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Coesão e elementos coesivos Cris Oliveira Introdução Você sabe o que é coesão? Sabe de fato como identificar e empregar corretamente elemen- tos coesivos em uma produção textual? Nesta aula, iremos compreender o conceito de coesão e identificar os elementos coesivos em uma produção textual. Além disso, compreenderemos que a coesão é imprescindível, tanto para o processo de escrita quanto para construir coerência dentro do próprio texto. Objetivos de aprendizagem Ao final deste estudo, você será capaz de: • compreender o conceito de coesão; • identificar e empregar corretamente os elementos coesivos na produção textual. Vamos lá! 1 O que é coesão textual? Certamente, você já deve ter ouvido que “um texto não está coeso”, ou que “está faltando coesão entre as partes que constituem o enunciado”. Isto acontece quando não encontramos as ligações que são efetuadas entre as várias partes de um texto, ou seja, não há coesão textual. A coesão textual é, portanto, quem forma a tessitura, isto é, o próprio texto, que ganha sentido, uni- dade e coerência (NICOLA, 2014). A tal tessitura, que permite a unidade textual, é a articulação das relações semânticas (uso adequado dos sentidos das palavras na composição do texto), assim como a articulação dos elementos linguísticos (uso de determinados elementos gramaticais, como as conjunções), que devem estar em consonância, ao longo do texto. Veja que, em um enunciado, se não efetuarmos as duas combinações, não haverá susten- tação das informações dadas, ou seja, não ocorrerá a efetiva transmissão da mensagem de uma forma plena e adequada (NICOLA, 2014). EXEMPLO Observe que na sentença “Joãozinho ficou doente, e fez a prova”, não há uma rela- ção de sentido entre o que é informado na segunda oração, com relação à primeira. O uso da conjunção aditiva “e”, embora “ligue as duas orações”, não oferece o sen- tido exato da mensagem, causando incoerência entre o que é informado ao leitor. Figura 1- A coesão é o processo que liga palavras acrescentando sentido ao texto Fonte: alphaspirit/Shuttersctock.com FIQUE ATENTO! A coesão bem empregada evita repetições desnecessárias de termos (palavras) ao longo de um texto. Estas repetições contrariam o princípio da coesão e da coerên- cia, que é justamente uma das atribuições dos textos de qualidade (NICOLA, 2014). A coesão textual ocorre quando a compreensão de algum elemento no discurso é depen- dente de outro. Deste modo, a coesão pode ser entendida como um elemento que pressupõe o outro, e a sua ausência, ou o uso inadequado de alguma parte, decorre em problemas diretamente relacionados à construção do texto. Agora que já compreendemos o conceito de coesão textual, vamos identificar as coesões lexicais e aprender a empregá-las de modo adequado nas produções textuais. 2 Os principais mecanismos de coesão lexical Segundo Koch (2014, p. 16), “a coesão é uma relação semântica entre um elemento do texto e outro” que tenha muita relevância, para que haja o estabelecimento da compreensão da mensa- gem. Assim, ela está ligada à maneira como as palavras e as frases que compõem um texto (os chamados componentes da superfície textual) se conectam entre eles, em uma sequência linear, por meio de dependências de ordem gramatical. FIQUE ATENTO! Campo lexical e campo semântico referem-se diretamente às palavras que cons- tituem um texto. Quando falamos em estabelecer sentido por meio de relação se- mântica e lexical, enfatizamos que a palavra que virá depois deve estar ligada à que veio antes, com o propósito de criar um “elo” entre as informações. As palavras que pertencem a um mesmo campo lexical estão ligadas pela ideia entre elas; já as palavras que pertencem a um mesmo campo semântico, estão conectadas pelo universo que elas representam. Há vários mecanismos de coesão lexical. Em destaque, temos os mecanismos de repetição e o da substituição, também conhecido como coesão referencial. Além disso, há a sinonímia, a hiperonímia, hiponímia e o campo semântico (NICOLA, 2014). • Coesão por repetição A coesão por repetição, ou por reiteração, consiste em reiterar, repetir, em um texto, um termo ou termos da mesma família lexical. Para compreender o tema, atente para o exemplo: “Na ecologia, trata-se do meio ambiente, da natureza, com respeito. Aplicar os cuidados com a natureza é papel do ambientalista”. As palavras “ecologia”, “ambiente”, “natureza” e “ambientalista” pertencem ao mesmo campo lexical. Figura 2- Há diferentes mecanismos de coesão lexical Fonte: pathdoc/Shuttersctock.com • Coesão por substituição A coesão por substituição é o mecanismo que permite, ao longo da construção textual, a substituição de um termo por outro, evitando, entre outros problemas, o da repetição desnecessária, que é uma das questões mais graves na produção de textos. Veja: “Pedro comprou um carro novo e José também”. Neste exemplo, as palavras “e” e “também” substituíram os termos anteriores, evitando repetições. SAIBA MAIS! Para entender mais sobre os elementos de coesão e como articulá-los na produção de textos científicos, leia o artigo “A coesão textual em artigos científicos”, de Claudiene Diniz da Silva (UFMG) e Lidiany Pereira dos Santos (UFPI). Neste trabalho, as autoras baseiam-se em diferentes pressupostos teóricos para demonstrar a importância do domínio do mecanismo de coesão no momento de produzir trabalhos científicos. Acesse: <http://revista.uft.edu.br/index.php/entreletras/article/ viewFile/1328/8140>. • Sinonímia A sinonímia se baseia na substituição de um termo por outro, ou até mesmo por uma expressão que tenha a mesma equivalência de significado. No enunciado a seguir, os termos em destaque são exemplos de coesão por substituição: “A nave espacial subiu mais de 80 km, mas para conquistar o posto de melhor aeronave, o veículo espacial ainda precisa subir mais 200 km”. FIQUE ATENTO! Quando voltamos a uma informação já mencionada no discurso, há uma coesão recorrencial. Este tipo de coesão se caracteriza pela repetição estabelecida com algum elemento dito anteriormente. Esta repetição não funciona como na coesão referencial, quando fazemos referência, pois trata-se de um resgate de algo que já foi dito, de modo associativo. • Hiperonímia e hiponímia Já o mecanismo de coesão por meio de hiperonímia e hiponímia são, para Nicola (2014, p. 190), “dois polos de uma mesma relação”. Isto porque hiperonímia significa uma pala- vra que designa toda uma classe ou conjunto; e a hiponímia, por sua vez, designa um elemento pertencente a uma classe ou conjunto. Observe o exemplo: “A Orquestra de cordas H.A – a big band – vale-se de instrumentos de cordas – violoncelo, violino, violão – para revisitar o universo de Mozart”. Aqui, o termo instrumento é hiperônimo, que engloba o hipônimo “cordas”, que por sua vez, também é hiperônimo dos hipônimos “violoncelo, violino, violão”. • Campo semântico Este mecanismo de coesão se dá por meio do uso do campo semântico, ou seja, explo- ram-se sinônimos de uma mesma palavra para não haver repetições. Assim, retomamos uma ideia apresentada, por meio de outra palavra que faça parte do mesmo universo. EXEMPLO Leia: “Como todos os anos, milhares de vestibulandos brasileiros concorrem às vagas disputadíssimas dos principais vestibulares do país. O curso para medicina, por exem- plo, em uma média geral, traz mais de 33 candidatos por vaga, nas universidades federais. Esta, sem dúvida, ainda é a carreira mais concorrida”. No trecho, os termos destacados designam termos relacionados a um mesmo universo, o do vestibular. Figura 3 – A coesão é o quebra-cabeças do texto Fonte: 3DDock/Shuttersctock.com Vimos, portanto, que os mecanismos de coesão lexical referem-se ao universo das próprias palavras, que vão recuperando seus sinônimos, à medida que estãoformando elos ao longo do texto. Agora, vamos entender como se elencam os mecanismos de coesão gramatical. 3 Os principais mecanismos de coesão gramatical Os mecanismos de coesão gramatical, ou de coesão sequencial, são os meios pelos quais o texto progride sem a retomada de termos que já foram explicitados. Então, a coesão gramatical é a aplicação sequencial do que chamamos de operadores gramaticais, como artigos, pronomes, adjetivos, tempos verbais, advérbios e conjunções adverbiais, todos exercendo algum tipo de fun- ção em relação aos substantivos e auxiliando na composição da unidade de um texto. Aqui, damos destaque para o uso dos conectivos (conjunções e pronomes), advérbios, e ao processo de elipse (supressão de uma palavra já apresentada no trecho e substituída por meio de uma vírgula) (NICOLA, 2014). A construção do mecanismo de coesão por meio da elipse é uma das formas mais usadas, visto que produz um texto mais suave e limpo. Veja: “Leve o frango ao forno já preaquecido a 180ºC, quando estiver bem assado, sirva-o”. Note que, na segunda oração, o termo “frango” foi omitido, ou seja, houve uma elipse, facilmente reconhecível no contexto. Figura 4 – A coesão está ligada à coerência do texto Fonte: pixeldreams.eu/Shuttersctock.com SAIBA MAIS! Para saber mais sobre coesão e seus mecanismos aplicados ao texto, leia “Coesão e Coerência Textuais”, de Leonor Lopes Fávero. O livro é uma tentativa de reunir explicações sobre os mais importantes elementos da construção textual, com ênfase na coesão e na coerência. Até aqui, vimos quais são os principais mecanismos de coesão que se referem ao uso de princípios gramaticais. Lembre-se de que a coesão é o que garantirá a coerência em um texto e que saber aplicar tais recursos na produção garantirá a comunicação clara, objetiva e precisa entre os envolvidos no ato comunicativo. Fechamento Concluímos a aula relativa à coesão e os elementos coesivos. Agora, você já conhece que a coesão é o mecanismo que amarra as palavras em um texto, conferindo-lhe unidade e significação. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender o que é a coesão textual; • conhecer a coesão por repetição; • distinguir a coesão por substituição; • entender as diferenças entre os mecanismos de coesão envolvendo uso de sinonímia, hiperonímia e hiponímia e campo semântico; • identificar os principais mecanismos de coesão gramatical. Referências KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2014. NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo: Scipione, 2014.