – Processos de manufatura e serviços Características Serviços Manufatura Propriedades Vários proprietários Definida claramente Fronteiras Pouco nítidas e difusas Responsabilidade definida Pontos de controle Não existem Formais e limitados Indicadores Medição limitada ou inexistente Gestão específica Ações corretivas Corretivas sob problema Frequente e preventiva Nas empresas de serviços, o conceito de processo é de vital importância, uma vez que a sequência de atividades nem sempre é visível pelo cliente e por quem realiza as atividades. O conceito de processo aumenta à medida que os serviços agregam cada vez mais capacitação intelectual, se afastando do modelo industrial. Para Hammer (1997), as organizações com gestão baseada em processos e orientadas para os clientes adquirem as seguintes vantagens: • As pessoas sabem a razão de ser da organização e conhecem os produtos e seus clientes. • As pessoas sabem a razão de ser do processo em que atuam e quais são seus fornecedores e clientes internos. •Sabem como esses processos criam valor para os clientes e para a organização. Para quem trabalha em contato direto com os clientes, essa distinção pode parecer simples, mas, para os funcionários que atuam nos processos de apoio, nem sempre a visualização é clara. 7.1.1 Tipos de processos Conforme vimos, processos são formas de organizar o trabalho dentro das organizações que produzem ou fornecem produtos e serviços conforme as necessidades dos clientes. De forma geral, existem três grupos principais de processos: processos de negócios, processos organizacionais e processos gerenciais. 138 Unidade IV Os processos de negócios estão ligados à razão de ser das organizações, podem ser bem diferentes conforme a área de atuação e possuem forte apoio no desenvolvimento de sistemas de informação. Quadro 11 – Processos empresariais Negócios Organizacionais Gerenciais Essenciais para a operação e suportados por outros processos, resultam no produto do cliente. Centrados na empresa, permitem o funcionamento integrado, dando suporte aos processos de negócios. Foco nos gerentes e suas relações, medições, ajustes e ações de suporte que os gestores devem fazer. Vendas, desenvolvimento, distribuição, cobrança e atendimento. Planejamento estratégico, orçamentos, recrutamento, compras e treinamento. Metas, resultados e alocação de recursos. Fonte: Gonçalves (2000, p. 3). Processos de negócios são aqueles que justificam a existência das organizações no mercado e estruturados com vistas a fornecer produtos/serviços aos clientes, como: • área comercial ou departamento de vendas; • pesquisa e desenvolvimento de produtos ou serviços; • logística e distribuição física; • crédito e cobrança; • atendimento ao cliente; • manufatura, produção e manutenção; • logística integrada. A segunda categoria de processos é a dos processos organizacionais, nos quais estão reunidas as práticas que apoiam e suportam as atividades de negócios com a definição dos objetivos, metas de cada processo e uma visão integrada e total: • planejamento estratégico; • elaboração de orçamentos e controle de custos; • recrutamento, treinamento e seleção; • suprimentos e compras; • armazenagem e almoxarifados. 139 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Os processos organizacionais produzem resultados nem sempre percebidos pelos clientes externos, mas importantes para a gestão, como, por exemplo, o suprimento de materiais e compras. Fornecedor Administrar materiais Cliente Distribuição física junto ao cliente do fornecedor Logística Suprimento Administrar materiais junto a manufatura Logística Distribuição Atividade específica de distribuição física Consumidor Consumidor Manufatura Atividade de distribuição com manufatura Figura 17 – Processos de negócios: logística Classificamos o terceiro grupo como processos gerenciais, no qual estão alocadas as atividades típicas dos líderes e gestores, como: • fixação de metas de vendas e resultados; • apuração e avaliação dos resultados da organização; • atribuição e destinação dos recursos financeiros; • definição de investimentos e fontes de financiamentos; • gestão de riscos e endividamento. Os processos nas organizações podem ser internos ou externos. Uma característica geral é a sua interfuncionalidade, pois, embora alguns deles sejam executados dentro de uma unidade, a maioria dos importantes, como os processos de negócios, atravessam várias áreas das organizações. Exemplo de aplicação Tente desmembrar o macroprocesso de uma empresa de sua preferência em subprocessos, atividades e tarefas e reflita a respeito do resultado apresentado. 7.1.2 Características dos processos De forma geral, nem todos os processos possuem a mesma importância para as empresas, tanto do ponto de vista dos resultados gerados como dos recursos envolvidos em sua operação. A prioridade dos processos pode ser avaliada por meio de sua importância para os clientes e do valor econômico que gera, estabelecendo uma vantagem competitiva para a empresa (KEEN,1997). Podemos classificar a estrutura de um processo organizacional em quatro etapas principais, em ordem decrescente, dentro de uma hierarquia funcional: 140 Unidade IV • Macroprocesso: conjunto de subprocessos cujo objetivo é transformar e processar insumos para a produção de bens e serviços finais que atenderão às necessidades dos clientes. • Subprocesso: conjunto de atividades inter-relacionadas que têm a finalidade de atender a uma parcela específica do macroprocesso. • Atividade: conjunto de tarefas que devem ser executadas a fim de produzir um determinado resultado. • Tarefa: trabalho operacional fundamental e básico a partir do qual se desenvolvem as atividades necessárias. Macroprocessos Subprocessos Atividades Tarefas Figura 18 – Macroprocesso Essa classificação e decomposição das atividades que compõem um processo pode ser adaptada para processos operacionais diversos ou para o setor de serviços que apresenta características diferenciadas em termos de modelo de negócio ou processo de produção e atendimento a clientes. Na elaboração de uma estrutura organizacional baseada em processos, as entidades precisam definir com precisão quais e quantos são os métodos organizacionais, de forma a permitir a construção de um modelo de gestão de negócios que possibilita aos gestores desenvolver e implementar a gestão baseada em processos de forma correta e eficaz. Muitos dos processos das áreas não fabris – como as atividades desenvolvidas nos escritórios que seguem uma rotina estabelecida por tecnologias de informação e softwares – nem sempre são fáceis de identificar, mas compõem os processos de trabalho das organizações. A análise dos processos implica a identificação precisa das suas limitações em diversas dimensões, como o fluxo (volume por tempo), a ordem de realização, o tempo de espera, a duração da operação, as pessoas envolvidas e as relações de dependência entre elas (GONÇALVES, 2000). 141 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Entre as características que definem um processo, podemos citar: • Existência de profissional responsável pela execução e gestão. • Início e final definidos por meio da identificação precisa do fornecedor e do cliente interno no final da atividade realizada. • Fluxo de comunicação abrangente, com responsabilidades e atribuições. • Manual de procedimentos e tarefas, com as especificações de padrão para as tarefas atribuídas. • Possuir um sistema de controle gerencial, como suporte às atividades que permitem o controle e a gestão dos responsáveis. • Prazos de execução das atividades conhecidas, definidas e de ampla divulgação. • Cultura de inovação e melhoria contínua em todos os níveis da organização. Na configuração dos processos, existe um ponto de entrada denominado input, que pode ser o pedido de compra de um cliente, a requisição de materiais ou serviços e a demanda por serviços prestados por terceiros – que são de atribuição específica dos diversos departamentos da organização e que, após sua concretização, conferem ao trabalho executado uma saída (output), que deverá gerar um resultado dentro das expectativas preestabelecidas. Os recursos a serem transformados, segundo a sua natureza, podem ser materiais, informações ou pessoas. No processo de transformação, acontece a entrada de insumos (input) dos recursos para processamento e transformação. Podemos classificar os processos de transformação em três grupos: • Processamento de materiais: transformar características físicas; mudar localização; realizar entregas; mudar a posse, por meio de envio a comerciantes, a estocagem e a armazenagem. • Processamento de informações: transformar informações com os contadores; estocagem, como em bibliotecas; mudança de local, como em empresas de telecomunicações. • Processo de consumidores: mudanças de características físicas, como cabeleireiros e médicos; hospedagem, como hotéis; transformar oslocais, como empresas aéreas de transporte e hospitais; entretenimento, como TV, rádio, internet, teatros e parques. A frequente medição e avaliação dos resultados permite às organizações estabelecer um procedimento de melhoria contínua, que abre oportunidade para o desenvolvimento de inovações que possam conduzir a um melhor nível de produtividade e eficiência organizacional. Uma ferramenta baseada nos procedimentos de gestão da qualidade e útil na definição dos processos organizacionais denomina-se 5W/1H, assim detalhado: 142 Unidade IV Quadro 12 WHY O processo é necessário? Qual é o objetivo? WHAT O que deve ser executado nesse processo? WHO Quem deve atuar e de que forma essa atuação será exercida? WHERE Qual a localidade de execução desse processo? WHEN Em que momento esse processo deve ser executado? HOW Como esse processo deve ser executado? Com a utilização dessa ferramenta, gestores e líderes das atividades de cada um dos processos organizacionais podem definir as limitações destes e exercê-las de forma correta. Na definição de qualquer processo, deve-se buscar alguns resultados comuns, como a eficácia do trabalho, a eficiência dos recursos e a flexibilidade de operação de cada tarefa. Nesse sentido, podemos definir as distinções necessárias entre estes três importantes elementos: • Eficácia: mede o nível de atendimento com o qual as necessidades dos clientes são atendidas. Ser eficaz pressupõe atender os clientes dentro do que foi solicitado e obter os resultados esperados, com pontualidade, preço, especificação, prazo e qualidade. • Eficiência: mede o nível de utilização dos recursos materiais e humanos na obtenção dos resultados dentro de elevados níveis de produtividade. Ser eficiente é fazer da melhor forma possível e dentro dos custos estimados, considerando o tempo de ciclo ou processamento, a quantidade de recursos utilizados na produção, o índice de perdas e desperdício, os custos da falta de qualidade percebida pelos clientes e o tempo de espera do atendimento. • Flexibilidade: mede o grau de adaptação dos recursos materiais e humanos das alterações especiais de cada cliente interno ou externo dentro do escopo principal de execução. Entre os indicadores de flexibilidade, podemos destacar: — tempo médio de atendimento de pedidos especiais ou imprevistos em relação ao tempo padrão; — índice de perda de pedidos especiais; — uso de recursos extras que demandam custo de horas extras e retrabalhos. Quadro 13 Eficácia Eficiência Fazer o necessário Fazer corretamente Preocupação com os fins Preocupação com os meios Focos, resultados e metas Foco nos métodos Ganhar a guerra Cumprir normas internas 143 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Eficácia Eficiência Agregar valor Treinar e aprender Saber e conhecer Pontualidade Atingir objetivos Cumprir métodos Adaptado de: Oliveira (2009, p. 6). Observação Cabe à área de produção administrar os recursos que as organizações possuem para atender às necessidades dos clientes, conforme as características de cada produto ou serviço, que podem ser fabricados em processo único ou combinado. 7.1.3 Hierarquia dos processos Dentro da estrutura organizacional por processos, é necessário estabelecer uma hierarquia entre os colaboradores que assumem perante a direção geral: responsabilidades e funções em no que se refere à importância de cada processo. Conforme o grau de detalhamento, podemos apresentar uma relação de hierarquia em função da especificidade de cada processo entre diretores, gestores e supervisores, em escala decrescente. Macroprocesso Processo Subprocesso Atividade Tarefa Fabricação veicular DesenvolvimentoEngenharia Produção Usinagem Corte Preparo Montagem Furação Programação Pintura Acabamento Acompanhamento Figura 19 A divisão do trabalho a ser realizado ocorre por meio da organização dos processos em um sistema hierárquico. Isso se dá nos níveis de cada procedimento, definindo uma relação de cima para baixo (top-down) de responsabilidades e atribuições perante o macroprocesso maior, que é a própria organização. A hierarquia estabelece uma relação de subordinação e de integração entre os processos com responsáveis definidos e pode representar desde um nível mais abrangente a outro mais específico. 144 Unidade IV Apesar da estrutura hierárquica decrescente, todos os processos, subprocessos, atividades e tarefas são importantes e operam em um sistema interligado, contínuo e em constante transformação, buscando melhorias constantes e inovações tecnológicas ou de gestão. É necessário dedicar especial atenção à estrutura dos processos, sua definição e composição, de forma que, apesar das falhas e dos problemas, permita a implantação de um novo modelo de gestão organizacional que traga resultados e direcione os esforços de todos para as necessidades dos clientes como objetivo principal. 7.1.4 Tecnologias de informação e processos A difusão de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) em curso acelerado vem provocando grandes mudanças de impacto na organização interna das empresas e no relacionamento com os clientes e com o mercado. A introdução das novas tecnologias digitais permite às organizações novas formas de controle de informação e comunicação, como telefones celulares, aplicativos, sistema de televisão por satélite e a cabo. Essas novas tecnologias possibilitam a realização dos processos ao mesmo tempo que oferecem aos clientes mais opções de produtos e serviços. A tecnologia tem papel relevante na gestão dos processos organizacionais pois determina a forma de realização do trabalho, como a gestão, em que muitas vezes os processos seguem um roteiro de atividades ditados pela tecnologia empregada. O impacto da tecnologia na realização do trabalho abrange desde alterações na forma de realização do trabalho individual até na forma da gestão da integração entre os processos internos (GONÇALVES, 2000). Quadro 14 – Tecnologia de informação e processos Área de impacto Forma de impacto Automação Os processos são padronizados com o uso de softwares específicos. Informação Grandes bancos de dados de fácil acesso e documentação de processos facilitam a gestão e a ação. Acompanhamento Os gestores possuem informações rápidas para agir e mudar. Integração Os envolvidos podem interagir na melhoria dos softwares e na criação de interface entre os processos da empresa. Customização Adaptações customizadas permitem ajustes específicos na gestão dos processos específicos de cada empresa. Fonte: Araujo (2011, p. 101). 145 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS A mudança na gestão organizacional baseada em processos e a difusão dos conceitos de reengenharia a partir da década de 1990 criaram a necessidade da introdução de novos conceitos no desenvolvimento de softwares e hardwares integrados para a gestão empresarial que mudaram a forma de gerenciamento dos processos, com a área de TI assumindo um papel fundamental e de atuação estratégica (ARAUJO, 2011). A difusão da gestão de processos trouxe a área de TI como condição determinante para o alcance dos resultados desejados, desde a fase de implantação até o processo de melhorias contínuas subsequente. Sistemas integrados de gestão (ERP) A introdução dos sistemas integrados de gestão empresarial, conhecidos nas organizações como ERP (enterprise resources planning), surgiu a partir da necessidade de integração de controle e gestão de processos. Estes tinham um enfoque tradicional, vertical e fragmentado, que exigiu uma mudança no comportamento dos funcionários e na execução das tarefas, que passariam a se basear nos requisitos das novas tecnologias. Os sistemas ERP permitem às organizações uma base de dados única que suporta vários processos, como recursos humanos, logística, finanças, contabilidade e vendas, exigindo uma atitude de integração de todos na execução das tarefas de trabalho. ReportingVendas e distribuição Finança econtrolling Apoio a serviços Gestão de materiais Produção Gestão de recursos humanos Banco de dados central Níveis de gestão Representante de vendas e serviços Pessoal administrativo Pessoal operacional Colaboradores Cl ie nt es Fo rn ec ed or es Figura 20 – Modelo de sistema ERP A introdução de sistemas ERP, que são estruturados em módulos de processos nas organizações, criou uma base de dados integrada e dinâmica, otimizando o fluxo de informações, redução das atividades manuais, eliminação de atividades redundantes, padronização das rotinas de trabalho e controle a partir de um único sistema de informação em toda a empresa, reduzindo custos e tempos com a melhoria no nível de atendimento aos clientes. 146 Unidade IV Com custos iniciais elevados de aquisição e implantação possível às grandes e médias empresas do mundo, atualmente, os principais fornecedores de sistemas ERP, como Oracle, SAP, entre outros, focam na difusão dos sistemas para as pequenas empresas em projetos customizados específicos. Lembrete O mapeamento dos processos organizacionais, por meio de uma descrição precisa das atividades executadas e dos fornecedores e clientes internos, permite aos gestores aprimorar a condução dos trabalhos conforme as necessidades e as expectativas dos clientes. A introdução de novas tecnologias de comunicação, como o correio eletrônico (e-mail), a teleconferência e outras, permitiu a condução de novas modalidades de trabalho individual e em grupo, dentro e fora das organizações. Para Gonçalves (2002), a adoção de novas tecnologias de informação e comunicação permite às organizações ampla gestão e modelagem de seus processos por meio da automatização de tarefas e novas formas de execução dos processos. Possibilita também que as entidades redefinam a operação das atividades de apoio e sua integração, automatizem a execução de tarefas, coordenem melhor os trabalhos e monitorem o desempenho operacional e a gestão dos clientes. 7.1.5 Gestão de processos e cadeia de valor A disseminação do conceito de que o objetivo final das instituições é criar valor para os clientes a custos adequados foi inicialmente introduzida por Porter (1992), que demonstrou a necessidade de as organizações desenvolverem estratégias de diferenciação para a conquista de clientes e se manterem no mercado. A gestão de processos permite o exame de todas as atividades executadas por uma empresa e do modo como elas interagem, através da identificação da cadeia de valores desagregada em suas atividades de relevância estratégica, para compreender o comportamento dos custos e identificar as fontes de diferenciação. As empresas são uma reunião de atividades para projetar, produzir e comercializar produtos (PORTER, 1992, p. 31). Porter (1992) descreve a forma como os clientes atribuem valor e definem escolhas em suas preferências, demonstrando que o conceito de valor para os clientes externos está relacionado com as vantagens que ele conquista à medida que escolhe os produtos de uma organização em que preço, agilidade e atendimento são fatores decisivos. O autor também classifica a divisão interna dos processos das organizações em dois grupos: processos-chave e processos de apoio. A introdução do conceito de valor para os clientes implica a precisão de mudanças na gestão organizacional em termos de compreensão dos negócios, trabalho em equipe e necessidade de uma nova definição das responsabilidades de cada um, pois as empresas foram projetadas em função das realidades internas. A mudança para uma gestão com foco nos processos, a partir da visão dos clientes, 147 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS exige uma redefinição dos métodos de negócios estabelecidos por meio de novos modelos de organização e gestão com foco nos clientes externos. Quadro 15 – Comparativo gestão tradicional x gestão de processos Atributos Tradicional Processos Foco Chefe Cliente Relacionamento Cadeia de comando Cliente – fornecedor Orientação Hierárquica Processo Quem toma decisão Gerência Todos os participantes Estilo Autoritário Participativo Abandonando a estrutura organizacional tradicional, predominante no século XX, as organizações modernas estão estruturando seus recursos e fluxos de trabalho ao longo dos seus processos. Por meio do modelo de gestão por processos, definem um novo padrão de gestão que permite a administração holística e integrada, avaliando possibilidades e dificuldades que se apresentam e focando os esforços no atendimento às necessidades dos clientes. A transição das organizações para a gestão por processos Conforme Gonçalves (2000), a mudança da gestão tradicional para a gestão de processos ocorre em etapas que evoluem com o aprendizado, de acordo com as necessidades de mudança dentro das organizações e da velocidade dos projetos. Quadro 16 – Etapas para a gestão por processos Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 Situação Processos Identificam-se os processos Melhorias nos processos Definição dos gestores dos processos Gestão por modelo de processos essenciais Características Existe apenas uma visão dos processos Processos são vistos como modelo funcional Ainda a visão funcional Começam os ganhos na gestão por processos Fim da área funcional e definição das metas e métricas Possibilidades de melhorias Limitadas Visão pontual; Gargalos Racionalização dos processos essenciais Melhorias na gestão e integração com apoio Gestão integrada dos processos Fonte: Gonçalves (2000, p. 3). As empresas que se encontram na etapa 1 são as que não identificaram a necessidade de mudanças na gestão dos negócios e apenas cogitam realizar mudanças nos processos produtivos em função de novas tecnologias de fabricação, mas não consideram alterações nos processos de negócios e, de forma geral, consideram que os trabalhos devem ser executados de forma tradicional e com foco restrito sob supervisão constante. 148 Unidade IV Na etapa 2, as empresas evoluem em suas diretrizes de gestão e conseguem identificar quais são os seus processos e subprocessos, porém mantêm a gestão com base em funções de comando do tipo tradicional, contratam de acordo com as regras comuns e buscam soluções pontuais de problemas específicos. Na etapa 3, as empresas já conseguem realizar um mapeamento dos processos-chave, dos processos de apoio e fazem melhorias nos problemas específicos por meio de uma estrutura tradicional e hierarquizada, com funções e tarefas definidas. Nesta fase, a tendência é manter a estrutura de gestão e controle, investindo na implantação de novas tecnologias de informação e eliminar funções e atividades duplicadas. Na etapa 4, as empresas já possuem uma clara identificação dos seus processos-chave e de apoio e atribuem a responsabilidade de execução a gestores específicos, que tomam ações de melhorias na execução de cada processo de forma individual e integrada. Na etapa 5, as empresas estão prontas para uma gestão de processo com um mapeamento completo de seus procedimentos essenciais, buscam maior integração entre todos eles e a união de objetivos com as empresas vinculadas ao negócio e que influenciam o atendimento aos clientes. A transição para o modelo baseado em processos ocorre de forma gradual e temporal, conforme as características dos métodos internos das organizações e a força da cultura tradicional estabelecida. Esta, somada à conscientização da necessidade de mudança, culminam em novo modelo de negócios, permitindo às organizações a solução de problemas do padrão tradicional, como: • baixa integração entre os departamentos; • falta de uma visão sistêmica do funcionamento da organização; • dificuldade em identificar fornecedores e clientes dos processos internos e externos; • lentidão do processo de tomada de decisões; • pouco incentivo ao trabalho em equipe; • inflexibilidade com mudanças e inovações. Problemas acontecem na transição do modelo tradicional para o de gestãopor processos, mas os resultados positivos que costumam advir dessa mudança são visíveis e de curto prazo, isso em função das alterações comportamentais que sua aplicação exige em um ambiente empresarial em constante transformação. 149 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Finanças Manufatura Promoções Faturamento Distribuição Cliente Mercado Vendas Projetos Pedidos P&D Recursos humanos Capital Tecnologia Voz do cliente Orçamento (plano operacional da empresa) Produto Serviço Pesquisa de mercado Percepção novos produtos Matéria-prima / equipamentos RH • Aspectos legais • Toda empresa • Benefícios • Capacitação • Treinamento • Controle do conhecimento (Skill) Figura 21 – Gestão por processos — Visão global dos processos do negócio A gestão por processos parte da premissa de que cada trabalho ou tarefa executada tem impacto direto no resultado final dos clientes externos. A atividade de um funcionário tem consequências diretas no desempenho da tarefa executada por outro e estabelece uma relação de interdependência, prioridades e objetivos. Por meio de vantagens competitivas em comparação com os concorrentes, a gestão de processos permite às organizações alcançarem um nível superior de desempenho, com a aquisição de padrões superiores de qualidade e resultados em ambiente de alta produtividade. A seguir, algumas vantagens adquiridas pela gestão de processos: • foco nas necessidades dos clientes; • maior nível de controle e gestão dos processos; • redução do tempo de ações e decisão; • possibilidade de antecipar as demandas do mercado; • maior interação gerencial e operacional; • controle e prevenção de problemas. A gestão de processos permite aos gestores ter uma visão completa do comportamento gerencial de forma ampla, monitorando os processos administrativos e gerenciais. 150 Unidade IV Suas características são: • gestão voltada para o atendimento das expectativas dos clientes; • adesão do modelo horizontal baseado em processos; • aperfeiçoamento dos relacionamentos dentro e fora da organização; • atribuição do responsável por cada processo; • definição dos indicadores de desempenho de cada processo; • promoção de equipes multidisciplinares com autonomia; • comprometimento com a geração de resultados; • estímulo do aprendizado e dos relacionamentos interpessoais. A utilização da gestão baseada em processos permite uma efetiva integração entre os ambientes internos e externos com as organizações, extrapolando a gestão para outros elos da cadeia de atendimento aos clientes e estabelecendo parcerias com fornecedores e distribuidores dentro de uma mesma rede de fornecimento ao mercado. Para Oliveira (2009), entre as tendências atuais na gestão das organizações, podemos destacar: • As estruturas organizacionais enxutas com processos ágeis e custos reduzidos para a geração de resultados. • A qualidade como premissa e não como objetivo, pois à medida que os conceitos de qualidade se disseminam, deixam de ser diferencial para ser padrão nas organizações. • O acelerado desenvolvimento tecnológico, que exige das organizações atualizações contínuas e frequentes das suas ferramentas de TI. • A redução do ciclo de vida dos produtos e serviços em função da aceleração dos processos de inovação e o crescimento dos níveis de exigências dos clientes. • O redirecionamento da estrutura de poder para os clientes, induzindo as empresas a revisarem seus processos de forma contínua, e a necessidade de manter um canal aberto de contato frequente com os clientes. • Maior necessidade de comprometimento dos fornecedores de produtos e serviços. • O deslocamento do poder dentro das organizações para os níveis mais baixos da estrutura, dando-lhes autonomia de operação e gestão com suporte das TIs. • A ampliação do nível de concorrência entre as empresas com a globalização econômica. 151 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS 7.1.5.1 Identificação dos processos organizacionais Para implementar a gestão de processos, as organizações precisam identificar os macroprocessos que agrupam processos específicos, por exemplo: • Processos de produção: estabelece a integração entre as áreas de marketing, vendas e produção. • Gestão de recursos: concretizam as atividades de transportes, materiais, finanças e recursos humanos. • Gestão administrativa: responsabilidade de administração geral. • Coordenação das partes interessadas na organização: acionistas, proprietários, clientes, colaboradores e sociedade (stakeholders) que buscam informações sobre o andamento dos resultados e impactos sociais com a prestação de contas e informações periódicas. • Utilização da representação do sistema de gestão da qualidade: com base na NBR ISO 9011:2008, é possível identificar os macroprocessos organizacionais. Melhoria contínua do sistema de gestão da qualidade Gestão de recursos Medição, análise e melhoria Realização do produto (e/ou serviço) Responsabilidade da administração Produto Input Output Sistema de gestão da qualidade Re qu isi to s do c lie nt e Sa tis fa çã o do c lie nt e Figura 22 A gestão por processos permite a união entre os funcionários em um ambiente positivo e proativo que assegura os resultados pretendidos e, para isso, há a necessidade de as organizações elaborarem um mapeamento dos procedimentos com precisão, principalmente, aqueles que agregam valor aos clientes. 7.1.5.2 Processos-chave e processos de apoio Os processos organizacionais possuem características diferentes e são classificados em dois grupos principais: processos-chave e processo de apoio. Os processos-chave são aqueles que possuem forte 152 Unidade IV impacto nos resultados e no atendimento aos clientes, já os processos de apoio são os que dão suporte aos processos-chave (GONÇALVES, 2000). Observação As organizações nem sempre conseguem identificar os processos-chave e de apoio. Para realizar essas atividades, pode ser útil a contratação dos serviços de uma consultoria especializada em processos de gestão, que ajudará as instituições a obterem melhores resultados com a implantação do sistema de gestão da qualidade. Processos-chave Os processos-chave são aqueles que possuem a capacidade de agregar valor aos clientes e criar uma vantagem competitiva para as organizações, a saber: • Desenvolvimento de produto/serviço: atividades relacionadas com a avaliação das demandas do mercado e alinhamento com os projetos que atendam às necessidades apuradas. • Vendas/marketing: atuam com a função de coletar dados dos mercados que vão dar suporte às operações produtivas. Esses dados devem ser pesquisados, analisados e tabulados de forma consistente e dentro de modernas métricas para a geração de outros dados sobre as características físicas de produtos e serviços, como acessórios, embalagens, volumes de vendas previstas entre outros. Devem gerar dados sobre preços e condições de pagamento que os clientes estão dispostos a assumir para a aquisição dos produtos, estabelecer bases para a correta divulgação destes, por meio das diversas mídias publicitárias existentes, como televisão, internet, rádio, canais de comunicação e determinar o período de divulgação e os custos de veiculação. A utilização da internet, com a criação de sites e lojas virtuais para atendimento aos mercados por meio do E-commerce, permite às organizações atendimento aos mercados distantes e restritos. É necessário estipular a área geográfica de atendimento aos clientes, definindo as formas de suprimento (venda direta ou venda indireta) com a intermediação de atacadistas e varejistas em uma área de atendimento (cidade, região, estado ou país). • Atendimento do pedido: atividades referentes à entrada dos pedidos dos clientes, produção e entrega física. O processo de produção é acionado visando à concretização física das necessidades dos clientes e às principais atividades da produção: 153 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DEPROCESSOS — Determinar as condições de fabricação, como máquinas e equipamentos a serem utilizados, estabelecer a quantidade de pessoas a serem empregadas e definir prazos de fabricação, entrega e local de produção. — Estabelecer planos de manutenção preventiva de máquinas e equipamentos. — Definir metas de controle de qualidade de produtos com regras para os que estejam fora de especificação ou validade para venda. Produto Gerar pedido Pedido Pós-venda Processos de apoio Cl ie nt e Cl ie nt e Figura 23 • Serviços de pós-venda: atividades relacionadas à assistência técnica, atendimento a reclamações, ouvidoria e orientações. Processos de apoio Nesse grupo, estão incluídas as atividades que têm a função de dar suporte ao funcionamento dos processos-chave: • Gestão de pessoas: dá suporte para a organização nas atividades de recrutamento, seleção, treinamento e avaliação; estabelece formas de controle dos funcionários por meio da gestão de faltas, atrasos ou afastamentos; controla a folha de pagamentos e fornece assistência à gestão dos encargos legais e negociações coletivas com representantes sindicais. • Administração de materiais: define as condições logísticas de suprimentos e compras de insumos, além da gestão da armazenagem e distribuição física. • Administração de serviços: se encarrega das atividades de segurança, limpeza, alimentação, jurídica, informática (TI) e gestão das transportadoras, que podem ser próprias ou terceirizadas. • Administração financeira: responsável pela elaboração dos orçamentos da organização, controle do fluxo de caixa e capital de giro, controle das operações de crédito e cobrança, elaboração dos relatórios financeiros/contábeis, como balanço patrimonial e demonstrativo de resultados, além de dar suporte às necessidades de investimentos de manutenção ou ampliação. 154 Unidade IV Fornecedor Fábrica Varejo Transportador Consumidor Distribuidor Logística reversa Suprimentos Operações Distribuição física Figura 24 – Processo logístico As organizações devem identificar seus processos de agregação de valor considerando o mercado de atuação, seus produtos, o modelo de negócio, as estratégias entre outros fatores. Essa identificação é realizada observando os processos e especificando o valor que agrega às necessidades dos clientes. Os processos-chave e de apoio precisam ser gerenciados para que as carências dos clientes e de outras partes interessadas sejam atendidas. Saiba mais Conheça melhor a gestão de processos nas organizações com a leitura do artigo “As empresas são grandes coleções de processos”. GONÇALVES, J. E. L. As empresas são grandes coleções de processos. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 40, n. 1, jan./mar., 2000. Disponível em: https://bit.ly/3NXfGk7. Acesso em: 3 jun. 2022. 7.1.5.3 Ferramentas de qualidade e processos Com a classificação dos processos-chave e o de apoio, as organizações devem estabelecer um fluxograma de cada processo. Os fluxogramas são uma forma de representação visual da sequência de etapas executadas, a fim de concretizar um produto ou serviço (OLIVEIRA, 2009). Um fluxograma bem elaborado permite a correta integração entre os processos, indicando sua origem e destino, define os responsáveis por cada processo, proporciona uma visualização exata e analisa sua eficiência, eficácia e flexibilidade. Possibilita ainda analisar a gestão de pessoas alocadas em cada função/tarefa e as reais condições de qualificação exigidas, além de identificar oportunidades de mudanças, melhorias e inovações 155 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Vantagens do uso de fluxogramas na gestão dos processos: • Identificação das tarefas e de possíveis duplicidades existentes e eliminação de tarefas desnecessárias ou sobrepostas. • Gerenciamento da sequência ideal de execução dos processos, atividades e tarefas em ordenação lógica e eficiente. • Permite uma visualização holística (sistêmica) dos processos da organização e sua integração. 7.1.5.3.1 Tipos de fluxogramas A utilização de fluxogramas é uma ferramenta adequada para a elaboração e definição dos processos organizacionais. Por meio deles, é possível às organizações descreverem a sequência das atividades operacionais, sendo também útil aos funcionários da área de gestão da qualidade, que podem escolher, entre os vários tipos de fluxogramas, aquele que melhor se adapte aos processos da organização. Todo fluxograma tem como requisitos básicos: • Definição do tipo de processo que será representado, com descrição do início e término de cada atividade ou tarefa que o compõe. • Registros e documentos que são utilizados pelos funcionários no dia a dia de trabalho e suas respectivas instruções de operação ou norma de trabalho funcional. Entre as opções de elaboração do fluxograma dos processos, existem alternativas de representação gráfica, sendo as principais: • Diagrama de blocos, que permite ampla visão dos processos. • Fluxograma padrão do American National Standards Institute (ANSI), que possibilita uma visão detalhada dos processos e sua integração. • Fluxograma funcional, que demonstra o fluxo dos processos entre organizações, descrevendo os responsáveis de cada tarefa executada. Diagrama de blocos Nesse fluxograma, elabora-se uma representação de cada etapa do processo em um diagrama que permite uma visão geral de cada etapa do processo isolada mostrando sequência, integração e relacionamento. 156 Unidade IV Início Fim Contato com fornecedores Emite Tomada de preços Relatório de disponibilidade Pedido 1 Efetua estudo de rotatividade dos produtos e comportamento do mercado Comprador Figura 25 - Fluxo - processo de compra No fluxograma do departamento de compras, ocorre uma sequência de atividades realizadas pelos compradores. Elas têm início na conferência dos relatórios diários de disponibilidade/falta de produtos para verificar a necessidade de aquisição – que dar-se-á conforme os parâmetros de aquisição predefinidos, gerados pela necessidade de realizar as cotações entre os fornecedores cadastrados, a análise das condições comerciais e logísticas –, finalizando as ações com a emissão do pedido de compra e com o envio ao fornecedor determinado. Fluxograma ANSI Nessa opção de fluxograma, podemos detalhar a forma de realização de cada processo por meio de simbologias que representam o significado de toda operação realizada. Símbolo Significado Símbolo Significado Operação Armazenagem Movimento/transporte Sentido de fluxo Ponto de decisão A Conexão1 Inspeção Limites (início, pare, fim) Documento impresso 1 - Utilizado quando o fluxograma não cabe em uma única página Espera Figura 26 - Simbologia de fluxogramas (padrão ANSI) 157 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Os fluxogramas ANSI são muito utilizados por profissionais de área da qualidade que precisam descrever com precisão o tipo de operação que é realizada em um determinado processo de trabalho e o encaminhamento da entrega para os clientes do trabalho efetuado. Início Fim Ligar a Tv Assistir à Tv Mudar canal Canal certo? sim não Figura 27 O fluxograma ANSI permite uma compreensão detalhada do processo por meio de uma representação precisa e da visualização de alternativas que podem acontecer ou não em um procedimento de trabalho. Fluxograma funcional Esse modelo demonstra a sequência de execução das tarefas, a sua integração entre as áreas de operação e também pode ser útil na gestão dos tempos de execução – tempo de ciclo –, informação fundamental na gestão de processos de produção, contemplando prazos de execução, recebimento, processamento e disponibilização de produtos ou serviços. 158 Unidade IV Controle de estoque Recebimento Cadastro de fornecedores Compras Cotação 1 Cotação 2 Cotação 3 Cotação n Armazenagem NF Material Decisão Requisição de compra Pedido de cotação Fornecedores Fornecedor Pedido de compra Co ta çõ es Figura28 Observação Tempo de ciclo é o tempo total gasto na execução de todas as tarefas envolvidas no processo. No modelo funcional, podemos notar a sequência das tarefas realizadas entre os diversos departamentos. Isso permite uma análise da eficiência de cada atividade e a gestão dos tempos de ciclo separadamente, visando reduzi-los e aumentar a eficácia do trabalho e de todo o processo. Lembrete Os fluxogramas fazem parte de um conjunto de ferramentas da qualidade que ajudam os profissionais da área na descrição dos processos organizacionais. 7.1.6 Avaliação e desempenho dos processos As organizações modernas definem em seu planejamento estratégico uma série de objetivos de desempenho que devem ser alcançados ao longo do tempo. Entre as condições para a sua efetivação, está a necessidade de que todos os colaboradores e stakeholders conheçam os propósitos organizacionais. 159 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Quadro 17 – Grupos interessados nas organizações Interessados Requisitos Indicadores Acionistas Retorno dos investimentos Taxa de lucro Funcionários Cumprimento da legislação Indenizações Clientes Satisfação e reclamação Índice de satisfação Fornecedores Pagamentos e compras Pontualidade Sociedade Meio ambiente Reciclagem Adaptado de: FNQ (2011). Os objetivos de desempenho devem ser priorizados com base na geração de valor ao cliente e na identificação dos processos que dão suporte à competitividade da organização, porém, antes da definição dos objetivos, a organização necessita determinar a missão organizacional que dará suporte à estipulação dos fins e metas que devem ser atingidos (gerais e setoriais), estabelecendo objetivos para cada processo de forma isolada e estes devem estar alinhados aos objetivos gerais da organização. Após a definição da missão, em que se estabelece a razão de ser da empresa e se identifica quem e o que a organização pretende alcançar no mercado, é possível estabelecer os objetivos da organização e as metas de cada processo interno. Processo (organização) Produto ou serviço Cliente Quais os recursos e atividades para gerar os produtos? O que a organização produz para o cliente? Para quem a organização serve? Missão Infraestrutura da informação Como gerenciar o fluxo de informações? Por que da existência da organização? Figura 29 Alinhados e inseridos nos objetivos da organização, cabe a cada gestor de processo se alinhar aos fins organizacionais e satisfazer às necessidades dos clientes. Cabe ao gestor de vendas/marketing estabelecer permanente contato com os clientes, identificando suas demandas e expectativas, que devem ser medidas pela evolução das vendas e da participação de mercado. 160 Unidade IV O gestor do processo de produção deve providenciar recursos e equipamentos suficientes para atender à demanda dos clientes, em boas condições de operação, com equipe profissional e capacitada em tarefas específicas e medindo o índice de retrabalhos e perdas operacionais. A gestão de pessoas, por sua vez, deve garantir a disponibilidade de pessoal qualificado para o desempenho das funções. Pode ser avaliada pela rotatividade de pessoal e pela satisfação com o quadro. O processo de administração de materiais deve estabelecer uma política comercial de compras de materiais e insumos dentro das melhores práticas, com a contratação de fornecedores competentes e qualidade garantida. Pode ser avaliada por indicadores de parada de produção, por falta de material e por perdas de produtos ou avarias. O processo de finanças deve atuar de forma a garantir a disponibilidade de recursos para a gestão de capital de giro e atender às necessidades de investimentos, conforme as melhores fontes de financiamento do mercado. Observação Definir a missão da organização é atribuição da direção e precisa ser simples, objetiva, com amplo conhecimento entre os funcionários e clientes, de forma a permitir que a implantação da gestão de processos nas organizações seja bem-sucedida. 7.1.6.1 Indicadores de controle e desempenho As organizações modernas, inseridas em mercados competitivos, precisam promover um contínuo controle e aperfeiçoamento de seus processos. Feito isso, devem visar melhorar a rentabilidade, a competitividade e o atendimento aos clientes por meio de ações de controle (supervisão e auditoria) e desempenho, com redução de custos, implantação de projetos de melhoria e de inovação. A base para analisar o desempenho dos processos ocorre por meio da avaliação frequente e constante, considerando a criação dos indicadores de desempenho de processos a partir de três requisitos fundamentais: eficiência, eficácia e flexibilidade. Os indicadores de desempenho permitem às organizações direcionar, controlar, comunicar as prioridades da diretoria, avaliar o exercício profissional e coletivo, suportar as decisões e possibilitar a evolução do aprendizado e dos principais grupos de indicadores. 161 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Quadro 18 Grupos de resultados Econômicos/financeiros Clientes e mercados Sociedade Pessoas Processos Fornecedores Adaptado de: FNQ (2011). A gestão de processos voltada para desempenho e resultado deve suportar a avaliação de performance com indicadores precisos dos processos-chave e de apoio, estes precisam estar incluídos nas seguintes premissas: • as operações devem ser planejadas com metas e objetivos definidos; • todos os funcionários devem participar da definição dos objetivos; • criação de uma agenda periódica de ajuste dos procedimentos e acompanhamento dos resultados; • respeito à cultura organizacional em seus valores originais; 7.1.6.2 Indicadores operacionais A partir do entendimento de que as instituições são um conjunto de processos interligados, precisamos avaliar o performance de cada processo. Para isso, os indicadores devem permitir a avaliação do desempenho de cada procedimento, produto ou serviço da organização, que possam ser elaborados por um único indicador ou consolidados por uma composição de informações, sendo classificadas da seguinte forma: • indicadores estratégicos; • indicadores de processos (eficácia, eficiência e flexibilidade); • indicadores de projetos. Os indicadores de desempenho devem mostrar para os gestores as necessidades dos clientes internos e externos, proporcionar uma análise crítica dos resultados das ações tomadas para aperfeiçoar a operação e agilizar a tomada de decisão dentro das organizações, além de permitir uma análise comparativa dos resultados conquistados. 162 Unidade IV 7.1.6.2.1 Especificações dos indicadores Os indicadores de desempenho organizacionais devem ser criteriosamente definidos para permitir, de forma simples e objetiva, avaliar a performance – ou o desempenho – da operação e da gestão de cada processo dentro das premissas de eficiência, eficácia e flexibilidade. Eles devem possuir: • Adaptabilidade: competência de atender às exigências dos clientes e acompanhar as mudanças de comportamento do mercado. • Representatividade: capacidade de ocorrer de forma sistemática e contínua, elaborada por pessoas qualificadas e de modo que permita avaliações qualitativas do comportamento dos clientes. • Rastreabilidade: devem conter dados confiáveis, que permitam conferência das fontes utilizadas e comparações históricas em períodos longos. • Disponibilidade: precisam ser ágeis e estar prontos para divulgação em curto período, permitindo agilidade na tomada de decisão dos gestores. O controle de gestão e os resultados são condições fundamentais na definição e na apuração dos indicadores de desempenho das operações dos processos, permite aos gestores estabelecer mudanças nas metas e nas previsões dos resultados financeiros sem prescindir dos conceitos de melhoria contínua e inovação. 7.1.6.2.2 Indicadores de processos: eficiência, eficácia e flexibilidade Medir como produtos e serviços são produzidos e como é a gestão dos recursos organizacionaisempregados são medidas que definem o conceito de eficiência, visto que há a necessidade de racionalizar o uso dos recursos nas atividades operacionais, evitando o desperdício, as perdas, além de gasto de tempo em tarefas que não agregam valor. A eficiência pode ser medida por: • Tempo de processo ou de ciclo em que se mede o tempo total gasto na operação, bem como os recursos gastos por unidade produzida. • Porcentagem de tempo gasto nas atividades que geram valor em relação àquelas que não geram valor. • Custos e índices de desperdício, falta de materiais e retrabalhos. • Tempo de atendimento efetivo e previsto dos pedidos dos clientes. Eficácia é a medida que busca identificar como o produto ou serviço é percebido pelos clientes dentro dos padrões acordados. Para avaliar essa percepção, são realizados investimentos em entrevistas, questionários e contatos diretos ou por e-mail, a fim de avaliar as opiniões no pós-venda. 163 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS São padrões de eficácia: • Produtividade: mede a quantidade de produtos prontos para a venda e a quantidade de produção. • Quantidade: diz respeito ao número de clientes que fizeram pedidos e quantos destes foram atendidos. • Entrega: considera o prazo solicitado pelos clientes e os atrasos. • Número de reclamações recebidas e atendidas: identifica produtos obsoletos ou fora do período de validade. A flexibilidade demonstra a capacidade de adaptação rápida das organizações diante das mudanças nas condições de operação de mercado, delega decisões, dá autonomia aos funcionários responsáveis e implementa a cultura da melhoria contínua em todos os níveis, banindo o hábito do erro e da recriminação. Com a flexibilidade, podem ser quantificados: • o tempo de atendimento de pedidos especiais, fora do padrão; • os pedidos perdidos de clientes em função dos prazos padronizados. Quadro 19 – Indicadores de eficácia, eficiência e satisfação Eficácia Eficiência Satisfação Tempo de espera nas filas dos caixas de supermercados. Número de ligações por atendente. Índice de fidelidade dos clientes. Quantidade de produtos trocados dentro da garantia. Quantidade de clientes atendidos por hora. Índice de satisfação dos clientes. A gestão de processos procura os clientes de forma ágil, rápida e flexível por meio de uma busca permanente de elevados padrões operacionais que visa atender a todos os clientes, e não apenas a maioria, como nos processos tradicionais. Promover uma cultura organizacional focada no cliente por meio da gestão por processos demanda uma contínua busca por melhorias de atendimento e realização dos procedimentos. Esse objetivo só é alcançado com a mobilização de todos os funcionários, de todos os processos, desde os mais simples até os mais complexos. Saiba mais Para compreender melhor o tema, sugerimos a seguinte leitura: COLLINS, J. C.; PORRAS, J. I. Feitas para durar. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 164 Unidade IV Vejamos um exemplo de gestão de processos alinhado aos objetivos e indicadores de desempenho definidos. Organização siderúrgica do ramo metalúrgico Missão da organização: • Em cinco anos, estar entre as três maiores empresas do setor siderúrgico no ramo metal-mecânico com reconhecimento da qualidade de seus produtos/serviços e respeitabilidade na sociedade em que atua. • Contribuir para o desenvolvimento industrial brasileiro com produtos inovadores, sustentáveis e que respeitem as condições ambientais. • Atingir, em cinco anos, participação de 50% no mercado siderúrgico do Brasil. • Ser conhecida como uma organização que atende ao mercado com produtos de qualidade, em contínuo processo de melhoria, inovação e a preços competitivos. A implementação de aperfeiçoamentos nos processos organizacionais apresenta diferenças em relação aos métodos de inovação. As melhorias são modificações a partir da utilização mais eficiente, com os recursos atuais da organização, enquanto a introdução de inovação supõe a introdução de novos recursos ou tecnologias para elevar a produtividade organizacional. A seguir, podemos verificar um quadro de indicadores de desempenho e de gestão integrada de processos. Quadro 20 – Indicadores do sistema de gestão Processo Objetivos Indicadores Metas Financeira Resultados consistentes Rentabilidade/fluxo de caixa Rentabilidade: 16% Caixa positivo Mercado Atender os clientes Orçado/realizado Satisfação > 90% Reclamações < 5% Processos Processos competitivos Produtividade/não conformidade Relação despesa/faturamento < 5% Pessoas Capacitação/treinamento Capacitação/satisfação Satisfação > 90% Estrutura Melhorias contínuas Preventivas/corretivas Monitoramento Entre as possibilidades de criação de indicadores de desempenho da gestão, algumas alternativas podem ser: • vendas/faturamento por mês; • custos fixos/faturamento por mês; • endividamento; 165 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS • lucratividade; • reclamações por mês; • novos clientes por mês; • problemas com atrasos de fornecedores e qualidade; • produtividade, retrabalhos por mês; • horas extras necessárias e imprevistas; • devoluções e reclamações de clientes por mês; • não conformidades ou produtos vencidos. A integração entre produtos e serviços Muitas organizações oferecem aos clientes produtos e serviços integrados com o objetivo de conferir uma vantagem competitiva. Por exemplo, uma fábrica de bombas a vácuo oferece um serviço de atendimento quando ocorrem problemas de falhas e reparos, e a bomba danificada é trocada por uma nova, seguindo para reparo. Assim, processos de produção e assistência técnica devem estar alinhados dentro da estratégica comercial com integração total nos seus procedimentos e padrões de qualidade. Lembrete Os propósitos de cada processo precisam estar alinhados aos objetivos fundamentais da organização, de forma a evitar contradições e desperdícios de recursos financeiros e materiais que podem comprometer o atendimento das necessidades dos clientes e a sustentabilidade no mercado. 7.1.6.2.3 Indicadores de satisfação dos clientes Além de medir a eficácia, a eficiência e a flexibilidade, as organizações precisam avaliar o desempenho a partir da percepção dos clientes externos. As avaliações são conduzidas por meio da realização de pesquisas periódicas com a intenção de descobrir como os clientes avaliam o desempenho dos produtos e serviços das organizações. Após o levantamento realizado por questionários ou entrevistas estruturadas, que podem ser quantitativas ou qualitativas, as organizações procedem a uma tabulação com base em metodologia científica, que conduzem a uma avaliação final. 166 Unidade IV Entre os atributos mais valorizados pelos clientes externos, podemos citar: qualidade, preço, acesso, estética, assistência técnica, disponibilidade de produto, conforto, cortesia, funcionalidade e confiabilidade. Quadro 21 – Avaliação dos clientes: aspectos comerciais Produto Preço Praça Promoção Linha de produtos, qualidade, design, marca, embalagem, garantias Preço alto ou baixo, descontos, prazos e condições de pagamento Canal de distribuição, pontos de venda, transporte e logística Propaganda, publicidade, marketing direto e merchandising De forma geral, as organizações desenvolvem ferramentas tecnológicas para gerir processos focados no atendimento por meio da implantação de softwares de gestão de clientes – denominados CRM (customer relationship management) –, serviços de atendimento ao cliente, departamentos de telemarketing ativo ou receptivo, aplicativos, portais interativos na internet, bem como pela disponibilização de ouvidorias para atendimento. 7.2 Fundamentos em gestão de projetos A administração dos processos organizacionais e a busca por melhorias e mudanças surgem em função da necessidade de as organizações conseguirem acompanhar a evolução do mercado, cada vez mais competitivo, em que as transformações se desenvolvem a partirde forças que vêm de fora para dentro das organizações em ritmo acelerado, acirrando a concorrência com novos produtos, serviços e tecnologias para os clientes, cada vez mais conscientes e exigentes em termos de produtos, prestação de serviços e oportunidades disponíveis. As empresas precisam aumentar a competitividade para se manterem nos mercados mundiais e entre as ações necessárias para conquistar a preferência dos clientes. Para atingir os resultados definidos no planejamento estratégico, é preciso investir no aperfeiçoamento da gestão e na operação dos processos para aumentar a satisfação, fidelizar os clientes antigos e conquistar novos. Seguem algumas medidas: • Eliminação de duplicidade de atividades executadas dentro da organização. • Redução da burocracia das atividades administrativas, demora nas autorizações e documentações desnecessárias. • Avaliação do valor agregado aos clientes dos processos. • Redução dos tempos de ciclo dos processos, visando agilidade, rapidez e custos baixos. • Eliminação de retrabalhos, desperdícios e erros nas operações. 167 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS • Determinação de novas formas de parceria com os fornecedores, assegurando qualidade e preços adequados. • Modernização e aumento do conteúdo tecnológico, automatizando as atividades com as tecnologias avançadas de TI. Pelos indicadores de desempenho dos processos, as organizações podem promover melhorias, identificar tendências dos mercados e antecipar as alterações necessárias. Para isso, as entidades precisam desenvolver uma cultura de mudanças, a fim de obterem êxito na implementação de melhorias e inovações, assumindo riscos com decisões firmes. As modificações na gestão de processos dividem-se em dois níveis principais: melhorias e reengenharia de processos de negócios (RPN). Quadro 22 – Projetos de melhorias e reengenharia Aspecto Melhoria Reengenharia Nível de mudança Gradual Radical Ponto de partida Processo atual Estaca zero Frequência de mudança De uma vez/contínua De uma vez só Tempo necessário Curto Longo Participação De baixo para cima De cima para baixo Risco Moderado Alto Habilidade Controle estatístico Tecnologia da informação Fonte: Oliveira (2009, p. 33). A introdução de melhorias nos processos organizacionais pode ocorrer de dois modos principais, a saber: melhorias incrementais, em que as alterações são implementadas de forma gradativa e lenta, com base na urgência das mudanças; e melhorias radicais, em que as ações são implementadas de forma rápida, radical e com prazos curtos. O aperfeiçoamento dos processos deve levar em conta alguns fatores, como conhecer e analisar o negócio e os procedimentos da empresa, identificar quais os meios prioritários em termos de mudanças, reconhecer as causas do mau desempenho, propor alternativas de solução, treinar pessoal qualificado e considerar a disponibilidade de recursos para a aquisição do material necessário. Lembrete Em função das constantes mudanças nas necessidades dos clientes e de o mercado estar cada vez mais competitivo, a introdução de melhorias nos processos das organizações é gradualmente mais necessária. 168 Unidade IV 7.2.1 Elaboração de projeto de melhoria Projeto pode ser definido como “um processo único, que consiste em um grupo de atividades coordenadas e controladas com datas de início e término, empreendido para alcance de um objetivo conforme os requisitos específicos, incluindo limitações de tempo, custos e recursos” (ABNT, 2003). Características de um projeto de melhoria: • temporalidade com prazos de início e fim definidos; • singularidade com qualidades próprias e específicas; • complexidade em relação à amplitude do projeto e às áreas envolvidas; • precisão em função do grau de incerteza envolvido e das dificuldades inerentes ao projeto. Na elaboração de um projeto de melhorias, as organizações precisam definir com precisão os requisitos para sua execução, de modo a garantir a efetividade da implementação das melhorias e sua eficácia nos resultados. Condições preliminares para a elaboração de um projeto de melhorias: • Elaboração do fluxograma funcional. • Definição do cronograma com as etapas e os processos que devem começar o projeto. • Constituição da equipe do projeto com atribuição de um líder de reconhecida capacidade de trabalho e gestão. • Comprovação da necessidade de contratação de consultoria externa de apoio. • Definição de orçamento com previsão de custos, investimentos e retorno esperado. • Identificação de possíveis dificuldades e resistências que possam surgir, como medo de perdas, não aceitação de novos procedimentos, desconfiança e insegurança pessoal. O projeto de melhorias, uma vez definido e aprovado pela diretoria, deve ser implementado com ampla divulgação interna, demonstrando os objetivos a serem alcançados e sua relevância para a sustentabilidade futura da organização no mercado. Entre as informações de que a elaboração de um projeto de melhorias é urgente, podemos identificar a quantidade de reclamações dos clientes, o número de problemas internos de operações e gestão, a avaliação negativa dos indicadores de desempenho dos processos, as pesquisas de avaliação dos clientes e dos funcionários e a comparação com os resultados dos concorrentes. 169 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Os projetos de melhoria devem identificar o que se quer melhorar, reduzir, aumentar ou simplificar com a determinação no escopo do projeto do processo escolhido com a definição de local, área, segmento, pessoal envolvido e o cronograma para projetar as condições do novo processo, especificando os resultados esperados para a organização e para os clientes. A implementação dentro dos prazos e custos estabelecidos do projeto é condição crítica de sucesso das melhorias como opção de modelo de gestão e manutenção da credibilidade das decisões diretivas. Implementado o projeto dentro dos prazos e custos preestabelecidos, os gestores precisam proceder a uma revisão do fluxograma da organização, criar ou reavaliar os indicadores de desempenho do processo remodelado e proceder a novas medições da performance operacional. Harrington (1997) destaca que, durante a execução dos projetos de melhoria, as organizações devem avaliar a disponibilidade de condições para realizá-las por meio de quatro requisitos principais: • Recursos: a execução do projeto ocorre, via de regra, com os processos em funcionamento e pode afetar a utilização em paralelo de máquinas e pessoal, concomitantemente, com as atividades diárias e que exigem dos gestores do projeto um excelente planejamento, de modo a evitar interrupções ou falta de produtos para os clientes. • Retornos: o projeto deve avaliar o retorno esperado para a organização em termos de redução de custos, competitividade e como vantagem com os concorrentes. • Riscos: a equipe de projeto deve avaliar os riscos envolvidos com a implantação do projeto em termos de possibilidade de contratempos e mesmo de fracasso na implementação, assumindo os desafios decorrentes das mudanças nos processos atuais. • Recompensas: avaliar as recompensas para os funcionários e membros da equipe de trabalho em termos de carreira e crescimento profissional. Saiba mais Para mais informações sobre reengenharia de processos e negócios (RPN), recomendamos a leitura do livro: HAMMER, M. Além da reengenharia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 7.2.2 Implantação de projetos de melhoria Como metodologia para a elaboração de melhorias, as organizações dispõem do uso do ciclo PDCA, que é uma ferramenta de gestão que descreve a forma de execução dos processos e está dividida em quatro etapas: 170 Unidade IV • planejamento (plan); • execução (do); • conferência dos resultados (check); • ajustes e correções (action). A seguir, uma representação do ciclo PDCA: Action Agir Plan Planejar Check Checar Do Fazer • Ação corretiva no insucesso • Padronizar e treinar no sucesso• Localizar problemas • Estabelecer planos de ação • Verificar atingimento de meta • Acompanhar indicadores • Execução do plano • Colocar o plano em prática Figura 30 - Ciclo PDCA O gerenciamento dos processos consiste em realizar de forma contínua as atividades de planejamento, execução, controle e correção em ciclos de evolução e progresso de desempenho. O processo de melhoria das organizações precisa ser permanente e coordenado por diretores, que definem as prioridades dos procedimentos que devem ser objeto de projetos de melhoria, constituindo a equipe de projeto e atribuindo responsáveis, isso com o suporte da área de gestão da qualidade. Em um ambiente colaborativo e com foco nas necessidades dos clientes, o objetivo deve ser o aprimoramento contínuo dos processos em busca da redução de erros, atrasos, desperdícios, desentendimentos e pessoal desnecessário. A introdução da sistemática de melhoria contínua permite que as organizações atuem preventivamente e resolvam os problemas que surgem. A intenção é torná-la permanente e culturalmente difundida na organização. Quadro 23 – Etapas de implantação do projeto de melhoria Etapa 1 Formar a equipe Etapa 2 Identificar o processo a ser melhorado Etapa 3 Elaborar o fluxograma Etapa 4 Analisar criticamente as causas dos problemas 171 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Etapa 5 Elaborar o novo modelo do processo Etapa 6 Implantar o novo processo Etapa 7 Monitorar o desempenho Etapa 8 Ajustar e corrigir constantemente Analisando os aspectos fundamentais de cada etapa, vejamos a seguir como as organizações devem conduzir os projetos de melhoria. Etapa 1 • Sensibilizar a diretoria, que deve apoiar efetivamente as mudanças propostas e enfrentar as possíveis resistências com determinação, além de autorizar os recursos necessários. • Conscientizar os funcionários é condição vital para alcançar resultados que não visam reduzir empregos, mas sim melhorar o desempenho da organização e permitir melhores oportunidades de trabalho para todos. • Com os facilitadores e a equipe de projeto, definir a liderança, selecionando com critério e avaliando o nível de capacitação necessário. Etapa 2 Esta etapa visa obter conhecimentos sobre a organização e identificar oportunidades de melhorias. • Avaliar como os processos críticos estão interligados em termos de setor (comércio, agrícola, financeiro, siderúrgico etc.). • Descrever detalhadamente cada fase do processo, classificando em atividades e tarefas, responsáveis e modo de execução, tempo de execução e clientes internos, entrada e saída do processo etc. • Avaliar o nível de informatização (TI) das atividades e tarefas executadas, com mapeamento dos equipamentos e programas usados, bem como sua atualidade e eficiência. Etapa 3 • Elaborar um mapeamento do processo, relacionando atividades e tarefas e analisando os documentos utilizados por meio da coleta de dados. Verificar tempo de execução, quantidade de pessoas incluídas, clientes envolvidos etc. • Medir nível de desperdícios, retrabalhos, pessoal envolvido, tempo de execução, produtividade, satisfação, perda de pedidos e reclamações dos clientes. • Uma ferramenta importante pode ser a elaboração de fluxogramas que permitam uma visualização do fluxo de trabalho. 172 Unidade IV Observação Conforme o ciclo PDCA, as etapas de 1 a 5 correspondem ao planejamento (plan), a etapa 6 refere-se à execução (do), a etapa 7 equipara-se à medição (check) e a etapa 8 diz respeito à melhoria contínua (action). Etapa 4 • Analisar o processo atual e detectar as causas dos problemas. Identificar as oportunidades de melhoria, separando as atividades que agregam valor aos clientes e que estes estão dispostos a pagar – ou que precisam ser executadas por aspectos técnicos/legais – daquelas de suporte. • Identificar as atividades que agregam valor, como cadastro de pedidos, atendimento aos clientes, compras, programação de produção, fabricação, logística, cobrança, pesquisa e desenvolvimento. • Identificar as atividades que não agregam valor, como conferências desnecessárias, armazenagens, retrabalhos, aprovação de documentos e movimentações internas. • Proceder a uma avaliação individual do desempenho de cada funcionário envolvido no processo, identificar aspectos motivacionais, dificuldades de relacionamentos, nível educacional adequado, autonomia de atuação, responsabilidades, trabalho em equipe, sistema de recompensas, salários e benefícios. • Conferir o nível tecnológico das máquinas e equipamentos em uso, custos de manutenção, qualidade das matérias-primas utilizadas, insalubridade, layout dos equipamentos e condições ambientais, como calor, umidade e ruídos. Etapa 5 Elaborar alternativas para solucionar os problemas atuais propondo planos de ação com o uso de ferramentas da qualidade, como brainstorming, diagrama de causa e efeito (espinha de peixe) e benchmarking: • Brainstorming: discussão ampla e aberta entre todos os envolvidos em um evento convocado para abordar os problemas e propor ações, todos inseridos em um ambiente de liberdade e de autonomia participativa. • Diagrama de causa e efeito (espinha de peixe): ferramenta que permite identificar as causas de um problema, que podem ser reunidas em seis grupos específicos, como métodos, máquinas, materiais, mão de obra, meio ambiente e medidas. • Benchmarking: método para comparar o desempenho de algum processo, prática de gestão ou produto com realização similar que esteja sendo executada de maneira eficaz na própria organização ou em outra, visando entender as causas, ajustar a prática atual e promover melhorias. 173 GESTÃO ESTRATÉGICA DA QUALIDADE E DE PROCESSOS Efeito Materiais Máquinas MedidasMeio ambiente Métodos Mão de obra Figura 31 – Diagrama de causa e efeito Além de permitir a identificação das causas dos problemas, o diagrama acima pode ser utilizado para apontar as suas possíveis soluções. Etapa 6 • Após avaliadas as possibilidades e decidida a opção a ser realizada, executar a implantação, estabelecendo um modelo de comunicação com os funcionários sobre as mudanças e objetivos pretendidos; analisar as necessidades de treinamento interno ou externo e redigir os novos manuais de diretrizes, normas e procedimentos de execução das tarefas. • Adquirir os novos recursos necessários – como equipamentos, computadores ou softwares – e proceder com as adaptações necessárias das máquinas existentes em termos de localização e distribuição física. • Realização de períodos de testes experimentais, se for o caso, em dias extras ou horários alternativos. Etapa 7 • Acompanhamento da evolução e da execução do novo processo desenhado por meio de medições de resultados comparados aos valores estimados no projeto. Etapa 8 • Deve-se prever, na execução do projeto de melhoria, a possibilidade de ajustes ou mudanças com o decorrer do tempo. A metodologia escolhida para identificação e solução de problemas precisa ser adequada às características da organização e do mercado em que atua, bem como com as condições dos processos empresariais, de modo a permitir a elaboração de um projeto preciso e isento de impressões pessoais, muitas vezes distorcidas da realidade presente. A metodologia precisa estar comprometida com a necessidade dos clientes e ter foco na localização e na resolução dos problemas por meio de um processo profissional organizado e sistemático em busca das causas dos problemas. 174 Unidade IV 7.2.3 Técnicas de apoio a projetos As organizações que elaboram projetos de melhoria de processos podem utilizar diversas técnicas de apoio às mudanças que apresentam aspectos específicos, conforme o escopo do projeto e as necessidades de mudança. Entre essas técnicas, destacamos as principais a seguir. Terceirização (outsourcing) A partir dos anos 1990, muitas organizações começaram a considerar a possibilidade de transferir para outras empresas determinadas atividades operacionais –