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Insuficiência Adrenal Primária Introdução Definição ● A insuficiência adrenal (IA) é um distúrbio endócrino caracterizado pela hipofunção adrenal, levando à produção inadequada de glicocorticoides, principalmente o cortisol.¹ ● A IA pode ser primária, secundária ou terciária, dependendo da etiologia subjacente → a produção de mineralocorticóides e andrógenos adrenais também pode ser afetada.¹ (Figura extraída da referência 1) ● Insuficiência adrenal primária (PAI): resulta da falha direta da glândula adrenal causada pela destruição ou dano às glândulas adrenais (ex.: doença de Addison, tuberculose, HIV).¹ ● Insuficiência adrenal secundária (SAI): decorre de doenças da hipófise ou do hipotálamo (ex.: tumores, hipofisite ou infiltração granulomatosa).¹ ● Insuficiência adrenal terciária (IATF): é causada por anormalidades ou disfunção hipotalâmica → redução da secreção do hormônio liberador de corticotropina (CRH) (ex.: uso exógeno prolongado de glicocorticoides).¹ (Figura extraída da referência 1) Medicina 8º semestre Epidemiologia e Etiologia ● Rara → prevalência de 10 a 20 pessoas/100.000 habitantes.¹ ● Mais proeminente emmulheres do que em homens, proporção de 2,6:1.1,2 ● Pico de incidência na terceira década de vida.¹ ● Maior frequência em indivíduos com doenças autoimunes (ex.: DM1).¹ ● Doença de Addison → 90% dos casos não congênitos em países industrializados.¹ ○ Prevalência está aumentando.¹ ○ Geralmente se manifesta entre 20 e 50 anos de idade.¹ ○ Fisiopatologia: ■ Autoanticorpos para a 21-hidroxilase.¹ ■ T circulantes CD4+ e CD8+ com autorreatividade contra 21-hidroxilase.¹ ■ 97% do risco de doença → fatores genéticos.¹ (Figura extraída da referência 3) (Figura extraída da referência 1) ○ Comorbidades: ■ Em mais de ⅔ dos casos, a doença de Addison ocorre em associação com outras doenças autoimunes, como a síndrome poliglandular autoimune (SPA tipos 1 e 2).¹ ■ Doença autoimune da tireoide (40% dos pacientes), insuficiência ovariana prematura (5–16%), diabetes mellitus tipo 1 (11%), anemia perniciosa (10%), vitiligo (6%) e doença celíaca doença (2%).¹ (Figura extraída da referência 3) 2 Medicina 8º semestre ● Infecções → causa predominante em regiões com alta prevalência de tuberculose, infecção por HIV e infecções oportunistas, como citomegalovírus.¹ ○ No Brasil: paracoccidioidomicose é relevante (homens com mais de 30 anos de idade, habitantes de áreas rurais). ○ Nos EUA: histoplasmose, blastomicose norte-americana, a coccidioidomicose e a criptococose.² ○ HIV: acometimento por infecções oportunistas, fármacos e lesões metastáticas (linfoma, Sarcoma de Kaposi).² ● Hemorragias: ○ Síndrome de Waterhouse-Friderichsen → choque séptico causado por infecção por meningococo.² ○ Sepse por outros patógenos.² ○ SAAF → tromboses arteriais e venosas.² ○ Traumatismo ao nascimento.² ● Outras causas: metástases adrenais bilaterais, distúrbios infiltrativos, lúpus, pan-arterite nodosa, amiloidose, hemocromatose, sarcoidose, síndrome de Cushing materna (no neonato).¹,2 ● Causas genéticas: ○ Hiperplasia adrenal congênita: é causada pela deficiência da enzima esteroidogênica 21-hidroxilase.¹ ■ É a forma hereditária mais comum de PAI.¹ ■ É um distúrbio autossômico recessivo.¹ ■ Prevalência de 0,5 a 1 pessoa por 10.000 habitantes.¹ ○ Adrenoleucodistrofia (ALD): ■ Doença recessiva ligada ao X.² ■ Incidência estimada de 1:14.700 nascimentos vivos.² ■ Acúmulo de proteína anormal no cérebro, no córtex adrenal, nos testículos, no fígado e no plasma.² ○ Hipoplasia adrenal congênita: ■ Distúrbio familiar raro (incidência de cerca de 1:12.500 nascimentos).² ■ Hipodesenvolvimento do córtex adrenal.² ■ Pode ser esporádica, autossômica recessiva ou ligada ao cromossomo X.² ○ Síndromes de resistência ao ACTH: deficiência familiar de glicocorticoides (DFG) e a síndrome de Allgrove.² 3 Medicina 8º semestre (Tabela extraída da referência 1) ● Crise adrenal: ○ Incidência de 5–10 eventos por 100 pacientes-ano (naqueles com IA conhecida).¹ ○ Mortalidade: 0,5 por 100 pacientes-ano.¹ ○ A mortalidade por emergências adrenais é rara (<1%) após internação hospitalar.¹ ○ Risco maior de morte em pacientes mais jovens (< 40 anos).¹ ○ Fatores de risco: ■ Crises anteriores.¹ ■ > 65 anos ou jovens (adolescentes, início da vida adulta).¹ ■ Comorbidades (DM, diabetes insipidus).¹ ■ Início do tratamento com l-tiroxina e o início do hipertireoidismo devido à doença de Graves.¹ ■ Tratamento com medicamentos que reduzem a produção de cortisol (por exemplo, inibidores da esteroidogênese) ou aumentam a depuração metabólica do cortisol (por exemplo, compostos que induzem o CYP3A4).¹ ○ Fatores precipitantes: ■ Sepse.¹ ■ Gastroenterite (diminuição da absorção VO de corticoides).¹ ■ Estresse psicológico severo (ex.: luto).¹ Fisiologia adrenal ● Glândulas adrenais possuem dois componentes: ○ Córtex: ■ Local de produção dos esteroides adrenais: os glicocorticoides, os mineralocorticoides e os androgênios.² 4 Medicina 8º semestre ■ Responde por cerca de 90% do peso das adrenais.² ■ Possui três zonas: - Zona glomerulosa: única fonte do mineralocorticoide aldosterona. - Zona fasciculada: produz os glicocorticoides (cortisol e corticosterona) e os androgênios (deidroepiandrosterona [DHEA], sulfato de DHEA e androstenediona).² - Zona reticular: também produz glicocorticoides e androgênios.² ○ Medula: ■ Local de produção das catecolaminas.² ● Eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal: ○ O hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) é produzido pela hipófise anterior e estimula a síntese dos glicocorticoides e androgênios adrenais.² ○ A secreção de ACTH é regulada pelo hormônio liberador da corticotrofina (CRH), produzido pelo hipotálamo.² ○ O cortisol e o ACTH inibem a biossíntese e a secreção de CRH e de ACTH (feedback negativo). ² ● A secreção de catecolaminas é regulada pelo sistema nervoso simpático e é também estimulada pelo cortisol.² ● Aldosterona: ○ A síntese da aldosterona (principal mineralocorticoide) é regulada pelo SRAA e pelos níveis séricos de potássio (K+), com efeito mínimo do ACTH.² ↓ Na deficiência de ACTH (IA secundária), a secreção de aldosterona encontra-se normal.² ○ A secreção de aldosterona aumenta em resposta a ↓ na PA e no volume sanguíneo e pelo ↑ K+.² ○ A aldosterona leva à retenção de Na+, ↑ moderado da secreção de hidrogênio (H+) e ↑ da excreção de K+.² (Figura extraída da referência 2) 5 Medicina 8º semestre Quadro Clínico e Diagnóstico IA Crônica ● As manifestações clínicas da IA crônica decorrem tanto da deficiência de glicocorticoides quanto de mineralocorticoides e androgênios adrenais.² Principais sintomas e sinais da insuficiência adrenal crônica Deficiência de glicocorticoides Deficiência de mineralocorticoides Deficiência de androgênios adrenais Astenia Avidez por sal Redução da libido e da pilificação axilar e pubiana (somente em mulheres) Mal-estar Hipovolemia Anorexia Hipotensão Perda de peso Hiponatremia Distúrbios gastrintestinais Hipercalemia Hipotensão Acidose metabólica leve Hipoglicemia ● Para haver manifestações, é necessário o comprometimento de pelo menos 90% do tecido adrenocortical.² ● Formas autoimunes e infiltrativas → destruição gradual e progressiva.² ● Processos hemorrágicos e septicêmicos →modo agudo, crise adrenal.² ● Principais manifestações: ○ Hiperpigmentação, astenia, fraqueza, anorexia, perda de peso, distúrbios gastrintestinais e hipotensão.³ ○ Avidez por sal e amenorreia (pela perda de peso e doença crônica, bem como de falência ovariana primária - ooforite autoimune).² ○ Sintomas psiquiátricos (síndrome cerebral orgânica, depressão ou psicose) ○ Redução da libido e da pilificação axilar e pubiana em ♀ (adrenais → principal fonte de androgênios).² ○ Vitiligo (10 a 20% dos pacientes com DA autoimune).² ○ Hipoglicemia grave (mais comum em crianças → disfunção da medula adrenal → menor síntese de epinefrina → diminuição da gliconeogênese hepática).² ○ Hiperpigmentação (conteúdo aumentado de melanina → 92a 94% dos pacientes).² 6 Medicina 8º semestre ■ Decorre do estímulo do receptor cutâneo de melanocortina (MC1R) pelos níveis elevados de ACTH e α-MSH.² ■ A hiperpigmentação tende a ser generalizada.² ■ + percebida em áreas expostas ao sol, locais mais propensos a traumatismo, fricção ou pressão.² ■ Pode ser encontrada na cavidade oral, de modo não uniforme, e na superfície interna dos lábios, mucosa bucal, língua, bordo gengival e palato.² ■ Acomete as mucosas perivaginal e perianal, bem como escurecimento de unhas e cabelos, e surgimento de sardas.² ○ Doença celíaca (15 a 22% dos pacientes → sempre pesquisar quando houver sintomas gastrintestinais).² ○ Miocardiopatia (reversível com a administração de glicocorticoides) e tamponamento cardíaco precedendo a IA.² (Figura extraída da referência 1) IA aguda/crise adrenal ● 25% dos pacientes na ocasião do diagnóstico.² ● Associação com: ○ Estresse de infecções, cirurgia ou desidratação (por privação de sal, diarreia ou vômitos).² ○ Reposição isolada de hormônios tireoidianos em indivíduos com hipotireoidismo e hipocortisolismo.² ○ Uso de inibidores da esteroidogênese adrenal (cetoconazol, mitotano, metirapona, aminoglutetimida etc.) - doses elevadas ou em pacientes com reserva funcional das adrenais reduzida.² ○ Hemorragia adrenal bilateral → crise adrenal de pior prognóstico.² 7 Medicina 8º semestre Septicemia por outras bactérias, uso de anticoagulantes, traumatismo ou cirurgia abdominal, etc.² ● Apresentação: ○ Choque ou hipotensão + sintomas inespecíficos ↓ Anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal, distensão abdominal, fraqueza, apatia, confusão mental, febre, cianose ou palidez.² ○ Pesquisar hiperpigmentação.² ○ Petéquias e equimoses → síndrome de Waterhouse-Friderichsen.² ○ Uremia, hipercalcemia (rara), hiponatremia (pode ser mascarada pela desidratação), hipercalemia (se houver hipoaldosteronismo), linfocitose, eosinofilia e hipoglicemia.² Quadro Clínico da IA Primária Sinais Sintomas Alterações laboratoriais Hipotensão e choque (> 90%) Dor abdominal, de flanco ou torácica (86%) Hiponatremia Desidratação Náuseas, vômitos, anorexia (47%) Hipercalemia Cianose ou palidez Dor abdominal, simulando abdome agudo (22%) Hipoglicemia (rara em adultos, comum em crianças) Febre (66%) Fraqueza Uremia Confusão mental, torpor Apatia Linfocitose Coma Confusão e desorientação (42%) Eosinofilia Exames laboratoriais ● Dosagem de cortisol sérico basal: ○ Deve ser o primeiro exame a ser solicitado.² ○ Coletado entre 8 e 9 h.² ○ Níveis < 5 μg/dℓ são indicativos de IA.² ○ Valores ≥ 18 μg/dℓ virtualmente excluem esse diagnóstico.² ○ Se pacientes críticos, com doença aguda grave (p. ex., sepse) → CS < 10 μg/dℓ e > 34 μg/dℓ, respectivamente, indicam e excluem o diagnóstico de hipocortisolismo.² ○ Se manifestações sugestivas de IA + níveis de CS < 3 μg/dℓ → praticamente confirmam o diagnóstico.² ○ Casos suspeitos com CS matinal > 5 e < 18 μg/dℓ → dosagem de cortisol durante o teste de estimulação rápida com o ACTH sintético ou outros testes dinâmicos.² ● Dosagem de ACTH plasmático: 8 Medicina 8º semestre ○ Se CS (< 5 μg/dℓ) + valor de ACTH plasmático > 2 vezes o limite superior da normalidade → altamente indicativo de DA.² ○ Na DA, os níveis de ACTH plasmático quase sempre excedem 100 pg/mℓ (VN: < 46 pg/mℓ).² ○ Concentração ↑ ACTH na presença de níveis normais de cortisol → primeiro sinal da fase precoce da IA primária.² ● Teste de estimulação rápida com ACTH (Cortrosina): ○ Coleta de amostra para o CS → 250 μg de um peptídeo sintético correspondente aos primeiros 24 aminoácidos do ACTH endógeno EV → dosar novamente o CS após 30 e 60 minutos.² ○ Um pico de cortisol < 18 μg/dℓ confirma o diagnóstico de IA.² ● Teste de hipoglicemia induzida por insulina ou teste da tolerância à insulina: ○ Indicado para pacientes com suspeita de IA secundária.² ○ Consiste na dosagem do CS basal 30 e 60 minutos após a administração IV de insulina regular (0,05 U/kg).² ○ Pico de CS > 18 μg/dℓ → descarta IA e baixa reserva hipofisária.² ● Teste do glucagon: ○ Caso o ITT esteja contraindicado (idosos, DCV, convulsões).² ○ Administra-se 1 mg de glucagon SC, e o cortisol é dosado com 0, 90, 120, 150, 180 e 240 minutos.² ○ Mesmos critérios esperados com o ITT.² ● Dosagem de atividade plasmática de renina e aldosterona: ○ Averiguar deficiência de mineralocorticoide (nas fases iniciais de IA primária, pode preceder a deficiência de glicocorticoide).² ○ IA primária : APR elevada + níveis séricos de aldosterona baixos ou normais. ○ IA secundária: o SRAA está íntegro.² Fluxograma de investigação diagnóstica de IA Outras alterações: 9 Medicina 8º semestre ○ Mais comuns: hiponatremia e hipercalemia (por deficiência mineralocorticoide), uremia (secundária à depleção de volumétrica e à desidratação).² ○ Hipoglicemia de jejum e, raramente, hipoglicemia pós-prandial, hipercalcemia, ↑ transaminases, hipomagnesemia.² ○ Anemia (normocítica e normocrômica), eosinofilia.² ○ Macrocitose → DA + anemia perniciosa.² ○ Neutropenia e linfocitose relativa.² ○ ↑ TSH sérico e hiperprolactinemia (moderada) → reversíveis com a corticoterapia.² ○ ↓ sulfato de DHEA.² Ob�.: IA secundária → não ocorre hipercalemia (manutenção da integridade do SRAA), mas, pode haver hiponatremia.² Investigação etiológica ● História clínica: ○ Antecedentes + história familiar do paciente → presença de SPA ou de síndromes genéticas específicas raras.² ○ Causas não autoimunes de IA primária → crianças e idosos.² ○ História de TCE ou tratamento de tumores hipofisários/hipotalâmicos com cirurgia e/ou radioterapia → IA secundária.² ○ Deficiência isolada de ACTH é rara → excluir pan-hipopituitarismo (T4 livre, IGF-1 e hormônios esteroides sexuais).² ● Dosagem dos anticorpos antiadrenais: ○ Anticorpos anticórtex adrenal (ACA) → 60 a 80% dos casos de DA autoimune.² ○ Anticorpos anti-21-hidroxilase (Ac21OH) → mais específicos e sensíveis para o diagnóstico de adrenalite autoimune (presentes em 64 a 89% dos pacientes).² ○ Baixa disponibilidade no Brasil.² ● Dosagem dos anticorpos anti-interferon-ώ ou α: ○ Alta sensibilidade e especificidade diagnósticas para SPA-1.² ● Dosagem de 17-hidroxiprogesterona: ○ Indicada em crianças na investigação de HAC por deficiência de 21-hidroxilase.² ○ Níveis > 1.000 ng/dℓ confirmam o diagnóstico.² ● Dosagem dos ácidos graxos de cadeia muito longa ○ ↑ AGCML → 100% dos pacientes do sexo masculino com adrenoleucodistrofia (ALD). ² ○ Dosagem de AGCML deve ser feita em todos os indivíduos do sexo masculino com DA sem outra etiologia identificada.² ○ Pesquisa de mutações no gene ABCD1 em todas as mulheres em risco de serem heterozigotas para ALD.² ● Alterações eletrocardiográficas 10 Medicina 8º semestre ○ São comuns na IA.² ○ Hipercalemia → ondas T em tenda, ondas P baixas, complexos QRS largos e, em casos extremos, assistolia atrial, bloqueio intraventricular e assistolia ventricular.² ○ Hipocortisolismo per se → ondas T achatadas ou invertidas, baixa voltagem do QRS e intervalo Q-Tc prolongado. Distinção clinicolaboratorial entre insuficiência adrenal (IA) primária e secundária² IA primária IA secundária Astenia e perda de peso Sim (100%) Sim (100%) Fadiga e fraqueza Sim (100%) Sim (100%) Sintomas gastrointestinais Sim (50%) Sim (50%) Dor articular, muscular e abdominal Sim (10%) Sim (10%) Hiperpigmentação Sim Não Hipotensão ortostática Sim Sim Associação com outras doenças autoimunes Sim Não Cortisol Baixo ou normal Baixo ou normal ACTH Elevado Baixo ou normal-baixo Aldosterona basal Baixa Normal Aldosterona pós-ACTH Sem modificação Aumento > 16 ng/dL Anticorpos anti-21-hidroxilase Sim (causas autoimunes) Não Hiponatremia Sim (80%) Não Hipercalemia Sim (60%) Não Hipercalcemia Sim (raramente) Sim (raramente) Deficiência associada de gonadotrofinas, TSH e/ouGH Não Sim (quase sempre) Elevação de TSH e/ou PRL Sim (ocasionalmente) Não ● Achados radiológicos: ○ TC e RM: 11 Medicina 8º semestre ■ Doença autoimune→ glândulas adrenais têm tamanho normal ou diminuído (aumentada nas demais etiologias).² ■ TB adrenal, outras doenças granulomatosas, metástases ou hemorragia adrenal antiga → calcificação das adrenais.² ■ TB adrenal → massa adrenal unilateral.² ■ Doenças granulomatosas, adrenais aumentadas de volume → Biópsia adrenal guiada por TC + análise anatomopatológica.² ■ Casos crônicos não tratados: ↑volume da hipófise (ou da sela túrcica à radiografia).² ○ Rx de tórax: ↓ da área cardíaca (microcardia).² Ob�.: Na IA secundária - Lesões primárias ou metastáticas no hipotálamo, eminência média ou hipófise (TC e RM).² - Derivam de tumores hipofisários ou hipotalâmicos, doenças infiltrativas ou infecciosas, metástases e hipofisite (espessamento da haste hipofisária é frequente).² - Se RM normal → IA secundária idiopática ou hipofisite.² Achados radiológicos na insuficiência adrenal² Doença de Addison Adrenais pequenas e atrofiadas (adrenalite autoimune) Aumento de volume das adrenais (tuberculose, paracoccidioidomicose ou outras doenças granulomatosas; infiltração neoplásica ou hemorragia) Calcificações adrenais (tuberculose, outras doenças invasivas, hemorragia) Diminuição da área cardíaca (microcardia) Aumento de volume da sela túrcica e da hipófise IA secundária Lesões primárias ou metastáticas em hipófise, hipotálamo ou eminência média Fluxograma de avaliação etiológica da IA² (Fluxograma extraído da referência 2) 12 Medicina 8º semestre Insuficiência adrenal em pacientes criticamente enfermos ● Nomenclatura: Insuficiência adrenal relativa (RAI) ou insuficiência de corticosteroide relacionada à doença crítica (CIRCI).² ● Ocorre em pacientes nos quais a produção de cortisol não se elevou suficientemente em situações de estresse.² ● ↑ morbidade e mortalidade hospitalar.² ● Fisiopatologia: ○ Secreção ↓ cortisol + alteração da transdução do sinal glicocorticoide (citocinas pró-inflamatórias competem com o ACTH pelo seu receptor).² ○ Na sepse → alteração do suprimento sanguíneo hipofisário e acúmulo de superóxido, neuropeptídeos e prostaglandinas → ↓ secreção dos hormônios hipotalâmicos e hipofisários.² ● Diagnóstico: ○ Se sepse ou outras doenças agudas graves: CS ao acaso < 10 μg/dℓ ou demonstração de um incremento do CS < 9 μg/dℓ após a administração IV de ACTH, 250 μg (Society of Critical Care Medicine e European Society of Intensive Care Medicine).² Insuficiência adrenal na gravidez ● Pouco frequente.² ● Pode resultar em sérias complicações materno-fetais.² ● Diagnóstico: ○ ACTH > 100 pg/mℓ ou níveis de CS < 3 μg/dℓ no início da manhã + quadro clínico típico → IA primária na gravidez.² Diagnósticos diferenciais ● Condições que produzem hiperpigmentação cutânea: ○ Hemocromatose: a hiperpigmentação não envolve as membranas mucosas e se caracteriza por hemossiderina nas glândulas sudoríparas.² ○ Porfiria cutânea tardia: é facilmente reconhecida pela grande quantidade de uroporfirina na urina, nas fezes e no plasma.² ○ Metais pesados, tais como zinco e mercúrio: podem pigmentar a margem gengival, mas não causam pigmentação bucal.² ● Distúrbios gastrintestinais e fadiga crônica: ○ Anorexia nervosa: pode ser simulada pelos sintomas de anorexia e perda de peso.² Tratamento e prognóstico Crise adrenal 13 Medicina 8º semestre ● Objetivo inicial: reverter a hipotensão e corrigir a desidratação, a hipoglicemia e os distúrbios eletrolíticos.² ● Medidas gerais: ○ Realizar hemograma, dosagens bioquímicas e hormonais (cortisol e ACTH).² ○ Corrigir depleção de volume, desidratação, distúrbios eletrolíticos e hipoglicemia → solução fisiológica a 0,9% e solução glicosada a 10%.² ○ Tratar a infecção ou outros fatores precipitantes.² ● Reposição de glicocorticoides: ○ Hidrocortisona, 100 mg (50 mg/m² para crianças) IV inicialmente, seguidos de 200 mg (50 a 100 mg/m² para crianças) em infusão contínua IV ou 50 mg de 6/6 h IV durante 24 h. Se possível, reduzir a dose em 50% no 2º dia de tratamento.² ○ Quando o paciente estiver tolerando alimentos VO, passar a administrar o glicocorticoide VO e, se necessário, adicionar fludrocortisona (0,1 mg VO).² ○ Os mineralocorticoides não são úteis → seu efeito retentor de sódio leva vários dias para se manifestar + HC tem um efeito mineralocorticoide.² Insuficiência adrenal crônica ● Reposição de glicocorticoides: ○ Prednisona ou prednisolona 3 a 5 mg/dia VO (dividida em 1 a 2 doses): 3/4 às 7h ou 8h e 1/4 às 14h; ou² ○ Hidrocortisona 10 a 20 mg às 7h ou 8h, 5 mg às 12h ou 13h, e 2,5 a 5 mg às 17h ou 18h VO, ou 5,5 mg/m2 de superfície corporal.² ○ Doses maiores → indivíduos muito pesados ou que estejam usando fármacos que ↑ a metabolização hepática dos glicocorticoides (p. ex., fenitoína, barbitúricos, rifampicina, aminoglutetimida ou mitotano).² ○ Gestação: aumentar, durante o terceiro trimestre, a dose diária de HC em 20 a 40% (geralmente, 5 a 10 mg).² (Figura extraída da referência 3) 14 Medicina 8º semestre Ob�.: 1) Dexametasona não é recomendada para uso crônico → ação mais prolongada → mais características cushingoides + maior dificuldade na titulação da dose.² 2) Reposição glicocorticoide → a hiperpigmentação cutaneomucosa tende a melhorar e, ocasionalmente, pode desaparecer.² ● Reposição de mineralocorticoide: ○ Fludrocortisona 0,05 a 0,2 mg às 8h VO.² ○ Incrementos temporários na dose de 50 a 100% ou ↑ da ingestão de sal → recomendados no clima quente ou em situações que promovam sudorese excessiva.² ○ Pacientes em uso de prednisolona necessitam de doses maiores de fludrocortisona em comparação com aqueles em uso de HC.² ● Deidroepiandrosterona (DHEA): ○ 25 a 50 mg/dia VO (apenas para mulheres) → melhora do bem-estar, sexualidade, sensibilidade insulínica e do perfil lipídico.² ● Seguimento clínico: ○ Manter o paciente assintomático, com peso, pressão arterial e eletrólitos normais.² ○ Uso pelo paciente de cartão ou bracelete de identificação.² ○ Duplicação da dose do glicocorticoide durante períodos de estresse (p. ex., infecções virais ou bacterianas, cirurgias etc.).² ■ Pré-operatório: a suplementação depende do tipo de procedimento cirúrgico e do grau de estresse imposto pelo procedimento.² ■ Cirurgias de emergência, sepse, IAM etc.: o paciente é tratado como na crise adrenal.² ○ Resposta clínica: melhor parâmetro para avaliação da eficácia do tratamento. ○ ↑ PA em pacientes euvolêmicos → IECA, BRA + manutenção do tratamento com fludrocortisona, ou BCC (2a linha).² Prognóstico ● Reavaliação anual com relação à dose de reposição, a fim de descartar dose excessiva ou insuficiente.² ● Pacientes com IA primária devido a distúrbios monogênicos deverão receber aconselhamento genético.² ● DA: ○ Prognóstico bom, dependendo da doença de base que deverá ser tratada.² ○ Risco de morte é 2 x maior nos pacientes com DA (doenças cardiovasculares, infecções e neoplasias).² ○ Pacientes com DA autoimune deverão ser investigados uma vez por ano para a presença de outras doenças autoimunes.² 15 Medicina 8º semestre Referências [1] HAHNER, Stefanie et al. Adrenal insufficiency. NATURE REVIEWS, [s. l.], v. 7, n. 19, p. 1-24, 2021. [2] VILAR, Lúcio; SILVA, Regina do Carmo; KATER, Claudio E. Insuficiência Adrenal: Diagnóstico e Tratamento. In: VILAR, Lucio et al. Endocrinologia clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022. p. 442-459. [3] MICHELS, AARON; MICHELS, NICOLE. Addison Disease: Early Detection and Treatment Principles. Am Fam Physician, [s. l.], v. 89, n. 7, p. 563-568, 2014. 16