Logo Passei Direto
Buscar

História da Igreja Antiga à Contemporânea

User badge image

Enviado por Sthefany em

páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Indaial – 2021
Igreja antIga à 
Prof. ª Priscilla da Silva Góes
2a Edição
HIstórIa da
Contemporânea
Elaboração:
Prof. ª Priscilla da Silva Góes
Copyright © UNIASSELVI 2021
 Revisão, Diagramação e Produção: 
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
G598h
 Góes, Priscilla da Silva
 
 História da igreja antiga à contemporânea. / Priscilla da Silva 
Góes – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 
 207 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-674-0
 ISBN Digital 978-65-5663-669-6 
 
 1. História da igreja. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 270
Prezado acadêmico,
Estamos iniciando a disciplina História da Igreja, que tem como objetivo fazer 
um apanhado dos principais momentos de mudança no cristianismo, desde a morte de 
Jesus Cristo até o século atual. Como você deve ter percebido, trataremos aqui de muitos 
temas, que incluirão diversos personagens, filosofias, artes, tragédias, superação. Enfim, 
assim como conhecer a história política e social é fundamental para nossa formação, 
conhecer a história do cristianismo é fundamental para entendermos seu papel na 
formação do mundo atual.
Nossa disciplina envolve um tempo histórico extenso, mais de dois mil anos, e 
com várias mudanças. Por esse motivo, nosso material não tem como abordar todos os 
acontecimentos com profundidade. Então, desafiamos você, caro acadêmico, a usar 
esse material como uma bússola que vai lhe orientar nos principais fatos, conceitos e 
personagens, para que você possa se aprofundar, posteriormente, a partir de outras 
leituras acadêmicas.
Ao ler a história do cristianismo, devemos também ter em vista que cada religião 
é um produto humano, ou seja, seu desenvolvimento, formas de pensar, filosofias, dentre 
outros aspectos, fazem parte de um contexto social, político e econômico. Neste livro, 
trataremos da vivência religiosa não como algo sobrenatural, mas, ao contrário, como 
um fenômeno humano. Portanto, a fé e as discursões sobre transcendência ou sobre 
Deus não farão parte desse material. O que você encontrará aqui serão as discussões 
acadêmicas feitas por historiadores sobre as diversas fases da história da Igreja cristã.
Vejamos, então, o que estudaremos nessa disciplina:
Na Unidade 1, abordaremos as duas primeiras fases históricas, ou seja, o 
cristianismo na Idade Antiga e na Idade Média. Essa unidade busca compreender os 
primeiros passos do cristianismo após a morte de Jesus, como ele se espalhou e se 
consolidou até chegar ao patamar de religião oficial de Roma. A partir daí, abordaremos 
questões referentes aos grupos considerados heréticos, que foram perseguidos 
dentro do cristianismo. Conheceremos, também, como se deu o desenvolvimento do 
cristianismo no período Medieval, que teve como resultado a cristianização da Europa. 
Veremos sobre a influência cristã na arte e, também, o funcionamento da Inquisição. 
Conheceremos, ainda, os grupos considerados hereges desse período.
APRESENTAÇÃO
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos as mudanças ocorridas no cristianismo 
devido às ideias renascentistas, que culminaram na Reforma Protestante. No contexto 
da Reforma, conheceremos os principais grupos reformistas e suas disputas perante 
as igrejas oficiais. Conheceremos, ainda, como se deu a luta do catolicismo perante 
o avanço protestante. Veremos também como ocorreu a influência do pensamento 
iluminista nas questões referentes ao cristianismo.
Por fim, na Unidade 3, aprenderemos como a Revolução Francesa modificou 
as relações entre Igreja e Estado, além do avanço de diversos grupos protestantes 
tanto na Europa quanto na América. Estudaremos as relações entre a escravidão e as 
igrejas cristãs, além das mudanças ocorridas na sociedade e seu reflexo nas questões 
religiosas. Com relação ao catolicismo, veremos o despertar de mudanças significativas 
nos ritos e nas relações da igreja católica com os demais grupos cristãos, após o Concilio 
do Vaticano II.
Bons estudos!
Prof.ª Priscilla da Silva Góes
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
QR CODE
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL ................................................... 1
TÓPICO 1 - OS PRIMÓRDIOS DO CRISTIANISMO ..................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 O INÍCIO DO CRISTIANISMO ...............................................................................................4
3 INFLUÊNCIAS SOFRIDAS PELO CRISTIANISMO E A SEPARAÇÃO DO JUDAÍSMO ......... 7
4 HERESIAS: A LUTA INTERNA DO CRISTIANISMO.............................................................9
4.1 O GNOSTICISMO .................................................................................................................................... 9
4.2 O MONTANISMO .................................................................................................................................. 13
4.3 O ARIANISMO ....................................................................................................................................... 14
4.4 O DONATISMO ...................................................................................................................................... 14
4.5 O PELAGIANISMO ............................................................................................................................... 14
5 A FORMAÇÃO DO CÂNON SAGRADO ............................................................................... 15
6 A FORMAÇÃO DA HIERARQUIA ECLESIÁSTICA CATÓLICA............................................ 17
7 O CRISTIANISMO E O PODER TEMPORAL EM ROMA ...................................................... 20
8 OS PRINCIPAIS PENSADORES CRISTÃOS DA ANTIGUIDADE ....................................... 22
RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................27
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 28
TÓPICO 2 - O CRISTIANISMO NO PERÍODO MEDIEVAL ..................................................... 31
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 31
2 O PODER PAPAL .............................................................................................................. 32
3 A QUESTÃO ICONOCLASTA ............................................................................................. 34
4 O CISMA DO ORIENTE ...................................................................................................... 36
5 OS MONASTÉRIOS: A FUGA DO MUNDO ......................................................................... 38
6 A REFORMA MONÁSTICA E A REFORMA GREGORIANA ................................................ 40
7 A MÚSICA NA IGREJA ...................................................................................................... 42
8 AS CRUZADAS ................................................................................................................. 44
9 O GRANDE CISMA PAPAL ................................................................................................ 46
10 OS PRINCIPAIS PENSADORES CRISTÃOS MEDIEVAIS ............................................... 48
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 50
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 51
TÓPICO 3 - AS HERESIAS MEDIEVAIS E A INQUISIÇÃO ................................................... 53
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 53
2 AS HERESIAS MEDIEVAIS ............................................................................................... 53
2.1 OS ALBIGENSES OU CÁTAROS .........................................................................................................54
2.2 OS VALDENSES ...................................................................................................................................56
2.3 JOHN WYCLIFFE ................................................................................................................................. 57
2.4 JOHN HUSS ........................................................................................................................................58
2.5 OS BEGUINOS .....................................................................................................................................59
3 A INQUISIÇÃO MEDIEVAL ................................................................................................ 60
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 64
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 69
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................70
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................73
UNIDADE 2 — O CRISTIANISMO NA IDADE MODERNA ....................................................... 77
TÓPICO 1 — AS MUDANÇAS RELIGIOSAS NA IDADE MODERNA .......................................79
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................79
2 O RENASCIMENTO CULTURAL E CIENTÍFICO: REAÇÕES DA IGREJA .......................... 80
3 A INQUISIÇÃO MODERNA ................................................................................................ 86
3.1 ESTATUTOS DE PUREZA DE SANGUE ............................................................................................ 91
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 92
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 93
TÓPICO 2 - PERÍODO DE REFORMAS ..................................................................................95
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95
2 A REFORMA PROTESTANTE .............................................................................................95
2.1 O LUTERANISMO ..................................................................................................................................96
2.2 HULDRYCH ZWINGLI .........................................................................................................................101
2.3 O CALVINISMO ...................................................................................................................................103
2.4 OS ANABATISTAS..............................................................................................................................105
2.5 JACÓ ARMÍNIO ..................................................................................................................................108
2.6 O ANGLICANISMO ..............................................................................................................................110
2.7 O PURITANISMO .................................................................................................................................113
2.8 JOHN KNOX E A REFORMA NA ESCÓCIA ....................................................................................114
2.9 OS QUACRES ......................................................................................................................................115
2.10 OS RANTERS .....................................................................................................................................118
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................120
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 121
TÓPICO 3 - AS MUDANÇAS NA RELIGIÃO EUROPEIA APÓS A REFORMA ......................123
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1232 A CONTRARREFORMA CATÓLICA ..................................................................................123
3 O JANSENISMO ...............................................................................................................126
4 O ILUMINISMO E A QUESTÃO RELIGIOSA ...................................................................... 127
5 AS MISSÕES DA ÁSIA......................................................................................................129
6 O PIETISMO ..................................................................................................................... 131
7 O METODISMO .................................................................................................................132
8 O GRANDE AVIVAMENTO NA AMÉRICA DO NORTE .......................................................134
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................138
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................145
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 147
UNIDADE 3 — A IGREJA NA IDADE CONTEMPORÂNEA ................................................... 151
TÓPICO 1 — A REVOLUÇÃO FRANCESA: O INÍCIO DO ESTADO LAICO 
E AS MUDANÇAS RELIGIOSAS ..........................................................................................153
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................153
2 A REVOLUÇÃO FRANCESA E A IGREJA ........................................................................154
3 O MOVIMENTO EVANGÉLICO .......................................................................................... 157
3.1 A COMUNIDADE DE CLAPHAM ...................................................................................................... 157
4 O MOVIMENTO DE OXFORD ............................................................................................159
5 A INFLUÊNCIA DE WILLIAM CAREY NAS MISSÕES PROTESTANTES ..........................160
6 O CRISTIANISMO NA AMÉRICA DO NORTE NO SÉCULO XIX: 
O AVIVAMENTO E A QUESTÃO ESCRAVISTA .................................................................... 161
7 AS MISSÕES CRISTÃS NA ÁFRICA NO SÉCULO XIX ......................................................164
8 A TEOLOGIA LIBERAL PROTESTANTE ...........................................................................166
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................169
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................170
TÓPICO 2 - O CRISTIANISMO NO MUNDO INDUSTRIALIZADO ....................................... 173
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 173
2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E OS MOVIMENTOS CRISTÃOS ....................................... 174
3 O EVANGELHO SOCIAL NA AMÉRICA ............................................................................ 176
4 A INFALIBILIDADE PAPAL E O CONCÍLIO DO VATICANO I ........................................... 177
5 O MOVIMENTO FUNDAMENTALISTA PROTESTANTE.................................................... 179
6 O MOVIMENTO DA NEO-ORTODOXIA ............................................................................. 179
7 O PENTECOSTALISMO ...................................................................................................180
8 O NEOPENTECOSTALISMO ............................................................................................182
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................184
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................185
TÓPICO 3 - A IGREJA CATÓLICA NO SÉCULO XX ............................................................187
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................187
2 O CONCÍLIO DO VATICANO II ..........................................................................................187
3 A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA ...................................................................................189
4 O MOVIMENTO CARISMÁTICO ........................................................................................ 191
5 A IGREJA ORTODOXA NO SÉCULO XX ...........................................................................192
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................195
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 202
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 203
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 205
1
UNIDADE 1 - 
HISTÓRIA DA IGREJA 
ANTIGA E MEDIEVAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer a formação das principais doutrinas cristãs;
•	 entender	os	conflitos	entre	judeus	e	cristãos	e,	posteriormente	cristãos	e	Império	Romano;
•	 examinar	o	processo	para	que	o	cristianismo	se	tornasse	oficial	no	Império	Romano;
•	 estudar	as	principais	ideias	consideradas	heréticas	pela	ortodoxia	cristã;
•	 identificar	os	principais	teólogos	cristãos	dos	primeiros	séculos.
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	No	decorrer	dela,	você	encontrará	
autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	OS	PRIMÓRDIOS	DO	CRISTIANISMO	APÓS	A	MORTE	DE	JESUS
TÓPICO	2	–	O	CRISTIANISMO	NO	PERÍODO	MEDIEVAL
TÓPICO	3	–	AS	HERESIAS	MEDIEVAIS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
OS PRIMÓRDIOS DO CRISTIANISMO
1 INTRODUÇÃO
Então,	 Jesus	 aproximou-se	 deles	 e	 disse:	 ‘Foi-me	 dada	 toda	 a	
autoridade	no	 céu	 e	 na	 terra.	 Portanto,	vão	 e	 façam	discípulos	 de	
todas	as	nações,	batizando-os	em	nome	do	Pai	e	do	Filho	e	do	Espírito	
Santo,	ensinando-os	a	obedecer	a	tudo	o	que	eu	lhes	ordenei.	E	eu	
estarei	sempre	com	vocês,	até	o	fim	dos	tempos	(Mateus	28:18-20).
Estimado	 acadêmico,	 provavelmente	você	 já	 deve	 conhecer	 o	 texto	 anterior.	
Tais	palavras,	segundo	a	tradição	cristã,	foram	ditas	por	Jesus	aos	seus	discípulos	antes	
de	sua	partida	da	terra.	Esse	texto	ainda	hoje	tem	sido	pregado	como	uma	verdadeira	
ordenança	 aos	 cristãos.	 Imaginemos,	 então,	 o	 impacto	 dessas	 palavras	 na	 vida	 dos	
discípulos,	futuros	apóstolos,	logo	após	a	separação	deles	do	seu	Mestre.
Imaginemos,	 ainda,	 o	 impacto	 dessa	 pregação	 dentro	 do	 contexto	 judaico,	
cuja	comunidade	encontrava-se	dividida	entre	os	que	seguiam	Jesus,	como	Messias,	
e	os	que	rechaçavam	os	ensinamentos	de	Jesus.	Com	o	Mestre	morto,	as	autoridades	
judaicas	 que	 não	 concordavam	 com	 sua	 doutrina	 passaram	 a	 atacar	 ainda	 mais	
os	cristãos.	Nessa	época,	surgiram	os	primeiros	mártires,	mas,	também,	o	 início	da	
expansão	do	cristianismo.
E	 a	 expansão	 foi	 intensa.	Os	discípulos,	 animados	pela	 ideia	da	parúsia,	 que	
seria	 o	 retorno	 de	 Cristo,	 faziam	 com	 que	 a	mensagem	 cristã	 se	 difundisse	 não	 só	
entre	 os	 judeus,	 mas	 também	 por	 províncias	 romanas	 que	 tinhauma	 religiosidade	
completamente	diferente	tanto	do	judaísmo	quanto	do	cristianismo.	Essa	religiosidade	
diversa	do	império	romano	foi	chamada	pelos	cristãos	de	paganismo.
Portanto,	 caro	 acadêmico,	 iniciaremos	 nossos	 estudos	 da	 história	 da	 igreja	
procurando	entender	os	primeiros	passos	do	movimento	que	convencionou-se	chamar	
de	Cristianismo.	Abordaremos,	neste	tópico,	os	principais	conflitos	com	o	judaísmo	e	a	
religiosidade	romana,	assim	como	os	conflitos	internos	do	cristianismo	e	sua	luta	para	
consolidar	uma	doutrina	ortodoxa.	Veremos,	também,	como	o	cristianismo	passou	de	
uma	religião	perseguida	à	religião	estatal.	Por	fim,	conheceremos	os	principais	nomes	
dos	teólogos	que	ajudaram	a	igreja	no	fortalecimento	de	sua	doutrina.
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
4
2 O INÍCIO DO CRISTIANISMO
No	século	I,	os	judeus	tinham	seu	território	ocupado	pelos	romanos.	O	Império	
Romano	 estabeleceu	 seu	 domínio	 por	 várias	 regiões	 como	 Grécia,	 Egito,	 Palestina,	
dentre	outras.	A	dominação	romana	obrigava	que	seus	súditos	pagassem	impostos	e	
proibia	 que	fizessem	 revoltas,	 pois	 o	 exército	 estava	pronto	 para	 combater	 qualquer	
tentativa	de	rebelião.
Com	a	morte	de	Jesus,	seus	seguidores,	cuja	maioria,	até	então,	era	composta	
de	judeus,	liderados	pelos	discípulos,	passaram	a	disseminar	seus	ensinamentos.	Tais	
ideias	geraram	divergências	entre	os	grupos	judaicos	que	acreditaram	que,	com	a	morte	
do	líder,	seus	ensinos	sucumbiriam	mais	facilmente.	A	aceitação	ao	cristianismo,	porém,	
ocorreu	rapidamente	por	outras	regiões	do	império	romano,	para	judeus	e	não-judeus.	
A	partir	disso,	surgiu	um	problema	interno	relacionado	à	aceitação	do	cristianismo	por	
pessoas	que	não	tinham	a	cultura	e	a	religião	judaica.	Ritos	judaicos	comuns	aos	primeiros	
seguidores	 passaram	 a	 ser	 vistos,	 pelos	 devotos	 não	 judeus,	 como	 desnecessários.	
Assim,	ocorreu	o	processo	de	separação	entre	o	cristianismo	e	o	judaísmo.	
Inicialmente,	o	cristianismo	era	uma	das	faces	do	judaísmo.	Os	cristãos	iam	
as	sinagogas	e	ao	Templo.	No	entanto,	pouco	a	pouco,	foi	crescendo	a	 relutância	
judaica	contra	a	disseminação	do	cristianismo	.	Vejamos	o	que	diz	o	historiador	das	
religiões	Eliade:
Por	 outro	 lado,	 cumpre	 ter	 em	 conta	 que	 os	 primeiros	 cristãos,	
judeus	de	Jerusalém,	constituíam	uma	seita	apocalíptica	dentro	do	
judaísmo	palestino.	Estavam	na	espera	 iminente	da	segunda	vinda	
de	Cristo,	a	parúsia;	o	que	os	preocupava	era	o	fim	da	história,	e	não	a	
historiografia	da	espera	escatológica.	Além	disso,	como	era	de	prever,	
em	torno	da	figura	do	mestre	ressuscitado	cristalizou-se	bem	cedo	
toda	uma	mitologia	que	lembra	a	mitologia	dos	deuses	salvadores	e	
do	homem	divinamente	inspirado	(theîos	ántropôs).	Essa	mitologia,	
[...]	 é	 particularmente	 importante:	 Ajuda-nos	 a	 compreender	 a	
dimensão	religiosa	específica	ao	cristianismo	e	também	sua	história	
posterior.	Os	mitos	que	projetaram	Jesus	de	Nazaré	num	universo	
de	arquétipos	e	figuras	transcendentais	são	tão	‘verdadeiros’	quanto	
seus	 gestos	 e	 palavras:	 esses	mitos	 confirmam,	 de	 fato,	 a	 força	 e	
a	 criatividade	 de	 sua	 mensagem	 original.	 É	 aliás,	 graças	 a	 essa	
mitologia	 e	 simbologias	 universais	 que	 a	 linguagem	 religiosa	 do	
cristianismo	torna-se	ecumênica	e	acessível	para	além	do	seu	foco	
de	origem	(ELIADE,	2011a,	p.	296).
Percebemos	então	que,	para	os	discípulos	que	recentemente	haviam	perdido	
a	convivência	com	Jesus,	a	expectativa	do	retorno	deste	era	esperada	para	ao	quanto	
antes,	colocando	o	foco	na	 ideia	apocalíptica.	A	pregação	sobre	os	feitos	de	Jesus	e	
o	seu	retorno	passa	a	ser	a	ênfase	na	pregação	dos	primeiros	cristãos.	Esse	discurso	
encontrou	eco	nas	comunidades	não	judaicas	com	muita	força.	Enquanto	o	cristianismo	
era	rechaçado	pelos	judeus,	passou	a	ter	adesão	dos	não	judeus,	como	explica	Eliade	
(2011a,	p.	301):	
5
É	 na	 diáspora	 que	 se	 desenvolve	 a	 cristologia.	 O	 título	 ‘filho	 do	
homem’	–	que	em	grego	já	não	tem	sentido	–	é	substituído	por	‘filho	
de	Deus’	 ou	 ‘Senhor’	 (Kúrios);	 o	 termo	 “messias”	 é	 traduzido	para	
o	 grego	 (Khristós)	 e	 acaba	 por	 transformar-se	 em	 nome	 próprio:	
Jesus	Cristo.
Portanto,	 com	 a	 ampliação	 do	 cristianismo	 para	 os	 domínios	 pagãos,	 houve	
uma	nova	forma	de	vivenciar	o	cristianismo.	A	partir	disso,	novos	conflitos	surgiram.	O	
apóstolo	Paulo	é	considerado	o	principal	agente	propagador	do	cristianismo,	inclusive	
entre	populações	não	judaicas.	Ele	implantou	igrejas	em	várias	regiões,	dentre	elas:	Ásia	
Menor,	Grécia	e	Macedônia.	Porém,	foi	em	Antioquia,	na	Síria,	que	se	estabeleceram	as	
primeiras	comunidades	cristãs	de	origem	pagã,	sendo	nela	utilizada	pela	primeira	vez	a	
expressão	“cristãos”,	para	designarem	os	seguidores	de	Jesus	(ELIADE,	2011a).
Após	 a	 adesão	 de	 vários	 gentios	 ao	 cristianismo,	 os	 judeus-cristãos	 se	
desentenderam	com	os	novos	convertidos,	principalmente	devido	à	não	observância	
da	 circuncisão.	 Assim,	 foi	 convocado	 o	 primeiro	 concílio,	 realizado	 em	 Jerusalém	
(Atos	15),	no	qual	foi	decidido	que	os	pagãos	que	se	convertessem	não	precisariam	
seguir	todos	os	 ritos	 judaicos,	somente	 “abster-se	das	carnes	sacrificadas	a	 ídolos,	
bem	como	do	sangue,	da	carne	de	animais	sufocados	e	das	relações	sexuais	ilícitas”	
(ELIADE,	2011a,	p.	304).
Na	década	de	60	d.C.,	teve	início	a	ruptura	da	relação	entre	judeus	e	cristãos.	
Com	a	destruição	do	Templo	em	Jerusalém	e	a	expulsão	dos	judeus	do	império	romano,	
o	 cristianismo	 continuou	 ganhando	 adeptos	 entre	 os	 gentios.	 No	 segundo	 século,	
porém,	os	cristãos	foram	perseguidos	dentro	dos	domínios	romanos,	tendo	em	vista,	
principalmente,	a	não	aceitação	pela	adoração	aos	imperadores	romanos	(ELIADE,	2011a).	
Havia	 rejeição	aos	cristãos	não	somente	por	parte	da	cúpula	 romana,	mas,	também,	
pela	sociedade	em	geral.	De	acordo	com	Shelley	 (2004),	alguns	fatores	contribuíram	
para	essa	hostilidade	aos	cristãos	por	parte	dos	romanos.	A	acusação	de	ateísmo	é	um	
desses	 fatores.	Como	o	cristianismo	não	 fazia	uso	de	 imagens	para	 representar	 seu	
Deus,	eles	eram	tidos	pelos	romanos	como	ateus.
Outro	fator	 importante	era	que	os	 judeus	receberam	do	 império	romano	uma	
espécie	 de	 imunidade	 nas	 questões	 de	 seu	 culto.	 Assim,	 enquanto	 o	 cristianismo	
estava	sob	a	tutela	do	judaísmo,	ele	não	era	perseguido	pelos	romanos,	pois	os	judeus	
eram	vistos	mais	como	um	grupo	fechado,	no	qual	não	havia	a	ênfase	no	proselitismo.	
Quando,	gradualmente,	o	cristianismo	foi	se	separando	do	judaísmo	e,	assim,	adotando	
uma	abordagem	mais	proselitista,	o	governo	romano	passou	a	ver	o	cristianismo	como	
uma	possível	ameaça	à	ordem	pública.	Também,	como	dito,	os	cristãos	se	opuseram	
ferrenhamente	 aos	 deuses	 adorados	 pelos	 romanos	 e	 gregos.	 Tal	 rejeição	 ocorria	
em	festas	ou	demais	ambientes	sociais,	nos	quais	os	cristãos	se	recusavam	a	comer	
alimentos	que	haviam	sido	consagrados	aos	deuses	pagãos.	
6
Além	disso,	outros	traços	culturais	foram	rechaçados	pelos	cristãos,	como,	por	
exemplo,	as	batalhas	de	gladiadores.	Outra	razão	para	os	romanos	não	se	agradarem	do	
cristianismo	eram	as	recorrentes	denúncias	de	que,	nos	cultos	cristãos,	havia	orgias	e	
prática	de	canibalismo.	Quanto	ao	canibalismo,	Shelley	(2004)	explica	que	pode	ter	sido	
devido	a	uma	má	interpretação	do	rito	eucarístico,	em	que	o	pão	e	o	vinho	são	chamados	
de	o	sangue	e	o	corpo	de	Cristo.	Ele	ressalta,	também,	que,	aos	cristãos,	eram	imputados	
os	motivos	para	quaisquer	desgraças	que	ocorressem	em	Roma.	Eram	verdadeiramente	
os	“bodes-expiatórios”	(SHELLEY,	2004).	Seguiu-se,	então,	uma	hostilidade	para	com	
os	 cristãos,	 que	 saiu	 da	 esfera	 social	 e	 passou	 a	 ser	 parte	 da	 política	 de	Estado	de	
muitos	imperadores	romanos	(SHELLEY,	2004).
Segundo	Eliade	(2011a),	o	cristianismo	era	clandestino	em	Roma	e,	os	imperadores	
passaram	a	publicar	 alguns	decretos	anticristãos.	O	 imperador	 romano	Nero	 (54-68)	
fomentou	 uma	 perseguição	 acirrada	 em	 que	 “[...]muitos	 cristãos	 chegaram	 a	 ser	
crucificados.	Alguns	eram	costurados	na	pele	de	animais	selvagens	e	depois	cachorros	
enormes	 eram	 atiçados	 contra	 eles,	 que	 então	 eram	 despedaçados.	 Mulheres	 eram	
amarradas	a	touros	furiosos	e	arrastadas	até	a	morte”	(SHELLEY,	2004,	p.	47).	
Em	 202,	 o	 imperador	 Septímo	 Severo	 proibiu	 que	 os	 cristãos	 fizessem	
proselitismo.	 Já	 Décio,	 em	 250,	 deu	 ordens	 para	 que	 todos	 os	 cidadãos	 romanos	
fizessem	oferendas	aos	deuses	pagãos.	Alguns	cristãos,	com	medo	das	perseguições,	
aderiram	ao	edito,	mas	muitos	se	opuseram.	O	clima	de	perseguição	foi	intenso	até	258,	
em	que	os	cristãos	gozaram	de	um	breve	período	de	paz.	Foi	então	que,	no	governo	
do	 imperador	 Diocleciano	 (244-311),	 ocorreu	 a	 perseguição	 mais	 longa	 e	 sangrenta	
(ELIADE,	2011a).	
Nem	 sempre	 o	 estado	 romano	 combateu	 o	 cristianismo.	 Houve	 épocas	 de	
calmaria	e	outras	de	perseguição	mais	intensas.	Em	tais	períodos,	surgiram	pensadores	
cristãos que tentar mostrar que as ideias do cristianismo não iam de encontro aos ideais 
sociais	dos	romanos.	Tais	homens	foram	chamados	de	apologistas.	Esta	foi	a	tentativa	
de	 fazer	 com	 que	 o	 cristianismo	 pudesse	 viver	 pacificamente	 em	 Roma.	 Todavia,	
segundo	Eliade	(2011a),	os	apologistas	não	tiveram	sucesso	nessa	fase	e,	aos	cristãos,	
era	imputado	tudo	de	ruim	que	acontecesse	em	Roma.		
O termo pagão foi dado pelos cristãos para categorizar os adeptos da 
religiosidade greco-romana. Tanah é o termo em hebraico que diz respeito a 
totalidade da Bíblia hebraica.
NOTA
7
3 INFLUÊNCIAS SOFRIDAS PELO CRISTIANISMO E A 
SEPARAÇÃO DO JUDAÍSMO
Caro	 acadêmico,	 devemos	 ter	 em	vista	 que	 toda	 religião	 surge	 em	um	contexto	
histórico,	político	e	social.	É	importante	entendermos	esses	aspectos	ao	tratarmos	de	qualquer	
fenômeno	religioso.	Assim	sendo,	veremos	agora	algumas	das	influências	que	o	cristianismo	
teve	nos	seus	primórdios.	Vejamos	o	que	o	professor	Theissen	(2009,	p.	97,	98)	explica:
Sob	 a	 ótica	 histórica,	 o	 etos	 cristão	 primitivo	 está	 situado	 entre	
o	 judaísmo	e	 o	 paganismo.	 É	 o	 etos	 de	 um	grupo	que	provém	do	
judaísmo,	 mas	 que	 encontrou	 a	 maioria	 de	 seus	 seguidores	 no	
paganismo.	 Ele	 se	 diferencia	 do	 etos	 judaico	 apenas	 de	 forma	
gradual.	 Ele	 intensifica	 e	 radicaliza	 os	 princípios	 ali	 existentes,	
certamente	com	uma	tendência	a	superá-los	mediante	uma	‘justiça	
melhor’	 (Mt	 5,20).	 Essa	 ‘tendência	 de	 superação’	 é	 levada	 adiante	
no	ambiente	pagão.	Os	primeiros	cristãos	querem	corresponder,	de	
maneira	exemplar,	a	muitas	normas	do	mundo	pagão	circundante.	
[...]	O	 cristianismo	primitivo	 introduz	no	mundo	pagão	dois	valores	
oriundos	 da	 tradição	 judaica,	 os	 quais,	 dessa	 forma,	 são	 novos:	
O	amor	ao	próximo	e	humildade	 (ou	a	 renúncia	ao	status).	Ao	 lado	
de	uma	acomodação	dos	valores	e	normas	do	mundo	pagão	 (com	
pretensão	de	superioridade),	surge,	por	conseguinte,	a	consciência	
de	uma	antinomia	em	relação	a	ele.	Paralelamente	à	pretensão	de	
cumprir	melhor	do	que	todos	os	demais	as	normas	comuns	do	mundo	
ambiente,	 surge	 uma	 consciência	 contracultural	 de	 que	 a	 religião	
cristã	primitiva	mostra-se	quase	como	uma	‘religião-de-excêntricos’.
Portanto,	 para	 entender	 o	 cristianismo	 em	 suas	 origens,	 é	 fundamental	 ter	
em	 vista	 as	 características	 principais	 da	 religiosidade	 judaica	 na	 época	 de	 Cristo,	
assim	como	aspectos	da	religiosidade	romana.	E,	da	mesma	forma	que	o	cristianismo	
incorporou	traços	do	paganismo,	também	contribuiu	para	mudanças	na	estrutura	desta	
última	 tradição,	 assim	 como	 valores	 judaicos	 foram	 assimilados	 pelo	 cristianismo	 e	
transportados	para	a	sociedade	pagã.
Uma	das	alterações	empreendidas	pelo	cristianismo,	em	relação	ao	judaísmo,	
foi	o	rompimento	com	um	importante	rito	praticado	pelos	judeus:	o	sacrifício	no	Templo	
de	Jerusalém.	Com	a	destruição	do	Templo,	os	judeus	pararam	de	realizar	os	rituais	de	
sacrifícios	e	dedicaram-se	nas	sinagogas	aos	estudos	da	Torá,	do	Midrash	e	do	Tamuld.	
Porém,	até	hoje,	boa	parte	da	comunidade	religiosa	 judaica	espera	poder	 retomar	os	
sacrifícios	quando	o	Templo	for	reerguido.	
O	cristianismo,	entretanto,	reelaborou	a	ideia	do	sacrifício	por	meio	de	Jesus.	A	
morte	de	Cristo	é	considerada	o	ápice	de	todos	os	rituais	realizados	no	Templo.	Foi	o	ato	
mais	importante	para	a	humanidade,	pois,	por	meio	dele,	não	há	mais	necessidade	da	
utilização	de	animais	para	o	sacrifício.	Desse	modo,	a	mensagem	da	morte	e	ressurreição	
de	Jesus	 tornou-se	 o	 ponto	 principal	 do	 cristianismo	 e	 sua	 principal	 ruptura	 com	o	
judaísmo,	 então,	 a	 simbologia	 ritualística	 adotada	 pelo	 cristianismo	 foi	 modificada	
(THEISSEN,	2009,	p.171).	A	mudança	do	ritual	foi	uma	quebra	no	paradigma	do	mundo	
religioso	antigo,	tendo	em	vista	que	tanto	a	religião	romana	quanto	as	outras	religiões	do	
mundo	antigo	usavam	o	sacrifício	de	animais	como	o	principal	rito	realizado.	
8
Nessa	 fase,	 o	 cristianismo	 inaugurou	 uma	 nova	 forma	 de	 expressão	 ritual,	
muito	 mais	 simbólica,	 a	 eucaristia.	 O	 momento	 eucarístico	 consiste	 em	 um	 ato	 de	
transubstanciação,	em	que	duas	substâncias	terrenas,	o	pão	e	o	vinho,	são	transformadas,	
respectivamente,	 no	 corpo	 e	 no	 sangue	 de	 Cristo.	 Esse	 ato	 substituiu	 a	 imolação	 de	
animais.	Além	da	 ceia	 eucarística,	 o	 batismo	é	 outro	principal	 rito	 simbólico	praticado	
por	essa	nova	comunidade	religiosa.	O	batismo	representa	a	introdução	à	nova	jornada	
religiosa	e	a	eucaristia	é	a	promoção	da	contínua	comunhão	entre	os	fiéis,	ao	reviverem	o	
sacrifício	sagrado	feito	por	Jesus	Cristo	(THEISSEN,	2009).
Outra	alteração	que	a	inclusão	de	não-judeus	ao	cristianismo	trouxe	diz	respeito	
aos	espaços	de	culto.	Os	espaços	de	cultos	 judaicos	não	poderiam	ser	frequentados	
por	quem	não	fosse	 judeu.	A	partir	disso,	surgiu	a	necessidade	de	reuniões	somente	
entre	cristãos,	o	que	gerou	o	afastamento	mais	intenso	entre	cristianismo	e	judaísmo.	
Ademais,	os	cristãos	trouxeram	uma	nova	visão	sobre	espaço	de	culto,	em	que	o	templo	
passa	a	ser	a	pessoa,	não	o	local.	Com	isso:
A	 ideia	de	que	a	comunidade	–	 isto	é	a	congregação	e	pessoas	–	
é	 o	 templo	 de	 Deus,	 favoreceu	 também	 o	 surgimento	 das	 igrejas	
domésticas.	 As	 casas	 particulares	 constituíram-se	 no	 lugar	 de	
reunião	 e	 de	 culto	 das	 comunidades	 cristãs	 durante	 séculos	 [...]	
até	 que	 a	 própria	 expansão	 missionária	 tornou	 necessário	 buscar	
espaços	mais	amplos	para	as	reuniões	(ESTRADA,	2005,	p.	159).	
Foi,	então,	no	final	do	século	I	e	início	do	II	que	o	cristianismo	começou	a	traçar	
sua	organização	de	forma	mais	estruturada,	buscando,	em	especial,	a	divulgação	de	
suas	ideias	(ESTRADA,	2005).	Assim	sendo,	o	caráter	universalista	do	cristianismo	foi	
criando	forma.	Tal	fato	levou	um	tempo	para	acontecer	pois,	inicialmente,	a	mensagem	
vinha	diretamente	do	único	líder:	Jesus.	
Após	a	morte	de	Jesus	e	principalmente	depois	de	Pentecostes,	o	cristianismo	
passou	a	ter	vários	líderes,	e	em	vários	lugares	pois	o	cristianismo	se	expandiu	(JOHNSON,	
2001).	O	encontro	com	contextos	culturais	e	religiosos	diversos	e	o	afastamento	temporal	
com	os	primeiros	discípulos	que	haviam	ouvido,	de	perto,	a	mensagem	de	Jesus	geraram	
diversas	interpretações	das	ideias	cristãs,	surgindo,	então,	a	luta	entre	a	ortodoxia	e	o	que	
ficou	caracterizado	como	heresia.
Para conhecer mais dos conflitos entre cristãos, judeus e pagãos, vejam 
o filme Alexandria (Ágora), dirigido por Alejandro Amenábar, maiores 
informações em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-134194/.
DICA
9
4 HERESIAS: A LUTA INTERNA DO CRISTIANISMO
Caro	 discente,	 devemos	 ter	 em	 vista	 que,	 com	 a	 destruição	 do	 Templo,	 a	
separação	 entre	 cristianismo	 e	 o	 judaísmo	 ocorreu	 com	maior	 veemência,	 como	 já	
discutimos.	O	cristianismo	foi	se	ampliando	nos	domínios	romanos	e,	com	isso,	ficava	
cada	vez	mais	difícil	manter	um	cristianismo	centrado	em	umaúnica	forma	de	pensar.	
Foi	 assim	 que	 interpretações	 diversas	 começaram	 a	 ocorrer,	 fazendo	 com	 que	 um	
grupo	tomasse	para	si	o	direito	de	se	definir	como	ortodoxia,	ou	seja,	os	que	receberam	
os	ensinos	dos	primeiros	apóstolos	e	repassaram	de	forma	“correta”.	
As	ideias	que	surgiram	e	que	não	estavam	de	acordo	com	tal	ortodoxia	passaram	
a	ser	tratadas	como	heresias	e	rechaçadas	pelo	grupo	dominante.	Dentre	as	principais	
questões	 levantadas,	 estavam	 as	 seguintes:	 se	 realmente	 houve	 a	 ressurreição	 de	
Cristo;	se	Jesus	veio	em	carne	ou	somente	em	espírito;	se	haverá	ressurreição	e	juízo	
final;	se	as	mulheres	poderiam	fazer	parte	da	liderança,	entre	outros	pontos.
De	acordo	com	Johnson	(2001),	a	igreja	cristã	não	conseguiu	se	expandir	com	
ideias	uniformes	devido,	principalmente,	à	tradição	oral,	tendo	em	vista	que	o	cânon	
considerado	sagrado	levou	um	tempo	para	ser	compilado	e,	mesmo	depois	de	pronto,	
não	era	disponível	para	todos,	sendo	assim:	“cada	igreja	tinha	sua	própria	‘história	de	
Jesus’,	e	todas	haviam	sido	fundadas	por	um	membro	do	bando	original,	que	passara	a	
tocha	adiante	para	um	sucessor	designado,	e	assim	por	diante”	(JOHNSON,	2001,	p.	59).	
Tendo	em	vista	tal	realidade,	veremos,	a	seguir,	alguns	desses	movimentos	considerados	
heréticos	e	seus	impactos	na	cristandade	dos	primeiros	séculos.
 
4.1 O GNOSTICISMO 
A	luta	contra	o	gnosticismo	perdurou	durante	anos	no	cristianismo,	se	estendendo	
até	o	período	do	Medievo.	Um	dos	principais	aspectos	defendidos	por	esse	movimento	era	a	
crença	não	só	na	ideia	do	bem	e	do	mal,	mas	também	na	existência	de	um	código	secreto	na	
religião	que	só	seria	revelado	a	alguns.	Ao	aceitar	tais	ideias,	o	indivíduo,	que	antes	“dormia”,	
“acordava”	por	meio	da	gnose,	passando	a	conhecer	a	verdade	(JOHNSON,	2001).	Vejamos	
a	explicação	de	Johnson:	
O	gnosticismo	é	uma	religião	do	‘conhecimento’	–	é	esse	o	significado	
da	palavra	–	que	afirma	deter	uma	explicação	interna	para	a	vida.	Daí	
ele	ter	sido,	e,	na	verdade,	ser	ainda,	um	parasita	espiritual,	valendo-
se	de	outras	religiões	como	‘portadoras’.	O	cristianismo	prestava-se	
muito	bem	a	esse	papel.	Tinha	um	fundador	misterioso,	Jesus,	que	
misteriosamente	desaparecera,	deixando	para	trás	um	conjunto	de	
ditos	 e	 seguidores	 para	 transmiti-los;	 e	 claro	 que	 além	 dos	 ditos	
públicos	 haviam	 os	 ‘secretos’,	 transmitidos	 geração	 a	 geração	 por	
membros	da	seita.	Assim,	certos	grupos	gnósticos	aproveitaram-se	
de	pedaços	do	cristianismo,	mas	tendiam	a	isolá-los	de	suas	origens	
históricas	(JOHNSON,	2001,	p.	60).
10
A	partir	do	excerto,	vemos	que	o	gnosticismo	não	surgiu	no	cristianismo.	As	
suas	ideias	já	se	encontravam	em	outras	religiões	antigas	e,	uma	vez	que	o	cristianismo	
foi	 se	 expandindo	 a	 diferentes	 povos,	 tais	 ideias	 passaram	 a	 ser	 internalizadas	 no	
cristianismo,	afastando-o,	inclusive,	de	seu	contexto	judaico.	Tal	questão	foi	importante	
para	a	adesão	das	ideias	gnósticas	cristãs	por	gregos,	principalmente.	No	contexto	do	
Novo	Testamento,	vemos	que	o	próprio	 apóstolo	Paulo	 combateu	veementemente	o	
gnosticismo	(JOHNSON,	2001).
O	gnosticismo	cristão	teve	vertentes	diferentes,	porém,	algumas	ideias	foram	
comuns.	A	 teologia	 cristã	 foi	 desenvolvida	visando	 combater	 o	 que	 era	 considerado	
heresia.	 Sendo	 assim,	 o	 gnosticismo	 foi,	 sem	 dúvida,	 o	 seu	 principal	 rival	 na	 Idade	
Antiga.	Vejamos	como	Shelley	explica	alguns	dos	pensamentos	gnósticos:
O	 relacionamento	 da	 série	 de	 emanações	 variava	 nas	 diferentes	
escolas	 gnósticas.	 Mas	 elas	 concordavam	 em	 que,	 de	 alguma	
forma,	a	luz	pura	do	paraíso	na	alma	do	homem	acabou	envolvida	
pela	desagradável	questão	da	matéria	e	tinha	de	ser	redimida.	Os	
gnósticos	gostavam	da	ideia	de	o	bom	Deus	ter	enviado	Cristo,	e,	
por	 isso,	pensavam	que	a	última	divindade	enviara	ao	mundo	um	
de	 seus	 ‘poderes’	 subordinados,	 chamado	 ‘Cristo’,	 para	 libertar	 o	
homem	das	correntes	da	matéria.	Mas	Cristo	não	poderia	ter	contato	
real	com	a	matéria.	Portanto,	no	batismo	de	Jesus	de	Nazaré,	ou	
nessa	época,	Cristo	desceu	para	dele;	na	prisão	de	Jesus,	ou	nessa	
ocasião,	ele	se	retirou.	Quem	foi	açoitado	e	assassinado	não	foi	o	
Cristo	(SHELLEY,	2004,	p.	59).
Por	meio	 de	 tais	 percepções,	 vemos	 que	 o	 campo	 do	 pensamento	 gnóstico	
afastava	a	ideia	de	Jesus	Cristo	fazer	parte	da	Trindade,	tendo	os	mesmos	atributos	de	
Deus.	Além	disso,	a	encarnação	de	Cristo	era	colocada	como	errônea,	ou,	em	alguns	
casos,	como	tendo	sido	substituída	em	determinadas	horas,	como	o	excerto	exposto.
Um	dos	exemplos	de	grupos	cristãos	com	ideias	gnósticas	foi	conduzido	por	
Marcião	(85-160).	Ele	era	um	grego	que	fora	para	Roma	por	volta	de	120,	convertido	ao	
cristianismo,	dizia	ser	da	escola	de	Paulo	e	procurava	divulgar	o	cristianismo.	Ele	ficou	
conhecido	como	um	exímio	heresiarca	em	seu	período,	fundando	 ideias	que	ficaram	
conhecidas	como	marcionismo.	
Marcião	concordava	que	os	ensinos	do	apóstolo	Paulo	eram	os	mais	próximos	
do	que	Jesus	havia	pregado,	porém,	sobre	os	escritos	sagrados,	ele	renunciou	todo	o	
Antigo	Testamento	e,	do	Novo	testamento,	aceitou	apenas	parte	do	evangelho	de	Lucas	
e	Atos	e	os	escritos	paulinos.	
Com	 isso,	 ele	 rompia	 radicalmente	 com	 o	 fio	 de	 ligação	 entre	 judaísmo	 e	
cristianismo	(JOHNSON,	2001;	ELIADE,	2011a).	Para	ele,	o	Deus	do	Antigo	Testamento	era:	
“monstruoso,	cruel,	sangrento,	patrono	de	rufiões	como	Davi”	(JOHNSON,	2001,	p.	61).
11
Marcião	foi	denunciado	como	herege,	excomungado	e	nenhum	dos	seus	livros	
chegou	aos	nossos	dias.	Suas	principais	ideias,	assim	como	as	de	outros	considerados	
hereges,	 chegaram	 até	 nós	 por	 meio	 dos	 escritos	 que	 o	 acusavam	 (JOHNSON,	
2001).	 Assim,	 é	 importante	 entendermos	 que,	 muitas	 vezes,	 essas	 acusações	 não	
correspondiam	à	verdade	do	pensamento	do	acusado.	
Apesar	de	toda	rejeição,	Marcião	fundou	uma	igreja	e	conseguiu	com	que	parte	
da	 comunidade	 cristã	 da	 Bacia	 do	 Mediterrâneo	 aderisse	 suas	 ideias.	 A	 sua	 igreja,	
inclusive,	 conseguiu	angariar	 uma	boa	quantia	financeira.	Porém,	 ela	não	passou	do	
século	III	(ELIADE,	2011a).	Vejamos	uma	síntese	do	seu	pensamento:
Marcião	 compartilha	 o	 essencial	 do	 dualismo	 gnóstico,	 sem,	
entretanto,	incluir	as	implicações	apocalípticas.	Seu	sistema	dualista	
contrapõe	a	 lei	 e	 a	 justiça,	 instituídas	pelo	Deus	criador	do	Antigo	
Testamento,	 ao	 amor	 e	 ao	 Evangelho	 revelados	 pelo	 Deus	 bom.	
Este	último	envia	seu	filho,	Jesus	Cristo,	para	libertar	os	homens	da	
escravidão	da	lei.	Jesus	reveste	um	corpo	capaz	de	sentir	e	sofrer,	
embora	não	seja	material.	Em	sua	pregação,	Jesus	exalta	o	Deus	bom,	
mas	evita	esclarecer	que	não	se	trata	do	Deus	do	Antigo	Testamento.	
Por	outro	lado,	é	pela	pregação	de	Jesus	que	Javé	é	informado	da	
existência	de	um	Deus	transcendente.	Vinga-se	entregando	Jesus	
a	 seus	 perseguidores.	 Mas	 a	 morte	 na	 cruz	 traz	 a	 salvação,	 pois,	
com	seu	sacrifício,	Jesus	resgata	a	humanidade	do	Deus	criador.	No	
entanto,	o	mundo	continua	sobre	o	domínio	de	Javé,	e	os	fiéis	serão	
perseguidos	até	o	fim	dos	tempos.	Só	então	é	que	o	Deus	bom	se	
dará	a	conhecer:	 receberá	os	fiéis	em	seu	Reino,	enquanto	o	 resto	
dos	homens,	bem	como	a	matéria	e	o	Criador,	serão	definitivamente	
destruídos	(ELIADE,	2011a,	p.	327).
Na	explicação	de	Eliade,	conseguimos	perceber	os	elementos	do	gnosticismo	
no	 pensamento	 de	Marcião.	 O	 dualismo	muito	 presente,	 principalmente	 na	 ideia	 do	
Deus	bom	versus	Deus	mau.	O	dualismo	está	presente,	também,	na	ideia	de	que	Cristo	
não	veio	em	carne,	mas	em	um	corpo	diferenciado,	como	um	espírito.	
Um	dos	grandes	críticos	de	Marcião	foi	Tertuliano	(160-220).	Enquanto	o	primeiro	
enfatizava	Deus	como	o	princípio	do	amor,	sendo	este	suficiente,	ao	segundo	importava	
fazer	uso	do	temor	a	Deus,	pois	somente	se	obedece	e	se	respeita	a	quem	se	teme,	vejamos:
A	controvérsia	de	Marcião	e	Tertuliano	nos	proporciona	um	vislumbre,	
talvez	 pela	 primeira	 vez,	 de	 doistipos	 básicos	 de	 cristianismo:	 o	
otimista	racional,	que	crê	que	o	princípio	do	amor	seja	suficiente,	com	
o	homem	tendo	um	desejo	essencial	de	praticar	o	bem,	e	o	pessimista,	
convencido	 da	 corruptibilidade	 básica	 das	 criaturas	 humanas	 e	 da	
necessidade	do	mecanismo	de	danação	(JOHNSON,	2001,	p.	62).
Outro	ponto	crucial	nos	ensinos	de	Marcião,	que	muitos	gnósticos	aceitavam	
também,	 era	 a	 oposição	 ao	 casamento.	 Ele	 defendia	 que	 o	 casamento	 fora	 um	 ato	
criado	pelo	Deus	do	Antigo	Testamento	que	visava	à	procriação,	portanto,	não	deveria	
ser	realizado.	Porém,	outras	vertentes	gnósticas	não	se	opuseram	ao	casamento	e,	em	
alguns	casos,	praticavam	também	orgias.
12
Outro	grupo	que	difundiu	as	ideias	gnósticas	dentro	do	cristianismo	foram	os	
Valentinianos,	liderados	por	Valentino	(100-160).	Eles	acreditavam	que	o	verdadeiro	ser	
do	indivíduo	é	o	espiritual,	em	contraponto	ao	carnal.	O	espiritual	estaria	adormecido,	
preso	 nesse	mundo,	 porém,	 a	 partir	 da	 gnose,	 haveria	 a	 salvação	 quando	 esse	 ser	
estivesse	livre	da	prisão	carnal.	
Nessa	concepção,	as	 ideias	contrastantes/dualistas	estão	sempre	presentes:	
“espírito/matéria,	divino	(transcendente)/antidivino;	o	mito	da	queda	da	alma	(alma	=	
espírito,	parcela	divina),	ou	seja,	a	encarnação	em	um	corpo	(assimilado	a	uma	prisão);	
e	a	certeza	da	libertação	(a	‘salvação’)	obtida	graças	à	gnose”	(ELIADE,	2011a,	p.	324).	
A	gnose	cristã	seria	o	ensinamento	que	Jesus	deixou	para	alguns	escolhidos	e	estes	
foram	divulgando	a	outros.	Os	gnósticos,	portanto,	fariam	parte	de	uma	casta	separada	
que	seria	salva,	os	santos	(ELIADE,	2011a).
Valentino	foi	um	dos	grandes	pensadores	e	divulgadores	do	gnosticismo	cristão	
do	século	 II	 (MATIAS,	2011).	Ele	chegou,	 inclusive,	a	se	candidatar	ao	cargo	de	bispo	
em	Roma,	mas	não	chegou	a	ser	escolhido.	Segundo	Matias	(2011,	p.	2482),	“Valentino	
afirmava	que	aprendeu	 seus	ensinamentos	 secretos	com	Teúdas,	 um	dos	discípulos	
de	Paulo,	 os	 seguidores	de	Valentino	afirmavam	que	somente	os	 seus	evangelhos	e	
revelações	continham	tais	ensinamentos”.	Temos,	aqui,	uma	das	principais	filosofias	do	
gnosticismo,	que	consistia	em	 ideias	escondidas,	 reveladas	somente	a	um	grupo	de	
seguidores.	Um	fator	curioso	da	história	de	Valentino	era	que	ele	e	seus	seguidores	não	
queriam	o	afastamento	da	igreja,	tendo	lutado	por	muito	tempo	contra	a	expulsão	deles	
do	meio	considerado	ortodoxo	(MATIAS,	2011).
Outro	fator	relevante	dos	movimentos	tidos	como	seitas	gnósticas	era	de	que	se	
diferenciavam	do	cristianismo	mais	geral	quanto	à	universalidade	do	ensino,	tendo	em	
vista	que	eles	preconizavam	um	conhecimento	secreto,	revelado	aos	seus.	Além	disso,	
suas	reuniões	poderiam	ser	feitas	em	qualquer	espaço,	não	havendo	uma	complexidade	
em	 seu	 culto	 (MATIAS,	 2011).	 Também,	 os	 grupos	 gnósticos	 eram	 constantemente	
acusados	de	estarem	na	igreja	somente	para	atrair	outros	cristãos	as	reuniões,	em	que	
as	ideias	gnósticas	eram	ensinadas.	
Para	 o	 grupo	 dos	 Valentinianos,	 a	 humanidade	 estaria	 dividida	 em	 três	
categorias:	os	choics,	que	seriam	as	pessoas	que	só	se	preocupavam	com	as	coisas	
terrenas,	cotidianas;	os	psíquicos,	que	englobavam	os	religiosos	em	geral	e,	os	pneumos	
que	 seriam	 os	 gnósticos	 (MATIAS,	 2011).	 Portanto,	 a	 função	 do	 terceiro	 grupo	 seria	
desvelar	a	verdade	para	que	outros	pudessem	“acordar”	e	obter	a	salvação,	juntando-se	
ao	terceiro	grupo.
Outro	 movimento	 importante	 ficou	 conhecido	 como	 docetismo.	 Tal	 grupo	
também	defendia	 que	Cristo	não	veio	 à	 terra	 em	carne,	 pois	 seria	 uma	humilhação,	
assim	como	seria	uma	humilhação	morrer	na	cruz.	Segundo	eles,	Cristo	apenas	teve	
uma	aparência	de	homem.	Segundo	o	docetismo,	a	crucificação	teria	sido	feita	por	outra	
pessoa	(ELIADE,	2011a).
13
4.2 O MONTANISMO
Segundo	Estrada	(2005),	o	movimento	montanista	surgiu	no	século	II,	fundado	
por	Montano	da	Frígia,	que	era	auxiliado	por	Priscila	e	Maximila.	Além	de	ter	produzido	
escritos,	eles	tinham	uma	concepção	de	cristianismo	voltada	à	escatologia	e	aos	carismas.	
Uma	das	suas	principais	divergências	com	relação	aos	outros	grupos	cristãos	
era	de	que	os	carismas	tinham	sido	esquecidos	por	eles,	vejamos:	“O	movimento	era	
composto	por	carismáticos,	que	eram	arrebatados	pelo	Espírito	e	enriquecidos	com	uma	
infinidade	de	êxtases,	oráculos,	visões	e	profecias”	(ESTRADA,	2005,	p.	271).	Além	disso,	
o	montanismo	aceitava	a	participação	feminina	de	modo	ativo,	pregava	a	importância	
do	 celibato	 e,	 assim,	 não	 encorajava	 o	 casamento,	 pois	 a	 necessidade	maior	 era	 se	
preparar	para	o	fim	dos	tempos.
Tais	 posturas	 foram	 severamente	 criticadas	 por	 muitos	 grupos	 de	 cristãos,	
apesar	de	 sua	vasta	difusão	em	diversas	 igrejas	do	Ocidente.	Os	montanistas	 foram	
duramente	perseguidos	por	bispos,	e,	por	isso,	estes	eram	chamados	de	“assassinos	de	
profetas”	(ESTRADA,	2005,	p.	272).	
Ao	final	do	século,	com	o	movimento	consolidado,	várias	de	suas	igrejas	faziam	
concorrência	com	a	igreja	considerada	oficial,	ao	passo	que	esta	não	mediu	esforços	na	
realização	de	concílios	e	excomunhão	de	quem	seguia	os	ensinamentos	do	montanismo.
Um	dos	seus	mais	conhecidos	seguidores	foi	o	teólogo	Tertuliano,	e,	 segundo	
ele,	tais	concepções	não	eram	novas,	pois	estavam	seguindo	os	ensinamentos	de	Cristo	
e	o	que	acontecera	com	a	descida	do	Espírito	Santo.	Todavia,	era	uma	forma	de	vida	que	
procurava	ser	mais	perfeita,	devido	à	severidade	de	suas	práticas	 (ESTRADA,	2005,	p.	
273).	O	movimento	durou	até	o	século	IV.	Sobre	Tertuliano,	Paul	Johnson	(2001)	comenta:	
O	 caso	 de	 Tertuliano	 oferece	 um	 vislumbre	 precioso,	 sob	 alguns	
aspectos	 único,	 do	 funcionamento	 da	 Igreja	 primitiva.	Aqui	 estava	
um	 grande	 estadista	 da	 igreja,	 homem	 de	 impecável	 retidão	 e	
fé	 ardorosa,	 abraçando	 a	 heresia.	 Sua	 aderência,	 assim,	 solapa	
por	 completo	 os	 ataques	 ortodoxos	 a	moral	 e	 ao	 comportamento	
público	dos	montanistas,	proporciona,	de	qualquer	modo,	um	selo	de	
aprovação	ética	para	o	movimento	(JOHNSON,	2001,	p.	66).
Portanto,	vemos	que	as	heresias	não	chamavam	a	atenção	somente	de	pessoas	
iletradas,	mas	 também	de	 intelectuais	 da	 igreja.	 Nesse	 caso,	 o	 fervor	 religioso	 dado	
por	meio	dos	êxtases,	a	busca	por	uma	vida	santa,	acabou	trazendo	para	o	meio	do	
montanismo	um	teólogo	tão	apreciado	pela	ortodoxia	cristã	como	Tertuliano.
14
4.3 O ARIANISMO
No	 século	 IV,	 outro	grupo	 tentou	abalar	 os	 alicerces	do	que	ficou	conhecido	
como	ortodoxia	cristã.	Um	sacerdote	de	Alexandria,	Ário,	passou	a	questionar	a	 ideia	
da	Trindade.	Ele	negou	“[...]	a	consubstancialidade	das	três	pessoas	divinas.	Para	ele,	
Deus	é	único	e	 incriado;	o	filho	e	o	Espírito	Santo	foram	criados	mais	tarde	pelo	pai,	
e,	 portanto,	 lhe	 são	 inferiores”	 (ELIADE,	2011a,	p.	 355).	 	Claro	que	essas	declarações	
foram	rejeitadas	pela	igreja,	tendo	repercutido	negativamente	e	sendo	considerada	tão	
errônea	essa	ideia,	que	foi	convocado	o	concílio	de	Niceia	para	dar	conta	do	assunto.
4.4 O DONATISMO
As	ideias	donatistas	tiveram	início	em	Cartago,	por	volta	do	ano	332,	com	o	bispo	
Donato	 e	 foram	consideradas	heréticas.	 Eles	 também	foram	considerados	 como	um	dos	
primeiros	movimentos	cismáticos,	ou	seja,	que	quiseram	se	separar	da	Igreja.	
Um	dos	primeiros	desentendimentos	ocorreu	em	virtude	do	acolhimento	que	
a	Igreja	deu	a	algumas	pessoas	que	haviam	sido	consideradas	traidoras,	pois,	em	um	
momento	de	perseguição,	essas	se	apartaram	do	cristianismo.	Um	desses	“traidores”	
foi	colocado	como	presbítero-supervisor	da	região	de	Cartago,	no	Norte	da	África.	Tal	
decisão	não	foi	aceita	pela	 igreja	no	norte	da	África	e	eles	escolheram	outra	pessoa	
como	presbítero-supervisor.	Essa	atitude	gerou	um	clima	de	cisão.	
Segundo	 Johnson	 (2001,	 p.	 104)	 “era	 um	 movimento	 de	 homens	 pobres	
liderados	por	um	clero	puritano”	e,	ainda:	“Para	Agostinho,	[...]	eles	eram	agentes	da	
anarquia	e	do	horror	social,	‘hordas	ensandecidasde	homens	abandonados’.	Segundo	
ele,	 celebravam	 seus	 mártires	 promovendo	 distúrbios,	 em	 meio	 a	 bebedeiras”.	
Agostinho	de	Hipona	foi	um	duro	crítico	deste	movimento.	Estando	do	lado	católico,	
considerava	os	donatistas	como	hereges.
Outro	ponto	defendido	pelos	donatistas	é	que	eles	esperavam	que	cada	igreja	
local	 tivesse	autonomia	e	que	não	precisassem	seguir	 as	ordens	da	 igreja	de	Roma.	
Além	disso,	eles	prezavam	pela	separação	entre	igreja	e	Estado	(SANTOS,	2016).	Porém,	
como	 o	 cristianismo	 conseguiu	 a	 adesão	 do	 Império	 Romano	 por	meio	 do	 Edito	 de	
Milão,	era	mais	fácil	manter	a	igreja	sendo	governada	a	partir	de	Roma	do	que	mantê-la	
independente,	ou	seja,	cada	cidade	com	seus	líderes.	
4.5 O PELAGIANISMO
Atribui-se	a	Pelágio	ser	o	criador	das	ideias	pelagianas.	Este	teria	nascido	por	
volta	do	ano	350	e	falecido	em	428.	Não	se	sabe	ao	certo	onde	nasceu,	e	foi	morar	
em	 Roma	 no	 ano	 405.	 Praticante	 do	 ascetismo,	 Pelágio	 considerava	 que	 o	 pecado	
15
ocorria	pela	vontade	do	homem,	assim,	o	salvar-se	dependia	somente	do	homem,	não	
concordando,	então,	que	a	Graça	de	Deus	é	que	salva	(SILVA,	2014).	Vejamos	um	dos	
seus	argumentos:
Pelágio	afirmava	categoricamente	que	o	dogma	do	livre	arbítrio	era	
um	absurdo.	As	passagens	bíblicas	do	Gênesis	 deviam	ser	 relidas,	
pois	não	era	possível	que	o	pecado	de	um	ser	humano,	atavicamente,	
atravessasse	toda	a	história.	Cada	indivíduo,	necessariamente	munido	
das	orientações	da	 Igreja	e	praticando	os	exercícios	espirituais,	de	
per	si,	era	capaz	de	‘combater’	o	pecado	(SILVA,	2014,	p.	51).
Assim,	é	possível	perceber	que	o	que	propunha	Pelágio	ia	de	encontro	a	um	dos	
principais	dogmas	do	cristianismo,	ou	seja,	a	Graça	de	Deus	é	que	salva	e	que	todo	o	
homem	é	pecador.	Para	o	cristianismo,	foi	o	sacrifício	de	Cristo	que	concedeu	a	salvação	
ao	homem.	Ele	também	atacava	a	questão	do	pecado	original,	não	acreditando	que	as	
crianças	tivessem	pecados,	por	isso,	não	concordavam	com	o	batismo	de	crianças.	A	
forma	de	pensar	de	Pelágio	se	espalhou	e	ele	conseguiu	vários	adeptos	e,	no	Sínodo	de	
Cartago	(397)	que	suas	doutrinas	foram	condenadas	como	heréticas.
5 A FORMAÇÃO DO CÂNON SAGRADO
A	expressão	 “Cânon	sagrado”,	que	hoje	faz	 referência	aos	escritos	bíblicos,	é	
derivada	da	palavra	grega	kanon	 (reta).	Ela	foi	usada	para	os	textos	sagrados	com	o	
intuito	 de	 simbolizar	 a	 régua,	 ou	 o	 padrão	 que	 os	 cristãos	 deveriam	 seguir	 (BRUCE,	
2011).	Após	a	morte	de	Jesus,	seus	discípulos,	que	mais	tarde	ficaram	conhecidos	como	
apóstolos,	 passaram	 a	 divulgar	 os	 feitos	 de	 Jesus	 em	 diversas	 localidades,	 muitas	
vezes	por	meio	de	cartas	que	eram	lidas	por	diferentes	 igrejas,	servindo	para	 instruir	
os	cristãos.	Depois	da	morte	dos	apóstolos	que	haviam	vivido	com	Jesus,	a	tornou-se	
muito	necessária	a	leitura	de	seus	testemunhos,	para	que	a	mensagem	de	Jesus	não	
se	perdesse	ou	fosse	deturpada.	
Caro	acadêmico,	estudamos,	no	subtópico	anterior,	os	conflitos	internos	que	o	
cristianismo	estava	vivendo	com	relação	às	heresias,	principalmente	ao	gnosticismo.	Tais	
conflitos	foram	a	mola	propulsora	da	escrita	apologética	dos	pais	da	igreja,	como	ficaram	
conhecidos	os	primeiros	teólogos	cristãos,	e,	também,	foi	colocada	a	importância	de	se	
decidir	quais	livros	entrariam	ou	não	no	compêndio	final	do	que	veio	a	ser	a	Bíblia	cristã.	
Várias	discussões	a	esse	respeito	ocorreram.	Veremos,	a	partir	de	agora,	os	principais	
fatores	que	levaram	a	igreja	cristã	a	aceitar	alguns	livros	como	inspirados	e	dignos	de	
entrar	no	cânon	sagrado	e	outros	não.
O	termo	“bíblia”	fazia	referência	ao	conjunto	de	livros,	passando	a	representar	
o	 livro	 sagrado	 (SHELLEY,	 2004).	Como	Jesus	nasceu	e	pregou	no	meio	 judaico,	 os	
Escritos	que	eram	sagrados	para	o	 judaísmo	entraram	no	cânon	cristão.	Mesmo	com	
a	discordância	de	alguns	grupos,	principalmente	dos	gnósticos,	como	 já	pontuamos,	
16
aceitar	 os	 escritos	 do	 Antigo	 testamento	 fazia	 sentido,	 pois	 eles	 ratificavam	 a	
importância	do	Messias	para	o	mundo,	 que	os	 cristãos	 afirmavam	ser	Jesus.	Sem	o	
Antigo	Testamento,	o	peso	da	vinda	do	Messias	não	seria	tão	enfático.	
O	próprio	Jesus,	a	todo	instante,	retomava	as	passagens	do	Tanah,	mostrando	
que	as	profecias	 se	cumpriam	de	acordo	com	a	caminhada	dele.	Portanto,	 o	Antigo	
Testamento	 passou	 a	 ter	 um	 novo	 significado	 para	 a	 cristandade,	 pois	 ele	 foi	
completado	 pelos	 escritos	 dos	 seguidores	 de	 Jesus,	 que	 se	 convencionou	 chamar	
de	Novo	Testamento.	Porém,	vale	lembrar	que,	para	os	judeus,	o	termo	“Antigo/Velho”	
testamento	não	é	bem-visto,	pois,	para	eles,	nada	ficou	velho,	pois	é	esse	escrito	que	
para	eles	é	sagrado.	Sobre	a	aceitação	do	Tanah,	vejamos	o	que	diz	Shelley:
Quando	os	cristãos	reivindicaram	o	uso	do	Antigo	Testamento,	não	
definiram	quais	os	livros	que	essa	reivindicação	incluía.	Naquele	
tempo,	 os	 cristãos	divergiam	sobre	 a	 inclusão	ou	exclusão	dos	
chamados	 apócrifos	 na	 lista	 de	 livros	 do	Antigo	 testamento.	 O	
termo	 aplica-se	 a	 dose	 ou	 quinze	 livros,	 dependendo	de	 como	
são	 agrupados,	 os	 quais	 são	 aceitos	 pelos	 católicos	 romanos	
como	 canônicos	 e	 rejeitados	 pela	 maioria	 dos	 protestantes	
(SHELLEY,	2004,	p.	68).
Sobre	a	aceitação	dos	livros	que	não	estavam	no	cânon	judaico,	Agostinho	de	
Hipona	foi	a	favor,	e,	assim,	eles	passaram	a	fazer	parte	do	cânon	católico.	Na	época	
da	 Reforma	 Protestante,	 essa	 questão	 foi	 revista	 e,	 com	 isso,	 alguns	 reformadores	
preferiram	deixar	somente	os	livros	que	constavam	no	cânon	judaico	(SHELLEY,	2004).	
Vejamos,	também	a	explicação	de	Johnson:
Em	geral,	a	figura	determinante	na	evolução	do	cânon	foi	Eusébio,	
cujo	 objetivo	 era	 associar	 o	mais	 intimamente	 possível	 a	 doutrina	
e	 estrutura	 de	 facto	 da	 igreja	 a	 suas	 credenciais	 documentais;	
após	 sua	 morte,	 documentos	 úteis	 que	 ele	 considera	 duvidoso,	
foram	 aceitos	 como	 canônicos,	 o	 processo,	 estando	 praticamente	
concluído	 em	367,	 quando	Atanásio	 apresentou	 uma	 lista	 de	 suas	
Cartas	Pascais.	Nessa	época,	o	Novo	Testamento,	aproximadamente	
como	 conhecemos	 hoje,	 havia	 sobrepujado,	 em	 grande	 parte,	 as	
antigas	escrituras	hebraicas	como	o	principal	instrumento	doutrinário	
da	 igreja.	 Era	uma	ferramenta	que	 fora	moldada	na	 Igreja	 e	não	o	
contrário	(JOHNSON,	2001,	p.	72).
Percebemos,	 na	 fala	 de	Johnson	 (2001),	 que	 a	 compilação	do	 cânon	bíblico	
foi	feita	de	acordo	com	as	premissas	do	setor	da	 Igreja	que	tomava	para	si	a	função	
de	 guardiã	 da	 ortodoxia.	 A	 controvérsia	 maior	 aconteceu	 na	 compilação	 do	 Novo	
Testamento.	Um	dos	critérios	adotados	foi	perceber	se	era	um	escrito	já	lido	nas	igrejas	
cristãs	de	diferentes	localidades	(SHELLEY,	2004).	Outro	fator	importante	apontado	por	
Shelley	 (2004)	é	se	o	 livro	foi	ou	não	escrito	por	algum	apóstolo	ou	por	alguém	que	
convivera	com	um	apóstolo.	A	autoridade	dos	apóstolos	era	evidenciada,	pois	foram	
eles	que	conviveram	com	Jesus	e,	portanto,	tinham	a	essência	do	cristianismo	exposta	
em	seus	escritos.	
17
6 A FORMAÇÃO DA HIERARQUIA ECLESIÁSTICA CATÓLICA
Caros	alunos,	como	já	expusemos,	após	a	morte	dos	apóstolos,	outros	seguidores	
passaram	 a	 assumir	 a	 liderança	 nas	 diversas	 cidades	 onde	 o	 cristianismo	 conseguiu	
chegar.	Com	o	passar	do	tempo,	tais	lideranças,	que	foram	chamadas	de	bispos,	passaram	
a	responder	pelo	cristianismo,	como	líderes	que	descendiam	da	tradição	dos	apóstolos.	
Com	a	expansão	do	cristianismo	no	Império	Romano,	o	bispo	de	Roma	passou	a	ter	um	
papel	de	destaque	dentro	do	cristianismo.	Essa	força	foi	ampliada	ainda	mais	quando	
houve	a	necessidade	de	combater	o	que	era	considerado	heresia.
Além	 das	 heresias,	 a	 igreja	 cristã	 não	 tolerava	 comportamentos	 que	 não	
correspondessem	 a	 uma	moralidade	 rígida,	 como	 nos	 lembra	 Shelley	 (2004,	 p.	 81):	
“[...]	essas	comunidades	cristãs	tentaram	regular	sua	vida	em	comum	pelos	princípios	
da	mais	 estrita	moralidade,	 nãotolerando	membros	 pecaminosos	no	meio	 delas.	Os	
pecadores	obscenos	eram	expulsos	do	meio	da	 igreja”.	Lembremos	que,	no	contexto	
social	 greco-romano,	 a	 moralidade	 era	 totalmente	 diferente	 do	 que	 preconizava	 o	
cristianismo.
As	questões	relacionadas	à	admissão	ou	não	de	alguém	que	houvesse	cometido	
algo	considerado	como	um	pecado	grave	dentro	da	igreja	passavam	pelo	bispo	local.	
Havia	muita	discussão	entre	os	bispos	e	teólogos	sobre	quais	tipos	de	erros	poderiam	ser	
perdoados:	“Calixto	(217-222)	readmitiu	os	membros	arrependidos	que	tinham	cometido	
adultério.	Para	ele,	a	igreja	era	como	a	arca	de	Noé.	Nela,	podiam	ser	encontrados	tanto	
os	 animais	 puros	 como	 os	 impuros”	 (SHELLEY,	 2004,	 p.	 81).	 Calixto	 ainda	 atribuiu	 à	
igreja,	pela	primeira	vez,	a	função	das	chaves	dadas	a	Pedro	por	Cristo	(SHELLEY,	2004).	
Com	 o	 cânon	 bíblico	 formado,	 era	 necessária	 também	 sua	 explicação.	 Caro	
acadêmico,	 analise,	 então:	 se	 a	 igreja	 já	 procurava	 combater	 o	 que	 era	 considerado	
heresia,	 agora	 com	 o	 Novo	 Testamento	 já	 compilado,	 quem	 você	 acha	 que	 teria	 a	
responsabilidade	de	explicar/decodificar	o	que	dizia	o	livro	sagrado?	
Claro	 que	 a	 igreja	 tomou	 para	 si	 essa	 responsabilidade.	 Tal	 questão	 foi	
consolidada,	posteriormente,	na	ideia	de	que	a	Igreja	Católica	tem	sua	base	na	Bíblia	
e	na	Tradição,	pois	é	ela	que	autentica	a	forma	de	 interpretar	a	Bíblia.	A	questão	da	
interpretação	 da	 Bíblia	 foi	 crucial	 para	 que	 houvesse	 um	 clero	 unificado	 dentro	 do	
cristianismo	(JOHNSON,	2001).
[...]	a	autoridade	do	bispo	foi,	então,	escorada	na	compilação	de	listas	
episcopais	 remontando	às	origens	apostólicas.	Todas	essas	 Igrejas	
produziram	 seus	 levantamentos	 e	 nenhuma	 delas,	 isoladamente,	
tinham	 que	 arcar	 com	 o	 ônus	 de	 provar	 que	 sua	 doutrina	 era	 a	
pregada	a	princípio.	Assim,	as	Igrejas	instituíram	a	intercomunhão	e	a	
defesa	mútua	contra	a	heresia,	com	base	no	episcopado	monárquico	
e	sua	genealogia	apostólica	(JOHNSON,	2001,	73).	
18
Outra	mudança	importante	ressaltada	por	Johnson	(2001)	foi	que	somente	um	
bispo	poderia	consagrar	outro.	Com	a	escolha	de	um	cânon	único,	o	fortalecimento	dos	
bispos,	principalmente	o	de	Roma,	as	heresias	sendo	combatidas	e	o	cristianismo	se	
expandindo,	a	igreja	foi	conseguindo	se	consolidar	no	Império	Romano.	Além	disso,	com	
o	aumento	da	intelectualidade	se	convertendo	ao	cristianismo,	o	credo	e	a	teologia	se	
solidificaram	e	conquistaram,	posteriormente,	outras	regiões.
O	controle	do	clero	nos	assuntos	religiosos	ficava	cada	vez	mais	latente.	Temia-
se	que	mais	heresias	nascessem,	se	espalhassem	e,	com	isso,	dividissem	a	comunidade	
cristã.	Os	cultos,	que	durante	muito	tempo	eram	celebrados	em	casas	ou	em	catacumbas,	
precisavam	de	espaços	maiores,	pois	o	número	de	fiéis	era	cada	vez	mais	crescente.	
Assim,	 com	 reuniões	 em	 locais	 mais	 amplos,	 dirigidas	 pelo	 bispo,	 manter	 a	
doutrina	mais	coesa	seria	mais	fácil.	Além	disso,	como	o	batismo	e	a	eucaristia	passaram	
a	ser	os	principais	ritos,	eles	deveriam	ser	celebrados	pelo	bispo.	Estada	(2005),	explica	
que	o	culto	sofreu	influências	judaicas,	mas	aos	poucos	foi	tomando	uma	forma	própria.	
Os	 sacerdotes	 aumentavam	 seu	 poder,	 enquanto	 o	 papel	 dos	 leigos	 foi	 diminuindo.	
Somente	no	 século	 IV	 é	 que	 a	 liturgia	 começou	 a	 ser	 oficializada.	Antes	disso,	 cada	
região	cultuava	de	acordo	com	sua	cultura	(ESTRADA,	2005,	p.	372).	
O	papel	do	bispo	também	foi	mudando,	como	explica	Estrada	(2005,	p.	376):	“O	
incremento	do	número	de	membros	da	Igreja	contribuiu	para	a	burocratização	do	bispo,	
para	seu	distanciamento	do	culto	e	para	a	dissolução	do	estreito	vínculo	existente	entre	o	
bispo	e	seu	presbitério”.	O	autor	também	ressalta	que	o	formato	de	bispo	atualmente,	que	
está	distanciado	do	povo,	lotado	em	uma	cúria,	com	tarefas	mais	burocráticas,	foi	algo	
implementado	no	período	medieval,	e	esse	modelo	suscita,	constantemente,	desagrado	
entre	alguns	teólogos	católicos	(ESTRADA,	2005).	Vejamos,	a	seguir,	a	importância	que	os	
bispos passaram a ter para o cristianismo:
Os	 bispos	 pregavam,	 instruíam	 a	 congregação,	 batizavam	 os	
catecúmenos,	 impunham	penitências	aos	pecadores,	 sustentavam	
os	princípios	ortodoxos	contra	os	heréticos,	ordenavam	presbíteros	
e	diáconos	e	participavam	dos	concílios.	Aos	poucos,	vão	adquirindo	
também	capacidade	jurídica	sobre	os	membros	do	seu	clero	e	os	leigos	
da	 sua	 congregação,	 um	privilégio	 que,	mais	 tarde,	 será	 ratificado	
e	 expandido	 pela	 legislação	 imperial.	 No	 IV	 século,	 à	 medida	 que	
avança	o	processo	de	cristianização	nos	meios	urbanos,	a	autoridade	
episcopal	 passa	 a	 ser	 exercida	 também	 em	 assuntos	 que	 dizem	
respeito	 ao	 funcionamento	 do	 corpo	 cívico,	 como,	 por	 exemplo,	 a	
administração	da	justiça,	a	organização	do	abastecimento	de	víveres	
em	tempos	de	escassez,	a	defesa	da	cidade	contra	as	investidas	dos	
bárbaros	e	a	representação	do	povo	junto	à	corte.	A	partir	de	então,	
as	 tarefas	 do	 bispo	 se	 deslocam	do	 âmbito	 da	 ecclesia	 para	 o	 da	
civitas,	o	que	lhe	confere	a	capacidade	de,	em	muitas	circunstâncias,	
interpelar	o	próprio	imperador	sobre	a	sua	conduta	pública	e	privada.	
Os	bispos	se	tornam,	desse	modo,	agentes	políticos	extremamente	
influentes,	 cuja	 posição	 é	 reforçada	 pelo	 apoio	 que	 amiúde	 lhes	
tributa	a	população	urbana,	sempre	pronta	a	tomar	a	defesa	do	seu	
líder	espiritual	(SILVA,	2010,	p.	115).	
19
A	partir	da	citação	anterior,	observamos	como,	aos	poucos,	a	cúpula	religiosa	
passou	a	influenciar	também	a	organização	estatal.	Além	do	bispo,	outro	cargo	relevante	
dentro	da	Igreja	cristã	foi	o	de	diácono,	que	respondia	aos	bispos	e	presbíteros.	Com	o	
passar	do	tempo,	sua	função	passou	a	ser	de	auxiliar	do	bispo	(ESTRADA,	2005).	Quanto	
mais	aumentava	o	número	de	adeptos	ao	cristianismo,	mais	aumentava	também	o	clero.	
Em	Roma,	ele	passou	a	ser	dividido	da	seguinte	maneira:
Os	diáconos	e	subdiáconos	encarregavam-se	da	atenção	aos	pobres.	
[...].	 A	 ‘diocese’	 era	 uma	 unidade	 administrativa	 política.	 Diocleciano	
dividiu	o	império	em	12	dioceses,	que	abrangiam	várias	províncias,	e	que	
equivaliam,	em	termos	eclesiásticos,	aos	patriarcados.	Por	outro	lado,	o	
território	do	bispo,	inicialmente,	era	a	‘paróquia’,	e	somente	a	partir	do	
século	XIII	se	impôs	o	termo	‘diocese’	(ESTRADA,	2005,	p.	406).
Caro	acadêmico,	deu	para	notar	que,	com	o	crescimento	do	cristianismo,	 foi	
se	tornando	necessário	organizar	não	só	a	doutrina,	tendo	em	vista	as	heresias,	mas	
também	a	funcionalidade	de	cada	cargo	na	 igreja.	Para	tal	formação,	foi	 incorporado	
muito	das	características	administrativa	de	Roma.	A	estrutura	foi	sendo	ampliada	na	
Idade	Média	e	Moderna,	até	termos	a	forma	atual.	Veremos,	agora,	como	foi	estruturado	
o	cargo	mais	elevado	da	igreja,	o	de	pontífice.
É	sabido	que	o	cargo	de	pontífice	é,	para	a	Igreja	Católica,	equivale	à	sucessão	do	
apóstolo	Pedro,	tendo	em	vista	a	passagem	dos	evangelhos	em	que	Jesus	teria	deixado	
a	chave	da	igreja	para	Pedro	(Mateus	16:16-19).	Porém,	a	formalidade	do	papado	e	sua	
sucessão	ocorreu	posteriormente.	O	aspecto	da	preponderância	do	papa	em	relação	
aos	bispos	e	demais	cargos	eclesiásticos	não	foi	aceito	unanimemente.	Foram	feitas	
várias	discussões	internas	para	que	o	cargo	e	suas	funções	fossem	plenamente	aceitos.	
Porém,	como	 já	vimos,	a	 Igreja	em	Roma	passou	a	usufruir	de	um	status	 importante	
perante	a	comunidade	cristã.	Ela	acreditava	ser	o	polo	em	que	a	ortodoxia	cristã	foi	
preservada,	além	de	ser	a	capital	do	império	romano	e,	poderiam	contar	com	um	poderio	
econômico	também.	
Estrada	comenta:	“Roma	começa	a	tornar-se	uma	instância	por	meio	da	qual	se	
recorre	quando	há	conflitos	nas	igrejas	do	Ocidente.	No	século	III,	há	intervenções	que	
denotam	sua	autoridade	na	igreja	latina,	embora	só	intervenha	em	casos	excepcionais,	
tendo	 necessidade	 de	 aceitar	 a	 independência	 de	 bispos”	 (ESTRADA,	 2005,	 p.	 452).Inicialmente,	a	igreja	em	Roma	procurava	não	intervir	em	outras	igrejas,	a	não	ser	se	visse	
que	era	necessário.	A	igreja	do	norte	da	África	procurava	andar	livre	da	igreja	de	Roma,	
porém,	com	as	mudanças	históricas	ocorridas	nessa	 região,	decorrentes	das	 invasões	
bárbaras,	que	praticamente	acabaram	com	o	cristianismo	na	região,	o	papado	ganhou	
mais	força	em	Roma	(ESTRADA,	2005).	Sobre	a	função	do	papa,	o	autor	ainda	expõe:
Não	 se	 pode	 esquecer	 que	 o	 bispo	 de	 Roma	 possui	 três	 âmbitos	
distintos	de	autoridade:	enquanto	bispo	de	uma	igreja	local,	a	romana,	
enquanto	 patriarca	 do	 Ocidente	 (onde	 ele	 exerce	 uma	 autoridade	
semelhante	 à	 dos	 bispos	 de	 Alexandria	 e	 de	 Antioquia	 em	 seus	
patriarcados)	 enquanto	 primaz	 da	 Igreja	 universal.	 Sua	 autoridade	
20
em	Roma	é	 indiscutível,	 uma	vez	que	 se	 impôs	a	 ideia	 segundo	a	
qual	cada	 Igreja	deve	ter	somente	um	bispo,	contra	as	pretensões	
dos	 antipapas.	 Sua	 primazia	 no	 Ocidente	 também	 se	 desenvolve	
progressivamente,	mais	na	prática	do	que	na	teoria,	sendo	cada	vez	
mais	frequente	o	recurso	a	ela	quando	há	enfrentamentos	entre	as	
Igrejas	ou	conflitos	episcopais	(ESTRADA,	2005,	p.	452).
Ainda	de	acordo	com	Estrada	(2005),	foi	no	Concílio	de	Niceia	(325),	realizado	no	
governo	de	Constantino,	que	ficou	decidido	que	as	[...]	“Igrejas	de	Alexandria,	Antioquia	
e	Roma	 eram	as	 principais	 e	 exerciam	um	controle	 sobre	 as	 demais	 Igrejas	 em	 seu	
âmbito	territorial”	(ESTRADA,	2005,	p.	453).	Com	isso,	a	igreja	de	Jerusalém	perdeu	de	
vez	sua	importância	oficial	perante	as	outras.	Nessa	fase,	o	cristianismo	com	o	modelo	
romano	começava	 a	 ganhar	 um	peso	de	universalidade.	Nessa	 época,	 o	 papa	 ainda	
não	possuía	o	poder	e	prestígio	que	conhecemos.	Estudaremos	essa	questão	no	tópico	
sobre	o	cristianismo	na	Idade	Média.
Vemos,	 então,	 que	Roma	possuía	vários	 atributos	 para	 que	 o	 cristianismo	 lá	
se	consolidasse,	e	ela	passou	a	ser	 referência	para	outras	 regiões.	Com	a	subida	de	
Constantino	ao	poder,	a	igreja	deixou	de	sofrer	com	as	perseguições	imperiais	e,	o	clero	
teve	acesso,	pela	primeira	vez	na	história	cristã,	ao	 imperador	 romano.	Abordaremos	
essa	questão	no	próximo	subtópico.
7 O CRISTIANISMO E O PODER TEMPORAL EM ROMA
Caro	acadêmico,	já	comentamos	a	respeito	da	perseguição	do	Império	Romano	
aos	 cristãos	 nos	 primeiros	 séculos.	 É	 comum	 dizer	 que,	 nessa	 época,	 quanto	 mais	
perseguido,	mais	o	cristianismo	crescia.	E	não	só	crescia,	mas	também	se	estruturava,	
hierarquizava	e	consolidava	sua	base	teológica	e	os	livros	canônicos.	Pois	bem,	foi	no	
século	 IV	que	ocorreu	uma	mudança	radical	na	estrutura	 romana,	que	foi	o	Edito	de	
Milão,	decretado	pelo	imperador	Constantino.	Vejamos	a	explicação	do	professor	Carlan:
Reunidos	em	Milão,	 em	313,	Constantino	e	Licínio	assinam	o	Edito	
de	Milão.	Em	resumo,	o	documento	declarava	que	o	Império	Romano	
seria	 neutro	 em	 relação	 ao	 credo	 religioso,	 acabando	 oficialmente	
com	 toda	 perseguição	 sancionada	 oficialmente,	 especialmente	 ao	
Cristianismo.	A	aplicação	do	Edito	fez	devolver	os	lugares	de	culto	e	
as	propriedades	que	tinham	sido	confiscadas	dos	cristãos	e	vendidas	
em	praça	pública.	O	Edito	deu	ao	Cristianismo	(e	a	todas	as	outras	
religiões)	o	estatuto	de	 legitimidade,	comparável	com	o	paganismo	
e,	com	efeito,	desestabeleceu	o	paganismo	como	a	religião	oficial	do	
Império	Romano	e	dos	seus	exércitos	(CARLAN,	2011,	p.	28).
Foi	com	esse	edito	que	o	cristianismo	gozou	de	paz	no	império,	mas	esse	não	
foi	o	único	feito	de	Constantino	para	o	cristianismo.	Naquele	momento,	o	cristianismo	
estava	de	mãos	dadas	com	o	Estado	romano.	Sobre	as	mudanças	implementadas	por	
Constantino,	Shelley	(2004)	ressalta:	
21
A	partir	de	312,	ele	favoreceu	abertamente	os	cristãos.	Permitiu	que	
os	ministros	 cristãos	 usufruíssem	da	mesma	 isenção	 de	 impostos	
que	os	sacerdotes	pagãos;	aboliu	as	execuções	realizadas	por	meio	
de	crucificação;	pôs	fim	às	batalhas	dos	gladiadores	como	punição	
para	crimes;	e,	em	321,	tornou	feriado	o	dia	de	domingo.	Graças	a	sua	
generosidade,	surgiram	prédios	suntuosos	de	igrejas	como	prova	de	
seu	apoio	ao	cristianismo	(SHELLEY,	2004,	p.	105).
A	conversão	de	Constantino	ao	cristianismo	não	foi	aceita	por	todos.	Há	quem	
ressalte	que	 foi	 a	 penas	uma	cartada	política.	Constantino	passou	a	usar	 seu	poder	
como	imperador	para	interferir	nos	assuntos	cristãos,	inclusive	convocando	o	Concilio	
de	Niceia,	considerado	de	extrema	importância	para	a	cristandade.
O	Concílio	de	Niceia	ocorreu,	dentre	outros	fatores,	em	virtude	das	 ideias	do	
arianismo,	 que	 já	 estudamos	 no	 Subtópico	 4.3.	 Foi	 nesse	 concílio	 que	 o	 arianismo	
foi	combatido	como	heresia,	e	a	questão	da	Trindade	foi	firmada	na	doutrina	cristã.	O	
imperador	Constantino	se	fez	presente	no	concílio	e	“[...]	no	seu	discurso,	Constantino	
expressava	o	desejo	da	união	da	Igreja,	deixando	de	lado	as	diferenças	que	por	ora	se	
manifestava	na	separação	entre	arianos	e	antiarianos”	(SILVA,	2017,	p.	31).
Caro	acadêmico,	a	esta	altura	você	pode	estar	se	perguntando:	O	que	mudara?	
Por	que	a	partir	de	então	o	império	romano	se	voltou	com	benevolência	ao	cristianismo?	
Pois	bem,	Johnson	(2001)	faz	uma	explanação	 interessante	a	 respeito	da	adesão	do	
estado	romano	ao	cristianismo.	Segundo	ele,	o	cristianismo	da	época	de	Constantino	
(século	IV)	já	possuía	uma	elite	intelectual	responsável	por	sua	doutrina,	além	de	uma	
sólida	estrutura	hierárquica,	como	 já	estudamos,	e	um	alto	poder	proselitista,	que	 já	
havia	se	disseminado	por	todo	 império.	Portanto,	“era	católico,	ecumênico,	ordenado,	
internacional,	multirracial	 e	 cada	 vez	mais	 legalista.	 “ao	 atacá-lo	 e	 enfraquecê-lo,	 o	
império	estava	se	debilitando”	(JOHNSON,	2001,	p.	93).	A	situação	do	cristianismo	em	
Roma	chegou	a	um	patamar	que	se	tornava	insustentável	continuar	a	perseguição.	
Outro	imperador	que	conseguiu	um	feito	talvez	ainda	maior	do	que	Constantino,	
com	relação	às	 leis	no	 Império	Romano	e	o	cristianismo,	foi	o	 imperador	Teodósio,	o	
Grande	(379-395).	Indo	além	do	Edito	de	Milão,	ele	implementou	o	Edito	de	Tessalônica,	
pelo	qual	o	cristianismo	passava	ser	a	religião	oficial	do	Império	Romano.	
Perceba,	acadêmico,	como	o	cristianismo	saiu	da	marginalidade	em	Roma	e,	
em	pouco	mais	de	 trezentos	 anos,	 conseguiu	 subir	 ao	patamar	de	 religião	oficial	 do	
Império.	O	poder	da	igreja	foi,	a	partir	de	então,	ligado	à	política	estatal,	e	essa	ligação	
se	efetivou	não	somente	em	Roma,	como	também	nos	demais	estados	que	formaram	a	
Europa	Medieval	e	Moderna.	Nesse	sentido,	Eliade	(2011a)	nos	lembra:	“[...]	o	cristianismo	
converte-se	 em	 religião	 de	 Estado	 e	 o	 paganismo	 é	 definitivamente	 proibido;	 os	
perseguidos	transformaram-se	em	perseguidores”	(ELIADE,	2011a,	p.	356)”.
22
Com	 a	 ascensão	 do	 cristianismo	 ao	 posto	 de	 religião	 oficial,	 muitos	 grupos	
cristãos	acabaram	achando	que	era	seu	direito	pôr	fim	às	religiosidades	diferentes	que	
ainda	existiam	no	Império.	Eliade	(2011a)	relata	que	surgiu,	ainda	no	século	IV,	um	grupo,	
dentre	 outros,	 que	 foi	 responsável	 por	 alguns	 levantes	 contra	populações	 religiosas,	
a	saber,	os	monges.	Os	monges	cristãos	surgiram	em	meio	ao	desejo	de	se	abster	ao	
máximo	da	vida	considerada	mundana,	e	se	separar	dessa	para	servir	a	Deus.	Os	lugares	
escolhidos	para	isso	eram	afastados	das	cidades,	geralmente	nos	desertos	ou	grutas.	
Vejamos	o	relato	de	Eliade	(2011)	sobre	a	influência	que	esses	monges	começaram	a	ter	
na	sociedade	cristã,	ainda	na	Idade	Antiga:
Cerca	 do	 final	 do	 século	 IV,	 desde	 a	 Mesopotâmia	 até	 o	 norte	 da	
África,	assiste-se	a	uma	onda	de	violência	perpetrada	pelos	monges:	
em	388,	incendeiam	uma	sinagoga	em	Calinico,	perto	do	Eufrates,	e	
aterrorizam	as	aldeias	sírias	onde	haviam	templos	pagãos;	em	391,	o	
patriarca	de	Alexandria,	Teófilo,	convoca-os	para	‘purificar’	a	cidade	
do	 Serapeum	 (Serapeu),	 o	 grande	 templo	 de	 Serápis.	 Na	 mesma	
época,	penetraramà	força	nas	casas	dos	pagãos	para	nelas	procurar	
ídolos.	 E,	 em	415,	 um	grupo	de	monges	 fanáticos	 comete	um	dos	
mais	odiosos	crimes	registrados	na	história:	lincham	Hipátia,	a	nobre	
filósofa	de	Alexandria	[...]	(ELIADE,	2011a,	p.	357).
Caro	acadêmico,	vemos,	com	este	excerto,	que	o	cristianismo,	ao	se	filiar	ao	
governo	romano,	adotou	os	mesmos	métodos	de	violência	que	os	romanos	anteriormente	
perpetraram	contra	eles.	Durante	muitos	anos,	essa	foi	uma	marca	do	cristianismo.	Os	
conflitos	envolvendo	religião	serão	mais	acirrados	nos	próximos	capítulos	da	história,	
dos	quais	trataremos	nos	tópicos	seguintes.	Outra	questão	importante	que	ocorreu	no	
governo	de	Teodósio	foi	o	fato	de	ele	atribuir	à	igreja	em	Constantinopla	o	mesmo	poder	
da	igreja	em	Roma	(ESTRADA,	2005).	Lembremos	que	o	Império	Romano	foi	dividido	em	
395	em	Império	Romano	do	Ocidente,	com	a	capital	em	Roma,	e	Império	Romano	do	
Oriente,	com	a	capital	em	Constantinopla,	que	ficou	conhecida	como	Império	Bizantino.	
O	imperador	Teodósio	II	concedeu	a	Constantinopla,	no	ano	421,	no	
Oriente,	os	mesmos	direitos	dos	quais	desfrutava	Roma	no	Ocidente.	
Isso	 foi	 confirmado	 e	 ampliado	 no	 âmbito	 jurisdicional	 pelo	 cânon	
28	do	Concílio	de	Calcedônia,	no	ano	de	451,	apesar	dos	protestos	
contrários	por	parte	de	Roma	(ESTRADA,	2005,	p.	454).
A	disputa	do	poder	da	igreja	entre	Roma	e	Bizâncio	só	foi	resolvida	no	Cisma	do	
Oriente,	que	estudaremos	no	próximo	tópico.	A	partir	de	agora,	veremos	um	resumo	dos	
principais	pensadores	cristãos	do	período	da	História	Antiga.
8 OS PRINCIPAIS PENSADORES CRISTÃOS DA ANTIGUIDADE
Prezado	 acadêmico,	 fizemos	 até	 aqui	 um	 panorama	 geral	 dos	 quase	 quatro	
primeiros	séculos	do	cristianismo,	período	que,	no	campo	da	História,	equivale	à	Idade	
Antiga.	 O	 cristianismo,	 nessa	 época,	 teve	 alguns	 nomes	 relevantes.	 Homens	 que	 se	
dispuseram	a	estudar	e	auxiliar	a	igreja	nascente	na	consolidação	de	sua	doutrina.	
23
Abordaremos,	 agora,	 de	 forma	 breve,	 os	 principais	 pensadores	 dessa	 fase	
do	 cristianismo.	 Nosso	 intuito,	 aqui,	 é	 apresentar	 um	 cenário	 panorâmico	 desses	
pensadores	 e	 teólogos.	 Devemos	 fazer	 uma	 ressalva	 importe	 quanto	 às	 datas	 de	
nascimento	desses	eruditos.	Por	vezes,	são	datas	aproximadas,	pois,	nem	sempre	os	
historiadores	conseguiam	ter	certeza	do	ano	exato	do	nascimento.	Esperamos	que	sua	
curiosidade	seja	aguçada	a	procurar	outras	leituras	desses	personagens.
Um	dos	nomes	de	grande	impacto	no	século	IV	foi	Atanásio	(296-373).	Ele	foi	um	dos	
grandes	divergentes	das	ideias	arianas	no	Concílio	de	Nicéia	(HURLBUT,	2007).	O	arianismo,	
como	estudamos,	estava	no	centro	dos	debates	do	cristianismo	nesse	momento.	Nascido	
em	Alexandria,	conhecia	o	grego	e	era	um	estudioso	da	Bíblia.	Um	dos	legados	de	Atanásio	
foi	na	questão	educacional.	Ele	foi	enfático	em	defender	que	a	educação	fosse	baseada	nos	
valores	cristãos	e	não	dos	pagãos,	como	nos	explicam	Mello	e	Silva:
Essa	proposta	formativa,	que	tinha	como	fundamento	a	busca	pelas	
verdades	 cristãs,	 representava	 uma	 nova	 concepção	 da	 natureza	
humana:	 o	 homem	 é	 imagem	 de	 Deus.	 Diferente	 dos	 gregos	 e	
romanos,	 cuja	 concepção	 estava	 fundamentada	 na	 capacidade	
racional	 de	 entendimento	 e	 na	 participação	 do	 indivíduo	 na	 vida	
política,	 os	 cristãos	 compreenderam	 o	 homem	 a	 partir	 de	 uma	
nova	cidadania,	a	celeste.	Os	esforços	por	eles	realizados	tinham	o	
propósito	de	ajustar	a	vida	segundo	a	crença	na	salvação,	por	isso,	
propuseram	uma	educação	que	os	preparassem	para	essa	finalidade	
(MELLO;	SILVA,	2012,	p.	14).
Foi	exilado	algumas	vezes	e,	mesmo	assim,	teve	uma	vasta	produção	literária.	
Foi	um	ferrenho	opositor	dos	cultos	pagãos,	principalmente	dos	sacrifícios.	Ele	defendia	
que	os	homens	eram	 iguais	 e	que	não	deveriam	ter	 apegos	materiais,	valorizando	o	
espírito	ao	invés	do	corpo.
Em	sua	obra	‘Contra	os	pagãos’,	Atanásio	atacou	as	práticas	considera-
das	pagãs,	tais	como	a	idolatria	e	os	sacrifícios,	que	ainda	permaneciam	
vivas	em	sua	época.	Para	o	pensador	cristão,	era	necessário	mostrar	
aos	adeptos	desses	cultos,	a	superficialidade	e	as	contradições	de	suas	
crenças.	Ele	parece	acreditar	que	as	crenças	se	originavam	em	parte	
na	ignorância	humana	e	em	parte	no	desconhecimento	dos	chamados	
textos	sagrados	(MELLO;	SILVA,	2012,	p.	2).
Segundo	 Atanásio,	 os	 seres	 humanos	 estavam	 longe	 de	 Deus	 porque	 se	
detinham	em	buscar	 os	prazeres.	 Essa	busca	desenfreada	 trazia	 sofrimento,	 porém,	
ao	buscar	o	conhecimento	de	Cristo,	a	questão	dos	prazeres	seria	resolvida.	Por	isso,	
ele	 propôs	 mudanças	 na	 formação	 educacional,	 em	 que	 os	 cristãos	 “rejeitaram	 a	
especulação	filosófica	do	paganismo	e	afirmaram	a	fé	em	Cristo	e	a	observância	de	seus	
mandamentos”	(MELLO;	SILVA,	2012).
Um	 outro	 clérigo	 importante	 nesse	 contexto	 foi	 Ambrósio	 de	 Milão	 (340-
397).	Proveniente	de	Augusta	dos	Tréveros,	atual	território	alemão	que,	na	época,	era	
dominado	por	Roma,	Ambrósio	de	Milão	foi	professor	de	Agostinho	de	Hipona.	De	família	
nobre,	recebeu	uma	boa	educação	das	letras	e	educação	religiosa.	Seguiu	os	passos	do	
24
pai,	tornando-se	um	funcionário	imperial.	Foi	eleito	bispo	antes	mesmo	de	ser	batizado,	
o	que,	segundo	o	Concílio	de	Niceia,	não	era	mais	permitido.	Depois	de	batizado,	assumiu	
a	igreja	de	Milão.	Foi	uma	figura	que	teve	destaque	não	somente	no	campo	teológico,	
mas	também	na	política	(COELHO,	2020).	Vejamos	o	que	diz	a	professora	Pohlmann	a	
respeito	do	papel	de	Ambrósio	no	tocante	à	relação	Estado	e	Igreja:
Logo,	ao	elaborar	teorias	para	amparar	o	governo	imperial,	Ambrósio	
participava	 ativamente	 da	 vida	 política	 romana.	 Postura	 que	
aproximava	o	bispo	da	cidade	de	Milão	do	líder	político	dos	romanos,	o	
imperador.	Sendo	assim,	notamos	que	a	vida	religiosa	de	um	homem	
conhecido	como	um	dos	‘Pais	da	Igreja’	ocidental	estava	fortemente	
entrelaçada	a	sua	atuação	política	(POHLMANN,	2013,	p.	52).
Usando	desse	vínculo	 com	o	 Estado,	Ambrósio	 procurou	 combater	 as	 ideias	
arianas.	Ele	se	via	constantemente	em	conflito	com	os	seguidores	dessa	doutrina.	Ele	
era	um	defensor	da	teologia	praticada	em	Niceia	e	foi	responsável	por	vários	escritos	
importantes	para	a	Igreja.
Abordaremos,	agora,	a	vida	de	João	Crisóstomo	(345-407),	que	ficou	conhecido	
como	grande	orador	e	chegou	a	ser	bispo	de	Constantinopla,	todavia,	acabou	em	exílio	
(HURLBUT,	2007).	Admirador	da	vida	monástica,	era	muito	crítico	quanto	ao	modo	de	
vida	dos	clérigos	que	fugissem	do	rigor	moral	que	ele	considerava	digno	para	um	cristão.	
Por	causa	disso,	foi	acusado	de	“exigir	dos	seus	sacerdotes	uma	disciplina	severa	e	que	
frequentemente	os	acusava	de	corrupção	e	incompetência,	tendo,	inclusive,	expulsado	
muitos	das	fileiras	da	ecclesia”	(SILVA,	2010,	p.	117).	
Outro	ponto	de	destaque	na	vida	de	Crisóstomo	foi	a	preocupação	com	os	doentes,	
tendo	 construído	 hospitais,	 além	 de	 ter	 diminuído	 os	 gastos	 com	 a	 casa	 episcopal	 e	
acabado,	também,	com	os	banquetes	eclesiásticos	(SILVA,	2010).	Apesar	disso,	questões	
políticas	entre	Crisóstomo	e	a	imperatriz	Eudóxia	levaram-no	a	ser	exilado.
Seguindo	a	lista	dos	eruditos	cristãos,	não	podemos	deixar	de	falar	de	Jerônimo	
de	Estridão	(340-420).	Considerado	um	dos	maiores	letrados	da	Igreja	de	seu	tempo,	
tinha	uma	paixão	pela	vida	 ascética,	 por	 isso,	 passou	boa	parte	da	 sua	vida	em	um	
monastério.	 Seu	 maior	 feito	 “foi	 a	 tradução	 da	 Bíblia	 para	 o	 latim,	 obra	 que	 ficou	
conhecida	como	Vulgata	Latina,	isto	é,	a	Bíblia	autorizada	pela	igreja	católica	romana”	
(HURLBUT,	2007,	p.	117).	Foi,	também,	fundador	de	monastérios	femininos	e	masculinos.
A	 erudição	 do	monge	 Jerônimo	 chamou	 atenção	 das	 autoridades	
eclesiásticas	do	Ocidente	do	Império.	Com	isso,	novamente	Jerônimo	
se	 aproximou	 da	 cidade	 de	 Roma	 na	 busca	 de	 apoio	 de	 líderes	
cristãos	 e	 de	 um	 público-alvo	 para	 poder	 exercer	 seus	 trabalhos	
como	monge	e	asceta.	Destarte,	nadécada	dos	anos	380,	o	bispo	
de	Roma,	Dâmaso,	convidou	o	monge	Jerônimo	para	auxiliar	em	um	
Sínodo	na	cidade	de	Roma	e	para	trabalhos	junto	ao	entendimento	
mais	aprofundado	das	escrituras	(COELHO,	2019,	p.	7).
25
Jerônimo,	quando	foi	residir	em	Roma,	passou	a	ter	ajuda	de	mulheres	cristãs,	
que,	 inclusive,	 cediam	 suas	 casas	 para	 debates	 teológicos.	 Graças	 a	 esse	 auxílio	
financeiro,	ele	conseguiu	implementar	monastérios,	nos	quais	muitas	dessas	mulheres	
ingressaram	e	doaram	seus	bens	para	caridade	(COELHO,	2019).
Da	 mesma	 forma	 que	 Agostinho,	 Jerônimo	 combateu	 o	 pelagianismo,	
principalmente	em	seu	escrito	Dialogus	Adversus	Pelagianus.	Eles	chegaram	a	trocar	
cartas	sobre	as	ideias	pelagianas,	e,	em	suas	discussões	concluíram	que	tais	ideias	não	
poderiam	fazer	parte	da	ortodoxia	cristã	(COELHO,	2019).
Para	finalizar	nossa	lista	dos	principais	eruditos	cristãos	da	antiguidade,	vamos	
falar	de	Agostinho	de	Hipona	(354-430),	provavelmente	o	nome	mais	conhecido	dessa	
lista.	 Agostinho	 nasceu	 em	 Tagaste,	 na	 atual	 Argélia,	 e	 se	 converteu	 ainda	 jovem,	
por	 influência	 de	 sua	mãe.	 Exímio	 escritor,	 foi	 o	 autor	 de	 diversos	 livros,	 entre	 eles	
Confissões,	texto	em	que	fala	de	sua	vida	antes	da	conversão.	Foi	bispo	no	Norte	da	
África,	em	Hipona,	e	seu	legado	filosófico	transcendeu	a	Idade	Antiga,	influenciando	o	
mundo	Medieval	depois	dele	(HURLBUT,	2007).
Antes	 de	 sua	 conversão,	 Agostinho	 adotou	 as	 ideias	 do	 maniqueísmo,	 que	
frisava	a	concepção	do	bem	e	do	mal.	Pela	influência	da	pregação	do	bispo	Ambrósio,	
aceitou	 o	 cristianismo	 e	 foi	 batizado	 em	Milão.	 Ele	 passou	 a	 ser	 bispo	 em	Hipona	 e	
sempre	procurou	se	posicionar	nas	questões	referentes	às	heresias	(SHELLEY,	2004).	
Um	dos	debates	que	Agostinho	se	envolveu	foi	sobre	a	heresia	donatista,	a	qual	
já	estudamos.	Ele	divergia	dos	donatistas,	pois,	diferente	deles,	acreditava	que	até	“[...]	
o	dia	do	julgamento,	[...]	a	 igreja	deveria	ser	uma	multidão	mista.	Tanto	pessoas	boas	
como	más	nela	se	encontram.	Para	apoiar	sua	ideia,	citava	a	parábola	de	Jesus	sobre	o	
joio	e	o	trigo	[...]”	(SHELLEY,	2004,	p.	145).	Para	os	donatistas,	a	igreja	teria	que	ser	santa	
e	bastante	disciplinada,	principalmente	os	que	a	lideravam.	Além	disso,	Agostinho	não	
concordava	com	as	 ideias	donatistas	referentes	aos	sacramentos,	segundo	as	quais,	
estes,	quando	empregados	por	sacerdotes	 indignos,	não	teriam	efeito.	Já	Agostinho	
defendia	que	os	sacramentos	teriam	poder,	porque	este	viria	de	Deus	(SHELLEY,	2004).
Outra	 heresia	 que	 teve	 a	 atenção	 de	Agostinho	 foi	 o	 pelagianismo.	 Como	 já	
estudamos,	 Pelágio	 se	 opôs	 à	 concepção	 católica	 de	 pecado	 original,	 alegando	 que	
quase	 todos	 indivíduos	 pecam,	 porém,	 é	 possível	 que	 haja	 pessoas	 sem	 pecado	
(SHELLEY,	2004).	Tais	posturas	eram	criticadas	veementemente	por	Agostinho,	pois:
Na	visão	de	Agostinho,	o	pecado	de	Adão	teve	enormes	consequências.	
Seu	poder	de	agir	corretamente	se	perdera.	Em	resumo,	ele	morrera	
espiritualmente	–	e,	portanto,	fisicamente.	Mas	ele	não	estava	sozinho	
em	sua	ruína.	Agostinho	acreditava	que	toda	a	raça	humana	estava	
‘em	 Adão’	 e	 compartilhava	 seu	 pecado.	 A	 humanidade	 tornou-se	
uma	‘massa	de	corrupção’,	incapaz	de	qualquer	ato	bom	(salvação).	
Todo	 indivíduo,	da	primeira	 infância	à	 idade	avançada,	não	merece	
nada	além	da	condenação	eterna	(SHELLEY,	2004,	p.	147).
26
Na	concepção	agostiniana,	o	ser	humano	não	pode	fazer	nada	de	bom,	porém,	
isso	ocorre	em	virtude	da	Graça	de	Deus	que	lhe	foi	concedida.	Porém,	essa	Graça	é	
ofertada	a	alguns,	por	meio	de	Jesus,	através	do	batismo	(SHELLEY,	2004).	Em	virtude	
disso,	segundo	Agostinho,	nenhum	ser	humano,	por	seus	próprios	esforços,	tem	força	
para	ser	salvo.	A	salvação,	portanto,	está	condicionada	à	Graça	de	Deus.
Estimado	 acadêmico,	 nosso	 estudo	 até	 aqui	 procurou	mostrar	 os	 principais	
fatos	e	personagens	da	 igreja	 cristã	 após	a	morte	de	Jesus	Cristo.	Você	 já	deve	ter	
percebido	 que	 as	mudanças	 ocorridas	 foram	 complexas,	 e	 que	 é	 importante	 que	 o	
estudo	transcenda	este	material.	Busque	outros	textos	acadêmicos	para	fortalecer	seus	
conhecimentos.	Comece	pelo	tema	que	mais	chamou	sua	atenção.	Essa	é	uma	parte	
fundamental	para	o	processo	ensino-aprendizagem!
Nosso	estudo	procurou	mostrar	como	o	cristianismo	se	espalhou	pelos	domínios	de	
Roma;	os	principais	conflitos	foram	ocasionados	pelas	diferenças	em	relação	aos	preceitos	
dos	judeus,	fato	que	provocou	o	primeiro	tipo	de	perseguição	sofrida	pelos	cristãos.	Além	
disso,	os	cristãos	também	sofreram	perseguição	por	parte	do	Império	Romano,	inclusive,	
vários	imperadores	fizeram	leis	que	dificultavam	a	existência	do	cristianismo.	Nesse	ínterim,	
o	cristianismo	se	fortalecia,	se	expandia	e	se	consolidava,	lutando	contra	os	seus	“inimigos”	
internos,	ou	seja,	as	doutrinas	que	foram	consideradas	heréticas.	
Para	combater	as	heresias,	a	 igreja	atuou	por	meio	de	excomunhões,	exílios	e	
concílios.	Os	movimentos	heréticos	não	se	extinguiram	nesse	período.	No	mundo	medieval,	
novas	 ideias	surgiram	e	outras	foram	retomadas,	mas	 isso	estudaremos	nos	próximos	
tópicos.	Outro	fator	 importante	que	estudamos	foi	a	transição	pela	qual	o	cristianismo	
passou,	isto	é,	de	uma	religião	párea,	da	sociedade	romana,	para	uma	religião	oficial.	Em	
decorrência	disso,	ela	passou	a	ser	uma	ferramenta	estatal	de	controle	e	perseguição,	não	
só	no	mundo	antigo,	mas	até	no	período	moderno.
Por	fim,	conhecemos	os	principais	representantes	da	igreja	que	foram	considerados	
eruditos	e	importantes	para	o	desenvolvimento	da	doutrina	e	apologética	cristã.	Eles	foram	
os	principais	responsáveis	por	trazer	a	erudição	para	o	meio	da	igreja	cristã.
No	próximo	tópico,	estudaremos	as	principais	mudanças	ocorridas	no	seio	do	
cristianismo,	que	o	tornaram	a	principal	religião	da	Europa.	Veremos	seus	domínios	na	
cultura,	 arte,	 literatura,	música	e	nos	governos.	Caro	 acadêmico,	 nossa	 jornada	está	
apenas	começando.	Ainda	há	muita	história	para	ser	conhecida.	Sigamos	nessa	viagem!	
No Tópico 2, estudaremos como o cristianismo se consolidou na Europa; 
o início do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e a primeira divisão do 
cristianismo, que gerou a Igreja Ortodoxa.
ESTUDOS FUTUROS
27
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 O	cristianismo,	passou	por	mudanças	devido	a	contatos	com	povos	de	religiosidades	
diferentes.	 Tais	 contatos	 trouxeram,	 por	 vezes,	 debates	 a	 respeito	 das	 principais	
doutrinas	que	a	igreja	deveria	seguir.
•	 O	 cânon	bíblico	 (Antigo	 e	Novo	Testamento)	 antes	 de	 ser	 consolidado	gerou	uma	
série	de	discursões	sobre	quais	livros	deveriam	ser	acrescentados	aos	livros	judaicos.
•	 As	principais	 ideias	consideradas	heréticas	pela	ortodoxia	cristã,	 principalmente	o	
gnosticismo,	arianismo,	donatismo	e	o	montanismo.
•	 As	perseguições	que	os	cristãos	sofreram,	primeiro	pelos	judeus,	depois	pelos	romanos	
e,	posteriormente,	a	aliança	feita	com	o	Império	Romano	por	meio	dos	Edito	de	Milão	e	de	
Tessalônica,	que	mudou	a	história	não	só	de	Roma,	como,	posteriormente,	da	Europa.
•	 Os	principais	eruditos	da	igreja	cristã	do	primeiro	século:	Atanásio,	Ambrósio,	João	
Crisóstomo,	Jerônimo	e	Agostinho	de	Hipona.
RESUMO DO TÓPICO 1
28
1	 Os	três	primeiros	séculos	do	cristianismo	foram	marcados	por	conflitos	entre	cristãos	
e	 judeus,	 cristãos	 e	 pagãos	 e	 até	mesmo	 entre	 os	 próprios	 cristãos.	 Somente	 no	
século	IV,	no	governo	de	Constantino	foi	que	surgiu	uma	época	de	relativa	paz	aos	
cristãos	do	império	romano.	Quanto	a	essa	época,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	 Foi	nessa	época	que	o	imperador	Constantino	convocou	o	Concílio	de	Niceia.	Um	
dos	pontos	trados	nesse	concílio	foi	o	gnosticismo	cristão.	Foi	nesse	concílio	que	
o	gnosticismo	foi	tratado	com	heresia.
b)	(			)	 O	cristianismo	permaneceu	nas	regiões	de	predominância	judaica	até	o	Edito	de	
Milão,	pois	era	mais	fácil	a	conversão	de	judeus	do	que	degentios	e,	assim,	eles	
evitavam	as	mortes	pelos	romanos.	
c)	(			)	 As	 perseguições	 dos	 judeus	 aos	 cristãos	 acabaram	 depois	 da	 expulsão	 dos	
judeus	do	império	Romano.	Sem	a	tutela	do	judaísmo,	os	cristãos	passaram	a	ser	
alvo	do	governo	romano	principalmente	por	causa	do	seu	proselitismo	feroz	e	por	
não	aceitarem	realizar	oferendas	aos	deuses	pagãos	e	ao	imperador.
d)	(			)	 O	século	IV	foi	o	período	de	maior	intensidade	na	perseguição	aos	cristãos,	feitas	
pelo	Império	Romano.	Ela	só	veio	ter	fim	no	governo	de	Constantino,	com	o	Edito	
de	Tessalônica.
2	 Desde	o	século	I,	o	cristianismo	passou	a	ter	dificuldades	para	consolidar	sua	doutrina.	
Vários	grupos	começaram	a	surgir	divulgando	ideias	que,	para	o	cristianismo	que	se	
considerava	ortodoxo,	foram	consideradas	heresias.	Tendo	em	vista	o	que	estudamos	
das	heresias	na	igreja	cristã	da	Idade	Antiga,	analise	as	sentenças	a	seguir:	
I-	 O	Arianismo	consistia	na	 ideia	de	que	os	 judeus	não	poderiam	se	tornar	cristãos,	
pois,	eles	condenaram	Jesus	a	morte	e	continuaram	perseguindo	os	cristãos.
II-	 O	gnosticismo	pregava	que	a	Trindade	não	era	coexistente	e	que	o	Deus	Pai	era	
superior	ao	Filho	e	ao	Espírito	Santo.
III-	 As	 ideias	 gnósticas	 se	 espalharam	 entre	 os	 cristãos.	 Dentre	 outras	 coisas,	 eles	
pregavam	que	Cristo	não	veio	em	corpo	e	que	a	gnose	seria	a	salvação	para	a	pessoa,	
pois,	esta	“acordaria”	do	seu	engano.	Além	disso,	criam	na	ideia	do	Deus	bom,	no	Novo	
Testamento	e	Deus	Mal,	do	Antigo	testamento.	
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	(			)	Somente	a	sentença	III	está	correta.
AUTOATIVIDADE
29
3	 O	século	IV	foi	responsável	por	uma	série	de	mudanças	no	cenário	religioso	do	Império	
Romano,	tanto	para	os	cristãos,	quanto	para	os	pagãos.	Tendo	em	vista	tal	período,	
classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 O	Concílio	de	Nicéia	convocado	por	Constantino,	decidiu	que	as	igrejas	de	Antioquia,	
Roma	e	Alexandria	tinham	supremacia	decisória	sobre	as	demais.	Inclusive,	a	igreja	
em	Jerusalém	deveria	obediência	a	elas.
(			)	 Somente	no	século	IV	foi	que	o	cristianismo	deixou	de	ser	perseguido	no	Império	
Romano,	em	virtude	do	Edito	de	Milão	que	foi	complementado	posteriormente	pelo	
Edito	de	Tessalônica.
(			)	 No	final	 do	 século	 IV,	muitos	grupos	 cristãos	passam	a	 aterrorizar	 comunidades	
pagãs,	inclusive	incendiando	sinagogas	e	destruindo	templos	pagãos.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	V	–	F	–	F.
b)	(			)	V	–	F	–	V.
c)	 (			)	V	–	V	–	V.
d)	(			)	F	–	F	–	V.
4	 O	início	do	cristianismo	e	sua	expansão	se	deu	a	base	de	disputas	religiosas.	Explique	
os	principais	conflitos	existentes	entre	os	cristãos	e	os	judeus	e	entre	os	cristãos	e	os	
romanos	nesse	período.
5	 Durante	 os	 três	 primeiros	 séculos	 da	 história	 do	 cristianismo,	 alguns	 nomes	 se	
destacaram	por	terem	sido	responsáveis	por	ajudar	a	formar	a	doutrina	católica	e,	por	
lutarem	contra	as	doutrinas	heréticas.	Um	desses	nomes	foi	Agostinho	de	Hipona.	
Escreva	sobre	as	doutrinas	heréticas	que	ele	combateu.
30
31
CRISTIANISMO NO PERÍODO MEDIEVAL
1 INTRODUÇÃO
Caro	acadêmico,	 estudamos,	no	Tópico	 1,	 o	desenvolvimento	do	cristianismo	
na	Antiguidade	e,	agora,	daremos	continuidade	ao	assunto	apresentando	os	principais	
fatos	ocorridos	na	Idade	Média.	Vamos,	primeiramente,	entender	o	contexto	histórico,	
para	depois	adentrarmos	propriamente	na	questão	religiosa.
Roma	foi	a	civilização	no	mundo	Antigo	que	mais	povos	conseguiu	conquistar.	
Sua	história	nesse	período	foi	marcada	por	três	fases:	monarquia,	república	e	império.	
Sua	expansão	teve	início	ainda	ano	período	republicano,	mas,	foi	no	Império	(27	a.C.	-	476	
d.C.)	que	ela	mostrou	mais	enfaticamente	seu	poderio	militar,	pelo	menos	inicialmente.
No	 governo	 do	 imperador	 Teodósio	 (379-395),	 além	 do	 Edito	 de	 Tessalônica	
que	oficializou	o	cristianismo	em	todo	Império,	ele	tomou	outra	decisão	que	acarretou	
uma	mudança	drástica	para	Roma,	que	foi	a	divisão	do	Império	entre	seus	dois	filhos:	
Arcádio,	que	ficou	com	o	Império	Romano	do	Oriente	e	Honório,	com	o	Império	Romano	
do	Ocidente.	O	primeiro	teve	sua	capital	em	Constantinopla,	gerando	o	que	veio	a	ser	
conhecido	com	Império	Bizantino,	e	o	segundo,	em	Ravena,	depois	em	Milão.
Pouco	tempo	depois	dessa	divisão,	a	Roma	Ocidental	passou	a	sofrer	ataques	
dos	povos	bárbaros.	O	guerreiro	Átila,	o	Huno,	invadiu	essa	parte	de	Roma	em	452.	Com	
o	ataque,	muitas	pessoas	fugiram.	O	papa	Leão	conseguiu	convencê-lo	a	não	invadir	
Roma.	O	 invasor	saqueou	as	riquezas	de	Roma	por	cerca	de	quinze	dias.	Tudo	o	que	
seus	soldados	capturaram,	e	que	pertencia	às	igrejas,	Átila	mandou	que	fosse	devolvido	
(SHELLEY,	2004).	
Posteriormente,	 Roma	 sofreu	 outro	 ataque.	 Em	 455,	 os	 povos	 Vândalos	
cercaram	Roma.	O	imperador	Maximus	tentou	fugir	e	foi	morto.	Com	a	desorganização	
do	exército	romano,	Genserico,	rei	dos	vândalos,	invadiu	a	Roma	Ocidental	sem	muito	
esforço.	O	papa	Leão	novamente	interveio	em	favor	de	Roma	e	pediu	ao	rei	rival	para	
que	não	incendiasse	Roma.	Novamente	a	cidade	foi	saqueada	e	pessoas	foram	levadas	
como	escravas	(SHELLEY,	2004).	
Notemos	aqui	que,	apesar	dos	saques,	o	papa	conseguiu	fazer	com	que	a	vida	dos	
romanos	fosse	poupada,	assim	como	a	cidade.	Somente	em	476	é	que	Roma	Ocidental	
foi	finalmente	conquistada	pelos	povos	germânicos.	Muitos	desses	germânicos	já	eram	
cristãos,	porém	pela	vertente	do	arianismo,	considerada	herética.
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - O 
32
Com	a	invasão	da	Roma	Ocidental,	boa	parte	da	população	teve	que	fugir	e	pedir	
abrigo	fora	da	cidade	de	Roma.	Foi	o	início	de	uma	nova	organização	social,	chamada	de	
feudalismo,	que	se	espalhou	por	várias	partes	da	Europa,	devido	às	diversas	conquistas	
bárbaras.	As	relações	sociais	ficaram	então	envoltas	no	laço	de	suserania	e	vassalagem.	
O	suserano,	ou	senhor	feudal,	era	o	dono	de	terras	que,	em	troca	de	favores,	
doava	um	pedaço	de	sua	terra	ao	vassalo.	Além	disso,	havia	os	servos,	que	residiam	e	
trabalhavam	no	território	do	suserano	em	troca	de	serviços	que	deveriam	prestar	a	ele.
Caro	 acadêmico,	 perceba	 que	 o	 cristianismo	 conseguiu	 sobreviver	 mesmo	
depois	da	queda	do	Império	Romano	do	Ocidente.	O	papa	ficou	mais	forte	e	conseguiu	
fazer	aliança	com	os	reinos.	Assim,	o	cristianismo	se	propagou	pela	Europa.	Agora	você	
deve	estar	se	perguntando:	e	o	cristianismo	na	parte	Oriental?	Pois	bem,	como	a	Roma	
Oriental	durou	muito	mais	tempo	que	a	Ocidental,	o	cristianismo	lá	se	desenvolveu	de	
uma	forma	diferenciada.	Esse	será	um	dos	assuntos	que	abordaremos	a	partir	de	então.
Acadêmico,	 no	 Subtópico	 2,	 abordaremos	 a	 consolidação	 do	 poder	 papal;	 o	
desenvolvimento	e	diferenças	da	igreja	no	Oriente	e	Ocidente,	que	levou	ao	Cisma	do	Oriente.	
Estudaremos	também	o	papel	dos	monastérios	e	das	ordens	religiosas	em	progresso;	as	
Cruzadas;	a	Inquisição	e	os	principais	pensadores	cristãos	medievais.
2 O PODER PAPAL 
Estimado	acadêmico,	a	preponderância	do	papa	sobre	os	demais	bispos	ocorreu	
gradativamente.	Essa	questão	foi	um	entrave	para	a	igreja	situada	no	Oriente,	pois	esta	
não	aceitava	que	o	centro	da	cristandade	fosse	Roma	apenas.	
Como	já	vimos,	Teodósio	elevara	o	status	de	Constantinopla	administrativamente	
como	de	igual	valor	à	Roma.	Porém,	nas	questões	religiosas,	Roma	procurava	manter	a	
hegemonia.	Esse	embate	foi	intenso,	pois,	com	a	queda	do	Império	Romano	do	Ocidente	
em	476,	Constantinopla	reivindicava	ainda	mais	a	supremacia	nos	assuntos	religiosos.
Estrada	 (2005)	explica	que	foi	nesse	contexto	que	a	 “teologia	de	direitos”	
se	tornou	vigente,	formulando	a	primazia	do	papa	sobre	os	patriarcas	e	os	bispos.	
Os	patriarcas	 eram	as	 autoridades	máximas	no	 cristianismo	Oriental.	 O	 poder	 era	
Povos bárbaros era o modo como os romanos se referiam em relação 
aos povos que viviam em suas fronteiras.Eram formados por sociedades 
diferentes, dentre elas os Unos, Godos, Ostrogodos, Visigodos, Francos, 
Anglos, Saxões, dentre outros.
NOTA
33
dividido	 entre	 cinco	 patriarcas	 que	 ficavam	 em	 regiões	 diferentes	 do	 Império.	
Constantinopla	tendia	a	diminuir	as	ordens	do	papa	em	seu	território,	priorizando	as	
decisões	do	patriarca.	
O	papa	era	visto	por	eles	como	uma	figura	de	 “honra	e	de	autoridade	moral”	
(ESTRADA,	2005,	p.455).	O	império	romano	fez	uma	série	de	intervenções	no	sentido	de	
resolver	as	questões	da	supremacia	da	igreja	romana	ou	de	Constantinopla,	dentre	elas:	
Em	378,	o	 imperador	Graciano	afirmou	que	as	decisões	da	parte	Ocidental	caberiam	
à	 igreja	 de	Roma,	 e	 da	 parte	Oriental,	 à	 igreja	 de	Constantinopla.	 Porém,	 em	445,	 o	
imperador	Valentiano	III,	“imperador	do	Oriente,	proclama	em	445	a	primazia	do	bispo	de	
Roma	sobre	a	Igreja	universal,	enquanto	seu	colega	Teodósio	II,	imperador	do	Oriente,	só	
o	reconhece	como	patriarca	do	Ocidente	e	o	adverte	que	não	se	misture	nos	assuntos	
das	Igrejas	Orientais”	(ESTRADA,	2005,	p.	455).
Alguns	 concílios	 ocorreram	 para	 tentar	 dirimir	 esse	 problema,	 porém,	 não	
chegaram	a	um	acordo	quanto	à	sucessão	de	Pedro.	Com	relação	ao	título,	a	expressão	
“pontífice	máximo”	 (ou	 sumo	 pontífice)	 foi	 usada	 pela	 primeira	vez	 pelo	 papa	 Leão	 I	
(ESTRADA,	2005).	O	mesmo	papa	ainda	foi	enfático	ao	afirmar	que	o	cargo	que	ocupava	
era	herança	de	Pedro.	Mais	tarde,	o	papa	“Gelásio	I	(492-496)	afirmou	que	o	papa	tem	
autoridade	até	 sobre	os	concílios	e	proibiu	qualquer	apelação	contra	as	decisões	da	
igreja	de	Roma”	(ESTRADA,	2005,	p.	458).	Sobre	a	expressão	“papa”,	Shelley	comenta
A	 palavra	 papa	 por	 si	 só	 não	 é	 crucial	 na	 criação	 da	 doutrina	 de	
primazia	papal.	Originalmente,	o	título	 ‘papa’	expressava	o	cuidado	
paternal	de	todos	os	bispos	do	 rebanho.	Começou	a	ser	 reservado	
para	 o	 bispo	 de	 Roma	 apenas	 no	 século	 VI,	 muito	 depois	 da	
reivindicação	de	primazia	(SHELLEY,	2004,	p.	153).
Com	a	cristianização	dos	povos	bárbaros,	o	poder	do	papa	foi	se	ampliando	e	
as	alianças	entre	os	reinos	bárbaros	e	o	cristianismo	começaram	a	ocorrer.	O	apoio	do	
papa	ao	reinado	de	Pepino,	o	Breve,	que	era	“prefeito	de	palácio”	no	reino	Franco	e	deu	
um	golpe,	proclamando-se	rei	franco	e	iniciando	a	dinastia	dos	Carolíngios,	gerou	um	
fortalecimento	para	o	papado	em	Roma.	Em	troca	do	apoio	do	papa,	o	 rei	concedeu	
terras	ao	redor	de	Roma	para	a	igreja.	
Os	carolíngios,	sob	o	comando	do	filho	de	Pepino,	Carlos	Magno,	defenderam	a	
igreja	dos	povos	Lombardos,	que,	apesar	de	serem	cristãos,	tentavam	pegar	terras	que	
haviam	sido	dadas	à	igreja.	Em	agradecimento,	o	papa	Leão	III	consagrou	Carlos	Magno	
como	Imperador	do	Ocidente.	Com	essa	aliança,	a	 igreja	em	Roma	se	fortaleceu	sem	
precisar	recorrer	ao	Império	Bizantino.	Foi	a	partir	desse	apoio	que	começou.
[...]	 assim	 a	 época	 dos	 papas	 reis	 que	 tentaram	 ampliar	 seus	
territórios,	os	quais	até	o	século	XVI	foram	chamados	de	‘patrimônio	
de	 são	 Pedro’.	 Os	 papas	 escreviam	 aos	 reis	 francos	 como	 se	
fossem	o	próprio	são	Pedro	que	devesse	ser	defendido	e	protegido	
(ESTRADA,	2005,	p.	462).	
34
A	partir	do	século	IX,	o	poder	papal	estava	consolidado.	Eles	“cunharam	moedas	
com	a	esfinge	papal	(desde	1048)	e	criaram	uma	chancelaria	e	corte	pontifícia.	Começaram	
também	a	outorgar	títulos	nobres	e	a	mudar	de	nome	quando,	em	fins	do	século	X,	tomaram	
posse	do	trono	pontifício”	(ESTRADA,	2005,	p.	463).	Com	esse	poder	consolidado,	o	papa	se	
tornou	a	pessoa	responsável,	nas	cerimônias,	por	colocar	a	coroa	real	nos	reis	e	imperadores,	
enquanto	estes	deveriam	aderir	a	genuflexão	diante	do	papa.
Progressivamente,	a	 ideia	do	poder	papal	como	o	 regente	da	 igreja	universal	
foi	consolidada.	O	bispo	se	tornou	uma	espécie	de	empregado	papal	e,	 inclusive,	sua	
nomeação	dependia	da	vontade	papal.	Assim	sendo,	a	 igreja	na	 Idade	Média	ganhou	
uma	formatação	completamente	diferente	da	igreja	na	Antiguidade.
3 A QUESTÃO ICONOCLASTA
Caros	estudantes,	como	já	dissemos,	toda	religião	nasce	em	um	determinado	
contexto	 sociopolítico	 e,	 ao	 ser	 ampliada	para	diferentes	 culturas,	 ocorrem	fusões	 e	
justaposições	 de	 elementos,	 valores,	 enfim,	 ocorrem	 mudanças!	 Às	 vezes,	 algumas	
estas	não	são	aceitas	por	algumas	pessoas	que	ocupam,	no	âmbito	religioso,	posições	
de	lideranças.	Outras	vezes,	as	mudanças	são	apoiadas	e	celebradas	pelos	líderes.	
Uma	 das	 mudanças	 que	 ocorreram	 no	 cristianismo	 foi	 a	 adesão	 do	 uso	 de	
imagens	para	 representar	mártires,	Cristo,	os	apóstolos	e	outros	personagens	bíblicos.	
A	 religião	 judaica	 se	 opôs	 ferozmente	 ao	uso	de	 imagens,	 e	 até	 hoje	 não	 as	 permite.	
Vimos	que,	nos	primeiros	anos	do	cristianismo,	esse	exemplo	de	não	aceitação	do	uso	
de	imagens	foi	seguido.	Porém,	com	os	novos	contatos	que	o	cristianismo	foi	tendo	com	
outros	povos,	as	 imagens	foram	sendo	 introduzidas	nos	cultos,	não	só	 imagens	como	
também	relíquias,	que	seriam	os	objetos	que	haviam	sido	usados	pelos	apóstolos,	santos	
e	até	mesmo	por	Cristo.	Foram	atribuídas	a	essas	relíquias,	juntamente	com	as	imagens,	
poderes	milagrosos	como	curas.
Agostinho	de	Hipona	 foi	 um	dos	que	 inicialmente	 se	opuseram	ao	culto	 aos	
mártires	e	ao	comércio	de	relíquias.	Porém,	ele	mudou	de	opinião,	pois,	segundo	ele,	
tinha	visto	os	milagres	operados	pelas	relíquias	de	Estevão,	quando	chegaram	à	Hipona	
(ELIADE,	2011b).Mesmo	assim,	alguns	bispos	não	concordavam	com	o	uso	de	relíquias	
e	imagens,	por	considerarem	que	eram	heranças	do	paganismo.	Como	nos	apresenta	
Eliade	(2011b,	p.	59),	“O	culto	[das	imagens	e	relíquias]	alcança	enorme	popularidade	no	
século	VI.	No	Império	do	Oriente,	essa	devoção	excessiva	torna-se	às	vezes	embaraçosa	
para	as	autoridades	eclesiásticas”.	
Com	o	passar	do	tempo,	vários	intelectuais	foram	se	dedicando	a	compor	uma	
teologia	que	abarcasse	o	uso	de	tais	símbolos	no	culto.	Um	dos	principais	argumentos	é	
de	que	elas	tinham	um	caráter	pedagógico,	pois	boa	parte	da	população	era	analfabeta,	
e	o	uso	de	tais	 símbolos	como	 imagens,	pinturas	e	 ícones	ajudava	na	compreensão	
35
dos	feitos	dos	mártires	e	de	Cristo	(ELIADE,	2011b).	Tais	cultos	se	expandiram	por	toda	
a	cristandade,	como	explica	Eliade:	“Durante	o	reinado	dos	primeiros	carolíngios	(740-
840),	grande	número	de	santos	e	mártires	romanos	foi	transportado	para	o	Ocidente.	
Presume-se	que,	por	volta	do	final	do	século	IX,	todas	as	igrejas	possuíam	(ou	deveriam	
possuir)	relíquias”	(ELIADE,	2011b,	p.	61).
Com	 a	 aceitação	 popular	 do	 uso	 de	 relíquias	 e	 imagens,	 outro	 aspecto	
interessante	 foi	 a	 demanda	 por	 peregrinações	 aos	 cemitérios	 onde	 as	 pessoas	
consideradas	mártires	e	santas	haviam	sido	enterradas.	Seus	túmulos	se	destacavam	
dos	demais	e	atraíam	multidões.	Assim,	o	anúncio	de	milagres	em	torno	dessas	figuras	
ajudava	a	espalhar	o	costume	de	usá-las	em	cultos.	Vejamos	a	explicação	de	Eliade:	
“Os	fiéis	oravam,	prosternavam-se	diante	dos	ícones,	beijavam-nos,	levavam-nos	para	
desfilar	por	ocasião	de	certas	cerimônias.	Durante	esse	período,	cresce	o	número	das	
imagens	milagrosas	–	fonte	de	poder	sobrenatural	–	que	protegiam	as	cidades,	palácios	
e	exércitos”	(ELIADE,	2011b,	p.	65).
Todavia,	 apesar	 da	 aclamação	 popular,	 o	 culto	 às	 imagens	 sofreu	 algumas	
tentativas	de	proibição.	Leão	III,	imperador	no	século	VIII,	não	aceitava	o	uso	de	ícones	
e	 imagens.	Ele	mandou	que	elas	fossem	retiradas	das	 igrejas,	o	que	 levantou	a	fúria	
popular.	 O	 governante	 afastou	 o	 patriarca	 que	 não	 aceitou	 seu	 comando	 e	 colocou	
outro	favorável	à	sua	decisão	(SHELLEY,	2004).	O	termo	iconoclasta,	então,	passou	a	
referir	aos	que	queriam	destruir	as	imagens.
Outro	golpe	contra	as	imagens	foi	dado	quando	o	imperador	Constantino	V	proibiu	
seu	uso.	Lembremos	que	era	uma	fase	em	que	não	havia	separação	entre	o	poder	religioso	
e	o	Estado.	Segundo	Eliade	(2011b),	o	posicionamento	de	Constantino	V	foi	referendadopelo	
sínodo	iconoclasta	de	Constantinopla	no	ano	de	754.	
Posteriormente,	 no	 sínodo	 de	 815,	 o	 mesmo	 posicionamento	 foi	 mantido,	
principalmente	 considerando	 errado	 representar	 Cristo.	 Entretanto,	 outros	
representantes	da	igreja	que	não	concordavam	com	essa	postura	iconoclasta	passaram	
a	defender	com	ímpeto	o	uso	das	imagens.	Afirmavam	que	a	imagem	era	apenas	uma	
representação	 e	 não	 o	Ser;	 que	por	Jesus	 ter	 se	 tornado	homem,	 a	 ideia	 do	Antigo	
Testamento	de	não	fazer	representação	foi	rompida;	que	os	ícones	seriam	recipientes	
da	energia	divina,	dentre	outros	argumentos	(ELIADE,	2011b).
Porém,	 posteriormente,	 a	 adesão	 do	 cristianismo	 as	 imagens	 foi	 ganhando	
força,	como	nos	explica	Shelley	(2014):
O	último	período	da	 controvérsia	 iconoclasta	 é	 longo	e	 complicado.	
Com	a	ajuda	do	patriarca	Tarásio	(784-806),	o	sétimo	Concílio	Geral	de	
350	bispos	se	reuniu	em	Nicéia	em	787,	e	condenou	todo	o	movimento	
iconoclasta	[...].	O	iconoclasmo,	contudo,	não	foi	facilmente	eliminado.	
Fortes	tendências	iconoclastas	permaneceram	na	Ásia	Menor	e	entre	
a	classe	militar.	Mas,	no	decorrer	do	século	XIX,	o	calor	da	controvérsia	
foi	diminuindo.	Um	sínodo	convocado	em	843	depôs	João	Gramático,	
36
elegeu	Metódio	patriarca,	condenou	todos	os	iconoclastas	e	confirmou	
as	 disposições	 do	 sétimo	 concílio.	 As	 igrejas	 ortodoxas	 ainda	 hoje	
celebram	todos	os	anos,	no	primeiro	domingo	da	Quaresma,	a	Festa	da	
Ortodoxia,	comemorando	o	triunfo	dos	ícones	(SHELLEY,	2014,	p.169).
Caro	acadêmico,	até	aqui,	já	vimos	que	muitas	mudanças	foram	acontecendo	
no	cristianismo.	Ocorreram	vários	debates,	disputas	para	que	a	doutrina	fosse	formada	
e	posta	em	prática	por	todos.	A	questão	das	imagens	foi	novamente	retomada	na	época	
da	Reforma	Protestante.
4 O CISMA DO ORIENTE
Caro	acadêmico,	você	já	deve	ter	notado	que	as	relações	entre	a	igreja	romana	
do	Oriente	e	do	Ocidente	eram	carregadas	de	disputas	e	discordâncias	sérias	quanto	
à	forma	de	ser	cristão.	O	principal	ponto	de	embates	era	a	questão	da	primazia	papal.	
Enquanto	o	Ocidente	lutava	para	tornar	a	figura	do	papa	mais	imponente	e	importante,	
a	igreja	Oriental	colocava	sua	confiança	nos	patriarcas	e	olhava	o	papado	do	Ocidente	
apenas	como	um	cargo	honroso,	como	já	comentamos.	Além	disso,	a	questão	cultural	
também	separava	as	duas	realidades.	Com	o	passar	do	tempo,	o	império	Bizantino	foi	
moldando	uma	forma	de	ser	católico	que	se	diferenciava	do	modo	Ocidental.	Uma	das	
questões	que	destacaremos	aqui	se	deu	com	relação	aos	ícones.
Nós	já	vimos	que	há	várias	diferenças	entre	a	igreja	cristã	antiga,	que	estudamos	
no	primeiro	capítulo,	para	a	igreja	medieval.	Uma	das	diferenças	está	no	uso	das	imagens	
e	ícones.	A	utilização	dessa	forma	de	acessório	nas	igrejas	não	foi	uma	decisão	pacífica,	
como	já	estudamos.	Durante	os	primeiros	séculos	o	uso	de	imagens	não	foi	aceito	no	
seio	cristão.	
Porém,	devido	ao	contato	com	diferentes	culturas,	teólogos,	padres	e	as	pessoas	
em	 geral	 passaram	 a	 achar	 que	 era	 importante	 a	 utilização	 de	 imagens	 e	 ícones	 pelo	
cristianismo,	assim	como	faziam	outras	religiões.	O	cristianismo	Ocidental	acabou	preferindo	
o	uso	de	imagens,	tanto	de	mártires	quanto	de	Cristo	e	dos	apóstolos.	Já	a	igreja	Oriental	
fazia	uso	dos	ícones,	que	consiste	em	pinturas	em	alto	relevo	em	suas	igrejas.		
37
FIGURA 1 – ÍCONE BIZANTINO NA TRANSYLVANIA, ROMÊNIA
FONTE: <https://shutr.bz/3Cb2XV8>. Acesso em: 29 mar. 2021.
O	 cristianismo	 Oriental,	 atualmente,	 compreende	 quinze	 igrejas	 diferentes,	
concentradas	em	sua	maioria	no	Leste	da	Europa	(SHELLEY,	2004).	Cada	uma	tem	um	
patriarca	responsável	por	uma	determinada	área.	Elas	se	diferem	pela	forma	da	missa	e	
cultura.	Uma	das	características	que	as	unem	é	a	importância	que	elas	dão	aos	ícones.	
E	o	que	seriam	os	ícones?	Eles	se	diferem	das	imagens	e	estatuetas	que	encontramos	
na	maioria	das	igrejas	católicas	brasileiras.	Os	ícones,	segundo	Shelley,	são:
[...]	caracterizados	pela	auréola	dourada	em	cima	de	sua	cabeça.	Eles	
são	fundamentais	para	se	entender	a	ortodoxia.	O	crente	ortodoxo	
que	entra	em	sua	igreja	para	assistir	a	um	serviço,	por	exemplo,	vai	
primeiro	ao	iconostasis,	a	parede	de	quadros	que	separa	o	santuário	
da	nave.	Lá,	ele	beija	os	 ícones	antes	de	tomar	acento	em	meio	à	
congregação	(SHELLEY,	2004,	p.	162).
Vemos	como	os	ícones	são	fundamentais	para	os	ritos	em	uma	igreja	Oriental.	
Nessa	perspectiva,	assim	como	os	seres	humanos	são	a	 imagem	de	Deus,	o	homem	
teria,	então,	o	ícone	de	Deus	nele	(SHELLEY,	2004).	A	ideia	Ocidental	é	de	que	a	imagem	
de	 Cristo,	 que	 foi	 o	 homem	perfeito,	 seja	 restaurada	 entre	 os	 homens,	 por	meio	 da	
igreja,	que	é	invisível.	Nisso,	a	teologia	do	Oriente	se	difere	da	do	Ocidente,	pois,	para	a	
igreja	romana,	quando	um	fiel	comete	um	pecado,	ele	faz	as	devidas	penitências	que	o	
padre,	na	confissão,	lhe	orienta,	e	completa	sua	“sentença”	pagando	no	purgatório,	até	
alcançar	a	salvação	(SHELLEY,	2004).
Outra	diferença	importante	entre	as	duas	igrejas	diz	respeito	ao	posicionamento	
do	 imperador	 Constantino	 e	 sua	 conversão.	 Para	 os	 ocidentais,	 ele	 fora	 um	 marco	
extremamente	 positivo,	 pois	 o	 cristianismo	 deixou	 de	 ser	 perseguido	 e	 se	 aliou	 ao	
Estado.	Já	para	os	orientais,	essa	aliança	com	o	Estado	não	trouxe	benefícios,	pois	a	
religião	não	era	mais	 livre	dogmaticamente	como	no	mundo	Antigo,	tendo	que	fazer	
alianças	e	barganhas	com	os	imperadores	(SHELLEY,	2004).
 
38
Com	a	mudança	da	capital	de	Roma	para	Constantinopla,	a	igreja	lá	instalada	
passou	 a	 conceber	 que,	 assim	 como	 Jerusalém	 havia	 deixado	 de	 ser	 o	 centro	 do	
cristianismo,	 passando	 a	 ser	 Roma,	 agora,	 Roma	 deixara	 de	 ser	 o	 centro	 religioso,	
passando	a	ser	Constantinopla.	Era	assim	que	a	igreja	Oriental	se	via	no	contexto	cristão	
(SHELLEY,	2004).
Em	Bizâncio,	no	governo	de	Justiniano	 (527-565),	uma	mudança	 importante	
ocorreu.	Ele	outorgou	para	si	o	título	de	cesaropapista,	ou	seja,	ele	possuía	o	poder	de	
“césar”,	imperador	e	de	“papa”,	em	claro	embate	com	a	igreja	Ocidental.	Ele	impulsionou	a	
arte	bizantina,	de	uma	forma	que	se	afastava	dos	modelos	Ocidentais.	Segundo	Shelley	
(2004,	p.	166),	Justiniano	“definia	a	missão	do	pio	imperador	como	a	‘manutenção	da	
fé	cristã	em	sua	pureza	e	a	proteção	da	Sagrada	 Igreja	Católica	e	Apostólica	contra	
qualquer	perturbação’”.	
O	 rompimento	 definitivo	 entre	 a	 igreja	 Ocidental,	 também	 conhecida	 como	
a	 parte	 latina,	 e	 a	Oriental,	 conhecida	 como	grega,	 só	 ocorreu	 em	 1054,	 quando	 o	
mensageiro	 do	 papa	 deu	 a	 excomunhão	 para	 o	 patriarca	 de	 Constantinopla.	 Em	
retaliação,	o	patriarca	também	expediu	a	excomunhão	para	o	papa	(HURLBUT,	2007).	
Portanto,	 esse	 episódio	marcou	 a	 ruptura	 que	 ficou	 conhecida	 como	 o	 “Cisma	 do	
Oriente”,	surgindo	então	a	Igreja	Católica	Apostólica	Romana,	com	sede	em	Roma	e	a	
Igreja	Ortodoxa,	com	sede	em	Bizâncio.
5 OS MONASTÉRIOS: A FUGA DO MUNDO
Os	 monastérios	 cristãos	 tiveram	 origem	 no	 final	 da	 Idade	 Antiga	 e	 se	
consolidaram	como	uma	prática	cristã	na	 Idade	Média.	A	figura	do	eremita,	ou	seja,	
aquele	 que	 vivia	 uma	 vida	 acética,	 em	 busca	 de	 uma	 vida	 separada	 do	 mundo	
cotidiano,	geralmente	retirando-se	em	direção	ao	deserto,	surgiu	principalmente	no	
Egito,	 (SHELLEY,	2004).	Para	a	tradição	cristã,	Antônio,	nascido	por	volta	de	250,	é	
considerado	o	primeiro	monge,	que	“aos	20	anos	de	idade,	distribuiu	seus	bens	e	logo	
passou	a	viver	solitariamente	em	uma	sepultura”	(SHELLEY,	2004,	p.	133).	Após	ele,	
outros	seguiram	seu	exemplo	em	diversas	partes.	
A	partir	disso,	mudanças	aconteceram	e,	“por	volta	do	ano	320,	um	ex-soldado	
chamado	Pacômio	 instituiu	o	primeiro	monastério	cristão	 (SHELLEY,	2004,	p.	 134).	A	
ideia	era	fazer	reunir	os	que	sentissem	tal	vocação	e,	assim,	pudessem	viver	juntos.	
Pacômio	 foi	 responsável	 por	 estabelecer	 um	 regramento	para	 os	monges,	 com	
muita	oração,	trabalho	e	disciplina,além	disso,	todos	deveriam	se	vestir	da	mesma	forma	
(SHELLEY,	 2004).	Tal	 estilo	 de	vida	monástica	ficou	conhecido	 como	cenobitismo.	 Essa	
nova	forma	de	ascetismo	propiciou	que	as	mulheres	também	optassem	por	essa	forma	de	
vivenciar	o	cristianismo.	Segundo	Shelley	(2004),	foi	a	partir	daí	que	o	cristianismo	em	geral	
viu	a	vida	monástica	como	algo	moderado,	e	não	com	a	radicalidade	dos	primeiros	ascetas.
39
Para	ingressarem	nesse	estilo	de	vida,	os	monges	deveriam	fazer	os	votos	de	
“pobreza,	castidade	e	obediência”	 (SHELLEY,	2004,	p.	 135).	A	 ideia	era	se	separar	da	
família,	 dos	 amigos,	 do	 conforto,	 para	 poder	 se	 conectar	 a	 Deus,	 em	 um	 autoexílio,	
tendo	em	vista	usar	de	meios	que	a	cristandade	em	geral	não	usaria,	como	o	autoflagelo	
(GOMES,	2001,	p.	87).	
Outro	 personagem	 importante	 para	 mudanças	 na	 forma	 de	 vida	 nos	
monastérios	 foi	 Benedito,	 que,	 em	 529,	 fundou	 a	 ordem	 dos	 Beneditinos.	 Ele	 foi	
responsável	por	fazer	um	sistema	de	regras	que	ficou	famoso	por	vários	monastérios	
na	Europa.	A	ideia	dele	era	trazer	a	disciplina	e	mudar	a	forma	com	que	alguns	monges	
eram	vistos,	de	maneira	indigna	(SHELLEY,	2004).	Quem	liderava	o	monastério	era	o	
abade	e	todos	deviam-lhe	obediência.
O	 monastério	 beneditino	 que	 fosse	 sincero	 no	 cumprimento	 dos	
propósitos	de	seu	fundador	era	um	‘pequeno	mundo	m	si	mesmo,	em	
que	os	monges	viviam	uma	vida	 intensa,	mas	não	sobrecarregada,	
que	 compreendia	 cultos,	 trabalho	 intenso	 na	 oficina	 e	 no	 campo,	
e	 leitura	 séria’.	 Cada	monastério	 beneditino,	 portanto,	 incluía	 uma	
biblioteca;	 e	 apesar	 do	 próprio	 Benedito	 não	 ter	 se	 pronunciado	 a	
respeito	dos	clássicos,	os	monges	beneditinos	copiaram	e	leram	as	
mais	importantes	obras	da	literatura	da	Antiguidade	Latina.	Devemos	
a	eles	a	preservação	das	obras	dos	fundadores	da	igreja	latina	e	as	
obras	primas	da	literatura	romana	(SHELLEY,	2004,	p.	138).
Foi	 nos	 monastérios	 que	 a	 cultura	 literária	 no	 medievo	 foi	 conservada.	 Os	
monges	foram	responsáveis	por	guardar,	preservar	e	copiar	os	textos	da	Antiguidade.	
Os	scriptorium	eram	verdadeiras	bibliotecas	usadas	pelos	monges	copistas.	Também	
foram	os	monges	responsáveis	por	criar	a	notação	musical,	por	meio	de	regras	rígidas.	
Se	hoje	podemos	conhecer	a	música	a	partir	da	 Idade	Média,	devemos	agradecer	ao	
trabalho	dos	monges	medievais.	
Segundo	 Estrada	 (2005),	 entre	 os	 séculos	 VIII	 e	 IX,	 os	 monastérios	 eram	
concedidos	como	feudos,	e	os	serviços	feudais	eram	cobrados.	Aos	poucos,	o	papado	
foi	conseguindo	doações	de	terras,	o	que	fez	com	que	os	monastérios	ficassem	livres	
da	dependência	feudal.
Outra	 ordem	 religiosa	 criada	 no	 período	medieval,	 que	 serviu	 para	melhorar	
a	 questão	 da	 disciplina	 beneditina,	 foi	 a	 dos	 cistercienses	 (1098).	 Seu	 criador	 foi	
São	 Roberto	 e	 dedicou-se,	 sobretudo,	 às	 artes	 e	 às	 cópias	 de	manuscritos	 antigos	
(HURLBUT,	2007).	Além	dela,	os	franciscanos,	ordem	fundada	por	Francisco	de	Assis	em	
1209,	teve	bastante	relevância	no	cenário	medieval	(HURLBUT,	2007).	Por	pregar	que	
a	igreja	deveria	ser	pobre,	ela	esteve,	inclusive,	sob	a	mira	papal,	porém,	conseguiu	se	
firmar	na	igreja.	Foi	uma	ordem	que	se	propagou	rapidamente	pela	Europa.	Sua	ênfase	
maior	era	o	cuidado	com	os	outros,	principalmente	com	os	pobres.
40
Em	 1215,	 foi	 erigida	a	ordem	dos	dominicanos,	 que	teve	como	fundador	São	
Domingos.	 Tanto	 os	 franciscanos	 quanto	 os	 beneditinos	 ficaram	 conhecidos	 como	
ordens	mendicantes,	pois	seu	sustento	vinha	de	esmolas	que	lhes	eram	dadas.	Além	
disso,	 ambas	 as	 ordens	 não	 se	 rendiam	 à	 vida	 reclusa	 dos	 monastérios,	 mas	 sim	
andavam	à	 procura	 de	 converter	 pessoas	 e	 de	 enfrentar	 o	 que	 a	 igreja	 considerava	
heresia	(HURLBUT,	2007).
6 A REFORMA MONÁSTICA E A REFORMA GREGORIANA 
Caro	acadêmico,	como	vimos	anteriormente,	a	 igreja	enfrentava	um	problema,	
pois	os	senhores	feudais	acabavam	exercendo	influências	sobre	os	monastérios,	já	que	
muitos	deles	eram	parte	dos	feudos.	Além	disso,	as	lutas	entre	império	e	o	papado	eram	
intensas,	pois,	segundo	Estrada	(2005),	o	papa	era	subserviente	ao	imperador	pelos	laços	
da	suserania	e	vassalagem.	Porém,	o	papa	possuía	a	maior	parte	da	Itália,	o	que	gerava	
confrontos	diretos	entre	os	poderes	religioso	e	civil.	O	principal	problema	ocorria	porque	
o	 imperador	 queria	 interferir	 nas	 questões	 religiosas,	 inclusive	 na	 sucessão	 papal,	 na	
indicação	dos	bispos,	entre	outras	questões.	Assim,	tanto	os	monges	quanto	o	papado	
procuraram	meios	para	se	livrar	da	subserviência	do	imperador	e	dos	senhores	feudais.
Em	 910,	 a	 ordem	 dos	 Beneditinos	 de	 Cluny,	 cidade	 francesa,	 começou	 a	
questionar	a	subserviência	da	igreja	aos	leigos,	como	os	imperadores	e	senhores	feudais.	
Eles	acreditavam	que	deveriam	ser	subservientes	somente	ao	papado.	Eles	desejavam	
[...]	a	abolição	da	simonia,	a	compra	ou	venda	de	ofício	religioso	[...].	
Certas	300	casas	cluníacas	foram	libertadas	do	controle	leigo	e,	em	
1059,	 o	 próprio	 papado	 despediu-se	 da	 interferência	 secular	 com	
a	 criação	do	Colégio	dos	Cardeais,	 que,	 daquela	 época	em	diante,	
passou	a	eleger	os	papas	(SHELLEY,	2004,	p.	203).	
Com	essa	decisão	sobre	a	eleição	papal,	a	interferência	do	imperador	nesse	quesito	
foi	abolida.	No	século	XI,	subiu	ao	papado	Gregório	VII	 (1073-1085),	e	ele	foi	responsável	
por	dar	continuidade	às	mudanças	na	igreja,	as	quais	ficaram	conhecidas	como	a	“reforma	
gregoriana”.	Com	relação	às	mudanças,	Estrada	sintetiza:
O	papa	é	o	único	a	ter	o	direito	de	usar	insígnias	imperiais,	de	que	lhe	
beijem	os	pés	todos	os	príncipes,	de	depor	imperadores	e	de	desligar	
o	juramento	de	fidelidade	dos	súditos	dos	maus	príncipes.	Á	sede	de	
São	Pedro	foram	submetidos	todo	principado	e	todo	poder	do	mundo	
Foi no período Medieval que surgiram as Universidades. Inicialmente 
vinculadas às igrejas cristãs, sua base de ensino era o latim, grego, filosofia, 
teologia e música.
NOTA
41
Há muitos filmes ambientados no mundo Medieval. Assista ao filme Irmão 
sol, irmã lua, de Franco Zeffirelli, o qual conta a história dos primeiros anos 
da vida de São Francisco de Assis.
NOTA
inteiro.	 Consequentemente,	 Gregório	 VII	 depôs	 e	 excomungou	 o	
imperador,	 fomentou	 os	 vínculos	 de	 vassalagem	 de	 numerosos	
reinos	com	Roma,	dentre	eles	o	da	Espanha	e	proibiu	que	qualquer	
cargo	eclesiástico	fosse	outorgado	por	um	leigo	[...]	O	papa	não	pode	
ser	julgado	por	ninguém,	ninguém	pode	apelar	de	suas	decisões	e	os	
assuntos	importantes	de	cada	igreja	devem	ser	apresentados	a	ele,	
pois	a	igreja	romana	nunca	errou	e,	segundo	a	Escritura,	nunca	irá	se	
equivocar	(ESTRADA,	2005,	p.	476-478).
Perceba,	acadêmico,	que	a	igreja	pretendia,	cada	vez	mais,	influenciar	os	reinos	
e	não	ser	influenciada.	Essas	reformas	promovidas	pelo	papa	Gregório	VII	ajudaram	a	
consolidar	o	poder	religioso	na	parte	Ocidental	da	Europa.	A	partir	disso,	a	igreja	ficou	
mais	forte	para	negociar	com	os	futuros	reis	alianças	nas	quais	ela	se	beneficiaria	e,	
em	contrapartida,	ajudaria	a	sustentar	o	poder	real	perante	o	povo,	ou	seja,	“a	ordem,	
a	justiça	e	a	submissão	a	Deus	passava	pela	obediência	ao	papa,	que	transformou	em	
critério	eclesiológico	absoluto”	(ESTRADA,	2005,	p.	478).	A	ideia	de	Gregório	VII	era	que	
toda	a	cristandade	estivesse	sob	os	auspícios	do	papa,	pois,	segundo	ele,	o	poder	papal	
era	 superior	 aos	 dos	 reis	 e	 imperadores	 (SHELLEY,	 2004).	 Em	 1122,	 um	 documento	
importante	resolveu	a	questão	entre	imperadores	e	o	papa,	foi	a	Concordata	de	Worms.	
Agora,	“a	igreja	mantinha	o	direito	de	eleger	a	autoridade	de	um	ofício	eclesiástico,	mas	
apenas	na	presença	do	imperador	ou	de	seu	representante”	(SHELLEY,	2004,	p.	204).	A	
Igreja	e	o	Estado	buscaram	andar	juntos,	tentando	resolver	seus	atritos,	para	que	ambos	
os	poderes	fossem	aceitos	e	obedecidos	pelos	súditos.
Então,	 caro	 acadêmico,	 a	 hierarquia	 e	 a	 força	 que	 o	 papa	 possui	 hoje	 no	
segmentodo	catolicismo	romano	foram	obtidas	em	um	longo	processo	de	negociações,	
entraves	e	discordâncias.	Abordaremos,	ainda,	nos	próximos	subtópicos,	outros	conflitos	
de	reinos	que	não	aceitaram	o	domínio	de	Roma	em	suas	questões	religiosas.	Vemos,	
com	isso,	que	a	autoridade	papal	foi,	durante	muitos	anos,	contestada.	Porém,	ela	se	
manteve	firme	e	é	aceita	atualmente	de	uma	forma	mais	pacífica	dentro	do	catolicismo.	
Outro	ponto	importante	que	devemos	chamar	a	atenção	aqui	é	a	relação	entre	Igreja	e	
Estado.	Na	atualidade	da	cultura	Ocidental,	os	países	primam	pela	democracia	e	pelo	
Estado	laico,	que	seria	a	separação	entre	religião	e	governo.	Porém,	no	período	Medieval,	
não	existiam	tais	ideias.	Os	poderes	temporal	e	religioso	viviam	de	desentendimentos,	
disputas	e	alianças.	O	processo	da	tentativa	de	separar	religião	e	Estado	só	começou	a	
acontecer	a	partir	da	Revolução	Francesa,	que	estudaremos	no	terceiro	tópico.
42
7 A MÚSICA NA IGREJA
Os	ritos	em	vigor	na	Igreja	Romana	foram	se	constituindo	no	decorrer	dos	séculos.	
Em	sua	construção,	encontramos	a	colaboração	de	várias	culturas,	notadamente	a	judaica	
e	a	greco-romana.	Aos	poucos,	a	maneira	própria	de	se	celebrar	foi	se	cristalizando.	Com	
o	passar	do	tempo,	a	Igreja	passou	a	apresentar	os	ritos	aprovados,	publicados	em	livros	
sob	sua	autoridade,	já	mesmo	nos	primeiros	séculos	do	cristianismo.	
FIGURA 2 – EXEMPLO DE CANTOCHÃO
FONTE: <https://shutr.bz/3CbC4Qy>. Acesso em: 29 de mar. 2021
Na	 Figura	 2,	 temos	 um	 exemplo	 de	 partitura	 de	 canto	 gregoriano,	 também	
chamado	de	cantochão,	ou	“canto	do	chão”,	por	apresentar	somente	uma	linha	melódica.	
É	interessante	notar	a	presença	do	latim,	que	é	a	língua	oficial	da	igreja	católica	ainda	na	
atualidade.	Outro	elemento	que	chama	a	atenção	é	a	iluminura.	Esse	tipo	de	ilustração	
era	muito	comum	nos	monastérios.	Percebemos,	também,	a	forma	da	escrita	musical	
que	deu	origem	à	partitura	atual.
O	 canto	 gregoriano	 foi,	 durante	muito	 tempo,	 considerado	 o	 canto	 oficial	 da	
Igreja	Católica.	Em	sua	composição	havia	um	arcabouço	teológico,	pois	ele	não	estava	
na	missa	apenas	para	deixá-la	mais	bonita.	O	canto	 litúrgico	é	parte	constitutiva	do	
próprio	rito	celebrado.	Dessa	forma,	podemos	dizer	que,	no	espírito	 litúrgico	da	Igreja	
Católica,	não	se	canta	“na”	Missa,	e	sim	“a”	Missa.	
Segundo	Henry	Raynor	(1986),	na	história	da	música	no	início	da	Europa	cristã	
a	 Igreja	aparece	como	protagonista.	A	notação	musical,	 inclusive,	passou	a	 ser	 criada	
nos	mosteiros	devido	à	importância	que	a	música	exercia	nas	missas.	Houve,	portanto,	
a	necessidade	de	criar	métodos	de	unificação	do	canto	para	que	pudesse	ser	entoado	
43
corretamente	por	todos.	Os	cânticos	faziam	parte	do	culto	cristão	desde	os	primórdios	
do	cristianismo.	Eles	se	desenvolveram	até	tomar	a	forma	de	uma	espécie	de	melodia	
chamada	cantochão.	Santo	Ambrósio	(339-378)	ajudou	a	elaborar	uma	série	de	regras	
para	manter	um	estilo	adequado	ao	canto	de	hinos	sacros.	A	música	que	obedece	a	essas	
regras	é	chamada	“Canto	Ambrosiano".	Foi	a	primeira	forma	sistematizada	do	cantochão.	
O	Cantochão	é	um	tipo	de	música	vocal,	exclusivamente	eclesiástica,	executada	por	
coros	masculinos	em	uníssono	ou	em	solo,	sem	acompanhamento	instrumental,	durante	a	
celebração	de	cerimônias	religiosas	católicas.	É	uma	música	de	entonações,	sem	compasso	
ou	harmonia	definidos.	Sua	fase	de	apogeu	foi	na	alta	 Idade	Média.	O	papa	Gregório	 I,	o	
Grande	(540-604),	fez	do	cantochão	o	canto	oficial	da	igreja	romana	(canto	Gregoriano),	
sendo	praticado	até	hoje	em	algumas	igrejas.	A	partir	de	então,	o	padrão	da	missa	romana	
tornou-se	o	modelo	da	Europa.	Em	primeiro	lugar,	ele	é	um	canto	em	uníssono.	Isso	era	
extremamente	importante,	pois	havia	uma	necessidade	de	passar	a	 ideia	da	unidade	da	
igreja	católica	representando	o	corpo	de	Cristo	na	terra.	O	canto	deveria	ser	entoado	por	
todos	para	manifestar	não	a	voz	de	um	crente	individual,	mas	de	toda	a	igreja.	Segundo	
Raynor	(1986,	p.	27),	“a	música	deveria	ser	a	voz	de	uma	igreja	universal”.	
O	canto	era	visto	como	um	elemento	de	purificação	da	alma	e	sua	elevação.	Ele	
deveria	 representar	 o	 louvor	 a	Deus	e	 estar	 isento	de	 tudo	que	pudesse	despertar	 os	
sentidos	e	as	paixões	humanas.	A	música	herdada	dos	gregos	e	hebreus	foi	modificada	e	
simplificada,	tirando	os	instrumentos,	tornando-se	monódica.
A	igreja	tendia	a	ver	os	instrumentos	musicais	como	concernentes	a	
cultura	pagã	e	por	tanto,	não	poderiam	fazer	parte	dos	ritos	cristãos.	
A	voz	humana	era	o	único	instrumento	capaz	de	louvar	a	Deus.	[...]	
A	 igreja	 romana	não	 era	 hostil	 apenas	 ao	 uso	 de	 instrumentos	 na	
igreja;	era	hostil	a	todo	instrumento	musical;	procurava	destruir	toda	
a	geração	de	artistas	ambulantes	que	divertiam	o	público	e	tudo	fez	
para	 impedir	a	música	e	danças	seculares.	Tentava	 impor	um	novo	
modo	de	vida	a	um	mundo	pagão	e	não	podia	poupar	esforços	para	
destruir	o	que	restasse	do	passado	(RAYNOR,	1986,	p.	34).
Ao	 longo	 da	 Idade	 Média,	 a	 Igreja	 Católica	 lutou	 de	 todas	 as	 formas	 para	
combater	as	ideias	religiosas	que	iam	de	encontro	às	suas	doutrinas,	para	que,	assim,	
pudesse	se	tornar	hegemônica,	principalmente	no	mundo	europeu.	A	sua	influência	se	
estendeu	a	áreas	como	arquitetura,	pintura,	escultura,	música	e	em	todos	os	espaços	
do	cotidiano.	Para	que	o	cristianismo	católico	obtivesse	uma	adesão	da	população,	era	
de	fundamental	 importância	que	ele	estivesse	presente	nas	mais	diversas	áreas	que	
abrangem	a	vida	do	homem.
Devido	à	expansão	do	cristianismo,	várias	pessoas	que	passavam	a	fazer	parte	
dessa	religião	traziam	para	dentro	da	 igreja	costumes	“mundanos”,	que	 iam	de	encontro	
aos	ideais	católicos.	Era	muito	fácil	para	um	fiel	religioso	entrar	em	contato	com	os	cantos	
profanos,	porque	estes	faziam	parte	das	festas	em	família,	dos	banquetes,	sempre	acom-
panhado	por	muitos	 instrumentos	musicais.	Com	frequência,	os	padres	atacavam	essas	
festas	e	suas	músicas,	pois	as	declaravam	cheias	de	promiscuidade	e	falta	de	moralidade.
44
Danças,	 coros,	 cantos	 pagãos,	 palavras	 desonestas,	 excesso	 de	
orgias	de	toda	a	natureza,	seduções	diabólicas	de	todo	o	gênero:	daí	
vos	conta	do	que	estas	bodas	estão	compostas.	[...]	São	Crisóstomo	
repetirá	 que,	 enquanto	 estão	 cantando	 cantos	 imorais,	 o	 demônio	
é	celebrado	nos	teatros;	frequentemente	os	designará	como	cantos	
satânicos.	Deste	modo,	a	renúncia	ao	diabo	e	a	todas	as	suas	obras,	
que	 o	 cristão	 promete	 na	 fonte	 batismal,	 deve	 incluir	 também	 a	
renúncia	a	estes	espetáculos	e	cantos	(BASURKO,	2005,	p.	121	e	128).		
Outro	fator	relacionado	à	música	dessa	época	e	que	não	devemos	desprezar	é	o	
afastamento	da	mulher	no	meio	musical	da	igreja.	Era	também	uma	forma	de	oposição	
ao	estilo	de	festas	pagãs,	nas	quais	o	coro	feminino	era	bastante	explorado,	vejamos:	
“Decreta-se	que	as	mulheres	não	devem	falar	na	igreja	nem	sequer	em	voz	baixa	nem	
devem	cantar	sozinhas	nem	tomar	parte	das	respostas,	mas	estarão	em	silêncio,	orando	
a	Deus”	(BASURKO,	2005,	p.	55).	A	mulher,	na	concepção	católica,	não	poderia	ocupar	
espaço	algum	no	rito	da	missa.
A	 preocupação	 em	manter	 a	 “pureza”	 do	 culto	 pelos	 padres	 medievais	 não	
existia	apenas	nos	valores	externos	dos	cantos	considerados	profanos,	mas	também	
no	modo	de	cantar	dentro	da	igreja.	O	canto	daria	prazer	aos	fiéis,	porém,	era	necessário	
que	o	foco	do	culto	não	fosse	desvirtuado	pelos	deleites	carnais.
Caro	acadêmico,	percebemos	que,	no	mundo	medieval,	o	canto	deveria	ser	posto	
como	uma	maneira	de	adoração	a	Deus	e,	portanto,	houve	toda	uma	forma	de	explicação	
de	como	esse	canto	deveria	acontecer.	Deveria	estar	afastado	de	valores	“mundanos”,	pois	
a	música,	assim	como	outros	tipos	de	arte	utilizados	pela	igreja	medieval,	deveria	ser	o	canal	
para	adoração	e	não	simplesmente	para	a	contemplação.
8 AS CRUZADAS
Caro	acadêmico,	você	já	deve	ter	ouvido	falar	no	movimento	das	cruzadas,	que	
foi	um	verdadeiro	levante	da	cristandade	contrao	avanço	do	islã	na	região	de	Jerusalém.	
O	 islamismo	é	uma	religião	fundada	por	Maomé	na	 região	da	Arábia,	no	século	VI,	e,	
devido	 ao	 seu	 caráter	 altamente	 proselitista,	 passou	 a	 empreender	 uma	 verdadeira	
jornada	rumo	à	islamização	dos	povos.	
Para se ambientar ao mundo medieval, nada melhor que ouvir alguns 
cantos gregorianos. Para ouvi-los, acesse os seguintes links: 
https://youtu.be/wcCcUEYzGyo.
https://youtu.be/krWODCyGz1Q.
https://www.youtube.com/watch?v=aqsIq2jSvE0.
DICA
45
O	 cristianismo,	 que	 também	 tinha	 um	 caráter	 proselitista,	 entrou	 em	 conflito	
algumas	vezes	 com	 o	 islamismo,	 na	 tentativa	 de	 levar	 cada	 qual	 a	 sua	 religião	 a	 ser	
aceita.	Um	desses	conflitos	ocorreu	por	cerca	de	duzentos	anos	e	ficou	conhecido	como	
Cruzadas,	um	termo	que	fazia	referência	às	cruzes	que	os	combatentes	cristãos	levavam,	
como	uma	lembrança	a	ordem	de	Cristo	de	carregar	a	sua	cruz.
Eliade	 (2011b)	 observa	 que	 esse	 movimento	 teve	 um	 caráter	 escatológico,	
tendo	em	vista	que,	por	ser	Jerusalém	considerada	cidade	santa	que	Cristo	restauraria	
e	chamaria	de	Nova	Jerusalém,	ela	deveria	permanecer	sob	o	domínio	cristão	até	que	
o	Messias	retornasse.	O	autor	também	retoma	a	ideia	dos	iluministas	Hume	e	Voltaire	
que	caracterizaram	esse	movimento	como	“fanatismo	e	loucura”	(ELIADE,	2011b,	p.	95).
As	cruzadas	tiveram	início	em	1095,	quando	o	papa	Urbano	II	ordenou	que	os	
cristãos	pegassem	em	armas	e	 lutassem	contra	os	“invasores”	de	Jerusalém,	cidade	
considerada	 santa	 para	 os	 cristãos,	 pois	 foi	 onde	Jesus	Cristo	 passou	boa	parte	 de	
sua	 vida.	 Foram	 sete	 movimentos	 cruzadísticos	 oficiais,	 porém,	 por	 vezes,	 houve	
movimentações	populares	para	lutar	em	Jerusalém.	
Antes	 mesmo	 que	 a	 primeira	 cruzada	 estivesse	 saindo	 rumo	 ao	 encontro	 dos	
islâmicos,	um	grupo	de	cerca	de	quarenta	mil	pessoas,	 liderados	por	um	monge,	Pedro,	o	
Eremita,	se	dirigiu	ao	oriente	na	tentativa	de	combater	os	“infiéis”.	Porém,	com	uma	população	
sem	vínculos	militares,	a	catástrofe	foi	inevitável,	fazendo	com	que	muitos	dos	cristãos	fossem	
mortos	ou	vendidos	como	escravos	(HURLBUT,	2007).
Segundo	 Hurlbut	 (2007),	 a	 primeira	 cruzada	 oficial	 foi	 a	mais	 exitosa	 das	
sete.	 Além	 de	 realizar	 massacres	 entre	 os	 judeus	 no	 Reno	 (ELIADE,	 2011b),	 com	
cerca	de	275	mil	 guerreiros	 europeus,	 conseguiu	 conquistar	Jerusalém,	 em	 1099,	
quando	 foi	 estabelecido	 um	 governo	 no	 estilo	 feudal.	 O	 reino	 implantado	 ali	 não	
subsistiu	durante	muito	tempo,	e	uma	das	causas	foi	a	distância	do	mundo	europeu	
e	o	cerco	dos	sarracenos.
Outra	cruzada	aconteceu	entre	1147	e	1149,	pois	as	notícias	eram	de	que	os	
sarracenos	estavam	ameaçando	conquistar	Jerusalém	e	que	já	tinham	conseguido	
dominar	cidades	próximas.	Os	intentos	dos	cruzados	não	foram	alcançados,	porém,	
eles	 conseguiram	 adiar	 um	 pouco	 o	 domínio	 de	 Jerusalém	 (HURLBUT,	 2007).	 A	
terceira	cruzada	contou	com	a	liderança	de	imperadores	importantes,	mas	não	teve	
grandes	conquistas.	
Já	a	quarta	cruzada	tomou	um	rumo	bem	diferente,	pois	os	cruzados	se	dirigiram	
para	 Constantinopla	 e	 tomaram	 a	 cidade.	 Cabe	 lembrar	 que,	 a	 essa	 altura,	 já	 havia	
ocorrido	a	divisão	do	cristianismo	e	a	região	de	Constantinopla	não	era	pertencente	ao	
catolicismo	romano.	Segundo	Eliade	(2011b,	p.	97),
46
[...]	os	cruzados,	em	vez	de	tomarem	o	rumo	da	Terra	Santa,	ocuparam	
Constantinopla,	 trucidaram	 parte	 da	 população	 e	 saquearam	
os	 tesouros	 da	 cidade.	 O	 rei	 Balduíno	 de	 Flandres	 é	 proclamado	
imperador	latino	de	Bizâncio,	e	Tomás	Morosini	passa	a	ser	o	patriarca	
de	Constantinopla.
O	 governo	 latino	 nessa	 região	 durou	 cinquenta	 anos	 e,	 após	 sua	 saída,	 o	
império	Bizantino	não	foi	mais	o	mesmo,	o	que	facilitou	a	sua	conquista	posteriormente	
(HURLBUT,	2007).	As	outras	cruzadas	não	obtiveram	o	êxito	que	desejavam.	Aos	poucos,	
o	contato	entre	a	Europa	e	o	Oriente	foi	dando	espaço	à	ampliação	do	comércio,	e	o	
islamismo	se	expandiu	para	outras	regiões.	Além	disso,	o	mundo	feudal	sofreu	fortes	
abalos,	vindo	a	ruir	posteriormente,	dando	lugar	aos	reinos	absolutistas.
9 O GRANDE CISMA PAPAL
O	final	do	século	XVIII	e	início	do	XIV	trouxe	para	a	igreja	romana	uma	disputa	
entre	papas.	Nesse	período,	as	disputas	entre	os	governos	inglês	e	francês	resultaram	
na	eleição	de	dois	papas.	Vamos	entender	como	isso	aconteceu.
De	 acordo	 com	 Shelley	 (2004),	 Eduardo	 I	 estava	 governando	 a	 Inglaterra,	
enquanto	a	França	era	governada	por	Felipe,	o	belo.	Eles	estavam	disputando	entre	si	
territórios	e,	para	conseguirem	ser	bem-sucedidos,	teriam	que	conseguir	mais	dinheiro	
para	as	guerras	e,	nessa	disputa,	cada	qual	teve	a	ideia	de	fazer	com	que	a	igreja	em	
seu	território	pagasse	impostos.	A	igreja	viu	essa	questão	como	uma	afronta	e	o	papa	
ameaçou	os	governantes	de	 excomunhão,	 caso	 fosse	 levada	adiante	 a	questão	dos	
impostos.	Os	governantes	não	se	intimidaram	com	as	ameaças	papais.	Se	a	excomunhão	
ocorresse,	 a	 igreja	 inglesa	não	poderia	 contar	mais	com	a	proteção	que	os	 reis	 lhes	
garantiam	e	as	terras	da	igreja	seriam	confiscadas.	Já	o	governante	francês	proibiu	a	
saída	de	recursos	para	Roma.	O	papa,	então,	não	levou	adiante	a	excomunhão	e	usou	
o	pretexto	do	“ano	santo”	para	continuar	as	relações	cordialmente	com	os	dois	países.
Antes	desse	desentendimento,	o	papa	Bonifácio	VIII	havia	decretado	que	o	ano	de	
1300	seria	comemorativo,	ou	seja,	o	“Ano	Santo”,	devido	a	mais	um	centenário	do	nascimento	
de	Cristo.	Sendo	assim,	esse	ano	em	especial,	seria	concedido	aos	cristãos	o	perdão	total	
dos	pecados,	mas	somente	aos	que	fossem	às	igrejas	em	Roma	de	São	Pedro	e	São	Paulo.	
Essa	peregrinação	atrairia	os	fiéis	e	suas	doações	a	Roma	(SHELLEY	2004).
Porém,	 a	 trégua	 durou	 pouco.	 Em	 1301,	 o	 rei	 francês	 prendeu	 o	 bispo,	 o	
que	 gerou	 um	 conflito	 entre	 o	 papa	 e	 Felipe.	 O	 rei	 convocou	 uma	 assembleia	 e,	
por	meio	 dela,	 garantiu	 apoio	 para	 se	 opor	 ao	papado.	Um	tempo	depois,	 o	Papa	
“Bonifácio	emitiu	a	Unam sanctam,	a	mais	extrema	asserção	do	poder	papal	em	toda	
a	história	da	igreja.	Dessa	vez,	Bonifácio	foi	inquestionavelmente	claro	ao	declarar:	
“É	absolutamente	necessário	que	todo	ser	humano	esteja	subordinado	ao	pontífice	
romano”	(SHELLEY	2004,	p.	246).	
47
O	rei	francês,	em	resposta,	se	uniu	ao	advogado	William	de	Nogaret	e	começou	
a	tramar	retirar	o	papa	do	poder.	Para	isso,	alegou	diversas	coisas:	“ilegalidade	de	sua	
eleição,	 como	 também	 heresia,	 simonia	 e	 imoralidade”	 (SHELLEY	 2004,	 p.	 246).	 Os	
franceses	se	deslocaram	até	o	papa,	que	estava	passando	uns	dias	na	cidade	de	Anagni,	
e	o	prenderam.	Não	se	sabe	se	chegou	a	ser	torturado	pelos	franceses.	
A	população	da	cidade	conseguiu	capturar	o	papa	dos	franceses,	porém,	como	
já	era	muito	idoso,	não	aguentou	o	desgaste	e	morreu.	Foi	escolhido,	então,	um	sucessor	
para	o	trono	papal,	que	morreu	pouco	tempo	depois.	Após	isso,	o	colégio	responsável	pela	
escolha	do	novo	papa	escolheu	um	papa	francês,	o	papa	Clemente	V,	que	não	aceitou	
governar	a	partir	de	Roma,	ficando	em	Avignon,	na	França.	
Alguns	 territórios	 germânicos,	 porém,	 não	 aceitaram	 essa	 mudança	 da	 sede	
papal.	Em	1377,	então,	o	papado	voltou	a	se	instalar	em	Roma,	com	Gregório	XI,	porém,	
assim	que	ele	faleceu,	a	nova	eleição	foi	de	um	papa	 italiano,	apesar	de	a	maioria	dos	
cardeais	 que	 o	 escolheram	 serem	 franceses.	 Essa	 atitude	 teria	 sido	 para	 acalmar	 os	
anseios	dos	romanos,	que	não	tinham	um	papa	de	lá	há	algum	tempo.	
Quando	o	novo	papa	foi	coroado	como	Urbano	VI,	ele	passou	a	tomar	decisões	
consideradas	 ditatoriais,	 “em	 agosto,	 repentinamente,	 os	 cardeais	 informaram	 a	
Europa	 que	 o	 povo	 de	Roma	 forçara	 a	 eleição	 de	 um	 apóstata	 para	 a	 cadeira	 de	
Pedro	e	os	procedimentos,	portanto,	eram	inválidos”	(SHELLEY	2004,	p.	249).
Todavia,	o	papa	eleito	não	se	intimidou	e	escolheu	um	corpo	novo	de	cardeais	
que	o	apoiou.	Em	represália,	os	franceseselegeram	outro	papa,	Clemente	VII,	que	passou	
a	governar	da	cidade	francesa.	A	cristandade	católica	passou,	então,	a	ter	dois	papas.	
Esse	período	ficou	conhecido	como	Grande	Cisma	do	Papado:	 “Cada	papa	tinha	seu	
próprio	Colégio	de	Cardeais,	garantindo,	dessa	forma,	a	escolha	papal	de	seu	agrado.	
Cada	 papa	 alegava	 ser	 o	 verdadeiro	Vigário	 de	 Cristo,	 com	 o	 poder	 de	 excomungar	
qualquer	um	que	não	o	 reconhecesse”	 (SHELLEY	2004,	 p.	 249).	 Essa	 situação	 fez	 a	
Europa	se	separar	no	quesito	de	qual	papado	iria	apoiar	ou	obedecer,	se	o	que	estava	
em	Roma	ou	em	Avignon.
Para	 acabar	 com	 essa	 duplicidade	 de	 papas,	 foi	 proposto	 um	 concílio	 geral	
em	1395.	Essa	postura	gerou	outro	debate,	pois	somente	o	papa	poderia	convocá-lo.	
Somente	em	1409	foi	que	os	cardeais	concordaram	que	deveria	ser	feito	o	concílio	e	
acabaram	por	decidir	que	os	dois	papas	deveriam	ser	depostos.	
Eles	escolheram	outro	nome	para	o	cargo,	o	Papa	Alexandre	V.	Todavia,	os	dois	
papas	se	recusaram	a	abandonar	seus	postos,	ficando	então	a	 igreja	com	três	papas	
(SHELLEY,	2004).	Para	resolver	essa	nova	situação,	outra	reunião	foi	convocada:
48
Em	1414,	o	santo	 imperador	romano	promoveu	na	cidade	alemã	de	
Constance	a	mais	expressiva	reunião	da	igreja	de	sua	época.	Mesmo	
a	 igreja	ortodoxa	grega	enviou	 representantes.	Pela	primeira	vez	a	
votação	 aconteceu	 em	 bases	 puramente	 nacionais.	 No	 lugar	 de	
tradicional	 assembleia	 de	 bispos,	 o	 concílio	 incluiu	 representantes	
leigos	 e	 foi	 organizado	 como	 uma	 convenção	 de	 “nações”	 (alemã,	
italiana,	francesa	e	inglesa;	a	espanhola	entrou	depois).	Cada	nação	
tinha	 um	voto.	 [...].	 Por	 fim,	 em	 1417,	 o	 concílio	 conseguiu	 que	 um	
titular	papal	fosse	posto	de	 lado,	depôs	outros	dois	e	escolheu	um	
novo	Vigário	de	Cristo,	Martinho	V	(SHELLEY	2004,	p.	251).
A	decisão	do	Concílio	de	Constance	recolocou	um	papa	como	governante	da	igreja,	
porém,	o	papa	Martinho	V	passou	a	ser	contra	a	ideia	do	Concílio	de	ser	um	órgão	que	tirasse	
o	poder	do	papado.	A	ideia	era	de	que	haveria	reuniões	do	Concílio,	o	que	não	foi	aceito	pelo	
papa	e,	considerado	heresia	(SHELLEY	2004,	p.	251).
10 OS PRINCIPAIS PENSADORES CRISTÃOS MEDIEVAIS 
Caro	 acadêmico,	 trataremos	 agora	 brevemente,	 dos	 principais	 pensadores	
cristãos	do	período	medieval.	Aqui	é	o	ponto	de	partida	para	que	você	pesquise	mais	a	
respeito	desses	homens	e	suas	influências	para	a	cristandade.
Começaremos	essa	 jornada	expondo	Anselmo	de	Aosta	(1033-1109),	também	
conhecido	como	Anselmo	de	Bec,	Anselmo	de	Cantuária,	Santo	Anselmo	ou	como	o	
segundo	Agostinho.	
Nascido	na	 região	da	 atual	 Itália,	 foi	 bispo,	monge,	 abade	e	primaz	na	 igreja	
inglesa.	 Por	 questões	 políticas	 travadas	 contra	 o	 imperador,	 sofreu	 exílio	 por	 alguns	
anos	(HURLBUT,	2007).	Sua	principal	contribuição	foi	o	pensamento	“conhecido	pelos	
escolásticos	como	argumento	único	(argumentum unicum)	ou	simplesmente	razão	de	
Anselmo	(ratio Anselmi)”	(STREFLING,	2009,	138).	
Santo	 Anselmo	 continuou	 e	 desenvolveu	 o	 método	 rigoroso	 de	
Lanfranco,	utilizando	largamente	a	dialética	na	exposição	da	doutrina	
revelada	 em	 obediência	 ao	 princípio	 augustiniano	 da	 fé	 à	 procura	
da	 inteligência	(fides	quaerens	 intellectum).	A	sua	síntese	doutrinal	
impõe-se	 na	 história	 do	 pensamento,	 tanto	 pela	 variedade	 dos	
temas	abordados	-	inteligência	da	fé,	existência	e	atributos	de	Deus,	
criação,	 rectidão,	 verdade	 e	 justiça,	 graça	 e	 liberdade	 etc.,	 como	
pela	 profundidade	 e	 originalidade	 com	que	 são	 estudados.	Toda	 a	
sua	obra	 reflete	o	esforço	do	crente	que	procura	descobrir	o	 rosto	
de	Deus	 tanto	 no	mistério	 da	 sua	vida	 íntima	 como	nas	 criaturas,	
que	são	sua	imagem	ou	ainda	nos	acontecimentos	providenciais	da	
história.	A	palavra	de	Deus	é	assumida	como	fonte	primeira	e	critério	
último	de	toda	a	especulação	anselmiana	[...]	(FREITAS,	2008,	p.	3).
Além	 de	 consagrado	 filósofo,	 Anselmo	 foi	 importante	 também	 nas	 questões	
monásticas.	Assumiu	a	função	de	arcebispo	da	Cantuária	e	tentou	promover	uma	maior	
liberdade	para	a	Igreja	inglesa.	Essa	postura	lhe	reservou,	inclusive,	o	exílio.
49
Outro	pensador	 importante	desse	período	foi	Pedro	Abelardo	(1079-1142).	Além	
de	se	dedicar	à	teologia	e	à	filosofia,	“pode	ser	considerado	o	fundador	da	Universidade	de	
Paris,	que	foi	a	mãe	das	universidades	europeias”	(HURLBUT,	2007,	p.	172).	Foi	professor	
e	chegou	a	ser	abade.	Quanto	aos	escritos,	foram	muito	importantes	no	campo	da	lógica.
O	uso	crítico	da	filosofia	associado	à	leitura	teológica	contribui	para	
uma	boa	compreensão	da	verdade	frente	às	realidades	não	cristãs.	
Abelardo	defende	o	uso	das	Sagradas	Escrituras	e	dos	escritos	dos	
pais	da	igreja	contra	o	discurso	meramente	retórico	imposto	aos	fiéis	
por	muitos	religiosos.	Os	escritos	dos	santos	seriam	para	ele	modelos	
inteligentes	e	maduros	de	escrita	(DIEBE,	2014,	p.	19).
Além	de	escritos	filosóficos	relacionados	à	lógica,	Abelardo	foi	responsável	por	
obras	de	teologia,	ética	e,	também,	poemas.	Todavia,	a	forma	de	Abelardo	ensinar	não	
foi	bem-vista	em	certo	momento	de	sua	vida,	o	que	lhe	rendeu	duas	condenações	em	
concílios	(DIEBE,	2014)	
Como	último	pensador	dessa	lista,	devemos	destacar	a	importância	de	Tomás	
de	Aquino	(1225-1274).	Italiano,	Aquino	fez	parte	da	ordem	dos	dominicanos	e	foi	o	mais	
importante	representante	do	pensamento	escolástico.	Este	movimento	passou	a	reger	
as	ideias	da	igreja	no	medievo	e	se	baseava	nas	ideias	de	Aristóteles.	
O	pensamento	de	Aquino	divergiu	do	pensamento	de	Agostinho	de	Hipona,	que	
se	baseava	mais	nas	 ideias	de	Platão.	 “Ele	foi	chamado	de	 ‘doutor	universal’,	 ‘doutor	
angélico’	e	 ‘príncipe	da	Escolástica’”	 (HURLBUT,	2007,	p.	 173),	e	sua	forma	de	pensar	
acabou	influenciando	a	igreja	nesse	momento,	superando	o	pensamento	agostiniano.	
Dentro	da	ordem	dos	dominicanos,	Aquino	atuou	em	cargos	importantes,	ajudando,	
inclusive,	nos	estudos	da	Ordem,	chegando	a	ser	assessor	da	cúria.	Durante	o	período	que	
ministrava	aulas,	pensando	em	auxiliar	aos	alunos	para	terem	uma	melhor	compreensão	da	
teologia,	escreveu	o	que	passou	a	ser	sua	obra	mais	conhecida,	a	Summa theologiae.	Sua	
produção	foi	vasta,	sendo	um	dos	teólogos	que	mais	escreveu.	Suas	principais	obras	foram	
compostas	 de	 sínteses	 teológicas,	 questões	 disputadas,	 comentários	 bíblicos,	 tratados,	
comentários	sobre	o	pensamento	de	Aristóteles,	dentre	outras	 (BONI,	2018).	Ao	final	do	
tópico,	você	encontrará	um	excerto	de	uma	das	obras	de	Tomás	de	Aquino.
Um filme clássico sobre o período Medieval é Em nome de Deus, de 1988, 
com direção de Cliver Donner. O filme conta a história de Pedro Abelardo, 
que teve grande importância para a universidade medieval.
Disponível em: https://bit.ly/3zXg26p. Acesso em: 15 jun. 2021.
DICA
50
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 O	poder	e	a	autoridade	que	o	papa	tem	no	catolicismo	atual	é	resultado	de	discussões	
e	conflitos.
•	 	Foi	na	Idade	Média	que	o	cristianismo	sofreu	seu	primeiro	rompimento,	o	Cisma	do	
Oriente.
•	 Ocorreu	 um	movimento	 de	 ampliação	 dos	monastérios	 e	 o	 surgimento	 de	 novas	
ordens	religiosas	católicas.
•	 A	expansão	do	cristianismo	entre	os	povos	“bárbaros”,	formando	novas	comunidades	
cristãs,	principalmente	na	Europa.
•	 Houve	diversas	lutas	entre	o	cristianismo	e	o	islamismo,	principalmente	nas	Cruzadas,	
•	 Os	monastérios	foram	importantes	para	a	salvaguarda	dos	livros	e	desenvolvimento	
musical.
51
1	 Considere	o	seguinte	trecho	do	discurso	do	papa	Urbano	II	no	momento	da	convocação	
da	cristandade	para	lutar	nas	Cruzadas.	“Por	isso	eu	vos	apregoo	e	exorto,	tanto	aos	
pobres	como	aos	ricos	–	e	não	eu,	mas	o	Senhor	vos	apregoa	e	exorta	–	que	como	
arautos	 de	Cristo	vos	 apresseis	 a	 expulsar	 esta	vil	 ralé	 das	 regiões	 habitadas	 por	
nossos	 irmãos,	 levando	uma	ajuda	oportuna	aos	adoradores	de	Cristo.	Eu	falo	aos	
que	estão	aqui	presentes	e	o	proclamo,aos	ausentes,	mas	é	o	Cristo	quem	convoca	
[...].	Se	os	que	forem	lá	perderem	a	sua	vida	durante	a	viagem	por	terra	ou	por	mar	
ou	na	batalha	contra	os	pagãos,	os	seus	pecados	serão	perdoados	nessa	hora;	eu	o	
determino	pelo	poder	que	Deus	me	concedeu	[...]”	(SÁNCHEZ,	2000,	p.	83).	Sobre	o	
movimento	das	Cruzadas,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	 Os	 cruzados	 foram	 pessoas	 que	 lutavam	 a	 favor	 do	 fim	 das	 heresias	 que	
assolavam	o	cristianismo	medieval.
b)	(			)	 As	Cruzadas	foram	um	breve	levante	da	cristandade	contra	o	avanço	do	islamismo	
em	Jerusalém,	sem	ter,	contudo,	interferências	mais	sérias	na	Europa	Medieval.	
c)	(			)	 Foi	 um	 movimento	 que	 uniu	 fé,	 política,	 fanatismo	 cristão,	 incentivado	
principalmente	pela	igreja,	na	luta	por	fazer	de	Jerusalém	uma	cidade	cristã,	
se	opondo	ao	avanço	do	islamismo.
d)	(			)	 Oficialmente,	foram	sete	cruzadas	 realizadas	para	a	expulsão	dos	 islâmicos	
da	região	de	Jerusalém.	Todavia,	a	sexta	cruzada	acabou	tendo	um	caráter	
diferenciado,	 pois	 os	 cruzados	 fizeram	 um	 levante	 em	 Constantinopla,	
deixando-a	sobre	o	domínio	dos	latinos.
2	 Os	monastérios	 constituem	uma	 parte	 relevante	 para	 a	vida	 do	 cristianismo.	 Seu	
início	 remonta	 ainda	 a	 Idade	Antiga,	 sendo	que,	 no	período	medieval,	 houve	uma	
ampliação	do	número	de	monastérios	e	de	monges.	Tendo	em	vista	o	que	estudamos	
da	consolidação	da	vida	monástica.	Analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 Os	monastérios	surgiram	no	período	Medieval	e	a	primeira	ordem	criada	foi	a	dos	
franciscanos,	que,	por	seu	cuidado	com	as	pessoas	e	contra	as	riquezas,	se	tornou	
muito	popular	entre	os	pobres.
II-	 O	monastério	na	região	de	Cluny	ajudou	a	igreja	na	reforma	efetuada	no	cristianismo	
medieval,	no	que	diz	respeito	a	interferência	do	poder	secular	nas	questões	da	igreja.
III-	 Os	beneditinos	foram	a	primeira	ordem	monástica,	e	a	que	procurou	levar	seriedade	
ao	movimento	no	seio	da	 igreja.	Porém,	por	disputas	com	as	demais	ordens	que	
surgiram	como	os	franciscanos	e	dominicanos,	ela	foi	extinta	na	Alta	Idade	Média.
AUTOATIVIDADE
52
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	(			)	Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 A	Idade	Média	foi	um	período	muito	intenso	para	a	cristandade.	Ela	foi	responsável	
por	 trazer	 transformações	 profundas	 na	 mentalidade	 europeia,	 de	 se	 relacionar	
com	o	 sagrado.	As	mudanças	 nem	 sempre	 eram	pacíficas,	 pois,	 sempre	 havia	 os	
que	iam	de	encontro	a	elas.	Sendo	assim,	muitas	vezes	debates	e	conflitos	ocorriam	
internamente.	Uma	das	 questões	 bastante	 discutida	 foi	 se	 o	 cristianismo	poderia	
ou	não	usar	imagens	para	representar	Cristo	ou	os	mártires.	Sobre	essas	disputas,	
classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 O	movimento	iconoclasta	se	deu	pela	disputa	entre	as	igrejas	Oriental	e	Ocidental,	
pois,	a	igreja	latina	era	a	favor	do	uso	das	imagens	e	a	igreja	grega	não.
(			)	 O	 imperador	 Leão	 III	 foi	 a	 favor	 dos	 ícones	 nas	 igrejas.	 Ele	 fez	 leis	 para	 que	 os	
iconoclastas	fossem	excomungados.
(			)	 Foi	no	século	IX	que	o	movimento	iconoclasta	foi	condenado	e,	o	uso	das	imagens	
e	ícones	puderam	ser	retomados	e	largamente	usados	nas	igrejas.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	V	–	F	–	F.
b)	(			)	V	–	F	–	V.
c)	 (			)	F	–	V	–	F.
d)	(			)	F	–	F	–	V.
4	 Desde	o	mundo	Antigo	que	o	cristianismo	buscou	uma	unificação	das	suas	 ideias.	
Porém,	as	diferenças	entre	as	igrejas	Oriental	e	Ocidental	foram	se	acentuando,	até	
que	o	rompimento	ocorreu,	causando	o	primeiro	cisma	no	cristianismo.	Explique	os	
principais	motivos	para	o	rompimento	que	ficou	conhecido	como	“Cisma	do	Oriente”:
5	 Temos	na	doutrina	católica	um	conjunto	de	ideias	que	foram	frutos	de	diversos	debates	
até	 que	 fossem	 consolidadas.	 Uma	 das	 questões	 que	 esteve	 presente	 no	 contexto	
medieval	foi	com	respeito	ao	uso	ou	não	de	imagens	e	ícones	nas	Igrejas,	principalmente	
na	crise	Iconoclasta.	Explique	como	essa	questão	foi	resolvida	pela	Igreja:
53
TÓPICO 3 - 
AS HERESIAS MEDIEVAIS E A INQUISIÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Caro	acadêmico,	no	Tópico	2,	nós	vimos	que,	na	mudança	da	cultura	Antiga	
para	a	Medieval,	o	cristianismo	tomou	novos	rumos	para	suas	práticas.	Expandiu	ainda	
mais	seu	campo	de	atuação	e	se	tornou	presente	em	toda	Europa.	Porém,	nem	tudo	
foi	ganho.	O	cristianismo	viu	surgir	uma	nova	religião	que	arrebanhou	países	inteiros,	o	
islamismo,	que	abalou	por	diversas	vezes	a	hegemonia	que	o	cristianismo	tentava	impor.
Todavia,	o	cristianismo,	apesar	da	ruptura	sofrida,	se	consolidou,	principalmente	
com	as	alianças	com	reis,	imperadores	e	senhores	feudais.	Tais	laços	ajudaram	a	religião	
a	ser	imposta	como	única	que	se	deveria	ser	seguida	na	Europa.	Porém,	muitos	povos	
não	eram	tão	receptivos	assim	quanto	a	abdicarem	de	seus	hábitos,	que	o	cristianismo	
considerava	pagãos,	para	viverem	um	cristianismo	de	fato.	Portanto,	mesmo	quando	os	
seus	líderes	aceitavam	o	cristianismo,	mantendo	alianças	com	o	papado,	nem	sempre	a	
população	aceitava	de	bom	grado	mudar	seus	hábitos	religiosos.	Por	vezes,	a	tentativa	
era	de	mesclar	os	costumes	pagãos	com	o	cristianismo.
Tendo	 em	 vista	 tais	 questões,	 estudaremos,	 agora,	 as	 heresias	 medievais	
e	 as	medidas	 que	 Igreja	 católica	 tomou	 para	 combatê-las	 ao	 fundar	 o	 Tribunal	 do	
Santo	Ofício	da	Inquisição.	Conheceremos	as	principais	características	das	heresias	
medievais,	 que	 se	 diferenciavam	 dos	 movimentos	 heréticos	 que	 já	 estudamos	 no	
mundo	Antigo.	Conheceremos	os	pormenores	da	Inquisição	e	como	ela	se	tornou	a	
arma	no	combate	às	heresias.
2 AS HERESIAS MEDIEVAIS
Caro	acadêmico,	temos	procurado	apresentar	a	você,	até	agora,	os	principais	
caminhos	que	o	cristianismo	escolheu	ao	se	portar	como	uma	religião	universal.	Porém,	
um	dos	principais	entraves	encontrados	foram	as	chamadas	heresias.	Já	vimos	que	a	
igreja	tomou	para	si	a	responsabilidade	de	dizer	como	as	escrituras	seriam	interpretadas.	
Quando	 alguma	dúvida	 surgia,	 sínodos	 e	 concílios	 eram	convocados	 para	 resolver	 a	
questão.	Quando	um	grupo	 insistia	em	uma	 ideia	que	não	estava	de	acordo	com	os	
resultados	de	tais	concílios,	ela	acabava	sendo	considerada	heresia.
Devemos,	 primeiramente,	 entender	 que,	 no	 período	medieval,	 a	 heresia	 não	
era	uma	ideia	propagada	por	um	indivíduo.	Ela	até	poderia	começar	com	uma	pessoa,	
porém,	a	forma	de	pensar	deveria	se	espalhar.	Portanto,	era	importante	que	um	grupo	
UNIDADE 1
54
tivesse	levantado	as	ideias	discrepantes.	Outro	ponto	importante	que	devemos	considerar	
ao	estudarmos	essa	temática	é	a	diferença	entre	herege	e	infiel.	O	herege	era	um	cristão,	
porém,	ele	era	tido	como	alguém	que	está	distorcendo	os	ensinos	da	igreja.	Já	o	infiel	era	
alguém	de	outra	religião,	como,	por	exemplo,	os	judeus	e	os	islâmicos	(QUEIROZ,	1988).	
Sendo	 assim,	 para	 ser	 considerada	 herege,	 era	 preciso	 que	 a	 pessoa	 fosse	
batizada.	O	herético,	portanto,	não	era	alguém	que	abandonava	a	fé,	mais	sim	aquele	
que	escolhia	caminhos	diferentes	do	que	lhe	era	religiosamente	imposto.	
Na	 mentalidade	 medieval,	 era	 importante	 que	 as	 pessoas	 seguissem	 as	
ordenanças	da	igreja	para	que	a	ordem	do	mundo	não	fosse	desfeita.	Para	o	clero,	as	
heresias	causavam	uma	quebra	da	ordem	da	autoridade	por	Deus	imposta,	de	obediência	
à	igreja.	O	bom	cidadão	era	aquele	que	não	discutia	com	a	autoridade	que	representava	
Deus	na	terra,	portanto,	era	alguém	que	não	poderia	ter	escolhas	(QUEIROZ,	1988).	Sobre	
as	diferenças	entre	as	heresias	medievais	e	da	antiguidade,	Queiroz	nos	esclarece:
Há	 um	 fator,	 entretanto,	 que	 separa	 completamente	 a	 heresia	
medieval	 da	 antiga.	 A	 heterodoxia	 dos	 primeiros	 séculos	 do	
cristianismo	tendia	a	ser	mais	 intelectualizada,	circunscrevendo-se	
a	 debates	 teológicos	 nos	 meios	 eclesiásticos.	 A	 heresiamedieval	
desencadeia-se	por	razões	de	ordem	moral	e	infiltra-se	em	todos	os	
meios	sociais.	No	entanto,	vários	 itens	de	composição	de	heresias	
antigas	 reaparecem	 na	 Idade	 Média.	 Entre	 eles,	 o	 segredo	 pelos	
sacramentos,	pela	hierarquia	eclesiástica,	pela	cruz,	pelo	casamento,	
pela	carne	(QUEIROZ,	1988,	p.	24).
Entre	 as	 heresias	 antigas	 que	 foram	 revitalizadas	 no	 medievo,	 estavam	 o	
maniqueísmo,	em	1018,	e	o	docetismo,	em	1022,	em	Orleans,	encabeçado	por	clérigos.	
Com	 o	 avanço	 do	 cristianismo	 entre	 os	 povos	 que	 passaram	 a	 ser	 chamados	 de	
europeus,	que	antes	tinham	religiões	diversas,	muitas	ligadas	à	natureza,	e	que	tinham	
padrões	de	comportamento	diferentes	dos	cristãos	que	avançavam,	principalmente	no	
campo	sexual,	a	adesão	ao	cristianismo	ocorreu	como	uma	simbiose.	
Em	 alguns	 momentos,	 ritos	 e	 práticas	 que	 eram	 considerados	 pagãos,	 se	
encontravam	 e	 se	misturavam	 ao	 cristianismo.	 Daí,	 o	 clero	 agia	 para	 “purificar”	 tais	
ambientes,	 nem	que	 seja	 por	meio	 da	 força.	Veremos,	 a	 partir	 de	 agora,	 alguns	 dos	
principais	grupos	considerados	heréticos	nesse	período.
2.1 OS ALBIGENSES OU CÁTAROS
 
Os	cátaros	foram	o	grupo	de	heréticos	medievais	que	mais	conseguiram	fiéis.	A	
propagação	de	suas	ideias	foi	considerada	como	uma	das	mais	perniciosas	que	a	Igreja	
oficial	teve	que	combater.	Com	algumas	influências	gnósticas,	eles	formaram	um	grande	
séquito	e	uma	estrutura	organizacional	que	se	tornou	difícil	para	a	Igreja	combater.	Além	
da	Inquisição,	foram	utilizados	o	exército	e	até	mesmo	cruzadas	contra	eles	(FABEL,	1976).
55
A	igreja	cátara	era	formada	por	um	bispo	e	seus	auxiliares,	os	Crentes,	que	era	a	
maioria	dos	fiéis,	e	os	Perfeitos,	que	eram	os	considerados	de	alto	nível,	pois	já	haviam	
passado	pelo	rito	do	consolamentun,	no	qual	eles	eram	elevados	de	posição	no	grupo.	
Segundo	Fabel	(1976,	p.	41),	“os	Perfeitos	dedicavam-se	à	contemplação	e	esperava-
se	que	mantivessem	o	mais	elevado	nível	moral,	cabendo	aos	Crentes	fornecer-lhes	
alimentos”.	Os	Perfeitos	eram	proibidos	de	quaisquer	relações	sexuais	e	não	poderiam	
ter	nenhum	contato	com	mulher.	Além	disso,	o	casamento	era	considerado	uma	tática	
do	Deus	do	mal	para	prender	as	pessoas	à	terra,	já	que	filhos	seriam	gerados,	o	que	faria	
com	que	a	elevação	da	humanidade	demorasse	ainda	mais.	Se	o	aspirante	a	Perfeito	
fosse	casado,	ele	teria	que	renunciar	sua	esposa	antes	do	rito	(FABEL,	1976).	Todavia,	
aos	Crentes,	a	questão	do	ato	sexual	não	era	proibida,	desde	que	não	gerassem	filhos.	
Constantemente,	a	igreja	católica	acusava	os	cátaros	de	serem	promíscuos,	porque	não	
seguiam	a	mesma	lógica	sexual	que	eles	(QUEIROZ,	1988).
Sobre	sua	doutrina,	apesar	de	haver	diferentes	concepções	entre	os	cátaros,	no	
geral,	eles	criam	que	havia	o	Deus	perfeito	e	bom	e	o	Deus	mal.	Portanto,	o	Deus	bom	
não	poderia	ter	criado	o	mundo,	pois	há	o	mal	no	mundo.	Assim	sendo,	o	nosso	mundo	
foi	criação	do	Deus	mal	(FABEL,	1976),	vejamos:
A	criação	do	homem	era	explicada	da	seguinte	forma:	Lúcibel,	após	ter	
criado	a	terra,	decidiu	povoá-la	e	constituir	uma	milícia	para	combater	o	
deus-bem.	Penetrou	no	céu,	seduziu	alguns	anjos	pela	concupiscência	
e	para	prendê-los	à	terra	deu-lhes	um	corpo.	Depois	disso,	induziu-os	
ao	pecado	carnal,	ligando-os	à	condição	humana.	Possuía	uma	reserva	
de	anjos	decaídos	que	forneciam	alma	a	cada	novo	corpo	que	nascia.	
Do	mesmo	modo	que,	na	doutrina	cristã,	o	homem	estaria	condenado	
desde	o	nascimento;	mas,	segundo	o	catarismo,	o	pecado	original	era	
determinado	pelo	céu	(FABEL,	1976,	p.	53,	54).
Os	cátaros	ainda	eram	contra	os	símbolos	cristãos,	como	a	cruz,	e	criam	que	
Jesus,	em	seu	corpo,	era	apenas	aparente,	já	que,	por	ser	o	enviado	do	Deus	bom,	não	
poderia	pisar	de	fato	nesse	mundo	que	pertencia	ao	Deus	mal.	O	Deus	mal	seria	o	Deus	
do	Antigo	Testamento,	pois,	ele	que	procurou	matar	o	enviado	do	Deus	do	bem,	que	era	
Jesus	(FABEL,	1976).	Também	não	aceitavam	João	Batista,	pois	consideravam-no	filho	
do	diabo	(QUEIROZ,	1988).	Além	disso,	não	concordavam	com	a	 ideia	de	purgatório	e	
infernos,	pois	a	alma	seria	purificada	aqui	mesmo,	mas	só	conquistada	depois	que	não	
fizesse	mais	parte	desse	mundo,	pois	teria	se	livrado	do	mal	que	há	aqui.	
Alguns	 cátaros,	 inclusive,	 cometiam	 suicídio	 para	 poder	 ascender	 mais	
rapidamente,	porém,	não	era	uma	prática	referendada.	Eles	também	criam	na	questão	da	
transmigração	das	almas,	que	ficavam	voltando	à	terra,	podendo	vir	tanto	como	pessoa,	
quanto	como	animais.	Já	os	Perfeitos	eram	aqueles	que	já	haviam	cumprido	seu	tempo	
de	transmigração,	por	isso,	iriam	para	o	céu	(QUEIROZ,	1988).
Posteriormente,	alguns	cátaros	mudaram	de	ideia	quanto	a	Cristo	e	passaram	
a	considerá-lo	 como	Deus	e	humano	 “[...]	 sua	missão	na	 terra	 teria	 sido	 salvar,	 pela	
pregação,	os	anjos	caídos.	Cátaros	moderados	chegavam	até	a	acreditar	nos	milagres	
56
de	Cristo;	os	mais	radicais	viam	nisso	somente	truques	de	magia.	O	único	e	verdadeiro	
milagre	 seria	 o	 despertar	 da	 alma”	 (QUEIROZ,	 1988,	 p.	 55).	 Quanto	 aos	 hábitos	
alimentares,	como	os	cátaros	criam	na	 ideia	da	metempsicose,	até	mesmo	como	na	
forma	animal,	eles	se	abstinham	de	comer	carnes,	pois	acreditavam	que	ela	poderia	
conter	alguma	parte	da	alma	de	alguém,	que	ficaria	presa	no	corpo,	sem	poder	retornar.	
Também	não	se	alimentavam	dos	derivados	de	carne,	porém,	não	tinham	problemas	em	
comer	peixes,	pois	acreditavam	que	eles	eram	gerados	espontaneamente	pelas	águas.	
Quanto	à	questão	do	mandamento	de	 “não	matar”,	 eles	 levavam	tão	a	sério	que	era	
relacionado	aos	animais,	pelo	mesmo	motivo	já	explicado,	pois	eles	poderiam	carregar	a	
alma	de	alguém	(QUEIROZ,	1988,	p.	55).
A	reação	da	igreja	contra	os	cátaros	foi	intensa	e	envolveu	o	exército.	Foram	várias	
investidas	em	diferentes	cidades	e	muitas	pessoas	foram	mortas,	como	relata	Queiroz:
[...]	 em	 1219,	 as	 tropas	 francesas	 massacraram	 5000	 pessoas	
em	 Marmande.	 [...].	 A	 crueldade	 da	 guerra	 era	 extrema.	 Arnoldo	
Aiméry	 escreve	 exultante	 para	 o	 papa,	 narrando	 que	 os	 cruzados,	
na	miraculosa	 captura	 de	 Béziers,	 haviam	matado	 15000	 pessoas	
de	todas	as	 idades	–	a	 igreja	da	cidade,	onde	os	heréticos	haviam	
se	refugiado,	fora	queimada	com	todos	dentro.	Essa	barbárie	tinha	
por	finalidade	assustar	outras	cidades	do	sul	e	forçar	sua	 rendição	
(QUEIROZ,	1988,	p.	69).
 
Após	 vários	 levantes	 e	 ao	 início	 do	 Tribunal	 da	 Inquisição,	 os	 cátaros	 foram	
morrendo	ou	se	rendendo,	e	o	movimento	enfraqueceu	até	chegar	ao	fim.	Temos,	assim,	
o	desfecho	de	um	dos	principais	grupos	que	defendiam	ideias	destoantes	da	ortodoxia	
no	período	Medieval.
2.2 OS VALDENSES
De	acordo	com	Queiróz	(1988),	o	grupo	dos	“pobres	de	Lyon”,	que	ficou	conhecido	
como	 “Valdenses”,	 surgiu	 a	 partir	 das	 ideias	 de	Pedro	Valdês,	 um	homem	 rico	 que	 se	
dedicou	ao	estudo	da	Bíblia	e	disse	ter	sido	“iluminado”	por	ela.	Ele	se	separou	da	mulher,	
deixando	com	ela	parte	das	suas	posses	e	a	outra	parte	ele	usou	para	ajudar	aos	pobres	
em	1173.	Conseguiu	discípulos	e	se	dispôs	a	pregar,	o	que	não	foi	bem-visto	pela	igreja	
pois,	não	tinha	permissão	para	tal.	Foi	expulso	da	cidade	de	Lyon,	apesar	de	ter	pedido	
apoio	ao	papa,	o	que	não	conseguiu.	
O	 movimento	 cresceu	 e,	 segundo	 Falbel	 (1976),	 uniu-se	 ao	 movimento	 de	
tecelões,	os	Humilhados	de	Lombardia,	que	ficava	em	Milão.	Os	que	não	quiseram	unir-
se	aos	Valdenses	formaram	uma	nova	ordem	religiosa.	Os	que	se	uniram	aos	Valdenses	
“foram	excomungados	no	concílio	de	Verona,	juntamente	com	outros	grupos	como	os	
arnaldistas	e	os	cátaros	[...]”	(QUEIROZ,	1988,	p.	29).	
57
Por	 divergências	 internas,	 o	 grupo	 se	 separou	 entre:	 os	 franceses,	 que	 não	
comungavam	de	algumas	questões	referentes	ao	clero,	mas	continuavam	participando	
das	missas,	e	os	italianos	que	não	quiseram	mais	estar	subordinados	a	igreja	(QUEIROZ,	
1988).	A	vertente	italiana	se	difundiu	largamente.	
Os	principais	pontos	da	pregação	dosValdenses	que	eram	vistos	como	heresias	
pelos	católicos	eram:	a	pena	de	morte	não	poderia	ser	aplicada	pelo	Estado;	não	deveriam	
ser	feitos	juramentos,	pois	a	Bíblia	os	condena;	quanto	aos	sacramentos,	estes	poderiam	
ser	feitos	por	 leigos.	 	E,	talvez,	a	assertiva	mais	enfatizada	era:	“a	 Igreja	Romana	não	
é	 a	 Igreja	 de	Cristo”	 (FABEL,	 1976,	 p.	 63).	 Esse	 grupo	 sobreviveu	 às	 perseguições	 e,	
atualmente,	ainda	tem	remanescentes	no	território	italiano,	agora,	como	protestantes	
(HURLBUT,	2007).
2.3 JOHN WYCLIFFE
Wycliffe	(1328-1384)	foi	um	clérigo	inglês	que	começou	a	discordar	de	algumas	
posturas	da	igreja	católica.	Sua	ênfase	foi	dada	principalmente	na	questão	da	autoridade	
da	 igreja	romana	para	com	a	 Inglaterra.	Sua	 intenção	era	que	a	 igreja	 inglesa	tivesse	
mais	autonomia,	chegando	a	chamar	de	anticristos	os	papas	de	Roma	e	Avignon.
Além	disso,	ele	desenvolveu	outras	 ideias	que	foram	de	encontro	a	algumas	
questões	da	doutrina	católica.	Suas	principais	críticas	eram	sobre	a	transubstanciação,	
que,	segundo	a	teologia	católica,	no	momento	eucarístico	os	elementos	do	pão	e	vinho	
se	transformam	no	corpo	e	sangue	de	Cristo.	Já	para	Wycliffe,	a	eucaristia	era	apenas	
simbólica.	Além	disso,	Wycliffe	queria	que	o	rito	da	missa	fosse	mais	simples	e	chegou	
a	traduzir	a	Bíblia	para	o	inglês,	o	que	não	agradou	o	clero	pois,	segundo	a	tradição	da	
igreja,	a	Bíblia	não	deveria	ser	traduzida	para	a	língua	comum	(HURLBUT,	2007).
Wycliffe	 desafiou	 todas	 as	 práticas	 e	 crenças	 medievais:	 perdões	 e	
indulgências,	 absolvições,	 peregrinações,	 a	 adoração	 de	 imagens,	 a	
adoração	dos	santos,	o	tesouro	de	seus	méritos	estarem	nas	reservas	
dos	papas	e	a	distinção	entre	pecado	venial	e	mortal.	Manteve	a	crença	
no	purgatório	e	na	extrema-unção,	embora	admitisse	que	procurara	em	
vão	na	Bíblia	pela	instituição	da	extrema-unção	(SHELLEY,	2004,	p.	257).
Wycliffe	defendia	a	supremacia	das	Escrituras	e	não	dos	escritos	dos	teólogos	
da	 Igreja.	 Segundo	 ele,	 toda	 teologia	 deve	 encontrar	 seu	 respaldo	 na	Bíblia.	As	 ideias	
defendidas	por	Wycliffe	foram	muito	importantes	para	um	movimento	posterior,	a	Reforma	
Protestante,	que	ocorreu	com	Martinho	Lutero,	no	século	XVI.
Inicialmente,	Wycliffe	fora	amparado	pela	nobreza	inglesa,	que	achava	interessante	a	
ideia	de	uma	igreja	mais	nacional.	Quando	suas	críticas	à	ideia	da	transubstanciação	ficaram	
mais	 intensas,	ele	foi	abandonado	por	muitos	nobres.	O	 reitor	da	cidade	de	Oxford,	onde	
ele	ensinava,	o	proibiu	de	proferir	palestras	e,	“o	arcebispo	de	Canterbary,	Willian	Courtenay,	
58
organizou	um	outro	conselho	que	condenou	dez	das	doutrinas	de	Wycliffe	por	considerá-
las	heréticas.	Em	1382,	o	reformador	encontrava-se	completamente	silenciado	em	Oxford”	
(SHELLEY,	2004,	p.	258).	
Antes	do	seu	silenciamento,	ele	enviou	sacerdotes	a	pregar	para	pessoas	mais	
humildes,	obtendo	um	vasto	apoio	nas	comunidades	do	campo.	O	curioso	é	que	a	igreja	
não	levantou	um	processo	inquisitorial	contra	ele,	apenas	foi	afastado	da	universidade.	
Porém,	seus	seguidores	foram	enxotados	de	Orxford,	caso	não	quisessem	abandonar	
as	 ideias	 consideradas	 errôneas.	 Vejamos	 o	 que	 explica	 Azevedo,	 em	 sua	 tese	 de	
doutorado	sobre	Wycliffe:
Por	seu	pensamento	dissonante	da	ortodoxia	católica	ele	é	conhecido	
como	 um	dos	maiores	 filósofos	 e	 teólogos	 de	 sua	 época,	 ou	 então	
como	o	maior	dos	hereges	ingleses	da	segunda	metade	do	século	XIV,	
sendo	que	alguns	dos	que	combateram	as	 suas	 ideias	chegaram	a	
definir	que	desde	o	nascimento	de	Jesus	nenhum	outro	herege	mais	
pernicioso	 teria	 surgido.	 Após	 sua	 morte	 um	 grupo	 de	 seguidores	
de	 suas	 ideias	 continua	 a	 perpetuá-las	 por	 mais	 um	 século,	 são	
os	 chamados	 Lolardos.	 Muito	 embora	 muitos	 autores	 façam	 uma	
diferença	 entre	 ‘Wyclifistas’	 e	 ‘Lolardos’	 uma	vez	 que	 nem	 todos	 os	
seguidores	de	Wycliffe	sejam	Lolardos	(AZEVEDO,	2010,	p.	32,	33).
Wycliffe,	apesar	de	ter	morrido	sem	sofrer	um	processo	inquisitorial,	teve,	posteriormente,	
seus	ossos	desenterrados	e	queimados,	em	uma	ação	da	Inquisição.	Essa	prática	era	comum,	
como	veremos	posteriormente,	quando	tratarmos	do	assunto	referente	à	Inquisição.	As	ideias	
dele	influenciaram	outros,	como	John	Huss,	que	estudaremos	a	seguir,	e	Martinho	Lutero,	sobre	
o	qual	trataremos	nos	próximos	capítulos.
2.4 JOHN HUSS 
Caro	acadêmico,	no	subtópico	anterior,	conhecemos	as	ideias	de	Wycliffe.	Elas	
foram	as	bases	da	pregação	de	John	Huss	(1369-1415),	que	morava	na	Boêmia	e	fazia	
parte	do	Sacro	Império	Romano	Germânico.	Ele	defendia,	dentre	outras	coisas,	a	pobreza	
para	 clero,	 a	 predestinação	 e	 também	 portava-se	 contra	 a	 hierarquia	 eclesiástica	
(SHELLEY,	2004).
Suas	ideias	foram	bem	recebidas	entre	as	camadas	mais	pobres	e	os	artesãos.	
Huss	se	dirigiu	ao	Concílio	de	Constance,	no	qual	 iria	 se	discutir	a	questão	dos	dois	
papas,	e	acabou	sendo	preso	pela	Inquisição.	Após	cerca	de	oito	meses	preso,	sofreu	
como	sentença	a	morte	na	fogueira	(QUEIROZ,	1988).
Após	sua	morte,	que	não	foi	bem	recebida	pelos	seus	seguidores,	o	movimento	
não	acabou.	Segundo	Queiroz	(1988),	o	movimento	hussita	dividiu-se	em	duas	vertentes	
principais:	a	dos	mais	radicais,	que	estavam	em	Praga	e	eram	liderados	por	Nicolau	de	
Dresden	e	João	Zeliv,	e	o	grupo	chamado	de	Calistinos,	ala	mais	moderada.	Eles	ainda	
estavam	ativos	na	época	da	Reforma	Protestante	e,	claro,	se	uniram	ao	movimento.
59
2.5 OS BEGUINOS 
Os	grupos	dos	beguinos,	também	chamados	de	“Irmãos	Pobres	da	Penitência	
da	Ordem	de	São	Francisco”,	tiveram	sérios	embates	com	a	igreja	católica.	O	movimento	
em	questão	defendia	que	a	igreja	deveria	ser	pobre	e	não	somente	andar	com	os	pobres.	
Sua	principal	 fonte	de	 inspiração	 foram	os	escritos	de	Pedro	João	Olivi	 (1248-1298),	
principalmente	os	comentários	sobre	o	livro	bíblico	do	Apocalipse,	que	foi	considerado	
herético	pela	igreja	(FALBEL,	1976).
Nessa	seita,	também	tiveram	espaço	as	mulheres,	chamadas	de	beguinas,	que,	
segundo	Fabel	(1976,	p.	81):	“sob	a	direção	de	uma	mestra,	levavam	uma	vida	em	comum,	
sem	votos	propriamente	ditos,	dentro	de	‘cortes	de	beguinas’,	dedicando-se	a	oração,	ao	
trabalho	manual,	a	assistência	aos	enfermos,	ao	cuidado	dos	cadáveres	e	a	educação	
das	crianças”.	Esse	grupo	teve	origem	ainda	no	século	XII,	espalhando-se	por	algumas	
regiões	 europeias	 como	 França,	 Países	 Baixos,	 dentre	 outros.	 Segundo	 Fabel	 (1976),	
muitas	passaram	a	ser	influenciadas	por	seitas	panteístas,	o	que	provocou	a	perseguição	
contra	elas.	Quanto	àquelas	que	se	mantiveram	com	uma	forma	de	pensar	considerada	
mais	ortodoxa,	a	igreja	permitiu	que	continuassem	funcionando.	Já	com	relação	à	parte	
masculina,	os	beguinos:	
[...]	 surgiram	 por	 volta	 de	 1220	 nos	 Países	 Baixos.	 Atuavam	 na	
assistência	 aos	 enfermos	 e	 no	 sepultamento	 dos	 mortos,	 e	
difundiram-se	tão	extensamente	quanto	as	beguinas.	Bem	cedo	
desviaram de suas tendências iniciais e se tornaram suspeitos 
de	 heresias,	 de	 modo	 que	 desapareceram	 antes	 do	 século	 XVI	
(FABEL,	1976,	p.	82).
Os	beguinos	defendiam	a	pobreza,	pois,	segundo	eles,	Jesus	e	os	discípulos	
foram	os	pobres	perfeitos,	por	não	terem	bens,	e	os	verdadeiros	cristãos	deveriam	seguir	
seus	exemplos.	Portanto,	eram	contra	o	luxo	e	a	ostentação	do	clero.	Eles	aceitavam	a	
regra	de	São	Francisco	e	diziam	que	era	a	mesma	de	Cristo.	
Outro	ponto	curioso	era	que	os	que	se	chegassem	a	eles,	para	viver	em	suas	
comunidades,	 não	 poderiam	 possuir	 qualquer	 bem.	 Sobre	 Pedro	 João	 Olivi,	 eles	 o	
tinham	como	um	“anjo	do	Apocalipse”	(FALBEL,	1976,	p.	89).	
Suas	 críticas	mais	duras	 foram	com	 relação	ao	papado.	Vejamos	alguns	dos	
adjetivos	usados	pelo	grupo	para	representar	o	papa:	“[...]	símbolo	do	Anticristo,	[...]	lobo	
rapace	que	deveria	 ser	 evitado	pelos	fiéis;	 profeta	 tortuoso	 e	 cego,	 sumo-sacerdote	
Caifás,	que	que	condenara	Cristo;	de	javali	da	floresta,	besta	feroz	que	destrói	o	muro	da	
igreja	de	Deus”	(FALBEL,	1976,p.	91).	Claro	que,	com	tais	declarações,	as	perseguições	
a	eles	não	seriam	poucas.	A	Inquisição	atuou	contra	o	grupo	com	veemência,	e	levou	
centenas	a	fogueira.
60
3 A INQUISIÇÃO MEDIEVAL
Caro	acadêmico,	você	já	deve	ter	percebido	que	esse	tema	geralmente	chama	
muito	 a	 atenção	 das	 pessoas	 em	 geral.	 É	 comum	 a	 associação	 da	 Inquisição	 com	
fogueiras	e	a	suposição	de	que	todos	os	acusados	acabavam	morrendo,	tostando	em	
praça	pública.	Apesar	da	morte	pelo	fogo	ter	sido	uma	prática,	ela	não	se	aplicava	a	
todos	os	casos.	Veremos,	a	partir	de	agora,	como	a	Inquisição	funcionava	e,	para	isso,	
utilizaremos	 os	 dois	 principais	 escritos	 que	 serviam	 de	 guia	 para	 os	 Inquisidores:	 O	
Martelo	das	feiticeiras	(ou	Martelo	das	bruxas),	de	Heirich	Kramer	e	James	Sprenger,	e	o	
Manual	dos	Inquisidores,	de	Nicolau	Eymerich	e	Francisco	de	La	Peña.
O	Tribunal	do	Santo	Ofício	da	Inquisição	foi	criado	pela	Igreja	católica	romana	
para	auxiliar	no	combate	as	heresias.	Ele	passou	por	diversas	reestruturações	e	contava,	
inicialmente,	com	bulas	papais,	que	deveriam	ser	seguidas	pelos	 inquisidores.	Com	o	
tempo	é	que	foram	criados	manuais	mais	específicos	como	o	Manual	dos	Inquisidores	
(1376)	e	o	Martelo	das	feiticeiras	(1486).	Segundo	Shelley	(2004),	a	Inquisição	teve	início	
em	1184,	ao	chamar	bispos	para	inquirir	sobre	as	crenças,	porém,	posteriormente,	foram	
tomadas	medidas	mais	precisas	para	o	combate	às	heresias:	“Em	1215,	o	Quarto	Concílio	
Lanterano,	 sob	 a	 liderança	 de	 Inocêncio	 III,	 estabeleceu	 para	 a	 punição	 estatal	 dos	
hereges	os	confiscos	de	suas	propriedades,	excomunhão	para	aqueles	que	não	agissem	
contra	os	hereges	 [...]”	 (SHELLEY,	 2004,	 p.	 239).	Posteriormente,	 houve	a	permissão	
para	torturas,	e	o	poder	do	tribunal	foi	dado	aos	Dominicanos	(SHELLEY,	2004).
O	combate	as	heresias	foi	o	ponto	norteador	da	Inquisição.	Para	que	ela	fosse	
bem-sucedida,	deveria	contar	com	o	apoio	estatal,	cedendo	a	guarda	necessária	a	igreja	
para	cumprir	as	prisões	e	sentenças	mais	drásticas.	Trataremos,	agora	dos	principais	
pontos	 de	 como	 deveriam	 funcionar	 os	 diversos	 tribunais	 instaurados,	 segundo	 o	
Manual	dos	Inquisidores.
O	Diretorium Inquisitorum,	ou	Manual dos Inquisidores,	foi	escrito	por	Nicolau	
Eymerich,	em	1376,	e	ampliado	por	Francisco	de	La	Peña,	em	1578,	época	em	que	a	
Inquisição	 sofreu	 um	 renovo	 para	 combater	 as	 ideias	 protestantes.	Aqui,	 trataremos	
dos	primeiros	passos	da	 Inquisição,	 e	voltaremos,	no	próximo	capítulo,	 a	 falar	dessa	
temática,	que	passou	por	mudanças	significativas.	
Primeiramente,	falaremos	das	condenações	de	um	herege.	Como	já	explicamos,	
o	 herege	 era	uma	pessoa	que	havia	 recebido	o	 batismo	católico	 e	 passava	 a	 crer	 e	
disseminar	 ideias	que	destoavam	da	ortodoxia	católica.	A	 inquisição	não	tinha	poder	
sobre	pessoas	de	outras	religiões,	que	não	haviam	sido	batizadas	no	catolicismo,	como	
os	 judeus	 e	 os	 islâmicos.	 Estas	 pessoas	 eram	chamadas	 de	 infiéis,	 não	 de	 hereges.	
Todavia,	 caso	 a	 pessoa	 tivesse	 recebido	 o	 batismo	 cristão	 e	 se	 convertesse	 a	 outra	
religião,	aí	sim,	ela	poderia	ser	presa	pela	Inquisição.
61
Como	 já	 expusemos,	 nem	todos	os	processados	 tinham	a	pena	da	 fogueira.	
Esse	era	o	último	recurso	contra	o	considerado	herege.	O	processo	era	longo,	e	o	réu	
tinha	várias	 audiências	 antes	do	veredito	final.	Quando	 se	 iniciava	o	processo,	 o	 réu	
era	levado	à	presença	dos	inquisidores	e	era	dito	que	ele	confessasse.	Porém,	ele	não	
sabia	do	que	estava	sendo	acusado,	pois	isso	era	revelado	alguns	dias	depois	da	prisão.	
Essa	tática	era	utilizada	para	que	a	pessoa,	tomada	pelo	desespero,	falasse	tudo	que	
poderia	ter	feito	de	“errado”.	A	partir	do	momento	que	ela	dissesse	que	não	tinha	mais	
o	que	confessar,	 e,	 se	ela	não	tivesse	 falado	o	que	os	 inquisidores	quisessem	ouvir,	
eles	liam	suas	“culpas”.	Após	isso,	o	processo	tomava	outro	rumo	menos	“benevolente”,	
pois,	o	réu	era	pressionado	a	confessar.	E	como	a	mesa	inquisitorial	chegava	a	essas	
“provas”	 contra	 o	 acusado?	 Por	 meio	 de	 denúncias,	 geralmente.	 Amigos,	 parentes,	
vizinhos,	conhecidos,	todos	deveriam	denunciar,	caso	houvesse	algo	suspeito,	pois,	se	
não	fizessem,	poderiam	ser	considerados	cúmplices	do	herege.
Caso	 o	 réu	 não	 confessasse,	 mas	 houvesse	 muitas	 acusações	 contra	 ele,	
ele	poderia	ser	considerado	como	um	“negativo”,	ou	seja,	era	culpado,	porém	negava	
durante	os	interrogatórios.	O	“afirmativo”	era	aquele	que	não	escondia	que	andava	nos	
“erros”	da	heresia.	Mesmo	que	o	réu	confessasse	suas	culpas	 logo	de	 início	e	fizesse	
a	relação	de	todos	que	andavam	com	ele	e	compactuavam	de	suas	heresias,	ele	não	
teria	 a	 sentença	 dada	 rapidamente.	 Segundo	 o	 Manual	 do	 Inquisidor,	 o	 réu	 deveria	
ficar	pelo	menos	um	ano	nos	cárceres,	seja	para	se	“arrepender”	por	completo	do	que	
fizera,	quanto	para	denunciar	todos	seus	cúmplices.	Caso	a	pessoa	não	confessasse	
após	vários	 interrogatórios,	o	réu	era	enviado	para	a	tortura.	Essa	pessoa	deveria	ser	
acompanhada	por	um	médico,	que	diria	até	quando	ela	poderia	aguentar	sem	morrer.	
Era	sempre	advertido	à	pessoa	processada	que,	se	ela	viesse	a	morrer	em	interrogatório	
era	culpa	dela	mesma,	pois	não	havia	colaborado	com	os	inquisidores.
Os	 instrumentos	 de	 tortura	 usados	variavam	conforme	 a	 região.	 No	 caso	 da	
Inquisição	portuguesa,	 os	comumente	usados	eram	o	potro,	 em	que	o	 indivíduo	era	
esticado	 sobre	 uma	mesa,	 e	 a	 polé,	 em	 que	 ele	 era	 pendurado	 pelos	 braços	 e	 caía	
rapidamente,	causando	o	deslocamento	dos	membros	superiores.	
Caso	o	acusado	resistisse	ao	tormento	sem	confessar	e	não	tivesse	um	número	
de	acusações	que	os	inquisidores	achassem	convenientes,	ele	seria	liberado	com	outras	
penas.	Porém,	se	ele	passasse	pelo	tormento	e,	não	aguentando	a	dor,	confessasse,	
mesmo	que	não	fosse	culpado,	o	processo	teria	outro	rumo.	Caso	o	réu	mostrasse	à	
Mesa	inquisitorial	que	estava	arrependido,	poderia	se	livrar	do	fogo	se	fosse	o	primeiro	
julgamento	 dele.	 Caso	 ele	 não	 demonstrasse	 arrependimento	 pelos	 seus	 “erros”,	 iria	
para	a	fogueira.	Vejamos	um	trecho	do	Manual	sobre	a	questão	da	tortura:
Se	o	réu	não	confessar,	ordenarão	aos	carrascos	para	que	tirem	as	
suas	roupas	–	o	que	farão	imediatamente,	sem	brincadeiras,	como	se	
estivessem	tomados	de	emoção.	Enquanto	é	despido	pelos	carrascos,	
pedirão	a	ele	que	confesse.	Se	continuar	a	resistir,	será	levado	num	
canto,	completamente	nu,	por	esses	fiéis	idôneos,	que	lhe	suplicarão	
cada	vez	mais.	Começam	a	dizer-lhe,	ao	mesmo	tempo	que	suplicam,	
62
que,	se	confessar,	terá	sua	vida	poupada,	se	jurar	que	nunca	mais	vai	
cometer	tais	crimes.	[...]	Se	não	conseguir	nada	através	desses	meios,	
e	se	as	promessas	se	revelarem	 ineficazes,	executa-se	a	sentença	
e	 tortura-se	 o	 réu	 da	 forma	 tradicional,	 [...]	 mais	 fracos	 ou	 mais	
violentos;	de	acordo	com	a	gravidade	do	crime.	[...]	Se,	depois	de	ter	
sido	convenientemente	torturado,	não	confessar,	vão	lhe	mostrar	os	
instrumentos	de	um	outro	tipo	de	tortura,	dizendo-lhe	que	vai	passar	
por	todos	eles,	se	não	confessar	(EYMERICH,	1993,	p.	154,	155).
Quando	o	réu	confessava	durante	a	tortura,	ele	deveria	ser	 levado	para	outro	
local	e,	depois,	teria	que	continuar	sua	confissão	sem	o	tormento,	para	que	fosse	válida	
sua	confissão.	Todo	o	processo	era	conduzido	para	que	o	réu	confessasse	e	mostrasse	
arrependimento.	Na	mentalidade	da	igreja,	esse	processo	de	confissão-arrependimento	
era	necessário	para	que	o	réu	pudesse	voltar	ao	seio	da	igreja	e	não	ser	excomungado.
A	morte	pelo	fogo	acontecia	de	duas	formas:	caso	não	se	arrependesse	pelas	
heresias,	 seria	 queimado	 vivo.	 Se	 recebesse	 a	 sentença	 da	 morte	 pelo	 fogo,	 mas	
demonstrasse	arrependimento,	seria	garroteado,	ou	seja,	enforcado	e	depois	queimado.	
Todo	 processo	 era	 feito	 pelos	 membros	 da	 igreja	 que	 fossem	 escolhidos	
como	inquisidores.	A	sentença	da	morte	na	fogueira	não	era	aplicada	pela	igrejae	sim	
pelo	“braço	secular”.	Portanto,	quando	a	sentença	final	era	dada	como	“relaxado	ao	
braço	secular”,	queria	dizer	que	foi	sentenciado	à	fogueira.	Outra	penalidade	eram	os	
trabalhos	nas	galés,	que	é	a	parte	inferior	das	caravelas,	onde	os	condenados	tinham	
que	remar.	Era	uma	situação	de	trabalho	muito	difícil,	que	gerava	sérios	problemas	de	
saúde	para	os	condenados.
Havia	ainda	uma	sentença	muito	aplicada,	o	“degredo”.	Essa	pena	consistia	na	
expulsão	da	pessoa	do	local	de	origem	e	ela	teria	que	morar	em	outra	região,	geralmente	
inóspita.	A	 sentença	poderia	 ter	 um	prazo	para	que	o	 réu	 retornasse	ou	poderia	 ser	
perpétua.	Outro	ponto	interessante	consistia	no	confisco	de	bens.	Tudo	que	pertencia	
ao	acusado	era	confiscado	e	dividido	entre	a	igreja	e	o	governo.	Além	dessas,	a	pena	
mais	branda	era	o	uso	do	hábito	penitencial,	ou	sambenito,	que	era	uma	roupa	especial	
que	o	sentenciado	deveria	usar	toda	vez	que	saísse	de	casa.	O	seu	uso	poderia	ser	por	
um	determinado	tempo	ou	perpétuo.
Um	detalhe	importante	diz	respeito	ao	caso	em	que	o	acusado	morria	durante	
o	processo.	Este	não	era	interrompido,	e,	caso	ao	final	sua	sentença	fosse	de	culpado,	
seus	restos	mortais	eram	desenterrados	e	queimados	junto	a	um	boneco	ou	pintura	em	
um	pano,	 representando-o.	Além	disso,	os	seus	bens	não	ficariam	para	os	herdeiros,	
mas	sim	para	o	Tribunal	e	o	governo.	Quando	alguém	conseguia	fugir	dos	cárceres,	era	
considerado	culpado.	Caso	não	fosse	pego,	era	dada	a	sentença	de	morte	em	efígie,	em	
que	se	erguia	um	boneco	que	o	representava	e	era	queimado.	Se	fosse	pego,	o	processo	
continuava,	porém,	dificilmente	teria	um	destino	diferente	da	fogueira.
63
No	decorrer	do	processo,	era	concedido	ao	réu	um	advogado	de	defesa,	chamado	
de	procurador.	Porém,	segundo	o	Manual	dos	Inquisidores,	seu	papel	era	ajudar	ao	réu	
a	fazer	a	confissão.	O	tempo	do	encerramento	do	processo	variava	conforme	a	vontade	
do	réu	em	“cooperar”	com	a	Inquisição.	Houve	casos	que	duraram	mais	de	cinco	anos,	
outros	bem	menos,	porém,	dificilmente	alguém	sairia	do	cárcere	em	menos	de	um	ano.	
Quando	a	pessoa	que	conseguiu	passar	pelo	processo	 inquisitorial	 e	 sua	penalidade	
fosse	branda	e,	por	algum	motivo,	posteriormente	voltasse	a	ser	processada,	ela	era	
considerada	como	“relapsa”,	e	seria	condenada	à	pena	máxima.
Após	 as	 sentenças	 escolhidas,	 os	 réus	 eram	 levados	 para	 um	 grande	
espetáculo,	 em	 praça	 pública	 ou	 na	 igreja	 principal,	 chamado	 de	 “auto-de-fé”,	 em	
que	as	penalidades	dos	 réus	eram	 lidas	e,	quando	havia,	a	morte	pela	fogueira	era	
realizada	publicamente.	Para	os	fiéis	que	assistissem	aos	autos-de-fé	eram	concedidas	
indulgências.	Os	que	manifestassem	apoio	às	vítimas	eram	também	presos.	Todo	o	
espetáculo	era	feito	com	o	intuito	de	servir	de	exemplo	para	os	demais	para	que	não	
seguissem	os	caminhos	dos	hereges.
Quanto	 ao	 livro	Malleus Maleficarum,	 em	português,	 o	Martelo	 das	 Feiticeiras,	
sua	ênfase	é	na	questão	da	 feitiçaria,	 ou	bruxaria.	Ele	 “ensina”	 aos	 inquisidores	como	
reconhecer	uma	bruxa	ou	bruxo	e	como	deveria	 lidar	com	ele	durante	o	interrogatório.	
A	questão	do	 imaginário	sobre	a	feitiçaria	foi	muito	 intensa	na	 Idade	Média	e	na	 Idade	
Moderna.	 Devemos	 compreender,	 ao	 estudarmos	 essa	 temática	 que,	 feitiçaria	 foi	 a	
expressão	 usada	 para	 rotular	 e	 criminalizar	 práticas	 religiosas	 de	 grupos	 que	 tinham	
costumes	diferentes	dos	cristãos.
A	 cristianização	 de	 várias	 partes	 da	 Europa,	 como	 vimos,	 não	 ocorreu	
necessariamente	 porque	 as	 massas	 se	 converteram.	 Muitas	 vezes,	 os	 governantes	
aceitavam	o	cristianismo,	como	alianças	e,	as	pessoas	acabavam	sendo	obrigadas	a	
aceitar	também.	Fazer	parte	do	cristianismo	era	uma	das	formas	de	ser	cidadão.	Todavia,	
as	 práticas	 religiosas	 acabavam	aparecendo,	vez	 ou	 outra,	 fundidas	 ao	 cristianismo.	
Muitas	delas	deram	origens	a	diversas	heresias,	outras	eram	consideradas	feitiçaria	e	
eram	fortemente	rechaçadas	pela	igreja.
Na	 próxima	 unidade,	 voltaremos	 a	 falar	 da	 Inquisição.	 As	 mudanças	 que	
ocorreram	na	sociedade	europeia	devido	à	Reforma	Protestante	acabaram	acarretando	
alterações	significativas	no	funcionamento	do	referido	Tribunal.
Caro	 acadêmico,	 chegamos	 ao	final	 do	período	Medieval	 e,	 agora,	 o	 próximo	
passo	é	fazer	a	leitura	de	alguns	documentos	histórico	sobre	os	assuntos	estudados.	
Será	um	bom	exercício	para	reforçarmos	o	aprendizado	sobre	o	pensamento	religioso	
dos	períodos	que	estudamos.	Boa	leitura!
64
O EDITO DE MILÃO, MARÇO DE 313
Imperador	Constantino
Nós,	 Constantino	 e	 Licínio,	 Imperadores,	 encontrando-nos.	 em	 Milão	 para	
conferenciar	a	respeito	do	bem	e	da	segurança	do	império,	decidimos	que,	entre	tantas	
coisas	 benéficas	 à	 comunidade	 o	 culto	 divino	 deve	 ser	 a	 nossa	 primeira	 e	 principal	
preocupação.	Pareceu-nos	justo	que	todos,	cristãos	inclusive,	gozem	da	liberdade	de	
seguir	o	culto	e	a	religião	de	sua	preferência.	Assim	Deus	que	mora	no	céu	ser-nos-á	
propício	a	nós	e	a	 todos	nossos	súditos.	Decretamos,	portanto,	que,	não	obstante	a	
existência	de	anteriores	instruções	relativas	aos	cristãos,	os	que	optarem	pela	religião	
de	 Cristo	 sejam	 autorizados	 a	 abraçá-la	 sem	 estorvo	 ou	 empecilho,	 e	 que	 ninguém	
absolutamente	 os	 impeça	 ou	 moleste.	 Observai	 outrossim,	 que	 também	 todos	 os	
demais	terão	garantida	a	livre	e	irrestrita	prática	de	suas	respectivas	religiões,	pois	está	
de	acordo	com	a	estrutura	estatal	e	com	a	paz	vigente	que	asseguremos	a	cada	cidadão	
a	 liberdade	 de	 culto	 segundo	 sua	 consciência	 e	 eleição;	 não	 pretendemos	 negar	 a	
consideração	que	merecem	as	religiões	e	seus	adeptos.	Outrossim,	com	referência	aos	
cristãos,	 ampliando	 normas	 estabelecidas	 já	 sobre	 os	 lugares	 de	 seus	 cultos,	 é-nos	
grato	ordenar,	pelo	presente,	que	todos	que	compraram	esses	locais	os	restituam	aos	
cristãos	sem	qualquer	pretensão	a	pagamento.
As	 igrejas	 recebidas	 como	 donativo	 e	 os	 demais	 lugares	 que	 antigamente	
pertenciam	aos	cristãos	deviam	ser	devolvidos.	Os	proprietários,	porém,	podiam	requerer	
compensação.	
Use-se	 da	 máxima	 diligência	 no	 cumprimento	 das	 ordenanças	 a	 favor	 dos	
cristãos	 e	 obedeça-se	 a	 esta	 lei	 com	 presteza,	 para	 se	 possibilitar	 a	 realização	 de	
nosso	propósito	de	instaurar	a	tranquilidade	pública.	Assim	continue	o	favor	divino,	já	
experimentado	em	empreendimentos	momentosíssimos,	 outorgando-nos	o	 sucesso,	
garantia	do	bem	comum.
FONTE: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. Tradução de Helmuth Alfredo Simon. 2. ed. São Paulo: 
Aste, 1963, p. 44.
LEITURA
COMPLEMENTAR
65
EDITO DE TESSALÔNICA
Imperador	Teodósio	I
Queremos	 que	 as	 diversas	 nações	 sujeitas	 a	 nossa	 Clemência	 e	Moderação	
continuem	professando	a	religião	legada	aos	romanos	pelo-	apóstolo	Pedro,	tal	como	a	
preservou	a	tradição	fiel	e	tal	como	é	presentemente	observada	pelo	pontífice	Dámaso	e	
por	Pedro,	Bispo	de	Alexandria	e	varão	de	santidade	apostólica.	De	conformidade	com	a	
doutrina	dos	apóstolos	e;	o	ensino	do	Evangelho,	creiamos,	pois,	na	única	divindade	do	
Pai,	do	Filho	e	do	Espírito	Santo	em	igual	majestade	e	em	Trindade	santa.	Autorizamos	
aos	seguidores	desta	lei	a	tomarem	o	título	de	Cristãos	Católicos.	Referentemente	aos	
outros,	 que	 julgamos	 loucos	 cheios	 de	 tolices,	 queremos	 que	 sejam	 estigmatizados	
com	o	nome	ignominioso	de	hereges,	e	que	não	se	atrevam	a	dar	a	seus	conventículos	
o	nome	de	igrejas.	Estes	sofrerão,	em	primeiro	lugar,	o	castigo	da	divina	condenação	é,	
em	segundo	lugar,	a	punição	que	nossa	autoridade,	de	acordo	com	a	vontade	do	céu,	
decida	infligir-lhes	comum.
FONTE: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. Tradução de Helmuth Alfredo Simon. 2. ed. São Paulo: 
Aste, 1963, p. 51, 52.
A INQUISIÇÃO EPISCOPAL E O PODER SECULAR
Dos decretos do Quarto Concilio de Latrão, 1215
[A	Igreja	no	século	doze	foi	perturbada	por	várias	espécies	de	heresias,	sendo	
as	mais	 perigosas	 as	 dos	 albigensese	 valdenses.	 Os	 primeiros	 eram	maniqueus	 na	
teoria	e	rigorosamente	ascéticos	na	prática,	embora	seus	adversários	os	acusassem	de	
excessos	antinomianos.	Os	valdenses	começaram	tentando	recuperar	o	que	pensavam	
ter	 sido	 a	 simplicidade	 da	 Igreja	 apostólica.	 Mas	 eles,	 como	 tantos	 outros	 grupos	
que	começaram	com	o	mesmo	propósito,	 tendiam	a	um	sectarismo	 intransigente.	O	
Terceiro	Concilio	de	Latrão	em	1179,	sob	Alexandre	III,	pediu	o	auxílio	do	poder	secular:	
“Embora	a	disciplina	da	Igreja	não	leve	a	efeito	retribuições	cruentas,	contentando-se	
com	o	julgamento	sacerdotal,	ela,	contudo,	é	ajudada	pelos	regulamentos	dos	príncipes	
católicos,	 de	modo	que	 os	homens	 frequentemente	busquem	o	 remédio	 salutar	 por	
temor	de	incorrerem	em	castigos	corporais.	
Por	 conseguinte,	 decretamos	 que	 (os	 albigenses)	 e	 os	 que	 os	 sustentam,	
dando-lhes	apoio,	estão	sob	anátema,	e	proibimos	sob	pena	de	anátema	que	alguém	
ouse	abrigá-los	em	sua	casa	ou	em	seu	país,	de	ajudá-los	ou	de	ter	negócios	com	eles”	
(cap.	27,	Mansi	XXII.231;	Denzinger,	n.°	401).	Inocêncio	III	deu	início	em	1208	à	cruzada	
contra	os	albigenses,	mas	não	conseguiu	extirpar	a	heresia;	em	1220	a	inquisição	papal	
foi	confiada	aos	frades	e	imposta	às	cortes	episcopais].
66
Hereges	convictos	devem	ser	entregues	a	seus	superiores	seculares	ou	a	seus	
agentes	para	o	devido	castigo.	Se	forem	clérigos,	primeiramente	devem	ser	destituídos.	
Os	bens	dos	leigos	serão	confiscados;	os	dos	clérigos	serão	aplicados	nas	igrejas	das	
quais	recebiam	seus	subsídios.
Se	um	senhor	temporal	negligencia	em	cumprir	o	pedido	da	Igreja	de	purificar	
sua	terra	da	contaminação	da	heresia,	será	excomungado	pelo	metropolitano	e	pelos	
outros	 bispos	 da	 província.	 Se	 deixa	 de	 se	 emendar	 dentro	 de	 um	 ano,	 o	 fato	 deve	
ser	 comunicado	 ao	 sumo	 pontífice	 que	 declarará	 seus	 vassalos	 livres	 do	 juramento	
de	 fidelidade	 e	 oferecerá	 suas	 terras	 aos	 católicos.	 Esses	 exterminarão	 os	 hereges,	
serão	donos	da	terra	sem	discussão,	e	a	preservarão	na	verdadeira	fé.	Os	católicos	que	
tomarem	a	cruz	e	se	devotarem	ao	extermínio	de	hereges	gozarão	da	mesma	indulgência	
e	privilégio	dos	que	se	dirigem	à	Terra	Santa.
Determinamos,	além	disto,	que	cada	arcebispo	ou	bispo,	em	pessoa	ou	através	
de	seu	arcediago	ou	outras	pessoas	capazes	e	dignas	de	confiança,	visitará	cada	uma	
de	suas	paróquias	nas	quais	se	diz	que	há	hereges;	fá-lo-á	duas	vezes	ou,	pelo	menos,	
uma	vez	por	ano.	
Obrigará	três	ou	mais	homens	de	boa	reputação,	ou	se	for	necessário	toda	a	
vizinhança,	a	jurar	que	se	qualquer	um	deles	souber	de	algum	herege,	ou	de	alguém	que	
frequente	 reuniões	secretas,	ou	de	pessoa	que	pratica	coisas	e	costumes	diferentes	
dos	que	são	comuns	aos	cristãos,	que	o	comunicarão	ao	bispo.	O	bispo	deve	chamar	
os	que	forem	acusados	para	que	se	lhe	apresentem;	e,	a	não	ser	que	se	purifiquem	da	
acusação,	se	incorrerem	no	erro	anterior,	receberão	o	castigo	canônico.	
FONTE: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. Tradução de Helmuth Alfredo Simon. 2. ed. São Paulo: 
Aste, 1963, p. 181,182.
AS CRUZADAS
O CONCÍLIO DE CLERMONT: URBANO II (1095)
Considerando	 as	 exigências	 do	 tempo	 presente,	 eu	 Urbano,	 tendo,	 pela	
misericórdia	de	Deus	a	tiara	pontificial,	pontífice	de	toda	a	terra,	venho	até	vós,	servidores	
de	Deus,	como	mensageiro	para	desvendar-vos	o	mandato	divino	[...]	é	urgente	levar	
com	diligência	 aos	nossos	 irmãos	do	Oriente	a	 ajuda	prometida	e	 tão	necessária	no	
momento	presente.	
Os	turcos	e	os	árabes	atacaram	e	avançaram	pelo	território	da	România	até	a	
parte	do	Mediterrâneo	chamada	o	Braço	de	São	Jorge,	e	penetram	mais	a	cada	dia	nos	
países	dos	cristãos;	eles	os	venceram	sete	vezes	em	batalha,	matando	e	fazendo	grande	
número	de	cativos,	destruindo	as	igrejas	e	devastando	o	reino.	Se	vós	deixardes	isto	sem	
resistência,	estenderão	os	seus	exércitos	ainda	mais	sobre	os	fiéis	servidores	de	Deus.
67
Por	 isso	 eu	vos	 apregôo	 e	 exorto,	 tanto	 aos	 pobres	 como	 aos	 ricos	 –	 e	 não	
eu,	mas	o	Senhor	vos	apregoa	e	exorta	–	que	como	arautos	de	Cristo	vos	apresseis	
a	expulsar	esta	vil	 ralé	das	 regiões	habitadas	por	nossos	 irmãos,	 levando	uma	ajuda	
oportuna	aos	adoradores	de	Cristo.	Eu	falo	aos	que	estão	aqui	presentes	e	o	proclamo	
aos	ausentes,	mas	é	Cristo	quem	convoca	[...].
Se	os	que	forem	lá	perderem	a	sua	vida	durante	a	viagem	por	terra	ou	por	mar	
ou	na	batalha	contra	os	pagãos,	os	seus	pecados	serão	perdoados	nessa	hora;	eu	o	
determino	pelo	poder	que	Deus	me	concedeu	[...].
Os	que	estão	habituados	a	combater	maldosamente,	em	guerra	privada,	contra	
os	fiéis,	lutem	contra	os	fiéis,	lutem	contra	os	infiéis,	e	levem	a	um	fim	vitorioso	a	guerra	
que	devia	 ter	 começado	a	 tempo.	Os	que	até	 agora	viviam	em	brigas	 se	 convertam	
em	 soldados	 de	 Cristo.	 Os	 que	 até	 agora	 eram	mercenários	 por	 negócios	 sórdidos,	
ganhem	no	presente	as	recompensas	eternas.	Os	que	se	fatigaram	em	detrimento	de	
seus	corpos	e	de	suas	almas,	se	esforcem	no	presente	por	uma	dupla	recompensa	[...].	
De	um	lado	estarão	os	miseráveis,	do	outro	as	verdadeiras	riquezas,	aqui	os	 inimigos	
de	Deus,	 lá	os	 seus	amigos.	Alistem-se	sem	demora;	que	os	guerreiros	arrumem	os	
seus	negócios	e	reúnam	o	necessário	para	prover	às	suas	despesas;	quando	terminar	o	
inverno	e	chegar	a	primavera,	que	eles	se	movam	alegremente	para	tomar	a	rota	sob	o	
comando	do	senhor	[...].
FONTE: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. Tradução de Helmuth Alfredo Simon. 2. ed. São Paulo: 
Aste, 1963, p. 83, 84.
O PODER SECLUAR E ESPIRITUAL EM SANTO TOMÁS DE AQUINO 
(1235-1255)
[...]	 O	 poder	 espiritual	 e	 o	 secular	 são	 ambos	 derivados	 do	 poder	 divino;	 e,	
portanto,	o	poder	espiritual	na	medida	em	que	foi	estabelecido	por	Deus,	a	saber:	nas	
coisas	referentes	à	salvação	da	alma,	e	por	isso	o	poder	espiritual	deve,	em	tais	assuntos,	
ser	obedecido	preferentemente	ao	secular.	Mas	naquelas	coisas	que	se	referem	ao	bem-
estar	civil,	o	poder	secular	deve	ser	obedecido	preferencialmente	ao	espiritual,	de	acordo	
com	o	dito	em	Mateus	22,	21:	‘Dai	a	César	o	que	é	de	César’.	A	menos	que	o	poder	secular	
esteja	unido	com	o	espiritual,	como	no	caso	do	Papa,	que	detém	ambos,	o	espiritual	e	o	
temporal,	porque	ele	é	sacerdote	e	rei;	sacerdote	eterno,	segundo	a	ordem	de	Melquisedec,	
mas	rei	de	reis	e	mestre	daqueles	que	tem	o	domínio	(dominus dominantium).
O	poder	secular	é	submetido	ao	espiritual	como	o	corpo	à	alma	e	não	usurpa	o	
julgamento,	pois	o	poder	espiritual	se	introduz	nas	coisas	temporais,	pelo	menos	naquelas	
nas	quais	esse	poder	lhe	é	submetido	ou	que	lhe	são	entregues	pelo	poder	secular.
FONTE: PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. História da idade média: textos e testemunhas. São Paulo: UNESP, 
2000, p. 137.
68
QUESTÃO VI DO MARTELO DAS FEITICEIRAS
Sobre as bruxas que copulam com demônios. Por que principalmente as 
mulheres se entregam às superstições diabólicas
Há	 também,	 a	 respeito	 das	 bruxas	 que	 copulam	 com	 Demônios,	 muitas	
dificuldades	ao	considerarem-se	os	métodos	pelos	quais	tal	abominação	é	consumada.	
Da	parte	do	Demônio:	primeiro,	de	qual	dos	elementos	que	compõem	o	corpo	ele	se	
utiliza;	 segundo,	 se	 o	 ato	 ´sempre	 acompanhado	 da	 injeção	 do	 sêmen	 recebido	 de	
outro	homem;	terceiro,	quando	ao	momento	e	ao	lugar,	ou	seja,	se	pratica	o	ato	mais	
frequentemente	em	determinado	momento	do	que	em	outro;	quarto,	se	o	ato	não	é	
visível	aos	que	estão	perto.	Da	parte	das	mulheres,	cumpre	indagar	se	apenas	as	que	
foram	concebidas	dessa	forma	obscena	são	frequentemente	visitadas	pelos	Demônios,	
ou	se	o	são	pelas	parteiras	por	ocasião	de	seu	nascimento;	e,	por	fim,	se	o	deleite	com	
o	ato	venéreo	é	de	algum	tipo	mais	fraco.	Não	poderemos	aqui	responder	a	todas	essas	
questões	por	estarmos	empenhados	tão	somente	num	estudo	geral	e	porque	na	Parte	
II	desta	obra	todas	serão	explicadas	separadamente	(no	capítulo	IV	da	questão	I,	no	qual	
se	faz	menção	a	cada	método	em	separado).	Vamos	nos	deter	porora,	no	problema	
das	mulheres;	 e,	 em	primeiro	 lugar,	 tentaremos	explicar	porque	essa	perfídia	é	mais	
encontrada	nas	pessoas	do	sexo	frágil	e	não	em	homens.	Nossa	primeira	indagação	será	
de	caráter	geral	–	quanto	as	condições	gerais	das	mulheres;	a	segunda	será	particular	–	
quanto	ao	tipo	de	mulher	que	se	entrega	a	superstição	e	à	bruxaria;	e	por	fim	a	terceira,	
específica	as	parteiras,	que	superam	todas	as	demais	em	perversidades.
FONTE: KRAMER, H.; SPRENGER, J. O martelo das feiticeiras. Tradução de Paulo Fróes. 2 ed. Rio de Janeiro: 
BestBolso, 2015, p. 119, 120.
RESUMO DO TÓPICO 3
69
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 A	igreja	romana	ampliou	o	combate	na	luta	contra	as	heresias,	principalmente	com	a	
criação	do	Tribunal	do	Santo	Ofício	da	Inquisição.
•	 Os	dois	principais	guias	para	os	inquisidores	foram	o	“Manual	dos	Inquisidores”	e	o	
“Martelo	das	feiticeiras”,	que	continham	as	principais	 instruções	de	como	proceder	
em	casos,	principalmente	de	heresias.
•	 As	 ideias	 de	 John	Wycliffe	 e	 John	 Huss,	 condenadas	 pela	 Igreja	 como	 heresias,	
serviram	de	base	para	a	posterior	Reforma	Protestante,	com	Martinho	Lutero.
70
1	 Desde	a	expansão	do	cristianismo,	houve	a	preocupação	com	a	disseminação	de	
ideias	 que	 foram	 consideradas	 heréticas.	 No	 Mundo	 Medieval,	 os	 movimentos	
heréticos	foram	ampliados,	ou	seja,	novas	ideias	surgiram	e,	com	elas,	novas	formas	
de	combatê-las.	Tendo	em	vista	tal	contexto,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	 Apesar	 de	muitas	 ideias	 heréticas	 novas	 no	Medievo,	 percebe-se	 que	 alguns	
conceitos	heréticos	da	Antiguidade	ainda	estavam	presentes.
b)	(			)	 Percebe-se	 que,	 no	 Medievo,	 o	 poderio	 da	 Igreja	 estava	 consolidado	 com	
novos	 movimentos	 monasteriais	 e	 o	 papado	 fortalecido.	 Com	 isso,	 as	
pregações	 e	 o	 ensino	 da	 ortodoxia	 acabavam	 auxiliando	 para	 que	 não	
houvesse	disseminação	de	heresias.
c)	(			)	 Com	 o	 surgimento	 do	Tribunal	 da	 Inquisição	 do	 Santo	 Ofício,	 os	movimentos	
heréticos	foram	freados,	e,	em	alguns	anos,	totalmente	combatidos.
d)	(			)	 O	 fenômeno	 das	 heresias	 medievais,	 diferentemente	 do	 que	 ocorreu	 na	
Antiguidade,	atingiu	prioritariamente	as	classes	mais	pobres.
2	 O	Tribunal	do	Santo	Ofício	da	Inquisição	foi	um	órgão	criado	pela	igreja	para	combater	
as	heresias,	ainda	no	período	Medieval.	Sobre	o	Tribunal	do	Santo	Ofício,	analise	as	
sentenças	a	seguir:	
I-	 Foi	um	tribunal	eclesiástico,	que	contou	com	o	apoio	do	poder	temporal,	inclusive	
para	aplicar	as	sentenças	mais	drásticas.
II-	 A	força	da	Inquisição	estava	não	só	nas	prisões,	como	também	no	espetáculo	feito	
aos	sentenciar	os	réus,	além	do	aparato	do	medo	e	das	denúncias.
III-	 A	 Inquisição	 foi	 um	Tribunal	 formado	 para	 combater	 as	 heresias	medievais.	 Sua	
atuação	foi	eficaz	e	pouco	tempo	depois	não	foi	mais	necessária	sua	atuação.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	Somente	a	sentença	II	está	correta.	
c)	 (			)	As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.	
d)	(			)	Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 O	 Tribunal	 do	 Santo	 Ofício	 da	 Inquisição	 foi	 o	 órgão	 criado	 pela	 Igreja	 católica	
romana	para	processar	as	pessoas	que	eram	acusadas	de	heresias.	Partindo	do	que	
estudamos	sobre	tal	tribunal,	avalie	os	itens:
AUTOATIVIDADE
71
(			)	 A	 tortura	 foi	 largamente	empregada	pelo	Tribunal	 do	Santo	Ofício	da	 Inquisição,	
principalmente	no	início	do	processo,	tendo	em	vista	amedrontar	os	réus.
(			)	 A	Inquisição	Medieval	tinha	como	liderança	o	papa	e	os	reis	de	cada	país,	pois,	não	
havia	separação	entre	religião	e	Estado	nessa	época.
(			)	 A	Inquisição	foi	um	período	que	durou	cerca	de	seiscentos	anos,	e	teve	início	ainda	
no	período	Medieval.	Seu	poder	de	atuação	era	restrito	aos	católicos.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (   )	V	–	F	–	F.
b)	(   )	V	–	F	–	V.
c)	 (   )		F	–	V	–	F.
d)	(			)	F	–	F	–	V.
4	 As	heresias	estiveram	presentes	desde	o	momento	inicial	de	expansão	do	cristianismo.	
No	 período	 medieval,	 ela	 esteve	 mais	 ampliada,	 pois	 o	 alcance	 do	 cristianismo	
se	 deu	 no	 território	 europeu,	 que	 já	 contava	 com	 diversas	 religiosidades	 ligadas	
principalmente	a	natureza.	Muitas	vezes,	os	posicionamentos	heréticos	começavam,	
ou	eram	endossados	por	representantes	eclesiásticos.	Escreva	as	principais	 ideias	
defendidas	por	John	Wycliffe	que	foram	consideradas	herética	pela	Igreja.
5	 Para	combater	as	heresias,	a	Igreja	católica	adotou	uma	série	de	medidas	desde	a	
antiguidade.	No	medievo,	esse	combate	contou	com	a	organização	do	Tribunal	do	
Santo	Ofício	da	Inquisição.	Explique,	de	forma	sucinta,	como	funcionava	este	tribunal.
72
73
REFERÊNCIAS
AZEVEDO,	L.	V.	de.	As obras inglesas de John Wycliffe inseridas no contexto 
religioso de sua época:	da	suma	teológica	de	Aquino	ao	concílio	de	Constança,	dos	
espirituais	fransciscanos	a	Guilherme	de	Ockham.	2010,	493f.	Tese	(Doutorado	em	
História	Social)	–	Departamento	de	História.	Universidade	de	São	Paulo.	São	Paulo,	
2010.	Disponível	em:	https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-14062011-
135520/publico/2010_LeandroVilleladeAzevedo.pdf.	Acesso	em:	18	jun.	2021.
BASURKO,	X.	O canto cristão na tradição primitiva.	São	Paulo:	Editora	Paulus,	2005.
BETTENSON,	H.	Documentos da igreja cristã.	Tradução	de	Helmuth	Alfredo	Simon.	
2.	ed.	São	Paulo:	Aste,	1963.
BÍBLIA.	Bíblia sagrada:	nova	versão	internacional.	Sociedade	Bíblica	internacional.	
Santo	André:	Geográfica,	2017.
BONI,	L.	A.	de.	Estudos sobre Tomás de Aquino.	Série	Dissertatio	Filosofia.	
Pelotas:	UFPEL,	2018.	Disponível	em:	http://www.repositorio.ufpel.edu.br/bitstream/
prefix/6594/1/ESTUDOS_SOBRE_TOMAS_DE_AQUINO.pdf.	Acesso	em:	15	abr.	2021.
BRUCE,	F.	F.	O cânon das escrituras:	como	os	livros	da	bíblia	vieram	a	ser	reconhecidos	
como	escrituras	sagradas?	Tradução	de	Carlos	Osvaldo	Pinto.	São	Paulo:	Hagnos,	2011.
CARLAN,	C.	U.	Constantino	e	as	transformações	do	Império	Romano	no	século	IV.	
Revista de História da Arte e Arqueologia,	São	Paulo,	2009,	n.	11.,	p.	27-35,	jan./
jun.	2009.	Disponível	em:	https://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%20
11%20-%20artigo%202.pdf.	Acesso	em	6	mar.	2021.
COELHO,	B.	A.	Arena	da	fé:	a	pregação	como	vetor	teológico	de	conflitos	em	Ambrósio	
de	Milão	em	fins	do	IV	século.	Revista Contraponto,	Teresina,	v.	9,	n.	1,	p.	609-631,	
jan./jul.	2020.	Disponível	em:	https://revistas.ufpi.br/index.php/contraponto/article/
view/11498.	Acesso	em:	08	mar.	2021.
COELHO,	F.	de	S.	Jerônimo	de	Estridão:	asceta,	exegeta	e	controverso.	Revista 
Alétheia de Estudos sobre Antiguidade e Medievo,	Bagé,	n.	1,	p.	15-28,	jul.	2019.	
Disponível	em:	https://periodicos.unipampa.edu.br/index.php/Aletheia/article/
view/120/106.	Acesso	em:	14	abr.	2021.
DAWSON,	C.	A divisão da cristandade:	da	reforma	protestante	à	era	do	iluminismo.	
Tradução	de	Márcia	Xavier	de	Brito.	São	Paulo:	É	Realizações,	2014.
74
DIEBE,	E.	P.	Pedro	Abelardo	Professor:	O	Ensino	de	Filosofia	no	Século	XII.	Clareira, 
Revista de Filosofia da Região Amazônica.		V.	1,	N.	1,	Jan-Jul,	2014.	Disponível	em:	
https://www.periodicos.unir.br/index.php/clareira/article/view/3566/2446.
ELIADE,	M.	História das crenças e das ideias religiosas II:	de	Gautama	Buda	ao	triunfo	
do	cristianismo.	Tradução	de	Roberto	Cortes	de	Lacerda.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	2011a.
ELIADE,	M.	História das crenças e das ideias religiosas III:	de	Maomé	à	Idade	das	
Reformas.		Tradução	de	Roberto	Cortes	de	Lacerda.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	2011b.
ESTRADA,	J.	A.	Para compreender como surgiu a igreja.	Tradução	de	José	Afonso	
Beraldin.	São	Paulo:	Paulinas,	2005.	(Coleção	Eclésia	XXI).
EYMERICH,	N.	[1376].	Directorium Inquisitorum:	manual	dos	inquisidores.	Tradução	
de	Maria	José	Lopes	da	Silva.	Revisto	e	ampliado	por	Francisco	La	Peña	(1578).	Rio	de	
Janeiro:	Rosa	dos	Tempos;	Brasília,	DF:	Fundação	Universidade	de	Brasília,	1993.
FALBEL,	N.	Heresias medievais.São	Paulo:	Editora	Perspectiva,	1976.
FREITAS,	M.	B.	da	C.	Santo Anselmo.	Covilhã:	LusoSofia	Press,	2008.	(Colecção	
Artigos	LUSOSOFIA).	Disponível	em:	http://www.lusosofia.net/textos/costa_freits_
manuel_barbosa_anselmo_santo.pdf.	Acesso	em:	15	abr.	2021.
GOMBRICH,	E.H.	A História da arte.	Tradução	de	Álvaro	Cabral.	Rio	de	Janeiro:	LTC,	2011.
GOMES,	F.	J.	S.	Peregrinatio	e	stabiiitas:	monaquismo	e	cristandade	ocidental	e	do	
século	VI	a	VIII.	Revista Textos de História,	v.	9,	n.	1/2,	p.	85-97,	2001.	Disponível	em:	
https://core.ac.uk/download/pdf/328030468.pdf.	Acesso	em	20	mar.	2021.
HURLBUT,	J.	L.	História da Igreja Cristã.	São	Paulo:	Vida	Livros,	2007.
JOHNSON,	P.	História do Cristianismo.	Tradução	de	Cristina	de	Assis	Serra.	Rio	de	
Janeiro:	Imago,	2001.
KRAMER,	H.;	SPRENGER,	J.	O martelo das feiticeiras.	Tradução	de	Paulo	Fróes.	2	ed.	
Rio	de	Janeiro:	BestBolso,	2015.	
MATIAS,	C.	A.	Os	Valentinianos	E	A	Ruptura	Com	O	Cristianismo	Eclesiástico	No	Século	
II.	In:	Congresso	Internacional	de	História,	5.,	2011,	Maringá.	Anais [...]	Maringá:	EDUEM,	
2011.	p.	2480-2490.	Disponível	em:		http://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/141.
pdf.	Acesso	em:	01	fev.	2021.
75
MELLO,	R.	G.	da;	SILVA,	J.	J.	P.	A	formação	do	homem	em	Atanásio.	In:	SEMINÁRIO	DE	
PESQUISA	DO	PROGRAMA	DE	PÓS-GRADUAÇÃO	EM	EDUCAÇÃO,	10.,	2012,	Maringá.	
Anais	[...]	Maringá:	PPE/UEM,	2012.	p.	1-15.	Disponível	em:	http://www.ppe.uem.br/
publicacoes/seminario_ppe_2012/trabalhos/co_04/094.pdf.	Acesso	em:	08	mar.	2021.
 
NAZARIO,	L.	Autos-de-fé como espetáculos de massa.	São	Paulo:	Humanitas,	2005.
PEDRERO-SÁNCHEZ,	M.	G.	História da idade média:	textos	e	testemunhas.	São	Paulo:	
UNESP,	2000.
POHLMANN,	J.	F.	Ambrósio,	bispo	de	Milão:	algumas	contextualizações	e	conceituações	
(séc.	IV	d.	C.).	Revista Roda da Fortuna,	Belo	Horizonte,	v.	2,	n.	1,	p.	43-64,	2013.	
Disponível	em:		https://a615a5e5-c98d-48ce-95fc-4c6127dff938.filesusr.com/
ugd/3fdd18_cb4c01383161a440e10a2414de461989.pdf.	Acesso	em:	17	jun.	2021
QUEIROZ,	T.	A.	P.	de.	As Heresias medievais.	São	Paulo:	Atual,	1988.	(Coleção	
Discutindo	a	História).
RAYNOR,	H.	História social da música, da idade média a Beethoven.	Tradução	de	
Caixeiro,	C	Nathanael.	Rio	de	Janeiro:	Guanabara,	1986.	
Santos,	L.	J.	da	S.	Donatistas	x	católicos:	a	construção	da	identidade	cristã	nos	embates	
entre	as	igrejas	africana	e	romana,	no	século	IV.	In:	ENCONTRO	DE	HISTÓRIA	DA	ANPUH,	
17.,	2016,	Nova	Iguaçu.	Anais	[...]	Nova	Iguaçu:	UFRJ,	2016.	Disponível	em:	http://www.
encontro2016.rj.anpuh.org/resources/anais/42/1466970515_ARQUIVO_Artigo_Lurbia.pdf.	
Acesso	em:	13	mar.	2021.
SHELLEY,	B.	L.	História do cristianismo ao alcance de todos: uma narrativa do 
desenvolvimento	da	igreja	cristã	através	dos	séculos.	Tradução	de	Vivian	Nunes	do	
Amaral.	São	Paulo:	Shedd,	2004.
SILVA,	F.	F.	Concílio de Nicéia:	transformação	e	ascensão	do	cristianismo	no	século	
IV.	2017.	42	f.	Monografia	(Licenciatura	em	História)	–	Centro	de	Estudos	Superiores	
de	Tefé,	Universidade	do	Estado	do	Amazonas,	Tefé,	2017.	Disponível	em:	http://
repositorioinstitucional.uea.edu.br/bitstream/riuea/835/1/Conc%C3%ADlio%20de%20
Nic%C3%A9ia%20Transforma%C3%A7%C3%A3o%20e%20ascens%C3%A3o%20do%20
cristianismo.pdf.	Acesso	em:	17	jun.	2021.
SILVA,	G.	A.	da.	Igreja e poder na África romana no século IV: o discurso 
do	pecado	em	Agostinho	de	Hipona	na	de	ciuitate	dei.	2014.	152	f.	Dissertação	
(Mestrado	em	História	Social)	–	Programa	de	Pós-Graduação	em	História,	
Universidade	de	Brasília,	Brasília,	2014.	Disponível	em:	https://repositorio.unb.br/
bitstream/10482/17910/1/2014_GeorgeAugustodaSilva.pdf.	Acesso	em:	17	jun.	2021.
76
SILVA,	G.	V.	Um	bispo	para	além	da	crise:	João	Crisóstomo	e	a	reforma	da	igreja	
de	Constantinopla.	Revista PHOÎNIX,	Rio	de	Janeiro,	v.	16,	n.	1,	p.	109-127,	2010.	
Disponível	em:	https://revistas.ufrj.br/index.php/phoinix/article/view/36576/20145.	
Acesso	em:	08	mar	2021.
STREFLING,	S.	R.	A	Dialética	do	argumento	único	de	Santo	Anselmo.	Revista Ágora 
Filosófica,	Recife,	a.	9,	n.	1,	p.	137-152,	jan./jun.	2009.	Disponível	em:	http://www.
unicap.br/ojs/index.php/agora/article/view/77/75.	Acesso	em	27	mar.	2021.
THEISSENN,	G.	A Religião dos primeiros cristãos:	uma	teoria	do	cristianismo	primitivo.	
Tradução	de	Paulo	F.	Valério.	São	Paulo:	Paulinas,	2009.	(Coleção	Cultura	Bíblica).
77
O CRISTIANISMO NA IDADE 
MODERNA
UNIDADE 2 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 definir	os	principais	pontos	do	Renascimento	Cultural	e	Científico	e	seu	impacto	nas	
questões	religiosas;
•	 identificar	os	principais	movimentos	da	Reforma	Protestante;
•	 caracterizar	os	principais	desafios	do	catolicismo	perante	o	protestantismo;
•	 identificar	os	aspectos	do	Iluminismo	e	sua	influência	no	campo	religioso.
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos.	No	decorrer	dela,	você	encontrará	
autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	AS	MUDANÇAS	RELIGIOSAS	NA	IDADE	MODERNA
TÓPICO	2	–	PERÍODO	DE	REFORMAS
TÓPICO	3	–	AS	MUDANÇAS	RELIGIOSAS	APÓS	A	REFORMA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
78
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
Acesse o 
QR Code abaixo:
79
TÓPICO 1 — 
AS MUDANÇAS RELIGIOSAS NA 
IDADE MODERNA
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro	acadêmico,	estudamos,	na	Unidade	 I,	 as	principais	mudanças	ocorridas	
no	cristianismo	na	Europa	no	período	Medieval.	Foi	uma	época	de	profundas	mudanças	
sociais	e	políticas.	O	sistema	feudal	era	majoritário	na	Europa	e	os	reis	eram	grandes	
senhores	feudais.	
O	 catolicismo	 romano	 se	 expandiu,	 inclusive,	 expulsando	 comunidades	
islâmicas	de	regiões	como	a	Península	 Ibérica,	no	conflito	que	ficou	conhecido	como	
Guerra	de	Reconquista.	Antes	disso,	promoveu	as	cruzadas,	na	tentativa	de	expulsar	os	
muçulmanos	da	cidade	de	Jerusalém.	A	partir	disso,	houve	uma	abertura	comercial	e	o	
recuo	do	islamismo	na	Europa,	porém,	o	avanço	em	outras	regiões.
Nesse	ínterim,	a	Europa	passou	pela	peste	negra,	que	dizimou	cerca	de	um	terço	
da	população,	e,	com	o	aumento	do	comércio	e	a	diminuição	dos	números	de	servos	nos	
feudos,	o	sistema	que	estava	consolidado	começou	a	ruir.	Os	comerciantes	chamados	
de	burgueses,	pois	viviam	nos	burgos,	que	eram	as	feiras,	estavam	necessitando	de	
medidas	estatais	para	auxiliar	no	comércio.	
A	 principal	 questão	 era	 a	 normatização	 do	 dinheiro.	 Era	 necessário	 que	 os	
territórios	definissem	suas	moedas	para	que	o	comércio	fosse	facilitado.	Além	disso,	
as	questões	nacionais	foram	ganhando	força,	desfavorecendo	o	sistema	de	divisões	
por	feudos.	Sendo	assim,	os	reis,	em	alguns	territórios,	conseguiram	concentrar	mais	
poderes,	em	detrimento	dos	senhores	feudais.	Este	cenário	favoreceu	o	surgimento	das	
primeiras	Monarquias	Nacionais:	França,	Inglaterra,	Espanha	e	Portugal.	Todavia,	cabe	
lembrar	que	os	territórios	da	atual	Itália	e	a	Alemanha	só	passaram	pela	unificação	no	
século	XIX.	
Não	é	nosso	intuito	explicar	como	esse	fenômeno	ocorreu,	porém,	é	importante	
entendermos	essa	mudança	sociopolítica,	já	que	ela	afetou,	também,	a	forma	com	que	
a	igreja	católica	passou	a	exercer	seu	domínio	na	sociedade.	O	período	do	absolutismo	
monárquico	não	alcançou	os	países	citados	na	mesma	época.	Eles	tiveram	que	enfrentar	
disputas	internas	e	externas	para	se	consolidarem.	
Após	 alcançarem	 o	 patamar	 de	 nação	 unificada,	 algumas	 características	 se	
fizeram	presentes,	como:	com	o	poder	nas	mãos	dos	reis,	apoiados	pela	nobreza	e	pelo	
clero;	 todos	 os	 governos	 se	declararam	cristãos	 católicos,	 e,	 em	contrapartida,	 seus	
80
súditos	também	eram.	Somente	a	Inglaterra	optou	por	um	sistema	de	governo	no	qual	
o	monarca	não	era	absoluto,	já	que	escolheram	a	monarquia	parlamentarista,	em	que	o	
rei	tinha	seu	poder	controlado	pelo	Parlamento.	Porém,	a	relação	entre	rei	e	parlamento	
nem	sempre	foi	harmônica,principalmente	após	a	Reforma	Protestante.
Para	 completar	 o	 aparato	 de	 mudanças,	 em	 1492,	 as	 caravelas	 espanholas	
chegaram	à	América.	Esse	evento	mudou	completamente	a	história,	não	só	dos	povos	
europeus,	como	dos	povos	das	terras	que	passaram	a	ser	chamadas	de	América.	As	
expansões	marítimas	favoreceram	a	abertura	das	 rotas	comerciais,	 intensificando	as	
relações	sociais	e	econômicas	entre	o	Ocidente	e	o	Oriente,	favorecendo	a	 inserção,	
na	 América,	 da	 cultura,	 da	 religião	 e	 da	 forma	 de	 governo	 europeus.	 A	 religião,	
principalmente	 nas	Américas	 espanholas	 e	 portuguesa,	 foi	 um	 dos	 principais	meios	
utilizados	no	processo	de	colonização	europeia	na	América.
Caro	 acadêmico,	 tendo	 em	vista	 essa	 contextualização	 histórica,	 trataremos	
agora,	neste	tópico,	de	alguns	aspectos	do	Renascimento	Cultural	e	Científico	e	suas	
relações	nas	questões	religiosas,	além	das	mudanças	ocorridas	com	relação	à	Inquisição	
e	a	formação	da	Inquisição	Ibérica.
Já	 no	 Tópico	 2,	 estudaremos	 como	 ocorreu	 a	 Reforma	 Protestante	 e	 os	
principais	grupos	surgidos,	que	passaram	a	 rivalizar	 com	a	 Igreja	católica	no	mundo	
Europeu.	No	Tópico	3,	veremos	como	foi	a	reação	católica	em	relação	ao	protestantismo,	
no	movimento	conhecido	como	Contrarreforma.	Estudaremos,	também,	como	ocorreu	
o	 desabrochar	 de	 outros	 grupos	 protestantes.	 Além	 disso,	 veremos	 como	 as	 ideias	
Iluministas	influenciaram	o	cristianismo.
2 O RENASCIMENTO CULTURAL E CIENTÍFICO: REAÇÕES 
DA IGREJA
O	período	conhecido	como	Renascimento	Cultural	e	Científico	compreendeu	os	
séculos	XV	e	XVI.	Teve	início	nas	cidades	italianas,	que	já	vivam	um	intenso	comércio,	
e	se	expandiu	para	diversas	cidades	europeias.	Foi	uma	época	de	grandes	mudanças	
sociais	e	invenções,	como	a	bússola,	o	astrolábio,	o	relógio	e,	talvez	a	mais	importante,	
a	 imprensa.	Nesse	período,	houve	um	verdadeiro	florescer	das	artes	nos	campos	da	
pintura,	 escultura	 e	 arquitetura.	 Nomes	 como	 Leonardo	 da	Vinci	 (1452-1519),	 Rafael	
Sanzio	 (1483-1520)	 e	 Michelangelo	 Buonarroti	 (1475-1564),	 tão	 conhecidos,	 fizeram	
dessa	 época	 um	 marco	 para	 a	 História	 da	 Arte	 Ocidental.	 A	 Figura	 1	 e	 a	 Figura	 2	
apresentam	pinturas	que	demonstram	as	principais	características	do	Renascimento.
81
FIGURA 1 – TETO DA CAPELA SISTINA, MICHELANGELO, 1512
FIGURA 2 – A ESCOLA DE ATENAS, RAFAEL, 1510
FONTE: <https://bit.ly/3NlvSe6>. Acesso em: 23 jun. 2022
FONTE: <https://bit.ly/3yhpG2G>. Acesso em: 16 abr. 2021
82
Na	Figura	1,	a	pintura	de	Michelangelo	faz	um	relato	das	histórias	bíblicas.	Em	
uma	sociedade	em	que	a	maior	parte	da	população	era	analfabeta,	contar	as	histórias	
sagradas	 pelas	 imagens	 era	 importante.	 É	 possível	 observar	 os	 destaques	 do	 corpo	
humano	 em	 cada	 representação,	 diferente	 do	 que	 ocorreu	 com	 a	 arte	 do	 período	
Medieval.	Essa	foi	uma	das	maneiras	de	expressar	a	ideia	antropocêntrica,	tão	apregoada	
no	Renascimento.	
A	pintura	mostra,	 também,	o	 resultado	dos	vários	estudos	do	corpo	humano	
realizado	pelos	artistas.	Na	segunda	obra,	apresentada	na	Figura	2,	Rafael	rememorou	
a	filosofia	e	arquitetura	gregas.	Muitos	pintores	nesse	período	utilizaram	da	história	e	
mitologia	grega	para	compor	suas	obras,	retomando,	assim,	a	cultura	clássica.
Nessa	etapa	do	Livro	Didático,	trataremos	de	algumas	ideias	renascentistas	que	
foram	responsáveis	por	mudanças	na	forma	de	pensar	do	Ocidente	e	que	colaboraram	
com	o	pensar	religioso.	Dentre	tais	ideias	estão	as	humanistas,	que	foram	aderidas	nos	
currículos	das	universidades,	como	explica	o	professor	Sevcenko	(1988):
Iniciou-se,	assim,	um	movimento	cujo	objetivo	era	atualizar,	dinamizar	
e	revitalizar	os	estudos	tradicionais,	baseado	no	programa	dos	studia	
humanitatis	 (estudos	 humanos),	 que	 incluíam	 a	 poesia,	 a	 filosofia,	
a	 história,	 a	matemática	 e	 a	 eloquência,	 disciplina	 esta	 resultante	
da	 fusão	 entre	 a	 retórica	 e	 a	 filosofia.	Assim,	 num	 sentido	 estrito,	
os	humanistas	eram,	por	definição,	os	homens	empenhados	nessa	
reforma	educacional,	baseada	nos	estudos	humanísticos.	Mas	o	que	
tinham	esses	estudos	de	tão	excepcional,	a	ponto	de	servirem	para	
reformar	o	predomínio	cultural	inquestionável	da	Igreja	e	reforçar	toda	
uma	nova	visão	do	mundo?	Ocorre	que	esses	studia	humanitatis	eram	
indissociáveis	 da	 aprendizagem	 e	 do	 perfeito	 domínio	 das	 línguas	
clássicas	(latim	e	grego),	e	mais	tarde	do	árabe,	hebraico	e	aramaico.	
Assim	 sendo,	 deveriam	 ser	 conduzidos,	 centrados	 exclusivamente	
sobre	os	textos	dos	autores	da	Antiguidade	clássica,	com	a	completa	
exclusão	 dos	 manuais	 de	 textos	 medievais.	 Significava,	 pois,	 um	
desafio	para	a	cultura	dominante	e	uma	tentativa	de	abolir	a	tradição	
intelectual	medieval	e	de	buscar	novas	raízes	para	a	elaboração	de	
uma	nova	cultura	(SEVCENKO,	1988,	p.	13,	14).
O	empenho	dos	estudiosos	humanistas	estava	concentrado	em	um	retorno	
aos	 estudos	 dos	 clássicos	 da	 antiguidade	 em	 contraste	 com	 o	 pensamento	 dos	
filósofos	medievais.	Para	isso,	foi	imprescindível	a	retomada	dos	estudos	das	línguas	
clássicas,	principalmente	o	grego	e	o	latim.	O	hebraico	também	foi	retomado,	tendo	
em	vista	o	estudo	da	Bíblia.	Portanto,	um	novo	perfil	de	estudantes	foi	 responsável	
por	 revitalizar	 a	 compreensão	do	mundo	greco-romano,	 principalmente	no	que	diz	
respeito	à	filosofia	e	às	artes.	
Caro	acadêmico,	devemos	 lembrar,	porém,	que	a	 igreja	católica	ainda	estava	
como	 centro	 da	 cultura	 e	 do	modo	 de	 pensar	 na	 Europa.	 Ela	 atuava	 junto	 aos	 reis	
absolutistas,	na	busca	de	hegemonia	religiosa.	Sendo	assim,	você	já	deve	ter	percebido	
que	as	ideias	renascentistas	nem	sempre	foram	bem	recebidas	pela	igreja.	Todavia,	é	
83
importante	lembrar	que	os	estudiosos	da	Renascença	não	eram	necessariamente	contra	
o	cristianismo.	Ao	contrário,	eles	prezavam	pela	religião.	Entretanto,	a	interpretação	dada	
sobre	os	limites	do	clero	na	vida	das	pessoas,	das	artes	e	da	ciência	é	que	passaram	
a	ser	contestados.	Por	isso	mesmo	é	que	as	perseguições	foram	constantes,	vejamos	
alguns	exemplos:
O	respeito	à	 individualidade	deles	e	à	originalidade	de	pensamento	
nunca	foi	uma	conquista	assegurada.	A	vida	sempre	 lhes	foi	cheia	
de	perseguições	e	riscos	iminentes:	Dante	e	Maquiavel	conheceram	
o	exílio,	Campanella	e	Galileu	foram	submetidos	a	prisão	e	tortura,	
Thomas	Morus	foi	decapitado	por	ordem	de	Henrique	VIII,	Giordano	
Bruno	e	Etiene	Dolet	foram	condenados	à	fogueira	pela	 Inquisição,	
Miguel	de	Servet	foi	 igualmente	queimado	vivo	pelos	calvinistas	de	
Genebra,	para	só	mencionarmos	o	destino	trágico	de	alguns	dos	mais	
famosos	representantes	do	humanismo	[...]	(SEVCENKO,	1988,	p.	16).
Um	dos	 representantes	do	Renascimento	mais	conhecidos	da	área	científica	
foi	Galileu	Galilei	 (1564-1642).	Ele	foi	processado	pela	 Inquisição	por	defender	a	 ideia	
de	Nicolau	Copérnico	(1473-1543),	relacionada	ao	Heliocentrismo,	que	afirma	ser	o	sol	
o	centro	do	sistema	solar,	tendo	os	astros	girando	ao	seu	redor.	Ele	chegou,	inclusive,	a	
alertar	a	Igreja	de	que	era	um	risco	ela	não	aceitar	que	estaria	errada	quanto	à	afirmação	
do	pensamento	geocêntrico.	
Tal	 ideia	era	a	favor	da	Terra	como	centro	do	universo,	tendo	os	astros	girando	
ao	redor	dela.	Todavia,	para	que	não	tivesse	a	penalidade	máxima	da	Inquisição,	Galilei	
teve	que,	publicamente,	negar	a	veracidade	de	seus	estudos	(BAIARDI,	2011).	Galileu	se	
considerava	um	fiel	católico	e	defendia	que	a	Bíblia	não	continha	erros,	porém,	algumas	
das	interpretações	feitas	pela	igreja	poderiam	ser	equivocadas.	Além	disso,	Galileu	também	
defendia	que	a	Bíblia	não	deveria	ser	 interpretada	literalmente.	Quanto	às	questões	da	
ciência,	sua	posição	era	de	que	ela	não	poderia	sofrer	influências	externas,	inclusive	da	
religião	(BAIARDI,	2011).
Para conhecer mais dos processos inquisitoriais envolvendo Galileu 
Galilei, leia o artigo do professor Amílcar Baiardi (2011), disponível em: 
https://bit.ly/3HMbJga.Amplie seus conhecimentos da relação da impressa na Renascença, lendo o 
artigo de Ribeiro, Chagas e Pinto, disponível em: https://bit.ly/3xLCGvL.
DICA
84
Lembremos,	 caro	 acadêmico,	 que	 a	 Inquisição	 atuava	 com	 força	 e	 com	 o	 aval	
dos	reis.	Sendo	assim,	a	liberdade	de	expressão	que	fugisse	do	pensamento	da	Igreja	não	
era	permitida.	Outro	 fator	 relevante	no	período	 renascentista	 se	deu	por	meio	da	maior	
divulgação	do	conhecimento,	em	virtude	do	surgimento	da	imprensa,	como	já	ressaltamos.	
Os	livros,	antes	feitos	à	mão,	levavam	muito	tempo	para	serem	confeccionados,	
o	que	os	tornavam	caros	e	de	difícil	acesso	e	circulação.	Com	a	invenção	da	imprensa	
de	tipos	móveis	por	Gutemberg	(1400-1468),	foi	possível	o	avanço	de	ideias	divergentes	
com	 mais	 rapidez.	 Contudo,	 não	 devemos	 achar	 que	 era	 tão	 ágil	 como	 foi	 após	 a	
Revolução	 Industrial.	 Devemos	 lembrar,	 também,	 que	 o	 índice	 de	 analfabetismo	 era	
muito	alto,	porém,	entre	a	população	que	tinha	acesso	à	educação,	houve	um	aumento	
no	contato	e	na	circulação	das	ideias	renascentistas.
FIGURA 3 – MODELO DA IMPRENSA DE GUTEMBERG
FONTE: <https://bit.ly/39Naz7v>. Acesso em: 17 jun. 2021
85
FIGURA 4 – TIPOS MÓVEIS
FONTE: <https://bit.ly/3tWAWia>. Acesso em: 17 jun. 2021
A	possibilidade	de	publicação	e	disseminação	dos	 impressos	em	larga	escala	
ocasionou	uma	revolução	social:	 “O	barateamento	dos	 livros	e	a	 liberdade	de	acesso	
aos	escritos	e	à	informação	[...]	contribuíram	de	maneira	considerável	para	a	transição	
de	 pensamento	 teocêntrico	 passando	 para	 um	 modelo	 antropocêntrico	 de	 pensar”	
(RIBEIRO;	CHAGAS;	PINTO,	2007)	E,	no	cenário	religioso,	tal	mudança	trouxe	preocupação	
para	a	igreja,	que	tinha	mais	um	campo	para	vigiar.	Veremos,	no	Tópico	3,	como	ela	fez	
para	conter	as	publicações	que	não	estavam	de	acordo	com	sua	doutrina.	
Quanto	 ao	 desenvolvimento	 da	 teologia	 cristã	 na	 Renascença,	 alguns	
pensadores	 foram	 muito	 importantes,	 entre	 eles	 Lorenzo	 da	 Valla	 (1407-1457),	 que	
conseguiu	 comprovar	 que	 alguns	 “documentos”	 que	 a	 igreja	 utilizava	 haviam	 sido	
falsificados,	como,	por	exemplo,	um	texto	atribuído	a	Constantino.	Ele	também	ajudou	
a	 elaborar	 técnicas	de	 estudo	da	 literatura	 sagrada.	 Para	 isso,	 era	 importante	que	o	
estudioso	dominasse	as	línguas	antigas.	
O	 estudo	 da	 literatura	 antiga	 foi	 intensificado	 pelos	 principais	 pensadores	
italianos,	 como	 Marcilio	 Ficino	 (1433-1499)	 e	 Pico	 della	 Mirandola	 (1463-1494),	 que	
“os	tratavam	como	chaves	para	o	futuro,	cotejavam	e	deles	se	valiam	como	padrões	
de	 avaliação	 do	 ensino	 convencional	 no	 Ocidente”	 (JOHNSON,	 2001,	 p.	 322).	 Esses	
estudiosos	foram	fundamentais	para	as	mudanças	no	ensino	desse	período.
Ao	mesmo	 tempo,	 todo	 o	 espectro	 da	 erudição	 hebraica,	 que	 se	
havia	mantido	intocado	na	Espanha	por	séculos,	foi	disponibilizado	
para	 o	 Ocidente	 por	 Mirandola,	 que	 uniu	 a	 teosofia	 cabalística	
judaica	 à	 cosmologia	 neoplatônica.	 Seu	 discípulo,	 o	 hebraísta	
Johann	 Reuchilin,	 produziu	 a	 primeira	 gramática	 hebraico-cristã	
em	 1506	 e	 procurou	 impedir	 a	 destruição	 desses	 primeiros	 livros	
judaicos	pela	Inquisição	dominicana.	Assim,	o	Novo	Ensino	entrou	
86
em	 conflito,	 pela	 primeira	 vez,	 com	 a	 igreja	 estabelecida.	 Mas	 o	
choque	 era	 inevitável.	 Agora,	 os	 homens	 tinham	 condições	 de	
estudar	os	textos	gregos	e	hebraicos	no	original	e	compará-los	com	
a	versão	recebida	em	latim,	tratada	como	sacrossanta	no	Ocidente	
por	séculos	(JOHNSON,	2001,	p.	322-323).
Tais	 estudos	 foram	 importantes	 também	para	 rever,	 inclusive,	 a	 tradução	da	
Bíblia	conhecida	como	Vulgata,	na	qual	Valla	conseguiu	apontar	alguns	erros	(JOHNSON,	
2001).	 O	 estudo	 mais	 intenso	 e	 a	 articulação	 com	 conhecimento	 da	 Antiguidade	
acarretaram	 uma	 reformulação	 no	 ensino,	 a	 qual	 foi	 fundamental	 para	 o	 posterior	
desenvolvimento	da	Reforma	Protestante.
3 A INQUISIÇÃO MODERNA
Caro	acadêmico,	vimos	que	a	Europa	estava	passando	por	mudanças	religiosas,	
políticas	e	sociais	 intensas,	no	final	do	século	XV.	A	 Inquisição	estava	ampliando	seu	
domínio,	sendo	instituída	em	diversos	países.	Todavia,	apesar	de	Roma	ser	a	sede	geral	
da	Igreja	e	comandar	o	Tribunal	do	Santo	Ofício,	ela	precisava	da	ajuda	dos	governantes	
para	que	seu	poder	se	efetivasse.	
Nem	 sempre	 essas	 relações	 eram	harmoniosas,	 por	 isso,	 cada	 país	 acabava	
fazendo	leis	sobre	o	papel	do	catolicismo	na	vida	da	sociedade	e	como	se	daria	o	domínio	
da	 Inquisição	 em	 seu	 território.	 Estudaremos,	 agora,	 como	 funcionou,	 na	 Península	
Ibérica,	o	Tribunal	do	Santo	Ofício,	pois	ele	se	tornou	como	um	dos	principais	tribunais	
inquisitoriais	e,	diferente	de	outras	regiões,	ele	atuou	com	uma	grande	interferência	do	
estado,	em	detrimento	de	Roma.
Durante	a	Idade	Média,	a	Península	Ibérica	foi	o	local	da	Europa	com	uma	maior	
convivência	 pacífica	 entre	 cristãos,	 judeus	 e	 islâmicos.	 Os	 judeus	 não	 conseguiram	
ter	o	domínio	político	da	região,	mas	os	 islâmicos,	sim.	Tal	fator	fez	com	que	guerras	
fossem	realizadas	para	acabar	como	domínio	islâmico	no	território,	e	estabelecesse	o	
cristianismo	como	liderança	política	e	social.	Tal	feito	só	foi	possível	quando	houve	a	
unificação	da	Espanha	(NOVINSKY,	1982).
Um bom filme para entendermos a mentalidade Medieval em contraponto 
com a Renascentista é O nome da rosa, dirigido por Jean-Jacques Annaud. 
Ele é baseado no livro de mesmo nome, de Umberto Eco: https://www.
adorocinema.com/filmes/filme-2402/. Há, também, a série lançada em 
2019: https://www.adorocinema.com/series/serie-22858/.
DICA
87
Na	 Espanha,	 a	 Inquisição	 teve	 início	 em	 1478,	 no	 governo	 dos	 Fernando	 de	
Aragão	e	Isabel	de	Castela,	conhecidos	como	os	reis	católicos.	Eles	haviam	conseguido	
unificar	o	território,	o	que	causou	uma	perseguição	intensa	a	quem	não	fosse	cristão.	
Contudo,	com	a	Inquisição	instalada	no	reino,	a	vida	das	pessoas	que	não	eram	católicas	
não	foi	alterada.	Caro	acadêmico,	você	deve	estar	lembrado	que	a	Inquisição	só	poderia	
atuar	entre	os	cristãos,	ou	seja,	os	que	já	haviam	recebido	o	batismo.	Por	isso,	os	reis	
usaram	da	tática	de	expulsão	do	território,	para	os	que	não	se	convertesse.
A	 Inquisição	 espanhola	 teve	 a	 intensa	 participação	 do	 Estado	 durante	 o	 seu	
funcionamento.	Ela	é	considerada	a	mais	sangrenta	das	Inquisições,	como	explica	Green:
A	Inquisição	atingiu	o	ápice	da	violência	na	Espanha,	nos	primeiros	
cinquenta	anos	após	sua	criação,	em	1478,	período	em	que,	segundo	
estimativas,	cerca	de	50	mil	pessoas	foram	julgadas	e	uma	parcela	
significativa	desse	número	foi	queimada	na	fogueira	na	condição	de	
relaxados.	Em	alguns	anos,	como	em	1492,	2	mil	pessoas	podem	ter	
sido	‘relaxadas’	e	outras	2	mil	podem	ter	tido	suas	efígies	queimadas.	
Aproximadamente	setecentas	pessoas	foram	mortas	só	em	Servilha	
entre	1481	e	1488,	e	outras	cinquenta	em	Cidade	Real	entre	1483	e	
1484.	Cerca	de	10%	da	população	de	Toledo	foi	julgada	pela	Inquisição	
entre	1486	e	1499,	e	3%	foi	‘relaxada’	em	vida	ou	em	efígie.	Enquanto	
isso,	 no	 reino	 de	 Aragão,	 aproximadamente	 mil	 pessoas	 foram	
‘relaxadas’	entre	1485-1530	(GREEN,	2011,	p.	32,	33).
O	 ano	 de	 1492	 trouxe	mudanças	 para	 os	 espanhóis,	 pois	 eles	 conseguiram	
consolidar	 a	 unificação,	 ao	 expulsar	 os	 últimos	mouros	 de	 Granada,	 e,	 conseguiram	
chegar	à	América,	mudando	completamente	as	relações	entre	os	povos	do	mundo.	Outro	
passou	foi	dado,	entretanto,	em	31	de	julho	de	1492,	quando	foi	assinado	o	Decreto	de	
Alhambra,	ou	Édito	de	Granada,	que	expulsava	os	judeus	da	Espanha.	Quem	quisesse	
permanecer	no	território	espanhol	deveria	se	converter	ao	cristianismo	e,	claro,	viver	
como	cristão.	Os	 judeus	que	aceitaram,	ficaram	conhecidos	como	conversos.	Muitos	
judeus	fugiram	para	outros	países,	principalmente	Portugal.
No	caso	da	Inquisição	portuguesa,	o	seu	alvo	principal	foram	os	cristãos-novos	
acusados	de	práticasjudaizantes.	Estes	eram	judeus	que	tiveram	que	aceitar	a	fé	cristã	
católica	ou	fugir	de	Portugal,	quando	o	rei	D.	Manuel	I	(1469-1521)	decretou,	em	1496,	que	
no	reino	português	não	poderia	haver	judeus.	Esse	decreto	foi	uma	pressão	feita	pelos	
reis	católicos	da	Espanha,	ao	monarca	português.	Aos	judeus	foi	dado	um	prazo	de	dez	
meses	para	sair	do	reino	ou	se	batizarem.	Porém,	antes	de	findar	o	prazo,	o	rei,	temendo	
a	saída	em	massa	dos	judeus,	ordenou	o	batismo	forçado.	Sobre	esse	assunto,	vejamos	
a	explicação	de	Wilke:
O	 desenrolar	 final	 da	 conversão	 forçada	 é	 relatado	 por	Abraão	 Saba,	
que	foi	dela	testemunha.	Enquanto	estava	com	dez	mil	outros	judeus	
comprimidos	no	pátio	do	edifício	e	provavelmente	na	Praça	do	Rossio,	
o	 rei	 ordenou	 que	 os	 mantivessem	 fechados,	 sem	 comida	 e	 sem	
água.	Ao	fim	de	quatro	dias,	 apenas	40	 judeus	teriam	 resistido;	o	 rei	
mandou-os	prender.	Samuel	Usque,	concordando	com	fontes	cristãs,	
dá	uma	versão	bastante	diferente,	e	afirma	que	outras	coacções	foram	
88
impostas	aos	prisioneiros	para	que	se	tornassem	cristãos.	Os	soldados	
e	os	clérigos	uniram-nos	de	água	batismal	a	força,	arrastando-os	pelos	
cabelos	e	pela	barba	até	às	 igrejas.	O	único	meio	de	se	subtraírem	a	
essa	brutalidade	foi	então	o	suicídio.	Alguns	saltaram	pelas	janelas	do	
edifício	d’Os	Estaus,	ou	precipitaram-se	nos	poços.	A	maioria	tornou-
se	cristã,	como	escreveria	o	humanista	português	Jerônimo	Osório,	por	
‘um	ato	iníquo	e	injusto	cometido	contra	as	leis	e	contra	a	religião’,	pois	
forçando	os	 judeus	a	fingir	uma	fé	que	abominavam,	o	rei	deu	azo	 ‘a	
que,	pela	simulação	religiosa,	a	religião	fosse	indignamente	profanada’	
(WILKE,	2009,	p.	67).
Após	 esse	 processo	 de	 conversão	 forçada,	 uma	 vez	 “cristãos”,	 eles	 estariam	
subordinados	à	Igreja	católica	e,	se	fossem	pegos	realizando	práticas	que	fugissem	do	
padrão	 aceito	 pela	 religião	 dominante,	 poderiam	 ser	 processados	 pela	 Inquisição.	 Ao	
obrigar	esses	judeus	a	abraçarem	uma	fé	na	qual	eles	não	tinham	interesse,	a	vigilância	
passou	a	ser	intensa	para	que	eles	não	tivessem	as	práticas	da	sua	antiga	religião.	Alguns	
cristãos-novos	 procuravam	 praticar	 o	 judaísmo	 clandestinamente.	 A	 esse	 judaísmo	
camuflado	os	estudiosos	deram	o	nome	de	criptojudaísmo.	
O	início	da	Inquisição	no	solo	português	foi	solicitado	ao	papa	por	D.	João	III	em	
1531,	que	reinou	em	Portugal	entre	1521	e	1557.	O	papa	Clemente	VII	constituiu	o	tribunal	
com	a	bula	Cum	ad	nihil	magis,	em	dezembro	do	mesmo	ano.	Porém,	tal	decisão	foi	
revista	após	um	ano.	Em	1536,	o	papa	Paulo	III	voltou	a	autorizar	o	estabelecimento	do	
tribunal	em	Portugal,	porém	de	uma	forma	restrita,	não	podendo,	por	exemplo,	confiscar	
bens	durante	dez	anos.	Inicialmente,	a	Inquisição	esteve	limitada,	sendo	que,	em	1539,	
o	rei	D.	João	III	concedeu	ao	seu	irmão,	D.	Henrique,	o	cargo	de	inquisidor.	A	partir	do	
seu	comando,	tal	tribunal	passou	a	agir	mais	violentamente,	tendo	sido	o	primeiro	auto-
de-fé	realizado,	em	1540.	Outros	tribunais	foram	instaurados	no	Reino	português	nas	
cidades	de	Évora,	Coimbra,	Lamego,	Porto	e	Tomar	(WILKE,	2009).
O	papa,	no	entanto,	não	satisfeito	com	os	desmandos	dos	tribunais	portugueses,	
proibiu	novamente	que	esses	funcionassem,	em	22	de	setembro	de	1544.	Todavia,	em	16	
de	julho	de	1547,	a	Inquisição	em	Portugal	foi	reinstalada	e	um	perdão	geral	foi	concedido	
aos	cristãos-novos,	promovendo-se	a	libertação	dos	presos	nos	cárceres	inquisitoriais.	O	
perdão	Geral	era	uma	medida	que	o	papa	tomava,	na	qual	era	concedido	o	perdão	a	todos	
que	estivessem	nos	cárceres	inquisitoriais.
A	partir	disso,	a	 Inquisição	portuguesa	passou	a	ser	dividida	em	duas	partes:	
Lisboa,	que	comandava	o	Centro-Norte,	e	Évora,	o	Sul	do	Reino.	Outros	tribunais	foram	
criados	depois,	um	em	Goa,	na	Índia,	em	1560;	outro	em	Coimbra,	no	ano	de	1565.	No	
ano	de	1568,	por	meio	de	uma	carta	papal,	todas	as	graças	concedidas	aos	cristãos-
novos	foram	desfeitas,	e	a	Inquisição	Portuguesa	passou	a	agir	com	menos	restrições	
de	Roma	(WILKE,	2009).
Os	 moldes	 da	 Inquisição	 portuguesa	 foram	 baseados	 na	 espanhola.	 Cada	 país	
acabava	criando	regras	específicas	para	o	funcionamento	do	Tribunal	do	Santo	Ofício,	pois,	
devemos	lembrar	que	religião	e	política	não	estavam	separadas	nessa	época.	
89
Caro	acadêmico,	como	já	estudamos,	havia	dois	livros	principais	que	direcionavam	
o	 funcionamento	 da	 Inquisição	 em	 qualquer	 país:	 O	Manual	 do	 Inquisidor,	 escrito	 por	
Nicolau	Eymerich,	em	1376,	e	ampliado,	em	1578,	por	Francisco	de	La	Peña,	e	o	Martelo	
das	Feiticeiras	 (Malleus	Maleficarum),	escrito	por	Heinrich	Kramer,	em	1486.	Esses	dois	
livros	trazem	as	principais	ideias	de	quem	deveria	passar	pelo	tribunal	inquisitorial.	
O	primeiro,	de	forma	mais	genérica,	aponta	as	principais	características	do	inquisidor,	
o	que	eram	as	heresias,	como	deveria	ser	a	tortura	etc.	Já	o	segundo	trata	sobre	quem	eram	as	
bruxas/bruxos	(ou	feiticeiras)	e	como	os	inquisidores	deveriam	agir.
Porém,	em	Portugal,	outros	documentos	trataram	do	funcionamento	da	Inquisição.	
Os	Regimentos	Inquisitoriais	foram	os	principais,	porém,	eles	sofreram	algumas	mudanças	
durante	os	anos.	Temos,	então,	os	Regimentos	dos	anos:	1552,	1613,	1640	e	1774.	Além	
deles,	havia	o	Monitório	do	Inquisidor	Geral,	que	era	uma	espécie	de	resumo	do	Manual	do	
Inquisidor,	em	que	eram	apontadas	as	principais	práticas	que	deveriam	ser	denunciadas	
e/ou	confessadas.	Esse	documento	era	afixado	nas	igrejas	quando	a	inquisição	chegava	
em	alguma	cidade.	
Além	 desses	 documentos	 que	 eram	 mais	 específicos	 para	 ao	 trabalho	 da	
Inquisição,	 havia,	 também,	 o	 conjunto	 das	 leis	 portuguesas,	 conhecidas	 como	
Ordenações,	 que	 tratavam	 de	 todos	 os	 aspectos	 da	 vida	 dos	 portugueses	 e,	 claro,	
também	 abordava	 aspectos	 religiosos.	 As	 Ordenações	 sofreram	 algumas	mudanças	
a	 depender	 dos	 reis	 que	governassem	o	país.	 Foram	elas:	As	Ordenações	Afonsinas	
(1500-1514),	Manuelinas	(1514-1603)	e	Filipinas	(1603-1774).
Quando	não	havia	um	tribunal	inquisitorial	em	alguma	cidade	do	reino	e	havia	
muitas	denúncias	de	práticas	consideradas	desviantes	da	fé,	era	enviado	um	inquisidor,	
ou	 alguém	 com	 este	 poder,	 para	 fazer	 a	 Visitação.	 Na	 ocasião	 em	 que	 o	 inquisidor	
estivesse	 lá,	 ele	 deveria	 colher	 as	 denúncias,	 fazer	 interrogatórios,	 mas	 só	 poderia	
aplicar	penas	leves.
	Caso	as	acusações	fossem	mais	graves,	ele	deveria	encaminhar	para	o	Tribunal	
mais	próximo.	No	caso	do	Brasil,	ocorreram	três	visitações.	Todos	os	casos	relativos	ao	
Brasil	Colonial	foram	julgados	pelo	Tribunal	de	Lisboa.	No	geral,	os	“crimes”	mais	comuns	
apurados	pela	Inquisição	foram:	
•	 Práticas	 judaizantes:	 pessoas	 que	 eram	 acusadas	 de	 realizarem	 algum	 tipo	 de	
práticas	judaicas.	Os	alvos	principais	dessa	acusação	eram	ao	cristãos-novos.
•	 Sodomia:	a	homossexualidade	foi	um	dos	aspectos	que	mais	ganhou	repercussão	em	
Portugal,	só	“perdendo”	para	os	cristãos-novos	(MOTT,	1992,	p.	704).		
•	 Bigamia:	quando	uma	pessoa	era	casada	e	contraía	outro	matrimônio,	sendo	que	o	seu	
primeiro	cônjuge	ainda	estava	vivo.	Isso	ocorreu	muito	com	os	colonos	que	vieram	à	
América	portuguesa.	Muitos	que	já	eram	casados	em	Portugal	e	vinham	para	a	colônia	
90
acabavam	contraindo	novo	matrimônio	e,	claro,	não	diziam	que	já	eram	casados.	Era	
comum	que,	quando	pegos,	eles	alegassem	que	achavam	que	suas	esposas	haviam	
morrido,	pois	alguém	havia	falado	a	eles.
•	 Solicitantes:	era	quando	os	padres	eram	acusados	de	obterem	favores	sexuais	nos	
confessionários,	de	forma	consensual	ou	não.
•	 Feitiçaria:	pessoas	acusadas	de	fazerem	sortilégios,	pacto	com	o	diabo,	entre	outros.	
Porém,	os	casos	de	feitiçaria	foram	menos	comuns	na	Península	Ibérica.
•	 Havia,	ainda,	a	perseguição	às	pessoas	que	disseminassem	ideias	de	outras	vertentes	
religiosas,	como	o	islamismo,	o	luteranismo	ou	o	calvinismo.	Além	disso,	quem	fosse	
pego	portando	algum	livro	proibido	também	seria	preso.A	sentença	do	processo	não	era	dada	de	maneira	rápida,	como	já	estudamos	
anteriormente.	Havia	casos	em	que	a	pessoa	passava	mais	de	dez	anos	nos	cárceres.	
De	 acordo	 com	 o	manual	 do	 inquisidor,	 no	 caso	 de	 alguém	 que	 fosse	 preso	 e	 que	
confessasse	logo,	porém	não	se	arrependesse,	a	pena	não	poderia	ser	dada	de	imediato.	
A	 pessoa	 deveria	 ser	 mantida	 pelo	 menos	 um	 ano	 presa,	 para	 que	 os	 inquisidores	
pudessem	ajudá-la	a	se	arrepender,	pois,	segundo	o	manual,	era	mais	importante	levá-
la	ao	arrependimento	(EYMERICH,	1993,	p.	154).	Além	do	que,	se	morto	logo,	ele	poderia	
ser	considerado	um	mártir	para	seus	seguidores.	Era	 importante	que	os	 inquisidores	
conseguissem	extrair	do	réu	quem	eram	seus	cúmplices,	mesmo	que	não	conseguissem	
que	ele	viesse	a	se	arrepender.
FIGURA 5 – RÉPLICA DO POTRO, INSTRUMENTO DE TORTURA
FONTE: <http://www.museudainquisicao.org.br/acervo/potro/>. Acesso em: 24 maio 2021.
Para conhecer as ordenações portuguesas, visite os seguintes links.
Ordenações Afonsinas: http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas.
Ordenações Manuelinas: http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/manuelinas/.
Ordenações Filipinas: http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm.
DICA
91
3.1 ESTATUTOS DE PUREZA DE SANGUE
Os	Estatutos	de	Pureza	de	sangue	iniciaram	na	Espanha	em	1449,	e,	em	Portugal,	
o	processo	discriminatório	foi	paulatino,	tendo-se	iniciado,	sobretudo,	nas	ordenações	
religiosas	(SARAIVA,	1994,	p.	113).	Sobre	esse	tema,	Carneiro	(1988)	nos	apresenta	um	
panorama	das	leis	portuguesas	nas	quais	se	excluía	à	participação	de	cargos	públicos	
e	de	ordens	religiosas	pessoas	que	tivessem	em	sua	ascendência	familiar	algum	tipo	de	
“sangue	infecto”,	ou	seja,	mouro,	judeu,	cigano,	negro,	indígena,	mulatos	e	cristão-novo	
(CARNEIRO,	1988,	p.	12).
O	mito	da	pureza	de	sangue	afirmava	a	linhagem	“pura”	como	sendo	a	linhagem	
de	Jafé,	um	dos	filhos	de	Noé	e	a	linhagem	impura	a	dos	descendentes	de	outro	filho	
de	Noé,	Sem,	dando	origem	à	linhagem	semítica.	Por	isso,	os	cristãos-novos	estavam	
incluídos	na	linhagem	impura,	pois,	mesmo	tendo	aceitado	o	cristianismo,	continuavam	
semitas,	ou	seja,	impuros	(CARNEIRO,	1988).
Portanto,	para	uma	pessoa	conseguir	ter	algum	cargo	nos	governos	da	Espanha	
ou	de	Portugal	ou	fazer	parte	de	alguma	ordem	religiosa,	deveria	comprovar	que	sua	
linhagem	era	“pura”,	ou	seja,	se	não	havia	ascendentes	familiares	de	nenhuma	categoria	
marcada	como	sangue	infecto.	Os	estatutos	de	pureza	de	sangue	no	reino	português	só	
deixaram	de	existir	no	período	da	administração	pombalina,	em	1773	(CARNEIRO,	1988).
Alguns documentários sobre a Inquisição:
O martelo das feiticeiras, produzido pela National Geografic.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Bt1NddkM_UE.
A estrela oculta do sertão. Elaine Eiger; Luize Valente. Brasil: Fototema, 2005.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zM6dRc5mrtM&t=24s.
Caminhos da memória: a trajetória dos judeus em Portugal. Elaine 
Eiger; Luize Valente. Brasil: Fototema, 2002.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JNuz7wEd7Lw.
A santa visitação. Elza Cataldo. Brasil: Persona Filmes, 2006.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kTICGiqp2vA. 
Alguns filmes sobre a temática da Inquisição:
O poço e o pêndulo. Stuart Gordon. EUA. 1991.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KLaKml78-Tk&t=1043s.
O judeu. Jom Tob Azulay. Brasil/Portugal. 1995.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UvB2LD9PGjI&t=133s.
Sombras de Goya. Miloš Forman. Espanha/EUA. 2007.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-jioJBfDn5c.
DICA
92
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 O	sistema	feudal	dominante	no	Medievo	deu	lugar,	na	Idade	Moderna,	às	monarquias	
absolutistas	cristãs.
•	 O	 Renascimento	 Cultural	 e	 Científico	 foi,	 em	 certo	 ponto,	 combatido	 pela	 Igreja.	
Mesmo	 assim,	 ele	 trouxe	 contribuições	 para	 o	 cristianismo,	 principalmente	 na	
questão	educacional	pautada	pelo	humanismo.
•	 A	Inquisição	atuou	com	mais	ênfase,	expandido	seu	domínio	em	diferentes	países,	
principalmente	após	a	Reforma	Protestante.
•	 No	 contexto	 da	 Inquisição	 Ibérica,	 o	 catolicismo	 perseguiu	 com	 mais	 ênfase	 os	
islâmicos	e	judeus,	expulsando	de	seus	territórios,	ou	pela	conversão	forçada.
93
1	 Confira	 o	 trecho	 a	 seguir	 e,	 em	 seguida,	 responda	 à	 questão	 proposta.	 “Em	 1615	
começam	a	se	acumular	denúncias	e	depoimentos	formais	contra	Galileu,	a	exemplo	
das	 do	 padre	 Tomaso	 Caccini,	 que	 continha	 detalhes	 e	 envolvia	 os	 discípulos	 de	
Galileu	[...].	No	seio	da	própria	igreja	havia	vozes	favoráveis	a	Galileu	como	a	do	vigário	
Attavanti	 e	 do	 padre	Mihelangelo	 Buonarroti.	 [...]	 De	 outro	 lado,	 a	 concorrer	 para	 a	
animosidade	estava	o	fato	de	Galileu,	na	condição	de	católico,	entender	que	era	sua	
missão	flexibilizar	 a	 interpretação	da	 Igreja	 sobre	Copérnico,	 para	 que	 a	 autoridade	
desta	 não	 fosse	 atingida	 quando	 se	 tornasse	 irreversível	 a	 aceitação	 universal	 do	
heliocentrismo”	(BAIARDI,	2011,	p.	7).	Vários	representantes	do	Renascimento	Cultural	
e	Científico	tiveram	suas	publicações	tiradas	de	circulação	pela	Igreja,	além	de	muitos	
sofrerem	processos	pelo	Tribunal	do	Santo	Ofício	da	Inquisição.	Sobre	esse	assunto,	
assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	 No	período	renascentista,	houve	um	empenho	dos	estudiosos	humanistas	com	
o	 retorno	 aos	 estudos	 dos	 pais	 da	 igreja	 da	 antiguidade,	 em	 detrimento	 dos	
filósofos	medievais.	 Para	 isso,	 foi	 imprescindível	 a	 retomada	 dos	 estudos	 das	
línguas	clássicas,	principalmente	o	grego	e	o	latim.
b)	(			)	 Os	cientistas	da	Renascença	se	envolveram	em	lutas	contra	o	domínio	da	religião	
católica,	proclamando	o	ateísmo	e	o	cientificismo	no	lugar	no	cristianismo.
c)	(			)	 Apesar	 do	 ambiente	 cultural	 favorável	 à	 busca	 de	 novos	 conhecimentos	 que	
o	 Renascimento	 propiciou,	 havia	 fatores	 que	 impediam	 um	 linear	 avanço	 da	
ciência	nos	Estados	cuja	influência	católica	era	muito	grande,	como	a	constante	
fiscalização,	por	parte	da	Igreja,	do	que	era	proposto	pelos	cientistas.
d)	(			)	 Um	dos	 representantes	 do	Renascimento	mais	 conhecidos	 da	 área	 científica	 foi	
Galileu	Galilei.	 Ele	 foi	 processado	 pela	 Inquisição	 por	 defender	 o	 pensamento	 de	
Nicolau	Copérnico,	o	Geocentrismo,	que	afirma	ser	a	terra	o	centro	do	sistema	solar.
2	 O	Tribunal	do	Santo	Ofício,	criado	no	período	Medieval,	 adentrou	a	 Idade	Moderna	
com	mais	força.	Sobre	esta	instituição,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 A	Inquisição	na	Península	Ibérica	teve	a	intensa	participação	do	Estado	durante	o	seu	
funcionamento,	fazendo	com	que	o	papado	não	tivesse	sobre	ela	tanta	autoridade.
II-	 No	 caso	 da	 Inquisição	 portuguesa,	 seus	 alvos	 principais	 foram	 os	 mouros	 e	 os	
cristãos-novos	acusados	de	práticas	judaizantes.
III-	 O	 criptojudaísmo	 consistiu	 na	 prática	 do	 judaísmo	 por	 judeus	 convertidos	 ao	
catolicismo	em	Portugal.	
AUTOATIVIDADE
94
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	(			)	Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	 A	Inquisição	teve	diferentes	formas	de	atuação,	a	depender	da	época	e	do	país.	Tendo	
em	vista	 o	 que	 estudamos	 da	 Inquisição	 Ibérica,	 classifique	V	 para	 as	 sentenças	
verdadeiras	e	F	para	as	falsas.
(			)	 Em	 Portugal,	 os	 crimes	 que	 mais	 tiveram	 sentenciados	 pela	 Inquisição	 fora	 a	
bruxaria	e	o	luteranismo.
(			)	 Visando	a	agilidade	no	processo	 inquisitorial,	quando	o	réu	confessava,	 logo	sua	
pena	era	lida	e	o	processo	encerrado.	
(			)	 Os	 Estatutos	 de	 Pureza	 de	 Sangue	 visavam	 separar	 a	 sociedade	 espanhola	 e	
portuguesa	em	puros	e	impuros.	Os	considerados	“sangue	infecto”	eram	os	mouros,	
judeus,	ciganos,	negros,	indígenas,	mulatos	e	cristãos-novos.	
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)(			)	V	–	F	–	F.
b)	(			)	V	–	F	–	V.
c)	 (			)	F	–	V	–	F.
d)	(			)	F	–	F	–	V.
4	 Uma	das	principais	características	do	Renascimento	Cultural	e	Científico	foi	a	adesão	
ao	Humanismo,	principalmente	no	campo	educacional.	Explique	em	que	consistia	o	
humanismo	e	qual	o	impacto	para	aquela	sociedade.
5	 Confira	 o	 trecho	 a	 seguir	 e,	 em	 seguida,	 responda	 à	 questão	 proposta.	 “Uma	das	
melhores	razões	para	se	concentrarem	na	 Inquisição	em	Portugal	e	na	Espanha	é	
o	 fato	de	que	 se	 trata	de	uma	história	de	poder	 e	 abuso	de	poder	 [...].	Durante	o	
estabelecimento	da	Inquisição	em	Portugal,	o	papado	foi	sempre	mais	benevolente	
do	 que	 o	 governo	 português	 [...]”	 (GREEN,	 2011,	 p.	 24).	As	 inquisições	 ibéricas	 se	
diferenciaram	 das	 instaladas	 em	 outros	 países.	 Com	 base	 no	 que	 foi	 estudado,	
explique	o	que	diferenciou	a	Inquisição	em	Portugal	e	Espanha	dos	demais	países.
95
PERÍODO DE REFORMAS
1 INTRODUÇÃO
Caro	 acadêmico,	 estudamos	 até	 aqui	 os	 principais	 passos	 do	 cristianismo	
e	 sua	 luta	 contra	 as	 ideias	 consideradas	 heréticas.	 Porém,	 em	 1517,	 um	novo	 cisma	
ocorreu	dentro	da	cristandade,	com	o	monge	Martinho	Lutero	(1483-1546)	expondo	seu	
pensamento	a	respeito	das	vendas	de	indulgências.
É	 importante	 lembrarmos	 que,	 politicamente,	 Igreja	 e	 Estado	 caminhavam	
juntas	 nos	 países	 europeus,	 mesmo	 nos	 locais	 onde	 a	 unificação	 ainda	 não	 havia	
ocorrido,	como	nas	atuais	Alemanha	e	Itália.	A	força	do	papado	estava	mais	consolidada	
e	o	catolicismo	tornava-se	hegemônico	em	países	como	Espanha	e	Portugal,	na	medida	
em	que	conseguiu	expulsar	os	mouros	e	judeus	de	seus	territórios.
Todavia,	o	período	em	que	antecedeu	a	Reforma	Protestante	foi	marcado	por	
uma	 igreja	que	descuidou,	em	alguma	medida,	do	seu	clero.	Era	comum	que	muitos	
padres	 tivessem	amantes,	filhos,	 o	que	era	proibido,	 todavia,	 acontecia	 sem	maiores	
punições.	No	tocante	à	teologia,	alguns	abusos	ocorriam,	como	nas	questões	da	venda	
de	 indulgências	 e	 de	 relíquias	 consideradas	 sagradas.	 Tendo	 em	vista	 esse	 cenário,	
estudaremos	 a	 partir	 de	 agora	 como	 ocorreu	 o	 segundo	 cisma	 católico,	 a	 partir	 de	
Martinho	Lutero.
Neste	 tópico,	 abordaremos	 o	 início	 da	 Reforma	 Protestante	 e	 seus	
desdobramentos	 nas	 questões	 religiosas,	 políticas	 e	 sociais.	 Veremos	 os	 principais	
conflitos	entre	católicos	e	protestantes,	e,	também,	os	conflitos	dentro	do	protestantismo.
2 A REFORMA PROTESTANTE
Caro	acadêmico,	abordaremos,	agora,	os	principais	aspectos	do	movimento	da	
Reforma	Protestante,	iniciada	por	Martinho	Lutero.	Esse	foi	o	segundo	rompimento	que	
ocorreu	 com	a	 Igreja	Católica.	Várias	 igrejas	 surgiram	a	partir	 dele,	 e	 desenvolveram	
doutrinas	diversas.	O	protestantismo	abalou	a	hegemonia	do	catolicismo	 romano	na	
Europa	Ocidental	e	na	América.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 
96
2.1 O LUTERANISMO
Para	entendermos	o	processo	que	levou	a	formação	da	igreja	luterana,	de	acordo	
com	 Eliade	 (2011),	 faz-se	 necessário	 conhecer	 um	 pouco	 da	 vida	 de	 Martinho	 Lutero,	
pois	 foram	 suas	 inquietações	 e	 experiências	 que	 o	 fizeram	questionar	 alguns	 aspectos	
da	 doutrina	 aceita	 pela	 Igreja	 católica.	 Personagem	 central	 no	 movimento	 reformista,	
nasceu	em	Eisleben,	no	atual	território	alemão.	Aos	22	anos,	ingressou	para	a	ordem	dos	
agostinianos,	na	cidade	de	Erfurt,	e,	em	1507,	ordenou-se	sacerdote.	A	partir	daí,	 iniciou	
como	professor	na	universidade	de	Erfurt	e	Wittenberg.	Lutero	passou	por	período	de	busca	
espiritual	 intensa.	Foi	 a	Roma	e	ficou	transtornado	pelo	que	considerou	 “decadência	da	
Igreja”	 (ELIADE,	2011,	p.	225),	em	virtude	da	vida	desregrada	em	que	muitos	sacerdotes	
viviam.	Outra	questão	que	o	atormentava	era	a	ideia	de	um	Deus	vingativo,	punitivo,	mesmo	
quando	pensava	na	figura	de	Jesus,	como	nos	explica	o	historiador	Lucien	Febvre:
[...]	tudo,	até	as	obras	de	arte	nas	capelas	ou	nos	pórticos	das	igrejas,	
falava	 ao	 jovem	 Lutero	 de	 um	Deus	 terrível,	 implacável,	 vingativo,	
que	contabilizara	rigorosamente	os	pecados	de	cada	um	para	jogá-
los	na	face	aterrorizada	de	miseráveis	fadados	à	expiação.	Doutrina	
atroz,	do	desespero	e	dureza;	e	qual	o	pobre	alimento	de	uma	alma	
sensível,	impregnada	de	amor	e	ternura?	[...]	Assim,	depois	de	entrar	
no	convento	para	ali	descobrir	a	paz,	a	ditosa	certeza	da	salvação,	
Lutero	só	encontrou	a	dúvida	e	terror.	Em	vão,	para	desarmar	a	 ira	
atroz	de	um	Deus	enfurecido,	 redobrava	as	penitências,	mortíferas	
para	seu	corpo,	irritantes	para	sua	alma	(FEBVRE,	2012,	p.	30,	31).
O	relato	de	Febvre	sobre	a	angústia	de	Lutero	é	importante	para	percebermos	
como	 sua	 inquietude	 interior	 foi	 o	 impulso	 para	 o	 estudo	 da	 teologia.	 Febvre	 (2012)	
relata	que,	ao	meditar	sobre	a	justiça	de	Deus,	Lutero	passou	a	compreender	de	forma	
diferente	a	relação	de	Deus	com	a	humanidade,	vejamos:	
[...]	compreendeu	o	monge	que	a	justiça	de	que	falava	São	Paulo,	a	
justiça	que	o	evangelho	revelava	ao	homem,	era	‘a	justiça	em	que	vive	
o	justo,	por	dom	de	Deus,	se	tiver	fé’,	a	justiça	passiva	dos	teólogos,	
‘aquela	mediante	a	qual	Deus	em	Sua	misericórdia,	nos	justifica	por	
meio	da	fé,	segundo	o	que	está	escrito:	 “o	 justo	viverá	pela	fé”.	 [...]	
‘Imediatamente,	senti	que	renascia.	As	portas	se	abriram	de	par	em	
par.	Entrei	no	paraíso.	As	Escrituras	inteiras	me	revelavam	outra	face’	
(FEBVRE,	2012,	p.	34,	35).
Foram	seus	estudos	da	carta	aos	Romanos,	a	qual	ele	considerava	o	texto	mais	
importante	da	Bíblia,	que	Lutero	chegou	à	conclusão	de	que	é	a	fé	em	Jesus	que	salva,	e	
esta	salvação	só	pode	ser	concedida	por	Deus	e	de	forma	gratuita.	“Lutero	elaborou	essa	
descoberta	em	seu	curso	de	1515,	desenvolvendo	o	que	ele	chamava	de	uma	‘teologia	da	
cruz’”	(ELIADE,	2011,	p.	225).	Essa	visão	foi	sendo	desenvolvida	por	ele	em	seus	estudos,	
ensinos	e	sermões.	Observemos	que	ela	contrasta	com	importância	dada	a	questão	das	
obras	e	dos	ritos,	além	das	indulgências	que	eram	tão	divulgadas	pela	Igreja.	O	dinheiro	e	
os	bens	adquiridos	por	meio	das	indulgências	eram	usados	para	sustentarem	conventos,	
monastérios,	 construções	 de	 igrejas,	 dentre	 outras	 coisas.	 Era	 uma	 entrada	 de	 renda	
significativa	para	Roma	e	os	Estados.
97
O	desgosto	de	Lutero	com	a	venda	de	indulgências	ficou	mais	latente	com	as	
pregações	do	dominicano	Tetzel,	 no	território	alemão.	A	ênfase	nas	 indulgências	era	
para	angariar	fundos	para	a	construção	da	basílica	de	São	Pedro	(SHELLEY,	2004).	Em	
31	de	outubro	de	1517,	Lutero	tornou	públicas	as	suas	teses	que	iam	de	encontro	a	ideia	
das	indulgências.	Enviou	uma	carta	ao	papa	Leão	X	procurando	explicar	seus	motivos,	
e	este	o	convocou	para	 ir	a	Roma	se	desculpar.	Lutero	conseguiu,	pela	 influência	de	
Frederico	 III,	 eleitor	 da	 Saxônia,	 que	 seu	 caso	 fosse	 julgado	 no	 território	 germânico	
(ELIADE,	2011),	e	não	se	retratou.	
Em	 1519,	 Lutero	 atacou	 a	 questão	do	primado	papal	 e	 o	 papa	 lançou	 a	 bula	
Exsurge Domine, que	até	aceitava	alguns	pontos	das	teses	de	Lutero,	todavia,	exigia	
que	Lutero	 se	 retratasse	com	 relação	à	maioria	das	 ideias	apresentadas.	 Lutero	não	
aceitou	a	determinação	papal	e	queimou	a	bula.	A	partir	disso,	seus	escritos	passaram	
a	criticar	outras	questões	da	doutrina	católica,	como	a	supremacia	papal	em	relação	
as	 reuniões	 dos	 concílios,	 as	 diferenças	 entre	 leigos	 e	 o	 clero,	manifestando	 a	 ideia	
do	sacerdócio	universal	e,	passou	a	aceitar	como	sacramento	somente	o	batismo	e	a	
eucaristia	(ELIADE,	2011).	Nessa	fase,	“Lutero	passou	de	sua	primeira	convicção	–	a	de	
que	a	salvação	se	dá	somente	pela	fé	em	Cristo	–	para	a	segunda:	a	de	que	as	Escrituras,	
e	não	os	papas	e	os	concílios,	fornecem	as	diretrizes	da	fé	e	do	comportamento	cristão”	
(SHELLEY,	2004,	p.	268,	269).
Pela	 atitude	 de	 Lutero,	 o	 próximo	 passo	 seria	 o	 início	 de	 um	 processo	 pela	
Inquisição	contra	ele,	porém,	o	príncipe	Frederico	 III	 o	escondeu	em	seu	castelo	em	
Wartburg	durante	cerca	deum	ano.	Nesse	período	de	reclusão,	Lutero	traduziu	a	Bíblia	
para	o	alemão,	algo	que	era	totalmente	proibido	pela	igreja	católica	(SHELLEY,	2004).	
A	 Igreja	Ocidental	não	aceitava	que	versões	da	Bíblia,	traduzidas	ou	não,	estivessem	
disponíveis	 ao	 público	 em	geral.	 Como	 ela	 tomava	 para	 si	 a	 tarefa	 de	 interpretar	 os	
escritos	sagrados,	dar	acesso	a	Bíblia	poderia	gerar	interpretações	heréticas.	Vejamos	o	
comentário	de	Johnson	a	esse	respeito:
Após	 os	 valdenses,	 as	 tentativas	 de	 estudar	 a	 Bíblia	 constituíam	
prova	circunstancial	de	heresia	–	a	pessoa	poderia	ir	para	a	fogueira	
só	por	isso	[...]	A	partir	de	fins	do	século	XIV,	a	disponibilidade	da	Bíblia	
para	o	público	tornou-se	o	objeto	central	das	disputas	entre	a	Igreja	
e	sus	críticos,	tais	como	os	wycliffistas	e	hussitas.	Nenhuma	Bíblia	
popular	era	permitida	pelas	autoridades,	exceto	na	Boêmia	–	que	na	
verdade,	havia	rompido	com	Roma,	por	volta	de	1420;	por	outro	lado,	
essas	versões	vernáculas	 jamais	foram	suprimidas	de	forma	eficaz	
(JOHNSON,	2001,	p.	329).
O	estudo	da	Bíblia	era	um	dos	pontos	principais	levantados	pelos	reformistas	
a	partir	de	Lutero.	Portanto,	tornou-se	fundamental	disseminar	os	escritos	nas	línguas	
populares.	Para	que	isso	fosse	feito,	era	necessário	um	conhecimento	amplo	das	línguas	
em	que	a	Bíblia	fora	escrita.
98
FIGURA 6 – BÍBLIA DE LUTERO EXPOSTA NA BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO
FONTE: <https://bit.ly/3Ac0I33>. Acesso em: 24 maio 2021.
Ao	sair	da	reclusão,	Lutero	se	deparou	com	um	movimento	em	curso,	que	queria	
mudanças	mais	estruturais	no	território	germânico.	Suas	 ideias	de	reforma	religiosas	
foram	vistas	por	alguns	camponeses,	liderados	por	Thomas	Müntzer	(1489-	1525),	como	
o	início	para	mudanças	mais	profundas,	como	a	tomada	das	terras	da	igreja	católica	e	
sua	divisão	entre	os	menos	favorecidos.	As	revoltas	se	espalharam	e	Lutero	escreveu	
contra	 os	 revoltosos,	 como	 explica	 Shelley	 (2004,	 p.	 272):	 “Em	 1525,	 os	 príncipes	 e	
nobres	 reprimiram	 as	 revoltas,	 o	 que	 custou	 100	mil	 vidas	 de	 camponeses.	 Os	 que	
sobreviveram	consideram	Lutero	um	falso	profeta.	Muitos	deles	voltaram	ao	catolicismo	
ou	se	interessaram	por	formas	ainda	mais	radicais	da	Reforma”.	Retomaremos	a	questão	
desses	movimentos	mais	adiante.
Em	 1522,	 Lutero	voltou	 a	Wittenberg,	 onde	 passou	 a	 reformular	 a	 liturgia	 da	
igreja.	O	reformador	contou	com	o	apoio	de	duques	e	príncipes	germânicos.	Segundo	
Shelley,	“[...]	ele	aboliu	o	ofício	de	bispo	por	não	encontrar	base	para	tal	nas	Escrituras.	
A	igreja	precisava	de	pastores,	não	de	dignatários.	A	maioria	dos	ministros	da	Saxônia	e	
arredores	abandonou	o	celibato”	(SHELLEY,	2004,	p.	271).	
Outros	 acontecimentos	 importantes	 para	 o	 rompimento	 com	 o	 catolicismo	
romano	 ocorreram	 quando	 Filipe	 Melanchthon	 (1497-1560),	 auxiliar	 de	 Lutero	 no	
movimento	 reformista,	 foi	 o	 responsável	 por	produzir	 o	documento	apresentado	aos	
líderes	do	Sacro	 Império	Romano	Germânico	sobre	as	doutrinas	da	nova	 igreja.	Esse	
documento	ficou	conhecido	como	Confissão	de	Augsburgo,	e	ainda	é	um	documento	
relevante	para	a	igreja	Luterana.	Todavia,	ainda	não	havia	um	consenso	sobre	esse	novo	
formato	de	cristianismo,	e	não	se	sabia	como	ele	seria	aceito	nas	diversas	regiões.	O	
próprio	imperador	do	Sacro	Império	Romano	Germânico,	Carlos	V	(1500-1558),	não	se	
mostrou	favorável	à	separação	com	Roma,	vejamos	a	explicação	de	Shelley:
99
Depois	 de	 1530,	 o	 imperador	 Carlos	 V	 deixou	 clara	 sua	 intenção	
de	 reprimir	 a	 crescente	 heresia.	 Em	 sua	 defesa,	 os	 príncipes	
luteranos	 uniram-se	 em	 1531	 na	 Liga	 Schmalkald,	 e	 entre	 1546	 e	
1555	 irromperam	 esporadicamente	 uma	 ou	 outra	 guerra	 civil.	 Os	
combatentes	 firmaram	 um	 compromisso	 na	 paz	 de	 Augsburgo	
(1555)	que	permitia	a	cada	príncipe	decidir	a	religião	de	seus	súditos	
(SHELLEY,	2004,	p.	274).
A	 paz	 de	 Augsburgo	 foi	 o	 acordo	 que	 trouxe	 mudanças	 profundas	 para	 o	
território	alemão.	Os	príncipes	deste	território	poderiam	decidir	sobre	a	religião	dos	seus	
súditos.	O	luteranismo	passou	a	ser	amplamente	difundido.	Ele	se	tornou	uma	religião	
estatal,	assim	como	era	o	catolicismo.	
Na	 vida	 de	 Lutero,	 mudanças	 importantes	 aconteceram,	 quando	 seus	
escritos	chegaram	de	forma	escondida,	ao	mosteiro	Sistersinianas	Trono	de	Maria,	em	
Nimbschen.	Lá,	algumas	freiras	passaram	a	ler	as	obras	de	Lutero	e	escreveram	para	ele	
pedindo	ajuda.	Lutero,	com	o	apoio	de	alguns	amigos,	conseguiram	ajudar	cerca	de	doze	
monjas	a	fugirem.	Essas	mulheres	encontravam-se	em	uma	situação	complicada,	pois	
suas	famílias	não	queriam	recebê-las,	tendo	em	vista	que	o	ato	delas	era	considerado	
escandalosos.	Tampouco	 elas	 poderiam	ficar	 nos	monastérios	masculinos.	 Foi	 assim	
que	pensaram,	então,	em	arranjar	casamento	para	elas	(ULRICH,	DALFERTH,	2017).	Um	
dessas	mulheres,	 Katharina	Von	Bora	 (1499-1552),	 foi	 acolhida	 pela	 família	 de	 Lucas	
Cranach	(1472-	1553)	e,	posteriormente,	casou-se	com	Lutero.
Lutero	 continuou	 escrevendo,	 geralmente,	 para	 combater	 alguma	 ideia,	 e	
acabava	indo	além	nas	questões	teológicas.	Entre	seus	alvos,	estavam	algumas	ideias	
de	Tomás	de	Aquino	(1225-1274)	e	de	Ockham	(1285-1347).	Vejamos:
Segundo	o	ensinamento	da	Igreja	medieval,	ilustrado	sobretudo	por	
Tomás	de	Aquino,	o	fiel	que	praticava	o	bem	num	estado	de	graça	
contribuía	para	sua	própria	salvação.	Por	outro	 lado,	cuidavam	os	
numerosos	discípulos	de	Ockham	que	a	razão	e	a	consciência,	dons 
de Deus,	não	foram	anulados	pelo	pecado	original;	por	conseguinte,	
aquele	que	faz	o	bem	segundo	sua	tendência	moral	natural	recebe	
a	graça	como	recompensa	[...].	Nos	Argumentos contra a teologia 
escolástica,	Lutero	atacou	vigorosamente	essa	doutrina.	A	vontade	
humana	 por	 sua	 própria	 natureza,	 não	 é	 livre	 para	 fazer	 o	 bem.	
Depois	da	queda,	já	não	se	pode	falar	em	‘livre	arbítrio’,	pois	o	que	
desse	momento	em	diante	domina	o	homem	é	seu	egocentrismo	
absoluto	 e	 a	 busca	 furiosa	de	 suas	próprias	 satisfações	 (ELIADE,	
2011,	p.	228,	grifos	do	original).
A	teologia	de	Lutero	se	aproximava	do	pensamento	de	Agostinho,	assim	como	
ocorreu,	posteriormente	com	Calvino.	Nas	questões	de	razão	e	fé,	Lutero	se	opunha	à	
visão	de	que	houvesse	uma	harmonia	entre	elas.	Lutero	defendia	que	a	Igreja	precisava	
de	uma	reforma	em	sua	teologia	e	não	nas	questões	morais.	Essa	reformulação	ocorreria	
pelo	estudo	acurado	das	línguas	antigas	para	poder	auxiliar	no	estudo	das	Escrituras	
(MCGRATH,	2007,	p.	66).
100
Um	dos	conflitos	de	ideias	no	qual	Lutero	se	envolveu	foi	com	Erasmo	de	Roterdã	
(1466-1536),	 teólogo,	 escritor	 e	 um	 dos	 grandes	 nomes	 do	 Renascimento	 cultural.	
Inicialmente,	quando	Lutero	expôs	as	95	teses,	Erasmo	sugeriu	a	Igreja	que	não	o	condenasse,	
mas	que	dialogasse.	Essa	postura	não	foi	bem-vista	nem	pela	Igreja,	nem	por	Lutero,	pois	
ambos	impunham	que	ele	definisse	de	qual	lado	estava.	Antes	mesmo	de	Lutero,	Erasmo	
já	criticava	algumas	posturas	da	 Igreja	e	 falava	da	necessidade	de	mudanças.	Vejamos	
algumas	questões	levantadas	por	Erasmo.
Erasmo	 recusava-se	 a	 contribuir	 para	 a	 fragmentação	 da	
comunidade	 cristã;	 abominava	 a	 guerra,	 a	 violência	 verbal	 e	 a	
intolerância	religiosa.	Clamava	por	uma	forma	radical	do	cristianismo	
ocidental	 e	 pronunciara-se	 não	 só	 contra	 as	 indulgências,	 a	
indignidade	dos	sacerdotes,	a	imoralidade	dos	bispos	e	cardeais	e	a	
impostura	dos	monges,	como	também	contra	o	método	escolástico	
e	o	obscurantismo	dos	teólogos.	Acreditava	em	uma	educação	mais	
racional	 e	 lembrava	 sempre	 o	 grande	 proveito	 que	 o	 cristianismo	
pode	tirar	da	assimilação	da	cultura	clássica.	Seu	ideal	era	a	paz,	tal	
como	havia	sido	pregada	por	Cristo:	somente	ela	podia	assegurar	a	
colaboração	entre	as	nações	europeias	(ELIADE,	2011,	p.	228,	229).
Perceba,	 caro	 acadêmico,	 que	 o	 pensamento	 de	 Erasmo	 convergia	 em	
vários	 aspectos	com	o	que	pregava	Lutero.	São	notórias,	 também,as	 influências	do	
pensamento	 renascentista,	 como	 já	 estudamos.	 Essa	 recusa	 em	 nortear	 sua	 vida	
religiosa	nos	preceitos	Medievais,	direcionados	pelo	método	escolástico,	era	uma	das	
bases	da	educação	humanista	a	qual	já	nos	referimos.	Inicialmente,	Erasmo	até	defendeu	
Lutero,	porém,	como	os	discursos	do	reformador	passaram	a	ser	mais	contundentes,	o	
rompimento	se	concretizou	e	Erasmo	passou	a	tecer	críticas	a	ele.	O	principal	ponto	
de	divergências	dos	dois	foi	a	questão	do	livre	arbítrio,	que	Erasmo	defendia	e	Lutero,	
não	 (ELIADE,	 2011).	Apesar	dos	esforços	de	Erasmo	em	manter	 a	unidade	cristã	e	o	
diálogo	de	ideias,	seus	livros	foram	considerados	perigosos,	sendo	proibidos	pela	Igreja	
no	Concílio	de	Trento,	o	qual	estudaremos	na	próxima	Unidade	(JOHNSON,	2001).
Uma	das	polêmicas	envolvendo	as	posturas	de	Lutero	se	deu	em	torno	de	um	
dos	seus	escritos	“dos	judeus	e	suas	mentiras”,	em	que	ele	conclama	um	levante	contra	
os	judeus,	como	foi	feito	nos	países	ibéricos.	Sua	postura	sobre	as	revoltas	anabatistas	
também	são	alvo	de	críticas.	Todavia,	sua	grande	contribuição	ao	pensamento	religioso	
tornou-se	seu	principal	legado.
Acadêmico, confira algumas dicas de filmes sobre Lutero e sua história nos 
links a seguir:
• Martinho Lutero. Direção de Irvring Pichel. Alemanha: 1953. Disponível 
em: https://filmow.com/martinho-lutero-t26173/ficha-tecnica/.
• Luther. Direção de Eric A. Stillwell. Alemanha: 2003. Disponível em: 
https://filmow.com/lutero-t1843/ficha-tecnica/.
DICA
101
2.2 HULDRYCH ZWINGLI
Representante	 importante	da	Reforma	Protestante,	Zwingli	 (ou	Ulrico	Zuínglio)	
(1484-1531),	 iniciou	 um	movimento	 de	mudanças	 na	 Igreja	 na	 cidade	 de	 Zurique,	 na	
mesma	época	em	que	Lutero	desenvolvia	suas	ideias	em	Wittemberg.	Antes	da	unificação,	
o	 território	 da	 atual	 da	 Suíça	 era	 a	 Confederação	 Helvética,	 formada	 por	 estados	
independentes.	Zwingli	foi	a	figura	responsável	por	disseminar	as	ideias	da	Reforma	pela	
Confederação,	abrindo	o	caminho	para	Calvino	posteriormente	(MAINKA,	2001).
Em	 1506,	 Zwingli	 foi	 ordenado	 sacerdote	 católico	 na	 cidade	 de	 Glarus.	
Considerava-se	fiel	ao	papa,	e	também	à	sua	terra,	chegando	a	lutar	contra	a	dominação	
francesa	 no	 território.	 Todavia,	 passou	 a	 ser	 fortemente	 influenciado	 pelas	 ideias	
de	 Erasmo	 de	 Roterdã,	 principalmente	 no	 que	 diz	 respeito	 ao	 pacifismo.	 Com	 essa	
influência,	Zwingli	adotou	em	suas	práticas	o	estudo	humanista,	chegando	a	aprender	
grego	para	poder	ler	os	textos	bíblicos	no	original.	A	partir	do	seu	contato	com	a	leitura	
do	Novo	Testamento,	ele	
[...]	 encontrou	 um	 novo	 acesso	 à	 Bíblia	 que	 continha,	 como	 ele	
começou	 a	 conhecer,	 numa	 linguagem	 bem	 simples,	 os	 mais	
profundos	pensamentos.	Tal	caminho	invocava	os	homens	para	uma	
vida	 verdadeiramente	 cristã	 suprimindo	 os	 desejos	 e	 as	 afecções	
sensuais	 do	 corpo.	 O	 seu	 ideal	 de	 uma	 religiosidade	 ativa,	 que	 se	
orientaria	 diretamente	 na	 vida	 de	 Cristo,	 opôs-se	 às	 condições	
da	 igreja	católica	naquele	 tempo,	o	qual	 era	determinada	por	uma	
multiplicidade	de	ordens	e	pelo	complicado	sistema	da	Escolástica.	
Apesar	 dessa	 crítica	 clara	 à	 igreja,	 Zwingli	 ainda	 não	 afrontava	
diretamente	a	doutrina	oficial	do	Catolicismo	(MAINKA,	2001,	p.	143).
Diante	da	postura	política	antifrancesa	que	adotou	com	relação	aos	assuntos	no	
território	Suíço,	Zwingli	teve	que	sair	da	região	de	Glarus,	pois	esta	estava	governada	pelo	
partido	pró-França.	Zwingli	passou	a	ser	sacerdote	em	Maria-Einsiedeln	e,	posteriormente,	
em	1519,	se	estabeleceu	na	região	de	Zurique.	Ao	desenvolver	seus	estudos,	ele	concluiu	
de	que	a	Bíblia	deveria	nortear	a	vida	da	igreja.	É	importante	salientar	que	tal	concepção	
não	veio	da	influência	de	Lutero,	sendo	um	movimento	concomitante:	
De	um	ponto	de	partida	diferente	de	Lutero,	que	estava	interessado	
especialmente	 na	 justiça	 de	 Deus,	 Zwingli,	 se	 ocupando	
especialmente	com	a	questão	da	autoridade	decisiva	para	renovar	a	
igreja	e	toda	a	vida,	encontrou	o	mesmo	princípio:	a	Bíblia	Sagrada.	
Além	 do	 princípio,	 só	 a	 Escritura,	 ele	 descobriu	 também,	 logo	 a	
seguir	–	plenamente	de	acordo	com	Lutero	–	o	princípio,	só	Cristo	
(MAINKA,	2001,	p.	143).
As	 críticas	 de	 Zwingli	 ao	 catolicismo	 ficaram	 cada	 vez	 mais	 contundentes.	
Em	alguns	pontos,	suas	práticas	foram	até	mais	 incisivas	do	que	as	de	Lutero,	como	
na	questão	da	adoração	aos	santos,	bem	como	das	restrições	alimentares	durante	a	
quaresma,	o	que	ele	próprio	 ridicularizava	a	ordenança	da	 Igreja	ao	comer	carne	em	
público.	Também	se	opôs	à	imposição	do	celibato	aos	sacerdotes.	
102
O	 clima	 de	 insatisfação	 foi	 se	 ampliando,	 até	 que	 o	 conselho	 municipal	
convocou	um	debate	em	Zurique,	sobre	os	pontos	discordantes	da	Igreja	que	estavam	
sendo	levantados	por	Zwingli.	No	debate,	ele	expôs	suas	ideias	no	que	chamou	de	“67	
discursos	finais”,	quando	explicou:
[...]	os	seus	princípios,	só	a	Escritura	e	só	o	Cristo,	contra	a	doutrina	
e	 a	 prática	 da	 igreja	 tradicional	 [...].	 Com	 os	 seus	 argumentos,	
Zwingli	conseguiu	apoio,	e	o	conselho	municipal	decidiu	que	ele	
poderia	continuar	o	seu	trabalho	na	cidade	sem	limitações.	Além	
disso,	 também	 os	 outros	 pregadores	 em	 Zurique	 deveriam	 se	
orientar	pela	sua	base	teológica	e	observar	somente	a	norma	da	
Bíblia	(MAINKA,	2001,	p.	144).
Com	o	apoio	que	Zwingli	recebeu,	uma	nova	igreja	foi	sendo	estruturada	em	Zurique,	
sob	sua	 liderança.	Porém,	outro	 líder,	Conrado	Grebel,	passou	a	expor	a	necessidade	de	
mudanças	mais	consistentes,	como	a	separação	da	Igreja	com	o	Estado,	algo	que	Zwingli	
não	concordava,	além	do	batismo	somente	de	adultos,	e	não	de	crianças	como	a	 igreja	
era	acostumada	a	fazer.	Tais	divergências	geraram	perseguições	sérias	ao	grupo	que	ficou	
conhecido	como	anabatistas.	Sobre	esse	tema,	estudaremos	mais	adiante.
Outro	 fator	 relevante	 da	 atuação	 de	 Zwingli	 em	 Genebra	 está	 relacionado	
à	educação	dos	sacerdotes.	Ele	percebeu	que	era	 importante	que	houvesse	escolas	
especializadas	para	a	formação	do	corpo	eclesiástico	da	cidade.	Fundou	uma	escola	
bíblica	 que	 se	 transformou	 em	 universidade	 posteriormente.	 A	 educação	 teológica	
tinha	por	base	os	estudos	dos	textos	sagrados	nas	línguas	originais,	uma	influência	do	
humanismo	(MAINKA,	2001).
Caro	acadêmico,	você	pode	estar	se	perguntando	sobre	a	relação	entre	Zwingli	
e	Lutero,	já	que,	para	nós,	hoje,	pareça	que	as	ideias	deles	convergiam.	Entretanto,	não	
houve	uma	união	entre	os	dois	reformadores.	Zwingli	não	concordou	com	o	documento	
enviado	 pelos	 luteranos	 às	 autoridades,	 a	 confissão	 de	 Augsburgo,	 principalmente	
sobre	a	questão	da	eucaristia.	Zwingli,	como	já	expomos,	trouxe	ideias	mais	radicais	que	
Lutero,	e	via	os	elementos	eucarísticos	apenas	como	pão	e	vinho,	não	aceitando	uma	
presença	física	de	Cristo	em	tal	rito.	Essa	questão	foi	levada	tão	a	sério	que	se	tornou	
o	ponto	decisivo	para	que	os	dois	reformadores	não	se	unissem.	Lutero	não	aceitava	
que	Cristo	era	 sacrificado	a	cada	celebração	da	ceia,	 como,	 segundo	ele,	 afirmavam	
os	católicos;	ele	acreditava	que	havia	a	presença	real	nesse	momento.	Já	Zwingli	via	
a	cerimônia	como	um	símbolo,	um	momento	de	lembrança	do	sacrifício	de	Cristo,	ou	
seja,	 nem	 aceitava	 a	 transubstanciação	 católica,	 nem	 a	 consubstanciação	 Luterana	
(MAINKA,	2001).
Para	 contrapor	 o	 documento	 enviado	 pelos	 luteranos,	 Zwingli	 elaborou	 a	
Confissão	Ratio Fidei,	em	1530,	e	enviou	ao	rei	francês	Francisco	I,	que	era	amigo	do	
protetor	político	de	Zwingli.	Nessa	confissão,	constavam	os	pontos	que	estavam	sendo	
ensinados	em	Zurique,	inclusive	com	relação	à	eucaristia.	
103
Todavia,	 as	 querelas	 religiosas	 passaram	 a	 ser	 o	 centro	 de	 discórdia	 da	
Confederação	Helvética,	o	que	gerou	duas	guerras	conhecidas	como	guerras	de	Kappel.	
Em	uma	das	batalhas,	Zwingli	foi	morto	e	as	tropas	de	Zurique	derrotadas.	Essa	derrota	
freou	o	avanço	do	protestantismona	região	da	Suíça	por	um	tempo,	mas	foi	retomado,	
como	veremos	a	seguir,	com	a	figura	de	Calvino.
2.3 O CALVINISMO
Nascido	 na	 França,	 João	 Calvino	 (1509-1564)	 já	 havia	 decidido	 rejeitar	 o	
catolicismo	 ainda	 aos	 24	 anos	 de	 idade.	 Unindo	 e	 reelaborando	 as	 ideias	 de	 Lutero	
e	 de	Martin	Bucer	 (1491-1551),	 Calvino	 escreveu	 o	 que	veio	 a	 ser	 sua	 principal	 obra,	
Instituição	da	Religião	cristã,	ainda	em	1536	(JOHNSON,	2001).	O	interessante	de	suas	
ideias	é	que	não	ficaram	restritas	a	uma	denominação,	como	no	caso	do	luteranismo	ou	
anglicanismo.	O	calvinismo	acabou	influenciando	diversas	denominações	protestantes	
que	vieram	a	 surgir,	 e	 a	 grande	 inspiração	de	 seu	pensamento	estava	nas	obras	de	
Agostinho.	 Assim	 como	 Lutero,	 Calvino	 concordava	 com	 a	 teoria	 da	 predestinação	
divina,	sobre	a	qual	ele	se	debruçou	mais	até	do	que	Lutero,	inclusive	os	seguidores	de	
Calvino	desenvolveram	ainda	mais	essa	hipótese	posteriormente.	
Essa	doutrina	aterrorizante	da	eleição	ou	danação	foi	tornada	mais	
palatável	pelo	fato	de	a	eleição	ser	demonstrada	pela	comunhão	com	
Cristo	–	ou	seja,	na	prática,	pelo	pertencimento	a	uma	congregação	
Calvinista:	 ‘quem	 quer	 que	 se	 encontre	 em	 Jesus	 Cristo	 e	 seja	
membro	 desse	 corpo	 de	 fé,	 esses	 tem	 garantida	 sua	 salvação’.	
Enquanto	evitassem	a	excomunhão,	a	pessoa	estava	em	segurança.	
Eis	o	ponto	forte	e	a	vulnerabilidade	do	calvinismo:	para	quem	não	
aceita	o	terrível	argumento	da	dupla	predestinação,	ele	é	abominável;	
para	quem	o	aceita,	é	quase	irresistível	(JOHNSON,	2001,	p.	346).
Para	 que	 a	 comunidade	 religiosa	 conseguisse	 diferenciar	 os	 eleitos	 dos	 não	
eleitos	foi	que,	em	Genebra,	foi	criado	um	órgão	de	fiscalização	e	decisório	conhecido	
como	Consistório.	Muitas	cidades	da	Suíça	aceitaram	as	ideias	protestantes.	Genebra	
foi	 influenciada	 pelas	 pregações	 reformadas	 de	 Guilherme	 Farel	 (1489-1565)	 e	 pela	
cidade	de	Berna.	No	ano	de	1536,	em	assembleia,	os	cidadãos	concordaram	em	aderir	à	
Reforma	e	viverem	segundo	a	Bíblia.	Após	a	assembleia,	João	Calvino	foi	convidado	por	
Farel	para	morar	em	Genebra	e	o	auxiliar	na	implantação	das	ideias	reformadas	(MATOS,	
2013,	p.	65).	Ele,	que	tentava	se	fixar	em	Estrasburgo	pois	estava	fugindo	da	França	por	
questões	religiosas,	acabou	aceitando	o	convite	de	Farel.
Após	sua	chegada	à	cidade,	a	missa	foi	banida,	assim	como	as	demais	formas	
de	protestantismo.	Quem	não	quisesse	se	submeter	era	excomungado	e	expulso	da	
cidade	e,	em	alguns	casos,	até	mesmo	morto.	Calvino,	inclusive,	se	posicionou	favorável	
à	perseguição	e	morte	dos	anabatistas.	Vejamos	o	comentário	de	Johnson:
104
[...]	a	execução,	como	descobriu	Calvino,	também	era	útil	para	inspirar	
terror	e,	assim,	acarretar	obediência.	Um	de	seus	modos	preferidos	de	
triunfar	sobre	um	oponente	consistia	em	fazê-lo	queimar	seus	livros	
em	praça	pública,	com	suas	próprias	mãos	–	Valentin	Gentilis	salvou	
sua	 vida	 submetendo-se	 a	 essa	 indignidade.	 Era	 particularmente	
severo	 com	qualquer	 um	que	 se	 rebelasse	 contra	 seu	governo	ou	
recorresse	ao	Novo	Ensino	para	questionar	 a	doutrina	da	Trindade	
(JOHNSON,	2001,	p.	348).
Todavia,	nem	sempre	as	ideias	de	Calvino	foram	aceitas	em	Genebra.	Um	dos	
pontos	 de	 discórdia	 ocorreu	 em	virtude	 da	 questão	 da	 ceia,	 em	que	 as	 autoridades	
de	 Genebra	 queriam	 que	 o	 pão	 servido	 fosse	 sem	 fermento.	 Calvino	 e	 Farel	 não	
concordaram	 e	 foram	 expulsos	 de	 Genebra.	 Calvino	 passou	 cerca	 de	 três	 anos	 em	
Estrasburgo,	 atuando	 junto	 com	 o	 teólogo	 Martin	 Bucer.	 Foi	 uma	 época	 bastante	
profícua	com	relação	aos	seus	estudos	na	teologia	e	na	produção	literária.	Em	1540,	ele	
se	casou	com	a	viúva	Idelette	de	Bure	(1506-1549)	(ELIADE,	2011).	Sobre	o	conjunto	das	
obras	de	Calvino,	Eliade	explica:
A	teologia	de	Calvino	não	constitui	um	sistema.	É	antes	uma	súmula	
comentada	 do	 pensamento	 bíblico.	 Calvino	 explora	 e	 estuda	 os	
dois	Testamentos,	 lidos	e	entendidos	muitas	vezes	à	 luz	de	santo	
Agostinho.	Reconhece-se	da	mesma	forma	a	influência	de	Lutero,	
ainda	que	ele	não	seja	citado.	Calvino	debate,	numa	ordem	bastante	
pessoal,	os	problemas	essenciais	de	sua	teologia:	o	conhecimento	
de	Deus	como	criador	e	senhor,	o	decálogo	e	a	fé	(segundo	o	símbolo	
dos	apóstolos),	a	 justificação	pela	fé	e	pelos	méritos	das	obras,	a	
predestinação	e	a	providência	de	Deus,	os	dois	sacramentos	válidos	
(o	batismo	e	a	eucaristia),	sem	esquecer-se	da	prece,	dos	poderes	
eclesiásticos	e	do	governo	civil.	Para	Calvino,	o	homem	não	deixa	
nunca	de	ser	pecador:	suas	“boas	obras”	só	podem	ser	aceitas	pela	
graça	divina.	A	distância	entre	o	Deus	transcendente	e	a	criatura	
pode	 ser	 abolida	 pela	 revelação	 conservada	 nas	 Escrituras.	 O	
homem,	 no	 entanto,	 não	 pode	 conhecer	Deus	n’Ele	mesmo,	mas	
apenas	como	Senhor	que se revela aos seres humanos [...]	(ELIADE,	
2011,	p.	232-233,	grifos	do	original).
Quando	a	oposição	a	Calvino	não	estava	mais	no	comando	em	Genebra,	ele	
foi	convidado	a	retornar.	O	convite	foi	aceito	com	algumas	exigências,	como	a	garantia	
de	que	ele	poderia	criar	um	conjunto	de	 leis	para	a	 Igreja	em	Genebra.	Tal	exigência	
foi	 acatada	 e	 ele	 “apresentou	 às	 autoridades	 as	 Ordenanças	 eclesiásticas,	 que	
previam	a	existência	de	quatro	classes	de	oficiais	na	igreja	reformada	local:	pastores,	
doutores,	presbíteros	e	diáconos”	(MATOS,	2013,	p.	65).	Ficava	a	cargo	dos	presbíteros	
a	fiscalização	da	comunidade,	e	eram	eleitos	pelos	magistrados	civis.	Já	os	doutores	e	
pastores	faziam	parte	do	Consistório.	Esse	órgão	tinha	a	função	de	tribunal	criado	para	
as	questões	religiosas.	Segundo	Matos:
Os	pastores	e	os	presbíteros	passaram	a	se	reunir	semanalmente	no	
Consistório,	 uma	 espécie	 de	 tribunal	 eclesiástico,	 que	 se	 tornou	 o	
principal	órgão	encarregado	da	disciplina	em	Genebra.	Seu	principal	
objetivo	 era	 a	 supervisão	 sistemática	 da	 vida	moral	 e	 religiosa	 da	
população.	Essa	instituição	ilustrava	a	integração	entre	igreja	e	estado	
105
que	era	um	lugar	comum	na	Europa	do	século	16.	[...]	O	problema	é	
que	as	autoridades	civis	de	Genebra	também	reivindicavam	o	direito	
de	se	pronunciar	sobre	os	casos	levados	ao	Consistório.	A	maior	parte	
dos	pecados	que	requeriam	censura	eclesiástica	estavam	igualmente	
inseridos	 nas	 leis	 civis	 daquela	 cidade-estado.	 Surgiu,	 assim,	 um	
conflito	 de	 competência	 entre	 as	 duas	 esferas,	 principalmente	 no	
que	 diz	 respeito	 à	 excomunhão	 e	 readmissão	 à	 mesa	 do	 Senhor	
(MATOS,	2013,	p.	65,	66).
O	conflito	entre	os	 limites	do	Estado	e	da	religião	em	Genebra	não	estavam	
claros.	 Calvino	 lutava	 para	 enfrentar	 os	 que	 ele	 considerava	 “libertinos”,	 pois	 não	
queriam	 seguir	 os	 padrões	 morais	 que	 ele	 impunha.	 Percebemos	 que	 a	 herança	
da	 Inquisição	 católica	 esteve	 presente	 no	 mundo	 protestante,	 seja	 para	 punir	 os	
considerados	hereges,	ou	os	que	iam	de	encontro	a	moral	estabelecida.	Para	Calvino,	
Igreja	e	Estado	deveriam	estar	juntos,	porém,	a	Igreja	não	tinha	que	se	submeter	ao	
Estado	em	caso	de	conflito	entre	ambas.	
Um	dos	casos	mais	conhecidos	de	execução	em	Genebra	foi	a	do	médico	Miguel	
Servet	(1511-1553).	Nome	conhecido	do	Renascimento,	ele	descobriu	como	funcionava	
a	circulação	sanguínea.	Inicialmente	católico,	após	conhecer	as	ideias	dos	anabatistas,	
acabou	acolhendo	várias	de	suas	posições,	principalmente	sobre	o	batismo	ser	somente	
na	idade	adulta.	Ele	começou	a	escrever	para	Calvino	e	fazer-lhe	perguntas	sobre	seus	
posicionamentos	teológicos.	Calvino	enviou	um	exemplar	de	sua	obra	Institutas,	a	qual	
Servet	 fez	várias	 anotações	 e	 devolveu	 a	 Calvino.	 Não	 aceitando	 seus	 comentários,	
Calvino	 parou	 de	 respondê-lo	 e	 solicitou	 a	 um	 primo	 seu,	 católico,	 que	 fizesse	 algo	
para	parar	Miguel	de	Servet.	Este	foi	aprisionado	pela	Inquisição,	mas	conseguiu	fugir.	
Porém,	foi	a	Genebra,	onde	o	reconheceram	e	o	denunciaram.	Foi	julgado	e	condenado	
principalmentedevido	 à	 recusa	 em	aceitar	 a	 ideia	 da	Trindade,	 sendo	queimado	em	
1553	(MATOS,	2013).	
Genebra,	 no	 tempo	 de	 Calvino,	 passou	 a	 ser	 a	 cidade	 visitada	 por	 diversas	
pessoas	que	queriam	conhecer	mais	de	perto	o	movimento	reformista.	Ela	passou	a	ser	
o	modelo,	que	muitos	quiseram	imitar	na	Europa,	de	um	local	que	era	regido,	segundo	
eles,	pelos	ensinamentos	bíblicos.
2.4 OS ANABATISTAS
Os	anabatistas	 receberam	vários	 rótulos	no	 início	do	movimento	protestante,	
principalmente	o	de	 radicais.	A	expressão	anabatista	foi	um	apelido	dado	pelos	seus	
adversários,	pois	significava	“rebatizador”	 (SHELLEY,	2004).	A	ênfase	do	seu	discurso	
atingia	 tanto	 aos	 católicos	 quanto	 aos	 protestantes.	 Atualmente,	 as	 denominações	
menonitas	e	amish	são	as	herdeiras	do	seu	legado.	Esse	movimento	pode	ser	divido	em	
três	fases:	revolucionários,	pacifistas	e	milenaristas	(ROSA,	2016).	Abordaremos,	agora,	
as	principais	características	dessas	fases.
106
O	movimento	anabatista	surgiu	na	década	de	1520	e	atingiu	diversas	cidades,	
tanto	 do	 território	 germânico,	 como	 em	Zurique.	Apesar	 de	 haver	 diferenças	 entre	 as	
fases,	alguns	posicionamentos	eram	constantes	nas	vertentes	anabatistas.	
A	não	aceitação	do	batismo	 infantil	 talvez	tenha	sido	um	dos	maiores	conflitos	
entre	eles	e	o	protestantismo	na	época.	Tal	ponto	se	relacionava	à	ideia	de	que	o	Estado	
não	deveria	estar	ligado	à	religião,	pois,	segundo	os	anabatistas,	o	indivíduo	deveria	poder	
escolher	a	religião	que	quer	seguir.	Por	isso,	defendiam	que	o	batismo	só	poderia	ocorrer	na	
fase	adulta,	quando	o	indivíduo,	por	sua	livre	escolha,	decidisse	fazer	parte	de	tal	seguimento	
religioso.	O	batismo	infantil	condicionava	o	indivíduo	a	determinada	religião,	devido	ao	pacto	
entre	Igreja	e	Estado,	e	isso	o	levava	a	uma	vida	sem	o	poder	de	escolha	no	campo	religioso:
Eles	criam	que	a	Reforma	deveria	purificar	não	apenas	a	teologia,	mas	
também	a	vida	integral	dos	cristãos,	especialmente	no	que	se	referia	
aos	relacionamentos	sociais	e	políticos.	Portanto,	a	igreja	não	deveria	
ser	apoiada	pelo	Estado,	nem	por	dízimos,	nem	por	 impostos,	nem	
pelo	uso	da	espada.	O	Cristianismo	era	uma	questão	de	convicção	
individual,	que	não	poderia	ser	imposta	a	quem	quer	que	fosse	mas,	
ao	 contrário,	 requeria	 uma	 decisão	 pessoal.	 Segue-se,	 então,	 que	
infantes	não	deveriam	ser	batizados,	pois	eles	não	podem	fazer	tal	
decisão.	(GONZALEZ,	2004,	p.	89,	90).
O	movimento	anabatista	foi	o	primeiro	grupo	após	o	início	da	Reforma	a	defender	
a	separação	entre	Igreja	e	Estado.	Outro	ponto	amplamente	aceito	pelos	anabatistas	era	
o	de	não	se	alistar	ao	exército	(ROSA,	2016).	Os	anabatistas	aceitavam	diversos	pontos	
da	reforma,	por	isso	eles	são	conhecidos	como	a	reforma	dentro	da	reforma.	Entre	as	
ideias	que	eles	defendiam	que	estavam	presentes	nos	demais	movimentos	reformistas,	
estavam	“a	sola scriptura,	o	sacerdócio	universal,	a	liberdade	cristã	e	a	responsabilidade	
individual”	(ROSA,	2016,	p.	129,	grifos	do	original).	
Um	dos	primeiros	líderes	anabatistas	foi	Konrad	Grebel	(1498-1526),	um	leigo,	
que	morava	em	Zurique	e	rebatizou	Georg	Blaurock	(1491-1529).	A	comunidade	liderada	
por	Zwingli	perseguiu	ferozmente	os	anabatistas	nessa	 região.	Além	dos	pontos	que	
já	 ressaltamos	 dos	 anabatistas,	 Grebel	 criticava	 a	 igreja	 em	 Zurique	 pela	 “cobrança	
de	dízimo,	 a	missa	e	 as	 imagens,	 e	 alguns	chegaram	a	defender	 a	morte	de	padres	
e	monges”	 (ROSA,	2016,	p.	 128).	Após	o	batismo	realizado	por	Grebel,	o	conselho	em	
Zurique	determinou	que	aos	anabatistas	fosse	dada	a	pena	de	morte,	sendo	bastante	
perseguidos	 nesse	 território.	 O	 grupo	 de	Grebel	 se	mudou	 para	 a	 aldeia	 de	 Zollikon,	
onde	nasceu	“a	congregação	anabatista,	a	primeira	igreja	livre	(dos	laços	do	Estado)	dos	
tempos	modernos”	(SHELLEY,	2004,	p.	279).	
Outros	anabatistas	foram	pregar	na	região	de	Tirol,	onde	foram	perseguidos	pelos	
católicos.	Blaurock,	o	primeiro	rebatizado,	foi	morto	na	fogueira.	Os	que	conseguiram	
fugir	 foram	 para	 a	Morávia	 e	 conseguiram	 um	 período	 de	 paz.	 Eles	 “fundaram	 uma	
forma	 duradoura	 de	 comunidade	 econômica	 chamada	Bruderhof,	 uma	 comunidade	
de	cristãos.	Seu	propósito	era,	em	parte,	seguir	o	modelo	das	primeiras	comunidades	
apostólicas”	(SHELLEY,	2004,	p.	280).	Esse	grupo	passou	a	ser	chamado	de	huteritas.	
107
Os	anabatistas	 liderados	por	Grebel	não	viam	como	boa	a	união	da	 Igreja	com	o	
Estado	 e	 proclamavam	uma	 separação	dos	 “santos”,	 “eleitos”.	 Eram	contra,	 inclusive,	 que	
os	seus	liderados	assumissem	cargos	no	governo,	“não	pagavam	tributos	de	guerra	e	não	
faziam	juramentos	(ROSA,	2016,	p.	134).	Todavia,	seu	intuito	não	era	de	ir	contra	as	autoridades	
seculares	no	intuito	de	guerrear	contra	elas,	como	no	caso	dos	anabatistas	radicais.	
A	vertente	anabatista	que	foi	 chamada	de	 radical	 ou	 revolucionária,	 recebeu	
esse	título	pois	partiu	para	a	 luta	armada.	A	 ideia	era	firmar	o	Reino	de	Deus.	Como	
principal	eco	desses	movimentos,	temos,	no	território	germânico,	o	grupo	liderado	por	
Thomas	Müntzer.	Ele	e	um	amigo	de	Lutero,	Andrea	Bodenstein	von	Karlstadt	(1486-
1541),	 incentivaram	 mudanças	 na	 liturgia	 alemã	 enquanto	 Lutero	 estava	 escondido	
no	castelo.	Entre	as	mudanças,	estavam:	“a	abolição	da	missa,	a	distribuição	dos	dois	
elementos	da	Ceia,	a	destruição	das	imagens,	abolição	da	música	dos	cultos	e	a	negação	
do	batismo	infantil.	Lutero	não	aceitou	muitas	das	mudanças	promovidas	por	Karlstadt	
e	os	dois	romperam”	(ROSA,	2016).
Já	Müntzer	foi	mais	além,	pois	lutou	por	mudanças	mais	radicais	da	estrutura	
da	sociedade	e	que	o	poder	deveria	ser	das	pessoas	comuns	e	não	dos	nobres.	Ele,	
que	havia	sido	sacerdote	católico	e	tinha	se	convertido	às	 ideias	 luteranas,	criticava	
Lutero	 por	 não	 ter	 lutado	 para	 mudar	 de	 fato	 as	 estruturas,	 ficando	 somente	 no	
campo	teológico.	Segundo	Müntzer,	o	Espírito	Santo	dissolvia	os	padrões	de	classe	e	
nacionalidade,	fazendo	com	que	todos	fossem	iguais.	E	isso	deveria	ser	levado	a	cabo	
com	 o	 fim	 das	 desigualdades	 sociais.	 A	 igreja,	 então,	 deveria	 refletir	 essa	 realidade,	
deveria	proporcionar	aos	fiéis	um	ambiente	sem	propriedade	privada,	sem	classes	(ROSA,	
2016).	Ele	era	enfático	na	questão	da	luta	social,	retomando	a	ideia	bíblica	de	que	os	
menos	desfavoráveis	é	que	tem	a	revelação	e	não	os	nobres	e	o	governo.	Sua	proposta,	
inclusive,	era	de	exterminar	os	governos	ímpios:	“os	governantes	ímpios	deveriam	ser	
mortos,	especialmente	os	sacerdotes	e	monges	que	insultam	os	evangelhos	como	uma	
heresia	 e,	 ao	mesmo	tempo	desejam	ser	 considerados	os	melhores	 cristãos”	 (ROSA,	
2016,	 p.	 133).	 Em	 1525,	 junto	 com	milhares	 de	 camponeses,	 Müntzer	 conduziu	 seu	
projeto	 revolucionário	na	batalha	de	Frankenhausen,	na	qual	cerca	de	5	mil	pessoas	
foram	mortas	e	ele	foi	capturado,	sofreu	tortura	e	foi	morto	(ROSA,	2016).
Surgiu	 outra	 formação	 anabatista,	 cujas	 ideias	 estavam	mais	 voltadas	 a	 um	
reino	 milenarista.	 Um	 líder	 que	 despontou	 foi	 Melchior	 Hoffman	 (1495-1543),	 que	
havia	aceitado	as	 ideias	 luteranas,	 e	passou	andar	com	os	anabatistas.	Todavia,	 sua	
concepção	religiosa	extremamente	apocalíptica,	acabou	afastando	alguns	anabatistas.	
Com	seguidores	que	preconizavam	que	 “a	 segunda	vinda	de	Cristo,	 que	deveria	 ser	
preparada	com	uma	operação	limpeza	através	da	eliminação	dos	ateus	e	da	construção	
de	um	reino	de	paz”	(ROSA,	2016,	p.	136).	
Seus	seguidores	foram	aumentando,	em	sua	maioria,	pessoas	mais	pobres.	Ele	foi	
preso	e	morreu	na	prisão.	Mesmo	assim,	suas	ideias	continuaram	entre	seus	seguidores,	
sob	a	liderança	de	Jan	Matthys	(1500-1534),	até	que	eles	tomaram	a	cidade	de	Münster	e	
proclamaram	o	“Reino	de	Münster”,	e	que	aquela	cidade	se	tornaria	o	“Reino	de	Jerusalém.	
108
Todos	aqueles	que	não	aderissem	ao	movimento	foram	expulsos	da	cidade	ou	executados,	
a	poligamia	foi	instituída,	a	comunhão	de	bens	passou	a	ser	regra	e	um	governo	teocrático	
foi	instaurado”(ROSA,	2016,	p.	136).	
A	 liderança	 estava	 sob	 o	 comando	 de	 Jan	 van	 Leiden	 (1509-1536),	 que	 se	
autoproclamou	 rei,	 quando	 Jan	 Matthys	 foi	 morto	 em	 um	 dos	 conflitos.	 A	 guerra	
instaurada	para	derrotar	os	anabatistas	levou	a	um	cerco	da	cidade,	em	que,	em	1555,	
uma	população	faminta	foi	massacrada.
Após	 esse	 episódio	 drástico,	 outro	 líder	 surgiu,	 menos	 revoltoso	 e	 sob	 uma	
pregação	 pacífica.	 Menno	 Simons	 (1496-1561)	 foi	 responsável	 pela	 liderança	 dos	
anabatistas,	que	passaram	a	ser	conhecidos	também	como	menonitas.	
Menno	Simons	preocupou-se	em	estabelecer	as	bases	teológicas	para	
seus	seguidores,	que	deveriam	construir	comunidades	separadas	e	com	
rígida	disciplina	interna.	Nesse	contexto,	a	disciplina	da	excomunhão	
ganhava	 enorme	 importância,	 aprofundando	 uma	 característica	 do	
anabatismo	desde	o	seu	início	[...]	(ROSA,	2016,	p.	139).
Simons	 imprimiu	 no	 movimento	 anabatista	 o	 caráter	 sectário	 e	 pacifista.	
Declaradamente	 contra	 guerra,	 era	 a	 favor	 de	 lutar	 somente	 com	 a	 Palavra	 de	
Deus	como	espada.	 Insistia	para	que	os	governantes	deixassem	o	movimento	em	
paz,	pois	eles	não	queriam	conflitos	com	o	governo.	Em	suas	pregações,	afirmava	
que	 ao	 verdadeiro	 crente	 não	 cabia	 revidar	 as	 agressões,	 mas	 deixar	 que	 Deus	
julgasse	 quem	 estivesse	 agindo	 mal.	 Com	 a	 liderança	 de	 Simons,	 o	 movimento	
anabatista	consolidou	sua	doutrina	e	conseguiu	sobreviver	em	meio	aos	conflitos	
dos	movimentos	religiosos	do	século	XVI.
2.5 JACÓ ARMÍNIO
Jacó	Armínio	(1559-1609),	nasceu	em	Oudewater,	na	Holanda,	no	mesmo	ano	do	
falecimento	de	seu	pai.	Um	benfeitor	o	ajudou	em	seus	estudos	até	os	15	anos	de	idade,	
quando	veio	a	falecer.	Contou,	então,	com	o	auxílio	de	Rodolfo	Snellius	(1546-1613),	que	o	
adotou,	levou-o	a	cidade	de	Marburg,	onde	ele	ingressou	na	universidade.	Em	1575,	sua	
cidade	natal	foi	invadida	pelo	exército	espanhol	e	dizimou	parte	da	população,	inclusive	
seus	familiares	(DANIEL,	2017).
Ele	foi	morar	na	cidade	de	Leiden,	onde	concluiu	seus	estudos	e	se	dirigiu	a	
Holanda,	para	estudar	com	Teodoro	de	Beza	(1519-1605).	De	lá,	foi	convidado	para	ser	o	
pastor	em	uma	igreja	em	Amsterdã.	
Cerca	de	quinze	anos	depois,	aceitou	o	cargo	de	professor	da	Universidade	de	Leiden.	
Foi	nesse	momento	de	sua	vida	que	os	embates	sobre	seu	modo	de	pensar	e	o	calvinismo	se	
tornaram	intensos.	Por	estar	em	um	ambiente	dominado	pela	teologia	calvinista,	ele	se	opôs	
às	ideias	do	infralapsarianismo	e	do	supralapsarianismo.	Vejamos	a	explicação	de	Daniel:
109
Calvinismo	 infralapsariano	 é	 aquele	 que	 afirma	 que	 os	 decretos	
divinos	de	eleição	e	condenação	ocorreram	após	o	Decreto	da	Queda.	
Já	o	supralapsariano	assevera	que	os	decretos	divinos	de	eleição	e	
condenação	foram	determinados	por	Deus	antes	mesmo	do	Decreto	
da	Queda	–	 isto	é,	primeiro	Deus	planejou	que	alguns	se	salvariam	
e	 outros	 se	 perderiam	 para	 depois	 determinar	 do	 que	 eles	 seriam	
salvos	e	como	seriam	salvos.	Pois	bem,	Gomarus	era	adepto	desse	
calvinismo	radical	supralapsariano,	que	era	o	calvinismo	original	de	
Calvino,	 Vermigli,	 Zanchi	 e	 Beza.	 Ele	 afirmava	 enfaticamente	 que	
Deus	salva	uns	e	condena	outros	(DANIEL,	2017,	p.	302-303).
Os	conflitos	ocorreram	principalmente	porque	o	também	professor	universitário	
Franciscus	 Gomarus	 (1563-1641)	 não	 aceitava	 um	 posicionamento	 diferente	 do	 que	
era	pregado	pelo	calvinismo.	Os	debates	ficaram	intensos	entre	os	dois,	até	que	foram	
chamados	 na	 Suprema	 Corte	 em	Haia.	 O	 veredito	 dado	 foi	 que	 os	 dois	 professores	
deveriam	encontrar	uma	forma	de	conviverem,	mesmo	pensando	de	formas	diferentes.	
Todavia,	 segundo	Daniel	 (2017),	 Gomarus	 continuou	 atacando	 a	 forma	de	 pensar	 de	
Jacó	Armínio.	 Em	 1608,	Armínio	 solicitou	 que	 fosse	 realizada	 uma	 assembleia,	 para	
que	ele	pudesse	expressar	seu	pensamento.	Ele	expôs	seu	posicionamento	contra	o	
supralapsarianismo	 e	 o	 infralapsarianismo,	 considerando	 que	 a	 presciência	 de	 Deus	
seria	mais	aceitável	no	que	se	refere	à	predestinação.	No	ano	seguinte,	outra	assembleia	
aconteceu,	e	logo	depois	Armínio	faleceu.
Mesmo	com	o	 falecimento	de	Armínio,	 seus	 alunos	 continuaram	a	disseminar	
suas	 ideias	 e	 acabaram	 formulando	 uma	 síntese	 do	 seu	 pensamento,	 nas	 questões	
discordantes	do	calvinismo.	Cerca	de	quarenta	e	seis	teólogos	e	pastores	assinaram	ao	
documento	que	eles	chamaram	de	Remonstrante.	Caro	acadêmico,	na	área	destinada	à	
leitura	complementar	você	terá	acesso	a	esse	documento.
Após	a	divulgação	dos	artigos	da	Remonstrância,	não	houve	conflitos,	porém,	
surgiram	algumas	questões	políticas.	Vejamos	a	explicação	de	Daniel:
[...]	o	principal	desafeto	do	príncipe	Maurício	de	Orange	Nassau	(1567-
1625),	seu	ex-amigo	e	braço	direito	Johan	van	Oldenbarnevelt	(1547-
1619),	 advogado-geral	 da	 Holanda,	 havia	 aderido	 ao	Arminianismo	
e	 defendia	 a	 tolerância	 religiosa.	 Oldenbarnevelt	 era	 apoiado	 pela	
maioria	das	províncias	marítimas	holandesas,	onde	se	concentrava	
a	 burguesia	 do	 país,	 que	 havia	 aderido	 majoritariamente	 ao	
Arminianismo.	Essa	maioria	apoiava	Oldenbarnevelt	‘em	sua	oposição	
ao	 poder	 crescente	 de	Maurício	 de	 Orange	 Nassau’.	 Já	 as	 demais	
províncias	marítimas	 e	 as	 rurais	 eram	 fiéis	 a	 Maurício	 e	 apoiavam	
majoritariamente	o	Calvinismo	(DANIEL,	2017,	p.	309).
Os	calvinistas	também	acusavam	os	arminianos	de	terem	uma	doutrina	parecida	
com	o	 catolicismo,	 o	 que	 poderia	 facilitar,	 segundo	 eles,	 que	 as	 ideias	 dos	 Jesuítas	
fossem	aceitas	em	seu	meio.	Esse	foi	um	dos	motivos	para	a	convocação	do	Sínodo	
Nacional	de	Dordrecht,	mais	conhecido	como	Sínodo	de	Dort	(1618-1619).	Esse	sínodo	
contou	com	a	participação	de	vários	representantes	protestantes,	durou	cerca	de	sete	
meses,	e	teve	154	seções.	
110
O	 sínodo	 contrapôs	 as	 ideias	 arminianas	 elaboradas	 pelos	 remonstrantes,	 e	
elaboraram	os	Cinco	pontos	 do	Calvinismo	 (TULIP),	 que	 consiste	 em:	 “depravação	 total	
(Total Depravity);	Eleição	Incondicional	(Unconditional Election);	Expiação	Limitada	(Limited 
Atonement);	Graça	Irresistível	(Irresiteible Grace);	Perseverança	dos	Santos	(Perseverance 
os the Saints)”	(LEITE,	2016,	p.	70).	Com	esses	pontos,	o	Sínodo	marcou	seu	posicionamento	
contra	as	ideias	remonstrantes.	Os	arminianos	foram	expulsos	ou	mortos	após	o	Sínodo:	
“[...]	 João	 Uirenbogaert,	 exilado	 e	 bens	 confiscados.	 Simão	 Spiscópio,	 banido.	 Jan	 van	
Oldenbarnevelt,	decapitado.	Hugo	Grócio,	prisão	perpétua.	Os	pastores	arminianos	–	uns	
200	deles	–	perderam	seus	cargos;	muitos	banidos	do	país.	Os	demais	reagiram	e	formaram	
uma	Irmandade	Remonstrante”	(LEITE,	2016,	p.	73).
2.6 O ANGLICANISMO
Caro	 acadêmico,	 agora	 chegou	 o	 momento	 de	 abordarmos	 os	 conflitos	
religiosos	que	ocorreram	na	Inglaterra.	Esta	foi	uma	região	que	muito	importante,	tanto	
para	 o	 desenvolvimento	 do	 protestantismo,	 quanto	 para	 o	 surgimento	 de	 diferentes	
movimentos.	 Além	 disso,	 foi	 desse	 país	 que	 saíram,	 inicialmente,	 os	 primeiros	
protestantes	para	o	continente	americano.
O	rei	Henrique	VIII	(1491-1547),	governava	a	Inglaterra	no	período	em	que	teve	início	
os	movimentos	reformistas	na	Europa.	É	importante	lembrarmos	que	a	situação	política	da	
Inglaterra	era	diferente	dos	demais	países.	Enquanto	o	absolutismo	monárquico,	em	que	o	
rei	concentrava	os	poderes	legislativo,	executivo	e	judiciário,	era	a	realidade	de	praticamente	
toda	a	Europa,	na	Inglaterra,	o	sistema	era	diferente.	O	rei	tinha	sua	importância,	todavia,	seus	
poderes	eram	subordinados	ao	parlamento.
O	 rei	 Henrique	VIII	 subiu	 ao	 trono	 pois	 seu	 irmão,	Artur,	 que	 era	 o	 primogênito	
e,	portanto,	assumiria	o	trono,	morreu.	Ele	havia	se	casado	com	Catarina	de	Aragão,	em	
virtude	de	uma	aliança	feita	entre	a	coroa	espanhola	e	inglesa	e	seu	pai,	o	rei	Henrique	VII.	
Porém,	após	a	morte	do	príncipe	Artur,	as	coroas	decidiram	casar	a	viúva,	Catarina,	com	
Henrique	VIII,	já	queo	trono	inglês	seria	dele.	Porém,	entrava	em	jogo	a	questão	do	direito	
canônico,	que	proibia	o	casamento	com	a	viúva	do	irmão.	Essa	questão	foi	resolvida	com	
uma	autorização	papal.	
Com	 o	 passar	 do	 tempo,	 Catarina	 só	 conseguiu	 dar	 à	 luz	 a	 Maria	 Tudor,	 os	
outros	filhos	faleceram.	Sem	um	herdeiro	homem,	a	questão	sucessória	foi	colocada	
em	questão,	e	foi	solicitado	ao	papa	que	anulasse	o	casamento,	para	que	o	rei	Henrique	
VIII	se	casasse	novamente.	Tal	pedido	não	foi	aceito	pelo	pontífice	(RAMOS	NETO,	2010).
Geralmente,	 a	 questão	 do	 casamento	 do	 rei	 inglês	 é	 vista	 como	 o	 principal	
motivo	 para	 o	 rompimento	 com	Roma.	 Porém,	 caro	 acadêmico,	 lembremos	 do	 caso	
estudado	 no	 capítulo	 passado,	 quando	 John	Wycliffe	 passou	 a	 defender	 uma	 Igreja	
mais	autônoma	de	Roma,	várias	pessoas	concordaram	com	ele.	
111
O	desejo	por	 uma	 igreja	 inglesa	 ainda	estava	presente,	 como	assinala	Shelley	
(2004,	 p.	 296)	 “durante	 séculos,	 a	 igreja	 na	 Inglaterra	 mobilizou-se	 para	 tornar-se	
independente	de	Roma.	No	tempo	de	Lutero,	a	maior	parte	dos	patriotas	ingleses	percebia	
o	caráter	distintivo	da	fé	em	sua	terra	natal”.	Esse	sentimento	nacionalista,	que	estava	
presente	em	outros	países	também,	acabou	aflorando	com	o	movimento	da	Reforma.
Tendo	em	vista	esse	cenário,	e	os	diversos	movimentos	de	reforma	acontecendo	
na	Europa,	o	rei	Henrique	VIII	solicitou	do	parlamento	a	aprovação	do	Ato	de	Supremacia,	
o	que	foi	feito.	A	partir	de	então,	o	rei	inglês	passou	a	ter	mais	poder	que	o	parlamento,	
e	Henrique	VIII	rompeu	com	Roma	em	1534.	
O	parlamento	inglês	também	tornou	inválido	o	casamento	do	rei	com	Catarina	
de	 Aragão,	 além	 de	 promulgar	 leis	 para	 o	 não	 pagamento	 à	 Roma	 de	 diversas	
contribuições.	Em	1536,	o	rei	inglês	foi	excomungado	pelo	papa	e	os	conventos	ingleses	
foram	confiscados	pelo	parlamento	(RAMOS	NETO,	2010).
Uma	vez	anulado	o	casamento	com	Catarina	de	Aragão,	Henrique	VIII	
casou-se	com	Ana	Bolena	(que	também	não	consegui	um	herdeiro,	
senão	uma	filha,	Elizabeth	Tudor)	que	posteriormente	foi	acusada	de	
adultério	 e	 executada.	Henrique	VIII	 casou-se	com	Jane	Seymour,	
que	finalmente	lhe	deu	um	herdeiro,	Eduardo	Tudor,	futuro	Eduardo	
VI.	Após	a	morte	de	Jane	Seymour,	Henrique	VIII	casou-se	ainda	com	
a	luterana	Ana	de	Cleves	(cunhada	de	Frederico,	da	Saxônia),	com	a	
conservadora	Catarina	Howard	e	finalmente	com	Catarina	Parr.	Claro	
que	 todos	 esses	 casamentos	 tiveram	 suas	 articulações	 políticas	
(RAMOS	NETO,	2010,	p.	06,	07).
O	rompimento	com	o	catolicismo	deu	origem	à	Igreja	Anglicana,	que	contava	
com	o	rei	inglês	como	o	seu	líder,	como	ocorre	até	hoje.	Inicialmente,	o	Anglicanismo	
continha	mais	doutrinas	católicas	do	que	da	Reforma.	Inclusive,	Henrique	VIII	se	aliou	a	
Carlos	V	na	luta	contra	o	luteranismo	que	avançava	na	França.	O	rei	colocou	em	vigor	os	
Seis	Artigos,	que	funcionariam	como	diretriz	da	nova	igreja.	Todavia,	as	mudanças	igreja	
não	foram	significativas,	como	explica	Gonzalez,	ao	se	referir	aos	Seis	Artigos:
Neles	 foi	 declarado	 que	 rejeitar	 a	 transubstanciação	 ou	 defender	 a	
comunhão	dos	dois	tipos	era	heresia,	punível	com	morte	e	confisco	
de	 propriedade.	 O	mesmo	 foi	 dito	 do	 celibato	 clerical	 e	 sacerdotes	
que	 haviam	 se	 casado	 deveriam	 agora	 abandonar	 suas	 esposas.	
Para	 mostrar	 que	 ele	 não	 estava	 cedendo	 nem	 ao	 Papa	 nem	 aos	
protestantes,	Henrique	assegurou	que	um	grupo	simbólico	de	católicos	
e	luteranos	fosse	executado	por	suas	ideias	(GONZALEZ,	2004,	p.	185).
Segundo	 Shelley	 (2004),	 nessa	 primeira	 fase,	 apenas	 duas	 mudanças	
significativas	ocorreram,	a	permissão	de	utilizar	a	bíblia	em	 inglês	nos	cultos	e	o	fim	
dos	monastérios.	Os	monges	puderam	escolher	se	iriam	para	outra	localidade	ou	se	se	
desligariam	das	obrigações	religiosas	e	participariam	da	vida	secular.
112
Após	a	morte	do	rei	Henrique	VIII,	seu	filho	Eduardo	VI	 (1537-1553)	assumiu	
ao	 trono	 em	 1547.	 Com	 o	 seu	 governo,	 a	 igreja	 Anglicana	 começou	 um	 processo	
de	mudanças,	 o	 que	 a	 tornou	mais	 próxima	 das	 ideias	 protestantes	 que	 estavam	
ocorrendo.	 O	 latim	 foi	 retirado	 do	 culto	 e	 a	 língua	 local	 instituída.	 Além	 disso,	 foi	
instituído	para	o	rito	o	Livro de Orações Comum	(LOC),	de	Thomas	Cranmer	(1489-1556).	
Um	dos	fatores	mais	importantes	foi	o	cancelamento	dos	Seis	Artigos	que	haviam	sido	
instituídos	no	reinado	de	Henrique	VIII	e	a	permissão	para	que	o	sacerdote	pudesse	se	
casar.	O	reinado	de	Eduardo	foi	curto,	apenas	de	seis	anos,	e	o	trono	passou	para	sua	
meia	irmã,	Maria	Tudor.
Em	1553,	Maria	Tudor	 (1516-1558),	a	filha	do	primeiro	casamento	de	Henrique	
VIII,	assumiu	a	coroa	inglesa.	Ela	tentou	desfazer	com	o	movimento	iniciado	pelo	pai,	
procurando	restaurar	o	catolicismo	e	perseguiu	os	protestantes:	“Imediatamente,	ela	fez	
com	que	o	Parlamento	declarasse	que	o	casamento	de	sua	mãe	com	Henrique	VIII	fora	
válido,	e	que	todas	as	leis	religiosas	de	Eduardo	VI	fossem,	por	conseguinte,	anuladas”	
(GONZALEZ,	 2004,	 p.	 186).	 No	 curto	 tempo	 de	 seu	 governo,	muitos	 foram	mortos	 e	
outros	fugiram	para	países	protestantes	europeus	ou	para	as	Treze	Colônias	na	América	
do	Norte.	“Em	apenas	quatro	anos,	ela	superou	o	pai	em	intolerância.	Mandou	cerca	de	
300	protestantes	para	a	fogueira,	 incluindo	o	arcebispo	Cranmer”	(SHELLEY,	2004,	p.	
301).	Os	ingleses	que	se	refugiaram	em	países	com	a	tradição	protestante	consolidada	
acabaram	assimilando	suas	doutrinas,	o	que,	posteriormente,	foi	fundamental.
Após	 o	 reinado	 de	 Maria,	 subiu	 ao	 trono	 Elizabeth	 I	 (1558-1603),	 também	
conhecida	 como	 Isabel	 I.	 Ela	 retomou	 o	 anglicanismo	 e	 continuou	 a	 ampliação	 das	
reformas	 iniciadas	 por	 seu	 meio-irmão	 Eduardo.	 Nesse	 período,	 muitas	 das	 ideias	
calvinistas	passaram	a	agregar	o	credo	Anglicano.	Um	grupo	dentro	da	igreja	anglicana	
procurava	 fazer	 com	 que	 a	 rainha	 ampliasse	 as	 mudanças	 na	 Igreja,	 como,	 por	
exemplo,	que	abolisse	as	vestes	sacerdotais,	pois	assemelhava-se	ao	modelo	católico.	
Esse	movimento,	conhecido	como	puritanismo,	ganhou	força	na	 Inglaterra,	mas	não	
conseguiu	mudar	as	estruturas	principais	do	Anglicanismo.	Mais	adiante	voltaremos	à	
questão	puritana.
Ao	aceitar	 a	Bíblia	 como	autoridade	final	 e	ao	 reconhecer	apenas	o	
batismo	 e	 a	 Sagrada	 Eucaristia	 como	 sacramentos	 instituídos	 por	
Cristo,	os	Trinta	e	Nove	Artigos	(1563)	de	Elizabeth	eram	essencialmente	
protestantes,	mas	muitos	deles	encontravam-se	escritos	de	maneira	
a	 satisfazer	 tanto	 católicos	 como	 protestantes.	 A	 liturgia	 da	 igreja	
manteve	 vários	 elementos	 católicos	 e	 a	 igreja	 era	 governada	 por	
bispos,	em	sucessão	apostólica	(SHELLEY,	2004,	p.	301).
Portanto,	 o	 protestantismo	 na	 Inglaterra	 teve	 início	 pelo	 movimento	 do	
rei,	 e	 a	 igreja	 criada	manteve	os	padrões	católicos.	Só	com	o	 reinado	de	Eduardo	e,	
posteriormente,	 de	 Elizabeth	 I,	 a	 Igreja	 Anglicana	 passou	 a	 agregar	 as	 ideias	 do	
protestantismo,	principalmente	da	vertente	calvinista.
113
2.7 O PURITANISMO
O	 puritanismo	 foi	 uma	 forma	 de	 vivenciar	 o	 cristianismo	 que	 surgiu	 na	
Inglaterra,	 dentro	 da	 Igreja	 Anglicana.	 Segundo	 Campos	 (2014),	 esse	 termo	 foi	
empregado	a	primeira	vez,	provavelmente	em	1567,	para	diferenciar	o	movimento	que	
pedia	mudanças	dentro	do	anglicanismo.	
Caro	acadêmico,	trataremos	agora	de	alguns	aspectos	da	formação	do	puritanismo.	
Para	isso,	abordaremos	algumas	questões	da	política	na	Inglaterra.	É	importante	lembrarmos,	
novamente,	de	que	Igreja	e	Estado	não	estavam	separados.	Qualquer	ponto	discutido	nela	
era	também	uma	questão	estatal,	mesmo	nos	países	protestantes.
Muitos	anglicanos	que	tiveram	contato	com	o	calvinismo	passaram	a	pensar	
que	 a	 Igreja	 inglesa	 deveria	 passar	 por	 mudanças	 mais	 profundas,	 e	 mudar	 suas	
características	católicas,	tanto	na	aparência	quanto	na	teologia.	Um	dos	pontos	mais	
defendidos	era	o	fim	das	vestes	sacerdotais,	quemuito	lembravam	as	do	clero	católico.	
O	puritanismo	também	era	contra	o	formato	de	igreja	episcopal,	ou	seja,	um	modelo	de	
igreja	em	que	as	decisões	eram	tomadas	pela	hierarquia	do	clero.	
Os	puritanos	passaram	a	exigir	que	fosse	adotado	como	sistema	de	governo	da	
igreja	o	presbiterianismo,	no	qual	um	corpo	de	presbíteros,	que	seria	escolhido,	tivesse	o	
poder	decisório.	Além	disso,	eram	a	favor	da	adoção	de	um	rigor	disciplinar,	para	punir	os	
que	não	estivessem	se	comportando	com	a	ética	puritana.	
Outro	ponto	relevante	era	que,	no	sistema	anglicano,	a	tradição	era	importante,	
assim	como	no	catolicismo,	o	que	era	criticado	pelos	puritanos,	pois	defendiam	que	a	
Bíblia	era	o	princípio	para	seu	modo	de	vida.	Com	relação	à	forma	de	culto,	o	sistema	
anglicano	valorizava	os	pormenores	do	rito,	enquanto	os	puritanos	queriam	que	fosse	
estabelecida	a	simplicidade	e	espiritualidade	(CAMPOS,	2014).	
Como	estudamos,	a	mudança	religiosa	que	o	rei	Henrique	VIII	estabeleceu	não	
ocasionou	um	rompimento	de	fato	com	a	teologia	católica.	Somente	a	partir	do	governo	
de	seu	filho,	Eduardo	VI,	é	que	os	anseios	por	mudanças	mais	profundas	nas	questões	
religiosas	 foram	 atendidos.	 Ainda	 assim,	 o	 movimento	 puritano	 exigia	 que	 fossem	
tomadas	medidas	mais	profundas	de	rompimento	com	as	características	católicas.	
Mesmo	 com	 a	 subida	 da	 rainha	 Elizabeth	 I	 ao	 poder	 e	 a	 instauração	 do	
anglicanismo	como	religião	oficial,	desfazendo	as	medidas	tomadas	por	sua	 irmã,	a	
rainha	Maria	Tudor,	os	puritanos	não	ficaram	satisfeitos.	A	rainha	Elizabeth	I	manteve	
a	 hierarquia	 eclesiástica	 e	 não	 rompeu	 com	 as	 vestimentas	 sacerdotais.	Após	 sua	
morte,	como	não	possuía	herdeiros,	o	trono	foi	sucedido	por	Jaime	Stuart	e	depois	
Carlos	Stuart.	A	atuação	desses	 reis	foi	marcada	por	uma	tentativa	de	absolutismo	
monárquico,	e,	com	isso,	
114
[...]	perseguiram	os	protestantes	radicais	(os	puritanos)	dentro	e	fora	
do	Parlamento	 e	 tornaram	a	 Igreja	 da	 Inglaterra	 novamente	muito	
semelhante	à	Católica.	Muitos	puritanos	emigraram	para	a	América	
para	 a	 construção	 de	 uma	 sociedade	 como	 desejavam.	 Muitos	
parlamentares	puritanos	que	ficaram	na	Inglaterra	desistiram	de	lutar	
e	voltaram	para	o	que	consideravam	seu	verdadeiro	chamado:	salvar	
almas	(CAMPOS,	2014,	p.	7).
Com	problemas	em	decorrência	da	guerra	contra	a	Escócia,	o	rei	Carlos	I	(1600-
1649)	acabou	convocando	o	parlamento	que	ia	crescendo	em	oposição	ao	seu	governo.	
Nesse	 ínterim,	 Oliver	 Cromwell	 (1599-1658)	 assumiu	 o	 comando	 do	 exército	 inglês,	
que	se	tornou	grande	opositor	do	rei	e	conseguiu	tirá-lo	do	poder	e	executá-lo.	Esse	
movimento	político	ficou	conhecido	como	Revolução	Puritana.
A	chegada	do	partido	puritano	ao	poder	no	Parlamento,	durante	a	
Reforma	 na	 Inglaterra,	 trouxe	 como	 contribuição	 fundamental	 à	
religião	protestante	a	elaboração	da	Confissão	de	Fé	de	Westminster,	
que	 veio	 à	 existência	 depois	 do	 sínodo	 de	 Dordrecht	 (1618-1619)	
por	 solicitação	 em	 1645	 da	 Câmara	 dos	 Comuns	 à	Assembleia	 de	
Westminster	(1643-1649),	composta	por	121	ministros,	30	leigos	e	oito	
comissários	escoceses.	O	pedido	era	claro:	que	se	formulasse	uma	
confissão	para	a	Igreja	da	Inglaterra	(CAMPOS,	2014,	p.	09).
Foi	então	que,	na	Assembleia	de	Westminster,	foi	elaborada	a	Confissão	de	Fé	de	
Westminster,	que	teve	por	base	a	teologia	calvinista.	Outro	ponto	importante	definido	foi	
a	implantação	de	um	modelo	de	igreja	nos	moldes	organizacionais	do	presbiterianismo.	
Esse	modelo	deveria	ser	seguido	por	todas	as	igrejas	calvinistas.	
2.8 JOHN KNOX E A REFORMA NA ESCÓCIA 
O	protestantismo	na	Escócia	chegou	por	meio	de	livros	e	panfletos	que	chegaram	
ilegalmente.	Patrick	Hamilton	 (1504-1528),	um	dos	precursores	do	 luteranismo	nesse	
território,	foi	considerado	herege	e	morto	na	fogueira	em	1528	(LINDBERG,	2017).
A	vertente	protestante	que	acabou	prevalecendo	no	território	escocês,	porém,	
foi	 o	 calvinismo,	 pela	 influência	 de	 John	 Knox	 (1513-1572).	 Ele	 chegou	 a	 passar	 um	
tempo	em	Genebra,	 aprendendo	os	pontos	da	doutrina	 calvinista.	Todavia,	Gonzalez	
(2004)	afirma	que	também	foi	grande	a	influência	do	pensamento	de	Ulrico	Zuínglio	na	
concepção	teológica	de	Knox,	dentre	outras	coisas,	na	maneira	de	se	posicionar	frente	
ao	Estado,	já	que	Knox	foi	um	severo	crítico	da	rainha	Maria	Stuart	(1542-1587),	e	Calvino	
não	enfrentou	o	governo.	
A	questão	entre	a	Inglaterra	e	a	Escócia	era	conflituosa.	Houve	uma	tentativa	
de	união	por	meio	do	casamento	de	Eduardo,	filho	de	Henrique	VIII,	com	Maria	Stuart,	da	
Escócia,	mas	essa	união	não	ocorreu.	
115
Maria	Stuart,	católica,	casou-se	com	o	francês	Delfim	Francisco	II	(1544-1560).	
A	França,	que	tinha	um	reinado	católico	e	era	inimiga	da	Inglaterra,	não	viu	com	bons	
olhos	 tal	 união.	Assim	 que	 Francisco	 II	morreu,	 Maria	 Stuart	 retornou	 à	 Escócia.	 No	
período	em	que	esteve	na	França,	o	protestantismo	se	proliferou	no	território	escocês,	
e	a	liderança	de	Knox	ficou	forte.	
No	parlamento,	os	protestantes	se	destacaram	e	chegaram	a	aprovar	a	separação	
com	Roma	e	uma	confissão	de	fé	para	a	Escócia,	com	características	marcadamente	
calvinistas	(LINDBERG,	2017).
2.9 OS QUACRES
A	Inglaterra	do	início	do	século	XVII	estava	passando	por	transformações	sociais	
importantes.	Com	a	ampliação	do	processo	conhecido	por	“cercamento”,	que	consistiu	
em	 cercar	 as	 terras	 cumunais,	 ou	 seja,	 terras	 que	 poderiam	 ser	 usadas	 por	 todos,	
várias	pessoas	que	tinham	pequenas	propriedades	rurais	se	viram	sem	condições	de	
sobreviver,	 pois	 utilizavam	 os	 recursos	 de	 tais	 terras.	 Houve,	 então,	 um	 êxodo	 para	
regiões	urbanas,	o	que	formou	uma	massa	de	desempregados	nesses	lugares.
Nesse	contexto,	 alguns	movimentos	 religiosos	surgiram	na	 Inglaterra,	dentro	
do	 protestantismo,	 além	 dos	 puritanos,	 como	 já	 estudamos.	 Havia	várias	 ideias	 que	
associavam	a	nobreza	ao	anticristo	e	que	não	aceitavam	as	diferenças	sociais,	pois	as	
consideravam	fora	dos	padrões	estabelecidos	por	Deus	na	criação.	Foi	uma	época	de	
ideias	contundentes	e	diversas,	como	explica	Christopher	Hill	(1987):
Em	1642	os	pregadores	citavam	o	dito:	"Quando	Adão	cavava	e	Eva	
fiava,	quem	era	o	fidalgo?".	Dessa	forma,	quando	Christopher	Feake	
declarou,	em	1646,	que	a	monarquia	e	a	aristocracia	eram	"inimigas	de	
Cristo",	o	que	disse	não	era	uma	inovação	audaciosa,	porém	apenas	
um	desenvolvimento	de	doutrinas	já	conhecidas.	Havia,	então,	uma	
longa	tradição	popular	de	ceticismo	materialista	e	de	anticlericalismo;	
havia	a	tradição	familista,	segundo	a	qual	Cristo	estava	presente	em	
cada	fiel;	havia	a	tradição	separatista	de	oposição	a	uma	Igreja	oficial,	
aos	 dízimos	 que	 sustentavam	 os	 seus	 ministros	 e	 ao	 sistema	 de	
clientela	que	assegurava	à	classe	(HILL,	1987,	p.	51,	52).
Algumas	 pessoas	 na	 sociedade	 inglesa	 questionavam	 o	 poder	 do	 Estado	
em	 impor	 as	 questões	de	 fé.	Grupos	passaram	a	defender	 uma	maior	 liberdade	nas	
questões	de	crença,	apesar	de	serem	visto	pelo	Estado,	muitas	vezes	como	agitadores	
e	radicais,	ao	tentaram	fazer	da	sociedade	inglesa	um	ambiente	mais	plural,	com	relação	
as	questões	religiosas.	
Ao	 ler	 a	 Bíblia	 e	 enxergar	 questões	 que	 não	 eram	 priorizadas	 pela	 Igreja	
anglicana,	acabaram	compondo	uma	teologia	diferente	do	que	era	aceito,	como,	por	
exemplo,	ao	defender	que	o	clero	não	deveria	ser	remunerado	pelo	Estado,	e	sim	por	
contribuições	dos	fiéis,	de	forma	voluntária.	
116
Em	alguns	casos,	também	defendiam	que	os	leigos	poderiam	pregar,	além	de	
pontos	que	eram	considerados	mais	radicais	para	a	sociedade	da	época:
[os	 separatistas]	 defendiam	 a	 tolerância	 para	 todas	 as	 seitas	
protestantes,	 repelindo	 a	 censura	 eclesiástica	 e	 todas	 as	 formas	
de	 jurisdição	 eclesiástica,	 em	 favor	 de	 uma	 disciplina	 interna	 às	
congregações,	sem	o	aval	de	nenhuma	sanção	coercitiva.	Atribuíam	
pequena	 importância	 a	 muitos	 dos	 sacramentos	 tradicionais	 da	
Igreja.	Oseu	programa	implicaria	destruir	a	Igreja	nacional,	deixando	
a	cada	congregação	a	responsabilidade	de	seus	próprios	negócios	e	
havendo	apenas	um	tênue	contato	entre	as	diversas	congregações;	
a	Igreja	não	teria	mais	condições	para	moldar	a	opinião	segundo	um	
padrão	único,	para	punir	 o	 ‘pecado’	 ou	para	proibir	 a	 ‘heresia’.	Não	
haveria	controle	sobre	o	que	pensassem	as	classes	médias	e	baixas	
(HILL,	1987,	p.	52).
Perceba,	caro	acadêmico,	que	a	Inglaterra	adotou	um	modelo	de	igreja	muito	
parecido	com	o	catolicismo,	e,	mesmo	com	as	mudanças	que	ocorreram	para	deixar	o	
anglicanismo	com	mais	características	protestantes,	nem	todos	ficaram	satisfeitos.	
Enquanto	o	puritanismo	lutou	por	uma	simplicidade	do	culto	e	era	a	favor	da	
coerção	estatal	nas	questões	de	“desvios”	de	fé,	outros	grupos	se	levantaram,	tentando	
ir	além	nas	questões	religiosas.	Muitos	desses	grupos	foram	perseguidos	em	algumas	
épocas	e	tolerados	em	outras.	Trataremos	agora	de	uma	das	vertentes	mais	importantes	
nesse	 período,	 que	 chegou	 a	 fazer	 parte	 do	 parlamento,	 os	 quacres	 e	 que	 atuaram	
também	na	América.	No	próximo	tópico,	estudaremos	o	grupo	dos	ranters.
George	 Fox	 (1624-1691)	 é	 considerado	 o	 fundador	 dos	 Quacres,	 também	
conhecidos	como	“Sociedade	dos	amigos”.	Fox	foi	preso	diversas	vezes	por	questões	
religiosas.	 Todavia,	 suas	 críticas	 não	 eram	 somente	 sobre	 religião,	 mas	 também	
em	 questões	 políticas	 e	 sociais.	 Ele,	 em	 seu	 jornal,	 atacava	 o	 clero,	 não	 aceitava	 o	
pagamento	 do	 dízimo	 nem	 concordava	 com	 a	 sacralidade	 que	 era	 imputada	 aos	
templos.	Denunciava	a	opressão	da	nobreza,	defendia	as	pessoas	comuns	e	atacava	
veementemente	a	monarquia.	Uma	das	críticas	feitas	aos	quacres	era	a	aceitação	de	
mulheres	no	sacerdócio.
Os	 craques	 ficaram	 conhecidos	 pela	 pregação	 de	 que	 Cristo	 está	 dentro	 de	
nós	e,	por	isso,	não	somos	apenas	pecadores.	Cristo	seria	a	Luz	interior	e	todos	teriam	
acesso	a	Ele.	Com	isso,	eles	descartavam	o	papel	do	sacerdote,	da	liturgia	e	do	Estado	
nas	questões	religiosas.	
Outros	pontos,	no	entanto,	eram	tidos	como	mais	 radicais,	como	não	aceitar	
a	 questão	 da	 ressurreição	 de	 Cristo,	 pois	 acreditavam	 que	 a	 ressurreição	 acontecia	
internamente,	 no	 caso	 dos	 bons,	 e	 não	 criam	 na	 volta	 de	 Cristo.	 Vejamos	 algumas	
crenças	quacres	na	década	de	1650:
117
(1)	A	Bíblia	não	é	o	verbo	de	Deus;	(2)	todo	homem,	neste	mundo,	tem	
dentro	de	si	o	espírito	de	Cristo;	(3)	o	Jesus	Cristo	que	foi	crucificado	
mil	e	seiscentos	anos	atrás	não	satisfez	a	justiça	divina	no	tocante	aos	
pecados	dos	homens;	(4)	a	carne	e	sangue	de	Cristo	se	encontram	
no	 interior	 dos	 santos;	 (5)	 não	haverá	 ressurreição	dos	 corpos;	 (6)	
a	 ressurreição	 já	 se	 realiza,	 internamente,	 no	 caso	dos	bons;	 (7)	 o	
Jesus	crucificado	não	ascendeu	acima	do	céu	estrelado;	(8)	nem	se	
reencarnará,	no	último	dos	dias,	para	julgar	todas	as	nações	baixas	
(HILL,	1987,	p.	52).
A	 forma	de	pensar	dos	quacres	atraiu	diversas	condenações	dos	anglicanos	
e,	 também,	 dos	puritanos.	Quando	Fox	defendia	 que	 as	 igrejas,	mansões	 e	 castelos	
fossem	transformados	em	asilos,	gerava	ainda	mais	ataques	do	clero	e	da	nobreza.	
Outra	questão	em	que	os	quacres	eram	criticados	era	a	forma	de	tratamento	
dado	 a	 todos,	 sempre	 por	 “tu”,	 e	 a	 recusa	 de	 tirar	 o	 chapéu,	 principalmente	 para	
autoridades.	Tais	aspectos	eram	tidos	como	desrespeitosos,	todavia,	eles	faziam	isso	
como	forma	de	protesto.	Muitos	integrantes	dos	quacres,	por	seu	caráter	pacífico,	não	
concordavam	em	lutar	no	exército.	
Outro	 líder	 dos	quacres	que	 teve	notoriedade	 foi	 Samuel	 Fisher	 (1605-1665).	
Inicialmente	 puritano,	 tornou-se	 batista	 e,	 depois,	 seguidor	 do	 quacrismo,	 em	 que	
passou	a	pregar	que	os	santos	poderiam	viver	nessa	terra	em	perfeição.	
Além	disso,	defendia	que	Deus	salvava	quem	quisesse	aceitá-lo,	pois	Jesus	veio	à	
Terra	para	salvar	todas	as	pessoas	(HILL,	1987).	Essa	ideia	não	era	defendida	pela	corrente	
calvinista,	que	pregava	que	a	morte	de	Cristo	teria	sido	apenas	para	salvar	os	eleitos.	
Outra	postura	criticada	do	ponto	de	vista	dos	quacres,	foi	a	respeito	do	papel	
da	 Bíblia.	 Boa	 parte	 do	movimento	 passou	 a	 considerar	 a	 Bíblia	 como	 um	 conjunto	
de	 mitos	 e	 de	 bons	 ensinos.	 Não	 aceitavam	 que	 o	 clero	 tivesse	 a	 autoridade	 para	
interpretar	os	textos	sagrados,	pois	para	eles,	pessoas	incultas	também	tinham	o	Cristo	
interior:	 “Os	quacres	foram	acusados	de	 reduzirem	 ‘todas	as	coisas	a	alegorias,	ou	a	
um	Cristo	interior’.	[...]	muitas	vezes	os	seus	ouvintes	entendiam	que	eles	afirmavam	ter	
ressuscitado	alguém,	quando,	na	verdade,	apenas	queriam	dizer	que	tinham	convertido	
essa	pessoa”	(HILL,	1987,	p.	149).
Um	 dos	 nomes	 relevantes	 para	 a	 divulgação	 das	 ideias	 quacres	 foi	 Gerrard	
Winstanley	(1609-1676).	Filósofo,	político	e	reformador,	escrevia	panfletos	manifestando	
os	ideais	do	quacrismo.	Defendia	que	a	criação	de	Deus	não	comportava	a	hierarquia	
social	de	um	grupo	dominando	o	outro.	Além	disso,	no	aspecto	da	Nova	Aliança,	não	
haveria	também	as	diferenças	de	classes,	como,	por	exemplo,	entre	escravos	e	senhores.	
Isso	 significava	 que	 não	 deveria	 existir	 a	 propriedade	 privada.	 Tal	 questão	 suscitou	
muitos	ataques	à	sua	pessoa.	Segundo	Winstanley,	a	sociedade	cristã	deveria	ter	uma	
base	comunal,	ou	seja,	um	modelo	em	que	a	propriedade	privada	e	os	salários	seriam	
118
abolidos	e	que,	ao	continuar	mantendo	tal	sistema	social,	estaria	atrasando	a	salvação.	
Como	ele	defendia	o	universalismo,	ou	seja,	todos	seriam	salvos,	era	necessário	que	o	
sistema	social	fosse	alterado.	Assim,	com	o	fim	da	propriedade	privada,	a	salvação	seria	
completada	entre	os	homens	(HILL,	1987).
Seria	 difícil	 imaginar	 algo	mais	 consequente	 do	 que	 a	 recusa,	 por	
Winstanley,	da	divindade	que	justifica	a	dominação	dos	proprietários	
–	e	que	foi	criada	à	imagem	destes.	Respondeu	à	acusação	de	que	
suas	crenças	‘destruirão	todo	governo,	todo	o	nosso	clero	e	religião’	
friamente:	 ‘É	 a	 perfeita	verdade’.	 Em	The Law of Freedom,	 propôs	
explicações	psicológicas	para	a	crença	num	Deus	personificado,	em	
anjos,	em	lugares	determinados	que	estariam	reservados	à	glória	ou	
aos	tormentos.	A	sua	filosofia,	que	nasceu	de	uma	visão,	parece	ter	
culminado	em	uma	espécie	de	materialismo	panteísta,	no	interior	do	
qual	Deus,	ou	a	Razão	abstrata,	só	pode	ser	conhecido	no	homem	
ou	na	natureza;	e	o	homem	é	mais	importante	do	que	as	abstrações	
(HILL,	1987,	p.	148).
Na	Inglaterra	do	século	XVII,	havia	uma	parte	da	nobreza	que	estava	em	crise,	
devido	à	questão	da	herança.	Pela	lei,	a	herança	do	nobre	ficava	com	o	filho	mais	velho.	
Com	isso,	os	outros	filhos	ficavam	empobrecidos,	apesar	de	terem	o	título	de	nobreza.	
Winstanley	denunciou	com	veemência	essa	situação,	e	comparava	os	primogênitos	a	
Caim.	Muitos	dos	que	faziam	parte	dos	quacres	eram	nobres	que	não	tinham	direito	à	
herança	(HILL,	1987).
O	movimento	dos	quacres	foi	perseguido	na	Inglaterra	e	muitos	fugiram	para	
as	Treze	Colônias	Britânicas,	fundando	a	Colônia	da	Pensilvânia.	O	grupo	atualmente	é	
conhecido	pela	criação	do	Greenpeace	(1971).
2.10 OS RANTERS
Caro	 acadêmico,	 se	 as	 ideias	 dos	 quacres	 conseguiram	 causar	 alvoroço	 e	
oposição	entre	os	 ingleses,	o	grupo	dos	ranters	foram	além.	Apesar	de	terem	muitos	
pontos	em	comum	e,	por	 isso,	muitas	vezes	as	pessoas	se	confundiam	quanto	a	um	
e	a	outro,	 os	 ranters	 levaram	as	questões	do	cristianismo	a	um	patamar	ainda	mais	
alegórico.	 Além	 disso,	 eles	 eram	 continuamente	 acusados	 de	 relaxados	 e	 dados	 à	
bebida,	ao	fumo	e	frequentadores	de	tavernas.
Num	 encontro	 ranter	 do	 qual	 temos	 um	 relato	 (é	 verdade	 que	
hostil),	 os	 assistentes,	 muito	 heterogêneos	 em	 sua	 composição,	
se	encontraram	numa	taverna,	 entoaram	canções	obscenas	 sobre	
melodias	 de	 salmos	 bem	 conhecidos	 e	 comeram	 fartamente	 em	
comum.	Um	deles	partiu	um	enorme	bife,	gritando:	‘Essaé	a	carne	
de	Cristo,	tomai	dela	e	comei-a’.	Outro	derramou	um	copo	de	cerveja	
na	 lareira,	dizendo:	 ‘Esse	é	o	sangue	de	Cristo’.	Clarkson	disse	que	
uma	taverna	era	a	casa	de	Deus;	o	xerez,	continuava,	era	a	essência	
da	 divindade.	 Mesmo	 um	 inimigo	 puritano	 parece	 expressar	 uma	
espécie	 de	 admiração	 ressentida	 pela	 alegria	 encontrada	 nas	
119
orgias	dionisíacas	dos	ranters:	‘são	os	mais	alegres	dentre	todos	os	
demônios	na	improvisação	de	canções	lascivas,	em	brindes,	música,	
franco	 deboche	 e	 dança’.	 Uma	 das	 acusações	 formuladas	 contra	
o	capitão	Francis	Freeman	era	que	ele	cantava	canções	obscenas	
(HILL,	1987,	p.	202).
Segundo	Hill	(1987),	além	dessas	questões	sociais,	o	ponto	de	vista	dos	ranters	
acerca	 de	 Deus	 era	 controverso	 para	 a	 cristandade	 em	 geral.	 Eles	 criam	 que	 Deus	
estaria	 em	 tudo	 que	 fosse	 vivo.	 Acreditavam	 que	 não	 tinham	 pecados	 e	 que	 todos	
os	mandamentos	bíblicos	ocorreram	devido	à	maldição.	Todavia,	como	não	há	mais	a	
maldição,	não	haveria	mais	pecado	e,	como	Deus	está	em	tudo	e	em	todos,	o	que	o	
homem	faz	é	o	que	Deus	quer.	Não	criam	no	juízo	final,	nem	na	vida	após	a	morte,	pois	
acreditavam	que	o	corpo	voltaria	a	Deus,	fazendo	parte	do	próprio	Deus.	 	Vejamos	o	
posicionamento	dos	ranters	sobre	o	que	consideravam	histórias	alegóricas:
O	 inferno	 e	 o	 demônio	 estão	 dentro	 de	 nós;	 senão,	 teríamos	 de	
imaginar	um	 inferno	em	Deus.	Não	há	 inferno	além	desta	vida.	O	
diabo	não	é	uma	pessoa,	a	ressurreição	é	espiritual	e	interna,	não	
pertence	 à	 carne	 nem	 ao	 além.	 A	 Bíblia	 fala-nos	 em	 linguagem	
que	podemos	compreender:	as	histórias	de	Caim	e	Abel,	de	 Isaac	
e	Ismael,	de	Jacó	e	Esaú	são	alegorias,	não	verdades	literais.	Não	
devemos	 guiar-nos	 pela	 Bíblia,	 porém	 pelo	 espírito	 de	 Deus	 que	
temos	em	nós	[..]	(HILL,	1987,	p.	219).
Outra	crítica	feita	por	eles	relacionava-se	ao	clero.	Para	os	ranters,	o	clero	era	
desnecessário,	já	que	a	população	era	sustentada	pelo	Estado.	Os	quacres	tinham	alguns	
pontos	de	vista	semelhantes	aos	dos	ranters,	porém,	criticavam	a	maneira	libertina	que	
estes	viviam,	principalmente	com	relação	ao	uso	de	bebidas	alcóolicas,	fumo	e	o	que	
era	considerado	como	vida	sexual	desregrada.	Tais	aspectos	eram	tidos	como	falta	de	
virtude	(HILL,	1987).
Hill	(1987)	afirma	que	é	difícil	saber	o	período	que	demarca	o	fim	desse	movimento.	
Tendo	em	vista	que	os	ranters	não	fizeram	uma	organização	formal	e	muitos	deles	foram	
presos	e	mortos,	aos	poucos	o	movimento	ficou	enfraquecido	e	chegou	ao	fim.
120
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 A	Reforma	Protestante	assumiu	diversos	contornos	sociais	e	políticos,	mudando	o	
cenário	religioso	europeu	do	século	XVI.	
•	 Com	a	difusão	das	ideias	de	Lutero,	outros	personagens	entraram	em	cena	ampliando	
o	 olhar	 teológico	 iniciado	 pelo	 reformador,	 fazendo	 com	 que	 surgissem	 novos	
movimentos	protestantes,	como	o	Calvinismo.
•	 Os	 Anabatistas	 foram	 um	 movimento	 dentro	 do	 protestantismo	 que	 buscou	
ampliar	as	reformas	iniciadas	por	Lutero.	Eles	tiveram	diferentes	líderes,	e	sofreram	
perseguições	tanto	dos	protestantes,	quanto	dos	católicos.
•	 Armínio	passou	a	tecer	críticas	as	ideias	Calvinistas,	o	que	gerou	diversos	debates,	e	
um	sínodo,	que	reafirmou	as	principais	vertentes	calvinistas.
•	 Na	Inglaterra,	a	separação	da	Igreja	romana	deu	origem	a	Igreja	Anglicana.	O	rei	inglês	
passou	a	ser	o	líder	da	nova	Igreja.	
•	 Vários	grupos	protestantes	foram	perseguidos	na	Inglaterra,	o	que	provocou	a	fuga	
para	as	Treze	Colônias	Britânicas,	na	América.
121
1	 No	século	XVI,	importantes	mudanças	ocorreram	na	sociedade	europeia,	em	virtude	da	
Reforma	Protestante.	O	cenário	religioso	foi	modificado,	surgindo	várias	igrejas	cristãs	
com	interpretações	e	a	hegemonia	católica	no	Ocidente	teve	fim.	Tendo	em	vista	tais	
questões,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	 O	 batismo	 infantil	 condicionava	 o	 indivíduo	 a	 determinada	 religião,	 devido	 ao	
pacto	entre	 Igreja	e	Estado,	e	 isso	 levava	a	uma	vida	sem	o	poder	de	escolha	
no	campo	religioso.	Por	esse	motivo,	vários	grupos	protestantes	enfatizaram	a	
importância	do	batismo	na	idade	adulta,	como	os	anabatistas.	
b)	(			)	 O	grupo	anabatista	 liderado	por	Grebel	 foi	duramente	perseguido	em	Zurique,	
mas	conseguiu	guarida	no	território	alemão,	sob	a	influência	de	Lutero.
c)	(			)	 Zwingli	 adotou	 a	 Confissão	 de	 Augsburgo	 no	 território	 de	 Zurique,	 apenas	
discordando	da	questão	da	eucaristia.
d)	(			)	 O	pensamento	de	Zwingli	foi	 influenciado	por	Erasmo,	e	as	mudanças	que	ele	
propôs	para	Zurique	não	tiveram	a	influência	de	Lutero.
2	 O	protestantismo	se	desenvolveu	com	bastante	força	na	cidade	de	Genebra,	sob	o	
comando	de	João	Calvino.	Tendo	em	vista	o	que	foi	estudado	este	assunto,	analise	
as	sentenças	a	seguir:
I-	 Genebra	tornou-se	um	centro	para	quem	quisesse	conhecer	a	teologia	calvinista.	
Seu	 modelo	 de	 sociedade	 se	 espalhou	 por	 vários	 países,	 inclusive	 a	 Inglaterra,	
influenciando	os	puritanos.
II-	 Após	o	falecimento	de	Armínio,	seus	alunos	continuaram	a	disseminar	suas	ideias	e	
acabaram	formulando	uma	síntese	do	seu	pensamento,	nas	questões	discordantes	
do	calvinismo.	Eles	passaram	a	se	denominar	de	Remonstrantes.
III-	Sínodo	Nacional	de	Dordrecht	ocorreu	para	apresentar	a	doutrina	dos	remonstrantes.	
Ela	passou	a	ser	largamente	aceita	pela	igreja	calvinista	e	anglicana.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	(			)	Somente	a	sentença	III	está	correta.
3	O	pensamento	de	Lutero	rompeu,	em	muitos	sentidos,	com	a	estrutura	da	teologia	
católica.	Após	sua	recusa	em	abdicar	dos	seus	pressupostos,	Lutero	foi	excomungado	
do	catolicismo,	porém,	recebeu	apoio	do	príncipe,	o	que	o	ajudou	a	não	ser	processado	
pela	Inquisição.	Tendo	em	vista	o	cenário	da	teologia	de	Lutero,	classifique	V	para	as	
sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
AUTOATIVIDADE
122
(			)	 Lutero	se	envolveu	em	disputas	com	Erasmo,	que	não	aceitava	o	rompimento	da	
comunidade	cristã,	além	de	ser	considerado	um	pacifista.	Por	isso,	era	a	favor	da	
tolerância	religiosa.
(			)	 Uma	das	questões	que	geraram	críticas	a	postura	de	Lutero,	foi	o	fato	de	ele	ser	
favorável	aos	judeus,	criticando	a	postura	católica	de	perseguição	e	batismo	forçado.
(			)	 A	Confissão	de	Augsburgo	continha	os	princípios	do	Luteranismo,	que	passou	a	ser	
uma	religião	estatal,	assim	como	era	o	catolicismo.	
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	V	–	F	–	F.
b)	(			)	V	–	F	–	V.
c)	 (			)	F	–	V	–	F.
d)	(			)	F	–	F	–	V.
4	 A	Igreja	inglesa,	antes	mesmo	da	Reforma	iniciada	por	Lutero,	já	criticava	o	domínio	
de	Roma	em	seu	território.	Tendo	em	vista	tal	questão,	explique	com	suas	palavras,	
os	principais	fatores	que	levaram	ao	rompimento	da	Inglaterra	com	a	Igreja	romana.
5	 Tendo	em	vista	o	cenário	religioso	na	Inglaterra	após	a	adesão	ao	anglicanismo	e	as	
diversas	correntes	protestantes	que	se	formaram,	explique	os	principais	pontos	do	
Puritanismo	na	Inglaterra.
123
TÓPICO 3 - 
AS MUDANÇAS NA RELIGIÃO EUROPEIA 
APÓS A REFORMA
1 INTRODUÇÃO
Caro	 acadêmico,	 estudamos	 no	 tópico	 anterior	 as	 principais	 correntes	
geradas	 pelo	 protestantismo.	 A	 igreja	 católica	 perdeu	 sua	 hegemonia	 na	 Europa	
Ocidental,	e	as	disputas	religiosas	ficaram	cada	vez	mais	intensas.	Os	conflitos	entre	
católicos	e	protestantes	e	dentro	do	protestantismo	ocuparam	e	preocuparam	os	
reis	e	as	sociedades. 
O	catolicismo	se	manteve	firme	em	locais	como	Portugal,	Espanha,	em	boa	parte	
da	França	e	nas	cidades	italianas.	Com	a	intenção	de	conter	o	avanço	do	protestantismo	
nesses	países	e	em	outros	territórios	que	ainda	era	hegemônica,	surgiu	a	necessidade	
de	convocar	mais	um	concílio.	O	concílio	de	Trento	serviu,	dentre	outros	fatores,	para	
reafirmar	 os	 dogmas	 católicos,e	 traçar	 estratégias	 sobre	 como	 proceder	 diante	 do	
crescimento	das	igrejas	protestantes.	
As	 monarquias	 nacionais	 definiam	 qual	 igreja	 apoiaria	 em	 seu	 território.	 Na	
América,	a	presença	católica	foi	 imperativa	nas	regiões	dominadas	por	Portugal	e	pela	
Espanha.	Já	na	América	do	Norte,	a	 influência	de	 igrejas	protestantes	foi	forte	devido	
à	 colonização	 inglesa.	 Além	 dos	 anglicanos,	muitos	 grupos	 perseguidos	 na	 Inglaterra	
migraram	para	as	Treze	Colônias.	É	acerca	desse	cenário	que	abordaremos,	neste	tópico,	o	
que	foi	a	Contrarreforma	católica,	além	do	movimento	surgido	na	igreja	católica,	conhecido	
como	Jansenismo;	as	ideias	Iluministas	e	seu	impacto	no	cristianismo;	O	surgimento	dos	
movimentos	pietistas	e	a	influência	do	metodismo	para	as	missões	protestantes.
 
2 A CONTRARREFORMA CATÓLICA
 
A	 historiografia	 atual,	 quando	 trata	 da	 temática	 da	 contrarreforma,	 mostra	 que	
esse	movimento	acabou	sendo	uma	série	de	medidas,	não	só	para	combater	o	avanço	do	
protestantismo,	mas	que	resultou	na	reforma	do	catolicismo,	como	explica	Shelley:
Alguns	historiadores	interpretam	a	Reforma	católica	como	um	contra-
ataque	ao	protestantismo;	outros	a	classificam	como	um	verdadeiro	
avivamento	da	fé	católica,	pouco	tendo	a	ver	com	o	protestantismo.	
A	verdade	é	que	o	movimento	tanto	foi	uma	contrarreforma,	como	
insistem	os	protestantes,	como	uma	Reforma	católica	como	afirmam	
os	católicos.	Suas	raízes	remontam	a	tempos	anteriores	a	época	de	
Lutero,	mas	 a	 forma	 que	 tomou	 foi	 em	 grande	 parte	 determinada	
pelo	ataque	protestante	(SHELLEY,	2004,	p.	304).
UNIDADE 2
124
Devido	ao	avanço	do	protestantismo	na	Europa,	além	de	sua	diversidade,	como	
já	discutimos	no	capítulo	anterior,	a	igreja	católica	iniciou,	oficialmente,	um	movimento	
organizado	 contra	 o	 que	 para	 ela	 era	 heresia.	 Muitos	 territórios	 já	 haviam	 cortado	
relações	com	Roma,	o	que	fez	com	que	o	catolicismo	perdesse	o	apoio	de	governos,	
bem	como	as	receitas	provenientes	dos	dízimos	e	dos	Estados.	Manter	o	catolicismo	
como	única	 religião	nos	países	em	que	as	 ideias	protestantes	ainda	eram	fracas	era	
uma	questão	de	sobrevivência	(TILLICH,	1976).	A	reação	católica,	então,	foi	convocar	o	
concílio	ecumênico	que	ficou	conhecido	como	Concílio	de	Trento.
Antes	mesmo	da	convocação	do	concílio	de	Trento,	alguns	cardeais	pensaram	
na	possibilidade	de	um	concílio	geral,	com	protestantes,	para	se	tratar	de	temas	como	
o	celibato,	a	questão	da	eucaristia,	dentre	outros.	Porém,	ele	não	ocorreu,	pois,	com	
o	 passar	 do	 tempo,	 o	 abismo	 na	 forma	 de	 pensar	 entre	 as	 correntes	 protestantes,	
principalmente	os	calvinistas,	e	o	catolicismo	ficavam	mais	evidentes	(JOHNSON,	2001).	
O	Concílio	de	Trento	aconteceu	entre	os	anos	de	1546	e	1563,	na	cidade	italiana	
de	Trento.	Nele,	alguns	pontos	doutrinários	questionados	por	Lutero	foram	reafirmados	
e	alguns	posicionamentos	foram	revistos.	Este	concílio	moldou	a	cosmovisão	católica	
a	partir	de	então.
Em	desacordo	com	a	concepção,	defendida	por	Lutero,	segundo	a	qual	a	Bíblia	
consiste	em	autoridade	última,	ou	seja,	sola scriptura,	o	Concílio	reafirmou	a	igualdade	
entre	a	Bíblia	e	a	Tradição	da	Igreja.	Além	disso,	a	tradução	de	Jerônimo,	conhecida	como	
Vulgata,	foi	considerada	a	única	correta,	e,	com	relação	à	interpretação	das	Escrituras,	
a	única	aceita	seria	a	da	Igreja	Católica	Romana	(TILLICH,	1976).
Quanto	 ao	 pecado,	 a	 principal	 diferença	 entre	 os	 ideais	 reformadores	 e	 os	
preceitos	instituídos	em	Trento	referia-se	à	questão	do	livre	arbítrio.	Os	reformadores	
afirmavam	 que	 o	 ser	 humano	 fora	 totalmente	 corrompido	 após	 o	 pecado,	 inclusive	
em	sua	 liberdade	de	escolha.	Todavia,	o	concílio	 reafirmou	que,	apesar	da	corrupção	
causada	pelo	pecado,	a	vontade	humana	está	apenas	debilitada	(TILLICH,	1976).	
Sobre	a	questão	dos	sacramentos,	o	protestantismo	aceitou	apenas	dois.	No	
entanto,	o	catolicismo	reafirmou	a	importância	dos	sete	sacramentos,	e	sua	relevância	
quanto	a	salvação.	Na	questão	do	batismo,	enfatizam	a	importância	do	batismo	infantil,	
pois	esse	sacramento	é	que	limparia	a	mácula	do	pecado	original	(TILLICH,	1976).	Com	
relação	à	eucaristia,	foi	reafirmada	a	transubstanciação.	O	papel	da	missa	foi	reafirmado,	
assim	como	a	doutrina	do	purgatório.
O	 Index	foi	 instituído	e	consistia	em	uma	 lista	de	 livros	proibidos.	Ocorreria	a	
queima	dos	livros	não	autorizados	pela	Igreja	romana.	Inclusive,	a	Bíblia	traduzida	por	
Lutero,	bem	como	a	versão	de	Erasmo	e	as	demais	versões	ampliadas	por	reformadores,	
todas	 essas	 estavam	 nessa	 lista.	 Quanto	 às	 questões	 de	moralidade,	 o	 papa	 Pio	V:	
“[...]	 em	 1565,	gerou	o	novo	clima	puritano,	que	envolveu	a	expulsão	das	prostitutas	
125
de	 Roma,	 a	 imposição	 de	 trajes	 clericais	 estritos	 e	 punições	 de	 extremo	 rigor	 para	
a	 simonia”	 (JOHNSON,	 2001,	 p.	 360).	 O	 concílio	 de	 Trento	 procurou,	 dentre	 outras	
coisas,	trazer	uma	moralidade	para	a	igreja	católica,	punindo	os	membros	do	clero	que	
estivessem	envolvidos	em	denúncias	de	solicitação,	sodomia,	ou	com	relacionamentos	
com	mulheres.	 Tais	 aspectos,	 antes	 de	Trento,	 costumavam	 ser	 tolerados,	 o	 que	 foi	
incisivamente	atacado	por	Lutero.
Uma	das	mais	importantes	medidas	da	contrarreforma	foi	a	criação	da	nova	ordem	
religiosa,	 regida	 por	 Inácio	 de	 Loyola	 (1491-1556),	 a	 Companhia	 de	 Jesus.	 Os	 jesuítas,	
como	 ficaram	 conhecidos,	 se	 identificavam	 como	 soldados	 de	 Cristo	 na	 luta	 contra	 o	
protestantismo.	Loyola	se	opôs	à	ideia	de	Lutero	com	relação	à	salvação	pela	fé.	O	jesuíta	
enfatizava	que	 a	 salvação	 seria	 alcançada	pela	 obediência	 aos	mandamentos	da	 Igreja	
católica,	a	qual	ele	considerava	a	verdadeira	Igreja	(JOHNSON,	2001).	Inclusive,	ao	adotar	
os	três	votos	comuns	do	catolicismo	que	envolvem	a	obediência,	castidade	e	pobreza,	eles	
incluíram	o	quarto	voto,	que	era	o	de	apoio	e	lealdade	ao	papado	(SHELLEY,	2004).
A	 intensão	 original	 dos	 jesuítas	 fora	 trabalhar	 entre	 os	 pobres	 e	
doentes.	Com	efeito,	o	êxito	de	sua	missão	educacional	lançou	sua	
sorte	em	meio	aos	ricos	e	poderosos:	tornaram-se	especialistas	na	
educação	da	classe	alta.	Foi	em	grande	parte	por	acaso,	pois,	que	a	
Contrarreforma	muniu-se	de	um	instrumento	poderoso	(JOHNSON,	
2001,	p.	363,	364).	
Lembremos,	 caro	 acadêmico,	 que	 os	 jesuítas	 se	 fizeram	 presentes	 no	 Brasil	
Colonial,	 atuando	 na	 educação	 dos	 filhos	 dos	 colonos	 e	 nas	 missões	 e	 reduções	
indígenas.	Eles	 foram	os	 responsáveis	pela	 implantação	de	escolas	em	todo	o	Brasil	
Colonial.	 Isso	 ocorreu	 tanto	 para	 auxiliar	 no	 processo	 de	 colonização	 portuguesa,	
quanto	 para	 afastar	 os	 protestantes	 da	 América	 portuguesa	 e	 espanhola,	 fazendo	
com	que	o	catolicismo	imperasse.	A	questão	educacional	foi	um	fator	relevante	para	a	
contrarreforma,	principalmente	a	política	da	igreja	na	melhoria	da	formação	dos	seus	
clérigos.	Tendo	em	vista	que	a	Reforma	atuou	enfaticamente	na	 formação	dos	 seus	
sacerdotes,	a	igreja	católica	passou	a	ser	mais	rígida,	também,	na	formação	clerical.	
A	 causa	 jesuítica	 era	 a	 defesa	 do	 catolicismo	 a	 todo	 custo,	 como	 nos	
lembra	Johnson	 (2001,	p.	367)	 “Os	 jesuítas	não	somente	defendiam	a	guerra	como	
instrumento	legítimo	contra	a	heresia	como	eram	favoráveis	ao	assassinato	seletivo	
dos	protestantes	–	sobretudo	se	ocupassem	posições	importantes”.	Eles	ainda	viam	
como	favorável	o	assassinato	daqueles	 líderes	que	se	afastassem	do	catolicismo	e	
abraçassem	a	fé	reformada:
[...]	em	1599,	escreveu	Juan	Mariani,	aconselhando	Felipe	III	a	respeito	
da	questão	da	monarquia,	escreveu	sobre	os	soberanos	protestantes:	
‘é	 algo	 glorioso	 exterminar	 toda	 essa	 raça	 pestilenta	 e	 perniciosa	 da	
comunidade	 dos	 homens’.	 	 Também	 os	 membros	 são	 cortados	 fora	
quando	 corruptos,	 a	 fim	 de	 não	 infectarem	 o	 restante	 do	 corpo;	 da	
mesma	maneira,	essa	crueldade	bestial	sob	forma	humana	tem	que	ser	
apartada	do	Estado	e	cortadacom	a	espada	(JOHNSON,	2001,	p.	367).
126
Para	 o	 catolicismo	 romano,	 a	 reforma	 protestante	 desestabilizou	 o	 avanço	
religioso	na	Europa,	quebrando	a	sua	hegemonia.	Durante	muitos	anos,	toda	vertente	
protestante	 foi	 considerada	 heresia	 pelo	 catolicismo	 romano,	 e	 a	 luta	 contra	 ele	 foi	
travada	de	diferentes	formas,	a	depender	do	país	e	da	época.
Outro	braço	forte	da	igreja	no	processo	da	contrarreforma	foi	o	reinado	espanhol,	
principalmente	 por	 meio	 do	 tribunal	 inquisitorial,	 como	 já	 estudamos.	 A	 força	 da	
Inquisição	na	Península	Ibérica	foi	responsável	pela	tentativa	do	extermínio	do	judaísmo	
e	do	islamismo	naquele	território,	como	também	se	opôs	ferozmente	contra	qualquer	
tentativa	da	propagação	das	ideias	protestantes.
3 O JANSENISMO
O	jansenismo	foi	um	movimento	dentro	da	Igreja	católica,	iniciado	por	Cornélio	
Jansen	(1585-1638),	que	retomou	as	leituras	de	Agostinho	de	Hipona,	principalmente	
na	questão	da	predestinação.	 Segundo	Shelley	 (2004),	 ele	 se	 ocupou	em	criticar	 os	
jesuítas	e	tentou	corrigir	o	que,	segundo	ele,	seriam	os	erros	da	igreja	católica.
Com	 relação	 aos	 jesuítas,	 sua	 crítica	 baseava-se	 no	 posicionamento	 diante	
da	 questão	 do	 rigor	moral,	 pois	 acusava-os	 de	 serem	 tolerantes	 ao	 erro:	 “eram	 tão	
permissivos	em	relação	à	pecaminosa	natureza	humana,	que	muitas	pessoas	honestas	
chegaram	a	protestar	em	relação	ao	que	lhes	parecia	uma	‘graça	barata’,	isto	é,	perdão	
sem	contrição”	 (SHELLEY,	 2004,	 p.	 358).	 Jansen,	 ao	 contrário,	 defendia	um	 rigor	na	
moralidade,	 principalmente	 para	 o	 clero.	 Tal	 posicionamento	 teve	 por	 base	 as	 ideias	
agostinianas	(SHELLEY,	2004).
Segundo	Jansen,	o	catolicismo	deveria	rever	sua	postura	quanto	à	questão	da	
salvação	a	partir	do	catolicismo	do	Norte	da	África,	que	afirmava	que	as	obras	dos	seres	
humanos	não	acarretam	mudanças	na	salvação,	pois	todas	as	escolhas	humanas	estão	
corrompidas	pelo	pecado.	Sendo	assim,	os	salvos	 já	foram	escolhidos	anteriormente.	
Todavia,	 apesar	 da	 questão	 da	 predestinação	 em	Agostinho	 não	 ter	 sido,	 até	 então,	
combatida	 oficialmente	 pelo	 catolicismo,	 a	 ideia	 das	 obras,	 principalmente	 com	 o	
Concílio	de	Trento	e	com	o	apoio	enfático	dos	jesuítas,	foi	mais	ressaltada	pela	Igreja.	
Não	só	a	questão	das	obras,	mas	a	obediência	aos	ritos	romanos	(SHELLEY,	2004).
Jansen	 faleceu	 antes	 de	 concluir	 seu	 tratado	 sobre	 o	 assunto,	 intitulado	 de	
Augustinus.	Porém,	esse	escrito	acabou	servindo	como	base	do	movimento	(SHELLEY,	
2004).	Seu	sucessor	foi	Jean	DuVergier	(1581-1643),	que	fez	com	que	a	França	passasse	
a	conhecer	as	ideias	de	Jansen.	Os	jesuítas	passaram	a	atacar	o	movimento,	alegando	
que	 tais	 posturas	 eram	 “[...]	 calvinismo	 com	 aparência	 católica.	 Em	 1653,	 o	 papa	
condenou	cinco	proposições	pretensamente	tiradas	de	Augustinus”	 (SHELLEY,	2004,	
p.	360).	As	ideias	jansenistas	espalharam-se,	chegando	a	membros	da	elite	intelectual,	
como	médicos,	e	até	mesmo	ao	cientista	Blaise	Pasqual	(1623-1662).	
127
4 O ILUMINISMO E A QUESTÃO RELIGIOSA
O	 Iluminismo	 foi	 um	processo	de	mudanças	na	 forma	de	pensar	 que	 iniciou	
no	século	XVIII,	originalmente	na	França,	influenciando,	posteriormente,	outros	países,	
como	os	da	América.	Há	quem	diga	que	as	ideias	Iluministas	tenham	se	iniciado	com	
o	Renascimento	científico	e	cultural,	todavia,	foi	no	século	XVIII	que	o	movimento	das	
Luzes	tomou	forma	como	um	modelo	de	pensamento	para	a	sociedade,	a	economia	e	a	
política,	e	veio	a	moldar	o	Ocidente	(FALCON,	1986).
Caro	acadêmico,	é	importante	lembrar	como	funcionava	a	política	na	Europa	desde	
o	final	do	Feudalismo.	A	política	era	exercida	pelo	rei,	no	regime	do	absolutismo	monárquico.	
No	campo	econômico,	o	Mercantilismo	preconizava	a	importância	de	as	nações	serem	ricas,	
por	meio	do	acúmulo	de	metais	preciosos	e	de	uma	balança	comercial	favorável,	ou	seja,	
mais	exportação	do	que	importação.	O	Estado	era	responsável	pelo	controle	econômico,	
mantendo	privilégios	da	nobreza,	que,	em	contrapartida,	apoiava	o	sistema	para	não	perder	
suas	 regalias.	Nas	camadas	sociais	mais	baixas,	havia	os	camponeses,	e	os	burgueses,	
que	eram	comerciantes.	A	burguesia,	com	o	passar	do	tempo,	foi	exigindo	maior	espaço	na	
sociedade,	em	virtude	do	crescimento	do	comércio	e	do	maior	nível	educacional	que	eles	
iam	adquirindo.	A	associação	entre	burguesia	e	indústria	só	ocorreu	posteriormente,	após	a	
Revolução	Industrial,	aspecto	que	trataremos	no	próximo	tópico.
Como	principais	 representantes	 das	 ideias	 Ilustradas	 (outro	 termo	usado	 para	
Iluminismo),	 temos:	 François-Marie	Arouet,	 o	Voltaire	 (1694-1778);	 Denis	 Diderot	 (1713-
1784);	Jean	le	Rond	d’Alembert	(1717-1783);	Jean-Jacques	Rousseau	(1712-1778)	e	Charles-
Louis	de	Secondat,	conhecido	como	Montesquieu	(1689-1755).	A	visão	deles	de	sociedade	
não	era	unânime,	mas	havia	alguns	pontos	em	comum,	como	a	questão	do	acesso	à	
educação	para	todas	as	pessoas.	Esse	pressuposto	seria	fundamental	para	a	formação	de	
uma	sociedade	mais	consciente	e	moldada	pela	razão	e	não	por	deias	religiosas,	as	quais	
eles	se	referiam,	muitas	vezes,	como	superstições.	Além	disso,	os	iluministas	defendiam,	
também,	que	o	poder	não	deveria	ser	exercido	somente	pelo	rei,	como	ocorria	no	sistema	
absolutista,	ao	qual	eles	chamavam	de	“Antigo	Regime”,	e	sim	por	uma	divisão	do	poder,	
como	sugeriu	Montesquieu,	em	executivo,	legislativo	e	judiciário.	
Com	relação	à	religião,	os	iluministas	criticavam,	principalmente,	a	não	possibilidade	
de	escolha	individual	de	pensamento	e	de	crença,	sendo	que,	tanto	nos	países	católicos	
quanto	 nos	 protestantes,	 o	 Estado	 e	 a	 Religião	 andavam	 juntos.	 Outras	 concepções	
quanto	à	relação	entre	natureza,	Deus	e	ciências	foram	sendo	construídas	e,	muitas	vezes,	
rechaçadas	pelas	correntes	religiosas	da	época.	Vejamos	a	explicação	de	Falcon:
A	visão	tradicional,	de	natureza	finalista	ou	teleológica	por	definição,	
era	 típica	 de	 um	 universo	 mental	 marcado	 pela	 Revelação.	
Pouco	 a	 pouco	 essa	 visão	 perdeu	 terreno	 diante	 do	 avanço	 da	
visão	 imanentista,	 naturalista	 e	 antropocêntrica.	 Ao	 longo	 desse	
embate	produziu-se	uma	nova	concepção	de	mundo	e	do	homem,	
essencialmente	terrena	e	humana,	pautada	pelos	pressupostos	da	
imanência,	 da	 racionalidade	 e	 da	 relação	 homem-natureza	 como	
realidade	essencial	(FALCON,	1986,	p.	33,	grifos	do	original).
128
Contudo,	é	importante	entendermos	que	essa	forma	de	pensar,	apesar	de	ter	
ganhado	espaço	na	sociedade,	não	foi	acolhida	por	todos	os	grupos	religiosos.	Como	já	
vimos	em	outros	momentos,	as	novas	ideias	que	surgem	ganham	espaço	em	uma	certa	
área	da	sociedade,	mas,	muitas	vezes,	são	rechaçadas	por	outras.	
Os	 iluministas	 defendiam	 “a	 liberdade	 de	 pensamento	 e,	 referindo-se	 às	
interpretações	da	Bíblia	e	à	multiplicidade	de	opiniões	em	matéria	de	religião,	afirmava	
que	a	razão	deve	ser	o	único	critério	válido,	de	acordo	com	a	própria	vontade	divina”	
(FALCON,	1986,	p.	33).	A	questão	do	cristianismo	como	uma	religião	que	foi	revelada	por	
Deus	e,	portanto,	a	única	que	deveria	ter	espaço	nas	sociedades,	foi	perdendo	força,	
dando	espaço	ao	deísmo,	que	preconizava	a	importância	da	racionalidade	nas	questões	
religiosas	(FALCON,	1986).	
Devido	 a	 essas	 questões,	 as	 críticas	 dos	 filósofos	 iluministas	 ao	 clero	 foram	
intensas.	Um	dos	principais	personagens	anticlericais	foi	Voltaire,	o	que,	segundo	Falcon	
(1986),	deu	origem	à	questão	da	secularização,	ou	seja,	a	necessidade	da	separação	da	
religião	dos	demais	aspectos	da	vida	como	a	ciência	e	a	política.	Falcon	(1986)	também	
enfatiza	que	o	anticlericalismo	foi	muito	marcante	na	França,	mas	não	em	outras	partes	
da	Europa,	e	que	os	iluministas,	em	regra,	não	se	apartaram	do	cristianismo,	mas	sim	
propuseram	novas	(re)leituras.	Sobre	esse	assunto,	Johnson	expõe	a	situação	da	França:
[...]	o	 jansenismo	degenerou	para	um	mero	partido	político,	perdeu	
seu	fervor	espiritual	e	acabou	voltandoà	tona,	como	uma	religião	de	
advogados,	em	1789.	Assim,	o	catolicismo	permaneceu	sem	Reforma,	
e	 a	 terceira	 força	 –	 o	 Iluminismo	 –	 emergiu	 como	 variedades	 do	
deísmo	ou	ateísmo,	atuando	fora	do	cristianismo,	ou	mesmo	contra	
ele.	 [...]	 O	 Iluminismo	 francês	 foi	 o	 primeiro	movimento	 intelectual	
europeu,	desde	o	século	IV,	a	se	desenvolver	fora	dos	parâmetros	da	
crença	cristã	(JOHNSON,	2001,	p.	424).
Johnson	 (2001)	 trouxe	 um	 aspecto	 importante	 sobre	 a	 filosofia	 Iluminista,	
o	fato	de	seu	desenvolvimento	ter	sido	fora	da	 igreja	ou	teologia.	Contudo,	as	 ideias	
iluministas	também	foram	responsáveis	por	mudanças	no	cristianismo.	Além	disso,	elas	
influenciaram	monarcas,	em	um	movimento	conhecido	como	“despotismo	esclarecido”.
Como	 mencionamos	 anteriormente,	 o	 filosofo	 ilustrado	 Voltaire	 foi	 um	 dos	
mais	críticos	à	atuação	da	 Igreja,	e	um	dos	mais	profícuos	escritores	de	seu	tempo.	
Segundo	 Johnson	 (2001,	 p.	 425),	 ele,	 por	 diversas	 vezes,	 se	 declarou	 um	 deísta	 e	
argumentou	que	cria	“no	deus	da	natureza,	o	grande	geômetra,	o	arquiteto	do	universo,	
a	força	motriz,	inalterável,	transcendental,	eterna”.	Com	relação	à	institucionalidade	do	
cristianismo,	tentou	mostrar,	assim	como	outros	estudiosos	de	sua	época,	que	boa	parte	
das	desgraças	na	história	ocorreu	devido	à	truculência	do	cristianismo.	As	atitudes	do	
cristianismo	teriam	sido	responsáveis	por	destruir	sociedades.
129
Voltaire	escreveu	a	Frederico,	o	Grande:	‘Vossa	majestade	prestará	a	
raça	humana	um	serviço	eterno	se	extirpar	essa	superstição	infame,	
e	não	digo	entre	o	populacho,	que	não	é	digno	de	ser	 iluminado	e	
está	pronto	para	qualquer	 jugo;	digo	entre	os	bem-nascidos,	entre	
os	que	desejam	pensar’	[...]	 ‘não	basta	saber	mais	que	os	teólogos;	
temos	de	mostrar-lhes	que	somos	melhores	e	que	a	filosofia	torna	
os	homens	mais	honoráveis	que	qualquer	graça	suficiente	ou	eficaz’	
(JOHNSON,	2001,	p.	424).
Com	a	disseminação	das	ideias	iluministas,	algumas	mudanças	começaram	a	
ocorrer	a	partir	dos	governos	onde,	em	muitos	casos,	diminuíram	o	poder	da	religião	
nos	 assuntos	 estatais,	 e	 os	 tribunais	 inquisitoriais	 começaram	 a	 ter	 fim.	 No	 império	
austríaco,	o	 imperador	José	 II	determinou	a	tolerância	religiosa.	Além	disso,	tirou	das	
mãos	da	religião	a	 incumbência	sobre	a	educação,	tornando-a	secularizada	e	fechou	
casas	religiosas	que	não	tinham	uma	função	social	(JOHNSON,	2001).	Em	Portugal,	a	
ordem	dos	jesuítas	foi	expulsa,	assim	como	em	diversos	territórios	católicos	como	na	
Espanha	 e	 França.	Todavia,	 tais	mudanças	 ainda	 foram	pequenas,	 tendo	 em	vista	 o	
papel	que	o	cristianismo	ainda	exercia	na	Europa	nesse	período.
5 AS MISSÕES DA ÁSIA
O	cristianismo	na	região	da	Ásia	passou	por	dificuldades	desde	o	seu	início,	no	
século	XVI.	Ele	esbarrou	em	culturas	com	um	sistema	religioso	consolidado	e	governos	
que,	 no	 geral,	 não	 estavam	 dispostos	 a	 se	 abrir	 para	 uma	 religião	 tão	 diferente.	 De	
acordo	 com	Shelley	 (2004),	 um	dos	pioneiros	nessa	 empreitada	 foi	 Francisco	Xavier	
(1506-1552),	que	fazia	parte	da	Companhia	de	Jesus	e	foi	para	Goa,	na	região	das	Índias,	
que	estava	sob	o	domínio	de	Portugal.	Após	alguns	meses,	se	dirigiu	para	o	Sul	da	Índia	
e	passou	a	exercer	uma	grande	influência	entre	uma	comunidade	de	pescadores,	que	
solicitaram	ao	missionário	que	o	reino	português	os	protegesse	dos	inúmeros	roubos	
que	ocorriam	na	região.	
Todavia,	o	rei	português	só	aceitou	o	pedido	quando	eles	se	comprometeram	
em	aceitar	 o	 batismo	 católico.	 Xavier	 foi	 o	missionário	 que	 implantou	 o	 cristianismo	
ali,	inicialmente,	quando	as	vilas	de	pescadores	passaram	a	viver	sob	a	religião	cristã,	
cercados	pelos	hinduístas.	Posteriormente,	 outros	 jesuítas	 chegaram	e	 conseguiram	
transformar	os	hábitos	dos	moradores	de	acordo	com	o	catolicismo.
Xavier,	 ao	 sair	 de	Goa,	 foi	 participar	 de	missões	 na	Malásia,	 onde,	 após	 dois	
anos,	 retornou	 para	 Goa	 e	 partiu	 para	 o	 Japão.	 Nessa	 época,	 os	 senhores	 feudais	
japoneses	estavam	abertos	ao	comércio	com	os	estrangeiros,	o	que	favoreceu	a	ida	dos	
missionários	cristãos	para	aquela	região	(SHELLEY,	2004).	
Com	 a	 convivência	 com	 os	 japoneses,	 observando	 seus	 hábitos	 culturais,	
Xavier	 mudou	 a	 forma	 de	 evangelizar.	 Até	 então,	 o	 cristianismo,	 ao	 se	 estabelecer	
em	 uma	 região,	 não	 levava	 somente	 a	 religião,	 mas	 também	 impunha	 as	 questões	
130
culturais,	moldando	a	sociedade	de	acordo	com	a	cultura	dos	missionários,	pois,	o	que	
a	 cultura	 pagã	produzia	 não	poderia	 ser	 considerado	bom.	No	Japão,	 Xavier	mudou	
de	perspectiva,	pois	considerou	que	o	cristianismo	poderia	 ser	 aceito	 sem,	contudo,	
modificar	os	seus	costumes.	Vários	jesuítas	se	deslocaram	para	colaborar	com	Xavier	
nas	missões	no	Japão.
A	sociedade	de	Jesus	dominou	a	missão	cristã	no	Japão	até	o	final	do	
século	XVI.	Seu	trabalho	obteve	sucesso	notável.	Em	1557,	um	jesuíta	
otimista	 escreveu:	 ‘Dentro	 de	 dez	 anos	 todo	 o	 Japão	 será	 cristão	
se	 tivermos	missionários	 suficientes’.	 Dois	 anos	depois,	 os	 jesuítas	
estabeleceram	uma	nova	cidade	como	lar	para	cristãos	convertidos.	
Chamaram-na	 Nagasaki.	Antes	 do	 final	 do	 século,	 os	missionários	
haviam	convertido	300	mil	pessoas,	fundado	centenas	de	igrejas	e	
duas	faculdades	cristãs	(SHELLEY,	2004,	p.	321).
Os	 jesuítas	pregavam	o	cristianismo,	mas	procuravam	respeitar	os	costumes	
dos	japoneses	até	onde	foi	possível,	conseguindo,	inclusive,	que	os	próprios	japoneses	
convertidos	 guiassem	 igrejas.	 Porém,	 a	 tolerância	 ao	 cristianismo	nessa	 região	ficou	
ameaçada,	 com	 a	 suspeita	 de	 que	 eles	 seriam	 invasores	 (SHELLEY,	 2004).	 Muitos	
missionários	foram	mortos	“[...]	pela	espada,	outros	pela	fogueira	e	outros	ainda	apelo	
caldeirão	 fervente.	 O	 trabalho	 cristão	 que	 antes	 florescia	 no	 Japão	 se	 desintegrara.	
Restara	muito	pouco	nas	colinas	próximas	a	Nagasaki”	(SHELLEY,	2004,	p.	321).
Com	relação	aos	trabalhos	dos	cristãos	na	China,	o	missionário	Xavier,	quando	
saiu	 do	 Japão,	 tentou	 obter	 autorização	 para	 a	 implantação	 do	 cristianismo	 lá,	mas	
faleceu	antes	de	ir.	A	empreitada	ficou	a	cargo	de	Mateus	Ricci	(1552-1610),	que	conseguiu	
ir	até	Macau,	ilha	próxima	à	China,	todavia,	o	acesso	a	China	era	difícil	para	povos	com	
culturas	diferentes,	principalmente	pela	influência	do	Confucionismo	(SHELLEY,	2004).	
Em	Macau,	 Ricci	 se	 ocupou	 em	 aprender	 o	mandarim	 e	 a	 cultura	 chinesa.	 Ele	
conseguiu	 entrar	 na	China	 e	 foi	 bem	 recebido,	 pois	 já	 conhecia	 a	 língua,	 e	 por	 ser	 um	
homem	bem	instruído.	Ricci	ensinou	sobre	o	calendário	cristão	e	mostrou	os	mapas	que	
estavam	sendo	feitos	na	Europa,	o	que	entusiasmou	os	chineses	em	um	primeiro	momento.	
Posteriormente,	conseguiu	acesso	à	Pequim,	e	foi	aceito	como	astrônomo	e	matemático.
Após	sua	morte,	a	comunidade	cristã	na	China	já	contava	com	cerca	
de	dois	mil	membros.	Seu	sucessor,	Adam	Schall,	elevou	ainda	mais	
o	 trabalho	 intelectual.	 Conquistou	 a	 admiração	 dos	 intelectuais	
chineses	ao	predizer	acuradamente	a	época	de	um	eclipse	da	 lua,	
tornando-se	diretor	do	serviço	astrônomo	Imperial.	Em	1650,	Schall	
construiu	uma	igreja	em	Pequim	e	obteve	liberdade	religiosa	para	o	
cristianismo	em	todo	o	império	(1657)	(SHELLEY,	2004,	p.	323).
Perceba,	 caro	acadêmico,	que,	 tanto	no	Japão	quanto	na	China,	os	 jesuítas,	
além	de	ficarem	impressionados	com	as	culturas,	tiveram	que	ser	criativos	ao	levar	o	
cristianismo,	para	que	os	governantes	permitissem	que	continuassem	lá.	No	caso	da	
China,	a	ligação	com	a	ciência	fez	com	que	o	missionário,	além	de	ser	aceito,	estivesse	
com	cargo	importante	no	Império.	Quanto	ao	evangelismo	na	China,	os	jesuítas	usaram	a	
131
mesma	metodologia	do	Japão,	que	foi	a	adaptação	cultural.	Porém,	outros	missionários	
cristãos	passaram	a	criticar	a	postura	jesuítica	de	aceitação	e	adaptação,	chegando	ao	
ponto	de	fazer	denúncias	ao	papa.	Segundo	Shelley	(2004),	o	papado	ora	concordavacom	a	metodologia	jesuítica,	ora	criticava.	A	situação	foi	se	agravando	e,	cerca	de	um	
século	depois,	a	missão	nesse	território	declinou.
6 O PIETISMO
Após	 a	 consolidação	 da	 Reforma	 Protestante	 e	 das	 inúmeras	 divisões,	 na	
qual	surgiram	várias	 igrejas,	a	 religiosidade	continuou	estando	unida	ao	Estado.	Para	
muitos,	fazer	parte	de	uma	igreja	era	apenas	uma	formalidade	social.	No	decorrer	do	
desenvolvimento	 do	 cristianismo,	 muitos	 movimentos	 surgiram	 com	 a	 proposta	 de	
ser	uma	“renovação	espiritual”,	dentro	de	uma	igreja	que,	para	a	maioria,	era	somente	
formalidade.	Tais	grupos	fizeram	parte	tanto	do	catolicismo	quanto	do	protestantismo.	
O	movimento	pietista	surgiu	na	Alemanha,	dentro	do	luteranismo,	e,	segundo	Shelley	
(2004,	p.	363),	tratou-se	de	“[...]	uma	reação	a	essa	calcificação	da	Reforma”.
Caro	acadêmico,	atualmente,	não	é	difícil	encontrarmos,	no	protestantismo,	a	
ideia	de	uma	conversão	pessoal.	Essa	ideia	foi	posta	pela	primeira	vez	pelo	movimento	
pietista,	que	enfatizava	a	fé	pessoal,	assim	como,	a	experiência,	tanto	dos	já	batizados,	
quanto	dos	demais.	Outra	característica	do	pietismo	foi	a	ênfase	no	papel	do	leigo,	e	não	
na	igreja	estatal.	A	fé	dos	fiéis	contagiaria	os	outros	fiéis,	e	eles	mesmo	divulgariam	o	
Evangelho.	Esse	tipo	de	manifestação,	que,	hoje	em	dia,	é	tão	comum	ao	protestantismo,	
foi	uma	novidade	iniciada	na	igreja	alemã,	e	seus	principais	adeptos	foram	Philip	Jacob	
Spener	 (1635-1705),	August	Hermann	Francke	 (1663-1727)	 e	Nikolaus	von	Zinzendorf	
(1700-1760)	(SHELLEY,	2004).	
Spener	 deu	 início	 a	 reuniões	 em	 sua	 casa	 para	 estudar	 a	 Bíblia,	 sendo	 logo	
taxadas	de	reuniões	de	pios,	o	que	deu	origem	ao	termo	pietismo.	O	caráter	de	reuniões	
em	casas	foi	defendido	por	Spener,	como	algo	que	ajudaria	na	vida	cristã	e,	formaria	
fiéis	mais	fervorosos	espiritualmente.	Ele	foi	a	Berlim	e	conseguiu	levar	à	universidade,	
para	lecionar,	Francke,	que	se	tornou	o	próximo	líder	pietista.	Os	dois	foram	atacados	
pela	ortodoxia	 luterana	das	universidades	de	Leipzig,	Wittenberg:	 “Deutschmann,	um	
dos	teólogos	de	Wittenberg,	os	acusou	de	duzentos	e	oitenta	e	três	ensinos	heréticos	
[...]	Como	resultado,	os	pietistas	foram	forçados	a	fundar	a	Universidade	de	Halle	(1694)”	
(GONZALEZ,	2004,	p.	305).	Sobre	sua	atuação,	vejamos	a	explanação	de	Shelley:
Em	Halle,	Francke	iniciou	a	formação	de	ministros	espirituais	e	sociais.	
A	universidade	tornou-se	o	centro	de	formação	de	grande	número	de	
ministros	pietistas.	A	compaixão	de	Francke	pelos	negligenciados	o	
levou	a	abrir	uma	escola	para	os	pobres.	Abriu	também	um	orfanato	
e	 comprou	 uma	 taverna	 e	 as	 terras	 que	 lhe	 eram	 próximas	 para	
construir	um	hospital.	Sua	atividade	 incansável	 incluiu	uma	escola	
de	latim	para	jovens	talentosos,	uma	casa	para	viúvas,	uma	casa	para	
mulheres	 solteiras,	 um	 dispensário	médico,	 um	 depósito	 de	 livros,	
uma	gráfica	e	uma	casa	da	Bíblia	(SHELLEY	2004,	p.	365).
132
A	influência	de	Francke	foi	importante	para	a	formação	de	cristãos	mais	envolvidos	
com	o	cotidiano	da	igreja,	inclusive	no	movimento	posterior	das	missões	protestantes.	Foi	o	
pietismo	a	ala	protestante	que	se	preocupou	em	atuar	na	sociedade	por	meio	de	uma	ética	
social,	por	meio	da	criação	de	orfanatos,	empresas	missionárias,	entre	outros.	Além	disso,	
no	campo	da	liturgia,	eles	retomaram	a	questão	da	confirmação	da	fé,	com	o	propósito	de	
confirmação	do	batismo	(TILLICH,	1976).
Outro	personagem	fundamental	dentro	do	pietismo	foi	Zinzendorf.	Ele,	que	havia	
iniciado	os	estudos	na	área	do	direito	e	conheceu	membros	da	Fraternidade	Boêmia,	grupo	
que	era	herdeiro	do	movimento	hussita.	Eles	eram	liderados	por	um	carpinteiro	da	região	
da	Morávia,	 por	 isso,	 foram	chamados	de	moravianos.	De	 acordo	 com	Shelley	 (2004),	
eles	 pretendiam	 viver	 em	 uma	 comunidade	 de	 cristãos	 verdadeiros,	 separadamente,	
longe	das	tentações.	Foi	em	1727	que	Zinzendorf	se	tornou	líder	dos	moravianos,	também	
chamados	de	“Fraternidade	Unida”.	Sob	sua	liderança,	eles	passaram	a	ser	uma	força	no	
campo	da	evangelização	protestante.	Ao	conhecer	um	homem	negro	escravizado	quando	
realizava	uma	visita	à	cidade	de	Copenhague,	Zinzendorf	se	sensibilizou	com	a	vida	que	os	
escravizados	levavam	e	resolveu	formar	missionários	para	atuarem	junto	a	essas	pessoas,	
em	diversos	países.	Sobre	o	diferencial	do	movimento	petista,	Shelley	explica	que:
A	 intensidade	 com	 que	 os	 pietistas	 descreviam	 a	 regeneração	
frequentemente	 fazia	do	cristianismo	um	drama	da	alma	humana.	
O	coração	do	homem	era	cenário	de	uma	batalha	desesperada	entre	
os	poderes	do	bem	e	do	mal.	Nesse	sentido,	o	pietismo	foi	a	fonte	de	
todos	reavivamentos	modernos.	Ele	colocou	a	experiência	da	nova	
vida	em	Cristo	no	centro	da	mensagem	e	do	ministério	cristãos.	Por	
essa	 razão,	 é	 impossível	 pensar	 na	 cristandade	 evangélica	 sem	 a	
influência	do	pietismo	(SHELLEY	2004,	p.	365).
As	ideias	pregadas	pelos	pietistas,	como	a	ênfase	na	conversão	e	na	experiência	
individual,	acabaram	sendo	uma	marca	de	vários	outros	movimentos	posteriores.	Cabe	
ressaltar	que	os	pietistas	não	confrontaram	a	igreja	oficial	nem	o	Estado.	Sua	ênfase	foi	
na	mudança	de	vida	individual,	a	partir	da	experiência.	
7 O METODISMO
Caro	 acadêmico,	 o	 pensamento	 Iluminista,	 como	 estudamos,	 penetrou	 em	
diversos	 setores	 da	 religiosidade	 anglicana,	 em	 que	muitos	 aderiram	 ao	 pensamento	
deísta.	De	acordo	com	Shelley	(2004,	p.	330),	na	Inglaterra	“entre	os	cultos	e	os	ricos,	o	
Iluminismo	banira	a	fé	do	centro	de	sua	vida	para	a	periferia”.	Assim	como	os	pietistas	que	
iniciaram	um	movimento	para	“reavivar”	a	“dura”	ortodoxia	luterana	nas	terras	alemãs,	na	
Inglaterra,	ideias	similares	tomaram	forma,	no	que	veio	a	ser	conhecido	como	Metodismo.	
John	 Wesley	 (1793-1791),	 em	 seus	 estudos	 na	 universidade	 de	 Oxford,	 teve	
contato	com	teólogos	como	Taylor	(1711	–	1785)	e	Tomás	de	Kempis	(1380	–	1471)	,	que	
o	inspiraram	a	buscar	uma	vida	compromissada	com	Deus.	Posteriormente,	Wesley	fez	
133
parte	da	Faculdade	Lincoln	e	depois	tornou-se	ministro	anglicano.	Ao	retornar	para	Oxford,	
juntou-se	ao	seu	irmão	que	havia	convocado	cristãos	na	universidade,	que	estavam	se	
reunindo	para	estudarem	a	Bíblia,	orar,	visitar	prisões	e	fazer	doação	aos	pobres.	Wesley	
passou	a	liderar	o	grupo	que	foi	apelidado,	dentre	outros	nomes,	de	metodista.	
Wesley	recebeu	o	convite	para	ir	a	Geórgia,	nas	Treze	Colônias,	para	ser	capelão.	
Ele	 viu	 uma	 oportunidade	 para	 pregar	 aos	 indígenas	 da	 América.	 Ao	 iniciar	 suas	
tentativas	evangelísticas	na	América,	passou	por	um	choque	cultural	intenso,	não	tendo	
êxito	entre	os	nativos.	Já	a	comunidade	branca	estabelecida	na	Geórgia,	não	via	com	
apreço	as	posturas	radicais	de	Wesley,	como	a	“proibição	de	que	as	mulheres	usassem	
roupas	elegantes	e	joias	de	ouro	na	igreja”	(SHELLEY,	2004,	p.	375).	Após	alguns	meses,	
ele	retornou	a	Europa.
Em	 Londres,	 Wesley	 foi	 desafiado	 por	 um	 moraviano	 a	 buscar	 o	 “novo	
nascimento”.	 Ele	 começou	 a	 frequentar	 reuniões	 em	casas,	 onde,	 em	maio	 de	 1738,	
ocorreu	uma	mudança	radical	em	sua	vida,	que	o	influenciou	daí	por	diante:
Escreveu	 ele:	 ‘De	 noite’,	 fui,	 completamente	 sem	 vontade,	 a	 uma	
sociedade	na	rua	Aldergaste,	onde	alguém	 lia	o	prefácio	de	Lutero	
para	 a	 epístola	 aos	 romanos.	 Por	 volta	 das	 20h45,	 enquanto	 ele	
descrevia	 a	 mudança	 que	 Deus	 opera	 no	 coração	 através	 da	 fé	
em	Jesus,	 senti	meu	 coração	 estranhamente	 aquecido.	 Senti	 que	
realmente	acreditava	em	Cristo,	apenas	nele,	para	a	salvação;	e	me	
foi	dada	uma	certeza	de	que	ele	levou	meus	pecados,	e	me	salvou	da	
lei	do	pecado	e	da	morte’	(SHELLEY	2004,	p.	374).
O	 relato	 de	Wesley	 é	 importante	 para	 compreendermos	 o	 fervor	 religioso	 que	
entrou	em	vigor	na	Inglaterra.	Ele	visitou	a	terra	dos	moravianos,	na	qual	não	permaneceu	
por	muito	tempo,	mas	foi	bastante	influenciado	pelos	pequenos	grupos	nos	lares.	Outra	
importante	 influênciapara	 ele	 foi	 ler	 os	 relatos	 das	 pregações	 ao	 ar	 livre	 feitas	 por	
Jonathan	Edwards	(1703-1758).	Nessa	época,	o	culto	era	prestado	somente	no	espaço	
do	templo.	Quem	quisesse	ouvir	as	pregações,	teria	que	se	dirigir	a	igreja.	Edwards	estava	
iniciando	 um	 novo	 formato	 de	 pregação,	 ao	 ar	 livre.	 Inicialmente	 relutante	 com	 esse	
modelo,	Wesley	passou	a	adotá-lo:	“Pregou	para	mais	de	três	mil	pessoas	a	céu	aberto.	E	
a	reação	desses	cidadãos	comuns	foi	surpreendente.	Conversões,	tão	verdadeiras	quanto	
aquelas	de	Nova	Inglaterra,	passaram	a	acontecer	em	toda	parte.	O	despertar	metodista	
havia	começado”	(SHELLEY,	2004,	p.	376).	Wesley	passou,	então,	a	pregar	em	diversos	
lugares,	indiscriminadamente,	pois,	segundo	ele,	“o	mundo	era	a	sua	paróquia”	(SHELLEY,	
2004,	p.	376),	algo	nada	convencional	para	as	igrejas	protestantes	até	então.
É	importante	ressaltar	que	Wesley	não	era	contra	a	igreja	anglicana.	O	movimento	
que	ele	liderou,	aos	poucos,	foi	se	distanciando	do	anglicanismo,	porém,	não	era	isso	que	
ele	almejava.	Inclusive,	ele	se	recusou	a	sair	da	igreja	inglesa,	permanecendo	nela	até	sua	
morte	(SHELLEY,	2004).	Ele	também	se	opunha	à	questão	da	predestinação,	aceitando	
a	concepção	de	que	o	sacrifício	de	Cristo	foi	para	todas	as	pessoas,	entretanto,	o	ser	
humano	pode	aceitá-lo	ou	não.	Segundo	Mendonça	(1995,	p.	46),	ele	“alargou	ainda	mais	
134
a	brecha	entre	o	arminianismo	e	calvinismo	com	a	sua	doutrina	da	perfeição	cristã,	que	
é	a	 sua	mais	 importante	contribuição	para	a	 teologia	protestante”.	Ele	defendia	que	a	
santificação	era	um	processo	que	ocorria	devido	à	fé,	e	que	a	experiência	pessoal	era	mais	
relevante	que	frequentar	a	igreja	por	uma	questão	meramente	social	(MENDONÇA,	1995).
O	trabalho	de	Wesley	cresceu	e	ele	passou	a	colocar	 leigos	para	pregar	e	até	
mesmo	liderar.	Para	cuidar	desses	líderes,	ele	criou	conferências	regulares	para	instruí-
los.	O	metodismo	ganhou	força	na	América	do	Norte,	onde	decidiram	 romper	com	o	
anglicanismo,	mesmo	contra	sua	vontade.
Os	metodistas	eram	anglicanos,	e	sua	igreja	era	a	igreja	da	Inglaterra.	
Com	 a	 final	 separação	 dos	 dois	 corpos,	 entretanto,	 o	 Metodismo	
se	tornou	uma	organização	que	assemelhou	 intimamente	a	outras	
tradições	da	igreja	 livre	e,	ao	mesmo	tempo,	herdou	na	teologia	de	
seu	fundador	perspectivas	da	igreja	que	eram	muito	diferentes	da	sua	
prática	efetiva.	Diferentes	tentativas	para	resolver	esta	ambiguidade	
se	 explicam	 em	 parte	 por	 causa	 da	 diferença	 entre	 o	 Metodismo	
inglês	e	americano	(GONZALEZ,	2004,	319).
Na	Inglaterra,	o	rompimento	com	a	igreja	oficial	só	aconteceu	após	a	morte	de	
Wesley.	Na	época	de	seu	falecimento,	o	metodismo	já	contava	com	mais	de	70	mil	fiéis	
na	Europa	e	cerca	de	40	mil	nas	colônias	inglesas	(SHELLEY,	2004).
8 O GRANDE AVIVAMENTO NA AMÉRICA DO NORTE
Na	mesma	época	do	movimento	pietista	e	do	metodismo,	a	América	do	Norte	
vivenciou	uma	série	de	mudanças	na	religião	que	ficaram	conhecidas	como	o	Grande	
Avivamento.	 O	 protestantismo	 nas	 Treze	 Colônias	 Britânicas,	 atual	 Estados	 Unidos,	
ocorreu	durante	o	processo	da	colonização	inglesa.	Como	a	principal	característica	dessa	
colônia,	diferente	da	portuguesa,	foi	de	povoar,	os	colonos	trouxeram	sua	religiosidade	
para	reger	a	vida	em	comunidade.	
Diferentes	grupos	protestantes	se	estabeleceram	nessa	região,	principalmente	
por	fugirem	de	perseguições	religiosas	na	Inglaterra,	como	já	estudamos	no	conteúdo	
sobre	a	Igreja	anglicana.	
Na	América,	 longe	 dos	 reis,	 os	 diferentes	 grupos	 perceberam	a	 importância	 de	
adotarem	um	 sistema	 religioso	 diferente	 do	 que	 ocorria	 na	 Europa,	 onde	 o	 governante	
definia	qual	seria	a	religião	do	povo.	Foi	estabelecido,	então,	que	o	Estado	não	interferiria	na	
religião,	não	cobrando	de	seus	súditos	a	adesão	a	uma	igreja.	
Todavia,	era	importante	que	a	vertente	seguida	fosse	protestante.	Esse	sistema	
ficou	conhecido	por	denominações,	imperando,	de	certa	forma,	a	ideia	de	fraternidade	
entre	 os	 diferentes	 grupos	 protestantes,	 e	 não	 mais	 as	 guerras	 que	 ocorriam	 na	
Europa.	Isso	não	quer	dizer	que	não	houvesse	divergências	e	disputas,	mas	essas	não	
135
chegavam	a	embates	maiores.	Esse	modelo	cedeu	espaço	ao	voluntariado,	ou	seja,	o	
cidadão	poderia	aderir	à	denominação	que	preferisse,	e	a	manutenção	da	 igreja	não	
ficava	a	cargo	do	Estado,	mas	sim	das	contribuições	voluntárias	dos	fiéis.	Com	relação	
ao	catolicismo,	ele	não	era	bem	aceito,	e	se	deu	por	via	migratória,	em	grande	escala,	
somente	a	partir	do	século	XVIII	(MENDONÇA,	1995).
Na	 primeira	 fase	 da	 colonização,	 os	 principais	 grupos	 religiosos	 que	 se	
estabeleceram	foram	os	calvinistas,	principalmente	representados	pelos	puritanos,	e	os	
luteranos.	Quanto	ao	anglicanismo,	este	era	visto	como	representante	da	igreja	inglesa	
nas	terras	americanas.	O	livro	de	Oração	Comum	foi	usado	amplamente,	por	diversas	
igrejas	nas	colônias	britânicas:
Nesses	 primórdios,	 tanto	 anglicanos	 como	 congregacionais	 e	
presbiterianos	são	calvinistas	em	teologia	e	usam	a	mesma	liturgia	(Livro	
de	Oração	Comum),	 embora	 eclesiasticamente	os	 anglicanos	 sejam	
episcopais	e	os	congregacionais	e	presbiterianos	venham	a	assumir	
formas	 democráticas	 diretas	 ou	 representativas	 indiferentemente,	
conforme	as	circunstâncias	(MENDONÇA,	1995,	p.	50).
As	 Treze	 Colônias	 passaram	 a	 ser	 um	 local	 profícuo	 para	 o	 protestantismo,	
devido	a	liberdade	que	assumiram	desde	o	início	da	colonização.	Além	dos	calvinistas,	
anglicanos	 e	 luteranos,	 acharam	 guarida	 nessas	 terras	 os	 quacres,	 batistas,	
presbiterianos,	congregacionais	e	anabatistas.	
Entre	 os	 anos	 de	 1720	 e	 1740,	 o	 Grande	 Despertar	 iniciou	 nas	 Treze	 Colônias,	
com	 as	 pregações	 do	 calvinista	 Theodorus	 Jacobus	 Frelinghuysen	 (1691-1747),	 que	
“despertou	emoções	de	seus	paroquianos,	fazendeiros	do	vale	do	Raritan,	com	seus	apelos	
apaixonados	e	se	deleitou	com	a	grande	adesão	de	novos	membros”	(SHELLEY,	2004,	p.	
385,	386).	O	avivamento	se	espalhou	por	diversas	igrejas.	Porém,	na	mesma	medida	em	
que	se	espalhava,	havia	também	aqueles	que	criticavam	e	não	aceitavam	a	nova	forma	de	
manifestação	do	protestantismo.	Os	grupos	chegaram	a	se	dividirem	em	O	Novo	Partido,	no	
qual	se	encontravam	os	adeptos	do	Avivamento,	e	o	Velho	Partido,	com	os	que	o	rejeitavam	
(SHELLEY,	2004).
As	igrejas	que	aderiram	ao	avivamento	começaram	a	enviar	missionários	para	as	
diversas	regiões	da	colônia,	onde	o	número	de	adeptos	se	multiplicava	rapidamente.	Um	
nome	muito	 importante	foi	o	de	George	Whitefield	(1714-1770),	que	era	muito	amigo	de	
John	Wesley	e	passou	a	pregar	nas	colônias,	conseguindo	levar	o	avivamento	para	boa	
parte	das	cidades.	Sua	forma	de	pregar	atraía	multidões.	
Segundo	Shelley	 (2004,	p.	386),	 ele	é	considerado	o	 “pai	do	evangelismo	de	
massa	moderno”.	Com	suas	viagens,	ele	conseguiu	unir	os	movimentos	de	Norte	a	Sul	
das	 colônias.	 Outro	 importante	 pregador	 foi	 Jonathan	 Edwards	 (1703-1758),	 escritor	
e	teólogo,	atuou	em	uma	igreja	em	Northampton,	Massachusetts.	Ele	se	destacou	na	
pregação	 em	 diversas	 cidades,	 sempre	 com	 sermões	 com	 fortes	 doses	 de	 emoção	
(SHELLEY,	2004).
136
Na	 região	 da	 Nova	 Inglaterra,	 Isaac	 Backus	 (1724-1806)	 foi	 um	 relevante	
evangelizador.	Ele	também	foi	importante	para	que	a	liberdade	religiosa	fosse	realmente	
verdadeira	nas	colônias.	
Ele	 escreveu	 tratados,	 dezenas	 de	 petições,	 obteve	 evidências	
concreta	de	perseguições,	compareceu	à	corte	como	testemunha,	
trabalhou	 em	 comitês	 para	 a	 formulação	 de	 políticas,	 e	 manteve	
uma	constante	guerra	 de	palavras	 em	 jornais,	 disputas	públicas	 e	
cartas	privadas.	A	prisão	de	sua	mãe,	 irmão	e	tio,	em	Connecticut,	
e	suas	próprias	convicções	pietistas	produziram	nele	uma	oposição	
apaixonada	ao	sistema	estabelecido	(SHELLEY,	2004,	p.	389).
Perceba,	 caro	 acadêmico,	 que,	 mesmo	 com	 a	 liberdade	 das	 denominações	
nas	colônias	inglesas,	às	vezes,	ocorriamperseguições.	Não	na	mesma	proporção	que	
aconteciam	na	Europa,	mas	foi	preciso	que	pessoas	se	 levantassem	e	 lutassem	para	
que	o	ideal	de	liberdade	fosse	realmente	praticado.	Devemos	lembrar	que	as	mudanças	
sociais	 não	 ocorrem	 rapidamente.	 Já	 que	 os	 colonos	 vinham	 para	 a	 “nova”	 terra,	
trazendo	uma	herança	de	conflitos	que	eram	resolvidos	com	guerras,	se	desvencilhar	
dessa	forma	de	lidar	com	a	religião	não	era	tão	simples.
Backus	defendia	que	a	religião	deveria	ser	aceita	por	meio	do	desejo	individual	
de	 obediência	 a	 Deus,	 e	 não	 por	 obrigação	 social	 ou	 coerção	 estatal.	 Além	 disso,	
ressaltava	a	ideia	de	que	estado	e	religião	deveriam	estar	separados,	pois	são	governos	
com	funções	diferentes.	
A	 América	 seria,	 então,	 uma	 nação	 cristã,	 pois	 seus	 moradores	 seriam	
persuadidos	a	obedecer	aos	princípios	de	Deus,	de	forma	voluntária.	E	isso	ocorreu	em	
grande	escala	na	época	do	grande	avivamento	(SHELLEY,	2004).
Caro	acadêmico,	encerramos	por	aqui	mais	uma	etapa	do	nosso	estudo.	Neste	
tópico,	pudemos	acompanhar	as	mudanças	engendradas	desde	o	final	do	século	XV	no	
cristianismo.	Na	área	da	“leitura	complementar”,	você	encontrará	alguns	documentos	
históricos	importantes	dos	momentos	que	estudamos	neste	tópico.	Observe,	no	Quadro	
1,	um	cronograma	de	alguns	dos	principais	movimentos	após	a	Reforma.
137
QUADRO 1 – PRINCIPAIS MOVIMENTOS PROTESTANTES DOS SÉCULOS XVI – XVII
FONTE: O autor
1517 Lutero	afixa	as	95	Teses	em	Wittemberg.
1520 Década	do	surgimento	dos	primeiros	grupos	anabatistas.
1523 Zwingli	publica	seus	67	artigos.
1534 Henrique	VIII	decreta	o	Ato	de	Supremacia	e	cria	a	Igreja	Anglicana.
1536 Calvino	escreve	as	Institutas da Religião Cristã.
1545 Início	do	Concílio	de	Trento.
1567 Os	puritanos	propões	mudanças	na	igreja	Anglicana.
1608
Armínio	vai	ao	encontro	das	correntes
do	supralapsarianismo	e	do	infralapsarianismo.
1618 Início	do	Sínodo	de	Dort.
1643 1ª	Confissão	de	Fé	de	Westminster.
1652 Georg	Fox	inicia	o	movimento	Quaker.
1730 Grande	Despertar	na	América	do	Norte.
1739 Início	do	Metodismo.
Na próxima unidade, abordaremos as mudanças históricas do cristianismo a 
partir da Revolução Francesa, até os dias atuais.
ESTUDOS FUTUROS
138
AS NOVENTA E CINCO TESES DE LUTERO, 1517 (ALGUNS ARTIGOS)
Com	um	desejo	 ardente	 de	 trazer	 a	verdade	 à	 luz,	 as	 seguintes	 teses	 serão	
defendidas	em	Wittenberg	sob	a	presidência	do	Rev.	Frei	Martinho	Lutero,	Mestre	de	
Artes,	Mestre	de	Sagrada	Teologia	e	Professor	oficial	da	mesma.	
Ele,	portanto,	pede	que	todos	os	que	não	puderem	estar	presentes	e	disputar	com	
ele	verbalmente,	o	façam	por	escrito.	Em	nome	de	Nosso	Senhor	Jesus	Cristo.	Amém.
1.	 Nosso	Senhor	e	Mestre	Jesus	Cristo	em	dizendo	“Arrependei-vos,	etc.”,	afirmava	que	
toda	a	vida	dos	fiéis	deve	ser	um	ato	de	arrependimento.
2.	 Essa	declaração	não	pode	ser	entendida	como	o	sacramento	da	penitência	 (i.	e.,	
confissão	e	absolvição)	que	é	administrado	pelo	sacerdócio.
3.	 Contudo,	não	pretende	falar	unicamente	de	arrependimento	interior;	pelo	contrário,	
o	arrependimento	interior	é	vão	se	não	produz	externamente	diferentes	espécies	de	
mortificação	da	carne.	
4.	 Assim,	permanece	a	penitência	enquanto	permanece	o	ódio	de	si	(i.	e.,	verdadeira	
penitência	interior),	a	saber,	o	caminho	reto	para	entrar	no	reino	dos	céus.
5.	 O	papa	não	tem	o	desejo	nem	o	poder	de	perdoar	quaisquer	penas,	exceto	aquelas	
que	ele	impôs	por	sua	própria	vontade	ou	segundo	a	vontade	dos	cânones.
6.	 O	papa	não	 tem	o	poder	 de	perdoar	 culpa	 a	não	 ser	 declarando	ou	 confirmando	
que	ela	 foi	 perdoada	por	Deus;	ou,	 certamente,	perdoando	os	casos	que	 lhe	 são	
reservados.	Se	ele	deixasse	de	observar	essas	limitações	a	culpa	permaneceria.	[...].
10.	Os	sacerdotes	que	no	caso	de	morte	reservam	penas	canônicas	para	o	purgatório	
agem	ignorante	e	incorretamente.	
11.	 Esta	cizânia	que	se	refere	à	mudança	de	penas	canônicas	em	penas	no	purgatório	
certamente	foi	semeada	enquanto	os	bispos	dormiam.	[...]
15.	 Esse	temor	e	esse	terror	bastam	por	si	mesmos	para	produzir	as	penas	do	purgatório,	
sem	qualquer	outra	coisa,	pois	estão	pouco	distantes	do	terror	do	desespero.	 16.	
Com	efeito,	a	diferença	entre	Inferno,	Purgatório,	e	Céu	parece	ser	a	mesma	que	há	
entre	desespero,	quase-desespero	e	confiança.	[...]
20.	O	papa	pela	remissão	plenária	de	todas	as	penas	não	quer	dizer	a	remissão	de	todas	
as	penas	em	sentido	absoluto,	mas	somente	das	que	foram	impostas	por	ele	mesmo.	
21.	Por	isto	estão	em	erro	os	pregadores	de	indulgências	que	dizem	ficar	um	homem	
livre	de	todas	as	penas	mediante	as	indulgências	do	papa.
22.	Pois	para	as	almas	do	purgatório	ele	não	perdoa	penas	a	que	estavam	obrigadas	a	
pagar	nesta	vida,	segundo	os	cânones.	
LEITURA
COMPLEMENTAR
139
23.	Se	é	possível	conceder	remissão	completa	das	penas	a	alguém,	é	certo	que	somente	
pode	ser	concedida	ao	mais	perfeito;	isto	quer	dizer,	a	muito	poucos.
24.	Daí	segue-se	que	a	maior	parte	do	povo	está	sendo	enganada	por	essas	promessas	
indiscriminadas	e	liberais	de	libertação	das	penas.
25.	O	mesmo	poder	sobre	o	purgatório	que	o	papa	possui	em	geral,	é	possuído	pelo	
bispo	e	pároco	de	cada	diocese	ou	paróquia.	
26.	O	papa	faz	bem	em	conceder	remissão	às	almas	não	pelo	poder	das	chaves	(poder	
que	ele	não	possui),	mas	através	da	intercessão.
27.	Os	que	afirmam	que	uma	alma	voa	diretamente	para	fora	 (do	purgatório)	quando	
uma	moeda	soa	na	caixa	das	coletas,	estão	pregando	uma	 invenção	de	homens	
(hominem praeãicant).
28.	É	certo	que	quando	uma	moeda	soa,	cresce	a	ganância	e	a	avareza;	mas	a	intercessão	
(suffragium)	da	Igreja	está	unicamente	na	vontade	de	Deus.	[...]
32.	Aqueles	 que	 se	 julgam	 seguros	 da	 salvação	 em	 razão	 de	 suas	 cartas	 de	 perdão	
serão	condenados	para	sempre	juntamente	com	seus	mestres.	
33.	Devemos	guardar-nos	particularmente	daqueles	que	afirmam	que	esses	perdões	do	
papa	são	o	dom	inestimável	de	Deus	pelo	qual	o	homem	é	reconciliado	com	Deus.	[...]
35.	Os	que	ensinam	que	a	contrição	não	é	necessária	para	obter	redenção	ou	indulgência,	
estão	pregando	doutrinas	incompatíveis	com	o	cristianismo.	
36.	Qualquer	cristão	que	está	verdadeiramente	contrito	tem	remissão	plenária	tanto	da	
pena	como	da	culpa,	que	são	suas	dívidas,	mesmo	sem	uma	carta	de	perdão.	37.	
Qualquer	cristão	verdadeiro,	vivo	ou	morto,	participa	de	todos	os	benefícios	de	Cristo	
e	da	Igreja,	que	são	dons	de	Deus,	mesmo	sem	cartas	de	perdão.	[...]
42.	Deve	ensinar-se	aos	cristãos	que	não	é	intenção	do	papa	que	se	considere	a	compra	
dos	perdões	em	pé	de	igualdade	com	as	obras	de	misericórdia.	
43.	Deve	ensinar-se	aos	cristãos	que	dar	aos	pobres,	ou	emprestar	aos	necessitados	é	
melhor	obra	que	comprar	perdões.	
44.	Por	causa	das	obras	do	amor	o	amor	é	aumentado	e	o	homem	progride	no	bem;	
enquanto	 que	 pelos	 perdões	 não	 há	 progresso	 na	 bondade,	 mas	 simplesmente	
maior	liberdade	de	penas.	
45.	Deve	ensinar-se	aos	cristãos	que	um	homem	que	vê	um	'	 irmão	em	necessidade	
e	passa	a	seu	lado	para	dar	o	seu	dinheiro	na	compra	dos	perdões,	merece	não	a	
indulgência	do	papa,	mas	a	indignação	de	Deus.	
46.	Deve	ensinar-se	aos	cristãos	que	—	a	não	ser	que	haja	grande	abundância	de	bens	
—	são	obrigados	a	guardar	o	que	é	necessário	para	seus	próprios	lares	e	de	modo	
algum	gastar	seus	bens	na	compra	de	perdões.	
47.	Deve	ensinar-se	aos	cristãos	que	a	compra	de	perdões	é	matéria	de	livre	escolha	e	
não	de	mandamento.
48.	Deve	ensinar-se	aos	cristãos	que,	ao	conceder	perdões,	o	papa	tem	mais	desejo	(como	
tem	mais	necessidade)	de	oração	devota	em	seu	favor	do	que	de	dinheiro	contado.	[...]
51.	 Deve	ensinar-se	aos	cristãos	que	o	papa	—	como	é	de	seu	dever	—	desejaria	dar	os	seus	
próprios	bens	aos	pobres	homens	de	quem	certos	vendedores	de	perdões	extorquem	o	
dinheiro;	que	para	este	fim	ele	venderia	—	se	fosse	possível	—	a	basílica	de	S.	Pedro.
52.	Confiança	na	salvação	por	causa	de	cartas	de	perdões	é	vã,	mesmo	que	o	comissário,	
e	até	mesmo	o	próprio	papa,	empenhassesua	alma	como	garantia.
140
53.	São	 inimigos	de	Cristo	e	do	povo	os	que	em	razão	da	pregação	das	 indulgências	
exigem	que	a	palavra	de	Deus	seja	silenciada	em	outras	igrejas.
54.	Comete-se	 uma	 injustiça	 para	 com	 a	 palavra	 de	 Deus	 se	 no	mesmo	 sermão	 se	
concede	tempo	igual,	ou	mais	longo,	às	indulgências	do	que	à	palavra	de	Deus.	[...]
76.	Dizemos	ao	contrário,	que	os	perdões	papais	não	podem	tirar	o	menor	dos	pecados	
veniais	no	que	tange	à	culpa.	
77.	 Dizer	que	nem	mesmo	S.	Pedro,	se	fosse	o	papa,	não	podia	dar	graças	maiores,	é	
nenhuma	blasfêmia	contra	S.	Pedro	e	o	papa.	[...]
82.	Esses	perguntam:	Por	que	o	papa	não	esvazia	o	purgatório	por	um	santíssimo	ato	de	
amor	e	das	grandes	necessidades	das	almas;	isto	não	seria	a	mais	justa	das	causas	
visto	que	ele	 resgata	um	número	 infinito	de	almas	por	causa	do	sórdido	dinheiro	
dado	para	a	edificação	de	uma	basílica	que	é	uma	causa	bem	trivial?	
83.	Por	que	continuam	os	réquiens	e	os	aniversários	dos	defuntos	e	ele	não	restitui	os	
benefícios	 feitos	 em	seu	 favor,	 ou	deixa	que	 sejam	 restituídos,	visto	que	é	 coisa	
errada	orar	pelos	redimidos?	[...]
86.	As	 riquezas	do	papa	hoje	em	dia	excedem	muito	às	dos	mais	 ricos	Crassos;	não	
pode	ele	então	construir	uma	basílica	de	S.	Pedro	com	seu	próprio	dinheiro,	em	vez	
de	fazê-lo	com	o	dinheiro	dos	fiéis?
88.	Não	receberia	a	Igreja	um	bem	muito	maior	se	o	papa	1	fizesse	cem	vêzes	por	dia	o	
que	agora	faz	uma	única	vez,	isto	é,	distribuir	essas	remissões	e	dispensas	a	cada	
um	dos	fiéis?
89.	Se	o	papa	busca	pelos	seus	perdões	antes	a	salvação	das	almas	do	que	dinheiro,	
por	que	 suspende	ele	 cartas	e	perdões	anteriormente	concedidos,	visto	que	 são	
igualmente	eficazes?	[...]
91.	Se	os	perdões	fossem	pregados	segundo	o	espírito	e	a	intenção	do	papa	seria	fácil	
resolver	todas	essas	questões;	antes,	nem	surgiriam.	
92.	Portanto,	que	se	retirem	todos	os	profetas	que	dizem	ao	povo	de	Cristo:	“paz,	paz”,	e	
não	há	paz.	
93.	E	adeus	a	todos	os	profetas	que	dizem	ao	povo	de	Cristo:		“a	cruz,	a	cruz”,	e	não	há	
cruz.	
94.	Os	 cristãos	 devem	 ser	 exortados	 a	 esforçar-se	 em	 seguir	 a	 Cristo,	 sua	 cabeça,	
através	de	sofrimentos,	mortes	e	infernos.	
95.	E	que	eles	confiem	entrar	no	céu	antes	passando	por	muitas	tribulações	do	que	por	
meio	da	confiança	da	paz.	
FONTE: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. Tradução de Helmuth Alfredo Simon. 2 ed. São Paulo: 
Aste. 1963. p. 231-238.
A DIETA DE WORMS, 1521 RESPOSTA FINAL DE LUTERO,
18 DE ABRIL DE 1521 
[Eek,	 oficial	 do	Arcebispo	 de	Tréveris,	 perguntou	 a	 Lutero:]	 Desejas	 defender	
os	 livros	que	foram	reconhecidos	como	sendo	obra	tua?	Ou	retratar	tudo	o	que	está	
contido	neles?	
141
[Lutero	 respondeu:]	 Sereníssimo	 Senhor	 Imperador,	 Ilustríssimos	 Príncipes,	
Benevolentíssimos	 Senhores...	 Suplico-vos	 prestardes	 benevolente	 ouvido	 à	 minha	
defesa,	a	qual,	espero,	será	uma	defesa	da	justiça	e	da	verdade,	e	se	por	causa	de	minha	
inexperiência	eu	deixo	de	conceder	a	alguém	o	seu	título	próprio,	ou	em	qualquer	ponto	
ofendo	a	etiqueta	da	corte	pelas	minhas	maneiras	ou	comportamento,	sede	bastante	
bondosos	para	me	perdoar	—	peço-vos	—	pois	sou	um	homem	que	passou	sua	vida	não	
nas	cortes	mas	nas	celas	de	um	mosteiro;	um	homem	que	de	si	só	pode	dizer	que	até	
este	dia	só	meditou	e	escreveu	na	simplicidade	do	coração,	somente	com	vista	à	glória	
de	Deus	e	à	instrução	pura	do	povo	fiel	a	Cristo...	Majestade	Imperial	e	meus	Senhores:	
peço-vos	que	observeis	que	os	meus	livros	não	são	todos	da	mesma	espécie.
Há	alguns	em	que	com	piedade	tratei	da	fé	e	dos	costumes	com	tal	simplicidade	
e	 em	 tal	 consonância	 com	 os	 Evangelhos	 que	 os	 meus	 próprios	 adversários	 são	
obrigados	a	admiti-los	como	úteis,	sem	perigo	e	evidentemente	dignos	de	serem	lidos	
por	um	cristão.	Até	mesmo	a	Bula	—	embora	violenta	e	cruel	—	reconhece	que	alguns	
de	meus	 livros	 são	sem	perigo,	 embora	condene	também	a	eles	por	um	 julgamento	
simplesmente	 monstruoso.	 Se	 eu	 tivesse	 de	 começar	 a	 retratar-me	 aqui,	 o	 que	 —	
pergunto-vos	—	o	que	deveria	eu	fazer	senão	condenar	—	único	entre	os	mortais	—	uma	
verdade	que	é	admitida	tanto	por	amigos	como	por	 inimigos,	numa	luta	sem	socorro	
contra	o	consenso	universal?	
A	segunda	espécie	consta	dos	escritos	dirigidos	contra	o	papado	e	as	doutrinas	
dos	papistas,	 isto	 é,	 contra	 aqueles	que	por	 suas	más	doutrinas	e	maus	precedentes	
devastaram	 a	 cristandade	 arruinando	 as	 almas	 e	 os	 corpos	 dos	 homens.	 Ninguém	
pode	 negar	 ou	 ocultar	 este	 fato,	 pois	 a	 experiência	 universal	 e	 as	 queixas	 de	 todos	
dão	testemunho	do	fato	de	que	pelas	 leis	do	papa	e	por	doutrinas	feitas	por	homens	
as	consciências	dos	fiéis	 foram	miseravelmente	enlaçadas,	perturbadas	e	atiradas	em	
tormentos,	e	que	também	os	seus	bens	e	suas	possessões	foram	devorados	(sobretudo	
nesta	famosa	nação	germânica)	por	uma	tirania	 inacreditável	e	até	os	nossos	dias	são	
devorados	sem	fim	e	de	uma	forma	vergonhosa,	apesar	de	eles	mesmos	em	suas	 leis	
tomarem	cuidado	para	que	as	 leis	e	as	doutrinas	do	papa	contrárias	ao	Evangelho	ou	
às	doutrinas	dos	padres	não	 sejam	consideradas	errôneas	e	 sejam	 reprovadas.	Se	eu	
retratasse	isso,	o	único	resultado	seria	acrescentar	mais	força	a	essa	tirania;	seria	abrir,	
não	as	janelas,	mas	as	principais	portas	a	essa	blasfêmia	a	qual	depois	progrediria	muito	
mais	amplamente	do	que	ousou	até	agora...	A	terceira	espécie	consiste	naqueles	livros	que	
escrevi	contra	indivíduos	privados,	como	se	diz;	isto	é,	contra	aqueles	que	se	entregaram	
à	defesa	da	tirania	romana	e	para	derrubar	a	piedade	que	eu	ensino.	Confesso	que	fui	
mais	violento	contra	esses	do	que	convém	aos	meus	votos	religiosos	e	à	minha	profissão.	
Com	efeito,	não	me	apresento	como	nenhum	santo,	nem	luto	pela	minha	conduta,	mas	
pela	doutrina	cristã.	Mas	não	posso	me	retratar	desses	livros,	porque	essa	retratação	daria	
àquela	tirania	e	blasfêmia	a	ocasião	de	tiranizar	aqueles	a	quem	defendo	e	a	enfurecer-se	
contra	o	povo	de	Deus	mais	violentamente	do	que	nunca.	
142
Não	obstante	—	visto	que	sou	um	homem	e	não	Deus	—	não	posso	propor	para	
os	meus	escritos	outra	defesa	senão	a	que	meu	Senhor	Jesus	Cristo	propôs	para	a	sua	
doutrina.	Quando	foi	 interrogado	sobre	os	seus	ensinamentos	diante	de	Anás	e	recebeu	
uma	bofetada	de	um	servo,	disse:	“Se	falei	mal,	dá	testemunho	do	mal”.	Se	o	próprio	Senhor,	
que	sabia	que	não	podia	errar,	não	recusou	ouvir	um	testemunho	contra	o	seu	ensino,	até	
mesmo	de	um	servo	sem	valor,	quanto	mais	devo	eu,	vil	como	sou,	capaz	de	nada	senão	
errar,	procurar	e	esperar	alguém	que	queira	dar	testemunho	contra	o	meu	ensino.
E	assim,	pela	misericórdia	de	Deus,	peço	a	Vossa	Majestade	Imperial	e	a	Vossas	
Ilustres	Senhorias,	ou	a	qualquer	um	de	qualquer	posição,	dar	testemunho,	derrubar	os	
meus	erros,	derrotá-los	pelos	escritos	dos	profetas	ou	pelos	Evangelhos,	pois	estarei	
inteiramente	pronto,	quando	melhor	instruído,	a	retratar-me	de	qualquer	erro,	e	eu	serei	
o	primeiro	a	atirar	meus	escritos	no	fogo...
Então	o	Locutor	do	Império	—	num	tom	de	reprimenda	—	disse	que	essa	resposta	
não	atingia	o	ponto	e	que	não	deveriam	ser	postas	em	questão	matérias	que	já	tinham	
anteriormente	sido	objeto	de	condenação	e	decisões	de	concílios.	Foi-lhe	pedida	uma	
resposta	simples,	sem	sutilezas	ou	sofisticações,	a	esta	questão:	Estava	ele	pronto	a	se	
retratar,	ou	não?
Lutero	 então	 respondeu:	 Vossa	 Majestade	 Imperial	 e	 Vossas	 Senhorias	
pedem	 uma	 resposta	 simples.	 Ei-la,	 simples	 e	 sem	 subterfúgios:	 A	 não	 ser	 que	 eu	
seja	convencido	de	erro	pelo	testemunho	da	Escritura	ou	-	visto	que	não	dou	valor	à	
autoridade	não	provada	do	papa	e	dos	concílios,	por	ser	claro	que	eles	muitas	vezes	
erraram	e	frequentemente	se	contradisseram	-	por	um	 raciocínio	evidente,	continuo	
convencido	pelas	Escrituras	às	quais	apelei	e	minha	consciência	foi	feita	cativa	pela	
palavra	de	Deus,	não	posso	e	não	quero	retratar-me	de	qualquer	coisa,	pois	agir	contra	
nossaconsciência	não	é	coisa	segura	nem	permitida	a	nós.	É	esta	a	minha	posição.	Não	
posso	agir	diversamente.	Deus	me	ajude.	Amém.
FONTE: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. Tradução de Helmuth Alfredo Simon. 2 ed. São Paulo: 
Aste. 1963. p. 307-308.
OS CINCO PONTOS DA REMONSTRÂNCIA, 1610
Artigo	1	–	Deus,	por	um	eterno	e	imutável	decreto	em	Jesus	Cristo,	seu	Filho,	
antes	de	ter	lançado	os	fundamentos	do	mundo,	decidiu	salvar,	dentre	a	raça	humana	
caída	em	pecado,	os	que	–	em	Cristo,	por	causa	de	Cristo	e	através	de	Cristo	–	por	
meio	da	graça	do	Espírito	Santo,	creriam	nesse	seu	Filho,	e	que,	pela	mesma	graça,	
perseverariam	até	o	fim	nessa	fé	e	obediência	de	fé;	mas,	por	outro	lado,	decidiu	deixar	
os	 impenitentes	 e	 descrentes	 sob	o	pecado	e	 a	 ira,	 condenando-os	 como	alheios	 a	
Cristo,	conforme	a	palavra	do	Evangelho	de	João	3.36	(“Aquele	que	crê	no	Filho	tem	a	
vida	eterna,	mas	aquele	que	não	crê	no	Filho	não	verá	a	vida,	mas	a	ira	de	Deus	sobre	
ele	permanece”),	e	também	conforme	outras	passagens	da	Escritura.
143
Artigo	 2	 –	 Em	 concordância	 com	 isso,	 Jesus	 Cristo,	 o	 Salvador	 do	 Mundo,	
morreu	 por	 todos	 e	 por	 cada	 um	dos	 homens,	 de	modo	 que	 obteve	 reconciliação	 e	
remissão	dos	pecados	para	todos	por	sua	morte	na	cruz;	porém,	ninguém	é	realmente	
feito	participante	dessa	remissão	exceto	os	crentes,	segundo	a	palavra	do	Evangelho	de	
João	3.16	(“Porque	Deus	amou	o	mundo	de	tal	maneira	que	deu	o	seu	Filho	unigênito,	
para	que	todo	aquele	que	nele	crê	não	pereça,	mas	tenha	a	vida	eterna”)	e	da	Primeira	
Epístola	de	João	2.2	(“E	ele	é	a	propiciação	pelos	nossos	pecados	e	não	somente	pelos	
nossos,	mas	também	pelos	de	todo	o	mundo)”.	
Artigo	3	–	O	homem	não	possui	fé	salvadora	por	si	mesmo,	nem	a	partir	do	poder	
do	seu	livre-arbítrio,	visto	que,	em	seu	estado	de	apostasia	e	de	pecado,	não	pode,	de	si	e	
por	si	mesmo,	pensar,	querer	ou	fazer	algo	de	bom	(que	seja	verdadeiramente	bom	tal	como	
é,	primeiramente,	a	fé	salvífica);	mas,	é	necessário	que	Deus,	em	Cristo,	pelo	seu	Espírito	
Santo,	regenere-o	e	renove-o	no	intelecto,	nas	emoções	ou	na	vontade,	e	em	todos	os	seus	
poderes,	a	fim	de	que	ele	possa	corretamente	entender,	meditar,	querer	e	prosseguir	no	que	é	
verdadeiramente	bom,	como	está	escrito	em	João	15.5:	“Porque	sem	mim	nada	podeis	fazer”.	
Artigo	4	–	Esta	graça	de	Deus	é	o	princípio,	o	progresso	e	a	consumação	de	todo	o	bem,	
tanto	que	nem	mesmo	um	homem	regenerado	pode,	por	si	mesmo,	sem	essa	precedente	ou	
preveniente,	excitante,	prosseguinte	e	cooperante	graça,	pensar,	querer	ou	terminar	qualquer	
bem,	muito	menos	resistir	a	quaisquer	tentações	para	o	mal.	Por	isso,	todas	as	boas	obras	e	
boas	ações	que	possam	ser	pensadas	devem	ser	atribuídas	à	graça	de	Deus	em	Cristo.	Mas,	
em	relação	ao	modo	de	operação	dessa	graça,	ela	não	é	irresistível,	visto	que	está	escrito	
sobre	muitos	que	“resistiram	ao	Espírito	Santo”	(Atos	7)	e	em	muitos	outros	lugares.	
Artigo	 5	 –	Aqueles	 que	 são	 incorporados	 em	 Cristo	 por	 uma	 fé	 verdadeira,	 e	
consequentemente	são	feitos	participantes	do	seu	Espírito	vivificante,	são	abundantemente	
dotados	de	poder	para	que	possam	lutar	contra	Satanás,	contra	o	pecado,	contra	o	mundo	
e	contra	a	sua	própria	carne,	e	ganhar	a	vitória.	Contudo,	sempre	 (queremos	que	seja	
bem	entendido)	com	o	auxílio	da	graça	do	Espírito	Santo,	Jesus	Cristo	os	ajuda,	pelo	seu	
Espírito,	em	todas	as	suas	tentações,	estende-lhes	as	suas	mãos,	apoia-os	e	fortalece	
(caso	estejam	prontos	para	lutar,	queiram	o	seu	socorro	e	não	desistam	de	si	mesmos),	
de	modo	que,	por	nenhum	engano	ou	poder	sedutor	de	Satanás,	possam	ser	arrebatados	
das	mãos	de	Cristo,	conforme	o	que	Cristo	disse	em	João	10.28	(“Ninguém	as	arrebatará	
da	minha	mão”).	Mas,	se	eles	não	são	capazes	de,	por	descuido,	esquecer	o	início	de	sua	
vida	em	Cristo,	novamente	abraçar	o	presente	mundo,	se	afastar	da	santa	doutrina	que	
uma	vez	lhes	foi	entregue,	perder	a	sua	boa	consciência	e	negligenciar	a	graça,	isto	deve	
ser	assunto	de	uma	pesquisa	mais	acurada	na	Sagrada	Escritura,	antes	que	possamos	
ensiná-lo	com	inteira	persuasão	de	nossas	mentes.	
Esses	 artigos,	 assim	 definidos	 e	 ensinados,	 os	 Remonstrantes	 consideram	
estarem	 de	 acordo	 com	 a	 Palavra	 de	 Deus,	 idôneos	 para	 edificação	 e,	 no	 que	 diz	
respeito	a	este	argumento,	suficientes	para	a	salvação,	de	modo	que	não	é	necessário	
ou	edificante	acrescentar	ou	diminuir	qualquer	coisa.
FONTE: DANIEL, S. Arminianismo, a mecânica da salvação: uma exposição Histórica, doutrinária e exegética 
sobre a graça de Deus e a responsabilidade humana. Rio de Janeiro: CPAD, 2017. p. 307-308.
144
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
•	 A	Igreja	católica	realizou	o	Concílio	de	Trento,	que	serviu,	dentre	outras	coisas,	para	
reafirmar	os	dogmas	que	foram	contestados	pela	Reforma,	pensar	estratégias	para	
conter	o	avanço	protestante	em	países	católicos	e	moralizar	o	clero.
•	 O	 avivamento	 na	 América	 do	 Norte	 influenciou	 diversas	 denominações.	 Foi	
nessa	 época	 que	 a	 luta	 pela	 liberdade	 religiosa	 nessa	 região	 ficou	 mais	 intensa,	
principalmente	pela	intervenção	de	Isaac	Backus.
•	 O	surgimento	do	pietismo	e	do	metodismo	influenciaram	o	protestantismo,	pois	estes	
prezavam	por	uma	religiosidade	mais	íntima,	baseada	na	experiência	dos	convertidos.
•	 As	 ideias	 iluministas,	que	colocavam	a	 razão	como	central	na	vida	em	sociedade,	
trouxeram	mudanças	para	o	cristianismo,	inclusive	introduzindo	a	concepção	deísta.
145
1	 Após	a	Reforma	Protestante,	o	catolicismo	também	passou	por	algumas	mudanças.	
Para	 isso,	 foi	 instituído	 o	 Concílio	 de	 Trento,	 o	 qual	 reafirmou	 doutrinas	 que	 o	
Protestantismo	havia	contestado.	Sobre	este	cenário,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	 No	 século	 XVII	 surgiu,	 dentro	 da	 igreja	 católica,	 o	 jansenismo.	 Ele	 foi	 um	
movimento	 iniciado	por	Cornélio	Jansen,	que	procurou	 retomar	as	 leituras	de	
Tomás	de	Aquino,	com	o	princípio	da	Escolástica.
b)	(			)	 A	Companhia	de	Jesus,	fundada	por	Inácio	de	Loyola,	consistiu	em	um	dos	principais	
braços	da	contrarreforma	católica.	Essa	ordem	foi	muito	atuante	na	educação,	criação	
de	hospitais	e	na	colonização	da	América	portuguesa	e	espanhola.
c)	(			)	 O	concílio	de	Trento	foi	unanimemente	visto	pela	historiografia	como	uma	reação	
da	igreja	católica	ao	avanço	do	protestantismo.	Uma	de	suas	medidas	foi	instaurar	
tribunais	inquisitoriais	nos	países	protestantes.
d)	(			)	 O	concílio	de	Trento	reafirmou	a	 importância	da	tradição	católica	 juntamente	
com	a	Bíblia.	Sendo	assim,	a	tradução	da	Bíblia	foi	permitida,	desde	que	fosse	
a	partir	da	Vulgata.	
2	 No	século	XVII,	teve	início	o	movimento	pietista,	que,	dentre	outras	coisas,	valorizava	a	
conversão	individual,	ganhou	forma	na	Europa,	atingindo	diversas	igrejas	protestantes.	
Tendo	em	vista	tal	movimento,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 Os	primeiros	pietistas	foram	pessoas	que	se	viram	insatisfeitas	com	a	rigidez	da	Igreja	
anglicana.	Eles	desejavam	mais	controle	da	religião	no	campo	moral,	e	defendiam	
que	as	vestes	sacerdotais	fossem	abolidas.
II-	 Algumas	características	do	movimento	pietista	foram,	dentre	outras,	a	importância	
do	papel	do	leigo;	a	busca	pela	conversão	pessoal,	em	que	a	fé	dos	fiéis	contagiaria	
os	outros	fiéis,	e	eles	mesmos	divulgariam	o	Evangelho.		
III-	Os	 assim	 chamados	 irmãos	 moravianos	 se	 destacaram	 no	 campo	 missionário,	
inclusive	entre	pessoas	escravizadas	em	vários	países.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	As	sentenças	II	e	III	estão	corretas.
d)	(			)	Somente	a	sentença	III	está	correta.
AUTOATIVIDADE
146
3	 Confira	o	trecho	a	seguir	e,	em	seguida,	resolva	a	questão	proposta:	“Assim,	em	1748,	
‘as	pessoas	chamadas	metodistas’	–	como	os	pietistas	na	Alemanha	–	formavam	uma	
igreja	dentro	da	igreja.	Nos	40	anos	seguintes,	Wesley	resistiu	a	todasas	pressões	de	
seus	próprios	seguidores	e	a	todos	os	ataques	dos	bispos	anglicanos,	que	sugeriam	
a	separação	da	igreja	na	Inglaterra.	‘Viverei	e	morrerei,	disse	ele,	‘como	membro	da	
igreja	da	Inglaterra’”	(SHELLEY,	2004,	p.	379).	Tendo	em	vista	o	movimento	iniciado	
por	John	Wesley,	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	 Wesley	foi	influenciado	pelo	pietismo	alemão,	o	que	fez	ele	ultrapassar	a	ritualística	
da	igreja	anglicana,	e	passou	a	pregar	em	lugares	com	anfiteatros,	nas	ruas,	inclusive	
no	cemitério.	Os	grupos	de	estudos	bíblicos	nos	lares	foi	uma	das	maneiras	usadas	
para	a	conversão	dos	fiéis.
(			)	 O	estilo	de	Wesley,	com	pregações	ao	ar	 livre,	estudos	bíblicos	nos	 lares,	ênfase	
na	conversão,	importância	dada	aos	leigos,	além	da	não	aceitação	da	doutrina	da	
predestinação	tal	qual	era	pregada	pelo	calvinismo,	fez	com	que,	mesmo	contra	
sua	vontade,	fosse	expulso	da	igreja	anglicana.
(			)	 Wesley	conseguiu	levar	um	avivamento	para	a	Inglaterra	que	se	espalhou	por	diversos	
países,	inclusive	na	América	do	Norte.	Mesmo	sem	pretender,	o	metodismo	se	afastou	
da	igreja	anglicana,	e	a	América	deu	o	primeiro	passo	para	a	separação	das	duas.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	V	–	F	–	F.
b)	(			)	V	–	F	–	V.
c)	 (			)	F	–	V	–	F.
d)	(			)	F	–	F	–	V.
4	 O	 Iluminismo,	ou	 ilustração,	foi	um	movimento	filosófico	que	despontou,	 inicialmente,	
na	 França	 do	 século	 XVIII	 e	 se	 espalhou	 por	 diversos	 países.	 Suas	 ideias	 acabaram	
influenciando	o	cristianismo.	Tendo	em	vista	este	momento	histórico,	escreva	com	suas	
palavras	as	principais	críticas	dos	iluministas	ao	cristianismo	e	as	religiões	em	geral:
5	 Com	a	 ida	para	as	Treze	Colônias	 inglesas,	na	América	do	Norte,	de	vários	grupos	
protestantes	diferentes,	iniciou-se	um	movimento	de	fraternidade,	diferente	do	que	
ocorria	até	então	na	Europa,	onde	os	conflitos	religiosos	geraram	diversos	conflitos	
e	mortes.	O	sistema	de	denominações	foi	sendo	 implementado	e	acabou	servindo	
como	referência	para	outros	locais,	inclusive	para	o	Brasil	no	século	XIX,	com	a	vinda	
de	 missionários	 protestantes	 americanos.	 Tendo	 em	 vista	 tal	 cenário,	 explique	 a	
importância	de	Backus	nesse	processo	na	América	do	Norte:
147
REFERÊNCIAS
BAIARDI,	A.	Os	processos	de	Galileu:	intrigas,	intolerância	e	humilhações.	In:	SIMPÓSIO	
INTERNACIONAL	DE	ESTUDOS	INQUISITORIAIS:	HISTÓRIA	E	HISTORIOGRAFIA,	1.,	2011,	
Salvador.	Anais	[...].	Cachoeira:	UFRB,	2011.	p.	1-17.	Disponível	em:	https://www3.ufrb.
edu.br/simposioinquisicao/wp-content/uploads/2012/01/Am%C3%ADlcar-Baiardi.pdf.	
Acesso	em:	11	abr.	2021. 
BETTENSON,	H.	Documentos da igreja cristã.	Tradução	de	Helmuth	Alfredo	Simon.	2	
ed.	São	Paulo:	Aste.	1963.
CAMPOS,	B.	M.	Puritanismo	e	a	construção	político-social	da	realidade.	Revista Pandora 
Brasil,	Campinas,	2014,	n.	60,	p.	1-10,	jan.	2014.	Disponível	em:	http://revistapandorabrasil.
com/revista_pandora/politica_60/breno.pdf.	Acesso	em:	3	abr.	2021.
CARMO,	V.	Os Remonstrantes:	uma	introdução	à	história	e	teologia	dos	seguidores	
de	Jacó	Armínio.	São	Paulo:	Editora	Reflexão,	2018.
CARNEIRO,	M.	L.	T.	Preconceito racial:	Portugal	e	Brasil-colônia.	2.	ed.	São	Paulo:	
Editora	Brasiliense,	1988.
CAVALCANTE,	R.	As relações entre protestantismo e modernidade:	história	e	
memória.	São	Paulo:	Paulinas,	2017.
DANIEL,	S.	Arminianismo, a mecânica da salvação:	uma	exposição	Histórica,	
doutrinária	e	exegética	sobre	a	graça	de	Deus	e	a	responsabilidade	humana.	Rio	de	
Janeiro:	CPAD,	2017.
DAWSON,	C.	A divisão da cristandade:	da	reforma	protestante	à	era	do	iluminismo.	
Tradução	de	Márcia	Xavier	de	Brito.	São	Paulo:	É	Realizações,	2014.
ELIADE,	M.	História das crenças e das ideias religiosas III:	de	Maomé	à	idade	das	
reformas.		Tradução	de	Roberto	Cortes	de	Lacerda.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	2011.
EYMERICH,	N.	[1376].	Directorium Inquisitorum:	manual	dos	inquisidores.	Tradução	
de	Maria	José	Lopes	da	Silva.	Revisto	e	ampliado	por	Francisco	La	Peña	(1578).	Rio	de	
Janeiro:	Rosa	dos	Tempos;	Brasília,	DF:	Fundação	Universidade	de	Brasília,	1993.
FALCON,	F.	J.	C.	Iluminismo.	São	Paulo:	Ática,	1986.
FEBVRE,	L.	Martinho Lutero, um destino.	Tradução	de	Dorothée	de	Bruchard.	São	
Paulo:	Três	Estrelas,	2012.
148
GONZALEZ,	J.	L.	Uma história do pensamento cristão:	da	reforma	protestante	ao	
século	XX.	Tradução	de	Paulo	Arantes	e	Vanuza	Helena	Freire	de	Mattos	São	Paulo:	
Cultura	Cristã,	2004.
GREEN,	T.	Inquisição:	o	reinado	do	medo.	Tradução	de	Cristina	Cavalcanti.	Rio	de	
Janeiro:	Objetiva,	2011.
HILL,	C.	O mundo de ponta-cabeça:	ideias	radicais	durante	a	revolução	inglesa	de	
1640.	Tradução	de	Renato	Janine	Ribeiro.	São	Paulo:	Companhia	das	Letras,	1987.
JOHNSON,	P.	História do cristianismo.	Tradução	de	Cristina	de	Assis	Serra.	Rio	de	
Janeiro:	Imago	Ed,	2001.
LEITE,	E.	S.	O sínodo de Dort:	uma	história	das	controvérsias	entre	a	teologia	
arminiana	e	calvinista.	São	Paulo:	Editora	Reflexão,	2016.
LINDBERG,	C.	História da reforma.	Tradução	de	Elissamai	Bauleo.	Rio	de	Janeiro:	
Thomas	Nelson	Brasil,	2017.
MATOS,	A.	S.	João	Calvino	e	a	disciplina	em	Genebra:	um	retrato	paradoxal.	Revista 
Fides Reformata,	São	Paulo,	v.	18,	n.	1,	p.	61-86,	2013.	Disponível	em:	https://cpaj.
mackenzie.br/fides-reformata/fides18-n1/.	Acesso	em:	2	abr.	2021.
MAINKA,	P.	J.	Huldrych	Zwingli	(1484-1531),	o	reformador	de	Zurique:	um	esboço	
biográfico.	Revista Acta Scientiarum.	Maringá,	v.	23,	n.	1,	p.	141-147,	2001.	Disponível	
em:	https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/2758.	
Acesso	em:	18	jun.	2021.
MCGRATH,	A.	Origens intelectuais da reforma.	Tradução	de	Susana	Klassen.	São	
Paulo:	Cultura	Cristã,	2007.
MENDONÇA,	A.	G.	O celeste porvir:	a	inserção	do	protestantismo	no	Brasil.	São	Paulo:	
Editora	IMS-Edims,	1995.
MOTT,	L.	Justitia	et	misericordia:	a	inquisição	portuguesa	e	a	repressão	ao	nefando	
pecado	de	sodomia.	In:	NOVINSKY,	A.;	CARNEIRO,	M.	L.	T.	(Org.).	Inquisição:	ensaios	
sobre	mentalidade,	heresia	e	arte.	São	Paulo:	EDUSP,	1992.	p.	703-738.
NOVINSKY,	A.W.	A Inquisição.	2	ed.	São	Paulo:	editora	brasiliense,	1983.
RAMOS	NETO,	J.	O.	Henrique	VIII	e	a	Reforma	Anglicana.	Revista tempo de 
conquista:	história	Medieval	e	Moderna,	[S. l.]	v.	7,	n.	2,	p.	1-17,	dez.	2010.	Disponível	
em:	http://revistatempodeconquista.com.br/documents/RTC8/joaoramosneto.pdf.	
Acesso	em:	2	abr.	2017.
149
RIBEIRO,	G.	M.;	CHAGAS,	R.	L.;	PINTO,	S.	L.	O	renascimento	cultural	a	partir	da	imprensa:	
o	livro	e	sua	nova	dimensão	no	contexto	social	do	século	XV.	Revista Akropólis,	
Umuarama,	v.	15,	n.	1,	p.	29-36,	jan./jun.	2007.	Disponível	em:	https://revistas.unipar.br/
index.php/akropolis/article/viewFile/1413/1236.	Acesso	em:	18	jun.	2021.
ROSA,	W.	P.	da.	Teologia	social	e	política	nos	anabatistas.	Revista Estudos de Religião,	
São	Bernardo	do	Campo,	v.	30,	n.	2,	p.	127-142,	maio/ago.	2016.	Disponível	em:	https://
www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/view/6849/5312>.	Acesso	
em:	04	abr.	2018.
SARAIVA,	A.	J.	Inquisição e cristãos-novos.	6.	ed.	Lisboa:	Editorial	Estampa,	1994.
SEVCENKO,	N.	O Renascimento.	6.	ed.	Campinas:	Atual,	1988.
SHELLEY,	B.	L.	História do cristianismo ao alcance de todos:	uma	narrativa	do	
desenvolvimento	da	igreja	cristã	através	dos	séculos.	Tradução	de	Vivian	Nunes	do	
Amaral.	São	Paulo:	Shedd,	2004.
TILLICH,	P.	Pensamiento cristiano y cultura em occidente:	de	los	orígenes	a	la	
reforma.	Tradução	de	Maria	Teresa	La	Valle.	Buenos	Aires:	La	Aurora,	1976.
ULRICH,	C.	B.;	DALFERTH,	H.	G.	Mulheres no movimento da reforma.	São	Leopoldo:	
Sinodal,	2017.	
WILKE,	C.	L.	História dos judeus em Portugal.	Lisboa:	Edições	70,	2009.
150
151
A IGREJA NA IDADE 
CONTEMPORÂNEA
UNIDADE 3 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 entender	os	reflexos	da	Revolução	Francesa	para	o	cristianismo;
•	 conhecer	as	principais	caraterísticas	das	missões	protestantes	lideradas	por	Willian