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FUNDAMENTOS E PRÁTICA NO ENSINO DE GEOGRAFIA INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! Geografia escolar e o livro didático Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: ◼ Identificar os diferentes recursos didáticos. ◼ Analisar criticamente o uso do livro didático. ◼ Aplicar critérios de avaliação de livros didáticos de geografia. 1.1 Introdução O processo de ensino e aprendizagem requer uma reflexão sobre o que, por que, para quem, de que forma e com quais recursos se pre- tende ensinar. Assim, de forma simples, percebe-se que o processo educativo precisa de objetivos, planejamento, conteúdos progra- máticos, metodologia e utilização de recursos didáticos. Neste tex- to, você vai conhecer melhor o que são recursos didáticos, analisar o mais tradicional deles (o livro didático) e conhecer alguns critérios importantes para a seleção de livros didáticos. 1.2 A importância dos recursos didáticos no processo educacional A utilização de recursos didáticos é uma importante e facilitadora ferramenta no processo de ensino e aprendizagem. A variedade de diferentes recursos, quando utilizada pelo docente, possibilita que o aluno construa conceitos de forma mais prazerosa e eficaz. Assim, podemos definir como recursos didáticos todos os materiais utili- zados, de forma sistemática, que auxiliam e facilitam a abordagem de alguns conteúdos ministrados em sala de aula e, também, incentivam o processo de ensino e aprendizagem. Geografia escolar e o livro didático 183 A utilização de recursos didáticos adequados em sala possibilita inúmeros benefícios: estimula o grupo de alunos, pois dinamiza a aula, favorece a cons- trução de conhecimento coletiva, desenvolve a criatividade e a busca de solu- ções por parte dos alunos. Daí, o importante papel do professor em estabelecer os critérios necessá- rios na seleção de recursos pedagógicos que atendam os objetivos da aula. A exibição de um filme, ou de um trecho dele, não tem sentido por si mesma. Assim, após assistir a uma animação como “A era do gelo”, deve haver um debate sobre a era glacial e os extensos mantos de gelo sobre a Ásia, Europa e América do Norte. Também é importante destacar que a utilização do recurso didático au- xilia no processo de aprendizagem e, portanto, o professor não deve utilizá-lo como o recurso principal, pois este continua sendo mediador no processo de aprendizagem. É muito comum a situação em que, não conhecendo bem o assunto, o docente traga um filme explicativo e espere que os alunos aprendam somente com esse auxílio. Um exemplo sobre essa situação é a utilização da série de animações educativas “De onde vem?”, em que Kika é uma menina curiosa que sempre pergunta sobre a origem de objetos, alimentos e fenômenos natu- rais que fazem parte de seu cotidiano. A animação é uma excelente produção brasileira, e já exportada para di- versos países, mas é insuficiente para que o aluno compreenda os movimentos de rotação e translação da Terra, devido à sua complexidade. Assim, o pro- fessor não poderá creditar todo o processo de aprendizagem sobre os fenô- menos a um mero episódio de animação. Como professora, observo que essa situação é mais comum do que parece. Recursos didáticos adequados à atividade pedagógica podem ser encon- trados com variados preços e, muitas vezes, não são acessíveis à escola, mas imagens, fitas métricas, barbantes, revistas e jornais são objetos de pouco custo e que podem ser utilizados nas aulas de geografia. O ensino sobre escala geográfica e a elaboração de maquetes, por exemplo, será mais bem compreendido pela criança se o professor utilizar, em sala, fitas métricas ou barbantes e régua, todos materiais de baixo custo. O professor e geógrafo Nestor André Kaercher utiliza a expressão “geo- grafia custo zero” para referir-se a práticas de sala de aula destinadas a alunos de diferentes anos escolares e com a utilização de recursos de baixos custos, mas que surtem efeitos significativos. 184 Metodologia do ensino de Geografia [...] porque não implicam em gastos extras nem tampouco re- cursos tecnológicos (nada contra eles, mas no geral não estão muito disponíveis nas escolas públicas do meu estado, da minha cidade). Uma simples folha xerocada e já temos, muitas vezes, matéria-prima para belas discussões e produções. O diferencial não é o computador, é dar o ‘clique’ na turma. (KAERCHER, 2009) Dessa forma, podemos reafirmar a importância do professor em estabe- lecer critérios na utilização de recursos didáticos que contemplem a infra- estrutura da escola, as condições socioeconômicas dos alunos, a realidade cotidiana do aluno e a aderência com os temas abordados. 1.3 O livro didático e a geografia Entre todos os recursos, o livro didático é, sem dúvida, o mais comum nas salas de aulas. O livro didático provoca polêmicos debates na educação: de um lado estão os professores “dependentes” dos “saberes” contidos na obra, como também as empresas editoriais que lucram com a sua produção e circulação, e, de outro lado, educadores que criticam o caráter simplificador do livro e a pos- tura docente de utilizar o livro como único recurso didático. Pesquisas realizadas por especialistas na área criticam o livro didático por: ◼ conter erros conceituais; ◼ tratar superficialmente os assuntos abordados; ◼ sobrevalorizar questões memorísticas e que não provocam a reflexão; ◼ abordar os assuntos sem a devida contextualização; ◼ por se tratar de produção editorial em larga escala, a abordagem dos temas não valoriza o cotidiano do aluno. Sobre a postura docente em relação ao livro didático, as críticas são: ◼ os professores utilizam o livro do professor (que se distingue do livro didático do aluno por fornecer sugestões de textos complementares, respostas aos exercícios, entre outros) como única ou principal fonte para preparação da aula; ◼ em sala, o livro didático é o únicorecurso utilizado; ◼ para muitos professores e alunos, as informações contidas no livro di- dático são inquestionáveis, ou seja “verdades absolutas” sobre as quais não cabe reflexão ou contestação, apenas apreensão. É comum ouvir alunos em salas de aula questionando sobre informações ou conceitos e o professor responder: “— Procura no livro”. Silva, Souza e Duarte (2006) realizaram uma pesquisa sobre a utilização do livro didático em uma escola de um município da Bahia, e as conclusões foram: Quando perguntado aos professores sobre os materiais didáticos utilizados por eles, nota-se que para aqueles materiais utilizados em primeiro lugar, o livro didático é o mais utilizado (52,17%), se- guido pela internet (13,04%) e por revistas (8,69%). A partir desses dados, constata-se que o livro didático é ainda o material predi- leto do professor apesar dos problemas que ele apresenta, con- forme já citado por diversas pesquisas. Além do livro didático ser, primordialmente, o material mais utilizado pelo professor, 78,26% dos educadores pesquisados o adota como guia e utiliza outros para complementar. Diante disso, o livro didático acaba nortean- do a prática pedagógica do professor de ciências e acaba sendo o material didático que os alunos têm maior contato, senão o úni- co. Por esses dados, também percebe-se que o professor opta por um livro específico para trabalhar com seus alunos, sendo os demais vistos apenas como complementares. Quando questio- nado aos sujeitos a relevância do livro didático na escola, 30,43% ressalta que ele é o único material didático disponível; 13,04% menciona que é um suporte da proposta pedagógica do profes- sor, e 13,04% diz que ele contribuiu na aprendizagem do aluno. Aqui, é importante ressaltar que o livro é significativo, nem tanto pelo conteúdo que ele apresenta, mas sim pelo fato de ser a úni- ca fonte de consulta tanto para o aluno quanto para o professor. A professora Circe Bittencourt, da Faculdade de Educação da Universi- dade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que o que “[...] torna um livro didático ‘bom’ é o uso que se faz dele.” (SALLA, 2014). E isso significa fazer da publicação apenas um dos recursos possíveis para os estudantes, não o único. 186 Metodologia do ensino de Geografia Em geografia, especificamente, o livro didático não pode ser o único recurso utilizado sob risco de a aula transformar-se nos modelos ultrapas- sados e memorizantes propostos pela geografia tradicional e, assim, privar os alunos da construção das noções de espaço geográfico e de percepções sobre o mundo que o cercam, razão de ser da geografia. 1.4 O livro didático na escola pública: o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Os livros didáticos utilizados nas escolas da educação básica, na modalidade regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede pública participam do PNLD. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) consiste na distribuição de livros didáticos aos alunos da rede pública de ensino. Os livros são ava- liados pelo Ministério da Educação (MEC), e as coleções aprovadas são dis- postas em um Guia de Livros Didáticos que servirão de consulta para que as escolas escolham aqueles que se adequem ao seu projeto pedagógico e à sua realidade socioeconômica cultural. De acordo com as informações do Ministério da Educação (BRASIL, c2016), o programa é executado em ciclos trienais alternados. Assim, a cada ano, o MEC adquire e distribui livros para todos os alunos de um segmento, que pode ser: anos iniciais do ensino fundamental, anos finais do ensino fun- damental ou ensino médio. À exceção dos livros consumíveis, os livros distri- buídos deverão ser conservados e devolvidos para utilização por outros alunos por um período de três anos. O PNLD também atende aos alunos que são público- alvo da educação especial. São distribuídas obras didáticas em Braille de língua portuguesa, matemática, ciências, história, geografia e dicionários. 1.5 Critérios de seleção de livros didáticos Existem muitos textos que auxiliam sobre os melhores critérios a serem ado- tados na seleção de livros didáticos. Aqui, adotamos e adaptamos o texto uti- lizado por Kozel e Filizola (2010). 1.6 Coerência com o Projeto Político Pedagógico da escola (PPP) Os conteúdos selecionados e a forma como estão distribuídos e organizados ao longo das unidades têm de ser compatíveis com os objetivos de aprendi- zagem previstos no PPP. 1.7 Conhecer a realidade sociocultural da escola e dos alunos O professor precisa saber para quem vai lecionar. Tem de observar os alunos para saber qual livro mais os ajudará a aprender. 1.8 Definição conceitual precisa e adequação de linguagem A simplificação do conteúdo pode gerar distorções conceituais. Por exemplo, há autores que, ao abordarem as estações do ano, afirmam que a estação fria (inverno) ocorre porque a Terra está mais afastada do Sol e, da mesma forma, o verão ocorre porque a Terra está mais próxima do Sol. Sabemos que esses fenômenos são explicados pela inclinação do eixo terrestre e do ângulo de incidência dos raios solares sobre a superfície terrestre. Além disso, a linguagem deve adequar-se não apenas à faixa etária, mas às condições socioculturais dos alunos. 1.9 Atividades que provoquem a reflexão e a apropriação do saber pela criança Os textos devem estar acompanhados de atividades que instigam a reflexão. Isso significa que o livro não deve conter apenas atividades memorizantes como: leia e responda de acordo com o texto, complete as lacunas, copie o trecho..., pois levam a criança a tornar-se um agente passivo do processo de aprendizagem. ◼ Articulação com matérias de jornais, revistas, charges 188 Metodologia do ensino de Geografia São importantes, pois desenvolvem a competência leitora do aluno. IM ◼ ◼ ◼ ■ ◼ ■ ◼ http://www/ BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional do Livro Didático: apresentação. Brasília, DF: MEC, c2016. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pnld/apresentacao>. Acesso em: 21 set. 2016. CALADO, Flaviana Moreira. O ensino de geografia e o uso dos recursos didáticos e tec- nológicos. Geosaberes, Fortaleza, v. 3, n. 5, p.12-20, jan./jun. 2012. ESTEVES, Patricia. Análise de livro didático. [S.l.]: YouTube, 2014. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=zi-9qF6U-a4>. Acesso em: 21 set. 2016. FRISON, Marli D. et al. 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