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Índice para catálogo sistemático: Crônicas brasileiras Literatura gravataiense FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária responsável Bruna Abatti Chaffe CRB-10/2017 R332 Referencial do território de Gravataí/ Gravataí: SMED, 2019 889 p. I. Título II. Educação II. Educação em Gravataí CDU 37(816.5) MARCO AURÉLIO SOARES ALBA PREFEITO ÁUREO MUNIZ TEDESCO VICE-PREFEITO SONIA OLIVEIRA SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO SILVANA TERESINHA SILVEIRA PRESIDENTE DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE GRAVATAÍ (CMEG) MAGDA ELY COORDENADORA PEDAGÓGICA KATIUSCIA DE ALMEIDA CUSTODIO ORGANIZADORA E COORDENADORA GERAL DO REFERENCIAL DO TERRITÓRIO DE GRAVATAÍ COMISSÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO ATUANTE NO REFERENCIAL DO TERRITÓRIO DE GRAVATAÍ ADRIANA CONCEIÇÃO SANTOS DOS SANTOS LICENCIADA EM PEDAGOGIA – SUPERVISÃO ESCOLAR ESPECIALISTA EM METODOLOGIA E EM ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ENSINO MESTRA EM EDUCAÇÃO TEXTOS INTRODUTÓRIOS AGNALDO DE LIMA E SILVA LICENCIADO E BACHAREL EM GEOGRAFIA ESPECIALISTA EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE ÁREA DAS CIÊNCIAS HUMANAS CAROL RODRIGUEZ MUNNÉ LICENCIADA EM BIOLOGIA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA DANIELA DOS SANTOS LICENCIADA EM MATEMÁTICA, ESPECIALISTA EM GESTÃO ESCOLAR ÁREA DE MATEMÁTICA GISELA MARIA LEWANDOWSKI NAVARINI LICENCIADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA ÁREA DE ENSINO RELIGIOSO GIZELA LUCENA DA SILVEIRA LICENCIADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA, PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E GESTÃO ESCOLAR ÁREA DA EDUCAÇÃO INFANTIL JANES SOLON MALHEIROS LICENCIADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, ESPECIALISTA EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA KATIUSCIA DE ALMEIDA CUSTODIO LICENCIADA EM LETRAS, HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA, LÍNGUA INGLESA E LITERATURAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, INGLESA E NORTE-AMERICANA ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO DE SURDOS, GESTÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO MESTRA EM LINGUÍSTICA APLICADA ÁREA DE LINGUAGENS LEA ARAÚJO MONDO LICENCIADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA, INSPEÇÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INFANTIL ÁREA DO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS NAYALA SILVA RAMOS LICENCIADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA E SUPERVISÃO ESCOLAR ÁREA DO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS TAÍS MARTINEZ ANJOS TRINDADE LICENCIADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA (SMED) TEXTOS INTRODUTÓRIOS REDATORES E COLABORADORES DOS COMPONENTES CURRICULARES ARTE MARCIA ISABEL TEIXEIRA DE VARGAS LICENCIADA EM ARTES VISUAIS BACHAREL EM MUSEOLOGIA ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO ESCOLAR (EMEF PRES. GETÚLIO VARGAS) MIRIAM ROSANGELA BARBOSA ESPECIALISTA EM ENSINO DA ARTE (EMEF INSTITUTO BAHA’I) CIÊNCIAS DA NATUREZA FERNANDA DA SILVA MOREIRA DOUTORA EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR (EMEF BRENO JARDIM GARCIA) EDUCAÇÃO FÍSICA GABRIEL HAHN TOSCA ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR (EMEM SANTA RITA DE CÁSSIA) SINARA FERREIRA DE SOUZA LICENCIADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPECIALISTA EM GESTÃO ESCOLAR: SUPEVISÃO / ORIENTAÇÃO, ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO, EDUCAÇÃO INTEGRAL INTEGRADA, NEUROPSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO ESPECIAL, PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA, NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM (EMEF PRES. TANCREDO NEVES) EDUCAÇÃO INFANTIL ANDRÉIA JARDIM PINHEIRO ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO INFANTIL E ARTICULAÇÃO EM ENSINO FUNDAMENTAL (EMEI OLENCA VALENTE) GREYCE DA SILVA RODRIGUES ESPECIALISTA EM PSICOMOTRICIDADE (EMEI BARRO VERMELHO) ILZA MARIA ALVES DOS REIS ESPECIALSTA EM EDUCAÇÃO INFANTIL (EMEF AUGUSTO LONGONI) ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS CARINA FABIANA SOARES GRADUADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM NEUROPSICOPEDAGOGIA (EMEF VILA NEÓPOLIS) DANIELE HECK ALBRECHT GRADUADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO ESCOLAR (EMEI BARNABÉ / EMEF DUQUE DE CAXIAS) LARISSA CARDOSO PAIXÃO FAORO HABILITAÇÃO EM ENSINO FUNDAMENTAL – SÉRIES INICIAIS (EMEF ANTÔNIO AIRES DE ALMEIDA) REGINA SANTOS DO COUTO GRADUADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA (EMEF AUGUSTO LONGONI) THAIS DE ASSIS ROCHA GRADUADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA (EMEF JOSÉ MARIANO GARCIA MOTTA) ENSINO RELIGIOSO LIZANDRA AZEVEDO DA CUNHA GRADUADA EM LETRAS, ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO EDUCACIONAL (EMEF ÁUREA CELI BARBOSA) MARCO AURÉLIO FIGUEIREDO LICENCIADO EM GEOGRAFIA (EMEF CERRO AZUL) GEOGRAFIA ALEXANDRE DALLA BARBA DE ALMEIDA MESTRE EM ENSINO DA GEOGRAFIA (EMEF VILA NEÓPOLIS) ANELISE SILVEIRA CARDOSO MESTRA EM GEOGRAFIA (EMEF BRENO JARDIM GARCIA) HISTÓRIA NICOLL SIQUEIRA DA ROSA MESTRA EM HISTÓRIA (EMEF PREF. JOSÉ LINCK) TUANE LUDWIG DIHL MESTRA EM ESTUDOS HISTÓRICOS LATINO-AMERICANOS (EMEF DUQUE DE CAXIAS) LÍNGUA INGLESA E LÍNGUA PORTUGUESA ANDREZA RAQUEL NUNES FREITAS LICENCIADA EM LETRAS, HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA, LÍNGUA INGLESA E LITERATURAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, INGLESA E NORTE-AMERICANA ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL (EMEF ANTONIO RAMOS DA ROCHA / EMEF VINÍCIUS DE MORAES) ANE MINUZZO LICENCIADA EM LETRAS, HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA, LÍNGUA INGLESA E LITERATURAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, INGLESA E NORTE-AMERICANA, ESPECIALISTA EM LITERATURA BRASILEIRA (EMEF ALBINO DIAS DE MELO) MATZA FABIANA RAMOS DA SILVA LICENCIADA EM LETRAS, HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA, LÍNGUA INGLESA E LITERATURAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, INGLESA E NORTE-AMERICANA, ESPECIALISTA EM METODOLOGIA DE ENSINO NA LÍNGUA PORTUGUESA E INGLESA (EMEF PRES. JOÃO GOULART) ROBERTA FONSECA BORTOLUZZI LICENCIADA EM LETRAS, HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA, LÍNGUA INGLESA E LITERATURAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, INGLESA E NORTE-AMERICANA, ESPECIALISTA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA (EMEF OSÓRIO RAMOS CORRÊA) MATEMÁTICA DANIELA ALÓS DA COSTA LICENCIADA EM MATEMÁTICA ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA (EMEF VINÍCIUS DE MORAES) RUBENS ROSA DA SILVA ESPECIALISTA EM METODOLOGIA DE ENSINO DA MATEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA (EMEF JERÔNIMO TIMÓTEO DA FONSECA) TEXTOS INTRODUTÓRIOS ADRIANA CONCEIÇÃO SANTOS DOS SANTOS LICENCIADA EM PEDAGOGIA – SUPERVISÃO ESCOLAR ESPECIALISTA EM METODOLOGIA E EM ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ENSINO MESTRA EM EDUCAÇÃO ALEXANDRA GNOATTO LICENCIADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR, EDUCAÇÃO INCLUSIVA, LIBRAS – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS, EDUCAÇÃO ESPECIAL – DEFICIÊNCIA AUDITIVA (ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL ESPECIAL PARA SURDOS) ANA PAULA BRAUN GRADUADA EM PEDAGOGIA SUPERVISÃO ESCOLAR, ESPECIALISTA EM ORIENTAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR (EMEF DUQUE DE CAXIAS) BIANCA MIGLIAVACCA GRADUADA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO ESCOLAR (EMEF BRENO JARDIM GARCIA) CLAUDIA MARIA PANASSOLO REBÉS GRADUADA EM PEDAGOGIA SÉRIES INICIAIS, ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO ESCOLAR (EMEF AUGUSTO LONGONI) EVANISE LUZ LICENCIADA EM LETRAS PORTUGUÊS E LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA, ESPECIALISTA EM DEFICIÊNCIA AUDITIVA, PSICOPEDAGOGIA DO MENOR CARENTE, SUPERVISÃO EORIENTAÇÃO EDUCACIONAL (ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL ESPECIAL PARA SURDOS) FABIANA BARCELLA MILANEZI LICENCIADA EM LETRAS, ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO ESCOLAR (SMED / EMEF DORIVAL CÂNDIDO LUZ DE OLIVEIRA) MARIUR INÊS RIBEIRO BATISTA LICENCIADA EM PEDAGOGIA SÉRIES INICIAIS E SUPERVISÃO ESCOLAR, ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL (ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL ESPECIAL PARA SURDOS) MARLEI URSSULIN DA ROSA LICENCIADA EM PEDAGOGIA, ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL, DÉFICIT COGNITIVO E EDUCAÇÃO DE SURDOS PATRICK GONÇALVES ESPECIALISTA EM PSICOMOTRICIDADE E SUPERVISÃO ESCOLAR, MESTRE EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO (ESCOLA MUNCIPAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL CEBOLINHA) SILVIA REGINA SILVEIRA ASSISTENTE SOCIAL, DOUTORA EM SERVIÇO SOCIAL (ESCOLA MUNCIPAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL CEBOLINHA) REVISORES ORTOGRÁFICOS ANDREZA RAQUEL NUNES FREITAS ANE MINUZZO KATIUSCIA DE ALMEIDA CUSTODIO MATZA FABIANA RAMOS DA SILVA ROBERTA FONSECA BORTOLUZZI SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 14 1. GRAVATAÍ ENTRE O PASSADO E O PRESENTE: ECONOMIA, ........................................... 17 CULTURA E INTEGRAÇÃO ........................................................................................................... 17 2. PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DOCUMENTO ................................................................ 23 2.1 EDUCAÇÃO ..................................................................................................................... 23 2.2 APRENDIZAGEM ............................................................................................................. 28 2.3 CURRÍCULO .................................................................................................................... 33 2.4 EDUCAÇÃO INTEGRAL................................................................................................... 37 2.5 AVALIAÇÃO ..................................................................................................................... 39 2.6 FORMAÇÃO CONTINUADA ............................................................................................ 42 2.7 AS COMPETÊNCIAS GERAIS DA BNCC ........................................................................ 45 2.8 A TRANSVERSALIDADE DOS TEMAS COTIDIANOS ..................................................... 50 3. MODALIDADES DE ENSINO .................................................................................................. 54 3.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO E AS NOVAS RURALIDADES ..................................................... 54 3.2 EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA ................................................................................ 59 3.3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ................................................................................ 65 3.4 A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO MUNICÍPIO DE GRAVATAÍ .................................................. 70 3.4.1 ESCOLA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL CEBOLINHA .................................. 82 3.4.2 ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL ESPECIAL PARA SURDOS (EMEES) ................................................................................................................................. 86 4. ETAPA DA EDUCAÇÃO INFANTIL ......................................................................................... 90 4.1 BEBÊS (ZERO A 1 ANO E 6 MESES) .................................................................................. 94 4.2 CRIANÇAS BEM PEQUENAS (1 ANO E 7 MESES A 3 ANOS E 11 MESES) .................... 106 4.3 CRIANÇAS PEQUENAS (4 ANOS A 5 ANOS E 11 MESES) .............................................. 122 5. A ETAPA DO ENSINO FUNDAMENTAL ............................................................................... 139 5.1 ÁREA DE LINGUAGENS ................................................................................................ 145 5.1.1 ARTE ....................................................................................................................... 147 5.1.2 EDUCAÇÃO FÍSICA ................................................................................................ 161 5.1.3 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS ........................................................................... 249 5.1.4 LÍNGUA INGLESA ................................................................................................... 261 5.1.5 LÍNGUA PORTUGUESA ......................................................................................... 300 5.2 ÁREA DA MATEMÁTICA ................................................................................................ 482 5.2.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 482 5.2.2 CONCEPÇÕES DA ÁREA DA MATEMÁTICA .............................................................. 482 5.3 ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA ............................................................................ 626 5.4 ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS ................................................................................... 677 5.4.1 GEOGRAFIA ........................................................................................................... 680 5.4.2 HISTÓRIA ............................................................................................................... 758 5.5 ÁREA DE ENSINO RELIGIOSO ..................................................................................... 857 14 INTRODUÇÃO A Base Nacional Comum Curricular1 (doravante, BNCC) foi homologada em dezembro de 2017, após um extenso trabalho de construção coletiva efetivado sob a coordenação do MEC e da participação dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, além da ampla participação da sociedade. Sua criação já estava contemplada de forma indireta na Constituição Federal de 19882, no artigo 210, no qual se explicita a necessidade de determinar “conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. Posteriormente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional3 (Lei 9.394/96), o inciso IV do Artigo 9º, determina como estando a União incumbida de, juntamente com Estados, Distrito Federal e municípios, estabelecer competências e diretrizes a fim de nortear os currículos de toda a Educação Básica, assegurando uma formação básica comum. Também o PNE4 de 2014 enfatiza a necessidade de haver uma base comum nos currículos, garantindo a diversidade regional e local. Dessa forma, a BNCC é um documento normativo que tem como proposta, garantir uma gama de aprendizagens essenciais que devem ser comuns a todos os estudantes brasileiros, visando à igualdade e à equidade da educação nacional. Igualdade no sentido de oportunizar as mesmas aprendizagens e equidade ao garantir o mesmo direito de aprendizagem a todos os alunos, reconhecendo que os estudantes têm diferentes necessidades que devem ser levadas em consideração ao se construir os currículos, contudo, sem negar a possibilidade que estados e municípios construam sua parte diversificada, considerando suas características locais. Assim, em dezembro de 2018, pautado sobre as competências gerais estabelecidas pela BNCC, o Referencial Curricular Gaúcho5 (doravante RCG) é homologado, após uma construção colaborativa entre Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul (SEDUC/RS), União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação do Rio Grande do Sul (UNCME-RS) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio Grande do Sul (UNDIME/RS) e 1 BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. 2 BRASIL. Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil. Presidência da República. 5 de outubro de 1988. Brasília, DF. 3 BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República. Brasília, DF. 4 BRASIL. Lei nº 13.005. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024: Linha de Base. – Brasília, DF: Inep, 2015. 5 RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Educação. Departamento 15 Pedagógico. União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Referencial Curricular Gaúcho. Porto Alegre, 2018. 16 a participação de professores e da sociedade em geral. O RCG apresenta as especificidades de nosso Estado e orienta as escolas a construírem os seus currículos e os municípios seus documentos orientadores que incluirão sua parte diversificada. Seguindo nesse direcionamento de inserir a parte diversificada significativa dos diversos municípios gaúchos, apresentamos o Referencial do Território de Gravataí (doravante, RTG), documento orientador das escolas que oferecem as etapas da Educação Básica situadas em nosso município. O RTG busca contribuir com os conceitos já dispostos na BNCC e no RCG, trazendo as especificidades de nossa cidade: nossa cultura, nossas tradições, nossas características, nossas perspectivas enquanto conhecedores do local onde atuamos e que desejamos construir uma educação de mais qualidade, seguindo os princípios preconizados pela BNCC de igualdade e equidade. A construção do RTG foi coordenada pela Secretaria Municipal de Educação, a qual disponibilizou às redes pública e privada de ensino formas de participação e de contribuição. O trabalho foi consolidado com a atuação de educadores desejantes das diversas áreas que atuam em escolas da rede municipal e houve a contribuição de profissionais das diversas escolas da rede municipal e algumas escolas privadas de educação infantil. A orientação e aprovação do presente documento foi efetivada pelo Conselho Municipal de Educação de Gravataí. O RTG está disposto em três partes fundamentais: os textos introdutórios que trazem as concepções norteadoras para a educação, além das diversas modalidades presentes no Município; a Etapa da Educação Infantil; e a Etapa do Ensino Fundamental, organizado por Áreas do Conhecimento, do 1º ao 9º ano. O presente Documento, mais do que apenas cumprir sua função legal, almeja contribuir como um balizador, estabelecendo diretrizes e destacando aspectos relevantes que orientarão a construção dos currículos escolares. Katiuscia de Almeida Custodio Coordenadora Geral do Documento do Território de Gravataí 17 1. GRAVATAÍ ENTRE O PASSADO E O PRESENTE: ECONOMIA, CULTURA E INTEGRAÇÃO Agnaldo de Lima e Silva Alexandre Dalla Barba de Almeida Anelise Silveira Cardoso Nicoll Siqueira da Rosa Tuane Ludwig Dihl Gravataí é um município do Estado do Rio Grande do Sul localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Sua área é de 467,54 km², de acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de Gravataí (SMDUR - GEPRO), e possui como limítrofes os municípios de Glorinha (a leste), Novo Hamburgo e Taquara (ao norte), Sapucaia do Sul e Cachoeirinha (a oeste), e Viamão e Alvorada (ao sul). A população, de acordo com estimativas do IBGE (2017), é de 275.146 habitantes, sendo o sexto município gaúcho entre as maiores concentrações populacionais do Estado. As características físico-geográficas da paisagem gravataiense transformaram a região num local de passagem de paleoindígenas6, uma vez que é um ponto de confluência entre serra e litoral, além da presença de um importante corpo de água, o Rio Gravataí7. A formação de Gravataí está inserida no contexto das disputas ibéricas por territórios no sul da América. Em 1750, as Coroas portuguesa e espanhola assinaram o Tratado de Madri, no qual acordaram que Portugal devolveria a colônia de Sacramento8 à Espanha em troca dos Sete Povos das Missões9. Contudo, os Guarani habitantes dessas reduções dificultaram a efetivação do referido arranjo ao resistirem à desapropriação do local, guerreando durante anos contra espanhóis e portugueses no confronto conhecido como Guerra Guaranítica (1754 - 1756). Milhares de nativos fugiram desse conflito e estabeleceram-se em território português, principalmente nas proximidades de Rio Pardo - região localizada no limite entre as duas Coroas. Interessados em manter os indígenas missioneiros sobre seu controle e preocupados com a 6 O termo refere-se aos primeiros povos indígenas povoadores do continente americano. 7 SOUZA, José Otávio Catafesto de. Do passado originário ao presente etnográfico: trajetória das coletividades indígenas na região de Gravataí. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 1. Porto Alegre: Edições EST, 2011, p.53. 8 Foi fundada em 1680 por portugueses no atual território do Uruguai, que naquela pertencia aos domínios espanhóis na América. 9 Diz respeito ao conjunto de sete aldeamentos indígenas formados por Jesuítas espanhóis na região nordeste do atual Rio Grande do Sul. Também era chamado de Missões Orientais em razão da localização a leste do Rio Uruguai. 18 possibilidade dos espanhóis os recambiar, Portugal procurou afastá-los da proximidade dos castelhanos10. Por volta de 1760, iniciou-se sob o comando do Capitão Antônio Pinto Carneiro, a transferência de mais de mil Guarani de Rio Pardo para o interior da província, especificamente para as terras correspondentes hoje à Gravataí que na época pertenciam à Freguesia de Viamão. Foi para abrigar esse contingente originário dos Sete Povos das Missões que a Aldeia Nossa Senhora dos Anjos formou-se11. Embora não se tenha registro da data exata de sua criação, convencionou-se o dia 8 de abril de 1763 como marco oficial, ainda que exista documentação a respeito de doação de sesmarias na região a portugueses e luso-brasileiros desde 175512. Somente a partir de 1769, com o governador José Marcelino de Freitas, a organização da Aldeia recebeu mais atenção, tanto que nessa época tornou- se o maior aldeamento indígena do Rio Grande do Sul, comportando cerca de 3 mil pessoas. Entre as instruções e intervenções propostas por José Marcelino destacaram-se a uniformização dos valores para a utilização do trabalho dos indígenas pelos moradores e a promoção da ocidentalização dos mesmos, através do ensino da língua portuguesa e da erradicação das línguas, danças e festas da cultura Guarani13. Entre as atividades econômicas da Aldeia dos Anjos nessa época, é possível citar resumidamente a existência de fábricas de tijolo, louça e telha, moinhos para produção de farinha, e a própria Estância dos Povos que foi criada para prover o sustento dos que aqui viviam. Com o fim do governo de José Marcelino, iniciou-se um processo de exploração privada da Aldeia dos Anjos, o qual foi acompanhado por um rápido declínio populacional no local: em 1770 existiam 2.618 indígenas; em 1774 somente 884. O declínio seguiu durante o século XVIII, de modo que no século XIX já não existia quase nada do aldeamento14. Ainda que o próprio nome Gravataí remeta a essa influência guaranítica em sua formação, uma vez que a etimologia da palavra é proveniente da língua guarani (“gravatá” é o nome de uma espécie de planta abundante na região e “hy” significa rio), apenas, recentemente, a memória do aldeamento passou a ser revigorada. Afinal, foi 10 NEIS, Mons Ruben. A aldeia de Nossa Senhora dos Anjos. In: SIMPÓSIO ESTADUAL SOBRE A CULTURA GRAVATAIENSE, 1º, 1987. Anais... Porto Alegre: Evangraf, p.170. 11 Embora esses Guarani sejam originários dos Sete Povos das Missões, não se pode considerar que a Aldeia dos Anjos, construída para abrigá-los, seja uma Missão Jesuítica. Afinal, não se reproduziram aqui os modelos de organização e catequização existentesna região missioneira. 12 RAMOS, Eloísa Helena Capovilla da Luz. A terra e os moradores da região do Rio Gravataí (Séc. XVIII). In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 1. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011. 13 KÜHN, Fábio. O “Governo dos Índios”: a Aldeia dos Anjos durante a administração de José Marcelino de Figueiredo (1769-1780). In: ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL MERIDIONAL, 3º, Anais. , Florianópolis, 2007, p.4. 14 Idem, p.13. 19 em 2019 que se criou um monumento para esse fim: a Cruz Missioneira na rótula que liga a Avenida Centenário a ERS-118. Após 46 anos da oficialização da Aldeia dos Anjos, o local tornou-se distrito de Porto Alegre através da Provisão Real de 7 de outubro de 1809. Em 11 de junho de 1880, Nossa Senhora dos Anjos adquiriu a condição de vila e, meses depois, em 23 de outubro de 1880, foi elevada a município. Nesse percurso deve-se destacar novamente a importância da localização geográfica de Gravataí como de integração. Dada a proximidade em relação a Porto Alegre e estando no caminho para o litoral norte e Santo Antônio da Patrulha, inúmeras carretas de mercadorias passavam por aqui, indo e vindo desses e para esses locais15. A memória sobre o meio de transporte que movimentou a economia gravataiense no século XIX é cultivada até os dias de hoje entre os habitantes da cidade, uma vez que, anualmente, ocorre a Carreteada Estadual de Gravataí. O evento é realizado desde 1987 com o apoio da Prefeitura, mas se iniciou anos antes através da idealização do casal Ramon e Eleonora16. A Festa da Carreteada, como é popularmente chamada, reúne centenas de carreteiros que realizam o tradicional Desfile das Carretas e acampam no Recanto das Carretas – espaço localizado nas proximidades do Morro Agudo, onde também se promovem festejos, concursos e apresentações artísticas ao público. Sendo um ponto de integração, a região de Gravataí abrigou outros povos além dos portugueses e dos Guarani, de forma que os aspectos culturais da cidade remontam às mais variadas vertentes. Vindos junto aos senhores, diversos escravos africanos foram trazidos para a Aldeia dos Anjos. Já em 1807, a chamada Freguesia de Nossa Senhora dos Anjos contava com 828 escravos e 186 libertos, africanos ou nascidos no Brasil, contabilizando juntos 38% da população da aldeia17. Não é de se estranhar, portanto, que existam na cidade alguns quilombos, como o Quilombo do Paredão (na divisa com a cidade de Taquara), o Quilombo Manoel Barbosa (no bairro Barro Vermelho) e o Quilombo Ferreira-Fialho (no bairro Cavalhada). Embora não se possa datar precisamente a instituição desses espaços, admite-se que desde o final do 15 BARROSO. Vera Lúcia. Gravataí: lugar de memórias. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p.29. 16 KSSESINKSI, Vanusa Silva de Lima. Carreta de bois: um passado mais que presente. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 3. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p.49-50. 17 Os brancos contabilizavam 1192 indivíduos, correspondendo a 45% da população, e os indígenas 449, sendo 17%. ALADRÉN, Gabriel. Os escravos de Dona Francisca: alforria, cidadania e hierarquia de cor na Freguesia de Nossa Senhora dos Anjos (1780-1830). In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 1. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p. 124. 20 século XIX as regiões em que estão localizados fossem utilizadas para a permanência de afro-brasileiros18. Devido à discriminação racial sofrida pelos afro-brasileiros na região sul, o associativismo foi uma das formas encontradas pelos negros para participar da comunidade e manter viva sua cultura. Espaços de socialização e, com eles, festejos específicos, foram sendo criados em Gravataí ao longo do tempo. No centro da cidade, o Beco dos Catutas, como ficou conhecida a Travessa Adão Pedro dos Santos, nos anos 1970, foi o reduto dos fundadores da Escola de Samba Acadêmicos de Gravataí, que ainda hoje participa do Carnaval de Porto Alegre, e do Clube Beneficente Seis de Maio, atual Associação Cultural e Beneficente Seis de Maio, entre outros19. O Clube Seis de Maio, cabe dizer, criado em 1956, foi importante local de ajuda mútua entre a comunidade negra, impedida de participar dos festejos organizados por brancos20. Gravataí também foi destino de imigrantes açorianos. A vinda de casais provenientes das Ilhas dos Açores para a América no século XVIII e sua eventual dispersão na região sul do país - mais precisamente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina - está alinhada com a política portuguesa de povoamento dos locais brasileiros conquistados por aquele país, mas também à tentativa dos açorianos de fugir do excesso populacional e dos eventos sísmicos- vulcânicos que assolavam as Ilhas21. Dentre as primeiras cidades colonizadas por açorianos está Gravataí e, por isso, a cultura desse povo também passou a ser difundida aqui. A Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul (CAERGS), instituição criada em 2003, a partir de estímulo do Governo Regional dos Açores, promove diversas atividades relacionadas à cultura açoriana na cidade e no Estado, como seminários, festivais de Folclore, palestras e os mais distintos projetos22. A residência que serve de sede para a CAERGS, o 18 CARLE, Cláudio Baptista. O quilombo do paredão: resistência negra em Gravataí. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 1. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p.147. LOPES, Joice da Luz. O imaginário dos quilombolas do Quilombo Manoel Barbosa, do Munícipio de Gravataí, diante da busca da identidade africana. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 1. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p.163. 19 SANTOS, Carlos Alberto Nunes dos; VIEIRA, Valdete Silva Stang. O beco dos catututas. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 1. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p.182. 20 SANTOS, Gabriela Cruz de Oliveira dos. Associação cultural e beneficente 6 de maio. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 1. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p.195. 21 ORTIZ, Jairton. Festa do Divino Espírito Santo em Gravataí: estudos sobre a reinvenção açorianidade no século XXI. In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 2. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p.233. 22 GOMES, Régis Albino Marques. Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul (CAERGS). In: JACHEMET, Célia Silva; BARROSO, Vera Lúcia Maciel (org.). Raízes de Gravataí: Memória, História e cidadania. Tomo 4. Porto Alegre: Edições EST; Evangraf, 2011, p. 257-259. 21 Casarão dos Fonseca, é patrimônio histórico de Gravataí, tombado em 2005; foi construída por Manuel Fonseca, um açoriano, em 1877, sendo um dos prédios mais antigos do Município. Um dos festejos açorianos celebrados na cidade é a Festa do Divino Espírito Santo, tradição trazida por esses primeiros açorianos colonizadores. Durante o século XIX e começo do século XX, Gravataí se manteve como uma cidade de atividade majoritariamente agrícola constituindo, num primeiro momento, um espaço territorial focado principalmente na agricultura de subsistência com produtos primários, tais como milho, engenhos, selarias e alambiques. O primeiro ciclo econômico do Município caracterizou-se pelo cultivo de mandioca, integrandoo processo produtivo de diversos povos como indígenas, açorianos e alemães que se estabeleceram em Gravataí. Essas atividades impulsionaram a construção das primeiras estradas para o transporte dos produtos agropecuários. Pode-se, também, destacar outros ciclos, como o do leite e do extrativismo de argila, grês e saibro para fabricação de louças, telhas e construção de casas, o que contribuiu para o desgaste dos morros localizados ao longo do Município. Após a emancipação, ocorreu a intensificação da cultura do arroz, pois boa parte da produção do Estado partia de Gravataí. Através do início da industrialização, em 1926, ocorreu o enfraquecimento da cultura arrozeira e hoje encontram-se apenas resquícios da rizicultura deste período. A partir de 1960, Gravataí passou de uma dinâmica socioeconômica essencialmente rural ligada à agricultura para uma voltada à indústria e à área urbana com a implantação da ICOTRON, empresa pioneira que iniciou o crescimento industrial em larga escala no município. Mais tarde, foi implantado o Distrito Industrial que incentivou a vinda de outras indústrias para a cidade, dentre elas a Pirelli na década de 1970, a General Motors (GM) em 1997 e demais empresas de setores de metalurgia, mecânica, borracha e materiais elétricos. A instalação dessas indústrias foi efetuada levando em conta fatores condicionantes locais como mão de obra disponível, malha viária atrativa (a presença das rodovias ERS-020, ERS-030, ERS-118 e BR-290) e recursos naturais atraentes (sobretudo as águas do Rio Gravataí) e a convergência de políticas de planejamento nas múltiplas esferas federal, estadual e municipal do Poder Público. Essa dinâmica trouxe modificações na estrutura urbana do Município, marcando o rápido crescimento da população, impulsionado pela forte migração regional e até mesmo internacional, acarretando transformações significativas em áreas como habitação, transportes, comércio e na infraestrutura urbana de forma geral. Entre as décadas de 1970 e 1980 a população gravataiense mais que dobrou e segue em ritmo de ininterrupto crescimento, fato que evidencia as rápidas alterações ocorridas no município da década de 1960 até o momento atual. 22 Nas últimas décadas, Gravataí tem se consolidado como polo industrial, comercial e de serviços, representando a quarta maior economia dentre os municípios gaúchos. Seu rápido crescimento econômico vinculado aos setores secundário e terciário vem trazendo a expansão da área urbana, que já corresponde a mais de um quarto da área total do município e que segue crescendo exponencialmente ao longo dos últimos anos. Essa expansão também traz consigo desafios que envolvem a expansão urbana desordenada, a degradação ambiental, a mobilidade, a violência e desigualdades socioeconômicas. Na área rural, por outro lado, a agricultura ligada ao cultivo de grãos, frutas, verduras e legumes, assim como a pecuária associada aos laticínios também impulsionam a economia local articulando o setor primário à dinâmica econômica municipal. Ao longo desse texto de apresentação para o Referencial do Território de Gravataí (RTG), foram apontadas algumas das principais características históricas, geográficas e culturais do município. Conforme exposto, a localização entre a serra e o litoral, bem como a presença do Rio Gravataí e a proximidade à Porto Alegre foram aspectos essenciais para o Município durante toda sua história e, em especial, para o povoamento e para o desenvolvimento socioeconômico gravataiense. 23 2. PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DOCUMENTO 2.1 EDUCAÇÃO Adriana Conceição Santos dos Santos Claudia Maria Panassolo Rebés O Sistema Educacional Brasileiro, ao longo do tempo, passou por mudanças políticas, sociais, econômicas e históricas, levando a sociedade a uma importante reflexão sobre os grandes desafios da educação deste novo século. Com uma demanda primordial, a escola tem que dar conta de atender às novas necessidades sócio-integradoras em seu cotidiano, fazendo com que se repense a concepção de educação usada, a fim de proporcionar aos estudantes uma identidade cultural e pedagógica compatível com este novo modo de ver, ser e estar no mundo. A forma de ensinar e de aprender deve ser repensada, bem como as formas de relação entre a ética e o agir pedagógico, para que haja entendimento das dificuldades existentes, frente à pluralidade cultural de uma sociedade que sofre mudanças nos processos de formação identitária e social. Neste sentido, é preciso entender quem são os protagonistas deste processo educativo, a partir deste novo perfil de estudante. Esta caracterização é fundamental para que se possam constituir espaços e tempos de ensinagem que, de fato, produzam aprendizagens e constituam competências para a vida, conforme os preceitos apontados na Base Nacional Comum Curricular23 (BNCC). Para formar o novo perfil do estudante do século XXI, devem ser trabalhadas competências que desenvolvam o pensamento crítico, a resolução de problemas, a consciência cultural, a liderança e a flexibilidade para lidar com diferentes tipos de pessoas. A educação para este século traz um grande desafio para os educadores, fazendo com que a dinâmica mude consideravelmente dentro da sala de aula, pois esta nova educação pressupõe o estímulo à curiosidade e à interação. Os estudantes atuais estão acostumados com a pluralidade e simultaneidade na realização de suas tarefas – estudam enquanto assistem aos programas televisivos, acessam suas redes sociais ou ouvem música. Essa geração nasceu atrelada ao mundo de tecnologia, sendo impossível dar continuidade nas tarefas cotidianas sem a internet, smartphones, computadores, videogames com gráficos cada vez mais apurados, iPods e televisores de alta definição. 23 BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. 24 No entanto, por estarem acostumados a serem bombardeados por muita informação em tempo real, podem apresentar dificuldades, tanto em atenção quanto em dedicação aos estudos, para lidar com a gama de conteúdos em seu processo de aprendizagem – conteúdos que correm o risco de se tornarem obsoletos diante do avanço constante das tecnologias. Segundo Freire24, O que me parece fundamental para nós, hoje, mecânicos ou físicos, pedagogos ou pedreiros, marceneiros ou biólogos é a assunção de uma posição crítica, vigilante, indagadora, em face da tecnologia. Nem, de um lado, demonologizá-la, nem, de outro, divinizá-la. O autor sinaliza que a tecnologia está a serviço da inovação pedagógica, com o objetivo de estímulo e desafio à curiosidade dos alunos. Assim, a escola deve prepará-los a fim de utilizá-la com responsabilidade e autonomia. A atenção necessária com esses jovens consiste, principalmente, no amadurecimento dos mesmos, na orientação adequada quanto ao uso das ferramentas digitais e a sua atuação na sociedade, pois a quantidade de itens tecnológicos e informações desnecessárias acabam por tirar sua atenção e torná-los alheios à realidade em que vivem e tudo que os rodeiam. É preciso que o aluno torne-se autônomo no uso da tecnologia e que essa sirva como meio de acesso ao conhecimento. A educação do século XXI vem com a proposta de ser movida por interação e estímulo à curiosidade. Não se pode mais conceber que os estudantes encontrem nas ruas e na televisão mais provocações do que encontram em sala de aula. É neste ponto que cabe refletir sobre a educação e seus processos. É fato afirmar que a matemática não mudou e nem a física, por exemplo. O ponto, entretanto, é que a maneira de se comunicar com o estudante mudou. O que deu certo por muitas décadas no processo educativo, por si só, já não é o suficiente. Este novo século, trouxe grandes transformações na forma de ver e agir em sociedade, necessitando de um novo olhar sobre o ensino. Diante de todas estas perspectivas, surgem questionamentosque se tormam pertinentes, relativos a fatores como: a postura dos estudantes diante da aprendizagem, que nos dias atuais tem sido alvo de crescentes críticas; a necessidade de atualização – através de formações constantes - dos professores, visando desenvolver aulas mais atrativas. Todas estas questões, fundamentais e prementes, não possuem respostas fáceis. Porém, é notório que a escola necessita de mudanças para se adaptar às novas maneiras de como os estudantes encaram e lidam com a vida, maneiras estas que, ao longo 24 FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 133. 25 das últimas décadas, vem diferindo cada vez mais do que nós, professores, experenciamos enquanto estudantes. De acordo com Vaz25, Saber apertar os botões certos no Facebook não é o papel do professor, mas incitar o pensamento crítico do aluno sobre porque o Facebook cresce tanto sendo uma ferramenta de externalização de nosso desejo de como nós queremos parecer para o mundo, isso sim, é papel do mestre. Fazer com que o aluno cresça como um ser humano e cidadão pensante e crítico é papel do professor. …muitos professores, por não se posicionarem como um estrategista em sala de aula – mostrando o caminho – acabam por tentar competir com o aluno no jogo dele, o de ferramenteiro. No mundo em que se vive, os estudantes também têm a capacidade de ensinar, possibilitando seu crescimento pessoal e rompendo com a concepção tradicional onde só o professor é visto como detentor do conhecimento. Nesta atualidade é possível superar a visão da escola como um depósito do saber, buscando uma abordagem mais inclusiva, que valorize a diversidade, principalmente no reconhecimento de que somos todos seres aprendentes e ensinantes, em constante processo. É papel da educação orientar para este novo século, na busca pela transição para um modelo de ensino mais ligado ao enriquecimento de conhecimentos, tendo a responsabilidade de envolver todos os seus agentes na construção de sua diversidade, instigando aprendizagens significativas, capaz de gerar ações que diminuam os efeitos das desigualdades, através de uma leitura de mundo. Portanto, a proposição de construção de um Referencial do Território de Gravataí (RTG), vem na lógica de embasar as ações educativas, oportunizando uma aprendizagem que contextualize os clássicos conceitos necessários a formação humana, dentro dos movimentos e instrumentos tecnológicos, ou seja, uma aprendizagem que dialogue com esta geração de alunos “conectados” e tecnologicamente interativos, mas que também lhes proporcionem o desenvolvimento de senso crítico e criativo. Este movimento remete para pensar o “como” ensinar sob a ótica de um mundo cuja geração de crianças e adolescentes apropria-se de múltiplos fatores, onde a capacidade intelectual de absorver uma quantidade de informações é muito maior, mas que precisa ser organizada e ressignificada. É importante destacar a educação como uma ação contínua de transformação, percebendo o desenvolvimento integral do ser, em seus aspectos físico, intelectual, emocional, afetivo, social e cultural, possibilitando a inserção social com foco na educação que proporcione sua emancipação e sua alteração social, tornando-o um ser crítico-emancipatório, oportunizando as mesmas condições de aprendizagem para todos e reconhecendo o direito de 25 VAZ, Conrado Adolpho. Os 8 Ps do marketing digital: o guia estratégico de marketing digital. São Paulo: Novatec, 2011, p. 8. 26 cada indivíduo. Ao promover-se a equidade, sem privilégios e preconceitos, temos como consequências naturais para este indivíduo a construção de seus valores, bem como o desenvolvimento de sua autonomia e independência diante das diversas situações da vida. Assim, tão importante quanto aprender conteúdos, é preparar para a construção de uma sociedade mais ética, democrática, responsável, inclusiva, sustentável e solidária, respeitando e promovendo a diversidade e os direitos humanos, sem preconceitos de qualquer espécie, tendo como objetivo a garantia de aprendizagem efetiva e consequentemente a superação das desigualdades. O papel do professor para a educação do século XXI em um mundo digital é desafiador. É preciso refletir, reconstruir e compartilhar um espaço escolar que possa acompanhar as mudanças e informações a que os alunos estão expostos diariamente, para motivá-los na construção dos seus próprios conhecimentos. Trata-se de desenvolver habilidades e competências para formar o aluno na sua integralidade, desenvolvendo metodologias educacionais, que o motive a tornar-se protagonista de seu saber, pensando em estratégias que oportunizem as mesmas aprendizagens para todos, mas respeitando os tempos e movimentos individuais. Em síntese, refere-se a “o que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado26”. Assim, para que o processo de escolarização produza um efeito real na ação condutora educativa, os processos de aprendizagem devem ser organizados de forma interdisciplinar e transdisciplinar, com diversificadas metodologias para a construção do conhecimento, desenvolvendo habilidades e competências em todas as etapas do ensino, articulando-as com as macro competências da Base Nacional Comum Curricular e fomentando o protagonismo juvenil no processo educacional, conforme é proposto no Referencial Curricular Gaúcho27 (RCG): contextualização e sistematização dos conceitos articulados com processos de aprendizagem organizados de forma interdisciplinar e transdisciplinar, na construção do conhecimento orientado pelo professor em atividades diversificadas com foco no desenvolvimento de competências e habilidades de cada etapa de ensino, vinculando as macro competências da 26 BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017, p. 14. 27 RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Educação. Departamento Pedagógico. União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Referencial Curricular Gaúcho. Porto Alegre: Secretaria de Estado da Educação, Departamento Pedagógico, 2018, p. 22. 27 BNCC, e no entendimento do estudante como protagonista no processo educativo. Cada vez mais, o professor terá a necessidade de se reinventar e buscar ferramentas para trabalhar com esta geração revolucionada pela era digital e suas tecnologias que inovam-se a cada dia. Desta forma, o professor também assume a função de preparar a nova geração para este novo modelo de sociedade que vem se configurando, orientando os alunos, por exemplo, sobre a facilidade de conexão e interação entre as pessoas nos meios virtuais. A relação dos alunos com as novas tecnologias, sendo pautada e orientada em direção à ética, ao respeito e uso responsável, terá uma valiosa contribuição para seu aprendizado e enriquecimento cultural. À guisa de conclusão, pode-se apontar que, para a evolução da humanidade, é de extrema importância e de essencial grandeza o desenvolvimento de uma educação que se conceptue a partir da integralidade do ser, praticando a capacidade da empatia, do diálogo, da resolução de conflitos, de cooperação e respeito ao outro e a si mesmo, respeitando os direitos humanos e valorizando as várias formas de diversidades sem qualquer natureza de preconceitos. Para isso, é necessária uma mudança de hábitos e perspectivas da escola e de todo o processo de ensino e aprendizagem, bem como o fazer pedagógico a favor de uma educação encaminhada para o hoje e para o futuro. 28 2.2 APRENDIZAGEM Adriana Conceição Santos dos Santos Claudia Maria Panassolo Rebés A educação sempre esteve ligada à demanda social. A partir da década de 70, com a flexibilização de diferentes setores da sociedade, transformações na forma de organização do trabalho, cultura como objeto de consumoe expansão da informática, desencadeou-se o que Marcuse (1997) chamou de “adesão voluntária à sociedade vigente”28. Desde então, tornou-se impossível desassociar a evolução dos tempos através dos séculos e as mudanças indispensáveis ao seu acompanhamento. Frente a isso, a aprendizagem ganha destaque e proporção, pois será o meio pelo qual o aluno irá adquirir tais ferramentas. No entanto, não há como falar de concepção de aprendizagem sem falar de construção de conhecimento, pois ambos estão implicados num mesmo processo de compreensão acerca do que se ensina e do que se aprende, bem como das ações pedagógicas dela decorrentes. Essa constatação implica urgente necessidade de uma reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem, relacional e dialética, pois um só existe na relação com o outro. A atenção aos indivíduos deste novo século também se volta para analisar as aprendizagens processadas a partir deles, ou seja, nas ações educativas vigentes se percebe uma expressiva quantia de professores que seguem privilegiando a maneira como foram ensinados, reforçando práticas antigas de ensino. Não se trata de crítica ao como se ensinava ou como se aprendia, mas é necessário considerar que vivemos outros tempos, cuja educação deve atender a outro tipo de estudante. O fato é que esta mesma prática, em comparação aos processos educativos deste dinâmico século, acaba por afastar os alunos do processo de construção do seu conhecimento, refletindo em uma sociedade que perpetuará um modelo que produz seres com dificuldades de criar, pensar, construir e reconstruir conhecimento. Dentro dessa visão, Moraes29 afirma que: Não se muda um paradigma educacional apenas colocando uma nova roupagem, camuflando velhas teorias, pintando a fachada da escola, colocando telas e telões nas salas de aula, se o aluno continua na posição de mero expectador, de simples 28 MARCUSE, Hebert. Algumas implicações sociais da tecnologia moderna. Revista de estudos marxistas. São Paulo: Boitempo, 1997, n.01.p. 113-140. 29 MORAES, M. C. Educar na biologia do amor e da solidariedade. São Paulo: Fundação Peirópolis, 2000, p. 17. 29 receptor, presenciador e copiador, e se os recursos tecnológicos pouco fazem para ampliar a cognição humana. A construção do conhecimento acontece num contexto dinâmico e não numa perspectiva fragmentada ou estática. Sabe-se que, no processo de ensino e aprendizagem, o sujeito é considerado um ser de emoção e razão, visto que fatores afetivos, motivacionais e relacionais interferem na aprendizagem. A forma de organizar situações de aprendizagens, o relacionamento cooperativo entre professores e alunos, bem como as dúvidas geradas em torno de temas e conceitos trabalhados influenciam de forma decisiva no processo de construção de novos significados que os alunos atribuem aos conteúdos escolares. Nesse sentido, o Referencial do Território de Gravataí (RTG), a partir da Base Nacional Curricular30 (BNCC) e do Referencial Curricular Gaúcho31 (RCG), traz, em sua concepção de educação e de currículo, propostas desafiantes no que se refere ao “como fazer”, para tornar os estudantes socialmente competentes nas diversas áreas do conhecimento. A mesma preocupação já constava no relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, publicado no Brasil em 1998, mas formulado originalmente no período de 1993 a 1996. Esse documento já propunha que a Educação deveria se organizar em torno de quatro aprendizagens fundamentais ao longo da vida, muito úteis para o conhecimento, que são, conforme Delors: Aprender a conhecer, que significa adquirir instrumentos de compreensão para acesso ao conhecimento, ao invés da aquisição do repertório dos saberes socialmente construídos; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente, está associado estreitamente à formação profissional, à prática; aprender a viver juntos, pois a participação e cooperação com os outros, em todas as atividades humanas, aponta como alternativa para a redução de muitos dos conflitos numa educação orientada pelo respeito aos valores, a compreensão mútua e a paz; e aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes, pois a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa para que possa elaborar pensamentos autônomos e críticos, bem como formular juízos próprios de valor, a fim de que possa decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.32 30 BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. 31 RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Educação. Departamento Pedagógico. União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Referencial Curricular Gaúcho. Porto Alegre: Secretaria de Estado da Educação, Departamento Pedagógico, 2018. 32 DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, São Paulo: Cortez, 1998, p. 15. 30 Essa interpretação de Delors sobre as aprendizagens fundamentais corroboram com a posição da BNCC acerca das competências a serem construídas pelos alunos ao longo da Educação Básica. No entanto, o desenvolvimento de tais competências demanda uma proposta de ensino flexível, que proporcione aos estudantes aprendizagens que de fato tenham significado para sua vida prática, ou seja, a aprendizagem se tornará significativa à medida que o aluno perceber sua utilidade para a vida prática e para a sua interação social. A iniciativa de promover aprendizagens significativas deve estar pautada em um modelo mais dinâmico, onde o estudante é levado a protagonizar o seu próprio aprendizado, (re)construindo e formando conceitos sobre o mundo, oportunizando o seu (re)agir frente à realidade. A aprendizagem resulta de associações entre estímulos e respostas, relacionando conhecimentos prévios com conhecimentos novos à sua estrutura cognitiva e ao meio ao qual está inserido. Segundo Furtado33, A aprendizagem significativa é o que ocorre a partir de uma associação com aprendizagens anteriores, criando, inicialmente, um sentido e posteriormente um significado que permite a ampliação do repertório de quem aprende. Em outras palavras, os novos conhecimentos adquiridos relacionam-se com o conhecimento prévio que a pessoa possui. Nesse contexto, fica claro que não é possível formar simplesmente trabalhadores para o mercado, mas sujeitos completos, com conhecimentos e habilidades, sem desprezar uma formação voltada para a cidadania, seus direitos e deveres na construção de um mundo melhor. O professor, como agente de transformação, deve ter uma visão pluralista, tornando a sala de aula um espaço de interação de ideias que exercite a reflexão e o pensamento, com vistas a promover a aprendizagem e as diferentes capacidades cognitivas. Assim, o processo de aprendizagem acontecerá através da aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, que são proporcionados por meio do estudo, do ensino ou das experiências, reunidas por diversos fatores neurológicos, emocionais, ambientais e relacionais, visto que “a sala de aula é um espaço que proporciona a interação social, as descobertas, os desafios e as superações.” 34 33 FURTADO, Júlio. O papel do professor. Revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa. 2017, p. 50. 34 RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Educação. Departamento Pedagógico. União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Referencial Curricular Gaúcho. Porto Alegre: Secretaria de Estado da Educação, Departamento Pedagógico, 2018, p. 22. 31 Por conta disso, caberá ao professor cada vez mais a necessidade de se reinventar. Mesmo que o aluno seja o protagonista do processo de aprendizagem, o papel do educador continua sendo importante, mas não mais como o transmissor de conteúdo, mas um mediador, um facilitador para ensinarao educando habilidades de como estudar, como buscar informações, como aprender melhor, como pesquisar e como desenvolver pensamento crítico para ser mais analítico. A ideia é que o aluno interaja, critique, escreva e faça, pois o processo somente terá êxito com o engajamento de ambos. De acordo com Paro35, a construção de conhecimento é sempre mediada, ou seja, é sempre construída no âmbito das relações interpessoais, pois é na relação com o outro que o sujeito ativo desenvolve a autonomia de pensar e agir nas diversas situações do cotidiano. A aprendizagem significativa traz a certeza de que não há mais lugar para a falta de contextualização e para a repetição automática. Para que ocorra essa aprendizagem, deve haver uma (re)construção do conhecimento, ou seja, a aprendizagem deve se originar de um significado emocional e contextual, onde ocorre a construção do conceito, proporcionando utilizá-lo em variados contextos, oportunizando ao aluno definir conceitos com sua própria linguagem e relacionando logicamente a variados conceitos, por meio do texto falado, escrito, verbal e não-verbal, ocorrendo a transformação com interferência na realidade. Somente assim será possível significar a ação pedagógica para esse desafio, entendendo as atitudes acolhidas em cada etapa, habilitando o estudante a efetivar a aprendizagem significativa. Para que ocorra essa aprendizagem, deve haver a construção de sentido por meio da inter-relação dos conceitos e habilidades curriculares ao cotidiano do aluno. Na mesma ótica, Furtado afirma que “toda aprendizagem só é, de fato, significativa caso se insira de forma ativa na realidade. Intervir no real é o fim último da aprendizagem36”. E, ao constatar a construção de sentido no processo de aprendizagem, cria-se o conceito de que houve a compreensão dos elementos reunidos através da percepção de fatos e características. O professor, como mediador no processo de ensino e de aprendizagem, deve oportunizar condições para que o aluno desenvolva competências que atendam suas experiências e necessidades, centradas na ação educativa e no desenvolvimento de habilidades que incentivem a criatividade do aluno para expressão e elaboração livre de suas ideias, dentro daquilo que entendeu. O 35 PARO, Vitor Henrique. Estrutura da escola e prática educacional democrática. Caxambu (MG): ANAIS da ANPED, GT 05 (Estado e Política Educacional), 2007, p. 38. 36 FURTADO, Júlio. O papel do professor. Revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa. 2017, p. 50. 32 professor não pode estar isento às transformações; ao contrário, precisa acompanhá-las, modificando seu papel docente com a consciência de que “os saberes penetram e enriquecem os outros37”. Quando o aluno consegue argumentar, passa a ter condições de transformar. Toda a aprendizagem só é de fato significativa quando for introduzida de maneira ativa na realidade. Ao professor cabe conduzir o aluno a simular sua ação em um contexto real, através do desenvolvimento de projetos, de ideias novas e da resolução de problemas, executando o conceito na prática de sua vida. Ademais, salienta-se que o ambiente de aprendizagem, baseado em construção de competências, permite que os alunos tragam sua realidade para a escola e reflitam sobre ela, buscando formas de contribuir com a mesma. A aprendizagem deve envolver o aluno como pessoa e, para isso, as técnicas de ensino devem estar em sintonia com esse novo paradigma. A escola deve deixar de ser um espaço de mera transmissão de conteúdo e se tornar um espaço de desenvolvimento de competências, somando conhecimentos, habilidades, atitudes e valores. É necessário assegurar a aprendizagem dos alunos, ampliando a capacidade de lidar com o pensamento crítico, autonomia, diversidade, argumentação, autoconhecimento, projeto de vida, criatividade, comunicação, sensibilidade cultural, cultura digital e tecnologias, colaboração, ética, consciência socioambiental, autocuidado, empatia, emoções, responsabilidade, cidadania, entre outras perspectivas essenciais para a vida do século XXI. Outro ponto a se considerar é que deve- se preparar as novas gerações para uma realidade em permanente estado de mudança, com desafios do mundo atual, com incertezas, ambiguidades, complexidade e alto grau de volatilidade. 37 DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 1998, p. 104. 33 2.3 CURRÍCULO Adriana Conceição Santos dos Santos Ana Paula Braun De acordo com o Parecer CNE/CEB nº 07/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, a educação se constitui em um processo de socialização da cultura da vida, que envolve construção, manutenção e transformação de conhecimentos e valores. Partindo dessas reflexões, o Referencial do Território de Gravataí (RTG) propõe um diálogo com a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), com o Referencial Curricular Gaúcho (RCG) e com as referências locais deste território, no que diz respeito ao currículo escolar e às áreas de conhecimento que o organizam, tendo como base o Artigo 26 da LDBEN nº 9.39438, de 20 de dezembro de 1996: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Neste sentido, é correto afirmar que o currículo é a expressão formal do “todo” a ser desenvolvido pela escola. Representa, de forma organizada, uma trajetória a ser percorrida e está associado, segundo o Referencial Curricular Gaúcho (RCG), “ao conjunto de esforços pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas”39. De acordo com o Parecer CNE/CEB nº 07/2010, currículo é definido como: [...] experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos historicamente acumulados e contribuindo para construir as identidades dos educandos.40 38 BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República. Brasília, DF. 39 RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Educação. Departamento Pedagógico. União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Referencial Curricular Gaúcho. Porto Alegre: Secretaria de Estado da Educação, Departamento Pedagógico, 2018, p. 25. 40 BRASIL. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB nº 7, aprovado em 07 de abril de 2010. 34 O referido Parecer ainda evidencia que, na Educação Básica, a organização do tempo curricular deve ser construída em função das peculiaridades de seu meio e das características próprias dos seus estudantes, não se restringindo às aulas das várias disciplinas. A complexidade das questões referentes aos conhecimentos escolares nos apresenta a necessidade de desdobrar o currículo em diferentes dimensões: filosófica, sócio-antropológica, psicológica e epistemológica. A primeira se refere ao tipo de educação direcionada a uma cultura. Está baseada na concepção de sujeito, sociedade, propósitos e conteúdos necessários para a formação desse “homem” que se pretende. É responsável pelos elementos problematizadores, uma vez que é na observância de aspectos dessa dimensão que se questiona se os alunos estão sendo respeitados em suas variadas maneiras de aprender. O aspecto sócio-antropológico diz respeito ao reconhecimento das constantes transformações da sociedade. A escola precisa ter presente os padrões comportamentais que influenciam os alunos: forças econômicas, estrutura familiar, formas de comunicação, entre outros. A dimensão psicológica se faz presenteao analisarmos e considerarmos que as crianças raciocinam de forma e em ritmos igualmente diferentes. A observância de aspectos epistemológicos diz respeito à reflexão metódica sobre o saber, sua organização, sua formação, seu desenvolvimento e seus produtos intelectuais. O conhecimento dessas dimensões e, a partir disso, do que sejam os elementos centrais do currículo, são imprescindíveis para que o mesmo represente a seleção de conhecimentos relevantes e significativos. O RCG explicita que: relevância, neste sentido, sugere conhecimentos e experiências que corroborem na formação de sujeitos sensíveis, autônomos, críticos e criativos, que se sintam capazes de analisar como as coisas passaram a ser o que são e como fazer para mudá-las.41 Para Goodson, “o currículo não é construído de conhecimentos válidos, mas de conhecimentos socialmente válidos42”. Desse modo, o que consta ou deixa de constar no currículo de uma escola está intrinsecamente relacionado com a visão de sociedade e de educação. Portanto, o currículo deve estar articulado de tal forma que produza sentido à aprendizagem dos alunos, sendo o ponto a partir do qual a escola se compromete em atuar. 41 RIO GRANDE DO SUL, op. cit., p. 26. 42 GOODSON, Ivor F. Currículo: teoria e história. 9. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p.9. 35 Assim sendo, estabelecer as relações entre os conhecimentos escolares, sociedade, escola, saberes e práticas é condição básica de um currículo que se propõe a formar cidadãos que vivem em um mundo globalizado, onde a informação gira quase que instantaneamente e que também trazem em sua bagagem de vida os valores regionais. Trata-se, portanto, de um Currículo voltado para o viver local, mas com um pensar global. A BNCC e os currículos se complementam, no sentido de assegurar as aprendizagens dos alunos nas diferentes etapas da Educação Básica. O ajuste da BNCC à realidade local representa o currículo em ação. É a expressão de todos os esforços pedagógicos com intencionalidade educativa. Esses esforços, essas decisões, essa intencionalidade, referem-se, especialmente, a: contextualizar os conteúdos, de forma a torná-los significativos; buscar formas de organização interdisciplinar, lançando mão de estratégias dinâmicas e interativas; utilizar metodologias diversificadas, buscando o engajamento e a motivação dos alunos nas aprendizagens; conceber a avaliação como um conjunto de procedimentos que servirão de referência para a melhoria do desempenho da escola, do professor e dos alunos. Um currículo estruturado por competências (conceito balizador da BNCC) precisa romper com velhos hábitos nas escolas. Dentre esses, podemos destacar: a apresentação dos conteúdos de forma sistematizada; a fixação e a pressa em cumprir todos os conteúdos previstos; o conceito de erro (que precisa ser visto como parte do processo) e a visão linear dos conteúdos. De acordo com Macedo (2009, p. 25): “o melhor momento e lugar para formar competências e habilidades válidas para qualquer profissão e que têm valor para a vida como um todo é na educação básica, ou seja, no sistema de ensino que a compõe43”. Sob essa ótica, o Referencial do Território de Gravataí (RTG) ganha peso e substância, pois propõe um documento que acompanha a BNCC, na recuperação do verdadeiro sentido de educar, ou seja, precisa-se de indivíduos competentes para viver numa era cujos mecanismos de busca de informações já não dependem apenas da escola. No entanto, saber usar tais informações com consciência, ética e empatia, tornaram-se necessidades urgentes do processo de aprendizagem e cabe ao currículo ser redesenhado para formar e não mais apenas informar. É papel da organização curricular assegurar a comunicação entre as áreas do conhecimento, proporcionando uma maior interdisciplinaridade, 43 MACEDO, Lino de. Por que competências e habilidades na educação Básica? In: Rio Grande do Sul. Secretaria de Estado da Educação. Departamento Pedagógico. Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Porto Alegre: SE/DP, 2009, v.1. 35 contextualização e transdisciplinaridade. Esta visão não é uma tendência, mas uma constatação com eco em vários autores que já vêm apontando para um currículo que não seja organizado em conteúdos isolados, uma vez que vivemos em um mundo onde as coisas não podem ser vistas e explicadas por um só ângulo. A ideia de construção de um currículo integrado teve como principal suporte teórico os conceitos de Santomé44. Para ele, o currículo integrado enfatiza a necessidade de uma compreensão global do conhecimento e de maiores parcelas de interdisciplinaridade em sua construção. Perrenoud, em 1999, discute o significado da Integração Curricular nos currículos baseados no desenvolvimento de competências. Para esse autor, trabalhar as competências não significa rejeitar ou renunciar as disciplinas. Estas precisam servir como instrumentos, como meios de se chegar ao objetivo desejado. Alguns temem que desenvolver competências na escola levaria a renunciar às disciplinas de ensino e apostar tudo em competências transversais e em uma forma pluri, inter ou transdisciplinar.. Esse temor é infundado: a questão é saber qual concepção das disciplinas escolares adotar. Em toda hipótese, as competências mobilizam conhecimentos, dos quais grande parte é e continuará sendo de ordem disciplinar [...].45 As Diretrizes Curriculares Nacionais apontam a interdisciplinaridade e a contextualização como os elementos que devem assegurar a universalidade do conhecimento de diferentes disciplinas e eixos temáticos. A superação do saber fragmentado passa, obrigatoriamente, pela implementação de metodologias que deem conta de articular os conhecimentos. É tarefa dos professores, portanto, reconhecer esses pontos de ligação. O aluno precisa ser desenvolvido como um “corpo” completo de saberes e não com “pedaços” colados um ao lado do outro. O RCG esclarece que: A interdisciplinaridade pode ser entendida pela seguinte tríade: interlocução de saberes em detrimento dos conhecimentos fragmentados, aproximação na apropriação dos conhecimentos pelos professores e estudantes e intensidade das aproximações dos conhecimentos num mesmo projeto.46 No que diz respeito ao currículo, vale lembrar que, aos Sistemas de Ensino cabem, ainda, incorporar aos planejamentos a abordagem de temas 44 SANTOMÉ, Jurjo T. Globalização e Interdisciplinaridade - o currículo integrado. Porto Alegre, Artmed, 1998. 45 PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre, Artmed, 1999, p. 40. 46 RIO GRANDE DO SUL, op. cit., p. 31. 36 contemporâneos, que estão relacionados à vida humana, nas diferentes escalas: local, regional e global. A construção dos currículos das escolas será orientado, portanto, pela BNCC , RCG e RTG considerando a trajetória pedagógica da escola e as especificidades locais. Concluindo, é importante ressaltar que um currículo voltado à potencialidade humana, deverá propor estratégias cotidianas para ensinar e aprender, de modo a levar o aluno ao exercício regular de propor e resolver problemas, de tomar decisões, de criar situações complexas e de desenvolver projetos e pesquisas, permitindo que o mesmo tenha uma aprendizagem significativa, constante e interativa, que permita a transformação da realidade. 37 2.4 EDUCAÇÃO INTEGRAL Bianca Migliavacca Educação Integral é uma concepção que vem sendo defendida já há algum tempo nos estudos referentes à educação, guiada por aportes teóricos, pesquisas e pela própria legislação brasileira. A Constituição Federal47 (1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente48 (Lei nº 8069/90) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação49 (Lei nº 9.394/96) são marcos legais que trazem à perspectiva de educação a garantia do direito à proteção integral dos sujeitos. Tanto a BaseNacional Comum Curricular (BNCC), quanto o Referencial Curricular Gaúcho50 (RCG) se comprometem com a educação integral, assumindo uma visão plural e singular da criança, do adolescente, do jovem e do adulto, garantindo a formação e o desenvolvimento humano global. A Educação Integral aqui discutida é diferente de escola em tempo integral, a qual pressupõe ampliação da jornada escolar em, no mínimo, 7 horas, repensando suas práticas pedagógicas para atender os estudantes nesse feraz espaço de tempo. O conceito de Educação Integral com o qual esse documento está enlaçado se refere à formação integral do ser humano, nas dimensões intelectual e afetiva, criando possibilidades para que os estudantes ampliem os repertórios de competências e habilidades e se desenvolvam enquanto cidadãos críticos, capazes de conviver e participar da vida pública. A BNCC, ao contextualizar a educação integral, afirma que a mesma: se refere à construção intencional de processos educativos que promovam aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea. Isso supõe considerar as diferentes infâncias e juventudes, as diversas culturas juvenis e seu potencial de criar novas formas de existir.51 47 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Presidência da República. 5 de outubro de 1988. Brasília, DF. 48 BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. 49 BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República. Brasília, DF. 50 RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Estado da Educação. Departamento Pedagógico. União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Referencial Curricular Gaúcho. Porto Alegre: Secretaria de Estado da Educação, Departamento Pedagógico, 2018. 51 BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017. 38 Assim, o conhecimento precisa estar conectado à realidade, e os educadores têm papel fundamental nessa perspectiva, repensando o currículo no qual a Educação Integral apareça como eixo central desse processo; reavaliando suas práticas pedagógicas e desfragmentando o conhecimento enquanto disciplina para encorajar sua aplicação na vida real. Como espaço de constante desenvolvimento, a escola deve oportunizar o aprendizado da convivência democrática, o reconhecimento e respeito às diferenças e do exercício da igualdade, desnaturalizando qualquer forma de violência presente na sociedade. Compartilhando de tais concepções, o Referencial do Território de Gravataí (RTG) firma compromisso com a Educação Integral, entendendo que o estudante de hoje, além de conhecedor das culturas digitais e receptivo ao novo, necessita ser formado na sua integralidade, por meio de habilidades e competências que o preparem para fazer o uso crítico e significativo das tecnologias, entendendo e explicando a realidade, participando e valorizando práticas artístico-culturais; compartilhando informações e experiências com os demais, fazendo-se respeitar e consequentemente respeitando o outro. Com o intuito de construir uma sociedade mais justa e democrática, nossas crianças e jovens precisam não somente produzir conhecimentos a fim de resolver problemas, mas também saber comunicar-se, defender ideias e tomar decisões baseadas em princípios éticos, inclusivos, sustentáveis e solidários em busca de uma sociedade mais justa. 39 2.5 AVALIAÇÃO Bianca Migliavacca Estamos vivendo uma era pragmática em que o saber fazer e o saber agir/ser são imprescindíveis para se alcançar o sucesso pessoal e profissional. A partir dessas novas demandas, surge a necessidade de construir um currículo escolar organizado por habilidades e competências, objetivando formar um aluno melhor preparado para enfrentar o mundo, com consciência do seu papel enquanto cidadão e protagonista na construção do seu projeto de vida. Ao analisarmos as aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo da Educação Básica, cabe refletirmos sobre como a avaliação deve ser pensada a fim de que o planejamento do professor garanta o desenvolvimento natural e progressivo das competências e habilidades que irão preparar o aluno para a vida em sociedade. Portanto, a avaliação não deve ser isolada, mas permear todo o processo pedagógico. Sabe-se que os estudantes aprendem de formas diferentes, em tempos não homogêneos, tendo como base suas vivências pessoais e experiências anteriores. Portanto, ao avaliar, o professor precisa utilizar técnicas diversas e instrumentos variados, para que possa diagnosticar o ponto de partida de sua ação pedagógica, o caminho que irá traçar e o que busca alcançar no fim. Segundo Luckesi52, a avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer com ele. A verificação é uma ação que “congela” o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica da ação. O autor ainda complementa afirmando que a avaliação é um juízo de qualidade que se faz sobre uma determinada realidade, que deve ser expressa por meio de algum símbolo seja ele numérico (nota) ou verbal (conceito), sendo este último uma simbologia bastante aplicada por força das teorias pós-modernas de organização curricular e de renovadas visões de ensino e aprendizagem. A avaliação é um processo pelo qual é preciso definir o ponto em que se quer chegar, por meio do qual os critérios são estabelecidos para, então, escolher os procedimentos adequados a serem adotados e definir quais os caminhos que serão traçados para alcançar o ponto desejado. O processo é tão ou mais importante que o resultado, pois ele explicita quais conhecimentos, atitudes, competências e habilidades os alunos já adquiriram num determinado ponto do percurso e quais dificuldades ainda precisam ser trabalhadas. É 52 LUCKESI, Cipriano C. Avaliação do aluno: a favor ou contra a democratização do ensino? Avaliação da aprendizagem escolar: Estudos e proposições. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. 40 através dessa construção contínua das aprendizagens que o aluno toma consciência do seu desenvolvimento intelectual, social e afetivo, através do qual o professor consegue realizar a análise reflexiva dos avanços e dificuldades dos estudantes, revendo e redefinindo sua prática pedagógica. O professor, então, assume o papel de mediador e facilitador no processo de ensino aprendizagem, mediação essa que nos reporta ao conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), trazido por Vygotsky53 (2015) que é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial do aluno. Assim, a tarefa do professor é promover a aproximação dessas duas zonas, desenvolvendo a autonomia do aluno e favorecendo a aprendizagem, adequando o saber ao modo de raciocínio de cada aluno. Avaliar o processo de aprendizagem de forma diagnóstica e formativa é fundamental para acompanhar o desenvolvimento dos estudantes e ajudá-los a enfrentar os eventuais obstáculos. Por essa razão, ensinar através de situações desafiadoras, que possuam valor sócio-cultural e um grau crescente de complexidade para manter a motivação é uma ação docente importante. Os alunos necessitam fazer conexões entre suas aprendizagens e a vida real, aplicando verdadeiro sentido a elas. Da mesma forma, os conteúdos precisam ser ensinados com o propósito de desenvolver as competências; o conteúdo pelo conteúdo, fragmentado, não cabe mais nessa perspectiva. A avaliação, sob essa ótica, deixa de ser um instrumento para aprovação/reprovação, passando a ser o diagnóstico de uma situação, visando à autocompreensão