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Instituto de Matemática – UFRJ Cálculo I – Semipresencial Aula 19 – Áreas e distâncias Este material foi produzido no âmbito do projeto “Elaboração de material para disciplinas na modalidade semi-presencial”, do Departamento de Matemática do IM/UFRJ. Equipe: Coordenação: Paulo Amorim Participantes: Bruno Telch, Rafael Lobosco, Leonardo Damasceno Um dos principais problemas que deu origem ao Cálculo foi o problema da área: Encontrar a área da região S sob a curva y = f(x), onde x ∈ [a, b] e f(x) ≥ 0. Antes de começar a resolver o problema, é necessário definir o que seria a área de uma região. Para regiões planas como retângulos, triângulos e poĺıgonos em geral, é simples obter uma expressão para a área. Entretanto, para figuras curvas não é tão fácil definir esse conceito, mesmo tendo uma vaga ideia do que seria. Assim como o caso da reta tangente a uma curva, trabalharemos com aproximações (retas secantes no caso da reta tangente) e depois tomaremos o limite dessas aproximações. O exemplo abaixo irá ilustrar esse procedimento. Exemplo. Calcule a área da região sob a parábola y = x2, onde x ∈ [0, 1]. As aproximações funcionarão da seguinte forma: divida o intervalo [0, 1] em n subintervalos [xk−1, xk], k ∈ {1, ..., n}, onde x0 = 0 e xn = 1, de mesmo comprimento ∆x = xk−xk−1 = 1− 0 n . Dessa forma, xk = xk−1 + 1 n = x0 + k n = k n , para todo k ∈ {1, ..., n} . Página 1 de 5 Cálculo I – Semipresencial Aula 19 – Áreas e distâncias (continuação) Para uma primeira aproximação, considere n retângulos rk, k ∈ {1, ..., n}, onde a base do k-ésimo retângulo é o intervalo [xk−1, xk] e que possui altura f(xk−1) = x 2 k−1. Assim, a área an da união dos retângulos rk é igual a an = n∑ k=1 f(xk−1)∆x = 1 n n∑ k=1 ( k − 1 n )2 = 1 n3 n∑ k=1 (k − 1)2 = 1 n3 n−1∑ k=0 k2. Agora considere n retângulos Rk, k ∈ {1, ..., n}, com a mesma base [xk−1, xk] mas com altura medindo f(xk) = x 2 k. Página 2 de 5 Cálculo I – Semipresencial Aula 19 – Áreas e distâncias (continuação) A área An da soma dos rk retângulos é An = n∑ k=1 f(xk)∆x = 1 n n∑ k=1 ( k n )2 = 1 n3 n∑ k=1 k2. Para eliminar o somatório, utilizaremos a seguinte fórmula: m∑ k=1 k2 = m(m+ 1)(2m+ 1) 6 . Assim, an = n−1∑ k=1 k2 = (n− 1)n(2(n− 1) + 1) 6n3 = (n− 1)(2n− 1) 6n2 e An = n∑ k=1 k2 = n(n+ 1)(2n+ 1) 6n3 = (n+ 1)(2n+ 1) 6n2 . Como n⋃ k=1 rk ⊆ S ⊆ n⋃ k=1 Rk para todo n ∈ N, (n− 1)(2n− 1) 6n2 = an ≤ A ≤ An = (n+ 1)(2n+ 1) 6n2 , ∀n ∈ N. Como lim n→∞ an = lim n→∞ (n− 1)(2n− 1) 6n2 = lim n→∞ 1 6 ( 1− 1 n )( 2− 1 n ) = 1 3 Página 3 de 5 Cálculo I – Semipresencial Aula 19 – Áreas e distâncias (continuação) e lim n→∞ An = lim n→∞ (n+ 1)(2n+ 1) 6n2 = lim n→∞ 1 6 ( 1 + 1 n )( 2 + 1 n ) = 1 3 , segue do Teorema do Sandúıche que A = 1 3 . O método utilizado a seguir nos fornece uma forma de definir o que seria a área de uma região mais geral: seja f uma função positiva definida no intervalo [a, b] e seja S a região sob o gráfico da equação y = f(x). Divida o intervalo [a, b] em n subintervalos [xk−1, xk], k ∈ N de mesmo comprimento ∆x = xk − xk−1 = b− a n tal que x0 = a e xn = b. Então, para todo k ∈ N, xk = x0 + k∆x = a+ k n (b− a). Com esses retângulos, definimos retângulos Rk de base [xk−1, xk] e altura f(xk). Se o valor dessas aproximações tenderem a um certo número quando n→∞, diremos que esse número é a área de S. Definição. Definimos a área A da região S sob o gráfico de uma função cont́ınua f como sendo o limite da soma das áreas dos retângulos Rk, A = lim n→∞ n∑ k=1 A(Rk) = lim n→∞ n∑ k=1 f(xk)∆x = lim n→∞ (f(x1)∆x+ f(x2)∆x+ ...+ f(xn)∆x) . Pode-se provar que o limite acima sempre existirá se f for uma função cont́ınua definida em um intervalo [a, b]. Além disso, pode-se mostrar que o valor do limite não irá mudar se, ao invés de escolher os retângulos Rk definidos anteriormente, escolhermos retângulos Rk de base [xk−1, xk] e altura f(x ∗ k), onde x ∗ k ∈ [xk−1, xk] é um número qualquer, isto é, A = lim n→∞ n∑ k=1 f(x∗k)∆x. Relação com velocidade e distância Suponha agora que a função x2 cuja área sob o gráfico acabámos de calcular representa a velocidade de um objeto em função do tempo x. Ou seja, no instante x, o objeto está se movendo a uma velocidade x2. Agora suponhamos que queremos reconstruir a distância percorrida pelo objeto a partir do conhecimento de sua velocidade. Tomemos um valor de tempo x bem pequeno, por exemplo x = 0,2. Será razoável afirmar que posição(0,2) ' posição(0) + velocidade(0) · 0,2. Página 4 de 5 Cálculo I – Semipresencial Aula 19 – Áreas e distâncias (continuação) Ou, por palavras, a posição no instante 0,2 é a posição no instante zero, mais o espaço percorrido no intervalo de tempo entre 0 e 0,2. Este espaço percorrido, aproximamos pelo tempo decorrido (0,2) vezes a velocidade no instante zero. No caso, e supondo que a posição inicial é zero, obteŕıamos posição(0,2) ' 0. Continuando, podemos dizer que posição(0,4) ' posição(0,2) + velocidade(0,2) · (0,4− 0,2) ' 0 + (0,2)2 · 0,2 = 0,008. Procedendo da mesma forma, achamos posição(0,6) = 0,008 + (0,4)2 · 0,2 = 0,04. Mas agora podemos observar que cada valor sucessivo que estamos a calcular é o valor anterior, mais a área de cada retângulo da segunda figura! Então, se avançarmos até x = 1, vamos obter a mesma aproximação da área sob o gráfico da função x2 que calculámos na segunda figura. Isso sugere que achar a área sob um gráfico está relacionado com o processo de achar a posição de um objeto a partir da sua velocidade. Por outro lado, sabemos que achar a velocidade a partir da posição corresponde à operação matemática de derivação. Então, a conclusão é que existe alguma relação entre achar áreas sob o gráfico, e “fazer o contrário da derivada”. Nas próximas aulas vamos mostrar que de fato é assim, e que esse “contrário da derivada” se chama integral de uma função. Exerćıcio 1. Utilize o método definido anteriormente para calcular a área sob o gráfico da função f(x) = e−x, x ∈ [0, 2]. a) Divida o intervalo [0, 2] em n subintervalos [xk−1, xk] = [ 2 n (k − 1), 2k n ] de mesmo comprimento ∆x = 2 n e calcule a soma da área dos retângulos Rk de base[ 2(k − 1) n , 2k n ] e com altura f(xk) = f(2k/n) = e − 2k n . (Dica: O somatório será uma soma de termos de uma PG com uma certa razão. Utilize a fórmula que dá a soma de n termos de uma PG.) b) Faça n→∞ para obter o valor da área. 2. É posśıvel adaptar o método para calcular a área do ćırculo de raio r > 0. a) Seja An a área de um poĺıgono com n lados iguais inscrito num ćırculo de raio r. Dividindo o poĺıgono em n triângulos congruentes com ângulo central de 2π n , mostre que An = πr2 2 sen ( 2π n ) . Página 5 de 5 Cálculo I – Semipresencial Aula 19 – Áreas e distâncias (continuação) b) Mostre que lim n→∞ An = πr 2. Página 6 de 5