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1 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 2 3 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Perguntas e Respostas Alta CRIA 2ª Edição Uberaba, MG Alta Genetics 2021 Rafael Alves de Azevedo – Alta Carla Maris Machado Bittar – Universidade de São Paulo Sandra Gesteira Coelho – Universidade Federal de Minas Gerais 4 Revisão linguística: Aírton José de Souza Projeto gráfico: Ana Paula Silva Alves Impressão e acabamento: Gráfica 3P Alta Caixa postal: 4008 – CEP: 38.020-970 BR 050, KM 164, PARQUE HILEIA Tel. (34) 3318-7777 www.altagenetics.com.br comunicacao@altagenetics.com.br Pedidos Tel. (34) 3318-7777 www.altagenetics.com.br comunicacao@altagenetics.com.br - A não citação de fonte em tabelas e figuras indica que os detentores dos seus direitos autorais patrimoniais são os autores dos respectivos capítulos desta obra. - As ideias e informações presentes nesta obra são de responsabilidade dos(s) autor(es) e não, obrigatoriamente, refletem a opinião da empresa Alta. © 2021 by Rafael Alves de Azevedo, Carla Maris Machado Bittar e Sandra Gesteira Coelho. Direitos de edição reservados à empresa Alta. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, apropriada e estocada, por qualquer forma ou meio, sem autorização, por escrito, do detentor dos seus direitos de edição. Impresso no Brasil Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Perguntas e Respostas Alta CRIA, 2021. Editores: Rafael Alves de Aze- vedo, Carla Maris Machado Bittar e Sandra Gesteira Coelho. Uberaba, Minas Gerais, 2021. 2ª Edição. 196p. ISBN: 978-65-5668-053-8 DOI: http://dx.doi.org/10.26626/978-65-5668-053-8.2021B0001 O conteúdo das respostas contidas nesta publicação é de inteira res- ponsabilidade dos respectivos autores. 5 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 1. Pré-parto e Maternidade José Eduardo Portela Santos, Rafael Alves de Azevedo, Rodrigo Melo Meneses, Rodrigo Otávio Silveira Silva e Sandra Gesteira Coelho 2. Colostragem Carla Maris Machado Bittar, Sandra Gesteira Coelho e Rafael Alves de Azevedo 3. Cura do cordão umbilical José Azael Zambrano, Polyana Pizzi Rotta, Rafael Alves de Azevedo, Rodrigo Melo Meneses e Sandra Gesteira Coelho 4. Dieta líquida José Eduardo Portela Santos, João Henrique Cardoso Costa, Lívia Carolina Magalhães Silva Antunes, Rafael Alves de Azevedo, Rodrigo Melo Meneses e Sandra Gesteira Coelho 5. Dieta sólida Alex de Matos Teixeira, Carla Maris Machado Bittar, Rafael Alves de Azevedo, Rodrigo Melo Meneses e Sandra Gesteira Coelho 6. Mochação José Azael Zambrano, Polyana Pizzi Rotta e Rafael Alves de Azevedo 7. Biosseguridade na cria e recria Rafael Alves de Azevedo, Sandra Gesteira Coelho e Viviani Gomes 8. Vacinação na cria e recria Rodrigo Otávio Silveira Silva e Viviani Gomes 9. Doenças gastrointestinais José Azael Zambrano, Rodrigo Melo Meneses, Sandra Gesteira Coelho e Viviani Gomes 10. Doenças respiratórias José Azael Zambrano, José Eduardo Portela Santos, Rodrigo Melo Me- neses e Viviani Gomes 11. Tristeza parasitária bovina José Azael Zambrano e Rodrigo Melo Meneses 12. Nutrição e reprodução de novilhas Gabriel Caixeta Ferreira, Glaucio Lopes, José Eduardo Portela Santos, Polyana Pizzi Rotta e Valdir Chiogna Júnior 13. Instalações para cria e recria Carla Maris Machado Bittar, Gabriel Caixeta Ferreira, José Eduardo Portela Santos, João Henrique Cardoso Costa, Rafael Alves de Azevedo e Sandra Gesteira Coelho 15 31 45 53 69 85 93 107 117 135 147 157 175 ................................................................. ................................................................. ................................................................................. ................................................................................. ..................................................................................... ..................................................................................... ............................................................... ................................................................... ............................................................ ................................................. .......................................................... ........................................................ .................................................................................. SUMÁRIO 6 7 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA A criação de bezerras e novilhas é uma das fases mais importantes para a pecuária leiteira, pois compreende a reposição genética que visa sempre à incorporação de animais mais produtivos e saudáveis nos rebanhos. Gerenciar os números e conhecer os principais índices zootécnicos é fun- damental para traçar metas, estratégias e alcançar os objetivos, que definirão o sucesso da criação das bezerras e novilhas. Além disso, é importante tanto para auxiliar a tomada de decisões de manejos nas propriedades, quanto para apontar áreas que necessitam de mais estudos. O programa Alta CRIA surgiu em 2017 com o objetivo de levantar os principais índices zootécnicos na fase de cria e recria, de forma a auxiliar no gerenciamento e estabelecer o panorama nacional da criação de bezerras e novilhas leiteiras. O programa é composto por um seleto grupo de conselhei- ros e técnicos, os quais discutem e trabalham os resultados e as inovações relacionadas às fases de criação, contando com grande participação dos responsáveis técnicos/proprietários de fazendas comerciais distribuídas em quase todo o território nacional. Em 2021, mais de 135 fazendas participaram do programa, formando um grupo de produtores comprometidos em levantar números e trabalhar no gerenciamento de indicadores zootécnicos na área de criação de bezerras e novilhas leiteiras. Um dos pontos fortes do programa é gerar discussões e tentar criar so- luções para os desafios que surgem no manejo das bezerras no dia a dia. Nesse contexto, nasceu em 2019 a ideia de criarmos um livro de perguntas e respostas, que fosse prático e simples, com perguntas cotidianas e respos- tas objetivas e aplicáveis. Em 2021, além de atualização da última edição, considerando os avanços da ciência, estamos trazendo novos capítulos e per- guntas. Todas as perguntas foram respondidas por profissionais capacitados e especialistas nas suas respectivas áreas, os quais se responsabilizam pelo conteúdo respondido. Boa leitura! Rafael Alves de Azevedo Gerente de Neonatos Alta Coordenador e Conselheiro do programa Alta CRIA Coordenador do Padrão Ouro de Criação de Bezerras Leiteiras INTRODUÇÃO 8 9 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Alex de Matos Teixeira Médico-veterinário pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Mi- nas Gerais (EV UFMG). Mestrado e Doutorado em Zootecnia (EV UFMG). Atu- almente, é professor na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia e é conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: alexmteixeira@yahoo.com.br Carla Maris Machado Bittar Engenheira agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/ USP). Master of Science pela University of Arizona. Doutorado em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP. Atualmente, é professora na ESALQ/USP, coordena- dora do grupo de extensão Clube de Criação de Bezerras (CCB) e do Grupo de Pesquisa em Metabolismo Animal e é conselheira do Programa Alta CRIA. E-mail: carlabittar@usp.br Gabriel Caixeta Ferreira Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo, com formação em gestão de fazendas leiteiras pelo sistema Agro + Lean. Atualmente é consultor pelo Grupo Apoiar e é conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: gabriel.ferreira@grupoapoiar.com Glaucio Lopes Médico-veterinário pela Universidade Federal Fluminense. Mestre em Ciências de Gado de Leite e Mestre em Administração e Negóciospela University of Wisconsin, nos EUA. Atualmente, é o gerente global de desenvolvimento pes- soal da Alta, coordenador do programa Universidade Alta e ex-presidente do Conselho de Reprodução de Gado de Leite dos EUA. E-mail: glaucio.lopes@altagenetics.com José Azael Zambrano Médico-veterinário pela Universidad Centroccidental Lisandro Alvarado (UCLA). Mestrado em Ciência Animal (EV-UFMG). Doutorado em Ciência Animal (EV-UFMG). Atualmente, é facilitador nos cursos de capacitação e pós-graduação do Rehagro, consultor sênior nas equipes de assistência téc- nica em gado leiteiro e de corte nessa mesma empresa, e é conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: jose.zambrano@rehagro.edu.br AUTORES 10 José Eduardo Portela Santos Médico-veterinário pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Fi- lho. Mestrado e Doutorado em Ciência Animal pela University of Arizona, nos EUA. Residente clínico em medicina de produção de bovinos leiteiros pela University of Califórnia, Davis, EUA. Foi professor da Escola de Medicina Ve- terinária da University of Califórnia, Davis, EUA. Fez sabático na University of Sidney, Austrália. Atualmente, é professor titular na University of Florida, EUA, e professor na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, em Bo- tucatu, e é conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: jepsantos@ufl.edu João Henrique Cardoso Costa Engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestrado em Agroecossistemas pela UFSC. Doutorado em Animal Science pela University of British Columbia no Canadá. Atualmente, é professor na University of Kentucky, em Lexington, nos EUA, onde também é o coordenador do grupo de pesquisa em Gado Leiteiro e é professor diretor do Centro de Pesquisa Coldstream Dairy, e é conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: costa@uky.edu Lívia Carolina Magalhães Silva Antunes Zootecnista pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universida- de Estadual Paulista (FCAV-Unesp). Mestre em Genética e Melhoramento Ani- mal (FCAV-Unesp). Doutorado em Zootecnia (FCAV-Unesp e pelo IRTA Inves- tigación y Tecnologia Agroalimentarias, Catalunya, Espanha). Pós-doutorado (FCAV-Unesp). Desenvolve projetos na área de comportamento e bem-estar animal junto ao Núcleo de Pesquisa Fazu e ao Grupo ETCO (FCAV/ Unesp) e à empresa BEA Consultoria e Treinamento. Atualmente, é coordenadora do curso de Zootecnia, professora das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU), e é conselheira do Programa Alta CRIA. E-mail: livia.silva@fazu.br 11 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Polyana Pizzi Rotta Zootecnista pela Universidade Estadual de Maringá. Mestrado e doutorado na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Período de treinamento na Colo- rado State University durante o doutorado. Atualmente, é professora adjunta de produção e nutrição em bovinocultura de leite da UFV, coordenadora do Programa Família do Leite e é conselheira do Programa Alta CRIA. E-mail: polyana.rotta@ufv.br Rafael Alves de Azevedo Zootecnista pelo Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Mi- nas Gerias (ICA UFMG). Mestre em Ciências Agrárias (ICA UFMG). Doutor em Zootecnia (EV-UFMG), com período de treinamento na University of Florida. Pós-doutorado em Zootecnia (EV-UFMG). Atualmente, é Gerente de Neona- tos da Alta, coordenador do Padrão Ouro de Criação de Bezerras Leiteiras e coordenador e conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: rafael.azevedo@altagenetics.com Rodrigo Melo Meneses Médico-veterinário pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Especialização em Clínica e Cirurgia Veterinária (Área de Grandes Animais) pela UFV. Mestrado e Doutorado em Ciência Animal, área de Medicina e Cirurgia Veterinária (EV- -UFMG). Atualmente, é professor na EV-UFMG e conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: menesesrm@gmail.com Rodrigo Otávio Silveira Silva Médico-veterinário pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Mi- nas Gerais (EV UFMG). Mestrado e doutorado em Ciência Animal (EV-UFMG), com doutorado sanduíche na University of Copenhagen (Denmark). Atualmen- te, é professor na EV-UFMG e conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: rodrigo.otaviosilva@gmail.com 12 Sandra Gesteira Coelho Médica-veterinária pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Mi- nas Gerais (EV-UFMG). Mestrado em Medicina Veterinária (Área de Reprodu- ção) pela EV-UFMG. Doutorado em Ciência Animal (Área de Nutrição) pela EV-UFMG, com período de treinamento na University of Florida (EUA). Atual- mente, é uma das coordenadoras do Grupo de estudo e pesquisa em Pecuá- ria de Leite (GPleite; EV-UFMG), professora na EV-UFMG, e é conselheira do Programa Alta CRIA. E-mail: sandragesteiracoelho@gmail.com Valdir Chiogna Júnior Médico-veterinário pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Especialização em Produção de Ruminantes pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Quei- roz (Esalq/USP). Mestre em Biociência Animal (UFG). Atualmente é consultor de fazendas leiteiras pela Milk+ Consultoria e é conselheiro do Programa Alta CRIA. E-mail: chiognavet@hotmail.com Viviani Gomes Médica-veterinária pela Universidade Paulista (UNIP). Aprimoramento em Clí- nica e Cirurgia de Grandes Animais (Área de Ruminantes) pela FMVZ (USP). Mestrado e Doutorado em Clínica Veterinária pela FMVZ (USP). Pós-douto- rado em Imunologia Bovina na University of Georgia (UGA). Atualmente, é coordenadora de pesquisa do Grupo de Pesquisa especializado em Medicina aplicada ao período de transição, cria e recria (GeCria), professora na (FMV- Z-USP), e é conselheira do Programa Alta CRIA. E-mail: viviani.gomes@usp.br 13 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Agradecemos, especialmente, aos produtores(as), técnicos(as) e aos colabo- radores(as) pertencentes ao programa Alta CRIA, por participarem deste livro, enviando-nos as perguntas de cada capítulo. Sem dúvida, este livro não existiria se não fosse pela confiança e apoio de vocês! AGRADECIMENTOS 14 15 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Capítulo 01 PRÉ-PARTO E MATERNIDADE 16 José Eduardo Portela Santos - University of Florida Rafael Alves de Azevedo - Alta Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais Rodrigo Otávio Silveira Silva - Universidade Federal de Minas Gerais Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais Capítulo 01: Pré-parto e maternidade 17 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 1. Qual o período médio de gestação de uma vaca e de uma novilha? Existe uma pequena variação no período de gestação entre as diferen- tes raças leiteiras: • Novilhas da raça Holandês: 277 dias; • Vacas da raça Holandês: 279 dias; • Novilhas da raça Jersey: 278 dias; • Vacas da raça Jersey: 280 dias; • Vacas e novilhas da raça Pardo Suíço: 287 dias; • Vacas da raça Gir: 286 dias; • Novilhas mestiças F1 Holandês x Gir: 277 dias; • Vacas mestiças F1 Holandês x Gir: 276 dias; • Novilhas ¾ Holandês x Gir: 278 dias; • Vacas ¾ Holandês x Gir: 277 dias. Esses são dados médios, ocorrendo variação de mais ou menos 10 dias em torno da média. Em todas as raças, observamos também alteração no período de gestação devido a fatores como: • estação de nascimento (estresse térmico reduz em média 5 dias); • sexo da cria (fêmeas nascem 2 dias antes que machos); • gestação gemelar (gestação reduz em média 4 a 5 dias); • touro utilizado. 2. Qual o período seco ideal a ser planejado de descanso para uma vaca seca, pensando em saúde da glândula mamária e produção de colostro? Período mínimo de descanso de 45 a 50 dias. Secar a vaca aos 230 dias de gestação seria o ideal por várias razões: • Praticamente, mais de 95% das vacas terão pelo menos 35 dias de período seco; • o risco de resíduo no leite originário da terapia de vaca seca é pe- queno, porém, �que atento às recomendações de bula de cada produto utilizado; • a vaca irá passar pelo menos 2 semanas no lote de pré-parto; • o produtor obtém 2 semanas a mais de lactação; • o risco de comprometera qualidade e a produção de colostro ou produção de leite na lactação subsequente é mínimo. 18 3. Em quais situações seria viável o uso padrão de antibióticos intra- mamários e/ou selante em novilhas? Na maioria dos casos, a utilização de antibiótico e selante pode ser re- comendada quando mais de 15% de primíparas têm mastite clínica no pós- -parto ou mais de 15% das primíparas apresentam contagem de células somáticas (CCS) acima de 150 mil de 10 a 35 dias pós-parto. 4. Qual o escore de condição corporal ideal para as vacas entrarem no lote seco? Seria o mesmo para Holandês e Girolando? Para vacas que foram secas, o ideal para a raça Holandesa é que entrem no lote de secas e no de pré-parto com escore de condição corporal entre 3,00 e 3,25 e de que não percam condição corporal de forma alguma nesse período seco. Vacas Holandesas devem manter ou ter um pequeno acréscimo (0,25 unidades) de condição corporal nesses períodos. Já para vacas da raça Girolando, a condição corporal mais alta, entre 3,50 e 3,75, está associada com maior produção de leite e componentes no leite na lactação subsequente. 5. Qual o escore de condição corporal ideal para as novilhas da raça Holandês apresentarem 60 dias antes da data prevista do parto? Para as novilhas da raça Holandês, o ideal é que cheguem ao parto com escore de condição corporal entre 3,50 e 3,75 e com 90 a 92% do peso adulto, o que seria equivalente a 620 a 630 kg de peso corporal. É possível que condição corporal mais baixa traga vantagens para a novilha da raça Ho- landês, mas a di�culdade é atingir peso adequado com idade ao parto de 23 a 24 meses ao mesmo tempo que a condição corporal seja inferior a 3,50. 6. Como de�nir se devo ou não usar vacinas no pré-parto dos meus animais, pensando em passar anticorpos para os bezerros via inges- tão de colostro? A de�nição da inclusão ou não de vacina no pré-parto ou em qualquer outra categoria animal é baseada, principalmente, na ocorrência de do- enças na propriedade ou região, ou no risco de introdução delas no reba- nho. Como temos opções limitadas para vacinar bezerros durante a fase de aleitamento, sobretudo até os 90 dias de vida, a vacinação das fêmeas no pré-parto e subsequente transmissão da imunidade passiva pela correta co- Capítulo 01: Pré-parto e maternidade 19 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA lostragem é uma estratégia de grande importância, sobretudo para doenças neonatais, como diarreias e doenças respiratórias. 7. As vacinas de pré-parto, quando utilizadas de forma estraté- gica, devem ser aplicadas nas nulíparas também, além das mul- típaras? Sim, as vacinas devem ser aplicadas tanto nas nulíparas quanto nas mul- típaras. Deve-se atentar ainda para o número de doses, que, comumente, difere entre esses animais: comumente, as nulíparas exigem doses de refor- ço a mais que as multíparas, justamente, por nunca terem iniciado o ciclo de vacinação pré-parto. 8. Falam muito de quantidade de vacinas a serem administradas no lote de pré-parto. Quantas vacinas diferentes podem ser realizadas para se obter uma e�ciente memória imunológica? Não há embasamento cientí�co que permita a�rmar o número máximo de vacinas que podem ser aplicadas no mesmo dia ou dentro de um pe- ríodo curto. De forma geral, o sistema imune dos animais adultos parece responder mesmo sob o desa�o de vários antígenos, sendo aplicados ao mesmo tempo. Recomenda-se, porém, espaçar as vacinas com pequenos intervalos (três dias, por exemplo), caso o manejo permita, ou tentar fazer agrupamentos de imunógenos (aplicando dois e dois, por exemplo, caso sejam quatro vacinas a serem utilizadas naquela fase). Vale citar ainda que há uma tendência de separar vacinas vivas e vacinas mortas (inativadas) pela diferença do tipo de resposta induzida por elas. 9. Qual o limite mínimo de dias para uma vacina gerar memória imu- nológica na vaca, garantindo mobilização de anticorpos para o co- lostro? Ex.: passar vacas para o pré-parto faltando 25 dias da data prevista do parto e vaciná-la, nesse momento, pode ser um problema? Após a vacinação, o animal precisa ainda desenvolver a resposta imune, produzir os anticorpos e células de defesa para só então mobilizá-los para o colostro. Com isso, a literatura coloca que a última imunização ocorra, no máximo, 30 dias antes da data prevista do parto. Períodos menores, dependendo da vacina, podem in�uenciar negativamente na qualidade do colostro quanto à resposta vacinal desejada. 6 20 Capítulo 01: Pré-parto e maternidade 10. No Brasil, existem vacinas importadas para IBR/BVD para vacas no pré-parto, as quais podem ter algumas cepas diferen- tes das IBR/BVD convencionais nacionais. Para prevenção de doenças respiratórias, mesmo assim seria indicado usar essas vacinas no pré-parto? E qual seria o melhor manejo vacinal des- sas vacas? Dependendo do país, há disponibilidade de vacinas com vírus mortos, vivos atenuados ou vivo termo sensível. Nos Estados Unidos, as mais utili- zadas são as vacinas contendo vírus vivos atenuados da Rinotraqueíte Infec- ciosa Bovina (IBR) e Diarreia Viral Bovina (BVD). Vacinas com vírus vivo atenuado resultam em melhor imunidade, maior duração de imunidade e, muitas vezes, têm menor custo por dose. A crítica a essas vacinas é que o vírus se replica, temporariamente, no animal vacinado, o que resulta em eliminação de pequenas quantidades de vírus nas secreções corpóreas. Em alguns países, onde as prevalências de BVD e IBR são baixas e há progra- ma de erradicação dessas doenças, o uso de vacinas vivas atenuadas não é permitido. Como cada vacina tem suas próprias características de e�cácia, que devem ter sido validadas com ensaios experimentais, é importante ob- ter informações e pedir resultados desses estudos para o laboratório res- ponsável. Por exemplo, para a BVD, a duração de imunidade das vacinas disponíveis nos Estados Unidos varia de 5 a 13 meses. É importante salien- tar que a maioria das vacinas disponíveis não previne de maneira efetiva a infecção pelo agente, ou seja, boa parte delas reduz a sintomatologia da doença, mas não, necessariamente, evita a infecção do animal vacinado pelo agente. Quando se utilizam vacinas com vírus morto, quase sempre é necessário que todo animal primovacinado receba reforço da mesma vaci- na entre 3 e 6 semanas depois. Animais adultos, previamente vacinados, devem ser revacinados de acordo com a duração de imunidade da vacina utilizada. Em aplicação de vacinas com vírus vivo atenuado em animais gestantes, é importante que esses tenham sido vacinados previamente com a mesma vacina, pois, em casos da IBR, por exemplo, o vírus pode cau- sar processo in�amatório no ovário e regressão do corpo lúteo, causando aborto. Normalmente, vacas gestantes são vacinadas com vacinas contendo vírus da IBR e BVD na semana da secagem, quando estão com 220 a 230 dias de gestação. Uma única dose é administrada com o objetivo de ofere- cer proteção fetal e enriquecer o colostro com imunoglobulinas especí�cas contra esses agentes. 21 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 11. Qual o impacto do estresse térmico sobre o feto? O mesmo ocorre em novilhas e vacas gestantes? Vários são os impactos observados em �lhas de primíparas ou vacas que passaram por estresse térmico no útero no �nal da gestação: • menor absorção de anticorpos colostrais; • menor peso ao nascimento (em média -9%) e até 1 ano de idade; • comprometimento no metabolismo e função imune com menor taxa de sobrevivência; • desenvolvimento mamário e capacidade sintética de produção de leite comprometidos nas futuras lactações (-1,3 a -5,1 kg/dia na primeira lacta- ção, -1,9 kg/dia na segunda lactação e -6,7 kg/dia na terceira lactação em animais da raça Holandês); • maior número de serviços por concepção; • apresentam alterações na capacidade de termorregulação. 12. Qual a melhor forma de avaliar se as minhas vacas secas estão passando por estresse térmico no período seco? Qualo mínimo de animais que devem ser avaliados no lote? Qual a temperatura que considero que elas estão em estresse térmico? A maneira mais objetiva seria aferir a temperatura retal das vacas no período da tarde, entre 14 e 17 horas. O ideal é que toda vaca tenha tem- peratura retal abaixo de 39,0°C. Caso contrário, você sabe que os animais estão sofrendo de estresse por calor. O bovino, como todos os mamíferos, utiliza de medidas de perda de calor para manter sua temperatura corpórea. Dentre esses mecanismos, estão a radiação, condução, convecção e perda evaporativa de calor. Toda vez que o animal é exposto a estresse por calor, ele irá utilizar desses métodos de troca de calor para evitar aumento excessi- vo de temperatura corporal. Invariavelmente, quando o animal está sofren- do de estresse por calor, haverá mudança de comportamento, com menos tempo deitado, aumento na frequência respiratória e redução na ingestão de alimento. A presença de animais com respiração ofegante, acelerada e salivação é indicativa de compensação respiratória para aumentar a taxa evaporativa. Isso é um mau sinal e indica que o estresse por calor está pre- sente. O ideal é que o maior número possível de vacas no lote tenha tem- peratura retal abaixo de 39,0°C (caso seja vaginal, então inferior a 39,1°C) e que nenhuma apresente os sinais de estresse por calor descritos acima. 22 Capítulo 01: Pré-parto e maternidade 13. O resfriamento do lote de pré-parto, nas salas de espera, pode se tornar um problema ao ter que levar os animais várias vezes até o local? Sim. A movimentação constante dos lotes dos animais em pré-parto pode acabar in�uenciando na taxa de partos auxiliados. Temos de lembrar que a movimentação do lote completo irá fazer com que animais que es- tejam a poucos dias ou horas de entrarem em trabalho de parto tenham evolução do parto alterada. Outro ponto importante é que, caso o pré-parto seja em Compost barn, esses animais já são movimentados algumas vezes ao dia durante o momento de revolver a cama. 14. Fazer o resfriamento na linha de cocho, no lote seco e de pré-par- to, pode ser uma alternativa para evitar a movimentação dos animais? Isso funcionaria no Compost barn? Sim, métodos de resfriamento evaporativo como ventilação forçada e uso de aspersores são altamente efetivos em reduzir a temperatura corpó- rea e os efeitos do estresse por calor. Ventiladores e aspersores na linha de alimentação podem e devem ser utilizados, tanto em sistemas de con�na- mento tipo Freestall, assim como em Compost barn. 15. Mais ou menos 60 dias antes da data prevista do parto, as no- vilhas também deveriam ser resfriadas, caso estejam sujeitas a um possível estresse térmico? Sim, as novilhas gestantes também devem ser resfriadas caso estejam submetidas ao estresse térmico. 16. Nulíparas e multíparas podem �car juntas no pré-parto? Qual o impacto de não separar? O ideal é que esses dois grupos de animais sejam alojados separada- mente por várias razões, como necessidades nutricionais, comportamento e competição entre eles. No entanto, quando isso não é possível de ser feito, o alojamento em conjunto pode ser feito desde que o ambiente não propicie competição entre multíparas e nulíparas. Para tal, espaço para descanso, acesso à linha de alimentação e acesso aos bebedouros devem ser de tal maneira que a taxa de lotação do grupo seja sempre aquém do que a máxima recomendada. Por exemplo, quando novilhas e vacas são alojadas juntas, é recomendado que o lote pré-parto tenha, no máximo, 85 a 90% de sua capacidade de lotação. 23 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 17. Qual o espaço de cocho ideal por animal no pré-parto? Competição, a ponto de afetar o comportamento alimentar, na li- nha de alimentação em vacas em lactação é observada toda vez que o acesso à linha de cocho é inferior a 60 cm lineares de acesso por vaca. No caso de vacas em pré-parto, é sempre recomendado trabalhar com mais acesso na linha de alimentação que o mínimo recomendado para vacas em lactação. Nesse caso, seria recomendado entre 70 e 80 cm de acesso por animal. 18. A utilização de sais acidogênicos no pré-parto de vacas con�na- das é essencial? Dietas acidogênicas durante o pré-parto não são essenciais, porém são bené�cas para vacas que irão iniciar a 2ª ou mais lactações. Essas dietas, desde que utilizadas corretamente, reduzem o risco de hipocalcemia clínica e subclínica, a incidência de retenção de placenta e metrite e aumentam a produção de leite de vacas multíparas. 19. A utilização de sais acidogênicos no pré-parto de nulíparas con�- nadas é essencial? Dietas acidogênicas durante o pré-parto não são essenciais e tampouco indicadas para nulíparas. Até que novos dados de pesquisas cientí�cas pro- vem o contrário, o que sabemos hoje é que dietas acidogênicas fornecidas no pré-parto para nulíparas não trazem benefício no pós-parto. 20. A utilização de sais acidogênicos no pré-parto, em que nulíparas e multíparas �cam juntas, pode trazer algum malefício para as nulí- paras? Quando utilizadas de forma correta, as dietas acidogênicas não devem causar malefício às nulíparas. Isso desde que o valor de diferença cátio-a- niônica da dieta não seja muito baixo (não seja inferior a -100 mEq/kg) e que o pH urinário não seja inferior a 5,8, caso contrário, é sim, possível, ter efeitos deletérios às nulíparas. Acidose exacerbada reduz a ingestão de matéria seca e reduz a resposta dos tecidos a certos hormônios como a insulina. Esses efeitos favorecem o catabolismo tecidual e aumento da lipólise. 24 Capítulo 01: Pré-parto e maternidade 21. Quais pontos importantes a serem observados em um bom local para pré-parto? Um bom local para pré-parto deve ser de fácil localização, calmo e iso- lado. Além disso, deve ser seco, limpo, sombreado e muito bem drenado. Deve ainda apresentar boa área de circulação para os animais, com 19 m2 por animal. A disponibilidade e acessibilidade de cochos é algo muito importante. 22. Quais as dimensões de uma baia maternidade individual? As baias de maternidade devem ter entre 16 e 19 m2. 23. As baias de maternidade devem ter todas as laterais abertas ou fechadas? Os bovinos possuem o comportamento de se isolar totalmente dos ou- tros animais no momento do parto. Sendo assim, o ideal é fazer baias fe- chadas, em todas as laterais, com altura em torno de 1,8 m. 24. Quando o animal deve ser levado para a baia maternidade para parir? Os animais só devem ser levados para a baia maternidade quando estive- rem no estágio dois do parto. Nesse estágio, o feto já se encontra insinuado no canal do parto e, usualmente, as mãos do bezerro já estão sendo vistas para fora da vulva no animal. 25. Como deve ser o acesso à baia maternidade? O acesso voluntário é uma boa opção para fazendas que não tem acompanhamento em tempo integral? O acesso deve ocorrer por condução de colaborador treinado e calmo. Nesse momento, qualquer tipo de estresse pode ser prejudicial para o par- to. Além disso, a distância do pré-parto até a baia de parição deve ser muito curta, para evitar que esse animal ande por longos caminhos. O acesso voluntário é adotado em alguns sistemas, mas corremos o risco de muitos partos ocorrerem no lote de pré-parto, di�cultando assim o controle de biosseguridade da recém-nascida. 25 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 26. Em propriedades que não possuem vigilante noturno para parto, qual deve ser o manejo da baia de parição? Coloca-se o animal ante- cipadamente na baia ou não? Quando a fazenda não possui um acompanhamento noturno do lote de pré-parto, uma opção é colocar o animal que se encontra com algumas características visuais de proximidade do início do trabalho de parto dentro da baia maternidade. Porém, essa baia tem que ter cocho de água e alimen- tação disponível. Caso o animal já esteja na fase 1, com muita contração, espere iniciar a fase dois, antes de colocar na baia. 27. Qual o impacto para o bezerronascer dentro do Compost barn? Ainda não temos trabalhos cientí�cos que comprovam o impacto positi- vo ou negativo desse ambiente sobre a saúde dos bezerros. Porém, visual- mente, é algo preocupante, pois é um ambiente contaminado, com muita ventilação e com presença de muitos animais do lote. Ou seja, é um local com grandes riscos sanitários para o recém-nascido. Além disso, existem relatos de recém-nascidos que nascem e acabam morrendo sufocados por as�xia na cama. 28. Qual o tempo de um parto normal? Um parto normal demora entre 60 e 70 minutos após o aparecimento do saco amniótico ou dos membros do bezerro. 29. Quando e como devo intervir no parto? O auxílio deve ocorrer após 90 minutos do aparecimento do saco am- niótico ou dos membros do bezerro. Porém, em casos que o bezerro não esteja na posição normal (duas mãos e cabeça para frente no canal vaginal), o auxílio pode ocorrer antes. A intervenção deve ocorrer por co- laboradores treinados, usando sempre luva e lubri�cante. Todo o material a ser utilizado deve estar limpo e desinfectado. A recomendação é que, quando for tracionar um animal, que seja utilizado, no máximo, a força de duas pessoas adultas. Em casos de partos mais complicados, um médico- -veterinário deve ser chamado imediatamente. 26 30. Quais cuidados devo ter imediatamente após o nascimento de bezerros que vieram de partos complicados? Estimule imediatamente a respiração assim que o tórax do animal estiver livre da vaca. Esfregue o bezerro com uma toalha, limpe a boca e o nariz, retirando o resto de líquido placentário. Coloque o bezerro deitado em po- sição esternal. Para estimular a respiração, coloque os dedos no nariz e nos ouvidos. Água gelada sobre as orelhas também pode ser utilizada. Nunca coloque o animal pendurado de cabeça para baixo. 31. Quais os valores encontrados para partos auxiliados, no Brasil, de acordo com composição racial? Nos dados nacionais levantados pelo Alta CRIA em 2020, temos os seguintes valores de referência para nascimentos de fêmeas: 32. Quais os parâmetros normais de uma recém-nascida? • 3 minutos: levantar a cabeça; • 25 minutos: �car em decúbito esternal; • 20 minutos: tentar �car de pé; • 60 minutos: em pé; • temperatura: 38,3 a 38,9°C; • frequência cardíaca: 90-160 batimentos por minuto; • frequência respiratória: 50-75 movimentos por minuto. Capítulo 01: Pré-parto e maternidade Composição racial Tipo de nascimento Novilhas Multíparas N Normal Auxiliado Normal Auxiliado Nulíparas Multíparas Holandês 90% 10% 92% 8% 7.690 7.204 7/8 Holandês-Gir 98% 2% 97% 3% 346 556 3/4 Holandês-Gir 97% 3% 98% 2% 345 725 27 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 33. A aplicação de meloxicam em bezerros de partos complicados é indicada? Se sim, qual a dose? A administração de meloxicam em bezerros oriundos de partos difíceis pode ser uma alternativa para aumentar o vigor, o re�exo de sucção, a ingestão de leite e melhorar a saúde durante a fase de aleitamento. A dose de meloxicam recomendada é 0,5 mg/kg (1 ml do produto a 2% para um bezerro de 40 kg). 34. Em casos de partos auxiliados ou prematuros, bezerros que apre- sentam di�culdade respiratória, a aplicação de corticoide pode ajudar? Apesar de o principal efeito dos corticoides sobre a maturação pulmo- nar e, consequentemente, auxílio na produção de substâncias surfactantes serem mais evidentes em bezerros oriundos de vacas cujos partos foram induzidos utilizando essas drogas, é recomendado o uso de corticoides (0,05 mg/kg de dexametasona, intramuscular ou intravenosa) em todo bezerro recém-nascido prematuro com di�culdade respiratória. No entanto, o efeito ocorre cerca de 24 horas após a sua aplicação, de forma que seu efeito será bené�co caso o bezerro sobreviva. 35. Como agir em situações nas quais os bezerros nascem prematuros e/ou apresentam febre nos primeiros dias de idade? Atente-se para a ocorrência de sepse. Bezerros prematuros, usualmen- te, apresentam menor capacidade de absorção do colostro e, consequen- temente, maior falha de transferência de imunidade passiva e, portanto, infecções generalizadas podem levar a esse quadro. Em adição à febre, você, possivelmente, vai observar mucosas congestas, apatia/depressão, fraqueza, falta de apetite. Nesses casos, a hidratação intravenosa, associada ao uso de antimicrobianos, como Ceftiofur (5 mg/kg) por, no mínimo, sete dias, além do uso de anti-in�amatórios não esteroidais como o Flunixin me- glumine (1 a 2 mg/kg) ou Meloxicam (0,5 mg/kg) por até três dias. 36. Como de�nir os natimortos e quais os percentuais considerados dentro do normal? Natimortos compreendem as mortes que ocorrem com mais de 260 dias de gestação e até 48 horas após o nascimento. Alguns autores consideram até 24 horas após o nascimento. Os percentuais americanos mostram taxas de 5 a 6 % em �lhos de vacas e de 10 a 12% em �lhos de novilhas. 28 Capítulo 01: Pré-parto e maternidade 37. O que pode aumentar a taxa de natimortos? Alguns fatores que podem aumentar a taxa de natimorto são: • di�culdade de parto; • doenças: neosporose, leptospirose, brucelose etc.; • nulíparas parindo com menos de 24 meses; • gestação gemelar; • duração anormal de gestação; • genética; • nutrição mineral desbalanceada (iodo, selênio, zinco e cobre). 38. Quanto tempo o bezerro deve �car com a mãe na maternidade após o nascimento? O bezerro tem que ser retirado da maternidade o mais rápido possível, de preferência antes de �car de pé, ou seja, no máximo, 20 a 30 minutos após o nascimento. 39. Após o nascimento, o ideal é deixar a bezerro com a mãe para ele ser seco? Se não, quais alternativas eu tenho? Vai depender do manejo de cada fazenda. Se a fazenda não possui con- dições de realizar esse manejo de forma arti�cial, é melhor deixar o mesmo com a mãe. As alternativas existentes são: • colocar o bezerro em uma “caixinha de carinho” na frente da mãe na hora da ordenha do colostro ou fora da maternidade; • usar pó secante; • usar toalhas limpas e secas; • usar secadores industriais. 40. Quais fatores devem ser considerados e trabalhados para diminuir partos gemelares? Partos gemelares ocorrem em decorrência de dupla ovulação e, conse- quentemente, prenhez gemelar. Fatores de risco para dupla ovulação in- cluem: • estresse por calor; • inseminação logo após a 1ª ovulação pós-parto; • protocolos de sincronização de cio ou ovulação que resultam em baixa concentração do hormônio progesterona durante o crescimento folicular; • alta produção de leite; 29 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA • componente genético, animais com capacidade de selecionar mais de 1 folículo dominante para ovulação. De maneira geral, bovinos selecionam um único folículo para ovulação. No entanto, quando o processo de seleção folicular é alterado devido à capacidade de dominância do folículo, como no caso de danos às células fo- liculares causados por hipertermia, ou então quando o crescimento folicular ocorre sob baixa concentração de progesterona no sangue, a vaca acaba selecionando mais de um folículo dominante. Nesse caso, ocorrerão múlti- plas ovulações. Além desses fatores, vacas com alta produção de leite apre- sentam menor concentração de progesterona no sangue, o que favorece a ocorrência de ovulações duplas. Por último, múltipla ovulação tem um com- ponente genético e, provavelmente, há animais que apresentarão múltiplas ovulações por portarem genes que favorecem sua ocorrência. Portanto, para reduzir o risco de partos gemelares, é importante combater o estresse por calor, evitar inseminar vacas muito cedo no período pós-parto logo após períodos anovulatórios e evitar o uso de protocolos de sincronização de cio ou ovulação que resultam em baixa concentração de progesterona durante a seleção e desenvolvimento do folículo ovulatório. 41. Em partos gemelares, quando considero que a fêmea é infértil? Quando ela vem de um parto gemelar, com um macho, ela tem 80 a 95% de chance de ser freemartin.Acredita-se que também pode ocor- rer freemartinismo, em baixíssima frequência, quando nasce de um parto simples, de uma gestação que iniciou gemelar, com a morte do macho no início da gestação. As freemartin apresentam masculinização do trato reprodutivo feminino em diferentes graus, o que interfere na fertilidade. Considerá-la infértil vai depender dos achados clínicos. A con�rmação de que é freemartin pode ser feita pela avaliação do comprimento vaginal. Em bezerras normais, com 1 mês de idade, a vagina mede de 13 a 15 cm, nas freemartin, cinco a oito cm de comprimento. Na fêmea adulta normal de 30 cm e na freemartin adulta, oito a 10 cm. Na palpação do trato reprodu- tivo, é observado trato quase normal a quase inteiramente masculino, com estruturas semelhantes a testículos no lugar de ovários, em alguns casos com ausência de cérvix. O aumento da distância ânus-vulva, clitóris alarga- do e presença de pelos longos e grosseiros na vulva, semelhantes aos vistos em torno do prepúcio também podem ser indicativos de freemartinismo, mesmo que fracos. 30 42. Como aquecer os recém-nascidos em dias frios? O ideal é colocá-los em local com boa cama, com, no mínimo, 20 cm, e disponibilizar aquecimento arti�cial. Usar lâmpadas de calor que emitem energia radiante do espectro de luz visível e radiação infravermelha. Não usar lâmpada por iluminação �uorescente ou diodos emissores de luz do tipo LED. Monte lâmpadas de calor de forma que a lente �que cerca de 1 metro da parte superior do bezerro que está deitado. Embora distâncias mais próximas sejam mais e�cazes no aquecimento, distâncias de 30 cm ou menos produzem temperaturas que podem queimar a pele ou incendiar a cama. Distâncias mais próximas também não protegem a lâmpada e o contato com o bezerro em pé. Já as distâncias do bezerro da lâmpada, em 1,2 m, fazem pouco para aquecer o bezerro, porque a energia fornecida pela lâmpada torna-se mais espalhada. Embora a lâmpada de 250 watts seja mais quente, lâmpadas de 125 watts em bezerros normais e saudáveis trazem bons resultados. Uma vez que a radiação é convertida em calor pela pele e pelo do bezerro, não há vantagem em usar lâmpadas infravermelhas vermelhas que tendem a produzir calor perto da lâmpada. Lâmpadas com lentes coloridas, lâmpadas com lentes grossas e lâmpadas com menor po- tência são menos e�cazes. Uma outra opção é utilizar jaquetas de aqueci- mento, especí�cas para bezerros. Capítulo 01: Pré-parto e maternidade 31 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Capítulo 02 COLOSTRAGEM 32 Capítulo 02: Colostragem Carla Maris Machado Bittar - Universidade de São Paulo Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais Rafael Alves de Azevedo - Alta 33 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 1. Quando que o colostro começa a ser produzido pelas vacas? O colostro começa a ser produzido em torno de quatro semanas anterio- res ao parto, com maior passagem de imunoglobulinas do tipo G (IgG) para a glândula mamária nas três semanas pré-parto. 2. Quais pontos avaliar no lote pré-parto, quando os animais estão produzindo pouca quantidade de colostro? Infelizmente, não há muitos dados disponíveis para se entender exa- tamente por que as fazendas passam por períodos de baixa produção de colostro. Porém, devemos avaliar: • dieta: certi�car que estamos atendendo todas as exigências nutricionais dessa categoria com boas fontes de nutrientes (energia, proteína, minerais, vitaminas e água); • espaço de cocho: garantir que todos os animais consigam se alimentar (80 a 90 cm por animal); • conforto: camas confortáveis, secas e limpas, sombra, aspersores e ventiladores; • sanidade dos animais: livre de doenças e intercorrências como proble- mas de casco, mastite etc.; • escore de condição corporal: entre 3,0 e 3,5; • duração do período seco: não deve ser menor do que 30 dias e nem maior do que 60 dias; • tempo entre parto e a primeira ordenha: deve ser inferior a duas horas. 3. Qual o melhor tipo de colostro a ser fornecido aos bezerros recém- -nascidos? • Colostro obtido com higiene, ou seja, baixa contagem bacteriana total; • qualidade imunológica de, no mínimo, 25% de Brix; • livre de qualquer tipo de doença que possa ser transmitida da mãe para a �lha; • livre de sangue ou grumos característicos de mastite. 34 Capítulo 02: Colostragem 4. Qual a quantidade (litros) ideal de colostro deve ser fornecida para os bezerros? • Primeiro fornecimento: no mínimo, 10% do peso corporal do be- zerro nas primeiras duas horas de vida, obrigatoriamente. Exemplo: se o bezerro nascer com 40 kg, ele deverá receber, no mínimo, 4 I de colostro nas primeiras duas horas de vida; • segundo fornecimento: 5% do peso corporal nas primeiras oito horas de vida, sem precisar forçar a administração. 5. Qual o limite de contagem bacteriana total no colostro fornecido para os bezerros? Uma medida secundária, mas não menos importante, da qualidade do colostro, é a carga bacteriana, medida em unidades formadoras de colô- nia (UFC) por ml. Adotando os padrões de contaminação bacteriana do colostro, ele deve conter menos do que 50.000 UFC/ml para contagem padrão em placa e menos do que 5.000 UFC/ml para contagem total de coliformes fecais no momento da colostragem. 6. Quais as principais doenças que a vaca pode transmitir para o recém-nascido, via colostro? O colostro pode transmitir: • Mycoplasma spp.; • Mycobacterium avium subsp. Paratuberculosi; • Escherichia coli; • Salmonella spp.; • Listeria monocytogenes; • Campylobacter spp.; • Vírus da Leucose. 7. Além da qualidade, da quantidade e do tempo de fornecimento do colostro após o nascimento, o que mais pode in�uenciar a colostra- gem dos bezerros? A e�ciência da colostragem é determinada basicamente pela quanti- dade, qualidade imunológica e sanitária do colostro, além do tempo após o nascimento para o seu fornecimento. Porém, trabalhos também de- 35 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA monstram que existem fatores dos recém-nascidos que podem in�uenciar essa e�ciência, como o tipo de parto que gerou o bezerro, sendo que partos complicados reduzem a e�ciência de absorção de anticorpos pelo animal. Outros fatores que podem in�uenciar de forma negativa são, por exemplo, o estresse térmico da vaca no período de pré-parto, estresse do bezerro, pasteurização incorreta do colostro e a temperatura incorreta de descongelamento. 8. Além de transferência de imunidade passiva, quais outras funções �siológicas e outros benefícios o colostro pode fornecer para os re- cém-nascidos? O colostro é a primeira fonte de nutrientes que os bezerros recebem após o nascimento e possui vários componentes importantes para eles, além da transferência de imunidade, como, por exemplo: • proteínas: além de nutrir, serão importantes para renovação do epi- télio intestinal; • gordura: irá fornecer energia para as funções vitais e para o aqueci- mento do animal; • oligossacarídeos: podem fornecer proteção contra agentes patogê- nicos, atuando como inibidores competitivos nas superfícies epiteliais do intestino; • minerais e vitaminas: importantes para estocagem e uso pelo corpo; • insulina, fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), fatores de crescimento, citocinas e fatores antimicrobianos inespecí�cos: neces- sários para renovação celular e desenvolvimento de vários órgãos e para retenção de energia no corpo. O IGF-1 pode ser regulador chave no desenvolvimento do trato gastrointestinal de neonatos, incluindo estimu- lação ao crescimento da mucosa, enzimas da borda em escova e síntese de DNA intestinal, aumento do tamanho das vilosidades intestinais e au- mento na captação de glicose. O inibidor da tripsina é encontrado no co- lostro em concentrações quase 100 vezes maior que no leite e serve para proteger as imunoglobulinas e outras proteínas da degradação proteolítica no intestino; • componentes bioativos como a lactoferrina, lisozima e a lactoperoxi- dase:apresentam atividade antimicrobiana. 36 9. A falta de volume de colostro ou a falta de qualidade pode ser ame- nizada com algum manejo ou protocolo? Não existe manejo que consegue substituir o papel do colostro para os recém-nascidos. A fazenda tem que estar preparada para esses casos, com armazenamento de colostro excedente de alta qualidade (banco de colostro) ou substituto de colostro (colostro em pó) para serem usados estrategica- mente, quando necessário. 10. Existe diferença entre raças na habilidade de absorção de imuno- globulinas e de produção de colostro? Não, desde que estejamos falando de animais com o mesmo vigor e pro- venientes de partos não auxiliados. A �siologia dos animais de diferentes ra- ças leiteiras é muito parecida e o que deve afetar a absorção de forma mais efetiva é o tempo para o fornecimento. Assim, animais das diversas raças leiteiras devem ser colostrados da mesma forma, com colostro em quanti- dade e qualidade imunológica e sanitária adequadas, o mais rápido possível. 11. Qualidade do colostro de novilhas, em termos gerais, é inferior ao de vacas. Mito ou verdade? Verdade. De forma geral, novilhas apresentam colostro com menor quantidade e variedade de anticorpos, uma vez que foram expostas a menor quantidade de patógenos durante a sua vida. Alguns autores citam ainda que o mecanismo de transferência de imunoglobulinas circulantes para o colostro pode ser menos desenvolvido em animais mais jovens ou de pri- meira cria. No entanto, quando se tem um programa adequado de vacina- ção no pré-parto, com aplicação estratégica de vacinas contra os principais patógenos que acometem os bezerros, essa diferença diminui e o colostro de vacas e novilhas acaba sendo bem semelhante. Antes de tirar qualquer conclusão, avalie a qualidade do colostro através de refratômetro de Brix. 12. Qual o papel da imunidade celular nos recém-nascidos? O colostro bovino contém 1 x 106 células/ml de leucócitos maternos ati- vos, incluindo macrófagos, linfócitos T e B e neutró�los. Pelo menos parte dos leucócitos colostrais é absorvida intacta pelo epitélio intestinal. Após a entrada na circulação neonatal, os leucócitos maternos vão para os tecidos linfoides e não linfoides, desaparecendo da circulação entre 24 e 36 horas após a ingestão do colostro. Pesquisas sugerem que os leucócitos aumen- Capítulo 02: Colostragem 37 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA tam a resposta linfocitária a agentes mitogênicos inespecí�cos, aumentam a fagocitose e a capacidade de matar bactérias e estimulam respostas imunes humorais (formação de anticorpos). 13. No refratômetro do tipo Brix, qual o valor ideal para certi�carmos boa colostragem? Para avaliação com refratômetro do tipo Brix, a tabela de avaliação do colostro é: 14. Colostro de vaca Jersey possui ponto de corte Brix diferente do de vacas Holandês? Até 2019, os trabalhos indicavam que para a raça Jersey, colostro com valores de Brix maior ou igual a 18% era considerado de boa qualidade. No entanto, atualmente, independente da raça, devemos considerar como colostro de excelente qualidade aqueles com valores maiores ou iguais a 25% de Brix. 15. Em caso de partos noturnos e sem observação, o fornecimento de colostro fresco com maior percentual de Brix, enriquecido com colos- tro em pó, e na quantidade de 10% do peso corporal ao nascimento para animais com 10 horas de vida seria su�ciente? O ideal seria esse animal receber o colostro o mais rápido possível após o nascimento, pois, além do fornecimento de anticorpos para proteção do recém-nascido, o colostro irá fornecer vários outros nutrientes, como a gor- dura, que será importante para a regulação térmica e nutrição do animal. Um grande problema dos partos noturnos é a permanência do bezerro com a mãe, uma vez que as maternidades são muito contaminadas. Outra fonte de contaminação é o bezerro tentar mamar na própria mãe. O mais reco- mendado é retirar o recém-nascido da maternidade o mais rápido possível Brix (%) Qualidade < 18% Baixa qualidade 18-22% Média qualidade 22-24% Boa qualidade ≥ 25% Excelente qualidade 38 e fornecer colostro com excelente qualidade (Brix ≥ 25%), tentando, assim, compensar o tempo após o nascimento com o fornecimento de maior dose de anticorpos, garantindo a transferência de imunidade. Por questão de logística, para partos que ocorrem à noite, uma opção é utilizar substitutos de colostro (colostro em pó) ou banco de colostro para a primeira mamada. E, no dia seguinte, ordenhar a vaca e complementar o restante de colostro dentro das seis às 12 horas de vida. 16. O enriquecimento do colostro fresco com o colostro em pó, para maiores valores de Brix, permite a redução na quantidade de volume recomendada no fornecimento (10% do peso corporal ao nascimento)? O mínimo que um recém-nascido necessita de IgG são 100 g e reco- mendações mais atuais já indicam de 200 a 300 g de IgG, o mais rápido possível, após o nascimento. Considerando 1 l de colostro com Brix de 22%, temos 50 g por l de IgG, de forma que o fornecimento de 4 l desse colostro fornece 200 g de IgG para o recém-nascido. Quando concentra- mos o colostro, adicionando-se colostro em pó, conseguimos fornecer, em 1 l de colostro, maior quantidade de IgG, o que nos permite trabalhar com volume menor, quando necessário. Este é o caso, por exemplo, de animais com baixo vigor e menor re�exo de mamada, normalmente, aqueles prove- nientes de partos auxiliados. Nesses casos, �ca mais fácil fornecer a dose de imunoglobulinas adequada em menor volume, seja por mamada voluntária ou pela utilização de sonda. É importante lembrar que, quanto mais colostro o recém-nascido receber, melhor será para ele. 17. Existe vantagem de padronizar o colostro a 30% de Brix, acres- centando-se colostro em pó? O enriquecimento do colostro fresco com a utilização de colostro em pó é uma opção para padronização da qualidade imunológica e nutricional na colostragem dos recém-nascidos. Para aumentar 1 ponto percentual no valor percentual de Brix do colostro, deve-se adicionar 15 gramas de colos- tro em pó (SCCL®) para cada 1 litro de colostro fresco. A escolha do valor Brix adotado pela fazenda irá depender dos desa�os sanitários enfrentados pelos recém-nascidos, com valor mínimo recomendado de 25% de Brix. Porém, quanto maior o teor Brix do colostro, mais anticorpos e nutrientes serão fornecidos. Capítulo 02: Colostragem 39 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 18. Realizo manejo de enriquecimento do colostro fresco, com adição de colostro em pó, para 24% Brix. Para bezerros nascidos à noite ou de madrugada e que só serão colostrados no outro dia de manhã, o aumento da correção para 30% Brix cobre, em parte, a menor absor- ção de IgG pelos bezerros? O fornecimento de colostro com maior quantidade de anticorpos será uma tentativa de compensar as falhas de colostragem devido aos partos noturnos. No entanto, não há ainda pesquisas que comprovam que irá re- sultar na absorção de mais anticorpos, diminuindo as chances de falhas na transferência de imunidade passiva. Porém, o fornecimento desse colostro com mais anticorpos irá proteger melhor o trato digestivo dos animais. 19. O fornecimento de apenas 1 pacote de colostro em pó garante boa colostragem quando fornecido em até duas horas de vida? O fornecimento de 1 pacote de colostro em pó (SCCL®), com 100 g de imunoglobulinas, irá fornecer o mínimo de que um bezerro recém-nascido necessita para correta colostragem. Quando o produto é utilizado, seguindo as recomendações de rótulo e é fornecido o mais rápido possível, ele irá ga- rantir adequada transferência de imunidade passiva. No entanto, as novas recomendações de colostragem apontam para maior consumo de imuno- globulinas como estratégia para diminuir a taxa de morbidade do bezerrei- ro, de forma que 1,5 a dois pacotes de colostro em pó seriam necessários. 20. Qual a diferença entre os substitutos e os suplementos de colostro? Suplementose substitutos de colostro são produtos com composição diferente e, por isso, têm recomendação de uso também diferente. • Os suplementos têm, em sua composição, menos que 100 g de imuno- globulinas e não trazem consigo todos os nutrientes presentes no colostro materno. Assim, sua recomendação de uso é de fornecimento em conjunto com colostro materno de média ou baixa qualidade, de forma a garantir a dose mínima de IgG consumido pelo recém-nascido. Dessa forma, o suple- mento de colostro funciona somente corrigindo a concentração de IgG no colostro materno, o qual deve estar disponível na propriedade; • os substitutos, além de fornecer, no mínimo, 100 g de IgG por dose, têm, em sua composição, todos os nutrientes e fatores de crescimento pre- sentes no colostro materno, possibilitando, assim, o seu fornecimento ex- clusivo ou no auxílio para enriquecimento do colostro de baixa qualidade. 40 21. Qual é a temperatura ideal para descongelamento do colostro? O colostro deve ser descongelado lentamente à temperatura de, no má- ximo, 55°C. Temperaturas superiores podem desnaturar proteínas, como as imunoglobulinas, fazendo com que percam sua função biológica. 22. Qual é a temperatura ideal, após o descongelamento do colostro, de fornecimento para os bezerros? O ideal é fornecer o colostro na temperatura próxima à temperatura corporal do animal, por volta de 38 a 39°C. 23. Existe tempo de duração para o colostro permanecer congelado? Desde que o freezer não sofra ciclos de congelamento e descongelamen- to, o colostro pode �car armazenado por até 1 ano. 24. Qual a melhor estratégia para trabalhar com colostro refrigerado? A melhor estratégia é avaliar a real necessidade de fornecimento nas pró- ximas horas para que se tome a decisão entre refrigerar em vez de congelar. Caso seja uma época com vários nascimentos, refrigerar pode ser uma boa opção, pois logo esse será fornecido ao recém-nascido. A vantagem é que pode ser preparado mais rapidamente para o fornecimento, já que não está congelado, o que bene�cia o processo, pois o bezerro vai receber o colostro mais rapidamente, quando a sua e�ciência de absorção é maior. 25. Quanto tempo um colostro fresco pode ser guardado na geladei- ra, de forma refrigerada, antes de ser fornecido aos bezerros? A conservação de colostro excedente de boa qualidade pode ser feita em geladeira por até, aproximadamente, dois dias, sem que haja redução na sua qualidade. No entanto, essa conservação depende fortemente da qua- lidade microbiológica inicial do colostro, a qual é determinada pela saúde da vaca, limpeza de equipamentos de ordenha, limpeza de baldes ou con- têineres para armazenamento do colostro e limpeza da geladeira, além do tempo entre sua obtenção e a refrigeração. Capítulo 02: Colostragem 41 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 26. Colostro que sobra do primeiro fornecimento posso colocar na geladeira para segunda mamada, que será realizada após umas três horas? Caso o animal não tenha consumido todo o volume necessário para adequada transferência de imunidade passiva (10% do peso corporal ao nascimento) na primeira mamada, o recomendando é que um colabora- dor, devidamente treinado, faça o fornecimento forçado através da sonda. 27. Por que o processo de pasteurização do colostro não gera perda dos anticorpos? Como ocorre esse processo? As imunoglobulinas só são desnaturadas se a temperatura de pasteu- rização exceder 61°C, o que não ocorre se seguirmos rigorosamente a temperatura recomendada para pasteurização que é de 60°C por 30 ou 60 minutos. Dessa forma, nessa temperatura, muitas bactérias e vírus são inativados, mas as imunoglobulinas não. 28. É indicado pasteurizar o colostro da fazenda? Se sim, qual a temperatura e o tempo mais indicados? Sim, se a fazenda está dentro de um plano para eliminar, por exemplo, Mycoplasma sp. do rebanho. A pasteurização deve ocorrer a 60°C por 30 ou 60 minutos. 29. Qual a melhor maneira de administrar o colostro para os recém- -nascidos? Sonda ou mamadeira? O fornecimento através de mamadeira é preferível, pois faz com que o colostro alcance o intestino, local onde ocorrerá a absorção de anticor- pos, mais rapidamente. Além disso, o ato de mamar auxilia no início de outros processos �siológicos do recém-nascido. No entanto, nem todos os bezerros apresentam re�exo de mamada ao nascimento e, como o forne- cimento de colostro deve ser feito o mais rápido possível, o uso da sonda acaba sendo necessário. 42 30. Como são absorvidas as imunoglobulinas e como o estresse caló- rico sofrido pela mãe interfere nessa absorção? As células do intestino do recém-nascido (enterócitos neonatais) permi- tem a passagem de grandes moléculas, como as imunoglobulinas, de for- ma intacta e não seletiva. Em seguida, as moléculas de imunoglobulinas são transportadas pela célula e liberadas nos vasos linfáticos por exocitose, entrando no sistema circulatório pelo duto torácico. Ainda não é possível explicar os mecanismos que levam à interferência na absorção de imuno- globulinas em bezerros que passaram por estresse térmico uterino. Pesqui- sadores hipotetizam que talvez a interferência seja devido à menor capaci- dade de absorção desses animais e/ou em decorrência de menor superfície de contato do intestino, uma vez que os animais nascem mais leves. 31. Estamos tendo di�culdade para coletar o sangue dos bezerros para fazermos a avaliação da e�ciência de colostragem. Que lugar no animal é mais fácil para realizarmos essa coleta? Na veia jugular. Veri�que se a di�culdade não está associada ao fato de os animais estarem desidratados no momento da coleta. O uso de tubos próprios para a coleta de sangue, em vez de seringas, também pode fa- cilitar. 32. Qual a melhor ferramenta a campo para avaliar a e�ciência de colostragem dos bezerros? A e�ciência de colostragem pode ser feita de maneira bem simples e com baixo custo através da leitura do soro do bezerro em refratômetro do tipo Brix. O sangue deve ser coletado entre 1 e sete dias de vida do bezerro e a leitura realizada após o sangue dessorar. 33. O refratômetro de proteína sérica é melhor do que o de Brix para avaliar a e�ciência de colostragem dos bezerros? Os dois refratômetros estão validados para essa função e podem ser utilizados de acordo com a conveniência da fazenda. No entanto, é impor- tante �car atento tanto às diferenças na calibração, quanto ao valor alvo a ser obtido para considerar a transferência de imunidade passiva como boa ou excelente. Capítulo 02: Colostragem 43 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 34. A avaliação da e�ciência da colostragem no refratômetro óptico de tipo Brix é a mesma do refratômetro digital de tipo Brix? Sim, os equipamentos medem, essencialmente, a mesma coisa. No en- tanto, em muitas ocasiões, a leitura exata no refratômetro óptico é mais di- fícil e, nesse caso, temos vantagens com a utilização do refratômetro digital, pois o valor é exibido na tela, facilitando a leitura. 35. Quantos dias, após o nascimento, devemos coletar o sangue para avaliarmos a colostragem dos bezerros? O sangue pode ser coletado entre 24 e 48 horas após o fornecimento do colostro, e até sete dias de vida. Este é um tempo hábil para se realizar a coleta de sangue para avaliação da e�ciência de colostragem. É importante que a fazenda coloque essa prática na rotina. 36. Quais as recomendações atuais de avaliação da e�ciência de co- lostragem? Para avaliação da e�ciência de colostragem, devemos seguir a seguinte tabela: 37. Quando utilizamos somente colostro em pó, observamos proteína sérica com valores menores. Por que isso ocorre? Isso ocorre devido a diferenças na composição do colostro em pó e do colostro fresco. A concentração de proteína sérica depende da quantidade de colostro ingerida e ingestão das outras proteínas presentes no colos- tro, além das imunoglobulinas. Além disso, refratômetros de avaliação de proteína sérica ou de Brix possuempequena correlação para avaliação da e�ciência de colostragem de bezerros que receberam somente substituto de colostro, não sendo ferramentas indicadas para avaliação nesses animais. Deverão ser avaliados, no mínimo, 20% dos animais. Categoria Proteína sérica(g/dL) Brix sérico (%) Percentual de bezerros em cada categoria Excelente ≥ 6,2 ≥ 9,4 > 40% Boa 5,8 a 6,1 8,9 a 9,3 ~ 30% Aceitável 5,1 a 5,7 8,1 a 8,8 ~ 20% Ruim < 5,1 < 8,1 < 10% 44 38. Sabemos que, quando fornecemos o colostro em pó para os be- zerros, o resultado no refratômetro �ca comprometido. Existe outra forma de averiguarmos o sucesso da colostragem com o uso do co- lostro em pó? Atualmente, sabemos que o uso do refratômetro de proteína total sérica não é acurado para determinar a falha ou o sucesso na transferência de imunidade passiva quando usamos colostro em pó. Ainda não temos cer- teza se o refratômetro Brix tem melhor acurácia. Até o momento, o único teste com acurácia é a imunodifusão radial; no entanto, esse teste é realiza- do mais, comumente, em laboratório, principalmente, pelo custo dos kits, o que di�culta a avaliação a campo. 39. Se, após o exame de sangue, o diagnóstico foi de falha na trans- ferência de imunidade passiva, o que pode ser feito para diminuir os efeitos de má colostragem? Infelizmente, esse diagnóstico é feito após o período de absorção de anticorpos pelo recém-nascido, de forma que não é possível corrigir a falha para esse animal, a não ser melhorando sua alimentação e redu- zindo toda e qualquer fonte de estresse ambiental, sanitário e alimentar. Se a avaliação for realizada com 24 horas após o nascimento, agir da seguinte forma: • fornecer leite de transição; • realizar, da melhor forma possível, a cura do umbigo; • manter o animal em ambiente limpo e seco, com cama de palha ou feno, nos momentos de baixas temperaturas; • alimentar o animal com, pelo menos, 6 l de leite; • observar o animal, frequentemente, para diagnóstico e tratamento de qualquer enfermidade o mais rápido possível. Por outro lado, o diagnóstico de falha na transferência de imunidade passiva auxilia na melhoria dos protocolos de colostragem. Os problemas podem estar associados, desde o volume inadequado de fornecimento até o descongelamento em temperaturas muito altas. Um exemplo co- mum é uma sequência de seis dias de nascimento com todos os animais sem falha de transferência de imunidade passiva e um dia com todos os bezerros com baixos valores de proteína ou brix sérico, sugerindo que o folguista possa estar com problemas na realização da colostragem e deverá ser treinado. Capítulo 02: Colostragem 45 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Capítulo 03 CURA DE UMBIGO 46 José Azael Zambrano - Rehagro Polyana Pizzi Rotta - Universidade Federal de Viçosa Rafael Alves de Azevedo - Alta Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais Capítulo 03: Cura de umbigo 47 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 1. Qual o melhor recipiente para realizar a cura do coto umbilical? O mais recomendado é a utilização de aplicador dipping, sem retorno. 2. Quantas vezes se deve realizar a cura do cordão umbilical do re- cém-nascido? Esse manejo deve ser colocado na rotina da fazenda, devendo ser rea- lizado pelo menos duas vezes ao dia, até o momento de secagem e queda do cordão umbilical. 3. Qual a diluição recomendada da tintura de iodo para a correta cura do cordão umbilical? Mesmo que não seja encontrada no mercado, a recomendação é que seja feita diluição da tintura de iodo a 7%. Concentrações acima dessas podem provocar queimaduras na pele do animal e do tratador, em casos de acidentes. De qualquer modo, recomenda-se o uso de luvas para a realiza- ção da prática. 4. Qual a fórmula para se passar para o laboratório para ser pro- duzido a tintura de iodo a 7%, para a cura do cordão umbilical dos recém-nascidos? Item Quantidade Iodo metálico 52,5 g Iodeto de potássio 17,5 g Água destilada 70 ml Álcool a 96% Quantidade su�ciente para completar até chegar 1 l de solução total 48 Capítulo 03: Cura de umbigo 5. Como avaliar a qualidade do iodo usado para a cura do cordão um- bilical? Trabalhos cientí�cos mostram métodos de se comparar a qualidade de produtos para cura do cordão umbilical; porém, na maioria das vezes, são métodos utilizados em pesquisa e que não são facilmente aplicáveis em rotina de fazenda. Como, por exemplo, temos a medição do diâmetro do cordão umbilical, número de imersões necessárias, tempo até a cura completa do umbigo, quantidade de imersões até secar, entre outros. Além disso, a base para os produtos, na maioria das vezes, é o iodo, o qual, de acordo com a RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA – RDC N°107, DE 5 DE SE- TEMBRO DE 2016 da ANVISA, encaixa-se na LISTA DE MEDICAMENTOS DE BAIXO RISCO SUJEITOS À NOTIFICAÇÃO SIMPLIFICADA, fato que isenta as empresas fabricantes de registrarem o produto, fazendo com que tal produto não passe por �scalização. Isso abre várias brechas para o surgi- mento de soluções de baixa qualidade para a cura do cordão umbilical. Sendo assim, a identi�cação de melhores alternativas �ca di�cultada. Vale ressaltar que produtos mais baratos e de empresas não con�áveis, em certos casos, devem ser evitados, visto que a e�cácia dos mesmos não é comprovada. 6. Quais fatores podem inativar a e�ciência da tintura de iodo enquanto armazenada? Apesar de não haver estudos cientí�cos avaliando os fatores que inter- ferem na e�ciência da tintura de iodo, experiências práticas indicam que a exposição ao sol e o contato com a matéria orgânica diminuem a qualidade da tintura de iodo, necessitando de um tempo maior de cura e, muitas vezes, o produto não é e�caz. Dessa forma, recomenda-se o armazenamento do produto em local onde não haja incidência solar e uso de copo sem retorno para que, ao entrar em contato com o cordão umbilical, a matéria orgânica contida nele não contamine o produto como um todo. 7. Existe algum produto comprovado que possa substituir a tintura de iodo para a cura do cordão umbilical? Alguns trabalhos demonstram que a nisina seca, clorexidina (0,5% a 3%), cloro e o citrato trissódico podem ser alternativas e�cazes para substituição do iodo na cura do cordão umbilical de bezerros. Porém, alguns desses pro- dutos não se encontram no mercado brasileiro, di�cultando o acesso aos pro- dutores. Por outro lado, outros produtos estão disponíveis, mas os seus custos acabam não sendo vantajosos quando comparamos com a tintura de iodo. 49 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 8. Quais são os indicadores de referência para avaliar se o processo de cura do cordão umbilical está adequado? A palpação do umbigo externo, interno e as suas estruturas internas (veia, artérias e úraco) é uma forma de avaliação. Para isso, devemos esta- belecer avaliação prática de escore nas fazendas, da seguinte forma: 9. Quantos dias, após o nascimento, devo fazer a avaliação do es- core umbilical? O ideal é realizar a avaliação do umbigo na segunda semana de vida do bezerro como rotina, podendo ser de�nido um dia �xo na semana para essa avaliação. Se o objetivo é realizar diagnóstico na fazenda (esporádi- co), o ideal é avaliar animais com mais de duas semanas de vida até 30 dias de vida. Quanto mais velho for o animal, mais difícil será a avaliação, pois o abdômen do animal �ca mais tenso e di�culta a correta palpação. 10. Quais estruturas devem ser palpadas na avaliação do umbigo e o que esperar de um bezerro com o cordão umbilical bem curado? • Umbigo externo: deve estar seco, sem secreção e sem dor à palpa- ção; • umbigo interno, úraco e veia umbilical: ausência de dor à palpação. Quando manipulado, não deve �uir secreção pelo orifício do umbigo ex- terno; • artéria umbilical: na maioria das vezes, não é palpável. Quando é possível a palpação, é muito provável que o animal apresente alguma alteração(in�amação e/ou infecção). Escore Descrição 0 Umbigo normal (ausência de dor à palpação, sem secreção purulenta) 1 Umbigo in�amado (presença de dor à palpação, secreção purulenta) 2 Umbigo muito in�amado (presença de dor à palpação, secreção purulenta e miíases) 3 Hérnia (importante descrever o tamanho) 50 Capítulo 03: Cura de umbigo 11. Quando intervir nos casos de alguma sequela de infecção umbilical? Assim que identi�car alguma alteração, seja in�amação ou infecção (se- creção purulenta), deve ser utilizado o protocolo para tratamento, com an- tibióticos e anti-in�amatórios especí�cos. 12. Qual a base de antibiótico mais indicada para o tratamento de animais que apresentam infecção umbilical? A penicilina é utilizada com mais frequência, juntamente com anti-in�a- matório não-esteroidal (AINES), como o Flunixin meglumine ou Meloxicam. Recomendações de literatura são: • Penicilina G Procaína - Dose: 22.000 UI/kg - Via: Intramuscular - Frequência: Duas vezes por dia, durante cinco dias • Ceftiofur - Dose: 2 mg/kg - Via: Intramuscular - Frequência: Duas vezes por dia, durante cinco dias 13. Caso os animais de fertilização in vitro (FIV) possuam algumas anomalias de umbigo, di�cultando a cura do mesmo por completo, faz-se necessário algum procedimento especial nessas condições? Não seriam necessários procedimentos especiais, apenas aumentar a frequência da cura de umbigo e garantir que o local em que o bezerro per- manece esteja sempre seco. 14. Quais os critérios para abordagens conservativas ou cirúrgicas em casos de hérnias umbilicais? Para se de�nir qual a melhor abordagem no caso de hérnias umbilicais, alguns pontos devem ser avaliados: • tamanho do anel umbilical: O anel umbilical com diâmetro inferior a cinco cm, usualmente, tende a regredir sem necessidade de intervenção cirúrgica; • idade do bezerro: animais até 60 dias de vida podem ter regressão do anel umbilical, não sendo necessário abordagem cirúrgica; • presença de infecção: bezerros que possuem infecção umbilical e hér- nia precisam de intervenção cirúrgica para redução da hérnia; • tipo da hérnia: hérnias que não são redutíveis estão associadas a ade- 51 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA rências e/ou infecções, fazendo-se necessária a abordagem cirúrgica. Por exemplo, bezerro de 10 dias de vida com hérnia umbilical, cujo anel possui três dedos (cinco cm) de diâmetro, não possui infecção umbilical e é com- pletamente redutível. Deve-se proceder à abordagem conservadora. É preciso lembrar que as hérnias têm caráter hereditário, sendo necessá- rio investigar se a ocorrência não está ligada ao touro utilizado no rebanho. 15. Quais doenças podem ocorrer em consequência da infecção um- bilical nos bezerros? As infecções umbilicais ocorrem, essencialmente, devido a falhas na cura do umbigo e/ou alto desa�o do ambiente onde os animais permanecem e podem predispor à ocorrência de: • hérnias umbilicais; • abscessos hepáticos; • poliartrite; • doenças respiratórias; • endocardite; • encefalite; • cistite; • nefrite; • sepse. 16. Realizo a cura do cordão umbilical com tintura de iodo a 10%, 1 vez ao dia, por cinco dias e, mesmo assim, estamos veri�cando altas taxas de onfalite. Quais providências devo tomar? Veri�que se o ambiente no qual os animais são mantidos enquanto a cura de umbigo está sendo feita encontra-se seco; certi�que-se da qualidade do produto que está sendo utilizado e de seu armazenamento (em embalagens escuras e na ausência de incidência solar direta); aumente a frequência de cura para duas vezes ao dia até que o coto umbilical caia e certi�que-se de que a cura está sendo feita de forma correta (cobrindo todo o coto umbilical). 17. Todas as doenças causadas pela má cura do cordão umbilical po- dem ser evitadas pela cura com tintura de iodo? Não. Todas as doenças associadas à cura inadequada do umbigo podem ter outras causas, como hereditariedade, nos casos de hérnia umbilical e ou- tras fontes de infecção para doenças como abscessos hepáticos, poliartrite, doenças respiratórias, endocardite, encefalite, cistite, nefrite e sepse. 52 18. Tem como montar protocolo de cura do cordão umbilical para facilitar o trabalho no dia a dia e padronizar esse manejo? Sim. O protocolo de cura do cordão umbilical deve ser colocado na roti- na, com utilização de tintura de iodo a 7%, devendo ser realizada todos os dias, duas vezes ao dia, até o coto umbilical do animal secar e cair. 19. Existe algum estudo correlacionando e�ciência de colostragem com problemas umbilicais? Existe e, embora pareça contraditório, não encontraram relação entre a e�ciência na colostragem e afecções umbilicais. Em alguns estudos, o número de animais avaliados foi pequeno, deixando dúvidas quanto à capa- cidade de detecção dessa correlação. No entanto, outros estudos com até 500 animais também não foram capazes de detectar essa correlação. Esses estudos se basearam em banco de dados e parece que os quadros de sepse foram subnoti�cados, o que pode justi�car a falha em detectar essa corre- lação. Na prática, o que vemos no campo é que animais que têm falha na transferência de imunidade passiva e na cura de umbigo, frequentemente, apresentam sepse e morrem. 20. Quando devo realizar o corte do cordão umbilical do bezerro? O corte do coto umbilical dos bezerros é indicado somente nos casos em que o umbigo está muito grande e quase tocando o chão. Quando ocorre isso, a indicação é realizar o corte, com tesoura “cega” e desinfetada com álcool, deixando o tamanho de 10 cm de coto umbilical. Capítulo 03: Cura de umbigo 53 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA Capítulo 04 DIETA LÍQUIDA 54 José Eduardo Portela Santos - University of Florida João Henrique Cardoso Costa - University of Kentucky Lívia Carolina M. Silva Antunes - Faculdades Associadas de Uberaba Rafael Alves de Azevedo - Alta Rodrigo Melo Meneses - Universidade Federal de Minas Gerais Sandra Gesteira Coelho - Universidade Federal de Minas Gerais Capítulo 04: Dieta líquida 55 Perguntas e Respostas - Alta CRIA Alta CRIA 1. Qual a importância de se fornecer o leite de transição para os bezerros? O leite de transição tem maior concentração de proteínas, gordura, minerais, vitaminas, hormônios, oligossacarídeos e fatores de crescimento que o leite, sendo importante para o estabelecimento da microbiota intes- tinal, desenvolvimento intestinal, proteção contra patógenos entéricos e a transição gradual para digestão de menores quantidades de proteína e gordura e maior quantidade de lactose. 2. Qual a quantidade e por quanto tempo devo fornecer o leite de transição para os bezerros? O ideal é que seja fornecido entre 3 e 5 dias, e o volume oferecido deve ser, no mínimo, 5 l por animal ao dia. 3. Na falta do leite de transição das vacas, o que posso fazer para tentar simular o leite de transição na minha fazenda? Quando a fazenda não consegue ordenhar ou colocar na rotina o for- necimento do leite de transição das vacas, existem duas opções para si- mular o leite de transição. Uma delas é fornecer a dieta líquida (leite ou sucedâneo) misturada com 70 g de colostro em pó (SCCL®), em cada aleitamento, até o quarto dia de vida. A outra opção é diluir 0,5 l de co- lostro de qualidade, em 2 l e meio de dieta líquida (leite ou sucedâneo), até o quarto dia de vida. 4. Aumentar o volume de dieta líquida, nos primeiros 30 dias de vida, irá ajudar no desempenho e desenvolvimento dos bezerros? Sim. Experimentos cientí�cos em que foi testado o aumento do volu- me de leite, de quatro contra seis ou mais litros de dieta líquida, mostram aumento nas taxas de ganho de peso dos animais. 5. Qual o melhor programa de aleitamento (quantidade e duração) para bezerros, considerando a relação custo/benefício? Bezerros necessitam de dieta líquida para crescimento adequado du- rante as primeiras seis a oito semanas de vida. De maneira geral, a in- gestão de dieta líquida (lactose,