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Tese-ZEZITO-RODRIGUES-DA-SILVA--VersAúo-final-1

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
DOUTORADO EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
ZEZITO RODRIGUES DA SILVA 
 
 
 
 
UMA VILA NA PERIFERIA DO IMPÉRIO: SOCIEDADE, TERRITÓRIO E PODER NO 
ALTO SERTÃO DA BAHIA (VILA NOVA DO PRÍNCIPE E SANTA ANNA DE CAITETE, 
1810-1821) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI - RJ 
2021 
 
 
ZEZITO RODRIGUES DA SILVA 
 
 
 
 
 
UMA VILA NA PERIFERIA DO IMPÉRIO: SOCIEDADE, TERRITÓRIO E PODER NO 
ALTO SERTÃO DA BAHIA (VILA NOVA DO PRÍNCIPE E SANTA ANNA DE CAITETE, 
1810-1821) 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em História da Universidade Federal Fluminense, 
como requisito parcial à obtenção do título de Dou-
tor em História. Campo de Confluência: História 
Contemporânea I – Poder e Sociedade 
 
 
 
 
 
Orientadora: 
Prof.ª Drª. Gladys Sabina Ribeiro 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI - RJ 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ZEZITO RODRIGUES DA SILVA 
 
 
UMA VILA NA PERIFERIA DO IMPÉRIO: SOCIEDADE, TERRITÓRIO E PODER NO 
ALTO SERTÃO DA BAHIA (VILA NOVA DO PRÍNCIPE E SANTA ANNA DE CAITETE, 
1810-1821) 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação 
em História da Universidade Federal Fluminense, 
como requisito parcial à obtenção do título de Dou-
tor em História. Campo de Confluência: História 
Contemporânea I – Poder e Sociedade 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
______________________________________________________________________________ 
Prof.ª Drª. Gladys Sabina Ribeiro - Orientadora 
Universidade Federal Fluminense – UFF 
______________________________________________________________________________ 
Prof.ª Drª. Avanete Pereira Sousa - Arguidora 
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB 
____________________________________________________________________________ 
Prof.ª Dr. Alexandre Mansur Barata - Arguidor 
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF 
______________________________________________________________________________ 
Prof.ª Drª. Maria de Fátima Novaes Pires - Arguidora 
Universidade Federal da Bahia – UFBA 
______________________________________________________________________________ 
Prof Dr. Carlos Gabriel Guimarães - Arguidor 
Universidade Federal Fluminense – UFF 
______________________________________________________________________________ 
Prof Dr. Luís Fernando Saraiva - Suplente 
Universidade Federal Fluminense – UFF 
______________________________________________________________________________ 
Prof Dr. Humberto Fernandes Machado - Suplente 
Universidade Federal Fluminense – UFF 
 
NITERÓI - RJ 
2021 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta pesquisa à minha família e amigos que sempre estiveram presentes, direta ou indi-
retamente em todos os momentos de minha formação. Em especial, a meus pais Isabel e Miguel 
(in memoriam), a meu filho Miguel e a Rose, que souberam compreender as ausências e a 
colaborar na caminhada. 
Aos meus mestres, que me inspiram em todos os campos da vida. 
Aos meus alunos/as de todos os tempos, que sempre me ajudaram a reafirmar a generosa mis-
são de ser professor. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao final dessa intensa trajetória formativa, quando o mergulho na pesquisa objetiva a pro-
dução de novo conhecimento e acaba revelando um novo ser - o pesquisador - o reconhecimento 
de que nada se faz sem companhias na extensa caminhada. Ao considerarmos que a História é filha 
de seu tempo, e a escrita da História, naturalmente, a extensão desse valor, devo dizer que, ao longo 
desta pesquisa, vivemos tempos difíceis e dramáticos durante a pandemia do COVID-19 nos anos 
finais desse trabalho, o que contribuiu para eventuais limitações. Resta agradecer aos que estiveram 
comigo neste desafio. 
Agradeço à Prof.ª Drª. Gladys Sabina Ribeiro que, mesmo sem conhecer o projeto nem o 
pesquisador, topou o desafio em seguir junto com o profissionalismo e zelo com que pautou seu 
trabalho, além da generosidade e compreensão que lhe são particulares, o que se traduziu em um 
apoio e interlocução imprescindíveis para as trilhas seguidas nesta pesquisa. Agradeço à generosa 
colaboração dos professores integrantes das bancas de qualificação e defesa, pelo tempo dedicado 
à apreciação desta tese e, sobretudo, pelas generosas e preciosíssimas lições ofertadas, interlocu-
ções que contribuíram nos rumos dessa tese. À Prof.ª Drª. Avanete Pereira de Sousa e o Prof. Dr. 
Alexandre Mansur Barata pelas lições que, iniciadas na banca de qualificação, se estenderam à 
banca de defesa. À Prof.ª Drª. Maria de Fátima Novaes Pires, as lições que remontam ao tempo da 
graduação, mas que, nesta tese, agrega muito em qualidade, a gratidão se prolonga a convivências 
presentes. Essa mesma qualidade, concedida pelo Prof. Dr. Carlos Gabriel Guimarães, em sua pre-
ciosa apreciação e colaboração concedida por ele e pelos professores suplentes Prof. Dr. Luiz Fer-
nando Saraiva e Prof. Dr. Humberto Fernandes Machado, por também terem acolhido a apreciação 
desta tese e ajudado em seus rumos. Minha gratidão a todos (as)! 
Aos professores Maria Fernanda Bicalho, Marcello Loureiro e Laura Maciel (UFF), grati-
dão. Estendo os agradecimentos aos demais professores do Instituto de História - IHT / UFF pela 
excelência e compromisso com que tratam o Programa de Pos-graduação em História. Aos funci-
onários do programa e aos demais funcionários da Universidade Federal Fluminense que, com a 
habitual dedicação de servidores públicos, zelam por essa atividade tão cara ao país. Agradeço 
também aos colegas do doutorado que me proporcionaram a boa convivência nos tempos de dis-
tanciamento de casa, com as aulas em Niterói. Em especial, agradeço a amizade do paulista Everton 
(Tom), dos mineiros Marina e João, entre tantos amigos que trago dessa vivência. À professora 
 
Patrícia Valim (UFBA) e demais colegas mestrandos e doutorandos de sua turma do programa 
desta universidade que, em 2018, me acolheu como estranho no ninho e me proporcionou o doce 
sabor do convívio, irmanados na causa da produção de conhecimento, que em muito agregou nesta 
trajetória. Gratidão a todos (as). 
Agradeço aos profissionais dos Arquivos Públicos, incansáveis servidores da pesquisa bra-
sileira. Às equipes do Arquivo Nacional, da Biblioteca Nacional, aos responsáveis pelas fontes 
digitais do Arquivo Ultramarino, do Arquivo Publico do Estado da Bahia, do Arquivo Público do 
Estado de São Paulo, do Arquivo Público Municipal de Caetité e do Arquivo da Paróquia Senhora 
Santana em Caetité, bem como todos aqueles que colaboram em disponibilizar, por via física ou 
digital, as fontes, coração desta pesquisa. 
Agradeço à Universidade do Estado da Bahia e o seu Departamento de Ciências Humanas 
- DCH / Campus VI – Caetité, ao qual sou vinculado como professor, por meio de seus gestores e 
responsáveis pela minha disponibilização concedida por licença para o desenvolvimento desta pes-
quisa. Agradeço aos meus colegas do Colegiado de História que colaboraram, sensíveis às deman-
das que encaminhei, na pessoa do seu coordenador, o prof. Jairo Nascimento. Gostaria de fazer 
menção especial aos colegas/mestres de sempre, professores Maria Lúcia Nogueira, Nivaldo Dutra 
e Lielva Aguiar, pela minha substituição nos tempos de licença, pela amizade e colaboração nesta 
trajetória. Agradeço por extensão, a todos os alunos e as alunas do curso de História desta mesma 
universidade, pela generosa simpatia e torcida pelos melhores resultados desta pesquisa. Ao prof. 
Paulo Henrique Duque, ilustre colega e coordenador do projeto do Polo Documental do Judiciário 
APEB / APMC e toda a equipe de colaboradores da instituição, pelo zelo e trato com a seriedade e 
compromisso que lhe são habituais com as fontes referentes ao Alto Sertão da Bahia. 
Agradeço também aos membros do grupo de pesquisa em Cultura, Sociedade e Linguagem(GPCSL), abrigo confortável para os estudiosos do Alto Sertão da Bahia. Aos membros do NE-
MIC/UFF e da SEO (Sociedade de Estudos do Oitocentos), aos membros do GT de História Eco-
nômica da Anpuh / Seção Bahia na pessoa de Idelma Novais, todos promotores de espaços de 
compartilhamento de conhecimentos e convívios agradáveis. 
Gratidão a todos (as) que, eventualmente, não foram nominados, mas que contribuíram na 
apreciação, críticas, desafios que me levam errante nesta vida, concedida e renovada pelo Criador! 
 
 
 
RESUMO 
 
Este estudo trata a constituição da Vila Nova do Principe e Sant´Anna de Caitete em 1810 e os anos 
iniciais de seu funcionamento no território do Alto sertão da Bahia, início do século XIX. A partir 
da organização da estrutura camarária, traçamos uma trajetória das relações políticas então 
estabelecidas e os vínculos com os poderes centrais do Império Luso-brasileiro. Tendo com 
referência o enquadramento teórico da história social da política, evidenciam-se as relações entre 
centro periferia dos impérios, sob o viés da abordagem do Antigo Regime nos Trópicos. Essas 
reflexões iluminam a compreensão acerca dos agentes históricos em estudo - proprietários e 
comerciantes que, ao se fixarem na região do Alto Sertão da Bahia, constituíram uma sociedade 
fundada em laços de solidariedade e redes de interesses a partir do ethos civilizatório do Império 
Luso-português refundado como uma comunidade política. Essa análise sob a compreensão do 
Antigo Regime nos Trópicos permite pensar de que maneira essas “repúblicas” que representavam 
o poder local organizavam a governança da vila. Os resultados deste estudo conduziram também 
às evidências das estruturas econômicas do território da vila, especialmente a cotonicultura e as 
atividades a ela associada, no que se convencionou chamar de economia interna colonial. Para isso, 
tratamos como estudo de caso da trajetória de Antonio da Silva Prado, negociante instalado na vila 
desde sua formação, e sua ascensão econômica, associada ao controle do comércio feito através 
dos caminhos do sertão que lhe conferiu fortuna e projeção política. 
 
Palavras-chave: Sociedade. Poder. Território. Alto Sertão Da Bahia. Século XIX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This study deals with the constitution of Vila Nova do Principe and Sant´Anna de Caitete in 1810 
and the initial years of its operation in the territory of the Alto sertão da Bahia, at the beginning of 
the 19th century. From the organization of the council structure, we traced a trajectory of the 
political relations established there and the ties with the central powers of the Luso-Brazilian 
Empire. With reference to the theoretical framework of the social history of politics, the 
relationship between the peripheral center of empires is evident, under the bias of the approach of 
the Old Regime in the Tropics. These reflections illuminate the understanding of the historical 
agents under study - owners and traders who, when settling in the Alto Sertão da Bahia region, 
constituted a society founded on bonds of solidarity and networks of interests from the civilizing 
era of the Luso-Portuguese Empire refounded as a political community. This analysis under the 
understanding of the Old Regime in the Tropics allows us to think about how these “republics” that 
represented local power, organized the governance of the village. The results of this study also led 
to evidence of the economic structures of the village's territory, especially cotton farming and the 
activities associated with it, in what was conventionally called the colonial domestic economy. For 
this, we treat as a case study the trajectory of Antonio da Silva Prado, a businessman installed in 
the village since his formation, and his economic rise, associated with the control of trade through 
the paths of the hinterland that gave him fortune and political projection. 
 
Keywords: Society. Power. Territory. Alto Sertão da Bahia. XIX century. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RÉSUMÉ 
 
Cette étude porte sur la constitution de Vila Nova do Principe et de Sant´Anna de Caitete en 1810 
et les premières années de son fonctionnement sur le territoire de l'Alto sertão da Bahia, au début 
du XIXe siècle. A partir de l'organisation de la structure du conseil, nous avons tracé une trajectoire 
des relations politiques qui y sont établies et des liens avec les pouvoirs centraux de l'Empire luso-
brésilien. En référence au cadre théorique de l'histoire sociale de la politique, la relation entre le 
centre périphérique des empires est évidente, sous le biais de l'approche de l'Ancien Régime sous 
les tropiques. Ces réflexions éclairent la compréhension des agents historiques étudiés - 
propriétaires et commerçants qui, en s'installant dans la région de l'Alto Sertão da Bahia, ont 
constitué une société fondée sur des liens de solidarité et des réseaux d'intérêts de l'époque 
civilisatrice de l'Empire luso-portugais refondé en tant que communauté politique. Cette analyse 
sous l'angle de l'Ancien Régime sous les tropiques nous permet de réfléchir à la manière dont ces 
«républiques» qui représentaient le pouvoir local, organisaient la gouvernance du village. Les 
résultats de cette étude ont également permis de mettre en évidence les structures économiques du 
territoire du village, en particulier la culture du coton et les activités qui y sont associées, dans ce 
que l'on appelle traditionnellement l'économie domestique coloniale. Pour cela, nous traitons 
comme étude de cas la trajectoire d'Antonio da Silva Prado, un homme d'affaires installé dans le 
village depuis sa formation, et son essor économique, associé à la maîtrise du commerce à travers 
les chemins de l'arrière-pays qui lui ont donné fortune et politique projection. 
 
Mots-clés: société. Pouvoir. Territoire. Alto Sertão da Bahia. XIXème siècle. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Tráfico negreiro ............................................................................................................ 98 
Figura 2-Mapa da Bahia ............................................................................................................... 113 
Figura 3- Mapa parcial da região compreendida do Sertão do Ceará até a Vila do Príncipe 
Figura 4 - Planta geográfica do continente, que corre da Bahia de Todos os Santos até a Capitania 
do Espírito Santo.......................................................................................................................... 115 
Figura 5 - Caminhos do Sertão da Bahia..................................................................................... 127 
Figura 6 - Estrada construída desde as vilas litorâneas de Camamu e Ilhéus em direção à Serra 
dos Montes Altos..........................................................................................................................144 
Figura 7 – Termo da Vila de Rio de Contas, século XVIII.......................................................... 147 
Figura 8 – Termo da Vila do Rio de Contas e demarcação da Vila de Caetité, emancipada em 
1810..............................................................................................................................................153 
Figura 9 – Termo da Vila do Rio de Contas e demarcação da Vila de Caetité, emancipada em 
1810, com destaque para áreas em litígios ou contestação, incorporadas à nova vila ................158 
Figura 10 – Desdobramentos territoriais – Emancipação da Imperial Vila da Vitória (1840).....174 
Figura 11 -Relação de importação que fez Portugal, Europa, Ásia, África e Portos Do Brasil sobre 
a Bahia em todo o ano de 1810.....................................................................................................186 
Figura 12. - Representaçãoesquemática da economia colonial baiana/ Vila do Rio de Contas - 
início do séc. XIX.........................................................................................................................196 
Figura 13 - Representação esquemática da economia colonial baiana/ Vila do Rio de Contas 
Transcrição da imagem anterior ..................................................................................................197 
Figura 14 - Mapa: Caminhos das Minas à Bahia – SÉCULO XVIII...........................................201 
Figura 15 – Deslocamento da área produtora de algodão na BAHIA NO FINAL DO SÉCULO 
XVIII – Baía de Camamu para o Alto Sertão da Bahia ...............................................................219 
Figura 16 - Produto interno bruto (PIB) per capita, por territórios de identidade 2013, Estado Da 
Bahia............................................................................................................................................ 221 
Figura 17 -Voiturier de Coton et Sertanejo – Denis, Ferdinand.................................................. 223 
Figura 18- Escravos colhendo-Algodão (Debret).........................................................................228 
Figura 19 - Trajetória do deslocamento dos tropeiros entre a Vila de Caetité e o Porto de S. Félix 
Da Cachoeira – BA ......................................................................................................................260 
Figura 20 – Anúncio da casa comercial de Gabriel Henriques Pessoa - 1827 ............................279 
Figura 21 – Vila de Caitete, seus arraiais e povoados e companhias de ordenanças no início do 
séc. XIX .......................................................................................................................................320 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1- Resumo dos valores das importações de produtos pelos portos da Bahia – Anos 1808, 
1809 e 1810 ................................................................................................................................. 173 
Quadro 2-Tabela analítica do balanço comercial da Bahia para os anos de 1808, 1809 e 1810. 175 
Quadro 3- Sinopse dos mais importantes artigos de exportação, da Bahia, em 1817 ................. 195 
Quadro 4 - Algodão na Bahia, de 1º de outubro de 1817 até 30 de setembro de 1818 ............... 201 
Quadro 5- Impacto sofrido pelas guerras de independência na Bahia ........................................ 203 
Quadro 6 - Relação de bestas vendidas e impostos a pagar na Vila de Caetité no ano de 1810 . 230 
Quadro 7- Produtos comprados por Silva Prado em 1810 .......................................................... 241 
Quadro 8-Tipos e valores de bens adquiridos a Silva Prado ....................................................... 247 
Quadro 9– Exemplo de financiamento à produção algodoeira nos sertões da Bahia por Antônio da 
Silva Prado ................................................................................................................................... 252 
Quadro 10– Financiamento da cultura e pagamento em produção em algodão .......................... 253 
Quadro 11-Financiamento de Silva Prado a Tropas .................................................................... 258 
Quadro 12– Gastos com tropas feito por Silva Prado ................................................................. 259 
Quadro 13- Relação de cargas de sal negociadas por Silva Prado em 1814 ............................... 260 
Quadro 14- Relação de cargas de algodão exportadas por Silva Prado em 1815 / 1816 ............ 261 
Quadro 15– Cargas de algodão vendidas por Silva Prado em 1816 ............................................ 264 
Quadro 16 – Recursos empregados na construção da residência por Silva Prado ...................... 268 
Quadro 17– Outros recursos empregados na construção e respectivos valores .......................... 269 
Quadro 18– Valores utilizados por Silva Prado em compras na Bahia ....................................... 271 
Quadro 19 – Gastos e pagamentos feitos por Silva Prado em 1816 ............................................ 272 
Quadro 20 – Objetos adquiridos por Silva Prado em passagem pela Bahia rumo à São Paulo em 
1816, indicativos de aristocratização1816 ................................................................................... 273 
Quadro 21– Objetos para uso pessoal e montaria........................................................................ 274 
Quadro 22– Cargos da estrutura camarária da Vila de Caetité - 1810 - 1812 ............................. 376 
Quadro 23- Perfil dos oficiais do Terço de Ordenanças da Vila de Caetité ................................. 309 
Quadro 24 – Composição da Junta da Décima dos Prédios Urbanos .......................................... 315 
Quadro 25– Impostos, taxas, multas e emolumentos pagos por ocasião da implantação da Vila de 
Caetité (1810) .............................................................................................................................. 327 
Quadro 26-Escala de abastecimento de carnes – Vila de Caetité / 1812 ..................................... 331 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 15 
UMA VILA NA PERIFERIA - AS RELAÇÕES CENTRO-PERIFERIA E O LUGAR DAS 
LOCALIDADES NO TECIDO POLÍTICO DO IMPÉRIO LUSO-BRASILEIRO. .................... 17 
OS CAMINHOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA TESE ........................................... 23 
CAPÍTULO I: CONFORMAÇÕES POLÍTICAS DO IMPÉRIO PORTUGUÊS NO ANTIGO 
REGIME ........................................................................................................................................ 39 
1.1. O REFORMISMO ILUSTRADO E AS TRANSFORMAÇÕES DO IMPÉRIO 
PORTUGUÊS ................................................................................................................................ 48 
1.2. CONSOLIDAÇÃO E CRISE DO IMPÉRIO LUSO-BRASILEIRO ............................. 55 
1.3. A CAPITANIA DA BAHIA NA RECONFIGURAÇÃO DO IMPÉRIO ....................... 67 
1.4. OS SERTÕES DA AMÉRICA PORTUGUESA: NOVAS FRONTEIRAS A 
CONQUISTAR .............................................................................................................................. 70 
1.5. AS RELAÇÕES CENTRO – PERIFERIA NO CONTEXTO DO ANTIGO REGIME 
PORTUGUÊS ................................................................................................................................ 78 
CAPÍTULO II – TERRITORIALIZAÇÃO DOS SERTÕES DA BAHIA NO CONTEXTO DO 
IMPÉRIO PORTUGUÊS .............................................................................................................. 88 
2.1. A OCUPAÇÃO DOS SERTÕES DA BAHIA ................................................................... 90 
2.1.1. Representações cartográficas dos sertões da bahia ......................................................... 95 
2.1.2. Os sertões em três tempos ............................................................................................. 101 
2.1.3. Sertões como espaços de trânsito .................................................................................. 102 
2.1.4 Sertões como espaços de conexões ................................................................................ 105 
2.1.5. Sertões como espaço autônomo de produção ............................................................... 107 
2.2. REGIONALIZAÇÃO DOS SERTÕES DA BAHIA NO SÉCULO XVIII ..................... 109 
2.3 CAMINHOS E FRONTEIRAS ENTRE BAHIA E MINAS ............................................ 114 
2.4. A ESTRADA DO SALITRE E A AMPLIAÇÃO DOS CONTATOS ENTRE SERTÃO E 
LITORAL ....................................................................................................................................121 
2.5. A VILA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DAS MINAS DO RIO DE CONTAS - 
MINERAÇÃO NA BAHIA, SÉCULO XVIII ............................................................................ 131 
2.6. A EMANCIPAÇÃO DA VILA NOVA DO PRÍNCIPE E SANT’ANNA DO CAHITETÉ – 
DINÂMICAS DE UM TERRITÓRIO EM TRANSFORMAÇÃO ............................................ 138 
2.7. TERRITORIALIZAÇÃO DOS SERTÕES DA BAHIA – NOVAS VILAS E 
TERRITÓRIOS NO SÉCULO XIX ............................................................................................ 155 
CAPÍTULO III - CONEXÕES TERRITORIAIS E REDES MERCANTIS NOS SERTÕES 
DA AMÉRICA PORTUGUESA ................................................................................................. 164 
3.1. A PARTICIPAÇÃO DA BAHIA NO COMÉRCIO EXTERNO DO IMPÉRIO 
PORTUGUÊS, NO INÍCIO DO SÉCULO XIX ......................................................................... 164 
 
3.2. A DINÂMICA DA ECONOMIA SERTANEJA .............................................................. 180 
3.2.1. A economia algodoeira e a reorganização produtiva dos sertões da Bahia ................... 190 
3.2.2. Perfil da cotonicultura nos sertões da Bahia no início do século XIX ......................... 204 
3.3. A BASE ESCRAVISTA DA PRODUÇÃO SERTANEJA ............................................... 216 
CAPÍTULO IV - FORTUNA E PODER NO ALTO SERTÃO DA BAHIA - RIQUEZA 
FORJADA NA DINÂMICA MERCANTIL SERTANEJA ........................................................ 226 
4.1. CAMINHOS E DESCAMINHOS DO COMÉRCIO DE ALGODÃO E MUARES NO 
ALTO SERTÃO DA BAHIA ...................................................................................................... 226 
4.2. A TRAJETÓRIA DE ANTÔNIO DA SILVA PRADO NOS SERTÕES DA BAHIA ..... 239 
4.2.1. Os negócios de Antônio da Silva Prado nos sertões da Bahia ...................................... 245 
4.2.2 A moeda e o crédito na economia algodoeira dos sertões .............................................. 248 
4.2.3. Desvendando o negócio do algodão: principal fonte do enriquecimento de Silva Prado
 ..................................................................................................................................................... 261 
4.2.4. Vida material e aristocratização dos negociantes sertanejos: o caso de Silva Prado .... 266 
4.2.5 O retorno de Silva Prado a São Paulo – rompimento com o comércio sertanejo .......... 275 
CAPÍTULO V - PODER E SOCIEDADE NO ALTO SERTÃO DA BAHIA ....................... 280 
5.1. A CONSTITUIÇÃO DOS CARGOS CAMARÁRIOS - ESTRUTURAÇÃO DAS 
INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DA VILA DE CAETITÉ ............................................................ 287 
5.2. O TERÇO DE ORDENANÇAS DA VILA DE CAETITÉ .......................................... 297 
5.2.1. As companhias de homens pardos da vila de caetité ................................................ 303 
5.2.2. Perfil dos oficiais do terço de ordenanças da vila de caetité ..................................... 309 
5.3. O ESPAÇO CAMARÁRIO, TEATRO DE DISPUTAS DE PODER: O COTIDIANO 
DAS CATEGORIAS SOCIAIS EM EMBATES ......................................................................... 311 
5.4. AS FINANÇAS DA VILA E O CONTROLE DAS RENDAS PÚBLICAS................ 324 
1.6. A COMUNICAÇÃO POLÍTICA: INSTRUMENTOS DA DINÂMICA DE RELAÇÕES 
CENTRO-PERIFERIA ................................................................................................................ 336 
1.7. PETIÇÕES DE MERCÊS: AS DISPUTAS PELOS OFÍCIOS DA VILA DE CAETITÉ
 342 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 356 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 360 
APÊNDICE ........................................................................................................................ 375 
 
 
15 
 
INTRODUÇÃO 
 
Os estudos desenvolvidos nesta tese intitulada Uma vila na periferia do Império - 
Sociedade, território e poder no Alto Sertão da Bahia (Vila Nova do Príncipe e Santa Anna de 
Caitete, 1810-1821) visam aprofundar o conhecimento sobre um território, aqui demarcado como 
Alto Sertão da Bahia, a partir da criação da Vila Nova do Príncipe e Santanna do Caetete1 em 1810 
(doravante, Vila de Caetité). Por esse prisma, além de evidenciar os sujeitos envolvidos nesse 
processo, seus embates, desafios experiências, procura-se também evidenciar as conexões 
mercantis desenvolvidas em seu território, percebendo-as enquanto integradas à estrutura do 
comércio interno que marcou a economia da América portuguesa – e, em especial a Capitania da 
Bahia – no início do século XIX. 
Nessa trajetória, procurou-se entrecruzar os episódios particulares de uma vila dos 
longínquos sertões, em um contexto de reconfiguração do Império Luso-brasileiro, momento em 
que ele se refunda a partir da América portuguesa, tornando-a centro das decisões de imenso 
território transcontinental. Ao debruçar sobre seus episódios cotidianos, evidencia-se a natureza 
operacional desse império que traz o arcabouço jurídico-político do Antigo Regime, ainda que 
esmaecido em seu vigor de outrora. Nesta perspectiva, apresentam-se a política mercantilista e as 
contradições com o liberalismo econômico em expansão. 
O que convenciona chamar aqui de Alto Sertão da Bahia é, atualmente, um território 
localizado na região sudoeste da Bahia, tendo por delimitadores naturais o vale do Rio Gavião a 
leste, as cadeias montanhosas da Serra do Sincorá (Chapada Diamantina) e vale do Rio Paramirim 
a norte, o curso do alto médio S. Francisco a leste e o vale do Rio Verde, que nos separa do vizinho 
Estado de Minas Gerais ao sul. Pretende-se compreender melhor a região do Alto Sertão da Bahia, 
onde se formou a Vila de Caetité, enquanto realidade sócio-espacial com a qual convivemos 
empiricamente, mas sobre a qual não há consenso nas suas reais especificidades e delimitações. 
Atualmente, o território do Alto Sertão da Bahia corresponde parcialmente ao Território de 
Identidade do Sertão Produtivo. Somando-se aos Territórios de Identidade do Médio Rio de Contas, 
Vitória da Conquista e Médio Sudoeste, teremos o equivalente ao termo da antiga Vila de Caiteté. 
Ao propor reflexões sobre a dinâmica territorial dos sertões da Bahia, este estudo pressupõe definir 
 
1Atual cidade de Caetité-Bahia, essa vila foi emancipada oficialmente em 1810, embora desde 1803 já houvesse 
determinação do Conselho Ultramarino que autorizava sua emancipação da Vila de Rio de Contas, a qual pertencia. 
16 
 
espacial e temporalmente os seus limites, considerando a multiplicidade semântica que carrega, 
proporcionando a operacionalização precisa e contextualizada dos diversos contornos que o termo 
sertões implica. 
Ao perscrutar os liames das instituições e sujeitos que operavam em nível local, como o 
Concelho da Vila e seus oficiais, os juízes vintenários e respectivos escrivães ou companhias de 
ordenança e seus corpos de oficiais militares, percebem-se os detalhes de uma sociedade que, 
mesmo distante dos principais centros de poder, reproduziam os ritos, símbolos, protocolos e o 
ethos civilizacional do Império Português, zelando para dele não se afastar. A presença significativa 
de uma comunicação com os centros de poder, especialmente a ouvidoria da Comarca da Jacobina, 
o Governador e Capitão General da Capitania da Bahia e a própria Coroa, na pessoa do Príncipe 
Regente, demonstra uma afinidade e participação dessa vila na governança do Império, a partir de 
suas próprias práticas de governança. No cotidiano dessa vila, ressai uma relação com os indivíduos 
na perspectiva de ordenamento e normatização social, com recursos de coerção e ajustamento à 
ordem vigente. Ressai também a prática das petições, especialmente das mercês, instrumento por 
meiodo qual a relação pessoal de devoção e vassalagem à Coroa aparece como recurso de coesão 
desse amplo e diverso império. 
A hierarquização social da Vila de Caetité, característica das sociedades do Antigo Regime, 
aparece na organização institucional que são expressas na hierarquização de seu território, por meio 
dos arraiais e povoados que integravam o termo desta vila. Entre eles, uma teia de relações de toda 
a natureza (políticas, mercantis, familiares etc.) constituem um perfil cultural muito particular. A 
organização das famílias em pequenas comunidades rurais policultoras produz um conjunto de 
vivências e aprendizagens próprias dessa organização. 
Este estudo surgiu da necessidade de pensar a origem dos territórios de identidade da região 
sudoeste da Bahia, baliza das políticas públicas atuais da gestão estadual. Ele propõe refletir sobre 
a constituição da Vila Nova do Príncipe e Santana de Caetité – de sua sociedade, organização 
política e econômica - desde a sua criação, no início do século XIX. Parte-se do princípio de que é 
condição sine qua non um exercício de reflexão que se apresente a natureza política desse império, 
a dinâmica que empreenderam nos diversos níveis (geral, regional e local) e a conjuntura em que 
estes se encontravam no período estudado. Essa é a contribuição a qual pretende-se dar para a 
historiografia por meio deste trabalho. 
17 
 
 A capitania, depois província da Bahia, experimentava entre os séculos XVIII e XIX um 
processo de transformação territorial2 em razão da nova dinâmica econômica que vivenciou. Ao 
aparelhamento do recém-criado Império Luso-Brasileiro, por meio de suas instituições (militares, 
religiosas, fiscais etc.), seguiu-se à constituição de novas vilas, a exemplo da Vila de Caetité,3 cujo 
termo desmembrado da Vila de Rio de Contas, abrangia a quase totalidade o território do Alto 
Sertão da Bahia. Com isso, ampliaram-se as redes de agentes públicos (oficiais e não oficiais) que 
procuravam dar conta da sua governança. Novos caminhos e rotas de acessibilidade foram criados, 
a exemplo da Estrada do Salitre, que permitia o acesso às minas de Monte Alto, recurso estratégico 
para a autonomia portuguesa na produção de pólvora e, consequentemente, na autonomia militar. 
 
UMA VILA NA PERIFERIA - AS RELAÇÕES CENTRO-PERIFERIA E O LUGAR DAS 
LOCALIDADES NO TECIDO POLÍTICO DO IMPÉRIO LUSO-BRASILEIRO. 
 
 
A historiografia4 já consolidou o papel que as câmaras ocupavam nas sociedades do Antigo 
regime, enquanto instituições que constituíam suportes estruturais na consolidação das 
operaconalidades dos poderes centrais do Império português e luso-brasileiro, já que se 
manifestavam como articuladoras das dimensões jurisdicional, política, militar, educativa, cívica, 
por meio das quais a ordem social era organizada. No Brasil, elas aparecem com evidência especial 
da historiografia, nos estudos sobre a constituição das principais vilas litorâneas, enquanto 
consolidação do projeto colonizador português dos séculos XVI e XVII, na organização das 
atividades mineradoras do século XVIII ou no período pós-independência, no segundo quartel do 
século XIX5, quando já se constituía o Império brasileiro como nova realidade política. 
 
2 Dentre as várias transformações em seu território, o de maior vulto foi a incorporação da Comarca do São Francisco 
(que corresponde atualmente ao território do Oeste baiano), anexada em 1834, após desmembramento da Capitania 
de Pernambuco em 1820 e provisoriamente ser vinculada à Capitania de Minas Gerais. 
3 Atual cidade de Caetité-Bahia, essa vila foi emancipada oficialmente em 1810, embora desde 1803 já houvesse 
determinação do Conselho Ultramarino que autorizava sua emancipação da Vila de Rio de Contas, a qual pertencia. 
4 Dentre os estudos mais conhecidos, destacam-se a obra de Charles Boxer com a obra O império maríritmo português; 
Caio Prado Júnior, com as obras Evolução Política do Brasil e Formação do Brasil Contemporâneo; Raimundo 
Faoro, Os donos do poder – formação do patronato político brasileiro; Vítor Nunes Leal, Coronelismo, enxada e 
voto, Sérgio Buarque de Holanda – Herança Colonial – sua desagregação in: História Geral da Civilização Brasileira, 
dentre outros. 
5 Dentre algumas relevantes pesquisas feitas sobre o poder local no Brasil, destacam-se: ANDRADE, Pablo de O. A 
"legítima Representante": câmaras municipais, oligarquias e a institucionalização do Império liberal brasileiro 
(Mariana, 1822-1836). 2012. 179 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Ouro Preto, 
Mariana, 2012. FIORAVANTE, Fernanda. Os bons homens das Minas: os oficiais das câmaras mineiras no processo 
18 
 
Raros são os estudos que debruçam sobre a atuação dos poderes camarários e organização 
das vilas no início do século XIX6, especialmente na fundação do império luso-brasileiro, como 
aqui se propõe. Em cada uma dessas temporalidades, o poder local expresso pelas câmaras e 
instituições a ela associadas, organizavam-se a partir de processos históricos particulares, 
guardandos poucos elementos de identidades entre si, em seus perfis. 
A abordagem desta tese traz pontos de especificidade e relevância singulares, pelo fato de 
propor a compreensão de uma relação entre os poderes emanados do centro e as periferias do 
império, no momento em que se operam as transformações políticas desse centro, com a 
transferência de sua capital e a consequente necessidade de enraizamento e busca de legitimidade. 
O contexto analisado ainda apresentava alterações da dinâmica geopolítica, com a consolidação 
política e econômica da Grã-Bretanha enquanto parceiro preferencial do Império luso-brasileiro. 
Esse parceiro vivia uma grande expansão econômica, com a consequente necessidade de ampliação 
de mercados, e via esse império com grande interesse, mas trazia a contradição em defender a 
abolição do tráfico de escravos, no momento em que na América portuguesa vivia-se a expansão 
das fronteiras agrícolas e comércio interno, subsidiado pela economia escravista. 
Dentre os estudos existentes sobre esse tema, destacam-se aqueles produzidos na obra 
Administrando impérios: Portugal e Brasil nos séculos XVIII e XIX. O primeiro artigo que se 
destaca nesta obra é o escrito por A. J. R. Russel-Wood (2012), intitulado A base moral e ética do 
governo local o Atlântico luso-brasileiro durante o Antigo Regime. Nela, o autor descortina o tema 
da constituição do arcabouço jurídico-político do poder no Antigo Regime português, 
considerando, particularmente, as sociedades periféricas. Estas estavam aparentemente distantes 
dos centros de decisão, para os quais eram necessárias constituir algum ordenamento social capaz 
de preservar os princípios e fundamentos da ordem imperial portuguesa. 
 
de implantação do poder régio nas terras do ouro, c. 1711-c. 1750. Tese (Doutorado) Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. 
FLORINDO, Glauber Miranda. Roupas velhas ou novas: As Câmaras Municipais no processo de construção do 
Estado Imperial (Mariana, 1828-1834). Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 
2018. SOUZA, Williams, Andrade de. O Império das (nas) municipalidades - as elites e o governo da cidade no 
Brasil Oitocentista (Recife, 1829-1849). Tese (Doutorado em História). Universidade Vale do Rio dos Sinos, São 
Leopoldo, Rio Grande do Sul. 
6 Os trabalhos a seguir, abordam o tema a partir do recorte temporal também disposto nesta tese. Ver: SILVA, Karla 
Maria da. O poder municipal e as práticas mercantilistas no mundo colonial: um estudo sobre a Câmara Municipal 
de São Paulo – 1780-1822. Tese (doutorado em história), Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP: Assis-
SP, 2011. Ver também: LEMES, Fernando Lobo. A oeste do Império – dinâmica da Câmara Municipal na última 
periferia colonial: um estudo das relaçõesde poder nas minas e Capitania de Goiás (1770-1804). Dissertação 
(Mestrado em história), Universidade Federal de Goiás: Goiânia, 2005. 
19 
 
Interessa-me saber como uma série de princípios e preceitos tomou forma e conduziu a 
diretrizes indefinidas e não escritas que constituíram responsabilidades individuais e 
coletivas, e como esses princípios e preceitos foram incorporados em código não escrito, 
de expectativas e imperativos morais e éticos, que foi central para a governança no nível 
local por todo o Atlântico português (RUSSEL-WOOD, 2012, p. 87). 
O historiador Russel-Wood, (2012, p. 20) ajuda a melhor dimensionar o perfil da 
organização do poder local no Antigo Regime Português. Para isso, recorreu às referências 
circunstanciais que promoveram o desenvolvimento de sociedades nas regiões da América 
portuguesa. 
No Atlântico de falar português, durante o Antigo Regime, a noção de “república” 
aplicava-se à comunidade de pessoas que constituíam os habitantes de uma vila ou cidade 
sobre a qual uma Câmara tinha jurisdição. Esta palavra também carregava a conotação da 
existência de igualdade entre os membros de tal comunidade. É difícil conciliar essa 
segunda conotação com a realidade social do Atlântico português, especialmente as 
colônias na África e no Brasil. 
O autor apresenta o seu pensamento afirmando ser a Câmara uma síntese da administração 
portuguesa em nível local. Desenvolve os seus argumentos com base nos fundamentos da chamada 
“economia moral.”7 Com isso, parte para “identificar noções/conceitos que eram essenciais para o 
ethos imperial, as mentalidades e a memória institucional dos Senados da Câmara”. Desta forma, 
Russel-Wood recorreu à documentação escrita (atas das Câmaras, buscando nos termos de 
acórdãos, a correspondências com as autoridades, provisões, editais e os bandos) para levantar 
alguns conceitos que, por serem recorrentes nos registros a exemplo de “república”, “bem comum” 
e “boa ordem”, tomou como centrais para a compreensão do poder camarário no Antigo Regime 
português. 
A sua análise sobre esses termos e conceitos, bem como o seu desvelamento lexicográfico, 
revelaram, por exemplo, que conceitos como o de “república” poderiam muito mais consistir no 
“reconhecimento tácito de uma realidade social que ele [o escrivão da Câmara] e seus 
contemporâneos admitiam, ou rejeitavam, ou em relação ao qual eram diferentes”, longe de 
descrever o sentido fundante da res publica. Utilizando reiteradamente os conceitos de “república”, 
“bem comum” e “boa ordem”, e operando de maneira a constituir contornos semânticos desses 
termos de acordo com determinada conveniência circunstancial, as estruturas de poder camarário 
 
7 Conceito desenvolvido por Edward Thompson no artigo intitulado A economia moral da multidão inglesa no século 
XVIII, publicado no jornal inglês Past & Presente, 1971. O conceito foi aplicado na compreensão das razões que 
embasavam o comportamento de grupos em motins por fome na Inglaterra, defendendo que argumentos morais 
estavam associados à decisão de participar ou não de motins. 
20 
 
cuidavam da constituição de um ordenamento ético e moral alinhado ao ethos imperial, ao mesmo 
tempo em que permitiam determinado alargamento da norma jurídica escrita, fazendo consolidar 
uma normativa consuetudinária que particularizavam as relações cotidianas da política local. Para 
Russel-Wood (2012, p.20): 
O fato de terem de ser promulgados regularmente [os termos “república”, “bem comum” 
e “boa ordem”] era, de certo modo, o reconhecimento tácito da erosão da consciência geral 
das normas descritas acima, da ausência de um consenso sobre as normas e práticas 
aceitáveis, e da ineficácia das punições para conter práticas abusivas. 
Este estudo dialoga com a atual pesquisa, uma vez que visa demarcar o papel ocupado pela 
câmara da Vila de Caetité na gestão do seu termo. Por essa ótica, ressalta-se a importância das 
localidades na organização de seus territórios, hierarquização e ordenamento social, constituição 
da institucionalidade jurídico-política e uma gramática política que era encarregada de garantir os 
lugares constituídos para cada categoria. Tudo isso revela o papel atribuído às vilas, ao 
considerarmos a necessidade reorganização do Império Luso-Brasileiro, a sua crise e sua transição 
para a formação do Império Brasileiro, no início do século XIX. 
Em outro artigo da mesma obra, Arno e Maria Wehling (2011) desenvolveram reflexão 
sobre as estratégias de adaptação da norma portuguesa à circunstância colonial. Para eles, essa 
constitui uma das principais questões colocadas aos dirigentes locais portugueses, e que estava 
diretamente associada à forma de administrar os domínios ultramarinos com mínimo de “unidade, 
organicidade e eficiência” (WEHLING A.; WEHLING J., 2011, p. 45) e observância das normas. 
A saída era “rejeitá-la, punindo os inobservantes; aceitá-la tacitamente, ignorando o desacato; ou 
admiti-la, amoldando-se à realidade”. Parece que esse último foi o caminho tomado pelas instâncias 
de poder local nas colônias. 
Ainda nesse texto, Arno Wehling e Maria José Wehling (2014) concluíram que a 
flexibilização das normas foi um imperativo diante das circunstâncias coloniais, o que se deveu às 
percepções da alteridade, da continentalidade e de um “tempo processual” diverso. Some-se a isso 
a escassez de meios da Coroa e a percepção dos traços distintivos locais, e assim teremos uma 
institucionalização do casuísmo, promovendo uma percepção de universo aparentemente caótico 
da sociedade colonial. Esse processo proporcionou um conjunto de situações e formas de contorno 
da norma jurídica estipulada nas Ordenações: a justaposição da inovação à norma, a revogação, em 
alguns casos, da Ordenação por legislação extravagante e admissão da excepcionalidade, sem 
21 
 
revogação da Ordenação em contrário ou admissão da excepcionalidade sem revogação das leis 
extravagantes. (WEHLING, 2011, p. 45). 
Os estudos sobre a Vila de Caetité revelam uma sociedade levada, de fato, a estar atenta à 
observância das estruturas jurídico-políticas do Antigo Regime Português. Apesar de perceber, em 
alguns momentos, as estratégias de sublevação das normas jurídicas em benefício dos interesses 
corporativos ou pessoais, o poder camarário buscava zelar pela observância legal em favor desses 
interesses, considerando que as ditas normas já estavam balizadas em benefício das camadas 
senhoriais dominantes. 
Estabelecidos em seus territórios, os proprietários do Alto Sertão da Bahia buscavam pelo 
acesso à terra por meio de arrendamentos e aforamentos de glebas, cujos titulares eram os herdeiros 
da Casa da Ponte, ainda no século XVIII. A partir dos negócios com o algodão, emergente gênero 
com participação relevante na pauta de exportação baiana, no início do século XIX, houve 
ampliação da produção sertaneja, fortalecendo a sua cadeia de negócios, que incluíam o comércio 
de mulas, o tropeirismo, a produção de panos de algodão, etc. Finalmente, com a implantação da 
vila e seu aparato camarário, esses homens se consolidam nas estruturas de poder por meio do 
acesso aos cargos e ofícios da Câmara, ou às Companhias de Ordenança. 
Quando as normas implementadas pelo poder camarário limitavam as condições de 
desenvolvimento dos interesses mercantis, tornava impraticável aderir a elas e manter, ao mesmo 
tempo, esses interesses. Desta maneira, recorriam à burla para manter em expansão as suas 
estratégias de lucros. Negociantes de algodão ou de mulas driblavam o pagamento do que 
consideravam pesados impostos, que limitavam os lucros sobre esses produtos. Na obrigação de 
pagarem os impostos sobre as carnes verdes, havia certa sonegação dos criadores em abastecer o 
mercado, só superado mediante as medidas impositivas do Senado da Câmara, que aumentou a 
fiscalização e determinou escalas mensais paraque determinados criadores fornecessem as reses 
para o abate, como se pode observar no registro a seguir: 
Nomearaó ao Capitaó Joze Antonio de Carvalho para no mez de Janeiro do anno vindoro 
de mil oito centos e quatorze trazer tanto gado ao corte, quanto basta para ser tentação do 
povo, de baixo da penna de que naó trazendo, ser condemnado com seis mil reis por cada 
falta de cada hum dos Sábados, e ainda no cazo da carne naó chegar para todo povo, e que 
eu Escrivaó o notifique por carta8. 
 
8 APMC. Op., cit., p. 286. 
22 
 
A adesão às normas e à estrutura jurídico-política da “república” era um elo de 
reconhecimento do pertencimento ao próprio Império, a quem se recorria quando convinha, 
demandando pela concessão de mercês como estratégia de expansão, ou de ascensão social, ou 
mesmo de consolidação de patrimônios e de outros interesses. Por isso, buscavam nas instâncias 
intermediárias, como na Ouvidoria de Jacobina, por meio de processos e recursos, a garantia de 
privilégios ou proteção contra o que consideravam arbitrário. 
Observa-se, no contexto de institucionalização das estruturas camarárias da Vila de Caetité, 
inicialmente, um processo de aprendizagem do jogo político por parte das camadas senhoriais 
locais, entre conflitos e embates, ao lidar com os instrumentos de poder à sua disposição. Essa 
aprendizagem foi fundamental para a tomada de consciência sobre a importância das estruturas de 
poder por todo o território, na consolidação de suas posições e na expansão desse poder por meio 
do controle social, político e econômico. 
Figuras como o Antonio de Queiróz Ozório, clérigo latinista que ocupou a cadeira de 
Gramática Latina, da Vila de Caetité, eram reverenciados socialmente. Pelo domínio desse 
conhecimento, que lhe permitia acessar os códigos jurídicos do Império, pôde constituir sujeitos 
empoderados e pôde ser, por muitas gerações, uma referência educacional importante nesta Vila e 
para outros sertões distantes da Bahia. Em reunião do Senado da Câmara de dezembro de 1813, 
Abriraó a carta que com data de vinte e trez do corrente mez, o Doutor Ouvidor da 
Comarca dirigio a este Senado, para efeito de lhe informar a respeito de ser util nesta Vila 
aos moradores dela, a creação da cadeira de Gramatica Latina e se Antonio de Queiroz 
Ozorio hé digno de ser provido nela. Determinaraó que na primeira Veriação se dese 
resposta9. 
Essa condição indica, pois, uma didática da prática política desenvolvida no contexto dessa 
“república”, modo de agir que se verificou estratégico quando as questões ultrapassavam o nível 
regional e requeriam a participação ativa dessas categorias sociais. O enraizamento da Corte em 
solo tropical demandaria intensa repactuação com as estruturas sociais e políticas locais, na 
afirmação de Maria Aparecida de Souza (2010, p.9): 
Para o caso da Bahia, as intensas articulações que se estabeleceram entre a corte, as 
autoridades locais e parte dos residentes evidenciam um jogo de concessões e 
beneficiamentos que funcionaram como um mecanismo de resposta às demandas não 
somente internas como também do Império português. Nesses termos, embora o estudo 
enfoque as alterações verificadas na capitania/província nos primeiros decênios do século 
XIX, busca-se associá-lo a um contexto de crise mais geral indicando o caráter 
 
9 APMC. Op., cit., p. 287. 
23 
 
contraditório de determinação e ambiguidade desse movimento e, como resultante, a sua 
complexidade. 
Mais do que uma vila na periferia distante do Império Luso-Brasileiro, que lutava para 
permanecer de alguma maneira conectada a ele, a Vila de Caetité também integrava uma fronteira 
nos caminhos do sertão, um importante elo entre Bahia e Minas. Essa fronteira constituía refúgio 
para desertores de ambos os polos. Foi assim quando para aí mudaram importantes famílias 
mineiras (Neves, Junqueira, Oliveira, Azevedo, Carvalho etc.), em contextos históricos de 
movimentos acirrados, como as revoltas de Felipe dos Santos, dentre outras. Ou da família Castro, 
habitantes do Recôncavo Baiano, quando o seu patriarca buscou refúgio, no contexto de guerras 
pela Independência na Bahia. 
Como recurso de ligação entre estas duas importantes províncias, os caminhos do sertão 
que cortavam o território da Vila de Caetité serviam na dinâmica das trocas que através deste 
território se fazia, com avultado volume. Por isso, os seus habitantes recorriam aos poderes 
constituídos para manterem o seu fluxo, como se vê no registro abaixo. 
Abriraó a carta que com data de vinte e dois de Julho de mil oito centos e treze, o 
Excelentissimo Conde dos Argos Governador e Capitaó General desta Capitania dirigio a 
este Senado, ordenando lhes que fasaó Limpar a Estrada, té os Lemites desta mesma 
Capitania the onde principia a de Minas Geraes, por que asim lhe fora requerido pelos 
moradores do Sertão da Resaca, e mandaraó que se pasase mandado para serem 
notificados com apena de seis mil reis de condenação aos Rebelde (APMC, 1811, p. 292) 
(grifo nosso). 
Manter esses caminhos limpos e acessíveis, como se observa nas determinações do 
Governador da Capitania da Bahia, seria estratégia de garantir o fluxo das riquezas produzidas que 
oxigenavam a economia da Capitania e o Império luso-brasileiro, constituindo instrumento de 
coesão social e política necessários para a sua consolidação. 
 
OS CAMINHOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA TESE 
 
Na análise do presente objeto de pesquisa, a relação tempo-espaço apresenta-se com total 
centralidade, considerando a condição de representação dos poderes e culturas que se manifestam 
no espaço. A primeira perspectiva foi o desvelamento da categorias teórico-conceituais muito caras 
ao estudo da geo-história10: espaço, território, região, bem como suas varáveis (região, paisagem, 
 
10 O estudo desenvolvido pelo historiador francês Fernand Braudel, em sua obra Grammaire des civilisations, foi 
fundamental para o desenvolvimento conceitual da chamada história de longa duração. Para ele, somente ao observar 
24 
 
lugar e sertão) que deram suporte à análise histórica, pois tratam das conformações territoriais do 
Império português no início do século XIX. Busca-se, com isso, aprofundar o trato dos fenômenos 
condicionantes do processo de territorialidade do espaço e os mecanismos de constituição de uma 
identidade territorial supostamente existente na região em estudo. 
Considerando o recorte temático e cronológico proposto, fez-se o levantamento de fontes 
escritas (Atas da Câmara, petições, cartas, alvarás, legislações etc.), para se alcançar o objetivo 
proposto. No corpus documental relacionado para a pesquisa, as atas da Câmara de Caetité 
ganharam papel central, por se tratar do registro em síntese das principais deliberações do concelho 
da vila. Não obstante cumprir os requisitos de síntese e da forma própria para esse tipo de registro, 
eles deixam entrever, pelas linhas e entrelinhas, uma crônica ricamente tecida, na qual se 
apresentam detalhes significativos do cotidiano do lugar. Por meio dessa documentação, pode-se 
identificar os sujeitos e suas posições, sua abrangência jurisdicional e atuação praticada nas franjas 
do poder e, entre normas e burlas, os instrumentos de empoderamento e coerção, de modo a 
estabelecer, nesse jogo, uma dialética que determinava as balizas da ação do poder institucional 
para os homens de governança. 
Essa documentação permitiu, dentre outras coisas, conhecer os meandros e o cotidiano do 
poder no contexto da Vila de Caetité, a partir de uma percepção do novo significado que o elemento 
político tem atualmente na história. Como declara Rémond (2003), o importante é deixar claro que 
o político existe, distingue-se de outros tipos de realidades, constitui algo específico, é irredutível 
a outrasrealidades, pode ser determinante ou determinado, é dotado de certa autonomia e é capaz 
de imprimir sua marca e influir no curso da história; ou ainda, como em Julliard (1996), que afirma 
que é o acontecimento político que deve ser revisto, pois nem é autônomo, nem é simples 
subproduto. (JULLIARD, 1996, p.188) 
Essa reflexão remete à compreensão da história enquanto processo cuja dinâmica deve ser 
considerada como diz Le Goff (2003, p. 47), que “não há história imóvel e que a história também 
não é a pura mudança, mas o estudo das mudanças significativas. A periodização é o principal 
instrumento de inteligibilidade das mudanças significativas”. Pretende-se aqui um estudo em uma 
perspectiva de iluminar as relações entre Estado/sociedade verificados no período proposto, bem 
como a compreensão das relações centro/periferia no âmbito do Império Luso-brasileiro. Essa 
 
as estruturas sociais que se movem lentamente, imprimindo suas alterações no espaço, seria possível apreender essa 
temporalidade. Esse pensamento contribuiu para o desenvolvimento do conceito de geo-história como categoria 
essencial para se pensar as relações entre tempo e espaço na dinâmica dos tempos. 
25 
 
discussão se situa no plano da historiografia social da política. Toda a documentação camarária está 
depositada e muito bem organizada no Arquivo Público Municipal de Caetité. 
Os arquivos digitais disponíveis pelo Arquivo Nacional e Biblioteca nacional foram 
imprescindíveis para a execução desta pesquisa, apesar das limitações impostas pela pandemia da 
COVID-19, período de forte tensão, riscos e limitações para a pesquisa historiográfica. Do Arquivo 
Nacional, a Coleção Boulier proporcionou tomar contato com as correspondências do Governo da 
Capitania da Bahia para as primeiras décadas do século XIX. Sua análise proporcionou desvelar a 
natureza dessa correspondência política com o centro de poder do Império luso-brasileiro, colher 
informações acerca da gestão econômica da Capitania e outras informações atinentes. Do Arquivo 
Nacional também veio o dossiê que tratava dos conflitos pela emancipação da Vila de Caetité com 
a Vila do Rio de Contas, de cujo termo houve desmembramento. Da Biblioteca Nacional, um 
repertório vastíssimo de fontes, dentre os quais as petições pelas mercês referentes a ofícios da Vila 
de Caetité, comunicação troca pela Ouvidoria da Comarca da Jacobina, da qual era vinculada essa 
vila, correspondências trocadas entre o Governador da Capitania da Bahia, o Juiz de Fora da Vila 
de Ilhéus, Ouvidoria da Comarca da Jacobina e demais atores que participaram da construção da 
estrada do salitre. Além destas, imagens e mapas daí foram retirados para análise desta tese. 
No Arquivo Público do Estado de São Paulo, buscou-se a documentação relacionada ao 
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, de onde se extraiu o precioso arquivo pessoal de 
Antonio da Silva Prado, importante negociante que atuou na praça da Vila de Caetité, na dinâmica 
com outras praças, tendo com centro a comercialização do algodão produzido nos sertões. Para os 
temas e subtemas para os quais não foi possível, por razões diversas, tomar contato com as fontes 
primárias, recorreu-se a um repertório de fontes secundárias oriundas de publicações recentes e 
outras mais remotas no tempo, de maneira a preencher as lacunas existentes nas explicações 
apresentadas. Dentre as referências buscadas, encontram-se teses, monografias, artigos, corografias 
e relatos de viajantes. 
Esta pesquisa considera o campo de abordagem da história social da política como condição 
para elucidar a problematização: de que maneira se apresentavam as relações entre centro e 
periferia nos distantes sertões da Bahia, no início do século XIX? Os caminhos para essa 
elucidação, evidenciaram as disputas pela criação da Vila de Caetité em que se confrontaram 
interesses da elite camarária da Vila de Rio de Contas de onde esta desmembrara, os conflitos locais 
revelaram interesses que se confrontaram no plano do Império luso-brasileiro e suas instituições. 
26 
 
Assim, tendo sido mobilizados os poderes centrais através de consulta ao Conselho Ultramarino, 
passando pelas secretarias do reino, atingiram também os níveis secundários de poder institucional 
localizados na América portuguesa, a exemplo da Capitania da Bahia e Ouvidoria da Jacobina. 
Esses trâmites revelaram a constituição do aparelho jurídico-político do Estado imperial 
luso-brasileiro do Antigo Regime em percurso de reformulação desde meados do século XVIII. 
Esse Estado imperial guardava ainda substâncias essenciais de sua constituição que conduzem à 
compreensão, sobretudo, dos processos, desvios e decisões que burlaram o que estava estipulado 
na lei. Para melhor domínio dessa matéria, a pesquisa a dispor das abordagens da história da justiça, 
que dá conta da operacionalidade do direito em sua dimensão subjetiva e particular. 
Considera-se estratégica para essa abordagem a compreensão do aparelhamento e 
funcionamento da Câmara com todos seus organismos e oficiais que dela fizeram parte. Essa 
importante instituição essencial para o processo de enraizamento territorial do Império luso-
brasileiro em terras americanas, tinha papel central na organização do tecido social e disseminação 
do ethos civilizatório desse império. Com isso, evidenciou-se a sistematização da produção e 
arrecadação das rendas do Estado e ordenação política, com a hierarquização social fundada nos 
privilégios aplicação das leis e funcionamento da justiça. 
A abordagem pautada pela história social da política nos faz perceber as sutilezas do jogo 
de disputas que criava tensionamentos entre os poderes centrais do império e os poderes locais sob 
controle da elite senhorial. Ainda se observam relações destas instâncias entre si, do que resultava 
um sistema de freios e contrapesos que, em última instância, dava sustentação a um império 
pluricontinental. O centro de poder que o comandava era débil quanto ao corpo burocrático e 
mecanismos diretos de controle e, por isso, dependia de operar uma espécie de “balé” em um campo 
de forças, que resultava em sua perpetuidade secular. 
Hespanha (1987, p. 496) aponta, quanto à compreensão dos conflitos cotidianos e 
recorrentes verificados nas relações entre instituições políticas e seus agentes evidenciados pelos 
estudos da história da justiça, que é no campo do direito penal que se manifestam o maior 
distanciamento entre os preceitos jurídicos legalmente consolidados e a prática desses preceitos. 
Assim, diz ele: 
[...] durante o período da monarquia “corporativa”, o direito real constituiu uma ordem 
jurídica apenas virtual, mais orientada para uma intervenção simbólica, ligada à promoção 
da imagem do rei como sumo dispensador da justiça, do que para uma intervenção 
normativa que disciplinasse, efectivamente, as condutas desviantes. Este caracter virtual 
27 
 
da ordem penal real explica, por sua vez, o caracter “livresco” da teoria penal que incide 
sobre ela e a sua aparente insensibilidade aos problemas sociais e humanos da punição. 
Ao se considerar que, de acordo com a visão jurisdicionalista de poder, a monarquia 
ocupava a cabeça que se afirmava sobre o corpo social organizado em torno de privilégios que 
garantiam o lugar social de cada membro desse corpo, cabia a essa monarquia agir preservando as 
virtudes que a legitimava. Sendo a justiça considerada a primeira dentre todas as virtudes, percebe-
se o quão é importante trazer a história da justiça como lugar privilegiado para compreender melhor 
a manifestação de seu poder. 
Os estudos de Slemian (2014, p. 5) sugerem a importância do reconhecimento do lugar 
central que ocupa a justiça no balizamento dos poderes no Antigo Regime. Isso nos fazer perceber 
o processo de desdobramento da justiça da estrita dimensão administrativa, conduzindo à 
racionalizaçãodo Estado em sua atuação, como resultado das reformas empreendidas a partir do 
final do século XVIII sob influência do pensamento ilustrado. Diz ela: 
A proposição, aparentemente banal e comum para nós hoje, da separação entre as esferas 
contenciosas (de justiça) da administração (governo), tanto não era uma realidade, como 
sua imbricação representava o cerne de funcionamento das monarquias ibéricas até então. 
Nesse sentido, se algo caracterizava o mundo do Antigo Regime, era a concepção de que 
todo ato de poder era eminentemente jurisdicional: possuir “iurisdictio” (esta era a 
palavra), ou seja, jurisdição, era ter o poder de estabelecer o que era de direito, de 
resolução de conflitos, ao fim das contas, de ditar a justiça (papel primordialmente do rei, 
por este delegado a seus vassalos). Obviamente que nem todos os cargos e ofícios 
possuíam jurisdição (e as ações de governo e de justiça, ainda que entrelaçadas, não eram 
irredutíveis uma à outra), mas todo ato administrativo podia ser judicialmente contestado 
recorrendo-se a alguma autoridade jurisprudente, qual seja, a de juízes ou de magistrados, 
nos seus mais variados níveis. O papel destes era, portanto, central nessa ordem 
tradicional, tanto para o bom desempenho dos responsáveis pelo governo (por vezes, os 
próprios juízes) como na interpretação do que deveria valer como direito. 
Parece claro, por essa reflexão, que o papel central das Câmaras no Antigo regime português 
era o de fazer manifestar a justiça do Estado imperial, que tinha o rei como lastro político. Dito 
isso, parte-se para compreender o enquadramento das análises propostas neste trabalho. 
As principais reflexões incorporadas a partir dos estudos sobre a história social da política 
no mundo Luso Americano e sua aplicação ao objeto da pesquisa já anunciado, enquadram-se 
estritamente ao período final do século XVIII e início do século XIX. Nesse contexto, o Antigo 
Regime português vivenciava períodos de reformulação sob influência da Ilustração europeia, com 
maior intensidade no período Josefino sob o comando do ministro Marquês de Pombal e, nos 
reinados seguintes (mariano e joanino), com D. Rodrigo de Sousa Coutinho. 
28 
 
O iluminismo se apresenta como um movimento de superação do escolasticismo e de toda 
a mística medieval, sobretudo o barroquismo do tomismo. A questão central que 
caracteriza esse movimento situa-se na instrumentalização de uma razão subjetivista e de 
um racionalismo humanista e antropocêntrico nas “ciências do espírito”, a exemplo do 
que já ocorria desde o século XVII nas ciências naturais, nomeadamente na física galileana 
e newtoniana. (SILVA, 2002, p. 46) 
No movimento pela restauração do império no século XVII, a América portuguesa ganhara 
papel central. Garantir sua integridade territorial, ocupar as fronteiras internas, identificar e 
explorar racionalmente seus potenciais econômicos passou a fazer parte dos projetos para a 
constituição do Império luso-brasileiro. A constituição da Vila de Caitité foi estratégico para ocupar 
e dinamizar um importante espaço dos sertões da Bahia, promovendo o enraizamento do aparelho 
do Estado por meio da vila constituída. 
Para a compreensão desse fenômeno, as reflexões trazidas por Silveira (2001, p. 123-124) 
ao tratar dos conflitos pela ampliação do território e consolidação do Estado, lembra 
As contradições e os limites do projeto colonizador português no Brasil setecentista: a 
exploração mercantilista do território só podia realizar-se plenamente através de um 
controle soberano, que, evitando vácuos de poder e despotismos privados, pressupunha a 
fixação dos povos, a interdependência de seus negócios e a prosperidade de vilas e arraiais; 
um controle que pressupunha, enfim, o sucesso das estruturas do mercado e do Estado. 
Nos estudos sobre a atuação do Estado e as relações de poder, o autor chama a atenção para 
a escolha de abordagens que levem em conta o processo de ampliação do poder, pelo alargamento 
territorial ou pelo aprofundamento dos mecanismos de controle através do enraizamento de novas 
práticas institucionais. Isso constitui, antes de qualquer coisa, a compreensão de que se tratava do 
embate de duas forças antagônicas. De um lado, o Estado imperial regulador da sociedade, com 
seu ethos civilizatório procurava moderar os costumes e os impulsos dos primeiros conquistadores. 
Estes, por sua vez, à margem do Estado construíam, por outro lado, os primeiros núcleos 
povoadores, desenvolvendo-os através dos costumes e tradições estratégias particulares de 
sobrevivência. Nos diz o autor: 
O estudo das relações de poder e das instituições de justiça em sociedades de Antigo 
Regime coloca-nos, de início, um problema crucial. Se consideramos o fato de que a 
história do estabelecimento das estruturas jurídicas e administrativas durante a Idade 
Moderna confunde-se com a do desenvolvimento do absolutismo, torna-se premente 
perguntar: de qual perspectiva abordamos o problema do poder? Adotamos o ponto de 
vista das autoridades do Estado, valorizando a filosofia do direito, certas concepções 
totalizadoras da vida social e, em particular, o tema da soberania — ou o ponto de vista da 
gente comum, salientando a força do costume, a fragmentação da experiência cotidiana e 
o tema da guerra? De fato, ambos os enfoques não são excludentes, e pode-se mesmo dizer 
que um dos campos mais promissores para a análise historiográfica acerca da sociedade 
29 
 
mineira do século XVIII encontra-se justamente na investigação de como as relações de 
poder no universo colonial engendraram-se nos choques entre os institutos do direito 
lusitano e os costumes diários intensamente reinventados (op.cit. p. 124). 
Ele denuncia em seu texto o que denomina “paradigma da conquista soberana”, ou seja, 
uma visão naturalizadora da conquista do Estado, onde a colonização é “apresentada como um 
embate entre raças conquistadoras e conquistadas, [que] pressupõe a vitória da civilização 
europeia”. Com isso, reconhece como legítima “a organização do mundo colonial conforme seus 
recursos materiais e espirituais, e a incorporação de elementos culturais dos grupos subjugados”. 
(SILVEIRA, 2001). 
Essa reflexão faz pensar de que maneira pode-se compreender a constituição da Vila de 
Caetité, objeto desta pesquisa. Importa identificar como foi percebida a constituição de uma elite 
camarária que, na essência, resultou de um processo legitimador da ordem econômica existente, 
onde sobrepunham os interesses da classe senhorial mercantil e agropastoril aos interesses mais 
amplos da sociedade em estudo. Quando o olhar se desloca para as camadas populares e suas 
formas de resistências, por vezes surdas ou movidas de maneira subterrânea, evidencia como 
estratégia de contestação naquilo que o autor chama de “guerra de usurpação institucional”.11 
A análise do objeto de pesquisa – a constituição da Vila de Caetité, sua elite camarária 
estabelecida faz-se por meio de sua ascensão política em razão do desenvolvimento econômico 
relacionado às novas redes mercantis formadas a partir dos caminhos do sertão desde o início do 
século XVIII. O objetivo é compreender o enraizamento de poder de classes senhoriais que, na 
constituição de uma economia agromercantil, também constituíram laços e teias de relações no 
território do Alto Sertão da Bahia. 
Essa região de trânsito entre capitanias diferentes inspirava medo, cuidado e sacrifícios em 
sua transposição, entre os séculos XVIII e XIX no ocaso da mineração. Surgida de um processo de 
ocupação fundiária com base na economia agropastoril, cotonicultora e mercantil, a região foi 
capaz de produzir uma nova dinâmica econômica e social e, a partir dela, consolidar redes sociais, 
familiares, clientelares, mercantis e políticas, materializadas agora no território do Alto Sertão da 
Bahia. 
As classes senhoriais formaram, pelo monopólio do poder camarário, um espaço onde seorganizavam hierarquicamente pelo controle de instituições políticas, militares, judiciais e 
 
11SILVEIRA, op cit., p. 128. 
30 
 
religiosas. Estas eram representadas através de ritos e gestos, contatos e conflitos por meio dos 
quais se dava a constituição de identidades com as quais construíam posições em relação aos 
poderes centrais. 
O recorte temporal de análise do objeto: o território do Alto Sertão da Bahia e a Vila de 
Caiteté, inicia-se na virada do século XIX, quando surgiram as demandas pela emancipação desta 
vila em 1810. Neste contexto, observam-se a constituição de uma importante rede que articulava 
economia agropastoril e mercantil no início do século XIX. O recorte temporal finda-se em 1821, 
quando o rei D. João VI retorna a Portugal, pressionado pelas Cortes constitucionais representantes 
da nação. 
Em meados da década de 1810, após cessados os conflitos decorrentes da expansão do 
Império Napoleônico, verificou-se um clima de inquietações na população portuguesa que 
aguardava o retorno da corte ao seu território, normalizando a vida social e política do império com 
o restabelecimento do seu centro em Lisboa. No entanto, os sinais dados pela monarquia eram 
pouco alvissareiros para os reinóis. Em 1815, após o Congresso de Viena, a monarquia decidiu 
alterar os estatutos políticos do império com a criação dos Reino Unido de Portugal, Brasil e 
Algarves. No ano seguinte, com a morte de D. Maria I, o príncipe regente D. João assumiu a 
titularidade do trono, sendo sagrado mais tarde como Rei no Rio de Janeiro. Com isso, surgiram 
divergências políticas que ameaçavam a legitimidade da coroa nos movimentos políticos ocorridos 
em 1817 que ameaçavam alterações na ordem jurídica e política. Após serem enfrentatos e 
contidos, esse movimento pela alteração da ordem política finalmente saiu vitorioso na Revolução 
do Porto de 1820. Foi esse episódio que instituiu o modelo da Monarquia Constitucional no Império 
português. 
A análise desses processos vistos pelo ângulo da constituição da Vila de Caetité e seu 
território no Alto Sertão da Bahia permite perceber a formação de classes senhoriais sertanejas e 
seu locus do exercício de poder, projetando-se como elites camarárias. Por meio do monopólio dos 
cargos da Câmara dava-se a apropriação de suas instituições na constituição de novas fontes de 
riquezas. Como exemplo das novas categorias de homens enriquecidos pelo comércio sertanejo, 
apresentou-se o caso do comerciante Antonio da Silva Prado - procurador da vila que fez fortuna 
no comércio da Vila de Caetité. Ao voltar enriquecido para S. Paulo no início do século XIX, veio 
31 
 
a constituir-se como potentado local, adquirindo o título de Barão do Iguape12 com grandeza no 
segundo reinado e legando imensa fortuna, prestígio e influência política naquela província aos 
seus descendentes. 
Outros sujeitos ganharam expressividade nessa economia sertaneja, a exemplo do português 
Bento Garcia Leal, capitão-mor desta vila, igualmente enriquecido na atividade agropastoril, tendo 
um dos maiores plantéis de escravos que se tem notícias nestes sertões. Até mesmo clérigos, a 
exemplo do professor titular da cadeira de gramática latina Antonio de Queiróz Ozório, vereador e 
liderança intelectual e política do lugar ou o Padre Manoel José Gonçalves Fraga13, português de 
nascimento que, tendo se transferido para os sertões de Caetité, assumiram negócios relacionados 
à atividade mercantil escravista da família e participavam ativamente da dinâmica econômica 
desses sertões. 
Outros ainda, como o Coronel Innocêncio de Aguiar Montalvão que, tendo feito vida e 
fortuna a “serviço de Sua Majestade” pelas terras de São Paulo, Minas e Goiás, adquiriu o ofício 
de Escrivão da Câmara para fazer seus investimentos finais. Ou ainda, o Major José Antônio da 
Silva Castro, nascido no recôncavo e um dos principais protagonistas da guerra de independência 
na Bahia, cognominado o Periquitão, por liderar o Batalhão dos periquitos, fez fortunas também 
nestes sertões ao casar-se com uma viúva de proprietário local e constituir-se fazendeiro. 
Todas essas personagens e muitas outras compõem o cenário estudado mergulhar no 
contexto social e econômico do qual fizeram parte, com maior ou menor protagonismo político. 
Embora com ações distintas, todos eles eram articulados em redes de afinidades e interesses com 
as quais teceram as relações que fizeram desses sertões um território de identidade nas fronteiras 
da Bahia. 
 Nas disputas em torno da criação da Vila de Caetité se confrontaram interesses da elite 
camarária da Vila de Rio de Contas, de onde se desmembrara. Os conflitos locais revelaram 
também interesses conflitantes no plano do Império luso-brasileiro e de suas instituições. Assim, 
tendo sido mobilizados os poderes centrais por meio de consulta ao Conselho Ultramarino, 
passando pelos centros de decisão do Império, a exemplo das secretarias do reino e tribunais 
 
12PETRONE, Maria Thereza Schorer. O Barão do Iguape: um empresário na época da independência. São Paulo: 
Edição Nacional / Brasília: INL, 1976. 
13Para compreender a trajetória família Fraga pelo Alto Sertão da Bahia, ver: SILVA, Laiane Fraga da “É preciso deixar 
alguma conversa para testificar que vivemos”: a trajetória da família Faria Fraga no alto sertão da Bahia (Caetité 1842- 
1889) / Laiane Fraga da Silva. –, 2018. 
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superiores, atingiram os níveis secundários de poder institucional localizados na América 
portuguesa, a exemplo da Capitania da Bahia e Ouvidoria da Jacobina. 
Esses trâmites revelaram não apenas a constituição do aparelho jurídico-político de uma 
monarquia corporativa do Antigo Regime português em processo de reformulação desde meados 
do século XVIII, mas também guardava as substâncias essenciais de sua criação – o que remete à 
necessidade de abordagem do campo da história do direito. Conduz à compreensão dos processos, 
desvios e decisões que buscavam burlar o que estava estipulado no ordenamento legal. Ao lançar 
mão das interpretações proporcionadas pela história da Justiça, dá-se conta da operacionalidade do 
direito em sua dimensão subjetiva e particular. 
 O destaque dado ao aparelhamento e ao funcionamento da Câmara, com todos seus 
organismos e oficiais que dela fizeram parte constitui essencial para a compreensão do processo de 
enraizamento territorial do Império português em terras americanas, em seu papel na organização 
do tecido social e disseminação do ethos civilizatório. Seus reflexos tambem são verificados na 
sistematização da produção e na arrecadação das rendas do Estado e na ordenação política, com a 
hierarquização social fundada nos privilégios aplicação das leis e funcionamento da Justiça. 
Os estudos desenvolvidos sobre o tema apontam avanços inegáveis no desvelamento da 
natureza operativa da Monarquia Lusa no plano do Império pluricontinental, na percepção de 
atuação dos seus agentes, das forças e da mecânica da administração do Império luso-brasileiro. 
Essa condição promovia uma dinâmica de interação capaz de sustentá-lo por tanto tempo, além de 
evidenciar certos enviesamentos no pensamento historiográfico que o revelou14. Observa-se essa 
questão no debate que se desenvolveu (e, de certa forma, ainda se desdobra) no Brasil entre os 
seguidores da concepção de Antigo Regime nos Trópicos e dos que seguem o paradigma gerado 
pelos pensadores que compõem a escola interpretativa do Antigo Sistema Colonial, mais coerente 
com uma visão dos processos de constituição do que convencionou chamar de “Sistema Colonial” 
americano. 
Um dos pontos centrais dessa discordância é o lugar que cada uma dessas correntes coloca, 
por exemplo, na compreensão sobre as relações de dominação estabelecidos no plano do Império 
 
14 Ver análise

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