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Professora: Mariana C. Capucho Disciplina: Intervenção Psicológica em Saúde Mental Psicose : estrutura, critérios diagnósticos Neuroses - Na psicopatologia no século XX: Abarcava sintomas da série da ansiedade, da fobia, da obsessão, da dissociação, da conversão e da somatização. - Caracterizavam-se como: ~ Dificuldades e conflitos intrapsíquicos e interpessoais ~ Mantinham o indivíduo em sofrimento contínuo associado a frustração, angústia, rigidez emocional e sentimentos de inadequação. - Mecanismos básicos: ~ Recalque: representa a luta interna, quase sempre inconsciente, entre impulsos inaceitáveis. ~ Projeção, deslocamento, negação, regressão, racionalização e formação reativa, etc - Sujeito Neurótico: marcado pela rigidez e frustração recorrente nas relações pessoais e pela insatisfação constante com o que recebia e dava aos outros. Neuroses - DSM e CID: O conceito de neurose acabou sendo totalmente suprimido. Em seu lugar, entrou um número maior de transtornos: • Ansiedade (TAG e transtorno de pânico) • Fobias • TOCs • Transtornos dissociativos • Transtornos conversivos • Hipocondria e a somatização - Enfraquecimento das concepções psicanalíticas na psiquiatria contemporânea e à maior ênfase em tratamentos farmacológicos e concepções neurobiológicas relacionadas aos distintos quadros ansiosos. Neuroses Consequência do abandono de construtos abrangentes como “neurose”: - Aumento marcante dos diagnósticos de comorbidades - Ao se abandonar categorias amplas, que incluem, além de sintomas, modos de ser e reagir (como a personalidade do indivíduo), os sistemas atuais geram a necessidade de múltiplos diagnósticos de comorbidade, o que muitas vezes é feito de forma estabanada e confusa. Psicose e seu histórico • Final do século XIX: A psicose abarcava toda a gama de doenças mentais • Distinguiam-se da neurose (doenças “dos nervos”) • Não tinham sua causa em lesões cerebrais e porque atingiam a totalidade da personalidade • Kreapelin (1926): foi quem conseguiu organizar racionalmente uma divisão da psicose de modo descritivo: 1. Paranóia 2. Loucura maníaco depressiva 3. Demência precoce • Nem com estes avanços os loucos escapavam de sua prisão, seja tanto no sentido simbólico quanto da realidade • Ocupava o lugar de sujeito ameaçador a sociedade e por consequência, uma necessidade ao isolamento O que é a psicose, afinal? É UMA CONDIÇÃO PATOLÓGICA QUE AFETA: O PENSAMENTO, PERCEPÇÃO, JULGAMENTO E COMPORTAMENTO • Está geralmente relacionada à esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. • Mas há possibilidade de indivíduos apresentarem episódios psicóticos em outros transtornos, como depressão e na fase de mania da bipolaridade ou em uso prolongado de SPA O que ocorre? - Desarticulação dos fatores que acompanham a personalidade. - Perda da harmonia de diversos aspectos da personalidade. - Fragmentação do sujeito - Perda da distinção entre a realidade interna e externa. Juízo de realidade (interna – pensamentos, emoções, sentimentos) externos (compartilhado à todos). Outras características: • Pensamento desorganizado: faz coisas que não tem sentido, muitas vezes motivados pelos delírios e alucinações, podendo chegar à agressividade ou agitação • Comportamento motor “anormal” ou desorganizado: dificuldade em realizar tarefas, dificuldade em realizar instruções dadas, movimentos repetitivos Relembrando... • A psicose é uma estrutura da personalidade que prejudica a percepção e o pensamento da pessoa, afetando sua capacidade de julgamento. • Diferentemente do neurótico, o psicótico não reconhece as regras, ou mesmo que as reconheça, se sente indiferente a elas. • Esse tipo de estrutura de personalidade costuma estar associada a transtornos psíquicos mais graves e crônicos. Importante saber: • Quando ocorre um surto psicótico, é comum que haja alucinações e paranoia • Seus sintomas são mais intensos e persistentes, afetando negativamente a rotina e crítica da pessoa, como ocorre na manifestação da esquizofrenia. • Fator que define o quadro: A questão social - O psicótico tem dificuldade de se desempenhar no campo social. Em termos psicanalíticos, ele apresenta dificuldade de se desempenhar diante do outro, no espaço do outro. Além disso... • Além do pensamento e do afeto, o profissional precisa estar atento ao contexto em que o psicótico está inserido, principalmente no que se diz respeito a sua família. • Primeiro há uma avaliação clinica para descartar motivos físicos/biológicos, e então chega-se aos transtornos mentais • Psicóticos são pessoas, em sua maioria, “fechadas”. • Possuem um “mundo próprio” e desfavorecem as regras e o que é dito no meio social • Possuem “características” que impedem uma interlocução sadia do sujeito com o que é diferente, com estímulos derivados do campo não familiar que poderiam oferecer certa autonomia e liberdade. PRINCIPAIS PSICOSES - ESQUIZOFRENIA - PARANOIA OU TRANSTORNO DELIRANTE - TRANSTORNOS PSICÓTICOS AGUDOS, BREVES OU TRANSITÓRIOS - ESQUIZOAFETIVO - ESQUIZOFORME - PSICÓTICO POR SPA Professora: Mariana C. Capucho Disciplina: Intervenção Psicológica em Saúde Mental Esquizofrenia e demais psicoses Esquizofrenia Personagens pioneiros da história da esquizofrenia: Bleuer: divisão associativa das funções básicas da personalidade ESQUIZOFRENIA SUBTIPOS • O DSM-5 abandonou a divisão da esquizofrenia em subtipos (paranoide, desorganizada, catatônica indiferenciada e residual) • Os subtipos apresentavam pouca validade e não refletiam diferenças quanto ao curso da doença ou resposta ao tratamento. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS – DSM V CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS – CID 11 Podem estar presentes alterações em múltiplas dimensões mentais e comportamentais, inclusive: • Pensamento (delírios e/ou desorganização da forma do pensamento) • Percepção (alucinações) • Experiências de alterações do self (experiência de que os sentimentos, impulsos, pensamentos ou atos estão sob controle de forças externas) • Perdas cognitivas (déficits na atenção, na memória verbal e na cognição social) • Alterações da volição (perda da motivação) • Alterações dos afetos (aplainamento emocional) • Alterações psicomotoras, inclusive catatonia São considerados sintomas nucleares: delírios e/ou alucinações persistentes, transtornos formais do pensamento, experiências de influência, passividade ou controle. Os sintomas devem estar presentes por, pelo menos, um mês. Descrição clínica e sintomas • Apesar de demais transtornos trazerem sintomas que sempre serão inerentes ao adoecimento, não acontece o mesmo com a esquizofrenia. Exemplo: Depressão: Sempre inclui sentimentos de tristeza Transtorno do pânico: Sempre inclui sentimentos intensos de ansiedade • Na esquizofrenia, os indivíduos apresentam sintomas variados, assim como suas causas. • Como mencionado anteriormente, a esquizofrenia apresenta sintomas positivos e sintomas negativos Sintomas positivos 1. Considerados os sintomas mais presentes e óbvios de psicose (delírios e alucinações) 2. Estima-se que cerca de 70% das pessoas esquizofrênicas vivenciam delírios e/ou alucinações • Indicam ausência ou insuficiência de algum sentimento/comportamento dito “normal” • Estima-se que cerca de 25% das pessoas esquizofrênicas vivenciam estes sintomas Sintomas negativos Dois principais sintomas positivos: 1. Alucinação: É uma alteração da percepção. A pessoa vê e ouve coisas que não existem. Não existem na realidade externa, só na interna. Mas a pessoa não distingue mais. O que é imagem ou voz no pensamento dela, ela vive como realidade externa. Tipos: auditiva, visuais 2. Delírio: É uma alteração do pensamento. Há crença em situações que não existem, como perseguição, medo de ser envenenado, etc. É um medo, sentimento meu, mas coloco na realidade externa por não conseguir mais diferenciar ambas. Tipos: perseguição, de referência (mensagem), místicos religiosos, de grandeza Principaissintomas negativos: embotamento afetivo, catatonia, falta de vontade. EXEMPLOS DE SINTOMAS NEGATIVOS: • Avolia (apatia) • Alogia (fala pouco, sem repertório) • Anedonia (falta de prazer) • Embotamento afetivo (não exteriorizam emoções, porém podem senti-las, só não conseguem expressá-las) EXEMPLOS DE SINTOMAS DESORGANIZADORES: • Ecolalia (forma de afasia em que o paciente repete mecanicamente palavras ou frases que ouve, presente no catatonismo) • Sintomas desorganizados (comportamentos “erráticos” que afetam a fala, o comportamento motor e as reações emocionais). A prevalência é incerta. • Tangencialidade (desorganização do pensamento / discurso) • Afeto inadequado e comportamento desorganizado (rir ou chorar em situações “impróprias”, imobilidade catatônica) Prevalências e causas Desenvolvimento: A maioria das pessoas com o transtorno desenvolvem os primeiros sintomas no final da adolescência ou no início da vida adulta Em crianças: Demonstram características clínicas precoces, como anormalidades físicas leves, coordenação motora pobre e problemas cognitivos e sociais leves Estágio predômico: Período de 1 a 2 anos antes dos sintomas graves iniciarem, comportamentos menos graves, porém incomuns, começam a aparecer: - Ideias de referência - Pensamento mágico - Ilusões - Isolamento, comprometimento da fala e do funcionamento, interesse ou energia Estudos investigam, durante anos, as seguintes vertentes: Possíveis causas genéticas - Vulnerabilidade do sujeito à desenvolver o transtorno - Não há somente um gene, mas uma variabilidade - Geneticista Franz Kallmann (1944): quanto mais grave a esquizofrenia do genitor, maior a possibilidade dos filhos desenvolverem - Pode herdar uma predisposição que pode iniciar e se manifestar de formas diferentes - NÃO HÁ comprovação de influência genética Ação química das drogas - Há teoria de que a esquizofrenia se dá, em algumas pessoas, pelo excesso de atividade de dopamina no cérebro Um número significativo de pessoas com o transtornos são beneficiadas com antipsicóticos que são antagonistas da dopamina Porém, são parcialmente úteis para a redução gradual dos sintomas negativos - Anormalidades anatômicas no cérebro - Por uso/abuso de SPA Fatores de risco ambiental (fatores de risco biológicos quanto fatores de risco psicossociais) Biológicos: - Associação com o uso de cannabis e outras drogas; - Complicações peri-natais; - Influências ambientais pré-natais, como infecções pré-natais (estação do ano de nascimento), deficiência nutricional materna, idade parental avançada Psicossociais: - Crescimento em área urbanizada (também pode haver fatores biológicos presentes nesta variável); - Grupos minoritários ou imigrantes; - Estresse materno pré-natal e traumas, como história de negligência e/ou abuso (físico, psicológico e/ou sexual) Família: - Mãe esquizofrenogênica (Anos 70 - se caracterizaria por uma atitude ambivalente com a qual simultaneamente superprotegeria e rejeitaria seu filho) - Comunicação de duplo vínculo - Comunicação expressa elevada e reduzida MAS E AÍ? A compreensão deve ser biopsicossocial ✓ Não há evidências científicas suficientes que sustentem a tese de desiquilíbrio químico cerebral para os transtornos mentais ✓ Porém, não podemos excluir e ignorar o biológico como fator a ser considerado ✓ Trata-se de uma abordagem profunda e procedimentos humanizados e complexo para identificação, acompanhamento, tratamento e cuidado. Tratamentos e intervenções clínicas • Séc. VIX: ETC: eletroconvulsoterapia Lobotomia • Atualmente: Biológico: Uso de neurolépticos / antipsicóticos Intervenções psicossociais CATATONIA NO DSM V • A Catatonia é uma perturbação do comportamento motor que pode ter tanto uma causa psicológica ou neurológica. • Posição rígida e imóvel que pode durar horas, dias ou semanas. • Mas também pode se referir a agitação motora sem propósito mesmo sem estímulos ambientais. • A Catatonia não é mais apresentada como um subtipo da Esquizofrenia ou uma classe independente. Na atual versão passa a ser dividida como: Catatonia Associada com Outros Transtornos Mentais; Catatonia Associada com Outras Condições Médicas; Catatonia Não-Especificada. • Aceita-se que o quadro possa ocorrer em diversos contextos • O DSM-5 permite que a Catatonia seja empregada como um especificador no Transtorno Depressivo, Transtorno Bipolar e Transtornos Psicóticos, ou diagnosticada de forma isolada no contexto de outras condições médicas. • Surgimento e desenvolvimento de um delírio ou sistema delirante (vários delírios de alguma forma interligados tematicamente) • Preservação da personalidade, da afetividade, da cognição e do resto do psiquismo do indivíduo acometido. • Não deve haver pensamento e/ou comportamento francamente desorganizado ou sintomas negativos marcantes. • Se caracteriza por delírios bem organizados e sistematizados, às vezes com temática complexa em um domínio da vida e da personalidade do paciente, sem comprometer todo o resto (comprometimento que ocorre, por exemplo, na esquizofrenia). • Alucinações não devem ser o elemento proeminente do quadro, mas, se ocorrerem, geralmente têm relação com o tema do delírio. • Ocorre geralmente em sujeitos com mais de 40 ou 50 anos de idade e costuma ter curso crônico e estável. • A duração do delírio deve ser de no mínimo um mês (DSM-5) ou três meses (CID-11), mas em geral é mais longa, podendo perdurar anos. • Casos psicóticos muito breves ou agudos, diferenciando-se da esquizofrenia. • A duração do episódio não deve ultrapassar três meses (CID-11) ou um mês (DSM-5), mas, de modo geral, dura de poucos dias a um mês. • Há, após o episódio psicótico, retorno completo ao nível de funcionamento anterior à eclosão dos sintomas psicóticos agudos. • Uma parte (mas nem todos) desses casos surge após estressores evidentes, mais ou menos intensos, como assalto, acidente grave de trânsito ou de trabalho, morte de parentes ou amigos queridos, perder-se em uma cidade ou em uma floresta, entre ouras situações. • No transtorno psicótico breve, predominam, de característica: - Sintomas floridos, como ideias delirantes rapidamente mutáveis(em geral paranoides) - Alucinações visuais e/ou auditivas, muitas vezes com intensa perplexidade - Certa confusão mental e turbulência emocional - Pode haver ansiedade acentuada e medos difusos - Sintomas catatônicos também podem estar presentes - Os sintomas tipicamente mudam muito, tanto em sua natureza como em sua intensidade, às vezes, de um dia para outro, ou no mesmo dia. • É um grupo de pacientes não pode ser compreendido e classificado nem plenamente no campo da esquizofrenia, nem no campo de um transtorno do humor grave, mesmo aqueles com sintomas psicóticos. • O transtorno esquizoafetivo se caracteriza pela: Sintomas Psicóticos + Sintomas Depressão Maior - Presença de proeminentes sintomas requeridos para o diagnóstico de esquizofrenia em conjunto (no mesmo episódio, simultaneamente, ou com distância de poucos dias entre eles) com sintomas típicos de um episódio de depressão maior • Para o DSM-5, o transtorno esquizoafetivo se caracteriza pela: - Concomitância de sintomas evidentes de esquizofrenia associados a sintomas suficientes para o diagnóstico de episódio depressivo maior ou episódio maníaco. • Entretanto, para diferenciar o transtorno esquizoafetivo dos quadros de depressão ou mania psicótica, o DSM-5 exige que haja pelo menos duas semanas de delírios ou alucinações na ausência de episódio depressivo maior ou mania. • Além disso, para o DSM-5, os episódios de depressão maior ou mania estão presentes na maior parte da duração total do transtorno. O termo parafrenia é uma entidade nosológica da tradição psicopatológica (mas que não aparece nos sistemas atuais) referente a formas de psicose esquizofreniforme, de aparecimento tardio (após os 50 ou 60 anos), em quesurgem: - Delírios, em geral organizados e acompanhados de alucinações, mas nas quais, de forma semelhante ao transtorno delirante, há relativa preservação da personalidade - Sem alterações ou com alterações mínimas da afetividade e da vontade (e quando ocorrem são relacionadas ao delírio e às alucinações). - Alguns autores consideram a parafrenia uma forma tardia de esquizofrenia, que surge em geral após os 50 anos de idade (Howard; Almeida; Levy, 1994). - Caracteriza-se por sintomas idênticos aos da esquizofrenia, mas dura ≥ 1 mês, porém < 6 meses. Para pensar e dialogar: Psicóticos têm dificuldades em estabelecer laços sociais • E na Reforma Psiquiátrica e reabilitação psicossocial? • Insatisfação por parte do profissional, que se sente frustrado, ou ele mesmo atribui a culpa ao paciente psicótico. Obrigada! marianaccapucho@gmail.com Slide 1: Psicose : estrutura, critérios diagnósticos Slide 2: Neuroses Slide 3: Neuroses Slide 4: Neuroses Slide 5: Psicose e seu histórico Slide 6: O que é a psicose, afinal? Slide 7 Slide 8 Slide 9: Além disso... Slide 10: PRINCIPAIS PSICOSES Slide 11: Esquizofrenia e demais psicoses Slide 12 Slide 13: Esquizofrenia Slide 14: ESQUIZOFRENIA Slide 15: CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS – DSM V Slide 16: CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS – CID 11 Slide 17: Descrição clínica e sintomas Slide 18: Sintomas positivos Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22: Prevalências e causas Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27: MAS E AÍ? Slide 28: A compreensão deve ser biopsicossocial Slide 29: Tratamentos e intervenções clínicas Slide 30: CATATONIA NO DSM V Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 Slide 40 Slide 41: Para pensar e dialogar: Slide 42: Obrigada!